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HOBBES (Fichamento)

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Fichamento de Ciência Política
HOBBES - vida e doutrina
Nome: Flávio da Rocha Pires da Silva
Curso: Ciências Sociais
2º Período
Disciplina: Ciência Política II
Data: 22/12/2014
Ferdinand Tönnies [1855-1936]: Hobbes. Vida y Doctrina
Alianza Editorial, Madrid, 1988
Capítulo 8: A Política
[Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho]
	“Pois se chega a criar esse grande Leviathan  comunidade ou Estado, Civitas em latim  artificialmente e ele não é outra coisa senão um homem artificial, dotado de força e tamanho maiores do que o homem natural, cuja proteção e defesa lhe incumbe. Nele, a soberania constitui sua alma artificial, que, enquanto tal alma, comunica a todo corpo movimento e vida; os magistrados e os outros funcionários da Justiça e da Administração são seus membros artificiais; as recompensas e as penas que arrancam da própria soberania e movem cada membro e articulação para fazer a sua parte vêm a ser como os nervos no organismo humano; a força é produzida pelo bem-estar e pela abundância de cada membro; salus populi, o bem público, significa seu próprio destino; os conselheiros que lhe comunicam todos os conhecimentos que lhe são necessários representam a memória; a eqüidade e as leis, uma inteligência e uma vontade artificiais; a concórdia, a saúde; discussão, enfermidade; guerra civil, morte. Finalmente, os acordos e contratos que, em todas as partes desse corpo venham a ser criadas, justadas, harmonizadas, se parecem com o Fiat, ou “façamos o homem”, da criação”.  Assim se expressa Hobbes no início do seu Leviathan. (p.1)
Na sua primeira forma [Elements of Law], lhe serve como base o conceito de direito; na seguinte [De Cive], o de cidadão. No Leviathan, é o Estado que aparece em primeiro lugar e com isso a teria ganha extraordinariamente em amplitude. Já na primeira redação se faz constar que a essência do Estado está constituída pela unidade; por isso o Estado se constitui unindo; e também se indica que desse modo várias pessoas vêm a constituir-se numa pessoa; no De Cive, aparece então sublinhado: “como todas têm uma mesma vontade, a união pode ser equiparada a uma pessoa e diferenciada rigorosamente, por meio de um nome, das pessoas individuais, como pessoa que possui seus direitos e propriedades próprias”. Expressamente, pois, se define o Estado como “pessoa cuja vontade, nascida do contrato de muitos homens, deve ser considerada como a vontade de todos eles”. A teoria do poder de Estado sobre os cidadãos pende quase por completo do conhecimento da diferença existente entre uma multidão que rege e uma multidão que é regida”. Porque esta é a essência do Estado: que a massa ou agregado de cidadãos não somente mande, mas que esteja submetida aos mandatos; só no primeiro caso, quando manda, chega a ser a massa um ser volitivo e atuante, uma pessoa. Mas se notam vacilações: se equipara, sem mais delongas, à unificação de uma vontade e a fundação de um Estado; essa unificação se consegue ao declarar cada indivíduo sua vontade de que seja tomada como vontade de todos [que valha como tal]: ou a vontade da maioria, ou da maioria de certo número [uma Comissão], ou a vontade de apenas um. (p.1)
E também esta construção do Estado racional começa com uma declaração dos direitos inalienáveis do homem, que para Hobbes estão compreendidos dentro do direito de segurança pessoal, que é o fim pelo qual alguns homens se “submetem aos outros”; se acaba tal segurança, todos retomam o direito primitivo de defender-se como possam; com tal escusa, a assembléia primitiva delibera sobre o que é necessário para a paz e a defesa comuns [De Cive, VI, 3]. (p.2)
 Os novos preceitos contidos nesse capítulo se apresentam em toda teoria do Estado [do Leviathan] e o fazem adquirir um caráter completamente novo, através do conceito de representação. A vontade de cada cidadão está representada pela vontade do soberano, seja ele uma pessoa natural [individual], seja uma pessoa artificial [coletiva]. Para dar a coerência necessária a este pensamento, dever-se-ia depurar energicamente a idéia de representação no seu sentido geral da mesma, no seu sentido jurídico-natural. Esta seria a missão do novo capítulo. (p.2)
