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Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 1 EXAME FÍSICO ABDOMINAL – PROF.º JOÃO PAULO PILON O abdome é uma caixa que guarda os órgãos na cavidade abdominal. São vários órgãos: fígado, baço, pâncreas, intestino delgado, grosso... 60% -70% dos diagnósticos gastroenterológicos são feitos com a anamnese destaca-se assim a importância de uma anamnese bem feita. 90% de chances de acertar o diagnóstico associando a anamnese ao exame físico. Exames subsidiários podem ser desnecessários ou confundidores. Eles devem ser usados para confirmar um diagnóstico. EXAME FÍSICO ABDOMINAL o Itens importantes: Exposição do paciente: não precisamos ter vergonha, pois estamos nos tornando médicos. Devemos pedir então para o paciente: - homem: retirar a camiseta - mulher: levantar a blusa até a base dos seios, expondo o abdome totalmente. Na parte inferior, afastar o cós da calca até expor até as cristas ilíacas. Lavagem das mãos antes dos exames Conversar com o paciente: criar uma relação empática entre médico-paciente. Explicar para ele o que será realizado, pedir permissão. Luminosidade Silêncio: é necessário para que consigamos auscultar os ruídos abdominais. o No exame físico abdominal há uma inversão na sequência: 1. Inspeção 2. Ausculta 3. Percussão 4. Palpação (é feita só no final) o Devemos dividir o abdome em: 4 quadrantes: utilizado nas gestantes Traçar uma linha partindo da cicatriz umbilical horizontal e vertical. Essa linha vai dividir o abdome em quatro quadrantes: Superior direito: lobo direito do fígado, vesícula biliar, piloro, duodeno, cabeça do pâncreas, flexura hepática do cólon, partes do cólon ascendente e transverso. Inferior direito: ceco e apêndice vermiforme, parte do cólon Superior esquerdo: lobo esquerdo do fígado, estômago, corpo do pâncreas, flexura esplênica do cólon, partes do cólon, baço (não sentimos na palpação Inferior esquerdo: cólon sigmóide e parte do cólon descendente Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 2 9 quadrantes: (utilizaremos essa) Traçar uma linha hemiclavicular vertical à direita e uma à esquerda, uma linha horizontal nas cristas ilíacas e outra os arcos intercostais inferiores. Região epigástrica Pegião umbilical ou mesogástrio Hipogástro Hipocôndrio direito e esquerdo Flanco direito e esquerdo Fossa ilíaca direita e esquerda Qual a principal queixa abdominal? R: dor!!!! A dor vai ser essencial para o exame físico. Devemos saber em qual quadrante ela está. 1- INSPEÇÃO ESTÁTICA: com o paciente parado, em posição ortostática (em pé) ou decúbito dorsal (deitado). Vamos avaliar: - Tipos de abdome a) Plano: abdome normal. Reto, que não tem protusão nenhuma. b) Globoso: aumento de forma uniforme. Aumento lateral maior, obeso. Devemos descrever: paciente com abdome globo ás custas de pedículo adiposo, ou ascite, ou de uma gordura localizada... c) Pendular ou em avental: gordura mais crônica, porção inferior da parede abdominal mais protusa. d) Abdome escavado: é o abdome dos pacientes bem magros, que são escavados, expõe os arcos costais. - Abaulamentos, retrações - Pele e anexos Alterações na pele: Herpes Zoster: DIZER: lesões bolhosas na região tegumentar do lado esquerdo ou direito. Cicatrizes: devem ser descritas na inspeção. Na inspeção é muito importante analisar a cicatriz umbilical: se foi feito cirurgia plástica, se há hérnia. Tipos: - mediana: está na região mediana. - de flanco: está na região dos flancos. - de Pfannestiel: oriunda da cesariana. - de Kocher: oriunda da colecistecomia aberta convencional. - de McBurney: resultado da apendicectomia. DIZER: tipo de cicatriz, alterações a cicatriz umbilical Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 3 Circulação colateral e pulsação: verificar se há ou não circulação colateral. Se houver, pode ser de dois tipos: Tipo cava: resultado de obstrução da cava. A circulação é alta,as aranhas são altas. As veias são verticais Tipo porta: obstrução de veia porta, hepática. Circulação tipo cabeça de medusa. Comumente encontrado em hepatopatas. Equimose: também devem ser descrita na inspeção. Aglomerado de tecidos semelhante a pancadas. Podem ser na região umbilical ou de flanco. Pode ser resultante de uma pancada. Lesões cutâneas - Turgência venosa - Simetria: se um lado é maior que o outro, se tem um lado mais protuso que o outro, ou não. DIZER: tipo de abdome, simetria (simétrico ou assimétrico) DINÂMICA: - Hérnias (importância da expiração e expiração forçada) e eventrações: É uma protusão do conteúdo da parede abdominal através de uma. É uma fraqueza da parede abdominal, cujo conteúdo da parede abdominal e exteriorizado e entra em contato direto com a pele (pode ser gordura ou uma alça). Pode estar no abdome todo: • Umbilical • Epigástrica • Inguinal • Incisional: toda hérnia que se forma sobre uma cicatriz cirúrgica. - Respiração - Movimentos peristálticos: em indivíduos magros é normal (fisiológico) encontrar movimentos das alças. - Pulsações (aortismo x dilatação aneurismática): Se sentidas na aorta, é normal. Se sentidas fora da aorta indica aneurisma (patológico). 2- AUSCULTA Vem antes da percussão e palpação para evitar aumento involuntário do peristaltismo. Pois, a palpação pode ampliar os movimentos peristálticos. Orientações: - Ambiente tranqüilo - Permanência por 2 minutos em cada quadrante. Na hora da prova: não precisa fazer 2 minutos em cada quadrante, mas devemos falar que isso seria o correto. - Avaliar o estado de motilidade intestinal: se há peristaltismo ou não. Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 4 - Pesquisa de sopros vasculares na aorta e seus ramos ** É necessário auscultar pelo menos dos 4 quadrantes. I. MOTILIDADE INTESTINAL II. VASOS: OBRIGATORIAMENTE: auscultar ao menos a aorta. As demais artérias não precisam ser auscultadas, somente em caso de suspeita de alguma patologia. O que vamos achar nessa ausculta? R: SOPRO SOPROS ABDOMINAIS: o som é o mesmo dos sopros cardíacos. Podem ocorrer devido estreitamento da luz ou fístulas arteriovenosas. Devemos seguir o trajeto da aorta e seus ramos, na ausculta. 3- PERCUSSÃO É muito importante! Orientações: Sempre percutir as 9 regiões. Não preciso auscultar as 9, mas percutir sim!!! - NORMAL: Ruído hidroaéreo: Pode estar presente ou abolido. Se presente, ouviremos: estalidos e gorgolejos (sons de água) resultantes da peristalte. Freqüência – 5 a 34 por minuto . NA PROVA: não precisamos contar; apenas dizer se está presente ou ausente. - PATOLÓGICO: Exacerbação: auscultamos mais ruídos (está acelerado). EX: Diarréia, obstrução intestinal (inicialmente) Redução: Íleo paralítico, obstrução (fases finais) = sons de luta, tinidos (duas facas se batendo) LOCALIZAÇÃO DOS DEMAIS VASOS: a. Artérias renais: + 10cm acima da cicatriz umbilical, seguindo para os lados. b. Artérias ilíacas: lateralmente à cicatriz umbilical. c. Artérias femorais: estão na região femural. São as mais difíceis de auscultar. Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 5 Cada um deve criar uma sequência de percussão própria ( direito mediano esquerdo ...) Utilizar a técnica: digito-digital. Mão espalmada, percutir em cima do dedo (no meio dos dedos não adianta). Fazeruma divisão imaginária do abdome, para não esquecermos nenhuma das 9 regiões. Sempre percutir fazendo um movimento horário (igual ao do relógio). Para que serve? Identificar presença de líquido ascítico, massas sólidas, aumento exagerado de ar nas alças intestinas ou fora delas, determinação do tamanho do fígado e baço. *Na ausência de suspeita de alterações significativas – pesquisar somente os 4 quadrantes, o fígado e o baço. FÍGADO HEPATIMETRIA: é importante (cai na prova) Na hepatimetria vamos mensurar o tamanho do fígado, para identificar se o paciente é portador de uma hepatomegalia ou não. Com o paciente em decúbito dorsal (deitado), vamos começar percutindo nos arcos costais inferiores do mamilo. Quando o som passar de timpânico para maciço indica o início do lobo direito. Em seguida, percutir da região inferior para superior. Quando o som ficar maciço, indica a presença do fígado. Teremos então o tamanho do lobo direito o fígado (ou lobo maior). Posteriormente, vamos para a região medial. Iniciamos a percussão, marcando o ponto em que o som torna-se maciço. Isso deve ser feito de superior para inferior e ao contrário também. Encontraremos o tamanho do lobo esquerdo do fígado. O QUE PODEMOS ENCONTRAR? Macicez: vísceras preenchidas. Ex: fígado. Timpânico: (TUM), som oco, onde há vísceras ocas. - NORMAL Som timpânico. Com exceção do hipocôndrio direito, que é maciço por alojar o fígado. Hipertimpanismo – Extasia gástrica, obstrução intestinal, pneumoperitônio. - NORMAL: 6 a 12 cm da linha hemiclavicular direita ou do lobo direito do fígado. 