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A Crise e os Dilemas Demográficos Monica Baumgarten de Bolle O Princípio da Inércia • “A maior de todas as forças sociais é a inércia”. Atualmente, o resultado de todo o esforço de política econômica no mundo (avançado?) é a inércia... • Por que? Dois grandes fatores: • Endividamento √ • Demografia adversa – mudanças na estrutura etária da população. • Casos limítrofes: Reino Unido, representativo do conjunto de países desenvolvidos altamente endividados que inclui EUA e Europa. Japão: os limites do possível com a demografia adversa. Demografia adversa, Estímulos e Inércia • Economistas pensam muito na relação entre crescimento populacional e crescimento econômico e relativamente pouco na relação entre a evolução da estrutura etária de um país e o crescimento. • Porém, há que pensar mais sobre isso (gráfico a seguir), sobretudo porque o nosso entendimento acerca de como a política econômica funciona ainda é o ilustrado pelo clássico livro-texto de Paul Samuelson, de 1948 – auge do baby boom nos países avançados. • Para impulsionar a economia, basta fazer políticas expansionistas. Mas e se diferentes faixas etárias consomem de forma muito diferente? “Not all demand is created equal” (Raghuram Rajan, “Why Stimulus has Failed”, Project Syndicate, jan. 2013). • Teoria do Ciclo da Vida de Franco Modigliani • O ônus demográfico nos países avaçados está aumentando o grau de heterogeneidade do consumo e afetando a potência dos estímulos remanescentes. Crescimento Populacional (em %) O “baby boom” chinês...estes são os que estão prestes a alcançar a meia idade. Expectativa de Vida (em anos) A Teoria do Ciclo da Vida I • Introduz a estrutura demográfica e a sua evolução como fatores determinantes da poupança e do consumo agregado. Desse modo, a Teoria do Ciclo da Vida permitiu uma compreensão mais abrangente do comportamento dos consumidores do que aquela tradicionalmente associada à clássica função consumo keynesiana. • A função consumo keynesiana mais simples é geralmente representada por: C = a + cYD, em que YD é a renda disponível, ou os rendimentos do trabalho subtraindo-se os impostos pagos. • A reformulação de Modigliani implica uma função consumo com as seguintes características: • CT = bTY T + (N-T)bTE(Y) T + bTAT , em que T é a faixa etária do indivíduo, b é a propensão marginal a consumir, (N-T) é a expectativa de vida restante, medida em anos, E(Y)T é a renda esperada ao longo dos anos em que o indivíduo ainda espera viver, e AT é o patrimônio líquido acumulado até a idade T. A Teoria do Ciclo da Vida II • A teoria, portanto, enfatiza que b varia ao longo da vida e não é constante como o c da função consumo keynesiana. Além disso, a teoria sugere que quanto mais jovem ou mais velho o indivíduo, maior a sua propensão marginal a consumir, o que significa que ela alcança um mínimo ao redor da meia-idade, quando os indivíduos estão prestes a se aposentar. • Uma observação: a cesta de bens e serviços que um indivíduo consome na meia-idade não é mesma que de um jovem em início de carreira. Portanto, quando aumenta a heterogeneidade demográfica, a demanda se torna cada vez mais desigual. Attfield and Cannon (2003): Evidência UK – TCV Modigliani • “The Impact of Age Distribution Variables on the Long Run Consumption Function” EUA: Consumo/Renda Disponível 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 Under 25 years 25-34 years 35-44 years 45-54 years 55-64 years 65-74 years 75 years and older 1984 2011 Implicações • Estímulos deixam de funcionar da forma como se imaginava porque afetam todas as pessoas do mesmo modo: os benefícios de uma política monetária leniente são distribuídos igualmente entre os mais jovens endividados e os mais velhos não necessariamente tão endividados. • Estímulo tradicional – premissa de uma função consumo Keynesiana: C = cY; onde c é igual para todos. Mas isso não é verdade, como vimos no gráfico anterior. Além do mais, indivíduos de diferentes faixas etárias consomem bens e serviços diferentes. • Os jovens não se aproveitam dos juros menores para voltar a se endividar e consumir pois seus orçamentos não permitem. As decisões de consumo dos mais velhos não são tão influenciadas por essas medidas. O resultado é a inércia... • ...sobretudo quando a política fiscal é obrigada a andar na contramão da política monetária. O Princípio da Inércia, Ilustrado • Preços Atividade Demanda Oferta Pol. Mon. Pol. Fiscal Reino Unido: Crescimento Ano contra ano, média móvel de 12 meses Reino Unido: Inflação O Japão • Japão – “caso limítrofe” dos novos limites do possível da política econômica. Tudo o que se pensou e desenvolveu em matéria de pol. eco. pressupunha uma população economicamente ativa crescente...isso já não é verdade em vários lugares do mundo. Sobretudo no Japão. • Desde 1995, PEA caiu cerca de 8%. Ao mesmo tempo, a população em geral está em declínio... • Efeitos sobre a renda per capita: anos 80 vs. anos 2000+ • Nota: mesmo nos anos 80, quando havia crescimento, a inflação jamais ultrapassou 1,3% em média. Como alcançar a meta de 2% agora? Japão: Crescimento Japão: Inflação Japão: Dívida Japão: Política Econômica • Pacote de estímulos fiscais para reanimar a atividade à la anos 90; • Agressividade monetária à la Fed para alterar as expectativas de inflação e induzir o consumo. Shinzo Abe (11/01/2013): “We would like the BoJ to take