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REVOLUÇÃO E DEMOCRACIA ROSA LUXEMBURGO OBJETIVOS • Conduzir a uma reflexão sobre os conceitos de Revolução e Democracia a partir do texto de Isabel Maria Loureiro; • Dar continuidade ao conteúdo discutido em sala; • Oportunizar o conhecimento acerca do pensamento de Rosa Luxemburgo; • Relacionar outros autores sobre o tema em questão. ROSA LUXEMBURGO (1871-1919) • Nasceu na Polônia, em 5 de março de 1871; • Casa-se com o alemão Gustav Lueck obtendo a cidadania alemã para o resto de sua vida; • Foi uma revolucionária de esquerda de viés marxista clássico; • Sofreu várias críticas e tornou-se uma das personalidades mais controvertidas da história do movimento socialista; • Foi assassinada em 15 de novembro de 1919. ISABEL MARIA LOUREIRO • Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1974); • Mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1984); • Doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1992); • Atualmente é presidente do Instituto Rosa Luxemburgo em São Paulo; • Tem experiência na área de Filosofia, atuando principalmente nos temas Marxismo, Rosa Luxemburgo, Herbert Marcuse, Democracia e Socialismo. PRIMEIRA PARTE – DEFINIÇÃO DE CONCEITOS Democracia: s.f. Política. Governo em que o poder é exercido pelo povo. Sistema governamental e político em que os dirigentes são escolhidos através de eleições populares. Regime que se baseia na ideia de liberdade e de soberania popular; regime em que não existem desigualdades e/ou privilégios de classes. O que é Democracia para Rosa Luxemburgo: A noção de democracia para Rosa Luxemburgo está intrinsecamente ligada às ideias de ação autônoma e de experiência das massas. É comum que a esquerda libertária recorra ao exemplo dos conselhos como remédio que supostamente resolveria os problemas da democracia representativa. É sem dúvida uma forma democrática que deve ser preservada, sobretudo no âmbito local. Mas segundo Rosa Luxemburgo o ideal é combinar mecanismos de democracia representativa com mecanismos de democracia direta. – Isabel Loureiro em entrevista para Antônio Martins. PRIMEIRA PARTE – DEFINIÇÃO DE CONCEITOS Revolução: s.f. Política Reforma, transformação, mudança completa. Mudança brusca e violenta na estrutura econômica, social ou política de um Estado. Mudança profunda ou completa, subversão: revolução nos costumes, nas artes e nas ciências. O que é revolução para Rosa Luxemburgo: A tomada brusca do poder, a declaração violenta de guerra contra a burguesia, o terror e o assassinato são criticados por Rosa. Para ela revolução não significa violência. A revolução proletária não precisa do terror para realizar seus fins, ela odeia e abomina o assassinato. Ela não precisa desses meios de luta porque não combate indivíduos, mas instituições, porque não entra na arena cheia de ilusões ingênuas que, perdidas, levariam a uma vingança sangrenta. Não é a tentativa desesperada de uma minoria de moldar o mundo à força, de acordo com o seu ideal, mas a ação da grande massa dos milhões de homens do povo chamada a cumprir sua missão histórica e a fazer da necessidade uma realidade. (Luxemburgo, 1991a: 103). SEGUNDA PARTE – SOBRE O ARTIGO Revolução e Terror andaram sempre de braços dados? Uma parcela significativa do que outrora foi à esquerda acredita que sim e propõe o fortalecimento da democracia como alternativa à revolução. Revolução esta, vista como fonte do totalitarismo (ideia muito influenciada pelos resultados da Revolução Russa de 1919). O artigo procura contribuir para esse debate, mostrando a alternativa revolucionária e democrática apresentada por Rosa Luxemburgo. Para ela, a democracia não é um valor universal abstrato, mas justamente o resultado de um processo revolucionário em que as massas proletárias, atuando com irrestrita liberdade, lançam os fundamentos de uma "nova época". TERCEIRA PARTE – INTRODUÇÃO Isabel Loureiro cita o autor Francisco Weffort (cientista político brasileiro) que escreveu o livro “Por que democracia?” para afirmar o pensamento de Rosa Luxemburgo no sentido de como preservar a democracia independente do regime político. No pensamento de Weffort Democracia