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Introdução É muito comum ouvirmos e falarmos sobre a globalização. E, talvez nos cheguem informações muitos variadas. Então, perguntamos: afinal de contas, o que é a globalização? E pode ser que alguns façam afirmações que não sejam do agrado de todos. Parece que estamos diante de algo que muda o seu sentido conforme a posição de quem o vê. Daí algumas tendências, ou pontos de vista, verem a globalização de modos diferentes. Ela é um fato, e sem dúvida existe, e consegue influenciar diversos modos de vida. Porém, não é de uma única maneira que ela é observada. Leia os textos a seguir, e vejam a complexidade deste acontecimento econômico, político e cultural denominado globalização. Introdução Ao assistir o documentário de Sílvio Tendler, “Encontros com Milton Santos: a globalização vista do lado de cá”, atente, nos quatro primeiros minutos, para os seguintes temas: as fases da globalização e as três maneiras de percebê-la: como fábula; como perversão e como outra globalização. http://www.youtube.com/watch?v=RKMfLI74FI8&feature=youtu.be Objetivos Ao estudar esta unidade de aprendizagem, você poderá: • Apreender o conceito ou conceitos de globalização. • Analisar as dimensões econômica, política e cultural da globalização. Tópicos Ao estudar esta unidade de aprendizagem, você poderá: • Caracterizar o capitalismo globalizado. • Analisar as tendências da globalização. • Perceber as influências da globalização nas culturas locais. O que é Globalização? A palavra globalização é um neologismo: só aparece na literatura na década de 1980. Mas, como demonstra François Chesnais, a globalização é uma etapa específica, muito avançada, do velho processo de internacionalização do capital. E o processo de internacionalização é um dos movimentos estruturais e estruturantes do capitalismo. Na intensidade e na extensão com as quais tal processo se manifesta hoje, ele é novo – e a palavra globalização pretende expressar tal novidade. Mas o movimento começa no século XVI, quando o capitalismo se firma, e vem acompanhando esse modo de produção ao longo de suas várias fases. O que é Globalização? Para o Brasil, isso é muito importante, porque o país engatou no movimento de internacionalização em seu próprio nascedouro. O “descobrimento” do território americano pelos europeus decorreu do processo de internacionalização comercial. E o Brasil engatou nesse processo como colônia de exploração. Do meu ponto de vista, tal contingência produziu uma herança tão pesada que a carregamos até hoje. Quando o pacto colonial se tornou um obstáculo ao processo de internacionalização, ele foi derrubado, e no Brasil isso se expressa na chamada abertura dos portos, em 1808. No século XX, o Brasil reafirmou sua inserção, subordinando-se à internacionalização do capital produtivo industrial. E, na década de 1990, mergulhamos fundo na internacionalização financeira. O que é Globalização? Quando a economia entra em crise, a centralização entra em cena. E algumas massas de capital continuam crescendo porque determinadas empresas compram outras. Vivemos hoje este segundo momento: como o capitalismo está em crise, não há um dia em que a gente abra o jornal e não encontre algum exemplo de centralização, o fato de que alguém comprou alguém. Na expansão ou na crise, a tendência estruturante se mantém. Por isso o capitalismo chegou ao estágio a que chegou e gerou, ao longo desse caminho secular, os comandantes do processo de globalização, que são os conglomerados transnacionais, grandes massas de capital, que se acumularam tanto pela concentração quanto pela centralização. Esse movimento é estruturante porque resiste aos ciclos do capitalismo: progride na alta e se mantém ativo na baixa. E vai alcançando os diversos processos da vida econômica. O que é Globalização? Nesta fase mais recente, dois avanços técnicos aceleraram, e muito, o processo de globalização. O avanço nas comunicações, que permite que hoje uma empresa com estabelecimentos em cem países do mundo feche seu caixa em tempo real – o que era impensável há apenas 30 anos. E o avanço nos transportes, que tanto reduz custos quanto aumenta a fluidez e, portanto, a capacidade operacional de quem tem cacife para atuar em escala global. O que é Globalização? Tânia Bacelar é economista e socióloga, doutora em Economia, professora da Universidade Federal de Pernambuco e sócia da Ceplan - Consultoria Econômica e Planejamento. Trecho do artigo “Globalização e território”, de Tânia Bacelar. Disponível em: http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=202 . Acesso em 31 jan 2013. O que é essa Globalização e como ela se manifesta? Não há uma definição que seja aceita por todos. Ela está definitivamente na moda e designa muitas coisas ao mesmo tempo. Há a interligação acelerada dos mercados nacionais, há a possibilidade de movimentar bilhões de dólares por computador em alguns segundos, como ocorreu esta semana nas Bolsas de todo o mundo, há a chamada "terceira revolução tecnológica" (processamento, difusão e transmissão de informações). Os mais entusiastas acham que a globalização define uma nova era da história humana. Qual a diferença entre a Globalização, Mundialização e Internacionalização? Globalização e mundialização são praticamente sinônimos. Os americanos falam em globalização. Os franceses preferem a palavra mundialização. Quanto à internacionalização, a palavra pode designar qualquer coisa que escape ao âmbito do Estado nacional. Quando o mundo começou a ficar Globalizado? Novamente, não há uma única resposta. Fala-se em início dos anos 80, quando a tecnologia de informática se associou à de telecomunicações. Outros acreditam que a globalização começou mais tarde, com uma queda das barreiras comerciais. FOLHA DE SÃO PAULO. Globalização. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/3.html Acesso em 31 de janeiro de 2013 Saiba como os teóricos interpretam o processo O que é, afinal das contas, globalização? Como em qualquer assunto em que entre a questão econômica, essa pergunta vai encontrar 11 respostas diferentes, se forem consultados 10 economistas. A explicação talvez mais didática está no teorema do economista Eduardo Gianetti da Fonseca: "O fenômeno da globalização resulta da conjunção de três forças poderosas: 1) a terceira revolução tecnológica (tecnologias ligadas à busca, processamento, difusão e transmissão de informações; inteligência artificial; engenharia genética); 2) a formação de áreas de livre comércio e blocos econômicos integrados (como o Mercosul, a União Européia e o Nafta); 3) a crescente interligação e interdependência dos mercados físicos e financeiros, em escala planetária". Saiba como os teóricos interpretam o processo Discorda o jornal francês "Le Monde", em recente dossiê sobre a "mundialização", como os franceses insistem em chamar a globalização. Lembra, primeiro, que "o comércio entre nações é velho como o mundo, os transportes intercontinentais rápidos existem há vários decênios, as empresas multinacionais prosperam já faz meio século, os movimentos de capitais não são uma invenção dos anos 90, assim como a televisão, os satélites, a informática". O que "Le Monde" chama de "novidade" é "a desaparição do único grande sistema que concorria com o capitalismo liberal em escala planetária, ou seja, o comunismo soviético". Saiba como os teóricos interpretam o processo Aí, sim, fecha-se ociclo, porque o fim do comunismo permite globalizar de fato o capitalismo, com todas as implicações decorrentes: aumento no fluxo de comércio, de informações e de expansão das empresas multinacionais para mercados antes fechados. Tudo somado, tem-se que a "a mundialização é bem mais que uma fase suplementar no processo de internacionalização do capital industrial em curso desde faz mais de um século", como escreve, para este caderno, o especialista francês François Chesnais. Chesnais prefere ao que chama "termo vago" ("mundialização") definir esse fenômeno como "regime mundializado de dominação financeira". Saiba como os teóricos interpretam o processo É por tudo isso que o especialista britânico Anthony McGrew (Universidade Aberta do Reino Unido) lista três tendências nos analistas da globalização, a saber: 1) Os "hiperglobalizantes", os que acham que a globalização define "uma nova época" na história da humanidade, em que "as tradicionais nações-Estado tornaram-se não-naturais, até mesmo unidades de negócio impossíveis em uma economia global". É o caso do japonês Kenichi Ohmae; 2) Os céticos. São os que entendem que os fluxos atuais de comércio, investimento e mão-de-obra não são superiores aos do século passado; Saiba como os teóricos interpretam o processo 3) Os "transformalistas". Têm uma visão intermediária. Admitem que os processos contemporâneos de globalização não têm precedentes, mas acham que resta um papel para os governos nessa história, desde que se adaptem a um mundo em que já não há uma distinção clara entre assuntos domésticos e internacionais. Apontam, ainda, um novo padrão de inclusão e exclusão social na economia globalizada. Até os nômades. No fundo, acaba sendo indiferente qual o rótulo que se prefira. As mudanças provocadas pela globalização não poupam nem sequer os personagens em tese mais independentes. Saiba como os teóricos interpretam o processo Tome-se o caso dos beduínos da Arábia Saudita. São nômades, o que, por definição, quer dizer independentes, isolados do mundo. Fazem seu próprio estilo de vida, imutável há séculos. Era imutável. O custo de sustentar seus camelos, meio de transporte e de vida para todos eles, no trabalho de pastoreio, tornou-se insuportável. E já não conseguem enfrentar a concorrência oferecida pelas ovelhas importadas (à razão de 12 milhões ao ano) de lugares tão distantes como o Uruguai ou a Nova Zelândia. Se os nômades puderam produzir um símbolo, Lawrence da Arábia, como emblema do mundo pré-globalização, o mundo contemporâneo é, ao contrário, uma cacofonia de símbolos facilmente reconhecíveis, em qualquer lugar em que se esteja, da Coca-Cola à Toyota, da Nike ao McDonald's. FOLHA DE SÃO PAULO. Saiba como os teóricos interpretam o processo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/2.html. Acesso em 31 de janeiro de 2013 Síntese A globalização é um acontecimento complexo, característico das sociedades capitalistas. Nessas sociedades, as atividades econômicas tendem a conquistar novos mercados, em busca de maior lucratividade. Esse crescimento está diretamente associado às possibilidades tecnológicas: das inovações dos meios de transporte aos novos meios eletrônicos de comunicação. Mas esse fenômeno não é apenas econômico, pois a vida em um mundo global, onde a proximidade é cada vez maior, também aumenta a influência sobre os nossos modos de vida. Bibliografia • BAUMAN, Zigmunt. Globalização:as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. • BRIGAGÃO, Clóvis & RODRIGUES, Gilberto.Globalização a Olho Nu. São Paulo: Editora Moderna, 1998. • GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. O que a globalização está fazendo de nós. Rio de Janeiro: Ed.Record, 2005. Bibliografia LEITURA COMPLEMENTAR • CRASH, no limite (EUA, 2005). Direção de Paul Haggis, duração 1h52min. A partir de acidentes que se conectam, é retratada a tensão urbana gerada pela convivência entre diversidades étnicas e de classe em uma cidade americana. • ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global vista do lado de cá.(Brasil,2006). Direção de Silvio Tendler. Documentário, 89 min. http://www.youtube.com/watch?v=RKMfLI74FI8&feature=youtu.be Bibliografia • SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Ed.Record, 2011. • STRAZZACAPPA, Cristina. Globalização: O que é isso, afinal? Coleção Desafio. Rio de Janeiro, Moderna, 2006. • FOLHA DE SÃO PAULO. Globalização. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/3.html Acesso em 31 de janeiro de 2013
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