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3.Direito Civil Sujeito Juridicos

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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Direito Civil no Brasil 
Compreender a formação do Direito Civil brasileiro e as influências do Direito Romano-
Canônico bem como do Direito Português na legislação civil brasileira. 
O estudo da História do Direito é muito importante, pois: a) permite compreender as 
bases sobre as quais foram construídos os institutos de direito; b) possibilita perceber o 
desenvolvimento da legislação como expressão das forças sociais e políticas de um determinado 
país num determinado período do tempo. 
O Direito Civil no Brasil 
A legislação civil aplicada no Brasil desde o seu descobrimento em 1.500 até o ano de 
1916 quando foi promulgado o Código Civil Brasileiro, era a legislação portuguesa, que ficou 
conhecida como Ordenações do Reino. 
As ordenações representam uma primeira forma de sistematização das regras jurídicas 
que eram conhecidas pelo povo que ocupava o Condado Portucalense, que foi primeiro nome 
de Portugal. As ordenações são, portanto, um conjunto de regras jurídicas que eram expressão 
dos costumes dos povos que habitavam Portugal. 
Foram três as ordenações do Reino de Portugal; cada uma delas tem o nome do Rei que 
mandou compilar e sistematizar as leis vigentes em Portugal, por isso você encontrará 
referências às Ordenações Afonsinas, que foram as ordenações mandadas fazer pelo Rei Dom 
Afonso; as Ordenações Manuelinas, mandadas executar pelo Rei Dom Manuel I e por último, as 
Ordenações Filipinas, realizadas pelo Rei Dom Felipe I, Rei de Portugal e Espanha. 
As ordenações Afonsinas manuscritas no século XIV vigeram até sua substituição pelas 
Ordenações Manuelinas em 1.512 que, por sua vez, estendeu sua vigência até 1.603, quando 
entraram em vigor as Ordenações Filipinas. O sistema legislativo das Ordenações é uma 
expressão do direito medieval, produzido pela Igreja, que não se afastou do direito romano que 
até então era aplicado na Europa. 
É importante você perceber que quando o Brasil foi descoberto em 1.500, as vidas das 
pessoas na colônia era disciplina pelas Ordenações Afonsinas, e depois pelas Ordenações 
Manuelinas e pela Ordenações Filipinas até a entrada em vigência do Código Civil em 1.916. 
Foram mais 300 anos de aplicação de uma legislação estrangeira, mesmo depois de o 
Brasil ter se tornando independente em 1822 e de ter se tornado uma República em 1889, as 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
relações entre as pessoas foi regida por um conjunto normativo marcado por um espírito 
romano-canônico. 
Em razão disso é que se reconhece no Brasil a influência do direito romano e se diz que 
o direito brasileiro tem base romanística, até porque o Código Civil de 1916 não rejeitou a 
herança jurídica portuguesa; ao contrário, o legislador nacional manteve-se fiel à tradição 
românico-canônica que lhe orientara a vida jurídica nacional desde a colônia até a república, 
passando pelo Império. No Brasil, portanto, somente a partir de 1916 é que se produziu em 
território nacional uma legislação tipicamente brasileira. 
 As tentativas de codificação no Brasil 
A Constituição de 1824, a primeira do Brasil independente determinou no seu artigo 179 
fosse desde logo produzido um Código Civil. A Europa deu início ao processo político -legislativo 
de redigir o primeiro Código Civil em 1798; a Prússia o primeiro país a produzir um Código Civil, 
em seguida foi a França em 1804. No entanto, é o Código Civil francês o que mais influenciou 
a codificação fora do espaço geográfico europeu. 
No Brasil, apesar do comando constitucional em 1824, o primeiro projeto de Código Civil 
data de 1858; ele foi elaborado por Augusto Teixeira de Freitas a partir de um trabalho 
preparatório que ele fez em 1855, chamado Consolidação das Leis Civis. Tratava-se da 
compilação organizada e sistematizada de toda a legislação civil em vigor no Brasil. 
O projeto de Teixeira de Freitas foi interrompido; em 1872, assumiu a tarefa de fazer a 
codificação Nabuco de Araújo que foi substituído em 1881 por Felício dos Santos cujo 
Apontamentos para o Projeto de Código Civil Brasileiro não foi aprovado pela Comissão de 
Juristas nomeado pelo Imperador Pedro II. Em 1889, foi nomeada outra comissão, logo em 
seguida dissolvida em razão da Proclamação da República. Em 1890, o primeiro presidente da 
República encarregou Coelho Rodrigues de elaborar um Código Civil, que ficou pronto em 1893, 
mas que não foi aceito pela Comissão de juristas nomeado pelo Governo. 
No governo de Campos Sales, a tarefa de organizar o Projeto do Código Civil foi atribuída 
a Clóvis Beviláquaque conclui seu trabalho em 1898. O projeto foi encaminhado com uma 
Exposição de Motivos, na qual Clovis Beviláqua não apenas observa a importância das 
codificações, mas também traça o percurso o histórico das diversas tentativas de codificação 
do Direito Civil no Brasil. Aprovado pelo Senado o Código Civil foi sancionado pelo Presidente 
da República Wenceslau Braz no dia 1º de Janeiro de 1916, entrando esse em vigor no dia 1º 
de Janeiro de 1917. 
Disso decorre que desde 1.500 até 1916 a legislação civil aplicada no Brasil era a 
portuguesa, apesar da existência de uma ou outra legislação nacional como o Regulamento 
737, de 1850 e o Código Criminal do Império, não havendo propriamente dito uma legislação 
civil brasileiro. 
O Código Civil de 1916 por suas circunstâncias político-econômicas representou mais um 
conjunto de ideias e uma proposta de um país que queria ser do que um retrato da sociedade 
de seu tempo, e, portanto, divorciado de seu aspecto prático, centrando-se na defesa rigorosa 
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dos interesses da elite política nacional como a família, a propriedade, a produção de bens e a 
sucessão hereditária. 
O Código de 1916 foi alvo de vários projetos de reforma, sendo o projeto já no século 
XX, de Orozimbo Nonato em 1940, substituído em 1963, pelo projeto de Orlando Gomes e 
depois em 1969, pelo Projeto Reale, cujo texto final foi aprovado apenas em 1984 e finalmente 
votado e promulgado em 2002, para entrar em vigor em janeiro de 2003. 
Estrutura e diretrizes do atual Direito Civil 
O Direito Civil atualmente é regulamentado pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, 
promulgado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso para entrar em vigor, isto é, produzir 
efeitos a partir de 11 de janeiro de 2003. 
Tal como o Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002, manteve a influência alemã de 
se organizar em duas partes, uma denominada de Parte Geral e outra de Parte Especial, num 
total de 2.046 artigos que estão orientados pelo princípio da socialidade e da eticidade. Há 
outros princípios, mas estes podem ser considerados os mais relevantes para a construção de 
uma ordem social justa, fraterna e solidária. 
O princípio da socialidade é o que está associado ao princípio da dignidade da pessoa 
humana. O direito existe em função das pessoas e nesse sentido ele deve realizar os valores 
que marcam a humanidade. Orientado por esse princípio é que se vê no Código Civil de 2002 
as referências a função social da propriedade, do contrato, da empresa. A família deixa de ser 
compreendida como uma unidade de produção econômica e passa a ser um centro irradiador 
de afeto e de realização da dignidade humana. 
O princípio da eticidade representa a abertura do Direito para as questões extra 
normativas, com o recurso às noções de boa-fé, de justa causa, de equilíbrio nas relações 
jurídicas. O princípio da eticidade representa a abertura do Direito para as quetudo relações 
sociais, o que permite a solução de conflitos de forma equitativa. 
 Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civilbrasileiro . São Paulo: Saraiva, 2008, v.1 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil . São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil . Rio de Janeiro: Forense, 2007. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil . São Paulo: Atlas, 2009, v. 1. 
 