e Revolução são conceitos que não excluem um ao outro. Rosa Luxemburgo defende a ideia de que a tomada do poder não é uma etapa prévia à realização da democracia, e sim que tomar o poder e realizar a democracia são duas faces da mesma moeda. “A democracia socialista não começa somente na Terra prometida, quando tiver sido criada a infraestrutura da economia socialista, como um presente de Natal, já pronto, para o bom povo que, entretanto, apoiou fielmente o punhado de ditadores socialistas” (A Revolução Russa, p.96) TERCEIRA PARTE – INTRODUÇÃO Weffort concorda com Hannah Arendt quando diz que todas as revoluções têm como motivo essencial a conquista da liberdade e são elas (as revoluções) que criam condições políticas para que as sociedades mudem. Hannah Arendt escreve sobre revolução para tratar do aparecimento da liberdade, manifestação do homem no espaço público, mediado pela ação e pela linguagem. Liberdade que só surge quando muitos se reúnem e que só pode existir enquanto ficarem juntos. “Sempre que os homens se juntam, move-se o mundo entre eles, e nesse interespaço ocorrem e fazem-se todos os assuntos humanos.” (ARENDT, 2006b, p. 36) Para Rosa Luxemburgo o socialismo só pode ser consistente se houver liberdade de pensamento e de discussão. “Liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de maneira diferente.” (LUXEMBURGO, 2011, vol. 2, p. 205-206) QUARTA PARTE – MILITÂNCIA DE ROSA LUXEMBURGO Rosa tornou-se mundialmente conhecida por sua militância revolucionária ligada a vários partidos, participou da fundação do grupo de tendência marxista que viria a se tornar mais tarde o Partido Comunista da Alemanha (KPD). Ela procura distinguir-se dos defensores da democracia marxistas que nada tinham a acrescentar, que queriam um socialismo sem democracia. Principalmente daqueles que apoiavam à entrada da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e das posições crescentemente reformistas e antirrevolucionárias. Rosa foi uma das fundadoras da Liga Spartacus, um movimento de esquerda marxista e revolucionário, seu nome faz alusão a Spartacus líder da maior rebelião escrava da Roma Antiga. A Liga era um grupo muito pequeno e sem a menor chance de chegar ao poder, seu principal objetivo era através da propaganda, aumentar o número dos que o apoiavam, fazer crescer sua influência junta às massas e desenvolver sobre elas uma tática de ação. QUARTA PARTE – MILITÂNCIA DE ROSA LUXEMBURGO Para Rosa Luxemburgo os conselhos e sindicatos tinham um papel pedagógico – “exercendo o poder é que a massa aprende a exercer o poder” Para os jovens operários, membros da Liga Spartacus, ação e mais ação representava o único meio de romper radicalmente com a velha sociedade. Entretanto, Rosa Luxemburgo defendia uma posição política mais moderada, participação nas eleições para a Assembleia Nacional, por exemplo. No seu discurso, declara: “Camaradas, vós acreditais a tarefa fácil demais, com o vosso extremismo. Vosso impulso impetuoso não deve fazer-nos esquecer a seriedade e a reflexão a sangue frio.” QUARTA PARTE – MILITÂNCIA DE ROSA LUXEMBURGO Os spartakistas acabam se tornando aos olhos da opinião pública, os responsáveis pela desordem. São acusados de querer derramar sangue, de desejar implantar na Alemanha a ditadura do proletariado e o terror. Em grandes cartazes podia-se ler: "Matai Liebknecht e Luxemburgo, se quereis ter a paz do trabalho e do pão!" Rosa, nem pensava em fugir naquele momento, apesar das possíveis dúvidas, ela não recua e cumpre o seu destino. Rosa por coerência com toda uma vida em defesa dessa ideia permanece em Berlim,ao lado dos companheiros. A crença inabalável na energia revolucionária das massas é o cerne do pensamento de Rosa Luxemburgo. É justamente a essa confiança sem limites na ação criadora das massas proletárias que se liga a sua ideia de democracia indissoluvelmente unida à revolução. QUINTA PARTE – REVOLUÇÃO RUSSA, CRÍTICA AOS BOLCHEVIQUES Rosa Luxemburgo critica a política autoritária dos bolcheviques. Mencheviques: propunham a implantação do socialismo através de reformas moderadas. Bolcheviques: queriam derrubar o czarismo pela força, eram liderados por Lenin queriam