4 a 8 cm da linha mediana esternal ou do lobo esquerdo do fígado Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 6 Sinal de Jobert: quando encontramos na percussão som timpânico no fígado. A presença de timpanismo na região da linha hemiclavicular direita onde normalmente se encontra macicez hepática, caracteriza pneumoperitônio (perfuração de víscera oca = perfurou estômago, intestino, e o ar que ficava restrito à víscera subiu e se alojou na região hepática). BAÇO Percussão do baço é importante, pois, o baço alterado pode mostrar uma esplenomegalia. Espaço de Traube: É importante saber o Espaço de Traube. Fica no espaço semilunar do sexto ao décimo primeiro espaços intercostais, na linha axilar anterior esquerda no paciente inspirando, vamos percutir o espaço de Traube. Se há macicez é esplenomegalia. Se não há, é normal. DIZER: NORMAL= espaço de traube livre. 4- PALPAÇÃO Dividida em duas partes: - Superficial - Profunda * É necessário realizar as duas partes. Objetivos: - Avaliar o grau de resistência da parede abdominal: se o paciente coloca uma resistência ou não à palpação. - Estabelecer as condições físicas das vísceras. - Explorar a sensibilidade dolorosa do abdome: se o paciente tem dor quando tocamos ou se dói ao apertar. - SEMPRE: Paciente em decúbito dorsal, confortável, com pernas e braços extendidos (algumas literaturas falam que o paciente pode estar com os joelhos levemente fletidos, desde que ele esteja em uma posição confortável) - Distrair o paciente: Evitar tensões e Queixas falsas. Muitas vezes o paciente chega com queixa de dor, ao relarmos, ele já se queixa, e essa dor não é real. - Manter as unhas cortadas: Não machucar o paciente - Temperatura: Atritando as mãos para aquecê-las. - Evite movimentos bruscos. PALPAÇÃO SUPERFICIAL: é feita com a mão e ponta dos dedos em todo o abdome. Devemos palpar as 9 regiões, de maneira superficial e leve, analisando tensões locais. - Destinada à superfície cutânea da parede abdominal Ruídos produzidos na palpação Roncos Borborigmos Gargarejo Indicam o deslocamento da água de um local para outro Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 7 - Técnica: Mão direita espalmada, com movimentos rápidos e rotativos - Reconhecer: Hipertonicidade muscular e “defesa” muscular PALPAÇÃO PROFUNDA: pode ser com uma mão ou com as duas, mas preferencialmente usar as duas. Com as duas mãos, vamos fazer uma pressão positiva no abdome, apertar tentando sentir as vísceras, os órgãos. - Para todas as vísceras avaliar: forma, consistência, limites, mobilidades e sensibilidade. Palpáveis em Sinal de Blumberg Dor ou piora da dor à compressão e descompressão súbita do ponto de McBurney. Caso paciente tenha dor signifca peritonite (inflamação do peritônio), que é indicativo de apendicite. Onde está o ponto de McBurney? No terço inferior entre a cicatriz umbilical e a fossa iliaca direita. Técnica: apertar profundamente e retirar bruscamente. FÍGADO É um órgão muito palpável Pedir para o paciente realizar uma inspiração profunda, a fim de rebaixar o diafragma e os órgãos abdominais, facilitando a palpação. Já teremos uma noção do tamanho do órgão pela hepatimetria Iremos utilizar duas semiotécnicas: O que podemos palpar normalmente (não quer dizer que vamos conseguir, pois pode variar de acordo com o tipo de abdome): - Borda inferior do fígado - Grande curvatura do estômago (raro) - Sigmóide - Ceco - Cólon ascendente (fácil) - Partes do cólon transverso e descendente - Aorta - Pólo inferior do rim direito Situações patológicas - Duodeno (pois fica retroposterior ao estômago) - Baço - Vesícula biliar (deve estar inflamada) - Apêndice - Delgado - Bexiga -Útero, ovários e trompas - Palpação abdominovaginal (fazer toque vaginal e palpar com a mão esquerda em cima) Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 8 Técnica de Lemos-Torres: a borda do fígado fica palpável à 4 cm abaixo do rebordo costal direito. Paciente em decúbito dorsal, colocar a mão esquerda na região posterior