 
 
 
 
 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro 
LINDB: vigência e eficácia da norma 
Objetivo da Aula: Compreender o conteúdo e a importância da Lei de Introdução às Normas 
de Direito Brasileiro, reconhecer seus institutos e aplicar os conceitos de vigência e eficácia. 
O estudo da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB é muito importante 
porque: a) se aplica a qualquer ramo do direito no Brasil; b) apresenta critérios de solução de conflito 
de leis no tempo e no espaço; c) apresenta métodos de preenchimento de eventuais lacunas na 
ordem jurídica e d) oferece instrumentos de interpretação da lei a partir de princípios fundamentais 
da ordem jurídica. 
Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) 
A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro é uma norma de sobredireito, isto é, que 
tem por objeto o próprio direito. Trata-se de Decreto-Lei que tendo deixado de existir como 
modalidade normativa a partir da Constituição de 1988 foi recepcionado como lei ordinária e data de 
1942. 
Esta lei contém 19 artigos, dos quais interessam ao Direito Civil neste momento do curso 
apenas os seis primeiros artigos. Os demais artigos, isto é, do artigo 7º ao artigo 19 serão estudados 
na Disciplina de Direito Internacional. 
Os seis primeiros artigos cuidam de temas relevantes para toda a ordem jurídica e para todos 
os ramos do direito e não apenas ao Direito Civil, por essa razão o nome de Lei de Introdução às 
Normas de Direito Brasileiro. 
São temas tratados por essa lei: 
a) vigência da lei (art. 1º); 
b) sistema de revogação (art. 2º); 
c) obrigatoriedade de conhecimento da lei (art. 3º); 
d) meios de integração de omissões da lei (art.4º); 
e) método de interpretação da lei (art. 5º) e 
f) irretroatividade da lei (art.6º). 
Vigência da Lei – Art. 1º LINDB 
1. LINDB - Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta 
e cinco dias depois de oficialmente publicada. 
2. §1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 
três meses depois de oficialmente publicada. 
3. § 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
4. § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a 
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova 
publicação. 
5. §4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
O art. 1º determina que, em regra, toda lei entra em vigor 45 dias depois de oficialmente 
publicada. A expressão lei usada no art.1º significa a norma produzida pelo Poder Legislativo seja da 
União, do Estado ou do Município. 
As espécies normativas que podem ser produzidas pelos entes federativos estão descritas no 
art. 59 a 69, CF que disciplina o processo legislativo, ou seja, o modo de produção de leis. 
A lei, portanto, como fonte primária do Direito e sua expressão primeira deve ser entendida 
como uma regra geral, que se destina a todos os cidadãos indistintamente, heterônoma, porque 
imposta pelo Estado, que a produz segundo a forma estabelecida pela Constituição da República, 
sendo expressão da vontade da autoridade competente para produzi-la, imperativa, na medida em 
que impõe uma conduta, um comportamento, que a sociedade considera relevante e permanente no 
sentido de não se esgotar e nem desaparecer depois de seu cumprimento pelo cidadão ou de sua 
aplicação pelo juiz. 
A lei produzida pelo órgão competente e depois de examinada quanto a sua 
constitucionalidade, será levada a promulgação pelo Presidente da República se for lei federal, pelo 
Governador de Estado, se lei estadual ou pelo Prefeito, se municipal. Promulgada, a lei será publicada 
no Diário Oficial da União, se lei federal; no Diário Oficial do Estado, se lei estadual ou no Diário 
Oficial do Município, se municipal. 
De acordo com o art. 1º da LINDB decorrido 45 dias da publicação a lei se torna obrigatória 
e ninguém poderá alegar seu desconhecimento de acordo com o art. 3º. Esse prazo de 45 dias 
estabelecido pela lei é chamado de vacatio legis ou vacância da lei. Trata-se de um prazo que o 
legislador considerou razoável para que a comunidade tome conhecimento do novo regramento. 
Esse prazo não é absoluto. Observe-se a cláusula de exceção no art. 1º, ou seja, nem sempre 
o prazo de vacatio legis é de 45 dias. É o legislador na cláusula de encerramento da norma que 
estabelece o prazo. A cláusula de encerramento é o último artigo de uma lei. Veja-se o art. 2.044, 
CC. 
O legislador poderá determinar, por exemplo, que a lei entre em vigor no dia da publicação 
ou como o fez o legislador do Código Civil de 2002 estabelecer uma vacatio legis de um ano. Na 
ausência dessa estipulação, aplica-se a regra do art. 1º que determina o prazo de 45 dias. 
I - Vigência da lei brasileira em Estado estrangeiro 
Cumpre observar que o §1º do art. 1º da LINDB estabelece que a obrigatoriedade da norma 
brasileira passa a vigorar nos Estados estrangeiros, três meses após a publicação oficial em nosso 
país. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
II - Norma Corretiva 
A norma corretiva é definida como “aquela que existe para afastar equívocos importantes 
cometidos pelo comando legal, sendo certo que as correções do texto de lei já em vigor devem ser 
consideradas como sendo lei nova” (TARTUCE, 2013). 
Se antes de decorrido o prazo de vacância, a lei for republicada, isto é, ocorrer nova 
publicação, estabelece-se novo prazo de vacância contado da nova publicação, conforme art. 1º, § 
3º, LINDB, desconsiderando-se o prazo anteriormente decorrido. 
O mesmo não acontece se decorrido o prazo da vacância, pois nesse caso, a lei já se tornou 
obrigatória e se for publicada novamente com correção, ter-se-á uma nova lei, com o prazo de 
vacância que lhe tiver sido estabelecido. O prazo será contado a partir dessa publicação (art. 1º, §4º, 
LINDB). 
Um termo correlato a vigência que é a qualidade temporal da lei é o termo vigor. Vigência e 
vigor não são sinônimos embora sejam termos que se relacionem, pois uma norma que tem vigência 
tem também vigor. A vigência se relaciona à permanência temporal da lei e o vigor se refere a sua 
força vinculante, obrigatória, imperativa. Assim toda lei que está vigente está em vigor, mas pode 
ocorrer que uma lei não esteja mais vigente porque foi revogada, mas ainda assim tem força 
vinculante. 
É o caso do Código Civil de 1916 que não está mais vigente, porque foi substituído por outro 
Código, o de 2002, mas ainda continua sendo de aplicação obrigatória para as situações jurídicas que 
ocorreram na sua vigência. 
Vigência, vigor e validade igualmente não são sinônimos. Enquanto vigência se refere ao 
tempo da lei e vigor a sua força vinculante, a validade se refere à obediência do processo e 
procedimento legislativo específico para aquela modalidade normativa. 
Assim, se uma lei ferir o procedimento legislativo específico previsto na Constituição, depois 
de decorrido o prazo davacatio legis, essa lei estará vigente e terá vigor, mesmo sendo inválida, para 
o que será preciso posteriormente empregar os mecanismos de inconstitucionalidadeda lei. 
 Eficácia da lei 
Apesar de uma lei estar vigente e, por conseguinte, estar em vigor não significa que ela seja 
eficaz. Vigência, vigor, validade e eficácia são termos que se relacionam, mas não podem ser tomados 
um pelo outro. A eficácia diz respeito à adequação social da lei, isto é, à produção dos efeitos 
concretos desejados pelo Estado legislador. 
Assim, uma lei será eficaz quando todos os cidadãos adotarem o comportamento social 
desejado e tido pelo Estado como adequado. Se o comportamento perde reprovabilidade social, ou 
seja, os cidadãos não encaram aquele comportamento como nocivo e deixam de evitá-lo a lei perdeu 
sua eficácia. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A perda de eficácia de uma lei não lhe altera a vigência e nem o vigor. Exemplo dessa situação 
normativa foi o adultério. Durante anos o adultério foi tipificado como crime pela legislação penal e 
nada obstante a possibilidade de ser processado e punido pelo crime, o adultério não deixou de ser 
praticado e as pessoas não eram processadas pelo crime. 
A lei deixou de ser aplicada porque o comportamento perdeu a reprovabilidade social e as 
pessoas passaram a encarar o adultério não mais como crime. A adoção desse comportamento 
contrário fez com que a lei perdesse a sua eficácia, mas não sua vigência e nem seu vigor. Ela 
continuou vigente até a sua revogação por outra lei. 
 Revogação da Lei – Art. 2º LINDB 
1. LINDB - Art. 2º - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue. (Vide Lei nº 3.991, de 1961) 
2. § 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com 
ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
3. § 2º - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, 
não revoga nem modifica a lei anterior. 
4. § 3º - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora 
perdido a vigência. 
Uma lei, depois tornada obrigatória pelo decurso do prazo da vacatio legis somente pode ser 
revogada por outra lei, isto é, por outra produção normativa do Estado que retire da lei anterior sua 
vigência, podendo, se for o caso ainda manter sua força vinculante para as situações que ocorreram 
durante a sua vigência. 
A revogação é o mecanismo pelo qual o Estado retira da ordem jurídica a norma que ele 
mesmo produziu, suprimindo sua força obrigatória e, por conseguinte sua eficácia. A revogação retira, 
portanto, a vigência da lei, mas não necessariamente sua força vinculante, pois que ela poderá ser 
aplicada. 
A revogação consiste, pois, na produção de uma nova lei que retira total ou parcialmente uma 
lei que está em plena vigência. Quando a revogação da lei anterior é total ocorre o fenômeno da ab-
rogação. Assim, diz-se que a Lei X foi ab-rogada pela Lei Y. Se a revogação é parcial, ocorre o 
fenômeno da derrogação e nesse sentido diz-se que a Lei X foi derrogada pela Lei Y. 
Quando ocorre a ab-rogação, a nova lei substitui integralmente a lei anterior a que ela se 
refere, que deixa de ter vigência, mas não necessariamente deixa de ter vigor ao passo que quando 
ocorre a derrogação lei nova e lei velha coexistem, sendo aplicadas aos casos que ocorrerem depois 
da publicação da lei nova, pois antes da publicação da lei revogadora não se tem lei nova. 
É importante observar que no direito brasileiro, apenas uma lei tem o poder de revogar outra 
lei, o que quer significar que a perda da eficácia social da lei ou eventualmente o costume contra 
legem não lhe retira a vigência e nem o vigor. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A revogação poderá ocorrer de forma expressa ou de forma tácita. Será expressa quando a 
lei nova determinar em seu próprio texto que a lei anterior está revogada, cf. art. 2º, §1º, primeira 
parte, da LINDB. A revogação será tácita quando, mediante processo de interpretação da lei nova se 
constatar que ela é incompatível com a lei velha ou quando a lei nova regulamentar de 
maneira inteiramente diferente a matéria contida na lei velha. 