a instauração da ditadura do proletariado. Os bolcheviques, liderados por Lenin, organizaram a revolução que ocorreu em outubro de 1917. Lênin assumiu o governo da Rússia e implantou o socialismo. Porém, após a revolução a situação da população geral e dos trabalhadores pouco mudou no que diz respeito à democracia. O Partido Comunista reprimia qualquer manifestação considerada contrária aos princípios socialistas. A falta de democracia imperava na URSS. QUINTA PARTE – REVOLUÇÃO RUSSA, CRÍTICA AOS BOLCHEVIQUES Mikhail Bakunin um oponente do Marxismo em seu caráter autoritário, especialmente das ideias de Ditadura do Proletariado. Bakunin criticava de forma fervorosa o que chamava de "socialismo autoritário". “...o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.” (BAKUNIN, 1873) QUINTA PARTE – REVOLUÇÃO RUSSA, CRÍTICA AOS BOLCHEVIQUES Mas afinal, onde se encontraria a origem da política autoritária que Rosa Luxemburgo condena? Na dissolução da Assembleia Nacional Constituinte. Para ela é justamente em tempo de revolução que instituições representativas como a Assembleia Constituinte fazem sentido. Segundo Rosa Luxemburgo eliminar a democracia, solução adotada por Lenin e Trotsky é pior que a doença que eles estavam tentando curar, haja vista, com o fim dos mecanismos mínimos de eleições, o que veio a se constituir foi o "socialismo por decreto". SEXTA PARTE – MASSAS POPULARES “O VERDADEIRO SUJEITO DA HISTÓRIA” As "largas massas populares" só podem efetivamente dominar caso haja liberdades democráticas: imprensa livre, direito de associação e reunião. Apenas no interior de uma vida política inteiramente livre, "toda a massa do povo" pode educar-se e formar-se. É a democracia sem limites que permite à classe intervir energicamente, questionando seus direitos e as relações econômicas da sociedade burguesa. Em outras palavras a ditadura do proletariado só pode ser "obra da classe e não de uma minoria que dirige em nome da classe". Rosa Luxemburgo está, portanto longe de ser defensora da democracia como um valor universal ou como consenso da maioria. Embora para ela a revolução só possa ser vitoriosa se apoiada pela maioria, esta maioria não é previamente dada, mas conquistada como resultado da ação política e sindical. E justamente porque "não é a tentativa desesperada de uma minoria para modelar o mundo à força, segundo o seu ideal", a revolução proletária, diferentemente das revoluções burguesas, não precisa recorrer ao terror e ao derramamento de sangue. ÚLTIMA PARTE – CONCLUSÃO Rosa nunca foi querida pelo marxismo oficial em nenhuma de suas vertentes. Seus contemporâneos do Partido Social Democrata, reclamavam que “a camarada Luxemburgo bagunça tudo”. Para ela a democracia socialista não começa somente na Terra prometida, quando tiver sido criada a infraestrutura do socialismo, como um presente de Natal. Nesse sentido, ela rechaça a estratégia típica dos partidos comunistas do século 20: primeiro toma-se o poder, depois se muda o mundo. Direito de associação e de reunião, imprensa livre, espaço público são pré-requisitos indispensáveis para uma ampla circulação de ideias entre as classes subalternas, permitindo que amadureçam em termos políticos e que participem ativa e conscientemente da instituição de uma sociedade realmente democrática, que ela identifica com o socialismo. O socialismo não é um serviço a ser prestado ou um presente oferecido por uma parte da sociedade aos oprimidos e explorados. A política socialista deveria emergir de um movimento voluntário e consciente de todos. Este movimento confia na organização e na ação direta e autônoma das massas. BÔNUS– ROSA LUXEMBURGO NOS DIAS DE HOJE Artigo publicado pela autora Isabel Maria Loureiro: Brasil, junho de 2013: cenário remete à obra da pensadora alemã http://blog.editoraunesp.com.br/2013/11/rosa-luxemburgo-democracia-e- revolucao.html “As massas devem aprender a exercer o poder no próprio exercício do poder, não existe nenhuma outra forma de lhes ensinar essa arte.” Rosa Luxemburgo “Rosa Luxemburgo é a mente mais genial entre os herdeiros científicos de Marx e Engels.” Franz Mehring
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