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Cultivo de ostras – 1 Sumário 1. Introdução ................................................................................... 3 Espécies ........................................................................................................ 3 Ciclo de vida ................................................................................................ 5 2. Seleção do local ............................................................................ 6 Aspectos legais ............................................................................................. 6 Salinidade .................................................................................................... 7 Produtividade primária ................................................................................ 8 Temperatura da água .................................................................................... 9 Condições de fundo ..................................................................................... 9 Poluição ....................................................................................................... 9 Marés vermelhas ........................................................................................ 10 Renovação da água .................................................................................... 10 Ação de ventos, ondas e correntes marinhas .............................................. 10 Áreas de navegação marítima..................................................................... 11 Proximidade aos grandes centros urbanos ................................................. 11 Áreas de pesca ........................................................................................... 11 3. Obtenção de sementes ............................................................... 12 Em laboratório ............................................................................................ 12 Com coletores ............................................................................................ 12 Assentamento remoto ................................................................................ 14 4. Sistemas de cultivo ...................................................................... 15 Tipos de cultivo .......................................................................................... 17 5. Manutenção do cultivo ............................................................... 18 Manejo ....................................................................................................... 18 Organismos incrustantes, predadores e parasitas ....................................... 21 Predadores ................................................................................................. 22 Parasitas ..................................................................................................... 24 Doenças ..................................................................................................... 25 6. Colheita ...................................................................................... 26 Manejo ....................................................................................................... 27 Transporte .................................................................................................. 28 7. Desenvolvimento de um plano de negócio ................................. 29 2 – Manuais BMLP de maricultura Série Maricultura Cultivo de Ostras Edição Lúcia Valente Baseado em textos originais da PEREIRA, A.; TEIXEIRA, A. L.; POLI, C. R.; BROGNOLI, F. F.; SILVA, F. C.da; RUPP, G. S.; SILVEIRA JR, N.; ARAÚJO, S. C. Biologia e Cultivo de Ostras. Florianópolis: UFSC. 1998. 