Perceba-se, assim, que existem duas causas que podem levar à revogação tácita da lei velha 
pela lei nova: a) incompatibilidade ou b) regulamentação diferente da matéria. Se não ocorrer 
nenhuma dessas situações não houve revogação tácita, disso decorrendo que a lei nova e a lei velha 
devem coexistir e serem aplicadas aos casos em que incidem, cf. aliás o art. 2º, § 2º, da LINDB. 
O critério da incompatibilidade deve ser empregado quando os critérios cronológico, 
hierárquico e da especialidade não se mostram seguros para apontar a revogação da lei velha. O 
critério cronológico é aquele que determina que a toda lei posterior revoga a lei anterior. Prevalece 
sempre a lei mais recente. 
De outro lado, o critério da hierarquia é aquele que determina que a lei superior prevalece 
sobre a inferior ao passo que o critério da especialidade é aquele segundo o qual a lei especial revoga 
a lei geral, quando disciplina de forma diversa o mesmo assunto. 
O critério que deve ser observado para a constatação da revogação tácita da lei velha é a sua 
incompatibilidade em relação à lei nova. Havendo incompatibilidade parcial, terá ocorrido a 
derrogação parcial e no caso de incompatibilidade total terá havido ab-rogação tácita da lei velha. 
Além de o costume não ter poder de revogar a lei, é importante observar que se a lei nova 
que revogou a lei velha perder sua vigência, a lei velha não se restaura, ou seja, ela não retorna 
automaticamente ao ordenamento jurídico. A restauração da lei velha quando a lei nova perde sua 
vigência é chamada de repristinação. Assim, efeito repristinatório é a restauração de uma lei revogada 
em razão da perda de vigência da lei revogadora. 
Observe-se a redação do art. 2º, § 3º, da LINDB. A inexistência de efeito repristinatório é 
uma regra geral no direito brasileiro, mas isso não significa dizer que ela não possa ocorrer, tendo 
em vista a cláusula de exceção que abre a redação do art. “salvo disposição em contrário”. 
Assim é possível que ocorra o efeito repristinatório, ou seja, é possível que a lei revogada 
tenha sua vigência restaurada, mas para isso é preciso que haja alguma disposição na lei revogadora 
determinando isso. Apenas razões de ordem política é que explicam o efeito repristinatório. 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, v.1. 
__________________. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, v.5 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: 
Saraiva, 2009, v.1. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil I: lei de introdução e parte geral. São Paulo: Método, 2013. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Lei de Introdução às Normas De Direito Brasileiro 
LINDB: Analogia, Costumes E Princípios Gerais De Direito 
Compreender o conteúdo e a importância da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro. 
O estudo da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB é muito 
importante porque: a) se aplica a qualquer ramo do direito no Brasil; b) apresenta critérios de 
solução de conflito de leis no tempo e no espaço; c) apresenta métodos de preenchimento de 
eventuais lacunas na ordem jurídica e d) oferece instrumentos de interpretação da lei a partir 
de princípios fundamentais da ordem jurídica. 
Analogia,Costumes e Princípios Gerais de Direito 
LINDB - Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, 
os costumes e os princípios gerais de direito. 
 O juiz não pode se negar a decidir um conflito alegando que não há lei que possa ser 
aplicada ao caso concreto. Não havendo um preceito que possa ser aplicado, ou mesmo havendo 
um preceito, ele se mostra injusto ou se não é injusto é ineficaz porque perdeu a reprovabilidade 
social, está-se diante de uma lacuna normativa. 
O problema da constatação da existência lacuna, depende grandemente da percepção 
que se tem do fenômeno jurídico, enquanto sistema. Há os que afirmam que o sistema jurídico 
não apresenta lacunas, pois é um todo orgânico capaz do qual se pode extrair uma norma de 
comportamento e há os que afirmam a incompletude do sistema que não consegue acompanhar 
o ritmo intenso das modificações da vida social. 
Para os que como Kelsen compreendem o direito como sistema hermético, fechado e 
completo, tudo o que não está proibido está permitido e nesse compasso a lacuna é mais 
aparente do que real, ou seja, o preceito poderá ser encontrado a partir da própria ordem 
jurídica. 
Para os que compreendem a ordem jurídica como um sistema aberto e incompleto, que 
se entrelaça nos fatos da vida, a lacuna não se limita a apenas a ausência de um preceito, mas 
como ausência de uma resposta satisfatória para os problemas. Lacuna tem assim um sentido 
metafórico. 
Admitida a existência da lacuna, não como ausência de preceito, propriamente dito, mas, 
também, como ausência de possível solução satisfatória, seja pela injustiça da lei seja pela 
perda de sua eficácia social surge o problema do preenchimento dessas lacunas e, pois de saber 
qual o método a ser empregado. 
A LINDB no artigo 4º estabelece os mecanismos de colmatação das lacunas da lei, isto 
é, indica o método a ser empregado para o preenchimento das omissões eventualmente 
identificadas pelo juiz no momento da solução do conflito. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A solução para as divergências entre as teorias está em tomar as lacunas como sendo 
da lei e não do direito, que enquanto sistema apresenta as soluções. São meios de integração 
da lei: a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. O juiz deve empregá-los nessa 
ordem, pois se trata de uma relação taxativa e de obediência obrigatória, o que significa dizer 
que o juiz não pode escolher qual o método a ser empregado para a integração normativa. 
O juiz somente pode se valer dos costumes depois de ter esgotado as possibilidades do 
uso da analogia e só depois pode se valer dos princípios gerais de direito (fontes formais | 
diretas | imediatas). 
Contudo, persistindo a lacuna o juiz irá utilizar as fontes não formais| indiretas | mediatas 
que são: doutrina, jurisprudência e equidade (seguindo esta ordem descrita). 
Analogia 
Analogia é um mecanismo de revelação de um preceito implícito no sistema normativo e 
consiste, em atenção ao princípio da igualdade jurídica, aplicar a situações assemelhadas a 
mesma razão de decidir e para isso o juiz aplica um preceito explícito que retrata uma 
determinada situação a outra situação assemelhada para a qual não há preceito explícito. 
A analogia pressupõe: a) que haja uma situação regulada e outra situação não regulada, 
que se sejam assemelhadas e b) que haja a mesma razão de decidir, pois ainda que semelhantes 
ou assemelhadas as situações, se não houver a mesma razão de decidir, a analogia não pode 
ser aplicada e c) comparação entre os fatos deve recair sobre seus elementos essenciais, isto 
é, aqueles elementos que os caracterizam. Não se comparam elementos secundários ou 
acessórios. 
A analogia pode ser legal ou jurídica. A analogia é legal quando se encontra na ordem 
jurídica uma lei que prevendo um fato pode ser aplicado a outro fato semelhante para o qual 
não exista uma lei. A analogia jurídica consiste em usar um conjunto de dispositivos para obter 
elementos que possam ser aplicados a um caso concreto. 
A analogia é método de integração da lei e não se confunde com a interpretação 
analógica que é sinônimo de interpretação extensiva. O emprego da analogia pressupõe a 
ausência de dispositivo legal a ser aplicado ao caso concreto enquanto que para a interpretação 
extensiva dispositivo existe, mas o texto legal diz menos do que deveria dizer, estendendo o 
intérprete o seu alcance. 
 Costumes 
O costume como método de integração da lei somente pode ser usado depois de 
esgotada as possibilidades de uso da analogia. O costume representa a força normativa 
decorrente da prática reiterada de determinado comportamento com a convicção de que esse 
comportamento é obrigatório. Trata-se de uma prática pública, recorrente, notória, uniforme 
que dá origem ao direito costumeiro ou consuetudinário. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
O costume é também denominado de consuetudo, fonte primária da lei nos países da 
Commom Law, como o Reino Unido. Nos países da Civil Law, representado pelos países que 
descendem da família romano-germânica do direito, o costume não é fonte primária do direito, 
mas apenas secundária ou supletiva e por isso adotada como método de integração, ou seja, 
de preenchimento de lacuna. 
O costume depende para sua configuração de dois elementos: a) um material, 
representado pelo comportamento público, notório, geral da comunidade e b) um imaterial, 
representado pela convicção, ou seja, a opinião jurídica de que aquele comportamento é 
necessário e obrigatório. 
O costume que funciona como método de integração da lei é o costume praeter legem, 
ou seja, o costume que vai além da lei, cuja invocação se dá no sentido de preencher uma 
omissão legislativa. 
O costume secundum legem, ou seja, o costume de acordo com a lei, é o costume que 
foi reconhecido e confirmado pela lei, sendo em tudo e por tudo, expressão legislativa, mantido 
o nome de costume apenas por tradição doutrinária. 
Por fim, há o costume contra legem, isto é, aquele comportamento público, notório que 
vai em sentido contrário ao que determina a lei. O costume contra legem atua não no sentido 
de revogar a lei, mas no sentido de apontar para a perda de sua eficácia social. 
Princípios gerais de direito 
Os princípios gerais de direito são o último recurso que o juiz pode se valer para a 
integração das lacunas da lei, quando constatadas. Os princípios gerais de direito são regras de 
caráter genérico que dão orientação a todo o sistema jurídico e normativo. Alguns estão 
contidos na lei, tendo sido, positivados; outros, ainda não. 
Os princípios gerais de direito representam a consciência ética do elemento humano e 
refletem aspectos como o da boa-fé, da honestidade, da lisura, da justiça e estampam valores 
morais e éticos. 
Os princípios não podem contrariar a ordem normativa, pois eles é que lhes dão 
sustentação, sendo por sua natureza diretiva, plásticos e vagos, marcados por uma imprecisão 
que somente no momento da aplicação da lei é que se tornará concreto. 
A concepção de que venha a ser princípios gerais de direito varia de acordo com a escola 
jurídica, não havendo consenso entre os autores sobre o que sejam princípios gerais de direito. 
Há quem os veja como simples mecanismo de integração da lei; os que os compreendem 
normas de direito natural, fundados na razão humana, na natureza das coisas ou derivados da 
lei divina; há os que os vêem normas de equidade; os que entendem os princípios gerais de 
direito como formulações abstratas produzidas pela filosofia do direito e aqueles que tomam os 
princípios gerais de direito como a base da ordem normativa e do direito legislado. 
38 
 
