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MÓDULO II TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II – PLA 2015_1 Profa. Ms. Claudete de Souza Planos do negócio jurídico: Escada Ponteana Plano da existência Plano da validade Plano da eficácia Elementos do negócio jurídico Elementos essenciais Elementos acidentais Termo, condição e encargo Requisitos da existência Formas da manifestação de vontade Requisitos de validade Prazo Contagem de prazos Da representação Conceito Regras Efeitos Formação do negócio jurídico Prazos para anulação do negócio jurídico viciado Defeitos do negócio jurídico Vícios de consentimento Erro Dolo Coação Estado de perigo Lesão Vícios sociais Fraude contra credores Ação Pauliana Simulação Da invalidade dos negócios jurídicos Nulidade e anulibilidade 2º semestre ESCADA PONTEANA (Pontes de Miranda) Planos do negócio jurídico Existência /vigência plano dos elementos mínimos ou elementos essenciais para alguns doutrinadores (tudo o que integra a essência do negócio jurídico): Agentes (ou Partes) Vontade Objeto Validade (art. 104, CC) plano dos requisitos do negócio jurídico, condições necessárias para o alcance de certo fim: Agentes capazes Vontade livre, sem vícios Objeto lícito, possível, determinado ou determinável Forma prescrita e não defesa em lei Eficácia plano onde os fatos jurídicos produzem seus efeitos. Condição Termo Encargo Existência O plano da existência é o plano dos elementos estruturais do negócio jurídico: Elemento é tudo o que integra a essência de alguma coisa. Um negócio jurídico tem existência quando sofre a incidência da norma jurídica, presentes todos os seus elementos estruturais. A) Manifestação da vontade B) Finalidade negocial (adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos) C) Idoneidade do objeto Caso falte um desses elementos o negócio é inexistente, ou seja, um nada jurídico. O casamento celebrado por autoridade incompetente rationae materiae (delegado de polícia, p.ex.), é considerado inexistente. Validade O plano da validade do negócio jurídico é o dos requisitos, já que estes são condição necessária para o alcance de determinado fim. O ato existente passa por uma triagem quanto à sua regularidade para que possa ingressar no plano da validade. Art. 104, CC. A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei. Eficácia O plano da eficácia é onde os fatos jurídicos produzem os seus efeitos. O negócio jurídico pode existir, ser válido, mas não ter eficácia, por não ter ocorrido ainda (ex.), o implemento de uma condição imposta. Este carro será seu, quando passar no vestibular. Também é possível que o negócio seja existente e inválido, porém eficaz. Casamento anulável celebrado de boa-fé. Embora inválido, gera todos os efeitos de um casamento válido para o cônjuge de boa-fé (art. 1561, CC). ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO I - ELEMENTOS ESSENCIAIS: formam a substância do negócio sem eles o ato negocial não existe 1.1. Requisitos de existência: A) Manifestação da vontade B) Finalidade negocial C) Idoneidade do objeto 1.2. Requisitos de validade (art. 104, CC): A) Capacidade do agente B) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável C) Forma prescrita ou não defesa em lei II - ELEMENTOS ACIDENTAIS: estipulações facultativas adicionadas ao ato negocial, modificando algumas de suas consequências naturais A) Condição B) Termo C) Encargo 1.1. - Requisitos da existência São os elementos estruturais do negócio jurídico: A) Declaração de vontade B) Finalidade negocial C) Idoneidade do objeto A) DECLARAÇÃO DE VONTADE Somente vontade que se exterioriza é considerada suficiente para sustentar o negócio jurídico: Se a vontade permanece interna (reserva mental), não serve para esse fim, já que é de difícil ou impossível apuração. Declaração de vontade é o instrumento de sua manifestação. A declaração é requisito de existência do negócio jurídico, já que a manifestação é elemento de caráter subjetivo, que se revela por meio da declaração. …cont. Declaração de vontade… Autonomia da vontade Em regra, as pessoas têm liberdade em celebrar negócios jurídicos, desde que sejam em conformidade com a lei. Mas, o princípio da autonomia da vontade sofre limitações pelos princípios: da supremacia da ordem pública e do interesse social. O Estado interfere nas manifestações de vontade para evitar opressão dos economicamente mais fortes sobre os mais fracos. Lei do inquilinato Código de Defesa do consumidor… A CF deu destaque à função social à propriedade, ao contrato, ao casamento… …cont. Declaração de vontade… A vontade livremente manifestada obriga o contratante = Princípio da obrigatoriedade dos contratos = (pacta sunt servanda) é a REGRA. O contrato faz lei entre as partes; O Judiciário não pode modificar leis contratuais privadas. (segurança dos negócios jurídicos). …cont. Declaração de vontade… Rebus sic stantibus, ou Teoria da imprevisão, coloca-se em oposição ao pacta sunt servanda, relativizando-o: Princípio da revisão dos contratos ou princípio da onerosidade excessiva (art. 478, CC), baseado na cláusula rebus sic stantibus e na teoria da imprevisão. O Judiciário é autorizado pela lei a fazer revisão dos contratos, sempre que ocorrer fatos: a) extraordinários, e b) imprevisíveis. …cont. Declaração de vontade Formas de manifestação da vontade: A) Expressa Se realiza por meio da palavra, falada ou escrita, gestos, sinais, mímicas, de modo explícito = possibilita o conhecimento imediato da intenção do agente. Cartas, mensagens, pregões da Bolsa de Valores… B) Tácita Declaração de vontade que se revela pelo comportamento do agente, do qual se deduz sua intenção. Aceitação de herança (art. 1805, CC), aquisição de propriedade móvel pela ocupação (art. 1263, CC)… Nos contratos, a manifestação de vontade só poderá ser tácita quando a lei não exigir que seja expressa. C) Presumida Declaração não expressamente realizada, mas que a lei deduz de certos comportamentos do agente, pelo destinatário. Presunções de pagamento (arts. 322, 323 e 324, CC) …cont. Declaração de vontade Espécies de declarações de vontade A) Receptícias Dirige-se a determinada pessoa com finalidade de fazê-la conhecer a intenção do declarante, sob pena de ineficácia, Revogação de mandato (arts. 682, I e 686, CC) B) Não receptícias Se efetiva com a manifestação do agente não se dirigindo a destinatário especial. Produz efeitos independentemente da recepção e de qualquer declaração de outra pessoa. Aceitação de letra de câmbio, revogação de testamento… C) Diretas Feitas sem intermediação de qualquer pessoa. D) Indiretas O declarante se utiliza de outras pessoas (representante), ou meios (cartas, telegramas), para que a declaração chegue ao destinatário. …cont. Declaração de vontade O silêncio como manifestação de vontade Em regra, o silêncio em Direito Civil, constitui total ausência de manifestação de vontade, não podendo produzir efeitos. Exceção : em determinadas circunstâncias pode ter significado relevante e produzir efeitos jurídicos. Art. 111, CC. “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. …cont. Declaração de vontade O silêncio pode ser interpretado como manifestaçãotácita da vontade em certas circunstâncias: A) Quando a lei conferir a ele tal efeito: Na doação pura, se o doador fixar prazo para declaração de aceitação ou não da liberalidade e, ciente desse prazo o donatário não se