70p. Produção e Editoração Multitarefa (Paula Arend Laier e Vinícius Carvalho) Capa Cultivo de ostras no Ribeirão da Ilha, produtor Ademir dos Santos. Foto de Lúcia Valente. Ilustrações Ilustrativa (André Valente, Eduardo Belga e Paulo Faria) Projeto Gráfico Cesar Valente Impressão Gráfica Agnus A série Maricultura compõe-se de cinco manuais, publicada pelo BMLP (Brazilian Mariculture Linkage Program – Programa Brasileiro de Intercâmbio em Maricultura) Jack Littlepage – Diretor Geral Patricia Summers – Gerente de Projetos Carlos Rogério Poli – Diretor no Brasil e responsável técnico editorial da coleção Endereço: multitarefa@terra.com.br DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – VENDA PROIBIDA 2003 Cultivo de ostras – 3 1. Introdução Este manual foi feito para ajudar pessoas que que- rem iniciar uma produção de ostras ou que já estão pro- duzindo, mas que com alguma orientação, podem me- lhorar seu negócio. Quando as pessoas que estudam ostras, por exemplo, se encontram com produtores podem trocar informações e aprimorar seu trabalho. Todos sempre acabam ganhando, ensinan- do e aprendendo. Este manual não tem intenção de ensinar ou de falar de tudo, mas pode ajudar estas pessoas a acha- rem um melhor caminho. Espécies Ostras são moluscos bivalves que pertencem ao Phillum Mollusca e à Clas- se Bivalvia. As duas espécies mais encontradas no Brasil são a Crassostrea rhizophorae e a Crassostrea gigas. 4 – Manuais BMLP de maricultura A Crassostrea rhizophorae, ou ostra nativa, também é chamada por alguns de Crassostrea brasiliana. Normal- mente, vive nas águas de manguezais ou em regiões estu- arinas. Estes locais se caracterizam por terem águas com baixa salinidade e são conhecidas como águas salobras. A outra espécie é a ostra do Pacífico, também conhe- cida como ostra japonesa, cientificamente denominada Crassostrea gigas. Estas ostras, apesar de serem originári- as de lugares mais frios, adaptaram-se muito bem às águas frias do litoral catarinense. As ostras possuem duas valvas, ou duas conchas, sen- do que as ostras de boa aparência devem ter um lado côn- cavo, enquanto o outro lado é bem plano. Estas característi- cas dizem que uma ostra foi criada com o manejo correto, provém de boas sementes e teve espaço suficiente para cres- cer. Elas possuem também um músculo muito forte, chama- do de adutor, que mantém as valvas fechadas e protegidas contra qualquer ameaça externa. As ostras são animais filtradores e costumam manter parte das suas valvas ligeiramente abertas, por onde entra a água com a sua alimentação. Nestas horas, o músculo fica relaxado, mas, ao menor sinal de perigo, se contrai, fechando as valvas fortemente. Uma mesma espécie de ostra pode viver em muitos ambientes tais como baías, estuários, rios, enseadas e mar aberto. Ostra nativa Ostra do Pacífico Cultivo de ostras – 5 Ciclo de vida Durante a sua vida, a ostra pode ser fêmea e depois ma- cho, e ir se alternando entre ser macho e fêmea, até o dia de sua morte. As ostras jovens são, na maioria, machos. Depois da primeira desova elas poderão ser tanto machos quanto fêmeas. Geralmente ostras mais velhas (ou adultas) são fê- meas, mas elas podem trocar de sexo mais ou menos aleato- riamente, dependendo das condições de alimento, etc. Uma boa parte delas são hermafroditas. Boas condições ambien- tais fazem mais fêmeas. Nas épocas de reprodução, a fecundação se dá no meio ambiente. A reprodução é externa, pois acontece na água. Nesta ocasião, uma ostra inicia a liberação dos ovócitos ou esperma na água. Isto faz com que todas as ostras que estejam próximas formando o “banco de ostras” iniciem o processo simultâneo de desova. A desova de apenas uma ostra funciona como uma espécie de gatilho que dispara o aviso de que é a hora de se reproduzirem. Da fecundação nasce uma larva que é livre e nada cons- tantemente no plâncton. Fica neste estágio uns vinte dias, dependendo da temperatura da água, passando por diferen- tes fases de vida denominadas de véliger e pedivéliger, quan- do então se forma umpé com o qual ela busca, tateando, um substrato onde se fixar. Aí viverá para sempre, se esta fixa- ção ocorrer no meio ambiente e de forma natural. Véliger: segunda fase da larva, quando começa a apresentar uma conchinha em forma de “D”. Pedivéliger: estágio larval no qual o pé fica ativo na