	Desta ideia se derivam conseqüências importantes no que se refere a uma multidão. Apenas uma pessoa  seja ela natural ou artificial  pode representá-la. Cada membro da multidão tem de emprestar seu consentimento, concorrer para a posse ou mandato. “Pois a unidade do representante e não a unidade dos representados é o que constitui a pessoa na sua unidade”. Da mesma maneira que qualquer outro mandato, este, pelo qual uma pessoa se erige em representante de muitas outras, pode ser limitado [imperativo] ou ilimitado; nesse último caso, todas as ações do representante são como se as tivessem feito os representados; estes o autorizaram ilimitadamente, lhe concederam uma autoridade sem limites. (p.2)
	De tudo isso se segue: uma proto-assembléia constitucional  eis aqui a origem “natural”, ou seja, racional e normal [típica], do Estado. Esta assembléia possui um mandato determinado, limitado: o de criar o Estado; assim, completamos seu pensamento, atendo-nos estritamente a seu sentido. Não é contudo o Estado. Não possui qualquer poder soberano. Mas, dentro dos limites do mandato, suas decisões obriga a multidão mandante. (p.3)
O mandato se torna efetivo com a instituição de uma pessoa soberana, cuja existência e direitos procedem da vontade de todos e que vem a ser um mandatário com mandato ilimitado, porque seu direito é essencialmente um direito de representação, direito que foi a finalidade que se perseguiu ao criar artificialmente o “Estado”, ao tratar de proporcionar ao contrato racional  por assim dizer  da vontade geral um sujeito racional, capaz de querer e de agir; em outras palavras, o domínio. Na primeira concepção [Elements of Law], isso não apresentava maiores dificuldades: a harmonia entre os homens é algo fortuito e que não oferece nenhuma garantia de segurança; a união é pois necessária. Ela significa que as vontades de muitos vão incluídas na vontade de apenas um ou na vontade majoritária de um Conselho; chega a produzir-se quando cada uma se obriga com relação a esse homem único ou a essa assembléia [nomeada e delimitada por todos] para fazer o que mandem  esse homem ou assembléia  e a não fazer o que proíbam. (p.3)
No De Cive, esse contrato de cada um com cada um se acha num lugar anterior; onde no Elements of Law cada um se obriga com o soberano; o conteúdo da promessa feita por cada um a todos os demais toma um aspecto negativo: não oferecer nenhuma resistência à vontade do soberano que se quer nomear, não negar a ele portanto o uso da força e meios próprios de cada um; cada qual lhe transmite o “direito” sobre tais forças e meios. E, como dissemos mais atrás, se assinala especialmente que antes de tudo deve haver unanimidade acerca de que a vontade da maioria valha como vontade de todos [“do contrário, seria impossível que uma multidão, cujos sentimentos e desejos são tão divergentes possa chegar a produzir uma vontade”]; mediante a aceitação deste princípio, a multidão  como já se indica nos adendos de 1646  fica convertida numa pessoa que pode levar a cabo manifestações de vontade, “como mandar, ditar leis, adquirir direitos, aliená-los” etc.; e então “leva melhor o nome de povo do que o de multidão”. (p.3)
Mas, numa constituição democrática, é essencial que a assembléia primitiva se declare permanente; quer dizer, que não se dissolva sem antes fixar de maneira obrigatória o tempo e o lugar da próxima reunião. Sem isto, a fundação do Estado  e da democracia portanto  não será efetuada, mas, no mesmo momento em que a assembléia se dissolve, retorna ao estado de natureza, à anarquia, à guerra de todos contra todos. Apenas mediante uma assembléia regular, estabelecida constitucionalmente, o Demos chega a ter existência; não basta pois o princípio majoritárioe a pessoa jurídica resultante de sua aceitação. Isto é o que quer dizer esse “quase” sublinhado acima. No Leviathan, falta por completo esta referência à democracia como forma primitiva do Estado. A assembléia constituinte fica separada mais nitidamente das três formas de Estado e da fundação do mesmo do que de suas tarefas. Para aquela, continua sendo o princípio majoritário essencial. A maioria decide através de um acordo válido sobre a forma futura do Estado [c. XVIII, 1a seção: “o ato de organizar uma comunidade”]. Este acordo majoritário quer dizer que todos os indivíduos que fazem parte na votação, inclusive os votantes contrários”, concedem à pessoa [natural ou artificial] designada como soberana um poder sem limites [“autorizam todos os julgamentos e ações como se fossem próprios”]. (P.4)
