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arbitral escolhido entre as partes. Igualmente, Cássio não poderia, em nenhuma hipótese, pretender impor a Marcus alguma forma de autocomposição (mediação ou conciliação), uma vez que tais formas devem ser adotadas voluntariamente, apesar de poderem ser estimuladas, extrajudicialmente ou já no curso do processo (BRASIL, 2015, Código de Processo Civil, art. 3º, § 3º). 38 - U1 / Noções teóricas básicas do processo Forma preponderante de solução de conflitos Descrição da situação-problema O juiz Marco Aurélio teve conhecimento, por meio de um amigo, de que o hospital de sua cidade estaria com imensas dificuldades, havendo um aglomerado de pessoas em corredores para serem atendidas. Assim, preten- dendo resolver a situação, proferiu uma decisão, ordenando que o diretor do hospital tomasse providências no sentido da normalização do atendimento, sob pena de multa diária de R$ 100 mil (cem mil reais). Está correta a atitude do juiz? Ele poderia, sem que fosse movido um processo judicial, pretender resolver a questão? Resolução da situação-problema Para resolver a situação, devemos ter a compreensão de que, para que o Poder Judiciário possa atuar, há necessidade de provocação da parte interes- sada. Trata-se do princípio da inércia, no qual a atividade jurisdicional só poderá ser exercida mediante provocação de quem detém a legitimidade e o interesse de agir. Esse princípio encontra-se insculpido no art. 2 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), dispõe que a parte interessada na solução da lide deverá buscar a manifestação do Juiz, por meio do ajuizamento de procedimento processual adequado. Portanto, somente após ser provocado, o juízo poderá emitir sua manifestação no sentido de realizar a prestação jurisdicional. Avançando na prática Faça valer a pena 1. No que diz respeito à arbitragem, analise as seguintes afirmativas: I) A arbitragem trata-se de forma de resolução de conflitos atribuída às próprias partes, em determinadas hipóteses em que a lei autoriza o exercício da força sem a intervenção judicial. II) A arbitragem não viola o princípio da inafastabilidade da apreciação jurisdi- cional, uma vez que se trata de forma de solução de conflitos expressamente autorizada pelo ordenamento jurídico. III) Apenas pessoas capazes de contratar podem se valer da arbitragem; logo, um menor de 16 anos não pode escolhê-la como forma de solução de determinado conflito. Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 39 Assinale a alternativa correta: a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. c) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. e) As afirmativas I, II e III estão corretas. 2. A respeito do instituto da mediação, podemos afirmar que: I) É forma de autocomposição de conflitos. II) É aplicável preferencialmente a conflitos em que as partes envolvidas na lide já mantinham relação jurídica continuada anteriormente. III) Ao mediador, é facultada a sugestão de alternativas de acordo para apreciação das partes. IV) Ainda não existe regulamentação legal para esse instituto pelo que a solução extraída será uma hipótese de nulidade. Assinale a alternativa correta: e) Apenas a afirmativa I está correta. f) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. g) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. h) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. i) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. 3. Leia o texto a seguir, extraído da obra de Didier Jr. (2015, p. 105): Quando a Constituição fala de exclusão de lesão ou ameaça de lesão do Poder Judiciário quer referir-se, na verdade, à impossi- bilidade de exclusão de alegação de lesão ou ameaça, tendo em vista que o direito de ação (provocar a atividade jurisdicional) não se vincula à efetiva procedência do quanto alegado; ele existe independentemente da circunstância de ter o autor razão naquilo que pleiteia; é o direito abstrato. “ Assinale a alternativa correta, no que diz respeito ao princípio da inafastabilidade da apreciação jurisdicional: 40 - U1 / Noções teóricas básicas do processo a) É proibida qualquer forma alternativa de solução de conflitos fora aquela prove- niente do Poder Judiciário. b) Não há vedação das formas alternativas de conflito, desde que seja o conflito pacificado por um dos meios autorizados pelo Estado, não necessariamente pelo Poder Judiciário. c) A função jurisdicional é monopólio do Estado, não mais se permitindo contem- poraneamente a arbitragem. d) As formas alternativas de solução de conflitos são proibidas no Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). e) A mediação é vedada no curso do processo judicial, somente tendo validade quando realizada extrajudicialmente. Seção 1.3 / Acesso à justiça e constitucionalização do processo - 41 Acesso à justiça e constitucionalização do processo Diálogo aberto Caro aluno, na seção anterior você aprendeu que a função jurisdicional convive com outras formas modernas de solução de conflitos, desde que permitidas pelo Estado. Analisamos também o conceito de processo, como instrumento por meio do qual se exerce a função jurisdicional tipicamente desenvolvida pelo Estado-juiz. Foram objeto de nossa análise, ainda, as noções introdutórias de arbitragem, mediação e conciliação no Código de Processo Civil (CPC) de 2015 (BRASIL, 2015). Esta nova seção abordará questões essenciais para o estudo da Teoria Geral do Processo: o acesso à justiça, as linhas evolutivas e constitucionali- zação do processo e a cooperação entre as partes e os órgãos jurisdicionais. Retomemos a situação próxima da realidade profissional, descrita no Convite ao estudo: Gustavo, advogado recém-formado, decidiu trilhar seu caminho profissional, abrindo seu próprio escritório. Esse é o desafio de Gustavo: enfrentar situações-problema da realidade profissional, aplicando na prática os conhecimentos teóricos que apreendeu ao longo de sua traje- tória acadêmica. Apresentamos a você, na última seção, uma situação-problema que convi- dava Gustavo a analisar se Cássio, após entabular com Marcus um contrato de compromisso de compra e venda, com uma cláusula compromissória em que eles se comprometiam a submeter à arbitragem os litígios que pudessem vir a surgir relativamente a tal contrato, poderia, por meio de um processo judicial, buscar a prestação jurisdicional do Estado-juiz. Qual seria o órgão apto a julgar essa lide? Foi questionado, ainda, se ele poderia impor a Marcus alguma forma de autocomposição (mediação ou conciliação). Conforme estudamos, há necessidade de que um órgão autorizado para a solução do conflito seja acionado para tanto. No caso de Cássio, ele não poderia, por meio de um processo judicial, buscar a prestação jurisdicional do Estado-juiz, uma vez que estabeleceu com Marcus, no contrato por eles firmado, uma cláusula compromissória, em virtude da qual as partes se obrigavam a procurar o juízo arbitral para dirimir qualquer controvérsia advinda do contrato. Sendo assim, o Estado-juiz está, em regra, proibido de conhecer e julgar esse litígio, que deve ser direcionado para o juízo arbitral escolhido entre as partes. Igualmente, não poderia Cássio pretender impor a Seção 1.3 42 - U1 / Noções teóricas básicas do processo Marcus alguma forma de autocomposição (mediação ou conciliação), uma vez que tais formas devem ser adotadas voluntariamente, apesar de poderem ser estimuladas, inclusive já no curso do processo. Diante disso, apresentamos uma nova situação-problema que deverá ser analisada por Gustavo. A nova situação-problema proposta é a seguinte: José recolheu todas as economias que tinha para comprar um táxi e melhorar sua situação financeira. No primeiro dia de trabalho como taxista, José teve