busca de local para a fixação 6 – Manuais BMLP de maricultura 2. Seleção do local As ostras se desenvolvem bem em diversos ambientes costeiros, mas deve-se considerar alguns fatores que po- dem limitar seu cultivo. Os mais importantes são a tecno- logia de cultivo e a poluição ambiental. Além destes, quan- do se escolhe um local para criar ostras, deve-se também estar atento para outros fatores enumerados a seguir: Aspectos legais Toda atividade que usa recursos naturais, como o mar por exemplo, deve seguir a lei. Existem algumas orientações obrigatórias para que a atividade cresça, mas não prejudique o meio ambiente e as pessoas da comunidade. São regulamentos federais e estaduais que a organi- zam e que devem ser seguidos pelo produtor. No estado de Santa Catarina, por exemplo, o órgão responsável pela licença ambiental da atividade é a FATMA (Fundação Estadual do Meio Ambiente) da Secreta- ria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambien- Licença ambiental: autorização de órgãos ambientais do governo para a extração de recursos naturais. Cultivo de ostras – 7 te. Em outros estados deve-se procurar a Secretaria da Agri- cultura ou o serviço de extensão local. Em Santa Catarina, para conseguir esta licença são necessários vários documentos, mas o órgão que ajuda e orienta o produtor é a Epagri. Antes de pagar por qual- quer serviço de regularização de sua área consulte um técnico da Epagri. Salinidade Existem ambientes junto à costa cuja salinidade va- ria bastante, de zero a 35‰, resultado dos regimes de chuvas e marés. Os locais mais variáveis geralmente fi- cam próximos a desembocadura de rios. A salinidade é mais instável em lagoas costeiras e baías, porém em ambi- entes de mar aberto ela é mais estável. A ostra do Pacífico cresce e se desenvolve muito bem em ambientes com salinidade de 18 a 32‰. Quando a salinidade varia um pouco acima ou um pouco abaixo destes valores, ela também sobrevive, porém seu cresci- mento é afetado, ficando mais lento. Deve-se ter bastan- te cuidado ao escolher locais próximos a rios e mangue- zais, onde a salinidade pode permanecer próxima a zero por longos períodos, por causa das chuvas torrenciais, causando mortalidade. 8 – Manuais BMLP de maricultura Produtividade primária As ostras se alimentam filtrando a água e capturando organismos microscópicos: fitoplâncton, que são micro- algas, zooplâncton, que são os protozoários e ainda partí- culas orgânicas, ou detritos, todos eles espalhados no am- biente marinho. Chama-se de produtividade primária essa oferta de alimento existente no ambiente. Os ventos e as correntes levantam sedimentos do fundo e movimentam as águas. Estes nutrientes servem como adubo aos micro- organismos, que, por sua vez, servirão de alimento às os- tras. As microalgas são os alimentos mais importantes para os moluscos. Para medir a produtividade de um local, ve- rifica-se a quantidade de “clorofila a”, ou a quantidade de biomassa fitoplântica num certo volume de água. Mas, sabe-se, com certeza, que os locais mais ricos são as regi- ões costeiras, principalmente onde existem rios. Clorofila a: é uma das pigmentações do fitoplâncton e existe em todos os organismos fotossintetizantes. Biomassa fitoplântica: conjunto de seres vivos composto por organismos autótrofos clorofilados que representam importante papel na cadeia alimentar do meio aquático. Cultivo de ostras – 9 Temperatura da água Como a temperatura da água influencia no metabolis- mo das ostras e a ostra do Pacífico é originária de um clima temperado, mais frio, ela cresce melhor no inverno. A tem- peratura ideal, portanto, é de 14,5 °C. Durante o verão, quan- do a temperatura sobe até 28°C estas ostras diminuem ou interrompem seu crescimento, podendo, às vezes, morrer. Condições de fundo Deve-se observar se o local tem fundo lodoso, pois alia- do a outras condições, pode causar mortalidade de verão. Poluição A poluição é um fator muito importante e que deter- mina a qualidade final do produto. Há leis no Brasil que regulamentam sobre áreas próprias para cultivo. Assim, antes de iniciar o cultivo, o produtor deve ter certeza de que o local escolhido é apropriado. Um local pode ser po- luído por esgotos, áreas industriais despejando metais pe- sados, óleo de barcos ou navios, substâncias tóxicas e ain- da, pesticidas agrícolas usados em agricultura e que, com as chuvas, correm para o mar. As conseqüências destes fatores são muito prejudiciais à saúde humana. 