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a mediação – o que conduz ao reconhecimento da equivalência entre eles e a juris- dição estatal. (2018, p. 31) “ Assim, é importante ressaltar que o encaminhamento dos litígios ao Poder Judiciário, por meio da propositura de um processo, não é a única forma atualmente permitida de solução de conflitos. Trata-se, sem sombra de dúvidas, da forma mais usual, mas há outras, denominadas formas alter- nativas de resolução de conflitos, que serão analisadas ainda nesta seção. Pesquise mais Para aprofundar as primeiras noções acerca desse caráter monopoli- zador, mas não exclusivo, da atividade jurisdicional, indicamos a seguinte leitura complementar: BUENO, C. S. Manual de Direito Processual Civil. Volume único. 4. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 45-55. Agora nos aprofundaremos um pouco mais nessa discussão e analisa- remos se é apenas o Estado, por meio do Poder Judiciário, que está autori- zado a desempenhar a função de pacificação de conflitos. Reflita A função de solucionar conflitos cabe única e exclusivamente ao Estado? Ou podemos falar de outras formas de resolução de conflitos que dispensem, em maior ou menor grau, a participação do Poder Judiciário? 28 - U1 / Noções teóricas básicas do processo Vamos pensar juntos nessa questão? A Constituição Federal (BRASIL, 1988) é expressa ao preceituar, em seu artigo 5º, inciso XXXV, que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Por seu turno, o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) assevera que “não se excluirá da apreciação jurisdi- cional ameaça ou lesão a direito” (artigo 3º, caput). Comentando a diferença de redação entre os dois artigos, doutrinam Wambier et al. (2015, p. 58-59) que “[...] a única alteração, de ‘apreciação do Poder Judiciário’ (CF) para ‘apreciação jurisdicional’ (NCPC) tem o sentido de indicar que às ameaças ou lesões a direito deverão ser dadas soluções de direito, mas não necessariamente pelo Poder Judiciário”. Pesquise mais Para entender um pouco mais sobre a inafastabilidade da jurisdição, de acordo com o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) e a Consti- tuição (BRASIL, 1988), indicamos o vídeo a seguir, gravado pelo Prof. Rennan Thamay: INAFASTABILIDADE da jurisdição no novo CPC. Produção: Rennan Thamay. [S.l.]: Rennan Thamay [canal do YouTube], 2016. (3min16s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p_5zHRj7KGA>. Acesso em: 10 dez. 2018. Devemos entender tais disposições, portanto, não como proibições a formas alternativas de solução de conflitos, mas, sim, dentro de um contexto de coexistência dos meios alternativos de solução de conflitos com o Poder Judiciário. É justamente nesse sentido que o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) disciplina, de forma expressa, a permissão da arbitragem (artigo 3º, § 1º) e, ainda, que a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados, inclusive no curso do processo judicial (artigo 3º, § 3º). Enfim, ainda que se entenda que a principal forma de resolução de conflitos ainda seja por meio do exercício da função jurisdicional do Poder Judiciário, o próprio Estado pode autorizar outras formas igualmente válidas para que a pacificação social tenha lugar. Dessa forma, conforme lição de Bueno (2013 p. 46): [...] não só as normas ‘tradicionalmente’ compreendidas no ‘direito processual civil’ – e dirigidas, em última análise, a disci- plinar uma parcela de atuação do próprio Estado, o Estado-juiz “ Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 29 – que servem para a solução de conflitos intersubjetivos. Mais recentemente, tem-se discutido a respeito de formas alterna- tivas de solução de conflitos que, para o momento, devem ser entendidas como mecanismos de resolução de conflitos que não se valem das normas do ‘direito processual civil’, mas de outras, inclusive de natureza contratual, para atingir o mesmo objetivo. Assimile A partir das noções até agora desenvolvidas, podemos assim resumir os modos de solução de conflitos: • Exercício da função jurisdicional pelo Estado-juiz. • Meios alternativos de solução de conflitos: arbitragem, mediação e conciliação. Agora conheceremos um pouco mais da arbitragem. Ela se trata de uma técnica de solução de conflitos expressamente autorizada pelo ordena- mento jurídico brasileiro, em que uma terceira pessoa (que não o Estado- juiz) tem o poder/dever de solucionar o conflito instaurado entre partes que se predispuseram a se submeter a tal forma de solução. É, portanto, delegada a solução do litígio a árbitros que decidirão soberanamente o destino que será dado ao conflito. Nesse contexto, para melhor compreensão, Scavone Jr. (2016, p. 82) define a arbitragem como: [...] o meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral, definida como título executivo judicial e prola- tada pelo árbitro, juiz de fato e de direito, normalmente especia- lista na matéria controvertida. “ Ressalte-se que a arbitragem pode se dar por cláusula arbitral previamente pactuada em contrato, em que são estabelecidas as condições para a reali- zação de resolução de conflitos, ou por compromisso arbitral, momento em que, uma vez ocorrido o litígio entre as partes, estas estabelecem a escolha do juízo arbitral em vez do Poder Judiciário para a resolução de controvérsias. Na arbitragem, quem tem a competência para decidir o conflito é o árbitro, que, a teor do art. 13 da Lei nº 9.307 (BRASIL, 1996), pode ser qualquer pessoa capaz que goze da confiança das partes. O art. 18, do mesmo diploma legal, assegura que o árbitro é juiz de fato e de direito na demanda, e 30 - U1 / Noções teóricas básicas do processo sua sentença não se sujeita a recurso ou homologação pelo Poder Judiciário. Nesse ponto, é interessante comentar que o Poder Judiciário só tem compe- tência para analisar aspectos formais do procedimento. A decisão arbitral forma coisa julgada, e pode ser cumprida pelo Poder Judiciário. Quanto ao árbitro, o elemento que desperta vantagem para as partes o escolherem pode ser destacado como o seu conhecimento técnico específico sobre o objeto da controvérsia estabelecida, o que cria a expectativa de uma solução técnica e mais adequada à situação. Além da permissão expressamente constante do Código de Processo Civil para a arbitragem (BRASIL, 2015, art. 3º, § 1º), seu procedimento é previsto em lei extravagante, ou seja, conjunto de normas processuais que não se encontram dentro do Código. É assim que a Lei nº 9.307/1996 (BRASIL, 1996) disciplina a arbitragem, preceituando que podem se valer desse meio de solução de conflitos as pessoas capazes de contratar, dirimindo, assim, litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Uma vez escolhida a arbitragem como forma de solução de conflitos, o Poder Judiciário estará, em princípio, proibido de julgar a lide. Somente o árbitro ou os árbitros indicados pelas partes poderão aplicar o direito ao litígio, solucionando assim o conflito de interesses instaurado. Atenção Por outro lado, é importante destacar que, caso seja necessária a execução do julgamento realizado pela câmara arbitral, essa só poderá ser realizada pelo Poder Judiciário. Isso se deve ao fato de que somente essa função de poder tem o monopólio para determinar as medidas executivas cabíveis. Podemos, portanto, concluir que é o próprio Estado que permite, uma vez atendidas as condições previstas em lei, que os árbitros solucionem validamente determinados litígios. Reflita Uma vez que os árbitros cheguem a uma decisão quanto ao direito aplicável ao litígio, será possível que tal decisão seja revista pelo Poder Judiciário? Ou seja, a parte que eventualmente não tenha tido sucesso na arbitragem poderia