manifestar tempestivamente, entende-se que houve aceitação (art. 539, CC). B) Quando tal efeito ficar convencionado em um pré-contrato ou ainda resultar dos usos e costumes. Art. 432, CC. “Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa”. Caberá ao juiz examinar, no caso concreto, verificando se o silêncio traduz ou não vontade da parte que deveria se manifestar. Em Direito Processual Civil o silêncio tem relevância para configuração da revelia : firma a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor (art. 319, CPC). …cont. declaração de vontade Art. 110, CC. “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. Segundo a determinação do art.110 o negócio será inexistente se o destinatário tiver conhecimento da reserva mental, uma vez que pode se considerar como ausência de vontade. (Moreira Alves) “Reserva mental é a emissão de uma declaração não querida em seu conteúdo, tampouco em seu resultado, tendo por único objetivo enganar o declaratário”. (Nelson Nery Junior) Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção (não quer um efeito jurídico que declara querer). Quer enganar o outro contratante. B) Finalidade negocial Finalidade negocial ou jurídica é o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos. A existência do negócio jurídico depende da manifestação de vontade com finalidade negocial, isto é, com a intenção de produzir os efeitos devidos. Negócio jurídico é exercício da autonomia privada = poder de escolha da categoria jurídica. Cada espécie de vontade negocial tem uma variação quanto à irradiação e intensidade com que é proposta. Os contratantes de uma compra e venda podem estabelecer termos e condições, renunciar a certos efeitos, limitar efeitos… C) Idoneidade do objeto Cada negócio jurídico tem em vista um determinado objeto, que deve ser idôneo, ou seja, deve ser o objeto próprio ou adequado para aquela relação jurídica. Num contrato de locação ou comodato, só se pode manifestar a vontade sobre objeto que seja bem infungível. Para constituir-se uma hipoteca é necessário que o bem dado em garantia seja imóvel, navio ou avião. 1.2.- Requisitos de validade Para que o negócio jurídico produza efeitos deve preencher certos requisitos de validade, sem os quais será tido como nulo ou anulável. Requisitos de validade de caráter geral Elencados no art. 104, CC. Requisitos de caráter específico São pertinentes a determinado negócio jurídico apenas. Compra e venda tem como elementos essenciais a coisa (res), o preço (pretium) e o consentimento (consensus). REQUISITOS DE VALIDADE DE CARÁTER GERAL A) CAPACIDADE DO AGENTE A capacidade civil do agente (condição subjetiva) é a aptidão para intervir em negócios jurídicos como declarante ou declaratário. Atos da vida civil poderão ser exercidos, por si só, por todo aquele que detenha capacidade de fato ou de exercício. Agente capaz, portanto, é o que tem capacidade de exercício de direitos = aptidão para exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil. Maioridade = 18 anos, ou Emancipação Existência do negócio jurídico exige declaração de vontade de capaz. Capacidade é requisito à validade e eficácia do negócio jurídico. AGENTE CAPAZ (art. 104, I, CC) É aquele que possui condições de exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil. É detentor da capacidade genérica, ou seja, tem aptidão para manifestar vontade; a pessoa é dotada da capacidade de exprimir sua vontade, possuindo aptidão negocial. A capacidade deve ser aferida no momento do ato. A capacidade civil é adquirida quando o agente completa 18 anos (maioridade) ou através da emancipação = (art. 5º, CC). A incapacidade que sobrevém ao ato não o inquina, não o vicia. Incapacidade = restrição legal ao exercício da vida civil. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Art. 3º, CC RELATIVAMENTE INCAPAZES Art. 4º, CC -Menores de 16 anos – menores impúberes - Enfermos e deficientes mentais sem discernimento para prática dos atos da vida civil -Pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir sua vontade -Menores com idade entre 16 e 18 anos – menores púberes -Ébrios habituais, toxicômanos e pessoas com discernimento mental reduzido -Excepcionais sem desenvolvimento completo -Pródigos Fixando os conceitos sobre incapacidade… B) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável (art. 104, II, CC) O objeto da obrigação deve ser lícito e possível, ou seja, aquele que não atenta contra as determinações legais, à moral e aos bons costumes. Caso o objeto contemplado em contrato mostrar-se impossível, o negócio será considerado nulo. Ex.: Aquisição de um terreno na lua. Impossibilidade material É a impossibilidade física, emanando de contrariedades às leis naturais. - Absoluta = colocar toda a água do oceano em um copo. - Relativa = atinge ao devedor, mas não atinge outras pessoas, não se caracterizando obstáculo para cumprimento da obrigação (art. 106, CC) Impossibilidade jurídica = ilicitude O ordenamento jurídico proíbe, expressamente, aquele objeto de contrato = art. 166, II, CC (ato nulo) Ex.: herança de pessoa viva (art. 426, CC); Contratação de um assassino para matar um inimigo. C) Forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104, III, CC) “NÃO DEFESA” = NÃO PROIBIDA Forma prescrita = maneira como será exteriorizado o acordo de vontades. Art. 107, CC = a regra é a não exigência de forma: Regra = forma livre O contrato pode ser escrito, público, particular, verbal, a não ser em casos específicos previstos em lei, garantindo maior segurança e seriedade a certos negócios, com a forma escrita. Exceção = formalismo II - Elementos acidentais do negócio jurídico 1) CONDIÇÃO 2) TERMO 3) ENCARGO OU MODO 1) Condição; 2) Termo; 3) Encargo O Código Civil arrola essas 3 modalidades de elementos acidentais, embora não seja rol taxativo. São requisitos dispensáveis, sem os quais o negócio se firma e resolve sem qualquer problema, ou seja, são prescindíveis, podendo ou não as partes agregá-los ao negócio. Embora facultativos, uma vez apostos liberalmente pela vontade das partes, agregam-se ao negócio, dele ficando indissociáveis. Caso inserido no negócio, torna-se a ele essencial. Fazem parte do plano de eficácia do negócio jurídico, opondo obstáculo à aquisição do direito, subordinando o efeito do negócio a sua ocorrência ou sujeitando-se a evento futuro e incerto/certo. São estipulações facultativas adicionadas ao ato negocial, modificando algumas das consequências naturais. Condição (Art. 121, CC) Cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico, oneroso ou gratuito, a evento futuro e incerto. É aposto um obstáculo à aquisição do direito Subordinando o efeito do negócio a sua ocorrência. Sujeitando-o a evento futuro e incerto. Filho, te darei um carro, quando se casar. Termo (arts. 131-135,CC) O termo tem por finalidade suspender a execução ou o efeito de uma obrigação Até um momento determinado Ou o advento de um evento futuro e certo. O sujeito fixa tempo para início e fim dos efeitos do negóciojurídico, especificando um termo dentro de lapso de tempo que se denomina prazo. Filho, te darei um carro, se passar no Exame de Ordem, em 2015. Modo, Ônus ou Encargo (art. 136/137, CC) Geralmente é restrição imposta ao beneficiário de liberalidade (doações). O agente institui uma imposição ao titular de um direito que não impede sua aquisição. Trata-se de ônus que diminui a extensão da