do flanco do paciente e com a mão direita realizar uma parábola (apertar e levantar) na região anterior do flanco direito. Assim, sentiremos a borda do fígado. *** Em situações patológicas a borda do fígado pode estar bem mais alta, na região superior do abdome (hepatomegalia). Técnica de Mathieu ou Mão em “garra” (mais usada) Iremos nos posicionar na região da cabeça do paciente, olhando para os pés dele. Devemos pegar no abdome do paciente com a mão em forma de garra, trazendo para nossa direção, tentando palpar a borda hepática inferior. Avaliar Consistência da borda hepática - Macio NORMAL - Endurecido Patológico Avaliar a superfície - Lisa NORMAL - Nodulações Patológico Forma - Borda Fina e bem delimitada NORMAL - Romba Patológica (Cirrose, também está bem endurecida, cheia de granulações) BAÇO Não é fácil de palpar (somente 5% da população é palpável em caso não patológico). Assim, se conseguirmos palpar é um indicativo de problema. Inferior a linha axilar média e a linha axilar anterior. Se estiver acima da linha axilar média e acima da anterior é patológico (indicativo de esplenomegalia). Técnica: Paciente em decúbito dorsal (palpação é mais difícil),vamos apoiar a mão esquerda nas costas do paciente e com a mão direita fazer uma pressão. Como não é fácil de palpar, há uma manobra, uma posição do paciente que vai auxiliar na palpação. Posição de Shuster: facilita, então, devemos pedir para o paciente fazer. Decúbito lateral direito, posicionar mãos na região posterior da cabeça e expor toda a região do baço. O baço palpável é esplenomegalia RIM Limitação propedêutica devido à posição retroperitonial(pólo inferior): não são palpáveis, porque são órgãos que estão na região posterior. Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 9 A Palpação pode ser feita pelos 2 métodos: De Israel (paciente em decúbito lateral) Devoto (semelhante à palpação do baço, mas com o paciente em decúbito dorsal): tentaremos sentir na região posterior os rins. (praticamente impossível) É importante a percussão: Sinal de Giordano: sentir uma dor aguda e ter uma resposta brusca à punho percussão. Punho percussão de Murphy (é a semiotécnica): pedir para o paciente ficar sentado, de costas para nós, fechar ma das mãos e punhopercutir a região renal. PÂNCREAS Não é palpável. É um órgão retroperitoneal impossível de ser palpado. Mas, quando há hemorragia do pâncreas é facilmente visualizado. Começou aparecer equimoses em região periumbilical ou de flanco: lembrar de pâncreas (pancreatite...) VESICULA BILIAR Uma glândula que fica na região posterior do fígado. Não é palpável, somente em situações patológicas. Na colecistite aguda (quando a parede da vesícula está espessada) Palpável quando há grande aumento de volume Sinal de Murphy: pedir para o paciente inspirar e apertarmos a barriga em direção à vesícula. POSITIVO: ela toca os dedos do examinador (vesícula inflamada) ASCITE Na inspeção nem todas as ascites serão visualizadas, pode se confundir com o biótipo... Na percussão há 4 maneiras de identificar a ascite abdominal: - Toque retal (abaulamento fundo de saco de Douglas) (<300mL) não vamos fazer - Teste da macicez móvel (0,3 a 1L) VAMOS FAZER: VAMOS PERCUTIR O PACIENTE E PALPAR, E DEPOIS PEDIR PARA ELE VIRAR LATERALMENTE. O SOM MACIÇO VAI FICAR SÓ EMBAIXO E O TIMPÂNICO SÓ EM CIMA (a mudança ocorre, pois todo o liquido vai se acumular do lado que o paciente virou) - Semicírculo de Skoda (1-3L): percutir em forma de semicírculo. Haverá um local de som timpânico e outro de som maciço. - Teste da onda líquida (Piparote – Peteleco) (comum em ascite >3L) TEM QUE SABER PQ É MUITO COMUM. Paciente em decúbito dorsal, pedir para que ele coloque as próprias mãos no centro da barriga dele, pressionando. Com a nossa mão, damos petelecos. Vamos ver uma onda móvel no lado oposto. Ana Maria Guirro Exame Físico Abdominal 10 Manobra de Valsalva Emitir forçadamente o ar contra os lábios fechados e nariz tapado, forçando o ar em direção ao ouvido médio. Gera aumento da pressão intratorácica, diminui o retorno venoso ao coração e aumenta a pressão arterial, evidenciando sopros e hérnias abdominais. Importante para visualizarmos hérnia em qualquer local do corpo.
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