	Se, inicialmente, pude pensar na natureza do Estado empírico, a forma definitiva da teoria se baseia na visão clara de que se trata de encontrar a idéia de um Estado racional e justo, por mais afastados que dessa idéia se encontrem os Estados  os assim chamados reais. De acordo com as passagens já aludidas, diz, ao terminar esse capítulo fundamental, [Leviathan, P. II, c. XX, final]: “A maior objeção [contra o conceito de soberania] procede da experiência: quando se pergunta: onde e quando foi reconhecido semelhante poder pelos súditos?� Mas se pode devolver a pergunta: quando e onde houve um Estado livre durante longo tempo no levante e na guerra civil? De todas as maneiras, uma objeção que procede da prática dos homens que não estudaram profundamente as causas e a essência dos Estados, nem os consideraram com exata razão, sofrendo diariamente de todos os males que de semelhante ignorância se originam, não tem valor. Podem já todos os homens do mundo edificar sobre a terra; não se deduzirá daí que deve ser assim. A arte de criar e conservar os Estados possui suas regras, como a Aritmética e a Geometria; não é, como o jogo de bola, pura rotina”. A comparação com um edifício se cruza com a imagem do homem artificial, que não tem pretensões de realidade, mas que quer ser a expressão adequada do conceito racional do Estado, tal como deve ser, do Estado nada mais senão soberano, assim como a representação da coletividade por uma pessoa [natural ou artificial] que se arroga a soberania, vem a ser sua expressão jurídica [jurídico-natural]. Também esse homem artificial, cuja alma é a soberania, simboliza a personalidade do Estado e, desse modo, vem a dar corpo a uma idéia que chegou a triunfar ao longo do seu pensamento político. (p.5)
 “Os que comparam o Estado e os cidadãos com um corpo e seus membros dizem quase todos que o possuidor do poder supremo no Estado se comporta com relação a todo o Estado como a cabeça com o homem total”. E pretende que, no lugar da cabeça, se deve falar de alma. Não abandona essa idéia que lhe parece aproveitável; mas, ao mesmo tempo, sofre uma transformação no seu cérebro. A idéia de um homem coletivo monstruoso, que encarna a personalidade ideal do Estado, é algo completamente diferente da comparação dos Estados reais com os homens reais. (p.5)
 No momento [no Elements of Law e no De Cive] em que o caráter ideal da teoria não chegou a sua plena consciência, se trata num capítulo sobre as causas de perturbação e desaparecimento dos Estados e se distingue [nos Elements of Law] a morte violenta pela conquista e a morte natural mediante rebelião [“revolução”, dizemos hoje, servindo-nos de um conceito um pouco confuso]. No De Cive, desaparece a alusão biológica. Reaparece no Leviathan, em relação a este símil do superhomem, mas o antecede a seguinte característica passagem [c. XXV] (p.5)
	“Embora não seja possível que aquilo que os mortais façam seja imoral, não obstante, se os homens fizessem um uso efetivo da razão que presumem, seus Estados estariam preservados, pelo menos, de morrer de doenças internas. Pois, por sua natureza, estão destinados a durar tanto quanto a humanidade, as leis da natureza ou a própria justiça que lhe traz a vida. Por isso, ao desaparecer por desordens internas e não por uma violência exterior, a culpa não está nos homens considerados como matéria do Estado, mas neles mesmos enquanto fazedores e ordenadores do Estado. (p.5)
	Certamente, nem em Hobbes nem em qualquer contemporâneo seu, encontraremos uma separação clara entre a teoria e construção jurídicas e a visão dos fatos reais [questões de direito e questões de fato], apesar de que a teoria jurídica de Hobbes, pelo rigoroso caráter conceitual que a distingue, não está muito afastada disso. Muito menos encontraremos uma separação de direito político em geral e a política. A filosofia política  philosophia civilis, assim a chama Hobbes  abarca tudo isso, mas no complexo acaba prevalecendo o político. O Leviathan não é, nem mais nem menos, do que um tratado político. (p.6)
 Este valor o possui o capítulo sobre as formas de Estado. Hobbes prefere a monarquia. Naturalmente, ela pode adoecer dos mesmos defeitos que são próprios do Estado em geral, em todos os Governos. Se os homens fossem realmente racionais e soubessem dominar-se a si próprios, nenhum Governo faria falta. Os governantes não representam somente o povo ou o Estado, mas também a si mesmos (p. 6 e 7)