liberalidade. Doação a instituição, impondo-lhe encargo de prestar determinada assistência a necessitados. Deixo em testamento uma casa, impondo ao beneficiado obrigação de residir no imóvel. Condição (Arts. 121-130, CC) CONCEITO Art. 121, CC. “Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”. Os elementos essenciais: A) Que a cláusula seja voluntária Por ser declaração acessória da vontade incorporada a outra, que é a principal; por se referir ao negócio a que a cláusula condicional se adere, com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais. B) Futuridade do evento Visto que exigirá sempre um fato futuro, do qual o efeito do negócio dependerá. C) Incerteza do acontecimento Pois a condição relaciona-se com um acontecimento incerto, que poderá ou não ocorrer. Condições lícitas e ilícitas (Arts. 122/123 CC) Art. 122, CC. “São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes”. Lícita será a condição quando o evento que a constitui não for contrário à lei, à ordem e aos bons costumes. Ilícitas são consideradas, aquelas condições imorais e ilegais. Imorais = atentam contra a moral e bons costumes Pecam contra o direito de liberdade das pessoas (não se casar) Contra princípios religiosos (mudar de religião) Honestidade e retidão de caráter (fidelidade mútua no casamento) Ilegais = incitam o agente à prática de atos proibidos por lei ou a não praticar atos que a lei manda. Condição que obrigue alguém à praticar a prostituição Ou que transgrida norma penal. Condições Perplexas e Potestativas Art. 122, CC, segunda parte: “…entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico…”. Condições perplexas ou contraditórias Resultam na invalidade do próprio negócio, nulificam e fulminam a eficácia do negócio jurídico. Pois não fazem sentido e deixam o intérprete perplexo, confuso, sem compreender o propósito da estipulação. Nelas há uma impossibilidade lógica, invalidando o negócio por serem incompreensíveis ou contraditórias (art. 123, III, CC). Instituo Alberto meu herdeiro universal, se Benedito for meu herdeiro universal. Condições potestativas Art. 122, CC, última parte: “…ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes”. Condições potestativas A condição potestativa é aquela que depende apenas da vontade de um dos contraentes. Se eu quiser, assino o contrato amanhã. A ela se contrapõpe a condição casual, que depende do acaso, não estando no poder de decisão dos contraentes. Te darei R$ 100,00 se chover amanhã. Condições que invalidam o negócio jurídico (Art. 123, CC) Art. 123. “Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I – as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; II – as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; III – as condições incompreensíveis ou contraditórias”. Condições fisicamente impossíveis são as que não podem se efetivar por serem contrárias à natureza: Doação de um palacete a quem trouxer o mar até a Praça da Sé. Condições juridicamente impossíveis: são aquelas que invalidam os atos negociais a elas subordinados, por serem contrárias à ordem legal: Condição de adotar pessoa da mesma idade (Art. 1619, CC). Deve haver uma diferença de, no mínimo, 16 anos entre o adotante e o adotado. Condição Suspensiva (Art. 125, CC) Art. 125. “Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verifica, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”. Quando as partes protelam temporariamente a eficácia do negócio jurídico até a realização do acontecimento futuro e incerto. O nascimento do direito fica em suspenso; A obrigação não existe durante o período de pendência da condição. “Eu te darei uma quantia se te graduares no curso superior”. “Farei o negócio se as ações da empresa X obtiverem a cotação Y em Bolsa, em determinado dia”. Condição Resolutiva (Art. 127) Art. 127. “Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido”. “Filha, pagarei uma pensão à você, enquanto estudares.” É condição que tem por fim extinguir o negócio jurídico, depois do acontecimento de um fato futuro e incerto. Termo (Arts. 131-135, CC) Termo é o dia ou momento em que se inicia ou se encerra a produção dos efeitos jurídicos do negócio, podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano. A contrário da Condição, que se caracteriza pela incerteza, o Termo: Tem por finalidade suspender a execução ou o efeito de uma obrigação Até um momento determinado Ou o advento de um evento futuro e certo. Se te formares em Medicina até os 25 anos, dou-te um consultório. O termo pode derivar: da vontade das partes (termo propriamente dito ou termo convencional), de disposição legal (termo de direito) ou de decisão judicial (termo judicial). Espécies de Termo Termo convencional é a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio a um acontecimento futuro e certo. Termo de direito é o que decorre da lei. Termo de graça é a dilação de prazo concedida ao devedor. Termo inicial (ou suspensivo ou dies a quo) Fixa o momento em que a eficácia do negócio deve ter início; O exercício do direito fica suspenso até o instante em que o acontecimento futuro e certo, previsto, ocorrer. Contrato que é celebrado no dia 02/03, para ter vigência a partir de 20/03. Termo final (ou extintivo ou dies ad quem) Termina a produção de efeitos do negócio jurídico. Locação que tem prazo de extinção em determinada data = termo final. Termo essencial Quando o efeito pretendido deva ocorrer em momento bem preciso, sob pena de não mais ter valor se verificado intempestivamente. Vestido da adolescente que é entregue só no dia seguinte à festa de 15 anos. …cont. Termo Termo Certo (determinado) A certeza do evento pode estar ligado ao período temporal, ou seja, uma data exata. Constitui o devedor de pleno direito em mora. “Pagamento da dívida em 02 de outubro”. Termo Incerto (indeterminado) Por outro lado, a certeza do evento poderá se encontrar representado por um fato que certamente ocorrerá, contudo, o momento exato não será possível precisar. “Pagamento quando da morte de uma determinada pessoa” Encargo ou modo (art. 136, CC) Geralmente é restrição imposta ao beneficiário de liberalidade inter vivos (doações), ou causa mortis (testamento ou legado). Cláusula acessória às liberalidades, impondo uma obrigação ao beneficiário. Restrição cabível em qualquer ato de índole gratuita: Testamentos Cessão não onerosa Promessa de recompensa Renúncia Obrigações decorrentes de declaração unilateral de vontade Trata-se de ônus que diminui a extensão da liberalidade. Doação à instituição, impondo-lhe encargo de prestar determinada assistência a necessitados. Deixoem testamento uma casa, impondo ao beneficiado obrigação de residir no imóvel. Doação de área à determinada Prefeitura, com encargo de meu nome ser colocado em uma das vias públicas. Ninguém é obrigado aceitar liberalidade, mas se o faz sabendo ser gravada com encargo, fica sujeito ao cumprimento. Encargo é coercitivo (diferentemente da condição) Cont…Encargo Artigo 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva”. Importam uma obrigação de fazer: Doação de um prédio para que nele se instale um hospital Legado com o encargo de construir uma escola. Artigo 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico”. Encargo ilícito ou impossível somente viciará o negócio se for motivo determinante da disposição, o que será examinado no caso concreto. Doação de imóvel feita para que o donatário