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resumo pancreatite em cães

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XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 
27 de outubro à 01 de novembro de 2014 
Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade 
dos seus autores 
 
 
PANCREATITE EM CÃES 
 
BÁRBARA DE ANDRADE ALVES1, RODRIGO MARTINS PIMENTEL DA SILVA2, LETÍCIA 
ATHAYDE REBELLO CARVALHO3, RHADANNA TONETTI BOTELHO4, CARLOS ARTUR 
LOPES LEITE5 
 
RESUMO: A pancreatite é uma síndrome inflamatória do pâncreas que, independente da 
apresentação (aguda ou crônica), possui inúmeras causas possíveis. Isso faz com que o diagnóstico 
seja complexo e dependa de exames complementares para se chegar a uma resposta definitiva, que irá 
definir os possíveis tratamentos e o prognóstico do animal. A melhor forma de se diagnosticar o 
paciente se dá por meio do exame histopatológico, embora não haja, atualmente, um exame 
considerado padrão-ouro para isso. Um diagnóstico precoce, no entanto, é fundamental nos casos de 
pancreatite para garantir a implementação de medidas que melhorem o bem-estar do animal, embora 
nos casos crônicos, o tratamento, que é sintomático, não traga um prognóstico favorável ao paciente. 
Palavras-chave: Pâncreas, Pancreatite, Sistema gastrintestinal. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A pancreatite consiste em um distúrbio na ativação de proteases pancreáticas, em especial a 
tripsina, cuja molécula predecessora, o tripsinogênio, em condições normais, é secretada pelo pâncreas 
e ativada quando chega ao duodeno pela enteroquinase presente no suco intestinal (GUYTON; HALL, 
2006). Entretanto, na pancreatite, ela é ativada ainda no órgão, causando inflamação e destruição do 
parênquima da glândula e estruturas adjacentes, além de ativar outras enzimas, que contribuem para o 
processo. 
Em cães, a doença ocorre, geralmente, em animais mais velhos ou, ainda, naqueles que 
passaram por traumatismos desencadeantes do processo inflamatório. A etiologia é multifatorial, 
difíceis de serem definidas e, consequentemente, evitadas. Em função disso, o conhecimento da 
patogenia da doença é fundamental para o diagnóstico precoce e o estabelecimento de um protocolo de 
tratamento eficaz (MANSFIELD, 2012). 
No presente trabalho se objetivou realizar uma revisão dos principais pontos referentes à 
pancreatite aguda e crônica em cães. 
 
REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Morfologia e fisiologia pancreáticas 
O pâncreas é uma glândula túbulo-alveolar localizada próxima ao duodeno. Suas células 
podem ser divididas, tanto morfológica quanto fisiologicamente, em porção endócrina e porção 
exócrina. A porção endócrina é constituída pelas ilhotas de Langherhans, que por sua vez são 
formadas basicamente por células alfa, beta, delta e células PP, produtoras de glucagon, insulina, 
somatostatina e polipeptídeo pancreático, respectivamente. Já a porção exócrina, que compõe a maior 
 
1 Graduanda do 6º período do curso de Medicina Veterinária, DMV-Universidade Federal de Lavras (balves@veterinaria.ufla.br). 
2 Pós-graduando em Ciências Veterinárias, DMV-Universidade Federal de Lavras (rodrigomps88@hotmail.com). 
3 Mestranda em Ciências Veterinárias, DMV-Universidade Federal de Lavras (leticiaarc@yahoo.com.br). 
4 Graduanda do 6º período do curso de Medicina Veterinária, DMV-Universidade Federal de Lavras (rhadanna@veterinaria.ufla.br). 
5 Professor Adjunto, DMV-Universidade Federal de Lavras (caca@dmv.ufla.br). 
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parte do pâncreas, é formada por ácinos compostos e células secretoras. A secreção proveniente destas 
células possuem diversas enzimas que participam da digestão de lipídios, proteínas e carboidratos 
dietéticos, além de eletrólitos, que são fundamentais para a manutenção do pH intestinal (GUYTON; 
HALL, 2006). 
As enzimas produzidas no pâncreas são secretadas em sua forma inativa (proenzimas) e 
ativadas quando chegam ao seu sítio de ação, o duodeno proximal. No animal normal, a secreção 
pancreática é estimulada quando há alimento (preenchimento do estômago) e mais intensamente pela 
presença de gordura e proteína no interior do intestino delgado (GUYTON; HALL, 2006). 
 