DireitoCivil – Sujeitos Jurídicos 
 
 
Qual a solução deve ser aplicada pelo juiz na hipótese de lacuna na lei? 
Fonte: LINDB e Mestre Anderson Nogueira Oliveira 
 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, v.1. 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São 
Paulo: Saraiva, 2009, v.1. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil I: lei de introdução e parte geral. São Paulo: Método, 2013. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
Lei De Introdução às Normas de Direito Brasileiro 
LINDB: Métodos De Interpretação Da Lei 
Compreender o conteúdo e a importância da Lei de Introdução às Normas de Direito 
Brasileiro, bem como reconhecer os métodos de interpretação da lei. 
O estudo da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB é muito importante na 
medida em que: a) se aplica a qualquer ramo do direito no Brasil; b) apresenta critérios de solução 
de conflito de leis no tempo e no espaço; c) apresenta métodos de preenchimento de eventuais 
lacunas na ordem jurídica e d) oferece instrumentos de interpretação da lei a partir de princípios 
fundamentais da ordem jurídica. 
 
Métodos de Interpretação Da Lei 
1. LINDB - Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que 
ela se dirige e às exigências do bem comum. 
2. LINDB - Art. 3º - Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece. 
39 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
No direito pátrio, aplica-se o “Princípio da Obrigatoriedade da Norma” em que ninguém pode 
deixar de cumprir a lei alegando que conhecê-la. Contudo, sua interpretação não é algo simples, mas 
a doutrina estabelece critérios para fazê-la. 
Ressalta-se que a integração da lei não se confunde com interpretação. São fenômenos 
diversos. A integração da lei pressupõe que a lei não exista e que, portanto, precisa ser criada para 
ser aplicada. Na interpretação, a lei existe e precisa ser compreendida para ser aplicada. 
A lei é uma descrição abstrata e genérica de uma hipótese. A lei se torna um comando 
concreto, disciplinando dada situação, quando ela é aplicada ao caso real, trazido ao Judiciário para 
ser decidido. Se o caso concreto coincide com a hipótese descrita na lei, ocorre o fenômeno da 
subsunção, que consiste nisso, na coincidência do fato com a lei. 
No entanto, os fatos da vida real são bem mais complexos dos aqueles descritos 
hipoteticamente pela lei, circunstância que leva o juiz a investigar a ordem jurídica para encontrar a 
norma a ser aplicada ao caso concreto. Se não a encontra, precisa integrar a lacuna; se a encontrar, 
precisa saber se ela se aplica àquela situação concreta para poder realizar a subsunção, investigando 
o sentido da norma. 
Pois bem, investigar o sentido da norma corresponde ao ato de interpretar para descobrir o 
seu alcance, o que a norma quer dizer, o que ela quer disciplinar. A interpretação da lei é objeto de 
uma ciência específica chamada de hermenêutica, que se define como a ciência que estuda os 
métodos e processos de interpretação da lei. 
A interpretação da lei pode ser classificada de acordo com a fonte de onde se origina, ou seja, 
tendo em vista quem é o autor da interpretação, ela pode ser: a) autêntica; b) jurisprudencial e c) 
doutrinária. 
A interpretação será autêntica, quando feita pelo próprio legislador por meio da edição de 
uma lei que interpreta outra lei. De outro lado, será jurisprudencial ou judicial, quando realizada pelos 
Tribunais, sendo doutrinária, quando realizada pelos estudiosos do direito ou comentadores da lei. 
De acordo com os métodos empregados, a interpretação pode ser: a) gramatical; b) lógico-
racional; c) sistemática; d) histórica e e) sociológica ou teleológica. 
A interpretação será gramatical é o exame do texto normativo de sua perspectiva linguística. 
Trata-se da primeira fase do processo hermenêutico e não se esgotando nesse método todo o 
processo que deve derivar para outros métodos mais científicos. 
O método lógico-racional é que o procura interpretações possíveis, excluindo as absurdas e 
contraditórias com todo o sistema, que pode levar, por sua insuficiência, ao método sistemático, cujo 
pressuposto é tomar a lei como parte integrante de um sistema, o que significa que ela deve ser 
interpretada em conjunto com as outras leis. 
A interpretação de acordo com método histórico, consiste em pesquisar os antecedentes da 
norma, os documentos do processo legislativo a fim de se descobrir o significado do texto legislativo. 
40 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Nesse caso, o estudo da exposição de motivos, da justificativa da lei, das atas das comissões 
que a discutiram podem apresentar elementos suficientes que permitam identificar o sentido da 
norma. 
A interpretação sociológica ou teleológica é aquela que tem por objetivo adaptar o sentido da 
lei às modificações de ordem social, econômica, política para satisfazer as necessidades de realização 
de justiça. 
Essa é a recomendação hermenêutica do artigo 5º, de que deriva as seguintes conclusões: a) 
repulsa à interpretação exclusivamente gramatical, formal e literal da lei; b) repulsa à aplicação 
mecânica da lei; c) predomínio dos valores político-sociais do momento da aplicação da lei e d) 
superação do individualismo em favor dos interesses sociais e coletivos. 
No Estado Social e Democrático de Direito, o fim social da lei assim como do Estado é a 
construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária, com redução da pobreza e da desigualdade, 
fundada na livre iniciativa, na liberdade, no respeito aos direitos fundamentais e humanos de todo 
cidadão, na segurança, no combate ao preconceito. 
O fim social da lei é a busca da felicidade, aliás, essa é a promessa constitucional estampada 
no Preâmbulo e nos Arts. 1º e 3º, da Constituição da República. 
O bem comum, por sua vez, implica na superação dos interesses individuais e o deslocamento 
do olhar para os interesses coletivos com a realização de justiça distributiva, de modo que a lei ao 
ser aplicada coordene os interesses individuais com os interesses da coletividade, segundo uma 
perspectiva ética. 
De acordo com o resultado produzido pelo processo hermenêutico, a interpretação pode ser: 
a) declarativa; b) extensiva ou c) restritiva. Será declarativa a interpretação cujo resultado aponta 
que a lei corresponde ao pensamento do legislador. 
É extensiva a interpretação, cujo processo hermenêutico declara que a lei disse menos do que 
queria dizer e, portanto, o seu alcance é mais amplo. A interpretação restritiva é, ao converso, aquela 
cujo resultado indica que a lei disse mais do que deveria dizer, sendo necessário restringir seu alcance. 
O processo hermenêutico é complexo e não se define pela escolha de um ou outro método 
investigativo, especialmente por conta do artigo 5º, que ao atrelar a interpretação da lei à realização 
das finalidades sociais e ao bem comum, impõe a integração sequenciada de todos os métodos: 
gramatical, lógico-racional, sistemático, histórico para que ao final se concretize no método 
teleológico. 
Vale ressaltar que a possibilidade de solução ou não quanto a interpretação para solucionar o 
conflito entre normas surge a seguinte classificação: 
a) Antinomia Aparente: trata-se de uma situação em que pode ser resolvida de acordo 
com os metacritérios citados anteriormente. 
41 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
b) Antinomia Real: situação quenão pode ser resolvida de acordo com os metacritérios 
antes expostos. 
Neste último caso, tendo em vista que o magistrado não pode deixar o caso sem uma solução, 
Flávio Tartuce afirma que “dois caminhos de solução podem ser dados no caso da antinomia real, um 
pelo legislativo e outro pelo judiciário” (TARTUCE, 2013, p. 41). 
Desta forma, cabe ao legislador a edição de uma terceira norma informando qual das duas 