nele mantenha casa de prostituição. CONDIÇÃO TERMO ENCARGO Subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto Subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo Constitui cláusula acessória às liberalidades. Impõe uma obrigação ao beneficiário É imposta com o emprego das partículas “se”, “enquanto”, “com a condição de não”… Identifica-se pelas expressões “quando”, “a partir de”, “até tal data”… É imposto com as expressões “para que”, “com a obrigação de” … •Suspensiva: impede que o ato produza efeitos •Resolutiva: resolve o direito transferido pelo negócio •Inicial: suspende o exercício, mas não a aquisição do direito •Final: resolve os efeitos do negócio jurídico Não suspende a aquisição nem o exercício do direito. Se não for cumprido, a liberalidade será revogada. Dormientibus non succurit jus = “O direito não socorre aquele que dorme”. Prazo (Art. 132, CC) Prazo é o lapso de tempo decorrido entre a declaração de vontade e a superveniência do termo. O prazo é também o tempo que medeia entre o termo inicial e o termo final. Não se confunde com o termo, que é o limite inicial ou final, aposto ao prazo. O prazo é contado por unidade de tempo (hora, dia, mês e ano), Excluindo-se o dia do começo (dies a quo) Incluindo-se o do vencimento (dies ad quem) Salvo disposição legal ou convencional em contrário. Uma obrigação assumida em 15 de junho, com prazo de um mês, vencerá dia 16 de julho. …prazo Regra geral As partes fixam prazo dentro do qual deve ser cumprida a obrigação. O credor não pode exigir o cumprimento antes do termo. Se o prazo cair em sábado, fica prorrogado de um dia útil (art. 3º, Lei 1408/51 = não há expediente bancário aos sábados). Prazo certo = se o ato é a termo certo. Prazo incerto = se o ato é a termo incerto. Prazo e sua contagem Art. 132. “Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluídos o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto”. DA REPRESENTAÇÃO Ficção jurídica que permite que alguém pratique ou realize ato ou negócio jurídico em nome de outrem. Quem pratica o ato é o Representante. Representado será a pessoa em nome de quem o Representante atua. “Representação é a relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um representante, cujos poderes são conferidos por lei ou mandato”. A legitimação para agir em nome de outrem nasce da lei ou do contrato. a) A representação legal é exercida sempre no interesse do Representado b) A representação convencional pode realizar-se no interesse do próprio Representante (Procuração em causa própria). Espécies de Representação Art. 115, CC. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado”. a) Representação legal: deferida pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos, administradores, etc.. o representante exerce atividade obrigatória, investido de poder autêntico; tem por função cuidar dos interesses de pessoas incapazes ou capazes. Sindicato celebra acordos coletivos; Síndico dos condomínios… b) Representação judicial: nomeação pelo juiz para exercer poderes de representação no processo : inventariante, síndico da falência… c) Representação convencional ou voluntária: Todo capaz pode dar procuração mediante instrumento público ou particular, que terá validade desde que tenha a assinatura do outorgante (art. 654, CC). Mandato decorrente de negócio jurídico, pressupõe a substituição de uma pessoa por outra na prática de um ato jurídico. O Representante tem obrigação de provar às pessoas com quem trata em nome do Representado, sua qualidade e a extensão de seus poderes. Responde por atos que a estes exceder (art. 118, CC). Substabelecimento Não pode haver substabelecimento na representação legal. Um pai não pode delegar a outra pessoa suas responsabilidades decorrentes do poder familiar. O inventariante não pode transferir suas responsabilidades perante o juízo do inventário. Na representação convencional o representante pode transferir parte ou todos os poderes que lhe foram outorgados pelo representado. Advogado pode substabelecer a um colega de profissão, a obrigação de realizar uma audiência. Regras da Representação Art. 116, CC. “A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado”. O representante atua em nome do representado, produzindo efeitos jurídicos com relação a este que: Adquirirá os direitos dele decorrentes, ou Assumirá as obrigações que dele advierem. Portanto, o representante deve agir na conformidade dos poderes recebidos: a) agir de acordo com a extensão de seus poderes e b) de acordo com os interesses do representado. Caso os ultrapasse, haverá excesso de poder, podendo ser responsabilizado (art. 118, CC). Enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será considerado mero gestor de negócios (art. 665, CC). Efeitos da Representação Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos”. Anulabilidade do negócio jurídico celebrado consigo mesmo: Caso o representante vier a efetivar negócio jurídico consigo mesmo no seu interesse ou por conta de outrem, será este anulável, exceto se houver permissão legal ou autorização do representado. O poder de representação legal é insuscetível de substabelecimento. Pais, tutores e curadores não podem substabelecer os poderes que têm em virtude de lei. …entendendo melhor… Uma mesma pessoa recebe procuração de 2 pessoas diferentes para, em nome de uma, vender um imóvel; e, Em nome de outra, comprar aquele mesmo imóvel. O representante comparecerá em Cartório e assinará a escritura de compra e venda como vendedor (em nome de quem lhe outorgou procuração para vender), E assinará também como comprador (em nome de quem lhe outorgouprocuração para comprar). Formação do negócio jurídico Quando da formação do negócio jurídico, duas são as forças que agem no sentido de concretizá-lo: 1) A linguagem que é usada para declarar a vontade (verbal, escrita, gestos…) 2) A intenção com que as partes agem ao realizar o negócio jurídico. Importante ressaltar que nosso direito pátrio prestigia com maior vigor a intenção das partes do que exatamente a declaração da vontade destas, ou seja, a linguagem com a qual está vestida a intenção. Portanto, os defeitos do negócio jurídico derivam de imperfeições decorrentes de falhas (anomalias = vícios/defeitos) na formação da vontade ou em sua declaração. …cont. formação do negócio jurídico Art. 171. “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Este Capítulo trata das hipóteses em que a vontade se manifesta com algum vício que torne o negócio anulável (nulidade relativa, ou anulabilidade): No caso da anulabilidade, o vício capaz de tornar o negócio ineficaz poderá ser eliminado, restabelecendo-se sua normalidade. Prazo para anulação do negócio jurídico viciado Art. 178. “É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I – no caso de coação, do dia em que ela cessar; II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III – no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade”. O prazo para se anular o negócio jurídico defeituoso é o decadencial de 4 (quatro) anos conforme expõe o art. 178, CC. DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Vícios do negócio jurídico (art. 171, CC) Vícios de consentimento Afetam a vontade intrínseca do agente, tornando a manifestação de vontade viciada. Na sua inexistência o declarante teria agido de outro modo, Ou, talvez, nem tivesse realizado o negócio. Vícios sociais Têm por intenção ludibriar terceiros: A vontade por parte do declarante é real e verdadeira, mas dirigida para prejuízo de outrem. Vícios de Consentimento “Os vícios de consentimento provocam uma manifestação de vontade que não corresponde com o verdadeiro querer do agente. Criam um conflito entre a vontade manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou”. 