 Outro defeito da monarquia é que a coroa pode cair na cabeça de uma criança; mas as grandes assembléias são, em muitos aspectos, como crianças, carentes de um representante ou tutor para pode agir. O interesse privado do monarca coincide com o interesse público. O monarca pode escolher seus conselheiros, determinar o dia e o lugar do Conselho, conduzi-lo secretamente. A assembléia não pode receber conselhos senão de seus membros, “que, em geral, têm mais experiência na aquisição de riquezas do que na aquisição de conhecimentos”; nem pode ser secreta, pois é demasiado numerosa. Um monarca está submetido, naturalmente, à inconstância da natureza humana; uma assembléia, além disso, a de seu número. (p.7)
 Nos Elements of Law e no De Cive, se recorda, de passagem, a favor da monarquia [na qualidade de “exemplos e testemunhos, não como motivos racionais”]: 1o que o Universo é regido monarquicamente; 2o que os antigos, na sua mitologia, pensavam monarquicamente; 3o que Deus instituiu, quando da criação, um regime monárquico-patriarcal; 4o que as demais formas de Governo foram formadas pela arte humana, aproveitando os escombros das monarquias derrubadas por uma revolução. (p.7)
 No Leviathan, todo o peso do pensamento se concentra na afirmação de que a representação do povo, que agora se identifica com o conceito de Estado, também pode ocorrer através de um rei; que, por conseguinte, ali onde haja uma monarquia, este é o seu único título legítimo. (p.7)
	Hobbes foi e continuou sendo partidário da monarquia absoluta. Considerou também a sucessão hereditária da soberania como a melhor sucessão. No entanto, a partir de um princípio se interessa pela monarquia eletiva, como uma das possíveis formas do Estado, que, por outro lado, representa a única origem possível de uma monarquia, dentro da fundação ideal por uma assembléia constituinte. No Leviathan, se apresenta a democracia, sem que se faça qualquer ressalva, como a forma de Estado necessariamente primeira. A assembléia popular soberana transmite seu poder  também é possível transmiti-lo a um rei  em vida; se imediatamente depois a assembléia se dissolve, quando da morte desse monarca eletivo, não existe nenhum Estado; se não se dissolve, mas fixa tempo e lugar para a próxima reunião, então, é porque se preservou a soberania e, no caso da morte do eleito, se deve proceder a uma nova eleição; o rei, nesse caso, não é senão um ministro, como o ditador em Roma. (p.8)
 No Leviathan, acrescenta-se à monarquia eletiva a monarquia limitada, como outra forma possível  no Leviathan já se havia feito timidamente essa ressalva, que no De Cive desaparece; aqui, “a soberania permanece com aquela assembléiaque tinha o direito de limitá-la”; a forma real do Estado, nesse caso, vem a ser uma aristocracia ou uma democracia, embora a soberania seja exercida por um rei. (P.8)
 Para Rousseau, está subentendido que o povo pode se reunir quando e onde queira e que se reserva sempre a soberania; Hobbes pensa com maior rigor jurídico-político ao condicionar essa reserva da soberania no fato de que a assembléia conscientemente, isto é, que torne a reunir-se com regularidade por direito próprio e na forma legal ou constitucionalmente prefixada, com o objetivo de reavivar aquela soberania adormecida. (p.8)
	Hobbes sustenta com muitas razões as vantagens práticas do regime monárquico  teoricamente, todas as formas possuem, para ele, o mesmo nível  mas a monarquia hereditária não tem nenhuma. Nem lhe parece sagrada, nem a única legítima, nem a mais útil. (p.8)
“Se numa democracia o povo se decidisse a ceder a apenas um, ou poucos, o direito de deliberar sobre a guerra e a paz e sobre as leis, contentando-se com a nomeação dos ministros e dos funcionários, isto é, com possuir a autoridade, mas não seu exercício, então, devemos reconhecer que, neste aspecto, monarquia e democracia viriam a ser a mesma coisa” [ibid., X, 15]. A tendência mais íntima do pensamento de Hobbes, no que trata do seu núcleo político, não favorece tanto a monarquia tradicional, que então se ia estabelecendo em todo lugar, com êxito real ou aparente, na forma de absolutismo teológico-legitimista, como o cesarismo e o despotismo ilustrado, que, em razão de sua própria idéia, e a forma mais racional; da sua idéia, tal como sua “cabeça de Jano”, a encarna “numa face extremamente monárquica e outra extremamente democrática” (p.8)