10 – Manuais BMLP de maricultura Marés vermelhas As marés vermelhas consistem num processo de re- produção descontrolada de microorganismos marinhos de natureza planctônica, cuja atividade metabólica descar- rega na água do mar grande quantidade de tóxicos res- ponsáveis por considerável mortandade de peixes e ou- tros organismos aquáticos. Durante o fenômeno, a água do mar assume uma coloração, às vezes, avermelhada que justifica o nome da manifestação: maré vermelha. Os moluscos, ao se alimentarem desses organismos acumulam em seus tecidos altas taxas de toxinas que não lhes causam mal. Mas, o homem, ao ingerir estes molus- cos contaminados, pode sofrer sérios riscos de saúde. Renovação da água Locais com pouca renovação ou circulação de água podem trazer como conseqüência falta de alimento para os moluscos. Ação de ventos, ondas e correntes marinhas Estes agentes ou forças da nature- za quando em excesso, podem inviabi- lizar um local para cultivo. Portanto, ao fazer a seleção do local para o futuro Cultivo de ostras – 11 cultivo, deve-se dar preferência a locais abrigados de ventos, ondas e correntes marinhas onde os moluscos podem se desenvolver adequadamente e as estruturas possam suportar por longo tempo. Áreas de navegação marítima Locais com muita movimentação de barcos, além de prejudicar os cultivos, são descartados por estarem proi- bidos pela legislação. Proximidade aos grandes centros urbanos Instalar o cultivo próximo a cidades maiores pode auxiliar ao produtor a vender seu produto mais facilmen- te e pagar menos pelo transporte. No entanto, ao fazer esta escolha deve-se ter em mente que, justamente, os locais mais populosos podem ter maior quantidade de águas po- luídas. Áreas de pesca Existem áreas no litoral que são pro- pícias e liberadas para a pesca. Estes lo- cais devem ser evitados para cultivo. 12 – Manuais BMLP de maricultura 3. Obtenção de sementes Em laboratório Para o cultivo de ostras que não são nativas de uma região, como é o caso da Ostra do Pacífico, é necessário obtê-las, comprando as sementes em algum lugar que ga- ranta sua procedência. O laboratório é o local onde se in- duz a reprodução das ostras artificialmente para obter se- mentes. Em Santa Catarina, o Laboratório de Cultivo de Moluscos Marinhos, da Universidade Federal de Santa Catarina, situado na Barra da Lagoa, em Florianópolis, pro- duz e vende sementes de ostras aos produto- res, com alto padrão de qualidade. Em outros estados, procure o serviço de extensão local. Com coletores A ostra nativa vive normalmente em man- guezais e em rios que desembocam no mar. As sementes são encontradas facilmente aderidas às raízes da árvores dos mangues. Estas forma- Coletores de conchas Cultivo de ostras – 13 ções recebem denominações específicas: por exemplo,na Bahia, são chamadas de quizambas. Até algum tempo atrás os produtores de ostra nativa costumavam simplesmente coletar estas sementes e colocar nas lanternas para engorda. Com o passar do tempo, as ostras começa- ram a se reproduzir ao redor do cultivo e os produ- tores iniciaram experimentos com diversos tipos de coletores. Podem ser usados colares de conchas de ostras, pedaços de cordas, pedaços de bambu, garrafas plás- ticas tipo “pet”, enfim, qualquer material barato, de fácil acesso, não tóxico, pode ser usado para que as sementes fiquem aderidas. Quizamba Coletores “PET” 14 – Manuais BMLP de maricultura Assentamento remoto Uma outra opção é utilizar o assentamento remoto, que é uma técnica amplamente utilizada no exterior para redu- zir os custos de produção de ostras. Em lugar de comprar sementes de ostras, os