1.- Erro ou ignorância (art. 138, ss, CC) Trata-se de manifestação de vontade em desacordo com a realidade, quer porque : o declarante a desconhece (ignorância), ou tem percepção errônea dessa realidade (erro) 2.- Dolo (art. 145, ss, CC) Quando esse desacordo com a realidade é provocado maliciosamente por outrem. 3.- Coação (art. 151, ss, CC) Quando o agente é forçado a praticar um ato por ameaça contra si, ou contra alguém que lhe é caro. 4.- Estado de perigo (art. 156, CC) Configura-se quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. 5.- Lesão (art. 157, CC) Quando o agente paga preço desproporcional ao real valor da coisa, sob certas circunstâncias. Vícios sociais I - Fraude contra credores (Art. 158, ss, CC) Na fraude contra credores a manifestação de vontade é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros. Por isso é considerada vício social. a intenção do declarante é afastar seu patrimônio de seus credores, por meio de atos que possuam aparência de legitimidade. II - Simulação (Art. 167) Deslocada para o capítulo da invalidade dos negócios jurídicos, como causa de nulidade absoluta). VÍCIOS DE CONSENTIMENTO Arts. 138 a 165, CC 1.- ERRO OU IGNORÂNCIA – Art. 138, CC Embora o CC tenha equiparado os efeitos do erro à ignorância, existe uma diferenciação entre os dois conceitos, embora em ambos o agente não celebraria o negócio se estivesse devidamente esclarecido a respeito: Erro = incorreta interpretação de um fato manifesta-se mediante compreensão psíquica errônea da realidade; representação desacertada, incorreta, contrária à verdade. A falsa idéia da realidade motiva a declaração de forma diversa daquela que exteriorizaria caso conhecesse melhor os elementos do negócio jurídico. Ignorância = total desconhecimento de um fato um “nada” a respeito do fato; falta de noção a respeito de um assunto. A ignorância é ausência de conhecimento, falta de noção a respeito de um assunto. Não há, na ignorância, nem mesmo a representação imperfeita, porque inexiste qualquer representação mental ou conhecimento psíquico a respeito. “O erro, para viciar a vontade e tornar anulável o ato, deve ser essencial ou substancial, isto é, de tal força, de tal relevo, de tal consistência que, sem ele, o ato não se realizaria”. (Washington de Barros) “O erro manifesta-se mediante compreensão psíquica errônea da realidade, ou seja, a incorreta interpretação de um fato”. Ao adquirir um imóvel, devo obter todas as informações detalhadas sobre ele: endereço completo, metragem real, comprovante de pagamento de impostos, etc.. Caso desconheça qualquer desses itens, corro o risco de declarar minha vontade com erro. O dono do terreno, por seu lado, pode criar uma noção falsa sobre o mesmo, para que eu o compre de forma enganosa. Espécies de Erro substancial ou essencial (art. 139, CC) É o que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. É causa determinante: se conhecida a realidade o negócio não seria celebrado. Uma pessoa pensa estar vendendo uma casa e a outra a recebe a título de doação. Erro acidental Se refere a circunstâncias de pouca importância, que não acarretam prejuízo, pois referem-se a qualidades secundárias do objeto ou da pessoa. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negócio teria sido realizado. Adquiri uma chácara para lazer, pensando conter um pomar com 100 pés de laranja, quando na verdade tem 80 pés. …cont. Espécies de Erro escusável É um erro justificável, desculpável, o contrário do erro grosseiro ou inescusável. Art. 138, CC. “São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”. Adotado um padrão abstrato, o do homem médio (homo medius), para a aferição da escusabilidade. Será considerado, em cada caso levado aos tribunais, as condições pessoais (desenvolvimento mental, cultural, profissional…) de quem alega o erro. O juiz poderá considerar escusável a alegação de erro quando a celebração da compra e venda for julgada como doação, feita por uma pessoa rústica e analfabeta. Por outro lado, pode considerar inescusável, injustificável, se a mesma situação ocorrer com um advogado. …cont. Espécies de Erro real É um erro efetivo, palpável, causador de prejuízo concreto para o interessado. Conhecer o ano de fabricação do veículo adquirido é substancial e real, pois se o adquirente soubesse da realidade (2009 ao invés de 2011), não o teria comprado. Erro subtantivo ou impróprio É erro de relevância exacerbada, que apresenta profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio venha a se formar. Inviabiliza a existência do negócio. O agente quer alugar a casa e escreve no contrato vender. Convalescimento do Erro Art. 144. “O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante”. Princípio daconservação dos atos e negócios jurídicos, segundo o qual não há nulidade sem prejuízo. Uma vez que tal hipótese se apresente, deixa de haver prejuízo daquele que se enganou. O erro deixa de ser real (anulável). José pensa que comprou o lote 2 da quadra X, quando, na verdade, adquiriu o lote 2 da quadra Y. Ocorreu um erro substancial, mas antes de ser o negócio anulado, o vendedor entrega-lhe o lote 2 da quadra X, não havendo qualquer prejuízo a José. O negócio será válido, pois foi executado de acordo com a vontade real de José. 2.- Dolo – (art. 145, CC) “Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”. (Clóvis Bevilaqua) Dolo consiste em Artifício Artimanha Engodo Encenação Astúcia Desejo maligno tendente a viciar a vontade do destinatário ou desviá-la de sua correta direção. O comprador é induzido a realizar a compra de um terreno, motivado pela propaganda da empreendedora que exibe maquete do loteamento em local alto, destinado à construção. Após a compra, o adquirente verifica que o mesmo não se presta à construção, pois se encontra dentro de um pântano, impossível suportar as fundações. Conforme estabelecido no art. 186, a prática do dolo é considerado ato ilícito. A anulação do negócio jurídico viciado por dolo acompanha, de regra, pedido de indenização de perdas e danos. Prazo: 4 anos, contado do dia em que se realizou o negócio jurídico (art. 178, II, CC) Espécies de dolo A gravidade do dolo é verificada de acordo com sua intensidade. Art. 145. “São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”. A) Dolo principal e dolo acidental A.1.) Dolo principal: vicia o negócio jurídico, se foi a causa determinante da declaração de vontade determinando sua anulação. Não fosse o convencimento astucioso e a manobra insidiosa, o negócio não teria se concretizado. “Separação consensual. Partilha. Renúncia da mulher, cujo adultério chegou ao conhecimento do marido, renunciando esta, a todos os seus direitos, em favor de filho. Dolo e coação. Quadro incidiário robusto e demonstrativo da existência dos invocados vícios do consentimento. Tal quadro é sumamente conhecido, a impor o marido à esposa condições perante as quais deva se ter por absolutamente submissa. Anulação determinada”. (JTJ, Lex, 149/103). …cont. Dolo… A.2.) Dolo acidental: O dolo acidental não vicia o negócio e