O programa de um Governo servidor do povo  a quem representa  por meio de sábias leis e boa administração, esboçado já nas duas obras anteriores, se encontra aqui, a julgar pelo seu conteúdo, elaborado de novo. Não deve nem pode observar senão as exigências da Salus publica; ela manda que ninguém se descuide dos atributos da soberania. Daí resultam as boas leis, quer dizer, necessárias para o bem público, claras e transparentes; por isso se devem dar a conhecer as causas e os motivos que as originam. (p.9)
 “A maior liberdade dos súditos provém do silêncio das leis”, e “uma lei que não foi dada a conhecer devidamente ou cujo legislador não se conhece não tem validade”. Ninguém que não seja o soberano ou os juízes a quem cabe a interpretação do direito pode condenar uma pessoa; diante de qualquer outra autoridade, qualquer que seja o título que reclame, o direito divino, a revelação ou a filosofia moral, o homem permanece livre. (p.9)
O clero introduziu uma filosofia e a estendeu às Universidades, uma filosofia fundada, em parte, nos erros de Aristóteles e, em parte, nas superstições populares; e, buscando sempre aumentar seu poder, trabalha em aplicar o poder da lei, que não é outra coisa senão a regra das ações, ao pensamento e à consciência dos homens, examinando e inquirindo suas opiniões [Leviathan, IV, 46, The Elements of Law Natural and Politic, III, p. 684]; além disso, transformou a pregação do Evangelho em privilégio de uma classe, a sua, apesar de que a lei o declare livre.(p.9)
 Este marcado anticlericalismo, que naturalmente logo deu ao filósofo a fama de ateu, corresponde na realidade a uma teologia cristã livre no mais alto grau. Suas teses fundamentais são [no De Cive]: Deus exerce no seu reino um senhorio autêntico unicamente sobre os que crêem nele; suas leis ele nos dá a conhecer pela razão, pela revelação e pelas profecias, que são três espécies da palavra divina. Há um reino natural de Deus e um reino profético de Deus; no primeiro regem os preceitos da reta razão; o direito de Deus procede do seu poder irresistível; a obrigação dos homens, que reconhecem esse poder, da sua debilidade. Da crença num pode estranho, a quem se atribui a bondade, nasce o desejo de honrá-lo, cujo signo exterior é a adoração [o culto] de fato e através das palavras. Há uma adoração natural, que é tomada por todos os homens como honradíssima, e uma adoração convencional; receitada e voluntária; pública e secreta. (p.9)
 Esta teologia natural vem seguida [no De Cive] de alguns capítulos especiais acerca do Reino de Deus na antiga aliança e do Reno de Deus na nova aliança e, finalmente, sobre o que é necessário para entrar no reino dos céus. O primeiro desses três capítulos finais trata da teocracia, que se faz derivar da revelação divina. Seu culto correspondente é claramente diferente do culto natural. Neste reino, se deve também obediência absoluta aos representantes sacerdotais ou laicos de Deus, sempre que seus mandamentos não sejam uma ofensa à majestade divina, como o foram a negação da providência divina e a idolatria. O reino de Deus na nova aliança é um reino celestial e começa no dia do juízo; o governo de Cristo na terra é um governo por meio da doutrina e do convencimento, não um governo imperante. Não ditou leis novas, fora da instituição dos sacramentos. Seus preceitos são exortações e conselhos exigidos pela fé. (p.9)
 Dentre os direitos religiosos, estão apenas os mistérios da fé, porque dependem unicamente da palavra e da autoridade de Cristo. O que decide quanto à doutrina cristã não é a letra mas o espírito das Sagradas Escrituras; por isso, requer um intérprete, e a voz desse intérprete vem a ser a voz de Deus. Mas uma interpretação válida somente pode proceder do lugar onde reside o juízo e a decisão sobre as questões doutrinais. Neste momento, aparece a Igreja. O que é a Igreja? Uma assembléia convocada segundo o direito; uma pessoa capaz de querer e agir, uma pessoa que representa a todos. A mesma instituição se chama de Estado, quando se compõe de homens, de Igreja quando se compõe de cristãos: Igreja = Estado cristão. Eis a razão por que vários Estados não podem formar uma Igreja. (p.10)