produtores adquirem as larvas ain- da no estágio de larva olhada e induzem seu assentamento em suas próprias instalações de cultivo. Diferentes metodologias são usadas neste processo. Al- guns produtores fazem a fixação das larvas olhadas em con- chas de ostras velhas, acondicionadas ou não em bolsas fei- tas com redes. Outra maneira é o assentamento em pó de concha, no qual, depois das larvas olhadas assentadas, fi- cam em locais próprios (upwellers) recebendo alimentação até atingirem 500 µ. Depois de fixadas, são levadas para o local de cultivo e ali completam seu crescimento. Podem ser utilizados, como berçários, já no mar, as redes berçários ou os baldes flutuantes. A técnica dos bal- des flutuantes (“bouncing buckets”), consiste na utilização de baldes de plástico de 20 litros, adaptados, substituindo- se o fundo por telas de 500 µ ou 1.000 µ. Na parte superior são colocados discos de isopor com espessura de 5 cm para fazer a flutuação. Nestes baldes são colocadas as sementes menores que 2,0 Hd e a sua construção permite que haja uma circulação vertical da água (upweller) e evita a sedi- mentação e compactação das ostras no fundo. Larva olhada: quando atinge a idade aproximada de 15 dias, a larva da ostra do Pacífico mede em torno de 300 µ e apresenta um ocelo, ou olho. O surgimento desse órgão indica que o assentamento está próximo. Assentamento remoto Baldes flutuantes Cultivo de ostras – 15 4. Sistemas de cultivo Existem vários sistemas que possibi- litam o cultivo produtivo de ostras. Al- guns deles, ao longo do tempo, demons- traram maior índice de produtividade, vantagens, baixo custo, etc. À medida que o produtor se familiariza com o cultivo, pode e deve experimentar melho-rias e aperfeiçoamentos que sejam vantajosos para seu negócio. Os sistemas podem ser de fundo e suspensos. Os cultivos sus- pensos podem ser fixos (mesa) e flutu- antes (espinhel – long-line – e balsa). Existem vários equipamentos usados para engordar as ostras e que ficam presos às estruturas de cultivo. Eles podem ser lanter- nas, travesseiros, caixas, bandejas, etc. Lanterna Bandeja Travesseiro Caixa 16 – Manuais BMLP de maricultura Cu lti vo d e fu nd o Es pi nh el (l on g- lin e) Ba lsa M es a Cultivo de ostras – 17 Ti po s de c ul tiv o Ti po D es cr iç ão Pr of un di da de M at er ia l Pa ís es Va nt ag en s D es va nt ag en s C ul tiv o de fu nd o Es pa lh am -s e as s em en te s so lta s ou em c es to s no le ito m ar in ho . A co lh ei ta p od e se r m an ua l ( em re gi õe s co m v ar ia çã o de m ar és ) o u co m d ra ga s em m ai or pr of un di da de . N ão e sp ec ifi ca da , de sd e qu e o fu nd o se ja fi rm e C es to s pa ra o c ul tiv o e dr ag as p ar a co lh ei ta e m al gu ns lo ca is Eu ro pa e A m ér ic a do N or te Vi áv el e m lo ca is co m fu nd o fir m e, ba ix íss im o cu st o É ne ce ss ár io q ue o fu nd o nã o te nh a lo do , se ja a br ig ad o de co rr en te s, o nd as d e to rm en ta s e nã o oc or ra m p re da do re s. É ne ce ss ár io o u so d e dr ag as n a co lh ei ta . C ul tiv o su sp en so flu tu an te : es pi nh el o u lo ng -li ne U m c ab o pr in ci pa l p re so a flu tu ad or es (b ói as ) e a nc or ad o no fu nd o po r m ei o de â nc or as . N es te ca bo s ão p re sa s as la nt er na s co nt en do a s os tra s (e m a lg um as re gi õe s us am -s e ca ix as , p ea rl ne ts , co la re s, b an de ja s ou tr av es se iro s) M ín im a de 3 m et ro s na m ar é m ai s ba ix a. C ab os d e at é 10 0 m et ro s, b ói as p lá st ic as , la nt er na s ou c ai xa s, ân co ra s Br as il, C hi le e Ja pã o Pe rm ite o c ul tiv o em r eg iõ es m ai s ab er ta s e pr of un da s, su je ita s a m ai or es fo rç as , b aí as e en se ad as e e m m ar ab er to . Pr of un di da de d e no m ín im o 3 m et ro s na m ar é ba ix a. C ul tiv o su sp en so flu tu an te : ba ls a C on ju nt o de b ói as e a rm aç ão d e m ad ei ra m an tid o so br e a su pe rfí ci e, an co ra da p or u m a qu an tid ad e m ín im a de c ab o eq ui va le nt e a 3 ve ze s a pr of un di da