normas em conflito devem ser aplicadas. Caso contrário, cabe ao judiciário solucionar ao caso prático 
baseado no “princípio máximo da justiça” aplicando uma das duas leis que seja mais garantidora à 
dignidade da pessoa humana. 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro . São Paulo: Saraiva, 2008, v.1. 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil . São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 
São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil I: lei de introdução e parte geral . São Paulo: Método, 2013. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
Lei de Introdução às Normas De Direito Brasileiro 
LINDB: Irretroatividade da Lei 
Compreender o conteúdo e a importância da Lei de Introdução às Normas de Direito 
Brasileiro, bem como reconhecer e aplicar os conceitos de retroatividade e irretroatividade da lei. 
O estudo da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB é muito importante 
porque: a) se aplica a qualquer ramo do direito no Brasil; b) apresenta critérios de solução de conflito 
de leis no tempo e no espaço; c) apresenta métodos de preenchimento de eventuais lacunas na 
ordem jurídica e d) oferece instrumentos de interpretação da lei a partir de princípios fundamentais 
da ordem jurídica, conforme veremos a seguir. 
Irretroatividade da Lei 
1. LINDB - Art. 6º - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada 
2. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao 
tempo em que se efetuou. 
3. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém 
por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou 
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
4. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não 
caiba recurso. 
A sucessão de leis no tempo pode acarretar o problema sobre saber qual lei deve ser aplicada 
a determinado fato, especialmente quando esse fato ocorreu na vigência de uma lei que foi revogada. 
42 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A esse problema dá-se o nome de conflito de leis no tempo ou conflito intertemporal de leis. As leis 
são elaboradas para valer para o futuro. No entanto, como é sempre possível a inovação da ordem 
jurídica pela introdução de outras leis, como se viu com o art. 2º, da LINDB. 
O art. 6º da LINDB traz um critério de solução desse conflito que é o princípio da 
irretroatividade da lei. Este princípio quer significar que vigente uma lei, ela produz efeitos a partir de 
sua vigência para o futuro, ou seja, a lei quando se torna obrigatória não produz efeitos para trás, 
atingindo o passado. Trata-se do princípio da irretroatividade que busca dar certeza, estabilidade e 
segurança ao ordenamento jurídico. 
No entanto, o princípio da irretroatividade não é absoluto, o que significa dizer que é possível 
que uma lei quando entra em vigência possa produzir efeitos para atingir o passado, sem ser 
retroativa. A eventualidade da retroatividade, ainda que criticada, se justifica por questões de política 
legislativa. 
Assim, a regra no direito brasileiro é a irretroatividade da lei. Somente em casos excepcionais 
e determinada na própria lei é que ela pode ser retroativa. A retroatividade, portanto, é uma exceção 
e que por isso deve sempre ser interpretada restritivamente. 
É importante observar que sendo retroativa ou irretroativa, a lei sempre há de respeitar o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
O Direito brasileiro estabelece que a lei nova se aplica aos fatos presentes, aos fatos pendentes 
e aos fatos futuros e o quando autorizada a retroatividade, a lei se aplica aos fatos pretéritos, desde 
que não afete o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
A retroatividade pode ser: a) máxima; b) média ou c) mínima. Será máxima a retroatividade 
quando afetar o ato jurídico perfeito e acabado e o negócio jurídico; será média a retroatividade, 
quando a lei alcançar apenas os fatos pendentes e os direitos ainda não incorporados ao patrimônio 
e será mínima, a retroatividade quando a lei afetar apenas os efeitos dos atos pretéritos que se 
produzirem depois de a lei nova entrar em vigor. 
É exemplo de retroatividade máxima, Lei francesa de 2 de outubro de 1795 na parte em que 
anulou e mandou refazer as partilhas já julgadas, para os filhos naturais serem admitidos à herança 
dos pais, desde 14 de julho de 1789; exemplo, de retroatividade média uma lei que limitando a taxa 
de juros, não se aplicasse aos juros vencidos e não pagos e por fim, para ilustrar a retroatividade 
mínima, pode-se citar o Decreto-Lei n° 22.626, de 7 de abril de 1993, que reduziu a taxa de juros e 
determinou no seu art. 3º que ela fosse aplicada a partir de sua data, aos contratos existentes, 
inclusive aos ajuizados. 
O ato jurídico perfeito e acabado é aquele que foi praticado segundo a lei vigente ao tempo 
em que o ato ocorreu, tendo o direito produzido sido já exercido. Se o ato jurídico não estiver perfeito 
e acabado, a lei revogada se aplica às fases que ocorreram na sua vigência e a lei nova, para as fases 
que acontecerem posteriormente a sua vigência. 
Os contratos têm várias fases: a pré-contratual, a fase contratual e a fase pós-contratual. 
Figure a hipótese de estar em vigência a Lei A. Se o contrato tiver sido concluído na vigência da Lei 
43 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A, a Lei B que a revogar, não atingirá o contrato, que como ato jurídico perfeito e acabado deve ser 
respeitado. 
De outro lado, imagine que ao final da fase pré-contratual, a Lei A seja revogada pela Lei B. 
Como o contrato não está concluído, a Lei A se aplica à fase pré-contratual, caso ela tenha se 
encerrado na vigência dela e a Lei B às demais fases, que ocorrem na sua vigência. 
Direito adquirido é aquele que já se incorporou ao patrimônio e à personalidade do titular e 
que pode desde logo ser exercido pelo próprio titular ou por alguém a seu mando. O direito adquirido 
é o direito atual, cujo exercício depende da vontade do titular ou de seu representante. 
Diverso de direito adquirido é o direito futuro, que é aquele que ainda não se completou 
porque está dependente de outro fato ou do decurso do tempo. O direito futuro é um direito ainda 
não formado e não se confunde com a expectativa de direito, que consiste na esperança de se adquirir 
um direito. 
O direito futuro pode ser condicional, porque sujeito a um evento futuro e incerto, que se ao 
ocorrer produz efeitos retroativos, fazendo que o interesse se incorpore ao patrimônio do titular desde 
o instante que o ajuste foi realizado. 
Coisa julgada é a imutabilidade das sentenças judiciais, das quais não cabe mais qualquer tipo 
de recurso. A coisa julgada poderá ser material ou formal. Apenas a coisa julgada formal está 
protegida pela irretroatividade da lei. 
Contudo, cada vez mais latente a tendência da relativização da coisa julgada em alguns casos, 
particularmente, quantoa questão da investigação de paternidade não comprovada, nas palavras de 
Maria Helena Diniz “sem embargo, diante da quase certeza do DNA, dever-se-ia, ainda, admitir a 
revisão da coisa jugada para fins de investigação de paternidade, me casos de provas insuficientes, 
produzidas na ocasião da prolação da sentença, para garantir o direito à identidade genética e a 
filiação, sanando qualquer injustiça que tenha ocorrido em razão de insuficiência probatória” (DINIZ, 
2002, v. 5, p. 408). 
 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, v.1. 
__________________. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, v.5 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasilei ro. São 
Paulo: Saraiva, 2009, v.1. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil I: lei de introdução e parte geral. São Paulo: Método, 2013. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
 