 A fé unicamente não justifica , mas a fé e as obras, isto é, a boa disposição. Num Estado cristão não cabe contradição entre os preceitos divinos e as leis humanas. Se um cristão vive num Estado não-cristão, chegará a ser um mártir e, se sua fé é verdadeira, lhe será bem-vindo o martírio. Mas, em quase todas as supostas questões de fé, é do poder que se trata; assim é naquelas referentes à natureza da Igreja, à infalibilidade, ao poder de atar e desatar, à jurisdição em matéria de casamento etc.. Não é de estranhar que quase todos os dogmas sejam declarados por estes ou aqueles como necessários para a salvação. O caráter paradoxal destas doutrinas não prejudicou muito o êxito do livro [De Cive]. Elas foram aceitas diferentemente como expressão do “erastianismo”, que tinha feito já sua entrada na Inglaterra, na geração anterior, com o escrito póstumo do professor alemão Thomas Erasto [1524-1583]. Mas, no Leviathan, esta doutrina se transforma de tal maneira, que chega mesmo a comover os círculos eclesiásticos ou de amigos da Igreja. Os princípios são os mesmos, mas aparecem sistematicamente ampliados e reforçados. São apresentados como princípios da política cristã. São aplicados mais consciente e energicamente a título de “ilustração” contra o obscurantismo espiritualista, em nome da razão. Inicia-se aqui um combate alegre contra todo tipo de superstição. Assim, aparecem capítulos novos sobre o número, a época, a autoridade e a explicação dos livros da Bíblia; acerca do significado das palavras espírito, anjo, inspiração, santo, sacramento, vida eterna, inferno, redenção etc., sobre os milagres e sua utilidade. “Se nos fixamos nos enganos que se podem alcançar tramando-os, nada há, por mais impossível que pareça, que não se possa fazer passar como verdadeiro. Porque, se duas pessoas se põem de acordo para que uma delas simule uma paralisia, que a outra curará magicamente, poderão enganar a muitos; mas, se muitos se põem de acordo para que um simule a paralisia, outro lhe cure e os demais testemunhem, poderão enganar a muitos mais. “Um particulartem sempre a liberdade, já que os pensamentos são livres para acreditar ou não acreditar, no secreto do seu coração, naqueles fatos que se lhe apresentam como milagres, segundo o qual, julgando pelo proveito que concedam às pessoas que afirmam e sustentam os milagres, veja se se trata de milagres ou de mentiras” [The Elements of Law Natural and Politic, III, 435; Leviathan, P. III, c. 37]. Não é muito difícil ler entre as linhas. A impressão que semelhantes críticas produzem nos bons crentes a vemos refletida claramente na réplica de Lord Clarendon� e em outros muitos panfletos menos importantes. “Com maior segurança do que qualquer pai da Igreja, se decide interpretar diversos textos das Escrituras num sentido que se separa daquele que lhe deram todos os pais e todos os homens, fosse de Thomas Hobbes”. Expressões que foram ditadas pelo Espírito Santo, as entrega, em virtude de suas ligeiras e cômicas interpretações, ao riso das pessoas, que estiveram sempre muito dispostas a burlar as Escrituras [p. 199]. (p.10)
Hyde confessa que a mais benévola explicação que se pode dar de semelhantes afirmações é pensar que Hobbes não crê, a respeito da imortalidade da alma, da vida eterna, do inferno, da bem-aventurança, e da redenção, a mesma coisa em que crêem os outros cristãos, nem que tudo tenha sido revelado pelas Escrituras [p. 200]. De uma ponta à outra do livro, corre um receio amargo e desperto contra o clero em geral, tanto o protestante quanto o papista, e esta repleto especialmente de malignidade e violência contra a Igreja da Inglaterra, que nessa época [data da publicação do Leviathan], “estava lutando por sua existência sobre seus próprios escombros” [p. 305]. Na realidade, Hobbes não ataca diretamente a Igreja da Inglaterra, como ele mesmo recorda numa defesa do Leviathan; mas o julgamento do inimigo foi certeiro ao considerar o livro cheio de intenções demolidoras contra as instituições eclesiásticas em geral. Na obra, se deduzem as conseqüências do “estabelecimento mediante a lei”. A Igreja nem tem um direito próprio nem uma existência separada do Estado. Não é senão uma instituição que o legislador, atrelando-se à razão de estado, pode e deve conformar e modificar. Hobbes pensa e deseja, para o lugar da Igreja, uma organização do ensino inspirada estritamente em fins metafísicos e morais. (p.10)