de d o lo ca l. Su pe rio r a 3 m et ro s na m ar é m ai s ba ix a Bó ia s e ar m aç ão d e m ad ei ra , p oi ta s, la nt er na s. C hi le , B ra sil Ár ea s ab rig ad as , s em on du la çõ es C ul tiv o su sp en so fix o: m es a C on ju nt o de e st ac as o u po st es cr av ad os n o le ito d a ág ua e li ga do s en tre s i p or m ad ei ra , p ar a m an te r as la nt er na s co m o st ra s su sp en sa s no vo lu m e dá gu a. A té 3 m et ro s Es ta ca s ou p os te s, m ad ei ra , b am bu , el ás tic o, c an o de p vc , la nt er na s Ex pl or ar á re as d e va ria çã o de m ar é Lo ca is ab rig ad os , fu nd o ar en os o ou ar en o- lo do so 18 – Manuais BMLP de maricultura 5. Manutenção do cultivo Manejo O manejo de um cultivo de ostras é simples, desde que sejam seguidos alguns procedimentos básicos. O produtor pode aprimorar, com o passar do tempo, a téc- nica empregada e osequipamentos usados no cultivo, à medida em que ele próprio vê como pode melhorar seu trabalho. O material usado deve ter um baixo custo, ser durável e fácil de usar. Primeira fase – manejo das sementes As sementes que vão para o mar nas estruturas, geralmente têm um tamanho entre 7 e 10 mm de al- tura, por isso a malha destas estruturas não deve ser maior que 1 mm. Nesta etapa, podem ser usadas cai- xas monoblocos vazadas, revestidas com tela de mos- quiteiro ou lanternas feitas com malhas utilizadas na confecção de bonés (geralmente um material barato e Cultivo de ostras – 19 fácil de ser encontrado no mercado). Estas são as lan- ternas-berçário. Ainda são usadas caixas de madeira com o fun- do e a tampa de tela de mosquiteiro, mas não são nem duráveis nem confiáveis. O máximo cuidado deve ser tomado nesta fase, quando, em geral, colo- cam-se muitas sementes num só recipiente. Segunda fase – juvenis Quando as sementes estão quase com 4 cm são chamadas de juvenis. Separam-se as sementes utili- zando peneiras com uma malha superior àquela que vai ser usada nos petrechos de cultivo. Este é um procedimento que previne a perda de sementes. Agora também poderão ser usadas caixas monoblocos vazadas revestidas com malhas plásti- cas de 9mm ou lanternas com malhas de 5 mm entrenós, chamadas lanternas interme- diárias. Nesta fase cada os- tra precisa de mais espaço para crescer. Por isso, deve- se cuidar ao colocar a quantidade adequada de os- tras por andar da lanterna. 20 – Manuais BMLP de maricultura Terceira fase – terminação ou engorda Quando as ostras atingem 6 cm, passam para esta fase, que será a última antes da venda. A malha usa- da é de 8 mm entrenós. A observação semanal das condições das lanter- nas e do crescimento das ostras é fundamental neste período. Deve-se ter cuidado principalmente com a presença de organismos vivos indesejáveis e ainda com o acúmulo de lodo na malha, o que impede a circulação da água. Sem a observação constante do produtor, podem se acumular vários problemas, como ataque de predadores e de or- ganismos incrustantes que impe- dem o desenvolvimento das ostras e podem até levá-las à morte. Nesta fase, atualmente, para uma limpeza efetiva das ostras e das lanternas são utilizadas as bombas de limpeza, um hidro-compressor ou moto-bomba. Em locais onde não é possível usar estes equipamentos, deve-se fazer a raspagem manual. As lanternas são deixadas ao ar, para secagem, eliminação e morte dos organismos indesejáveis, facilitando em segui- da a raspagem. Cultivo de ostras – 21 Organismos incrustantes, predadores e parasitas Conjunto de organismos que se fixam nas estruturas que permanecem na água por algum tempo. Estes orga- nismos podem se fixar em barcos, bóias, trapiches, nas estruturas de cultivo de ostras, como os flutuadores, bom- bonas, lanternas, caixas, cordas, cabos, etc. A conseqüência destes organismos para o cultivo de ostras é que eles competem por espaço, por alimento e aumentam bastante o peso das lanternas, por exemplo, dificultando o seu manejo. A presença destes organismos limita severamente ou impossibilita o cultivo, já que o seu combate, além de