 
 
44 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Pessoa Natural: Personalidade Jurídica, Início E Fim 
Compreender o conceito de pessoa natural, sua importância e sentido como categoria de 
direito privado, bem como o sentido e alcance da personalidade jurídica, seu início e fim a partir 
dos eventos como a vida e a morte. 
O Livro I, da Parte Geral, do Código Civil cuida nos seus 69 artigos dos sujeitos de direitos. 
Por sujeito de direito se deve entender o ser que pode, na ordem jurídica, titularizar relações jurídicas. 
O sujeito de direito pode ser: a) a pessoa natural, regulamentada nos arts. 1º a 39 ou b) a pessoa 
jurídica, cujo regramento se encontra nos artigos 40 a 69, todos do Código Civil. 
É importante perceber que a pessoa natural existe antes do Direito, sendo em função dela e 
para ela que as regras jurídicas são constituídas, por essa razão a pessoa natural não deve ser 
compreendida apenas como sujeito de direito, mas como a centralidade de toda a ordem jurídica e 
social. 
Em outras palavras, a pessoa é a finalidade do direito e por isso a regra jurídica deve ser 
compreendida como instrumento de realização dos valores éticos que se materializam a dignidade da 
pessoa humana, que é um princípio fundamental do Estado Social e Democrático de Direito 
inaugurado com a Constituição da República de 1988 que tem na pessoa humana e na sua dignidade 
a diretriz. 
Pessoa Natural: Personalidade Jurídica, Início e Fim 
A pessoa natural é o ser humano a quem a lei no art. 1º confere capacidade de ser titular de 
direitos e deveres. A capacidade é atributo universal do ser humano. Veja o aspecto da universalidade, 
pois o Código no art. 1º usa a expressão “Toda pessoa”, isso significa que não há distinção sexo, cor, 
credo, idade, nacionalidade entre as pessoas. 
Porque é pessoa é sujeito de direito e por essa razão tem capacidade. A capacidade é um 
atributo conferido pela lei e consiste na aptidão para adquirir direitos e deveres. 
A pessoa natural adquire a capacidade no momento em que adquire a personalidade jurídica, 
que por sua vez é uma conseqüência do nascimento com vida. 
Assim, ao nascer com vida, a pessoa adquire personalidade jurídica em decorrência do que 
adquire a capacidade de direito ou de gozo, podendo desde logo adquirir direitos e deveres. 
É preciso observar que a condição necessária para adquirir a personalidade e, pois a 
capacidade de direito é o nascimento com vida. A lei não exige viabilidade da pessoa, isto é, a 
possibilidade de a pessoa viver por algum tempo para poder ser considerada sujeito de direito. 
Assim, mesmo que uma criança sobreviva apenas minutos depois da sua expulsão do ventre, 
terá se tornado pessoa, terá adquirido a personalidade jurídica e pois terá adquirido capacidade de 
direito ou de gozo, que desapareceu depois com a morte. 
45 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Nascituro 
Observe-se que na segunda parte do artigo 2º, a lei coloca a salvo os direitos do nascituro. 
Nascituro é aquele que ainda não nasceu e que, portanto ainda está em formação. Como se trata de 
uma possível pessoa e, portanto de um possível sujeito de direito, a lei coloca a salvo seus interesses 
desde o instante da concepção. 
A concepção é compreendida como o momento em que o ovo fecundado se prende à parede 
do útero, num fenômeno chamado de nidação, isso significa no caso de fecundação in vitro, que 
enquanto o material genético não tiver sido implantado no útero não terá havido concepção e não se 
tem, por via de conseqüência, o nascituro. 
Vindo a termo a gravidez e nascendo com vida, tem-se uma pessoa, com personalidade 
jurídica e capacidade de direito, consolidando-se, assim, a partir do nascimento com vida aqueles 
direitos que a lei pôs a salvo desde a concepção. 
Sobre a situação do nascituro há três teorias que buscam explicar a sua condição jurídica e a 
circunstância de a lei por a salvo seus interesses: a) teoria natalista; b) teoria da personalidade 
condicional e c) teoria concepcionista. 
A teoria natalista é aquela que considera pessoa o ser que nasce com vida, tutelando os 
interesses do nascituro apenas porque ele representa um homem esperado. É como se posiciona 
Serpa Lopes. 
A teoria da personalidade condicional é aquela segundo a qual o nascituro é uma pessoa em 
potencial e por isso seus direitos ficam suspensos até o nascimento com vida, quando então adquire 
personalidade jurídica e os consolida. É como se posiciona Washington de Barros Monteiro. 
A teoria concepcionalista entende o que o nascituro tem personalidade jurídica desde a 
concepção e por essa razão a lei põe a salvo seus interesses desde aquele momento tanto os direitos 
da personalidade quanto os direitos patrimoniais, observando que apenas os direitos da personalidade 
é que podem ser desde logo exercidos, enquanto os direitos de conteúdo patrimonial dependem do 
nascimento com vida. Essa é a teoria contemporaneamente aceita pela doutrina e pelo Superior 
Tribunal de Justiça 
A prova de que houve nascimento com vida é a respiração, o que ocorre a partir do momento 
em que os pulmões tiverem se inflado de ar. Trata-se da docimasia hidrostática de Galeno. 
Atualmente a medicina legal tem outros meios de verificar se houve ar circulando pelo corpo do 
nascente para que se demonstre que ocorreu nascimento com vida.Se o nascimento não ocorrer, os 
direitos assegurados desaparecem, pois não há pessoa e não há, por conseguinte, sujeito de direito. 
Extinção da Pessoa Natural 
A pessoa natural deixa de existir com a morte. A morte é um fato cuja conseqüência jurídica 
é por fim à personalidade jurídica da pessoa natural. Trata-se da morte real que ocorre com a 
paralisação das atividades encefálicas, que é demonstrada por meio da certidão de óbito. 
46 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Ao lado morte real existe a possibilidade do reconhecimento da morte presumida, que pode 
se dar com a declaração de ausência ou sem a declaração de ausência. 
O art. 7º, CC trata das hipóteses em que se presume a morte da pessoa sem a declaração de 
ausência. Esse tipo de morte pode ser declarada pelo juiz em procedimento judicial denominado de 
justificação para assento de óbito, previsto no art. 88 da Lei de Registros Públicos. Os casos em que 
são autorizados o pedido de justificação estão elencados no art. 7º. 
O art. 8º, CC trata do fenômeno da comoriência que é a morte simultânea de duas ou mais 
pessoas. A comoriência só tem interesse se as pessoas que tiverem morrido forem herdeiras uma da 
outra ou beneficiáriasuma da outra, do contrário não existe interesse algum em investigar quem 
morreu primeiro. 
A conseqüência jurídica do fato de duas ou mais pessoas terem morrido simultaneamente é 
que uma não herda da outra, pois não se transfere direitos entre comorientes. 
Situação diversa é aquela em que se pode identificar quem morreu primeiro, ainda que pouco 
minutos antes do outro, pois nesse caso quem morreu em segundo lugar teria recebido os bens do 
primeiro e com sua morte transmitido ao seus herdeiros. 
Se o médico legista não conseguir identificar quem morreu em primeiro lugar, estabelece o 
art. 8º a presunção de que morreram simultaneamente. 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro . São Paulo: Saraiva, 2008, v.1 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil . São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil . Rio de Janeiro: Forense, 2007. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009, v. 1. 
 