responsibility for the real economy. I would like the BoJ to think about maximizing jobs”. Haruhiko Kuroda: “size of asset purchases is not large enough”. • Contudo, demografia sugere que o “sucesso” da reedição de velhas políticas será inercial... • Com queda da população, a renda per capita está aumentando – para induzir o consumo, a meta de inflação teria de se sobrepor a este efeito. Ou seja, o BoJ teria de ter credibilidade para gerar uma inflação muito maior do que se imagina – nada de 2% a 3% para os japoneses! Implicações para o iene...e para a tal “inexistência” de desvalorizações competitivas. • Japão desafia os modelos de crescimento à la Solow! Equilíbrio depende do crescimento populacional: na = s/k; k = capital por trabalhador Japão: Renda per Capita (US$ de 2005) Japão: População A Dúvida: • Há uma “velocidade de escape” como a que foi discutida recentemente por Mark Carney, sucessor de Mervyn King? E se a demografia adversa, que afeta todos os países desenvolvidos, embora em diferentes graus, não permitir que se atinja tal velocidade? • Rajan: impulsionar a demanda é pouco eficaz porque not all demand is created equal. “Perdoar” dívidas daqueles que estão ainda muito sobrecarregados, também. Eles não vão voltar a consumir como antes – tampouco é desejável que o façam. É preciso deixar que a oferta se ajuste à nova realidade. Implicação: a nova realidade são taxas de crescimento mais baixas para os mesmos níveis de inflação. • Ou taxas de inflação mais altas para níveis de crescimento não muito melhores do que os atuais...a velocidade de escape, o Santo Graal dos banco centrais, talvez não exista. EUA: Muita Complicação, Ainda • Obama mais combativo no segundo mandato é um risco – acentua a polarização política. • Postergação da discussão sobre a elevação do teto da dívida: risco para o meio do ano (como sempre)? Sequestration? • Estratégia de Obama de “dividir para conquistar” os Republicanos é arriscada, sobretudo quando os conflitos distributivos para resolver os problemas fiscais são tão acentuados(gráficos de artigo do Fed St. Louis). EUA: Dívida/PIB EUA: Receita e Despesa EUA: Despesa por Categoria EUA: Despesa por Categoria EUA: Despesa Compulsória (“Entitlements”) EUA: Fonte de Receita EUA: Alíquotas de Tributação por faixa de renda Cortes Era Bush China: O Reequilíbrio das Fontes de Crescimento • Estudo interessante do Peterson Institute for International Economics: um acompanhamento do reequilíbrio usando os dados disponíveis. • Renda disponível vs. PIB: se a RD está aumentando mais do que o PIB e a poupança está constante, há maior capacidade de consumo das famílias. • Setor imobiliário: evidência de que depois dos excessos dos últimos dois anos, houve um “pouso relativamente suave”. • Expansão do setor industrial está mais alinhada com a expansão dos serviços. China: RD vs. PIB China: Setor Imobiliário vs. PIB China: Indústria vs. Serviços Mas a demografia… • Lewis Turning Point (Sir W. Arthur Lewis, Nobel de 1979): economia com dois setores – um de subsistência onde há uma oferta “ilimitada” de mão de obra, e outro industrial. Ao longo do tempo, o setor industrial absorve a mdo do setor agrícola oferecendo salários mais altos, porém ainda abaixo do aumento da produtividade. Quando a oferta de mdo do setor agrícola começa a se exaurir, salários no setor industrial se elevam mais rapidamente, inibindo o investimento. Economia transita para uma taxa de crescimento mais baixa. • Das e N’Diaye (IMF WP, 2013): dados sugerem iminência do Lewis TP na China. PEA começará a encolher até 2020. Portanto, é razoável esperar que a taxa de crescimento da China continue a cair no médio prazo (próximos três anos), de 8% para 7% para 6% (?)... • Outro estudo interessante, Eichengreen, Park e Shin (2012): identificar condições que determinam a desaceleração de economias que crescem rapidamente. • Controlando o efeito de diversas variáveis, o principal fator determinante é a renda per capita (em US$ PPP de 2005) – quando alcança entre US$ 15 e 17 mil, o ritmo de crescimento começa a cair mais rapidamente. • A China deve alcançar este nível em torno de 2015... Eichegreen et al (2012) China: O Ônus Demográfico começa agora! China: Mercado de Trabalho I China: Mercado de Trabalho II China: Pirâmide Etária… China: Development Research Center, PRC, Sept. 2012 Dilma e o trade-off entre Crescimento e Inflação Brasil: Crescimento vs. Inflação • Governo tem dois objetivos: crescimento e inflação, com mesmo peso. Meta de “PIB nominal”, sim, ainda que não admitam. • Governo achava que tinha dois instrumentos independentes: câmbio e juros.. • Como câmbio e juros não são independentes e dado que o trade-off entre crescimento e inflação tem piorado, o conflito da política econômica se exacerbou. • Governo não sabe o que fazer com o conflito, por isso a confusão das declarações e supostas intenções. A tendência é tentar ignorar o conflito (o tempo que der) com medidas que mexam diretamente no processo de formação de preços. • E quando o espaço para isso acabar, será MESMO que voltam à ortodoxia nos juros? • A “heterodoxia” que se disseminou assustadoramente desde o final do ano passado é difícil de frear uma vez que a marcha tenha sido engatada. A Piora Comparativa dos Trade-offs Qual é a Turma do Brasil? Qual é a Turma do Brasil? Brasil: Crescimento vs. Deflator do PIB
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