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a concreti- zação tão perfeita quanto possível desse sonho. (2015, p. 41) “ A partir da concepção disposta no art. 1º do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), que orienta a constitucionalização do Processo Civil brasileiro, os Direitos materiais representados em lei, bem como o direito à prestação jurisdicional via processo, são vistos como um Direito funda- mental. Como observou Lamy: 20 - U1 / Noções teóricas básicas do processo [...] atualmente, o processo não é mais apenas um meio formal preocupado com o seu respeito acima do próprio direito material, pelo qual apenas a jurisdição diz o direito, limitando-se a responder aos pleitos que lhe são formulados. Hoje, o Direito Processual deve ser conceituado como o resultado da operação de um núcleo de direitos fundamentais que atuam sobre uma base procedimental formada de meios que necessitam adequar-se aos fins de forma tão rica quanto a diversidade dos direitos materiais a serem tutelados. (2018, p. 94) “ Nesta seção, você aprendeu noções sobre a relação existente entre o homem e a sociedade, bem como a natural, mas indesejável, existência de conflitos de interesses em sociedade. Falamos sobre a evolução histórica dos modos de resolução de conflitos, passando pela autotutela e arbitragem, até chegarmos à atividade jurisdicional como forma precípua de resolução de conflitos, o que se deu em virtude do fortalecimento da noção de Estado. Na próxima seção, estudaremos as formas modernas de resolução de litígios, bem como os modos de resolução previstos no Código de Processo Civil brasileiro (BRASIL, 2015). Sem medo de errar Retomemos o problema proposto no início desta unidade. Você, renomado jurista, deverá opinar sobre a possibilidade de Paulo, por sua própria iniciativa, “fazer justiça pelas próprias mãos”, deixando de pagar o preço a que se comprometeu, por entender que o veículo por ele adquirido não tinha as características prometidas pela vendedora. Para ajudar Paulo a solucionar a situação-problema proposta, você precisará: 1) Compreender a situação de instauração de conflito entre as partes. 2) Identificar se Paulo é autorizado a tentar resolver, mediante suas próprias razões e instrumentos, o conflito ao qual está submetido. Atenção Aqui é muito importante relembrarmos o conceito de lide desenvolvido por Carnelutti (apud MONNERAT, 2015), que nada mais é do que um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Além disso, devemos analisar o conceito de autotutela e, principal- mente, se ela é, em regra, forma de solução de conflitos permitida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Seção 1.1 / Direito e sociedade: evolução histórica da resolução de conflitos - 21 A partir desse questionamento, você considera possível Paulo perma- necer com o veículo e deixar de efetuar o pagamento das parcelas devidas? A quem cabe dirimir eventuais conflitos existentes na sociedade e quais são as suas principais características? Lembre-se Como uma fase da evolução histórica dos modos de solução de conflitos, fixou-se como atividade preponderantemente estatal a tarefa de solução de litígios. Passou-se, então, da noção de resolução de conflitos como tarefa inerente à justiça privada (autotutela e arbitragem) para atividade típica de justiça pública. Cabe, portanto, preponderantemente ao Poder Judiciário dar a última palavra sobre conflitos de interesses instaurados na sociedade brasileira. Como você direcionaria Paulo na solução dessa questão? Ele poderá simplesmente deixar de efetuar o pagamento das parcelas que lhe cabem? Qual seria a via correta de decisão? Conforme analisamos durante esta seção, a autotutela não é um modo de resolução de conflitos atualmente permitida, ao menos em regra. Dessa forma, Paulo não pode ficar com o carro por ele adquirido e simplesmente não efetuar o pagamento das parcelas, ainda que não esteja o veículo em consonância com o que foi ajustado com a vendedora. Ele deverá procurar o Poder Judiciário (Estado-juiz) para reconhecer seu direito, resolvendo, assim, a lide instaurada em virtude da existência de uma pretensão resistida. O Estado-juiz, portanto, substituirá a atuação das partes, decidindo, de forma definitiva e impositiva, a lide que deverá ser levada a ele por Paulo ou mesmo por Mariana. É importante salientar que, se Paulo deixar de efetuar, por sua conta e risco, o pagamento das parcelas que lhe cabem, Mariana também poderá ingressar em juízo, cobrando os respectivos valores. Forma preponderante de solução de conflitos Descrição da situação-problema Flávia firmou um contrato com Sandro, por meio do qual este se compro- metia a fabricar e entregar uma cadeira com determinadas características, pelo valor de R$ 1.000 (mil reais), em determinada data. Na data prevista, Sandro não entregou o objeto do contrato, alegando que o material combinado pelas Avançando na prática 22 - U1 / Noções teóricas básicas do processo partes para a cadeira não estava mais disponível no mercado. O que podem as partes fazer para solucionar o conflito? Podem tentar, pela força, resolver a lide? Quem poderá dizer a última palavra em prol da resolução do conflito instaurado? Resolução da situação-problema Para resolver a questão, retornaremos o conceito de lide. Devemos também analisar qual é o meio de solução de conflitos preponderante atualmente. As partes poderiam realizar uma autocomposição, por meio de conciliação ou de mediação. Contudo, caso não haja um acordo em relação ao conflito de interesses, cada parte não poderá impor a sua vontade, pois, quando não há convenção de arbitragem ou outro meio previsto contratualmente, o Estado detém a prerrogativa de decidir o conflito, mediante o ajuizamento de ação de rescisão contratual, com pedido de devolução da quantia. Faça valer a pena 1. Leia o trecho a seguir, retirado da obra produzida em conjunto por Rodrigues e Lamy: À medida que as sociedades evoluíram e se tornaram complexas, houve também a necessidade de regrar a forma de exercício do poder em seu interior. Foi necessário institucionalizar o poder e as formas de acesso a ele. Com o surgimento do Estado, as regras sociais passaram a ser institucionalizadas, dando origem ao Direito. Deixaram de ser apenas normas de convivência para se tornarem normas de controle: controle do Estado pela sociedade e controle dos indivíduos e grupos sociais pelo próprio Estado. (RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 1) “ A partir da máxima “Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus” (RODRIGUES, 2018), traduzida como “onde está o homem, está a sociedade, e onde está a sociedade, está o Direito”, assinale a alternativa correta: a) As regras de Direito são necessárias apenas em sociedades não evoluídas cultu- ralmente, uma vez que, para as mais evoluídas, basta a existência de regras morais para seu equilíbrio social. b) O Direito é um fenômeno inerente a qualquer sociedade, já que a convivência humana exige, em razão de nossas próprias peculiaridades, normas para regular as nossas relações. Seção 1.1 / Direito e sociedade: evolução histórica da resolução de conflitos - 23 c) O Direito é um fenômeno excepcional, característico da sociedade contempo- rânea que o criou diante de uma imposição contrária à natureza humana. d) Em poucas palavras, pode-se dizer que o Direito é a estipulação apenas das punições pelo desatendimento do interesse do jurisdicionado. e) A solução de conflitos pelo Estado não tem por finalidade a pacificação social, mas sim a de reafirmar sua autoridade sobre os membros de determinada sociedade. 2. Leia o trecho retirado da obra de Alvim: O conceito de lide é controvertido, entendendo alguns que não se trata de um conceito essencialmente proces- sual, porque todo processo pressupõe uma lide, mas nem toda lide desemboca, necessariamente,