Pessoa Natural: Capacidade 
Compreender o conceito de capacidade civil e seus reflexos na ordem jurídica. 
A capacidade é um conceito fundamental em Direito Civil que se relaciona diretamente 
com a existência da pessoa humana e, portanto, com a personalidade jurídica. 
Não se pode, contudo, confundir a personalidade civil com a capacidade civil, pois 
enquanto a personalidade é absoluta, a capacidade é relativa, isto porque a personalidade 
jurídica a pessoa adquire ao nascer com vida, por isso sua natureza absoluta, isto é, se nasceu 
com vida, tem personalidade jurídica, se não nasceu ou ainda estar por nascer, como no caso 
do nascituro, não se tem personalidade jurídica. 
A capacidade, por sua vez, é relativa porque ela pode sofrer restrições em razão de 
determinadas circunstâncias decorrentes da natureza ou da lei, o que significa que a capacidade 
47 
 
Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
poderá ser plena ou limitada. É nesse sentido que se diz que a capacidade é a medida da 
personalidade jurídica. 
Pessoa Natural: Capacidade 
Toda pessoa é o sujeito de direito e tem, pois, capacidade de direito ou de gozo, que 
consiste na prerrogativa de ser titular de direitos e deveres na ordem jurídica. No entanto, nem 
toda pessoa pode exercer concretamente os direitos de que é titular, porque lhe falta 
discernimento, falta-lhe capacidade de compreender as eventuais consequências do 
comportamento. 
Assim é preciso distinguir a capacidade de direito ou de gozo da capacidade de fato ou 
de exercício. A capacidade de direito ou de gozo, viu-se, consiste na prerrogativa de ser um 
sujeito de direito. 
A capacidade de fato ou de exercício consiste na prerrogativa de o sujeito de direito 
poder por si próprio atuar na ordem jurídica exercendo os direitos e cumprindo os deveres de 
que é titular. Assim, a capacidade de direito, portanto, é reconhecida a toda pessoa humana 
que tenha personalidade jurídica, isto é, que tenha nascido com vida, pouco importando que a 
pessoa tenha nascido com desenvolvimento mental incompleto ou retardado ou que seja 
portadora de alguma necessidade visual. 
Ademais, a capacidade de fato ou de exercício pode sofrer limitações impostas pela lei. 
A incapacidade, portanto, é uma limitação imposta pela lei ao exercício por si só dos atos da 
vida civil, que a pessoa humana titulariza porque tem capacidade de direito ou de gozo. Lembre-
se de que toda pessoa humana e, pois, toda pessoa natural tem capacidade de direito ou de 
gozo, porque tendo nascido com vida, adquiriu personalidade. 
a) Absolutamente Incapaz 
Em 6 de julho de 2015, a Lei 13.146/2015, que institui o Estatuto da Pessoa com 
Deficiência (norma publicada em 7 de julho e entrou em vigor 180 dias após sua publicação). 
Nesta toada, verifica-se que está norma teve o intuito de realizar adaptações no sistema legal 
pátrio, conforme as exigências da Convenção de Nova York de 2007, tendo como propósito 
proteger e assegurar o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais 
para todas as pessoas com deficiência, sendo consideradas como deficientes aquelas que tem 
impedimentos de longo prazo de natureza física, moral, intelectual ou sensorial. 
Decreto Legislativo 186/2008 - Artigo 1º - O propósito da 
presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e 
equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por 
todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade 
inerente. 
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de 
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, 
em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação 
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais 
pessoas. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Cumpre observar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência possui valor de norma 
Constitucional, pois foi aprovada em conformidade com o artigo 5º, §3º da Constituição da 
República Federativa do Brasil. Vejamos: 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – 
Artigo 5º - § 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão 
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004) 
Lei 13.146/2015 - Art. 1o - É instituída a Lei Brasileira de 
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), 
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o 
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com 
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. 
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, 
ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no186, 
de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 
3o do art. 5o da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor 
para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e 
promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de 
início de sua vigência no plano interno. 
 Desta forma, foram revogados todos os incisos do art. 3º do Código Civil de 2002, 
que tinha a seguinte redação: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos 
da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo 
por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”. Neste caso, o Código Civil passou a 
ter a seguinte redação: 
Código Civil de 2002- Artigo 3º - São absolutamente incapazes 
de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 anos. 
Assim, não existe mais, no sistema privado brasileiro, pessoa absolutamente incapaz que 
seja maior de idade. Como consequência, não há que se falar mais em ação de interdição 
absoluta no nosso Direito Civil, tendo em vista que os menores não são interditados. Todas as 
pessoas com deficiência, das quais tratava o comando anterior, passam a ser, em regra, 
plenamente capazes para o Código Civil, o que visa a sua plena inclusão social, em prol de sua 
dignidade (TARTUCE, 2015). 
Neste caso, o legislador pátrio deixou claro em seu artigo 6º da Lei 13.146/2015 que a 
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, em especial quanto ao direito deformação familiar. Vejamos: 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Lei 13.146/2015 - Artigo 6o - A deficiência não afeta a plena 
capacidade civil da pessoa, inclusive para: 
I - casar-se e constituir união estável; 
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; 
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter 
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento 
familiar; 
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização 
compulsória; 
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; 
e 
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como 
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais 
pessoas. 
Desta forma, o critério etário (denominados: menores impúberes) é o único que ainda 
permanece como absolutamente incapaz, devendo ser representados pelos seus país ou, na 
falta deles, por tutores nomeados. 
Cumpre observar que o enunciado 138 do Conselho de Justiça Federal | Superior Tribunal 
de Justiça permanece com sua aplicação normal ao estabelecer que a vontade dos 
absolutamente incapazes é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais 
a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. Portanto, 
alguns atos continuam válidos mesmo cometido por pessoas absolutamente incapazes 
(conforme podemos ver no art. 45, §2º do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente – ao 
estabelecer que se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário 
o seu consentimento). 
 b) Relativamente Incapaz 
Código Civil - Art. 4o - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os 
exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua 
vontade; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. 
Eventualmente, e em casos excepcionais, tais pessoas podem ser tidas como 
relativamente incapazes em algum enquadramento do novo art. 4º do Código Civil. Cite-se, a 
título de exemplo, a situação de um deficiente que seja viciado em tóxicos, podendo ser tido 
como incapaz como qualquer outro sujeito. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Esse último dispositivo também foi modificado de forma considerável pelo Estatuto da 
Pessoa com Deficiência. O seu inciso II não faz mais referência às pessoas com discernimento 
reduzido, que não são mais consideradas relativamente incapazes, como antes estava 
regulamentado. Apenas foram mantidas no diploma as menções aos ébrios habituais 
(entendidos como os alcoólatras) e aos viciados em tóxicos, que continuam dependendo de um 
processo de interdição relativa, com sentença judicial, para que sua incapacidade seja 
reconhecida. 
Também foi alterado o inciso III do art. 4º do CC/2002, sem mencionar mais os 
excepcionais sem desenvolvimento completo. O inciso anterior tinha incidência para o portador 
de síndrome de Down, não considerado mais um incapaz. A nova redação dessa norma passa 
a enunciar as pessoas que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir vontade, 
o que antes estava previsto no inciso III do art. 3º como situação típica de incapacidade 
absoluta. Agora a hipótese é de incapacidade relativa. 
Verificadas as alterações, parece-nos que o sistema de incapacidades deixou de ter um 
modelo rígido, passando a ser mais maleável, pensado a partir das circunstâncias do caso 
concreto e em prol da inclusão das pessoas com deficiência, tutelando a sua dignidade e a sua 
interação social. Isso já tinha ocorrido na comparação das redações do Código Civil de 2002 e 
do seu antecessor. Como é notório, a codificação material de 1916 mencionava os surdos-
mudos que não pudessem se expressar como absolutamente incapazes (art. 5º, III, 
do CC/1916). A norma então em vigor, antes das recentes alterações ora comentadas, tratava 
das pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não pudessem exprimir sua vontade, agora 
tidas como relativamente incapazes, reafirme-se. 
Todavia, pode ser feita uma crítica inicial em relação à mudança do sistema. Ela foi 
pensada para a inclusão das pessoas com deficiência, o que é um justo motivo, sem dúvidas. 
Porém, acabou por desconsiderar muitas outras situações concretas, como a dos psicopatas, 
que não serão mais enquadrados como absolutamente incapazes no sistema civil. Será 
necessário um grande esforço doutrinário e jurisprudencial para conseguir situá-los no inciso III 
do art. 4º do Código Civil, tratando-os como relativamente incapazes. Não sendo isso possível, 
os psicopatas serão considerados plenamente capazes para o Direito Civil (TARTUCE, 2016). 
c) Legitimação 
Na verdade, a legitimação é uma condição imposta pela lei para a prática de certos e 
determinados atos. Nesse sentido, uma pessoa natural poderá ter a capacidade plena de realizar 
determinado ato, mas nas condições que o praticar, poderá lhe faltar a legitimação. 
Para ilustrar os conceitos de capacidade e de legitimação e você poder compreender a 
diferença entre esses institutos, pense no caso, por exemplo, de pessoas casadas. 
Pessoas casadas têm capacidade plena, isto é, tanto são titulares de direito como podem 
exercer por si mesmos os atos da vida civil. No entanto, se essas pessoas forem casadas pelo 
regime da comunhão universal de bens imóveis, elas não poderão vender seus bens sem o 
consentimento do outro cônjuge. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Não estão, portanto, legitimados a vender os bens imóveis. A legitimação, no caso, se 
dá com o consentimento do outro cônjuge. É o que determina o art. 1 .647, do CC e tal como 
essa situação, outras existem no Código Civil. Você pode conferir os arts. 496, 580 e 1.749, I, 
todos do Código Civil, dentre outras disposições que estabelecem condições necessárias ao lado 
da capacidade de fato para a prática de determinados atos da vida civil. 
Percebe-se, assim, que em algumas situações descritas pela norma jurídica será preciso 
mais que a capacidade de fato para a prática de determinados atos da vida; será preciso, 
também, a legitimação para a prática desses atos. 
 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, v.1. 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São 
Paulo: Saraiva, 2009, v.1. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
TARTUCE, Flávio. Alterações do Código Civil pela Lei 13.146 de 2015. Disponível em: 
<http://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/noticias/213830256/alteracoes -do-codigo-civil-pela-lei-13146-2015>. Acesso em 03 de abril de 2015. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
Pessoa Natural: Emancipação 
Compreender o conceito de emancipação, identificar suas espécies e sua repercussão sobre 
a capacidade civil e seus reflexos na ordem jurídica. 
Introdução 
A capacidade plena consiste na conjugação na pessoa natural da capacidade de gozo com a 
capacidade de fato, ou seja, a pessoa natural tem capacidade plena quando ela por si mesma pode 
ser exercer os direitos que adquire na ordem jurídica. 
A maioridade é o momento em que coincide a capacidade de gozo com a capacidade de fato. 
No Brasil, aos 18 anos de idade, a pessoa natural fica habilitada para a prática de todos os atos da 
vida civil, conforme determinao art. 5º, caput, do Código Civil. 
É possível haver coincidência da maioridade civil com a maioridade estabelecidas por outras 
leis, como no caso da maioridade civil e a maioridade penal, que se dá aos 18 anos. A maioridade 
eleitoral, de outro lado, é diferente, já que a legislação eleitoral permite que o voto seja realizado 
pelas pessoas com 16 anos de idade. Para alistamento militar, a menoridade cessa aos 17 anos; no 
Direito de Trabalho, a incapacidade cessa aos 14 anos, embora entre 14 e 16 anos só os incapazes 
possam ser empregados como aprendizes. Se o trabalho for noturno, insalubre ou perigoso, a idade 
mínima é de 18 anos completos. 
 