só obriga à satisfação das perdas e danos. O negócio teria se realizado, independentemente da malícia empregada pela outra parte ou por terceiro. O dolo acidental diz respeito apenas às condições do negócio. Alberto adquire de Benedito imóvel que vale R$ 50 mil, pagando R$ 100 mil. Ato ilícito que não permite postular invalidação de contrato, mas somente reparação do prejuízo correspondente à diferença entre o preço pago e o real valor do bem. “Dolo acidental. Caracterização. Venda de trator cujo ano de fabricação não correspondia ao informado e cobrado pelo revendedor. Reparação dos danos causados aos adquirentes se impõe”. (RT, 785/243). …cont. Dolo… B) Dolus bonus e dolus malus B.1.) Dolus bonus é o dolo que os romanos consideravam menos intenso, tolerável, de gravidade insuficiente para viciar a manifestação de vontade. Atitude do comerciante que elogia exageradamente sua mercadoria em detrimento dos concorrentes (prática costumeira do comércio - “o melhor produto”; “o mais eficiente”; “o mais barato”...). O eventual erro em que incorre o destinatário da vontade, no caso, é inescusável. O princípio é o mesmo do erro, incapaz de anular o ato jurídico, se inescusável. Porém há um novo enfoque que deve ser dado a esse denominado dolo bom em face das novas práticas de comércio e dos princípios de defesa do consumidor e as ofertas de massa. Atualmente não se considera o dolo irrelevante, caso tenha sido causa para manifestação de vontade do consumidor, sendo encarado como propaganda enganosa. B.2.) Dolus malus é o dolo mais grave, exercido com o propósito de ludibriar e prejudicar. Pode consistir em atos, palavras e até mesmo no silêncio maldoso. C) Dolo positivo (comissivo) e dolo negativo (omissivo) C.1.) Dolo positivo (ou comissivo) inquinado de expedientes enganatórios, verbais ou de outra natureza que podem importar em série de atos e perfazer uma conduta. O dolo daquele que faz imprimir cotação falsa da Bolsa de Valores para induzir o incauto a adquirir certas ações. Dolo do fabricante de objeto com aspecto de “antiguidade”, para vendê-lo como tal. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria realizado. ...cont. Dolo comissivo e omissivo C.2.) O dolo negativo (ou omissivo) é a reticência, a ausência maliciosa de ação para incutir falsa idéia ao declaratário. O princípio da boa-fé deve sempre nortear os contratantes e é com base nele que o julgador deve pautar-se. O art. 766, CC, estipula a perda do direito ao recebimento do seguro se o estipulante de seguro de vida oculta, dolosamente, ser portador de doença grave quando da estipulação. D) Dolo de terceiro O dolo pode ser proveniente do outro contratante ou de terceiro, estranho ao negócio. Art. 148, CC. “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”. O dolo do estranho vicia o negócio se era conhecido por uma das partes, que não advertiu a outra, aceitando a maquinação, tornando-se cúmplice de má-fé. Enseja anulação do negócio. Cabendo ao lesado provar que a outra parte teve ou deveria ter conhecimento. O adquirente é convencido, maldosamente, por um terceiro, que o relógio que está adquirindo é de ouro, sendo que tal afirmação seja feita pelo vendedor (este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro, mas não alerta o comprador). E) Dolo do representante Art. 149. “O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos”. O representante de uma das partes não é considerado terceiro, pois age como se fosse o próprio representado, atuando nos limites de seus poderes. Caso o representante induza em erro a outra parte, o negócio será anulável. Sendo o dolo acidental, o negócio subsistirá, gerando perdas e danos. F) Dolo bilateral Art. 150. “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização”. As duas partes quiseram obter vantagem em prejuízo da outra, não podendo invocar o dolo para anular o negócio ou reclamar indenização. Ninguém pode valer-se da própria torpeza. Não há boa-fé a defender. Dolo no CPC - Arts. 16, 17 e 18, CPC Dolo no Código Penal – Art. 18, I, CP Dolo Processual: Litigância de má fé Conduta reprovável, contrária à boa-fé, que sujeita tanto o autor como o réu que assim proceder, a sanção várias, como pagamento de perdas e danos, custas e honorários advocatícios. Também não se confunde o dolo civil com o dolo do Direito Penal, que é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário à lei: Art. 18, I, Código Penal, estipula que há dolo “quando o agente quis o resultado (dolo direto) ouassumiu o risco de produzi-lo (dolo indireto)”. A ilicitude do dolo pode tipificar crime, ocorrendo simultaneamente procedimentos paralelos entre os juízos Cível e Criminal 3.- Coação – Art. 151, CC “Coação é toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio”. Tem por característica o emprego da violência psicológica para viciar a vontade. O temor infundido na vítima constitui o vício do consentimento e não os atos externos utilizados no sentido de desencadear o medo. É o mais repugnante dos vícios, pois dotado de violência: A vontade deixa de ser espontânea, como resultado de violência que incide sobre a inteligência da vítima. cont. coação... Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Requisitos da coação Nem toda ameaça configura a coação. É preciso reunirem-se 5 requisitos: 1) Deve ser a causa determinante do ato Sem essa coação o negócio não se teria realizado. 2) Deve ser grave Para avaliação da gravidade segue-se o critério concreto, ou seja, não se compara a reação da vítima com o homem médio, pois algumas pessoas são mais suscetíveis de se sentir atemorizadas do que outras. (Vide art. 152 e 153). 3) Deve ser injusta Esta expressão deve ser entendida como ilícita ou abusiva. (art. 153) Credor que ameaça executar a hipoteca contra sua devedora caso esta não concorde em se casar com ele. ...cont. requisitos da coação... 4) Deve dizer respeito a dano atual ou iminente Dano iminente e inevitável é aquele prestes a se consumar, do qual a vítima não tem meios para furtar-se ao dano. Provoca no espírito da vítima temor intenso que a conduz a contratar. 5) Deve constituir ameaça ou prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de sua família A vítima é intimidada com diversas formas de sofrimentos físicos, cárcere privado, tortura, incêndio, depredação, greve… “Família” tem acepção ampla, não fazendo distinção entre graus de parentesco, incluindo parentes afins – cunhados, sogros, etc. Filho que ameaça suicidar-se ou envolver-se numa guerra para obter anuência do pai. Espécies de coação 1.) Coação absoluta ou física (vis absoluta) = torna o ato nulo Violência física que não concede escolha ao oprimido: tolhe totalmente a vontade. O que se tem é apenas a vontade do violentador, sem qualquer possibilidade de escolha do violentado Gera a nulidade do negócio por inexistência da vontade. Agente conduz a mão da outra parte, para conseguir assinatura em documento. 