		Pelo seu conteúdo positivo, a teoria corresponde igualmente às tendências dominantes na vida e no pensamento de seu século. Sua força reside em que vem a ser um expoente desse direito geral, independente de todos os direitos individuais e destinado expressamente a dominá-los, quer dizer, da separação do jus publicum e do jus privatum. No Direito Romano, cientificamente avançado, se levou a cabo com todo rigor a separação das distintas esferas do direito privado entre si e a validade diante delas de uma única esfera de direito público; mas não foi sentida jamais de um modo forte a necessidade de uma construção jurídico-privada do Estado. A explicação deste fato se encontra no desenvolvimento do cesarismo: pelo nome, o Estado romano continuou sendo essa antiga comunidade de cidadãos, mas na realidade se identificou com o príncipe, que buscava cada vez mais decididamente uma proteção nos restos das velhas superstições e na introdução de novas, que impediam a extensão da jurisprudência racional ao direito público. Mas, como nos confirma o próprio século 19, a falta de uma construção teórica não foi obstáculo definitivo para a coisa mesma: a eliminação de todas as contradições, o que não fosse admitido, além do indivíduo e do Estado, nenhum outro sujeito de direito autônomo. (p.11)
	 Hobbes tampouco descuidou do estudo dos fenômenos econômicos; os começos da Economia política na Inglaterra saem dele�. “A terra e o mar” são os seios da mãe Terra; além do favor da Natureza, a riqueza depende do trabalho e da aplicação; o trabalho é uma mercadoria comercializável; a repartição da terra, quem a determina é a vontade soberana e, segundo a eqüidade e o direito natural, corresponde a cada cidadão uma participação. O Estado deverá dirigir o comércio exterior, para defender-se de seus perigos. No que se relaciona à Fazenda, se aconselha os impostos indiretos como os mais eficazes e justos. (p.12)
 “Mas, interrompe o interlocutor, se diz que seu ofício é o mais proveitoso para a comunidade, já que oferecem trabalho aos mais pobres”. “De fato, replica o primeiro, porque tornam possível que os pobres lhes vendam seu trabalho, mas ao preço deles, dos comerciantes; de forma que estes pobres poderiam viver melhor se trabalhassem em Bridewell�, fiando e tecendo ou fazendo outros trabalhos parecidos; a não ser que se ajudem não pouco com o descuido do trabalho, para a vergonha da nossa manufatura”. Também fala ocasionalmente de pauperismo, de greve, das cidades demasiado populosas, em cujos hábitos se torna sensível uma deslealdade, uma inconstância e um descontentamento parecidos com a mobilidade, o peso e impureza do agravo retido em que vivem [The Elements of Law Natural and Politic, IV, 444]. Ele se dá conta dos perigos trazidos pelo aumento da população. (p.13)
 Todas as tendências da sua filosofia política são contrárias ao movimento que então se inicia na Inglaterra, que se adianta com relação aos demais países. Por isso, não devemos estranhar muito que a opinião pública inglesa haja mantido à distância este inimigo da teologia e da plutocracia. É preciso esperar pelo tempo do bill da reforma e do pequeno grupo de personalidades destacadas que se reúnem em torno de Bentham e de James Mill, para que seja reavivado sua lembrança e reconhecida a lógica das suas teorias políticas. A esse círculo de filósofos radicais pertenceu Sir William Molesworth, que editou o conjunto das obras de Hobbes com seu próprio dinheiro. (p.14)
Não é possível desconhecer que, na atualidade, tanto na Inglaterra quanto na França, a democracia avança para a concretização de sua própria soberania unitária, apartando os direitos históricos, destruindo as ficções constitucionais  seguindo as linhas traçadas de antemão pelo gênio de Hobbes, se bem que seja verdade que ele confiou no despotismo ilustrado para essa transformação radical do Estado�. Também na Alemanha e na Áustria, foram destruídos os restos do Estado dual e por estamentos, e foi reconhecida a soberania popular, absoluta, embora na verdade as novas Constituições estivessem mais inspiradas no esquema de Rousseau do que no de seu antecessor [Hobbes] mais conseqüente. (p.17)
� Brockdorff acredita que a transição da Política para a Sociologia é um ponto álgido do pensamento de Hobbes, e meus conceitos de comunidade e sociedade estariam em germe em Hobbes.
� Bishop Warburton Works, vol. II, p. 294.
� Cap. I, 13, de minha edição de Elements of Law.

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