Etiologia 
Muitas são as causas que podem ser associadas ao surgimento da pancreatite, dentre elas 
obesidade e consumo de dietas ricas em gorduras; hiperlipoproteinemia; isquemia pancreática; terapia 
com corticosteroides ou hiperadrenocorticismo; refluxo do conteúdo duodenal no ducto biliar; 
hipercalcemia; neoplasias pancreáticas; traumatismo ou cirurgia abdominal; infecção ascendente por 
bactérias intestinais; obstrução do ducto pancreático; fármacos tóxicos ao pâncreas; ou ainda, de fundo 
idiopático (MARCATO, 2010). 
 
Patogenia 
Na pancreatite, a liberação de proteases nos ácinos pancreáticos causa destruição dos mesmos 
e das células parenquimais, além de incitar o início da cascata de aminas vasoativas. Essa liberação 
começa com a ativação da tripsina, que pode se dar pela proximidade de grânulos de zimogênio com 
vesículas lisossomais, que se fundem, ativando o zimogênio em tripsina e desencadeiando a ativação 
de outras enzimas pancreáticas (MANSFIELD, 2012). 
A pancreatite é, portanto, uma alteração do pâncreas exócrino, mas que pode originar, se as 
enzimas atingirem as ilhotas de Langerhans de forma extensa, distúrbios do pâncreas endócrino, como 
o diabete melito, o insulinoma e o gastrinoma (BUNCH, 2006; NELSON, 2006). Quadros graves de 
pancreatite podem levar a efeitos sistêmicos variados, como necrose hepática, edema pulmonar, 
degeneração tubular renal, hipotensão, cardiomiopatia e coagulação intravascular disseminada - CID 
(BUNCH, 2006). 
A síndrome pode apresentar dois cursos clínicos: agudo e crônico. Na pancreatite aguda, a 
ativação de tripsina no parênquima pancreático, por si só, além da destruição do tecido, resulta na 
migração de neutrófilos para a região afetada e instauração de inflamação aguda (MANSFIELD, 
2012). O processo, geralmente, é autolimitante, pois as células que estão liberando tripsina acabam 
sendo destruídas no processo inflamatório e este cessa. A pancreatite crônica, por sua vez, não é 
diferenciada da aguda por uma questão temporal (duração e momento em que tem início) e sim pelos 
efeitos causados ao órgão (reversíveis ou não). 
O processo crônico da alteração consiste em inflamação contínua, caracterizada por mudanças 
morfológicas permanentes, que causam dor e perda de função. Histologicamente observa-se fibrose, 
perda gradual de tecido pancreático e infiltrado inflamatório formado por células mononucleares. Isso 
resulta em perda progressiva das funções exócrina e endócrina, o que pode levar ao surgimento de 
insuficiência pancreática exócrina e diabete melito em cães senis (WATSON, 2012). 
 
Sinais Clínicos 
Na pancreatite aguda, os cães normalmente apresentam anorexia repentina, depressão, dor 
abdominal e vômito. Esses sinais variam muito de acordo com a gravidade e estágio da pancreatite e, 
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também, com o grau de desidratação que pode estar presente. Animais gravemente afetados podem 
apresentar taquicardia, taquipneia, tempo de reperfusão capilar aumentado, hipotermia e mucosas 
ressecadas (MARCATO, 2011). 
Ainda segundo Marcato (2011), o cão acometido pode apresentar, também, insuficiência renal 
aguda, decorrente da hipovolemia e isquemia resultantes do vômito, assim como CID, pelos mesmos 
motivos. Danos ao pulmão também podem se desenvolver,
assim como a ocorrência paralela de 
cetoacidose oriunda de diabete melito, que é apontada como possível causa para ativação da tripsina e, 
consequente, necrose das células acinares (ao contrário do que se pensa ser a inflamação o motivo da 
destruição dessas células) (MANSFIELD, 2012). 
Já na pancreatite crônica, observam-se sinais gastrintestinais discretos e intermitentes, 
obstrução biliar extra-hepática e crises de cetoacidose aguda relacionadas à diabete melito, sem 
suspeitas prévias da síndrome (MARCATO, 2010). 
Outros sinais que levam à suspeita de pancreatite crônica são sequência de anorexia, vômito e 
diarreia tardia; dor pós-prandial acompanhada de aversão a certos alimentos, sem outros sinais 
gastrintestinais; apresentações pontuais e recorrentes de sinais típicos de pancreatite aguda; 
desenvolvimento de diabete melito em cães senis e de raças com predisposição ao aparecimento dessa 
alteração endócrina; insuficiência hepática em cães mais velhos; e lombalgia (WATSON, 2012). 
 