2.) Coação relativa (vis compulsiva), ou coação moral = ato anulável Há certo grau de escolha por parte do coacto. A vítima da coação não fica reduzida à condição de puro autômato, uma vez que pode deixar de emitir a declaração pretendida, optando por resistir ao mal cominado e correndo o risco das consequências. Existe a opção, embora cerceada sua vontade, em expor-se ao mal e a conclusão do negócio que lhe querem extorquir. Assaltante aponta a arma e propõem: “A bolsa ou a vida”. Excludentes da coação - Artigo 153, CC 1) Exercício normal de um direito O agente procede de acordo com seu direito. Não constitui coação a ameaça feita pelo credor de protestar ou executar o título de crédito vencido e não pago. 2) Simples temor reverencial A espécie reverencial é o temor de ocacionar desprazer a pessoas ligadas por vínculo afetivo, ou por relação de hieraquia (ascendentes - pai, mãe ou outras pessoas a quem se deve obediência e respeito). A palavra “simples” colocada na letra da lei sabiamente demonstra que caberá ao juiz, no exame de cada caso concreto, a determinação de onde termina o “simples” temor reverencial e onde inicia a coação. O fato da moça ter se casado com um rapaz somente para agradar ao pai, que tinha por ele simpatia, mas nunca lhe exigiu tal ato, não pode ser considerado coação. 4.- Estado de Perigo Art. 156, CC Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Estado de perigo possui os requisitos: 1) situação de necessidade; 2) iminência de dano atual e grave (moral ou patrimonial); 3) nexo de causalidade entre a manifestação e o perigo de grave dano; 4) ameaça de dano à pessoa do próprio declarante ou de sua família; 5) conhecimento do perigo pela outra parte; 6) assunção de obrigação excessivamente onerosa, exorbitante. …cont. Estado de perigo… Aplica-se o paradigma penal da “inexigibilidade de conduta diversa”. Indivíduo não possui outra saída ou alternativa viável. A anulabilidade do negócio celebrado em estado de perigo justifica-se em diversos dispositivos do CC, principalmente naqueles que consagram o princípio da boa-fé e da probidade (art. 422). Alguém está se afogando e no momento de desespero promete toda sua fortuna para alguém que pode salvá-lo. Ato de garantia (fiança, aval ou emissão de cheque) prestado por indivíduo que pretenda internar em estabelecimento hospitalar, em caráter de urgência, um parente ou pessoa querida. Comandante de embarcação que naufraga, propõe pagar qualquer preço a quem venha socorrê-lo. Venda de casa a preço fora do valor de mercado para pagar um débito assumido em razão de urgente intervenção cirúrgica, por encontrar-se em perigo de vida. 5.- Lesão – Art. 157, CC “Lesão é o prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre as prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de uma das partes”. Instituto da lesão protege aquele que se encontra em estado de inferioridade. Agente que perde a noção do justo e do real, tendo a vontade conduzida a praticar atos que são verdadeiros disparates do ponto de vista econômico. ...cont. lesão... Art. 157. “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”. …Lesão - Proteção legal Lei 1521/51 (define os crimes contra a economia popular), No Art. 4º, taxa como “usura pecuniária ou real” o fato de alguém “obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida”. Lei 8075/90 (Código de Defesa do Consumidor): Combate a lesão nas relações de consumo (art. 51, IV, e § 1º , III). Considera nulas de pleno direito, as cláusulas que “estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”. Presume como exagerada a vantagem que “se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso”. VÍCIOSSOCIAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO I - Fraude contra credores Art. 158, CC “Constitui na prática maliciosa, de atos do próprio devedor que desfalca seu patrimônio, com o fim de colocá-o a salvo de uma execução por dívidas, em detrimento dos direitos creditórios alheios”. (Ricardo Fiuza) Instituto que surge quando as dívidas do devedor superam seus créditos; enquanto que sua capacidade de produzir bens e aumentar seu patrimônio mostra-se insuficiente para garantir suas dívidas; tornando seus atos suspeitos e passíveis de anulação. Como vício social, a fraude contra credores relaciona-se com a ilicitude da vontade, gerando danos a terceiro. Entendido pela doutrina como o mais grave ato ilícito, destruidor das relações sociais, responsável por danos de vulto, de difícil reparação. …cont… O patrimônio do devedor constitui a garantia real dos seus credores. Se ele o desfalca, maliciosa e substancialmente, a ponto de não mais garantir o pagamento de todas as suas dívidas, torna-se insolvente (passivo supera o ativo – art. 748, CPC). Configura-se assim a fraude contra credores. O Código Civil permite que os credores possam desfazer os atos fraudulentos praticados pelo devedor, em detrimento de seus interesses. Art. 158. “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívidas, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles”. …cont… Art. 159. “Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante”. Vendeu seu imóvel em data próxima ao vencimento das obrigações, inexistindo outros bens para saldar a dívida (RT, 471:131; 466:144). Insolvência notória: de conhecimento geral. Se o devedor tiver seus títulos protestados ou ações judiciais que impliquem a vinculação de seus bens (RT, 613:170; 593:194). Insolvência presumida: as circunstâncias indicam tal fato. Vende seus bens a um preço ostensivamente inferior ao de mercado, a um parente próximo, indicando que o adquirente conhecia o estado de insolvência do alienante. Vende todos os seus bens. …cont. Fraude… Pagamento antecipado de dívida Art. 162. “O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu”. Credor quirografário é aquele que não possui direito real de garantia. Seus créditos estão representados apenas por títulos advindos das relações obrigacionais (cheques, duplicatas, promissórias...). Sua única garantia é o patrimônio geral do devedor, ao contrário do credor privilegiado, que possui garantia especial (hipoteca, penhor…). A lei coloca em situação de igualdade todos os credores quirografários, com as mesmas oportunidades de receber seus créditos proporcionalmente. Se o devedor salda débitos vincendos, presume-se o intuito fraudulento. Terá, o credor beneficiado, que repor o que recebeu, em proveito do acerto, observando-se o concurso de credores. Ação pauliana ou revocatória É ação pela qual os credores impugnam os atos fraudulentos de seu devedor. Tem natureza desconstitutiva do negócio jurídico. É ação pessoal que visa à revogação de ato fraudulento, com objetivo de restaurar o do estado jurídico anterior, isto é, recompor a o patrimônio do devedor. Julgada procedente, anula o negócio fraudulento lesivo aos credores, determinando-se o retorno do bem que foi maliciosamente alienado, ao patrimônio do devedor. Legitimidade ativa da ação pauliana: Credores quirografários (art. 158, caput); Apenas os credores que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta (art. 158, § 2º). Ou os credores cuja garantia se tornar insuficiente (art. 158, § 1º). Legitimidade passiva (art. 161): 1) O devedor insolvente 2) A pessoa que com ele celebrou o negócio fraudulento 3) Terceiros adquirentes de má-fé. II - Simulação – Art. 167, CC Simular é fingir, enganar, falserar, mascarar, camuflar, esconder a realidade = vício social. Juridicamente, é a prática de ato ou negócio que esconde a real intenção, que é encoberta mediante disfarce, em desacordo intencional entre a vontade interna e a declarada criando aparência de um ato negocial que inexiste, ou ocultando o negócio querido, enganando a terceiro. “Simulação é uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente declarado”. …cont. simulação Devido a infinidade de efeitos danosos que pode causar, a simulação