 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
 Pessoa Natural: Emancipação 
A emancipação consiste na aquisição da capacidade de fato antes da idade legal que é 18 
anos. Essa medida pode decorrer de ato voluntário dos pais ou da circunstância de o interessado se 
encontrar em determinadas situações jurídicas a que lei atribui o efeito emancipatório, isto quando, 
a emancipação não for determinada pelo juiz. 
A emancipação pode ser voluntária, quando concedida pelos pais; judicial, quando conferida 
por sentença ou legal, quando a lei emprestar a alguns fatos específicos o efeito de emancipar a 
pessoa. 
Em qualquer dos tipos de emancipação, a pessoa a ser emancipada deve ser maior de 
dezesseis e menor de dezoito anos e não apresentar alguma enfermidade que comprometa a 
capacidade de discernimento e que, portanto, a impeça de praticar por si mesma os atos da vida civil. 
 Tipos de emancipação 
Emancipação por ato dos pais 
A emancipação voluntária é aquela que decorre de ato praticado pelos pais do maior de 16 
anos. Essa modalidade de emancipação se faz mediante escritura pública lavrada em Serviço de 
Notas, que depois deverá ser averbada no Assento de Nascimento do menor emancipado, além de 
registrada no 1º Ofício de Registro Civil do domicílio do menor. 
A lei exige que ambos os pais concordem com a emancipação do menor; na hipótese de 
apenas um deles concordar e o outro, imotivadamente se recusar a conceder a emancipação, poderá 
o prejudicado recorrer ao Poder Judiciário para que o Juiz examinando a questão decida sobre a 
emancipação, tal como prevê o art. 21, do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90. 
A emancipação é um ato jurídico que deve ser praticado no interesse do menor, o que significa 
que a emancipação não produz efeito em relação aos pais do menor quando a finalidade do ato for 
diverso, como por exemplo, exonerar-se do dever de pensionar o menor. 
A emancipação é irrevogável, mas pode ser declarada judicialmente inválida, isto é, nula ou 
anulável, onforme sejam demonstradas as hipóteses do art. 166 ou 171, do Código Civil. 
Emancipação por sentença judicial 
A emancipação judicial é aquela provocada pelo tutor do maior de 16 anos perante a Vara da 
Infância e do Adolescente, conforme estabelece o art. 114, do Estatuto da Criança e do Adolescente 
– Lei nº 8.069/90. 
A emancipação judicial de menor sob tutela é um ato discricionário do juiz e deve ser 
concedida apenas no interesse do menor e não para exonerar o tutor do cargo e da responsabilidade 
da tutela. 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
A sentença que concede a emancipação do maior de 16 anos sob tutela deve ser averbada no 
Assento de Nascimento do menor emancipado, devendo ainda ser Registrada no 1º Ofício de Registro 
Civil do domicílio do menor. 
Emancipação legal 
O casamento válido é causa legal de emancipação. Eventual separação judicial ou divórcio 
não faz com que o emancipado retorne à condição de incapaz. É preciso observar que apenas o 
casamento válido tem esse feito. 
O casamento nulo ou anulável não produz efeito, o que significa dizer, que se o casamento 
for declarado nulo seus efeitos são apagados e ele retorna à condição de incapaz, salvo se o menor 
estava de boa-fé, de acordo com a regra do art. 1.561, do Código Civil. 
A união estável embora goze de proteção constitucional tal como o casamento e a lei facilite 
a sua conversão, é importante observar que apenas o casamento válido é causa legal de 
emancipação, não a união estável até porque a eventual equiparação da união estável ao casamento 
é apenas para proteção da família. 
O emprego público efetivo, de acordo com o art. 5º, parágrafo único, III, do Código Civil, é 
causa de emancipação. Posterior demissão ou exoneração não tem o efeito de fazer o menor retornar 
à condição de incapaz. Para o exercício do emprego público não importa o regime em que é exercido, 
isto é, se pelo regime da CLT ou se pelo regime estatutário. 
A emancipação nesse caso não se dá em função do exercício do emprego, mas em razão de 
o Estado ter reconhecido no maior de 16 anos, discernimento para atuar na esfera dos interesses 
públicos, ainda que o faça em área de menor interesse. 
Segundo o art. 5º, parágrafo único, IV, a colação de grau em curso de ensino superior torna 
o maior de 16 anos emancipado. Trata-se de hipótese de rara ocorrência tendo em vista o tempo que 
se exige para a formação fundamental. Também como causa legal de emancipação estão de um lado 
o estabelecimento civil ou comercial e de outro, o estabelecimento de relação de emprego. 
Em uma e outra situação, o menor com 16 anos completos deve em função do 
estabelecimento civil ou comercial ou da relação de emprego ter economia própria, que deve ser 
entendida como a capacidade financeira que torne o maior de 16 anos independente. 
Especial atenção deve ser dada à relação de emprego, pois que a lei exige a presença dos 
elementos da subordinação, hierarquia, pessoalidade e remuneração, o que afasta a possibilidade de 
emancipação por trabalho eventual. 
Referências 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro . São Paulo: Saraiva, 2008, v.1 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Mancuso. Novo Curso de Direito Civil . São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
GOMES, Orlando. Introdução do direito civil . Rio de Janeiro: Forense, 2007. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1. 
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2009, v. 1. 
 
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Direito Civil – Sujeitos Jurídicos 
 
Pessoa natural: Incapacidade 
Compreender o conceito de incapacidade, suas espécies e sua repercussão sobre a 
capacidade civil e seus reflexos na ordem jurídica. 
A capacidade plena consiste na conjugação na pessoa natural da capacidade de gozo com a 
capacidade de fato, ou seja, a pessoa natural tem capacidade plena quando ela por si mesma pode 
ser exercer os direitos que adquire na ordem jurídica. 
Embora todas as pessoas naturais tenham capacidade de direito, o fato é que algumas vezes, 
a capacidade está limitada por outros eventos. Quando a capacidade de fato e apenas a capacidade 
de fato sofre alguma restrição, temos o instituto jurídico da incapacidade. 
A incapacidade pode ser graduada em incapacidade absoluta e incapacidade relativa. Os casos 
de incapacidade absoluta estão descritos no art. 3º e os casos de incapacidade relativa estão 
mencionados no art. 4º. 
É preciso observar que as limitações à capacidade de fato devem ser interpretadas 
restritivamente, na medida em que limitam direitos e não afetam a capacidade de direito ou de gozo. 
Em outros termos, o fato de uma pessoa ser absolutamente incapaz ou relativamente incapaz 
não retira dela a titularidade do direito e nem afeta de qualquer modo a capacidade de direito ou de 
gozo que, aliás, não sofre jamais qualquer tipo de restrição, porque se assim fosse a ideia mesma de 
personalidade e de pessoa estaria comprometida e o Direito perderia

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