tra- balhoso aumenta os custos para o produtor. Como parte destes organismos pode-se citar, entre ou- tros as ostras nativas, a craca, briozoários e o mijacão. É importante para o produtor identificar os períodos de fixa- ção de cada espécie para poder combatê-los. Alguns méto- dos de controle eficientes nestes casos são a exposição ao ar livre, ao sol, a imersão em água doce e ainda, em alguns casos mais severos, a remoção mecânica, com raspagem, atrito com o uso de rolo e limpeza com jato d’água. 22 – Manuais BMLP de maricultura Predadores São considerados predadores todos os seres que ata- cam e matam outros com a finalidade de devorá-los. Planária São vermes achatados, bentônicos, que se alimen- tam da carne de outros animais. Costumam atacar ostras pequenas e dificilmente atacam ostras adul- tas e saudáveis. Para liquidá-las, basta imergir as lan- ternas por 20 minutos em água doce, procedimento suportável pelas ostras sem prejuízo. Caramujo peludo É um predador chamado cientificamente de Cy- matium parthenopeum cuja fêmea deposita cápsu- las de ovos sobre o substrato. Após alguns dias, li- bera as larvas que sobrevivem durante longo tem- po no plâncton até a metamorfose, que ocorre den- tro da presa, quando dá forma ao pequeno caramu- jo que come toda a ostra. A única forma de removê- lo é manualmente. Cultivo de ostras – 23 Caramujo liso Responsável pela morte de milhares de ostras nos Estados Unidos, o caramujo Thais haemastoma não mata grandes quantidades em Santa Catarina, por exemplo. Desenvolve-se de maneira semelhante ao caramujo peludo, mas a predação ocorre de duas ma- neiras diferentes: perfurando a concha da ostra com uma substância que a desmineraliza e com o pé, for- çando a abertura das valvas. A maneira utilizada para destruí-lo é a catação manual e recomenda-se exposi- ção ao ar ou imersão das lanternas em água doce. Caranguejos e siris São os crustáceos decápodes, bentônicos, que se escondem em tocas de pedras ou ficam enterrados no fundo do mar. Eles nadam até as lanternas ou caixas penduradas e com suas garras podem cortar e esmagar as ostras, princi- palmente as menores. Para controlar seu ataque, sugere-se captura com armadi- lhas e iscas e ainda envolver as lanter- nas com uma tela plástica, do tipo sombrea- mento, com 9 milímetros de abertura de malha. Caramujinho São ectoparasitas de ostras que se alimentam do fluído do corpo dos hospedeiros ocasionando danos 24 – Manuais BMLP de maricultura na borda do manto, o que resulta em deformações nas conchas. O seu controle pode ser feito pela lava- ção e peneiramento semanal das sementes. Outros animais predadores Peixes, como o miraguaia e o baiacu, estrela-do- mar, aves e a lontra. Parasitas Chama-se parasita uma espécie que se instala no cor- po de outra, dela retirando material para sua nutrição e causando-lhe, em conseqüência, danos de gravidade va- riável. Os parasitas provocam doenças que, muitas vezes, levam o indivíduo parasitado à morte. A presença destes organismos limita severamente ou impossibilita o cultivo, já que o seu combate, além de tra- balhoso aumenta os custos para o produtor. Broca-de-ostra Este mitilídeo escava as conchas dos moluscos e à medida que cresce, pode levar as ostras à morte. Não existem estratégias de controle eficientes. Cultivo de ostras – 25 Polidora É um poliqueta que com a formação de tubos e galerias enfraquece as conchas dos moluscos. Cau- sa grande prejuízo na aparência das ostras e de- precia o produto para o mercado. O seu controle pode ser feito pela exposição ao sol, ao ar e trans- ferência para locais com menor quantidade de ma- teriais suspensos na água e, ainda, a imersão das ostras em água doce. Doenças Mortalidade em massa de verão Três fatores combinados ocasionam um fenôme- no muito prejudicial às ostras: ambientes com alta produtividade primária, alta temperatura e fundo lo- doso, causam a morte em massa das ostras, a cha- mada “mortalidade em massa de verão”. O produtor deve estar atento para estas características do local e observar se há grandes perdas durante o verão numa certa região. A melhor solução é vender toda a pro- dução antes que isto aconteça ou restringir a época de cultivo até dezembro, não entrando no verão. 