Diagnóstico 
O diagnóstico de pancreatite em cães é complexo. Ele pode ser feito com base no histórico do 
animal e no exame físico, mas, em função dos sinais clínicos não serem muito específicos e do vasto 
número de fatores desencadeantes da doença, é fundamental recorrer aos exames complementares 
(DOSSIN, 2011). 
Ainda conforme Dossin (2011), os principais testes laboratoriais usados são mensuração das 
atividades de amilase e lipase séricas e mensuração da concentração de lipase pancreática, embora 
esses não sejam sempre definitivos. 
Adicinalmente, podem ser utilizados exames de imagem (ultrassonografia e radiografia), mas 
o exame considerado, atualmente, como mais próximo do padrão-ouro é o histopatológico, capaz, 
também, de definir se o processo é agudo ou crônico (MARCATO, 2010). 
É necessário, porém, cuidado para não haver confusão com outras doenças pancreáticas, como 
cistos e neoplasias, que também podem ocorrer com danos às células acinares pancreáticas e aumento 
da concentração de enzimas pancreáticas (DOSSIN, 2011). 
 
Tratamento 
O tratamento da pancreatite é basicamente sintomático. Nos quadros agudos preconiza-se a 
fluidoterapia, a administração de antiácidos e antieméticos, além de um manejo nutricional adequado, 
evitando-se o excesso de gorduras. De maneira mais específica, é recomendada corticoterapia, para 
minimizar os efeitos da inflamação (MANSFIELD, 2012). 
Já nos quadros crônicos, além da adaptação nutricional, recomenda-se o uso de analgésicos 
para o controle da dor e, em crises, a fluidoterapia. Na pancreatite crônica, dependendo do grau de 
destruição celular, se faz necessária a reposição de enzimas e hormônios que, porventura, tenham 
deixado de ser produzidos ou estão sendo produzidos em menor escala (nos casos em que há 
desenvolvimento de insuficiência pancreática exócrina ou diabete melito) (WATSON, 2012). Em 
casos extremos, o tratamento pode ser cirúrgico, mas esse não é preconizado, em função do padrão de 
desenvolvimento da doença. 
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Prognóstico 
O prognóstico de animais com pancreatite é, em geral, reservado. No caso da pancreatite 
aguda, a síndrome pode regredir totalmente, mas a definição do prognóstico dependerá das possíveis 
complicações decorrentes da doença, como choques e CID, que tornam o caso mais complicado 
(MARCATO, 2010). 
Os casos crônicos, por outro lado, não apresentam perspectiva de cura, e as medidas tomadas 
visam o bem-estar e prolongamento da vida do animal (WATSON, 2012). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A pancreatite é uma síndrome de difícil diagnóstico em cães, devido ao fato de envolver 
diversos sistemas e apresentar sintomatologia inespecífica. Tal fato normalmente leva o médico 
veterinário a realizar um diagnóstico tardio, afetando, dessa maneira, o prognóstico e a qualidade de 
vida do animal doente. Além disso, os testes diagnósticos utilizados atualmente não apresentam 
sensibilidade e especificidade satisfatórias, levando, muitas vezes, a realização do diagnóstico 
definitivo apenas no exame post-mortem. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BUNCH, S. E. O pâncreas exócrino. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 3. ed. 
São Paulo: Mosby, 2006. p. 533-546. 
DOSSIN, O. Laboratory tests for diagnosis of gastrointestinal and pancreatic diseases. Topics in Companion Animal 
Medicine, v. 26, n. 2, p. 86-97, 2011. 
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. São Paulo: Elsevier, 2006. p. 799-800. 
MANSFIELD, C. Acute pancreatitis in dogs: advances in understanding, diagnostics, and treatment. Topics in Companion 
Animal Medicine, v. 27, p. 123-132, 2012. 
MARCATO, J. A. Pancreatite em cães. 2010. 25 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária) 
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. 
NELSON, R. W. Distúrbios do pâncreas endócrino. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos 
animais. 3. ed. São Paulo: Mosby, 2006. p. 699-743. 
WATSON, P. Chronic pancreatitis in dogs. Topics in Companion Animal Medicine, v. 27, p. 133-139, 2012.

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