foi deslocada de sua antiga posição no antigo Código Civil, onde compunha o capítulo dos defeitos do negócio jurídico, para o capítulo da invalidade, como causa de nulidade. Tropeçamos com a simulação a todo instante, com roupagens diferentes: na vida sodial, na judicial e extrajudicial. Muitas jurisprudências retratam a quantidade de dívidas forjadas e atos simulados praticados diariamente. Ocultação do verdadeiro preço da coisa no contrato de compra e venda Antedatar um documento Utilização do “laranja” (3ª pessoa que é colocada como proprietária) Sonegação ao Fisco… Características da simulação A) Em regra, é negócio jurídico bilateral, tendo por campo natural os contratos. De modo geral pode estar presente também nos negócios jurídicos unilaterais, em que exista declaração receptícia de vontade. B) É sempre acordada com a outra parte, ou com as pessoas a quem ela se destina. C) É uma declaração deliberadamente desconforme com a intenção. Maliciosamente, as partes disfarçam seu pensamento de forma irreal. D) Entendida como vício social pois é realizada com o intuito de enganar terceiros ou fraudar a lei. Espécies de Simulação 1) Absoluta = ato nulo Há simulação absoluta quando o negócio jurídico é inteiramente simulado, quando as partes, na verdade, não desejam praticar negócio algum; Em geral, essa modalidade destina-se a prejudicar terceiro, subtraindo os bens do devedor à execução ou partilha. Títulos de crédito simulados feitos pelo marido antes da separação judicial, para lesar a mulher na partilha de bens. 2) Relativa = ato anulável Na simulação relativa, as partes pretendem realizar um negócio jurídico prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Para escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa, realizam um outro negócio. Um deles é o simulado, aparente, destinado a enganar; o outro é dissimulado, oculto, mas verdadeiramente desejado. Homem casado simula a venda de um imóvel à um terceiro, que o transferirá à sua amante. Simulação e dissimulação Art. 167. “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem. II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós- datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. A segunda parte do caput refere-se à simulação relativa, também chamada de dissimulação; a primeira parte corresponde à simulação absoluta. Na escritura pública lavrada por valor inferior ao real, anulado o valor aparente, subsistiráo real, dissimulado, porém lícito. Capítulo V DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO NULIDADE e ANULABILIDADE A vontade é pressuposto de existência e a mola propulsora dos atos e dos negócios jurídicos. Quando o negócio jurídico se apresenta de forma irregular ou defeituosa, tal irregularidade ou defeito pode ser mais ou menos grave. Neste caso, o ordenamento jurídico lhe atribui uma reprimenda maior ou menor, de acordo com a amplitude do defeito negocial. 1) A lei simplesmente ignora o ato, pois não possui mínima consistência jurídica. Ato inexistente 2) A lei o admite, ainda que viciado ou defeituoso, desde que nenhum interessado se insurja contra ele, postulando sua anulação. Ato anulável = anulabilidade 3) A lei fulmina o ato com pena de nulidade, extirpando-o do mundo jurídico. Ato nulo = nulidade Estas são as autolimitações da vontade. Categorias de ineficácia dos negócios jurídicos: 1) Negócios inexistentes: A lei simplesmente ignora o ato, pois este não possui mínima consistência; não lhe atribui nenhuma eficácia. Por se constituir em nada jurídico não reclama ação própria para combatê-lo. Vontade emanada de um absolutamente incapaz = negócio nulo 2) Negócios nulos (arts. 166-169, CC): A lei fulmina o ato com pena de nulidade, extirpando-o do mundo jurídico, pois lhe falta requisitos essenciais a produzir os efeitos. Nulo é o negócio em que a vontade sequer foi manifestada ou quando a vontade é tolhida, falta-lhe requisito fundamental. Há ofensa a preceito de ordem pública, o que afeta a todos. Pode ser alegada por qualquer interessado, devendo ser pronunciado de ofício pelo juiz (art. 168 e parágrafo único). 3) Negócios anuláveis (arts. 170-177, CC): A lei admite o ato, ainda que viciado ou defeituoso, desde que nenhum interessado se insurja contra ele, postulando sua anulação. Anulável é o negócio quando a vontade é manifestada, mas com vício ou defeito que a torna mal dirigida, mal externada. O negócio terá vida jurídica somente até que, por iniciativa de qualquer prejudicado, seja pedida sua anulação. Nulidade “Nulidade vem a ser a sanção imposta pela norma jurídica, que determina a privação dos efeitos jurídicos do negócio praticado em desobediência ao que prescreve”. (Maria Helena Diniz) A função da nulidade é tornar sem efeito o ato ou negócio jurídico, fazendo-o desaparecer, como se nunca houvesse existido, já que ofende preceitos de ordem pública, que interessam à sociedade. O vício é grave, impedindo que o ato tenha existência legal e produza efeitos: foi desobedecido qualquer requisito essencial. O artigo 166, CC estabelece o rol das nulidades. Art. 166, CC. É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV – não revestir a forma prescrita em lei; V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Nulidade absoluta Com a declaração da nulidade, o negócio não produz qualquer efeito por ofender gravemente princípios de ordem pública, operando efeitos ex tunc (desde o momento de sua formação). Arts. 1428, 1548, 1549, 1900, 489, 548, 549 e 167, CC. Negócios simulados também são nulos. Art. 167, CC. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Nulidade relativa (anulabilidade) Refere-se a negócios inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado, restabelecendo-se a sua normalidade. As causas de anulabilidade residem no interesse privado. Art. 171, CC. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. A anulação é concedida a pedido do interessado. O negócio jurídico se realiza com todos os elementos necessários à sua validade, mas as condições em que foi realizado justificam a nulidade, quer por incapacidade relativa do agente, quer pela presença de vícios de consentimento ou sociais. Distinção entre nulidade absoluta e relativa ABSOLUTA (nulidade) RELATIVA (anulabilidade) Decretada no interesse público, da própria coletividade, com eficácia erga omnes. Alegada por qq interessado, em nome próprio, ou pelo MP, em nome da sociedade que representa (art. 168, caput). Decretada no interesse privado do prejudicado, abrangendo apenas as pessoas que alegaram (interessados). A nulidade deve ser pronunciada de ofício pelo juiz (art. 168, par. Único, CC) e seu efeito é ex tunc (retroage à data do negócio para lhe negar efeitos). Anulabilidade só poderá ser alegada pelos prejudicados e representantes legítimos, em ação judicial, não podendo ser decretada ex officio pelo juiz (art. 177, CC), com efeito ex nunc. A nulidade não pode ser suprida pelo juiz, nem confirmada (art. 168, CC) (Confirmação é o ato jurídico pelo qual uma pessoa faz desaparecer os vícios dos quais se encontra inquinada uma obrigação). A relativa pode ser suprida (completada, provida, remediada) pelo magistrado ou sanada pela confirmação (arts. 172, CC). A nulidade é imprescritível (art. 169, CC). A anulabilidade é suscetível de ser arguida em prazos prescricionais e decadenciais (art. 178 e 179 CC).
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