26 – Manuais BMLP de maricultura 6. Colheita A colheita da Ostra do Pacífico pode ser feita a par- tirdo sexto mês de cultivo quando ela atinge o tamanho comercial, de 8 cm de comprimento. Além do tamanho comercial, as ostras deverão estar “gordas” e com o sabor “adocicado”, características muito apreciadas entre os consumidores mais exigentes. Depois de colhidas, as ostras devem ser bem lava- das, de preferência com jato de água forte (hidro-com- Cultivo de ostras – 27 pressor ou moto-bomba) e escovadas para remoção de toda lama e dos organismos incrustantes. Embora as os- tras resistam muito bem fora d’água por até sete dias, recomenda-se o transporte em caminhões ou pick-ups isotérmicos (5 a 15° C) evitando a exposição direta ao sol. Também podem ser acondicionadas em caixas de isopor, com gelo cobrindo as ostras. Para se- rem comercializadas em outros estados, as os- tras devem ter certificado de inspeção sanitária (SIF-Serviço de Inspeção Federal) emitido pelo Serviço de Inspeção de Produto Animal (SER- PA) do Ministério da Agricultura. Manejo A higiene é muito importante quando se lida com ostras ou outro tipo de alimento. As regras básicas para manuseá-los são: manusear rapidamente manter frio manter limpo As pessoas envolvidas no manejo das ostras devem observar sempre: Lavar as mãos antes e depois de cada interrupção do trabalho, depois de usar o banheiro e depois de mexer em materiais contaminados. 28 – Manuais BMLP de maricultura Usar aventais limpos, botas e proteção para os cabelos. Manter as unhas curtas, limpas e sem esmalte. Manter os cabelos limpos e presos. Evitar o uso de objetos de adorno, como pulseiras, anéis, aliança, relógios e colares. Evitar atos não higiênicos como: tossir sobre alimentos, secar o suor com as mãos, coçar a cabeça, introduzir dedos na orelha, nariz e boca. Transporte O transporte das ostras para comercialização deve ser feito rapidamente, se possível utilizando veículos com re- frigeração. Deve-se evitar expô-las ao sol e procurar utili- zar embalagens adequadas, se for o caso. Cultivo de ostras – 29 7. Desenvolvimento de um plano de negócio O maricultor não precisa de um curso de administra- ção para cuidar do seu negócio. Mas precisa saber quanto gasta com seu cultivo para, no final do processo, quando vender o produto, calcular o seu lucro. Basicamente, deve anotar todas as despesas que tem com o cultivo criando, por exemplo, um caderno de apon- tamentos, guardando as notas fiscais. Existem algumas despesas básicas que relacionamos abaixo para lembrar: Primeiro ano MATERIAL QUANT. VALOR UNITÁRIO EM REAIS VALOR TOTAL EM REAIS Bombonas plásticas 50 2,00 100,00 Lanternas 200 10,00 2.000,00 Corda nylon 22mm 120m 1,00 120,00 Corda nylon 6mm 600m 0,20 120,00 Poitas de cimento 250kg 2 20,00 40,00 Barco de 4,5m 1 1.200,00 1.200,00 Motor de 8 Hp 1 1.800,00 1.800,00 Sementes 200 mil 2.400,00 Raspadeira, caixa plástica, luvas, sacos, malha, etc – 50,00 TOTAL – 7.830,00 30 – Manuais BMLP de maricultura DESCRIÇÃO QUANT./VALOR Produção estimada aproxim. 6.000 dz Preço médio por dúzia 3,50 Ganhos 21.000,00 Gastos 7.830,00 Lucro na safra 13.170,00 MATERIAL QUANT. VALOR UNITÁRIO EM REAIS VALOR TOTAL EM REAIS Sementes 200 mil 2.400,00 Raspadeira, caixa plástica, luvas, sacos, malha, etc – 50,00 TOTAL – 2.450,00 DESCRIÇÃO QUANT./VALOR Produção estimada aproxim. 6.000 dz Preço médio por dúzia 3,50 Ganhos 21.000,00 Gastos 2.450,00 Lucro na 2a safra 18.550,00 Lembre-se que só dá uma safra a cada seis meses: R$ 13.170,00 ÷ 6 = R$ 2.195,00 (lucro mensal) Lembre-se que só dá uma safra a cada seis meses: R$ 18.550,00 ÷ 6 = R$ 3.091,00 (lucro mensal) Segundo ano Embora este manual tenha procurado explicar deta- lhadamente os vários passos de um cultivo, não deixe de procurar ajuda técnica especializada. E boa sorte.
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