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Etimologicamente, o vocábulo “processo” vem do latim (procedere), no sentido de seguir adiante, marcha avante ou caminhada (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 301). Saiba mais Para aprofundar o conhecimento sobre a evolução histórica do processo, indicamos a leitura da obra a seguir: LEAL, R. P. As teorias do processo na história do Direito. In: ______. Teoria Geral do Processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. subcapítulo 4.4, [s.p.]. Disponível em: <https://integrada.minhabi- blioteca.com.br/#/books/978-85-309-5637-0/cfi/6/28!/4/36/10@0:0>. Acesso em: 4 dez. 2018. Modernamente, conforme doutrina de Câmara (2018, p. 23), processo é considerado o “[...] mecanismo de exercício do poder democrático estatal, e é através dele que são construídos os atos jurisdicionais [...]”, ou seja, para que, no exemplo apresentado, o conflito de interesses envolvendo João e Flávio seja validamente resolvido com a prolação de uma manifestação do Estado- juiz, deverá uma das partes retirar o Judiciário da inércia, por meio da instau- ração de um processo. Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 35 É justamente nesse sentido que o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) preceitua o denominado princípio da inércia do Poder Judiciário, em seu artigo 2o, aduzindo que o processo começa por iniciativa da parte. Ora, a parte interessada na solução da lide deverá buscar a manifestação do Estado- juiz, fazendo-o por meio do processo. Somente após provocado, deverá o Poder Judiciário emitir sua manifestação, dirimindo, assim, o conflito. Nesse ponto da nossa conversa, já podemos extrair uma conclusão relevante para nosso estudo: o processo, meio que é para a solução de litígios, é desenvolvido por uma relação estabelecida entre partes e Estado-juiz. Como bem afirma Medina (2015, p. 79), “o processo é sistema interacional, isso é, dá-se através da interação entre partes e órgão jurisdicional”. Estabelece-se, portanto, por intermédio do processo, uma interação entre as partes envolvidas no litígio e o Poder Judiciário, visando à pacificação do conflito de interesses instaurado. A tão relevante função jurisdicional, portanto, somente pode ser desempenhada pelo Estado-juiz mediante a instauração de um processo, instrumento colocado à disposição das partes envolvidas na lide. Ainda como complemento dessa questão eminentemente conceitual, é relevante diferenciar as figuras do processo, procedimento e autos. Enquanto processo se trata do instrumento por meio do qual se dá a função jurisdi- cional, procedimento é a materialização do processo. O procedimento é, portanto, a parte formal do processo estipulada por lei. A respeito do procedimento, como bem observam Rodrigues e Lamy (2018, p. 9) É o conjunto de atos consecutivos e dialéticos que permitem a materialização do processo. Inclui atos tais como a petição inicial, a citação do réu, a contestação desse réu, as audiências públicas preliminares e de conciliação, instrução e julgamento, bem como a sentença e as sessões de julgamento nos tribu- nais, entre outros atos processuais. As normas procedimentais também disciplinam os prazos e os ritos desses atos. [...] A importância da distinção entre processo e procedimento, enfim, está no fato de que o processo não corresponde somente aos ritos praticados no cotidiano forense e administrativo, mas também a todos os demais conteúdos tanto convenientes quanto necessá- rios à solução dos litígios, à efetivação dos direitos e à evolução do próprio Direito Processual e à sua crítica teórica e empírica. “ 36 - U1 / Noções teóricas básicas do processo Podemos falar, por exemplo, em procedimento em primeiro grau e em segundo grau. Por fim, autos são a materialização física do processo. Assim, o correto é falar que o advogado consultou os autos do processo e não que ele consultou o processo (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 301-302). Assimile A partir das noções até agora desenvolvidas quanto ao processo, ele pode ser conceituado como o instrumento por meio do qual se exerce a função jurisdicional tipicamente desenvolvida pelo Estado-juiz. Nesta seção você teve acesso a um novo horizonte de formas de resolução de conflitos, que tendem a ser cada vez mais difundidos e utilizados no país, especialmente em razão das dificuldades do Poder Judiciário em resolver os conflitos de forma eficiente e célere. A partir dessa observação, surgem no país diversos profissionais com formação em mediação e arbitragem, buscando um nicho de mercado promissor. Até a próxima seção! Sem medo de errar Retomemos o problema proposto no início desta seção. Você, advogado recém-formado, deverá orientar Cássio na seguinte questão: ele entabulou com Marcus um contrato de compromisso de compra e venda, por meio do qual ele comprava e Marcus vendia um imóvel determinado pelo montante de R$ 300 mil (trezentos mil reais), dividido em trinta parcelas. De comum acordo e cumprindo todas as exigências previstas em lei, estabeleceram as partes no contrato uma cláusula compromissória por meio da qual eles se comprometiam a submeter à arbitragem os litígios que pudessem vir a surgir relativamente a tal contrato. Passados os dozes primeiros meses de pagamento das parcelas da compra e venda, Cássio analisou melhor o contrato e entendeu que os índices estabelecidos para atualização dos valores eram exorbitantes e ele estaria pagando valores superiores àqueles que seriam devidos com os índices legais. Cássio, então, procura você e faz os seguintes questionamentos: como ele pode ver sua pretensão analisada? Ele pode, por meio de um processo, buscar a prestação jurisdicional do Estado-juiz? Qual é o órgão apto a julgar essa lide? Ele pode pretender impor ao Marcus alguma forma de autocomposição (mediação ou conciliação)? Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 37 Para ajudar Cássio a solucionar a situação-problema proposta, você precisará: 1°. Compreender as formas modernas de resolução das lides. 2°. Entender as noções básicas que regem a arbitragem. 3°. Aprender as regras gerais que norteiam a mediação e a conciliação. Aqui é muito importante relembrar as formas modernas de resolução dos conflitos de interesses, que não se limitam ao exercício da função jurisdi- cional. Quando se tratar da análise dessa função, não se pode perder de vista o conceito de processo. Além disso, deverão ser analisadas as regras básicas que regem a arbitragem, a mediação e a conciliação. A partir desses questionamentos, como você aconselharia Cássio? Ele poderia buscar o Poder Judiciário para requerer a revisão do contrato firmado com Marcus? Qual é o órgão apto a julgar tal lide? Há possibili- dade de imposição das regras de mediação ou conciliação? Lembre-se de que não é apenas por meio do exercício da função jurisdicional que o Estado resolve conflitos de interesses. Ocorre, em paralelo a essa atividade, a autori- zação para que terceiros também possam exercer a pacificação de conflitos. Dentro desse contexto, encontram-se, cada qual à sua maneira, as figuras da arbitragem, mediação e conciliação. Como você direcionaria juridicamente Cássio na solução dessa questão? Conforme analisamos durante esta seção, quando se estabelece uma lide, há necessidade de um órgão autorizado para a solução do conflito ser acionado para tanto. No caso de Cássio, ele não poderá, por meio de um processo judicial, buscar a prestação jurisdicional do Estado-juiz, vez que estabeleceu com Marcus, no contrato por eles firmado, uma cláusula compromissória, em virtude da qual as partes se obrigavam a procurar o juízo arbitral para dirimir qualquer controvérsia advinda do contrato. Sendo assim, o Estado-juiz está em regra proibido de conhecer e julgar esse litígio, que deve ser direcionado para o juízo