Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA 
 
 
LÍSIA MÁRIS HENSEL 
 
 
 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2009 
LÍSIA MÁRIS HENSEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação em Psicologia do 
Centro de Ciências da Saúde da Fundação 
Universidade Regional de Blumenau, como 
requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel em Psicologia. 
 
Prof. Sionára Bodanese Wouters – Orientador 
 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este TCC à minha mãe, Cristina Hensel, 
por ter me ensinado a não desistir, a perseguir 
meus sonhos e ter me mostrado todos os dias o 
significado de amor incondicional. 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de agradecer minha mãe, por me incentivar a não desistir, ao meu irmão, por 
ter se certificado que eu sempre chegasse ao meu destino, e a toda minha família que esteve 
sempre presente aplaudindo minhas conquistas. 
Agradeço também aos meus professores de graduação que me guiaram até aqui, em 
especial à professora Sionára Bodanese Wouters, por ter se empolgado e se empenhado para 
que este TCC fosse realizado. 
Às colegas acadêmicas Ana Claudia Barbaresco, Vanessa Venceslao, e Ivania 
Aparecida Furtado por terem colaborado com seus contatos em seus estágios, com seus 
relatos e por terem me apresentado, com toda disposição, minhas opções de atuação. 
Aos meus colegas de sala, parceiros de festas, confraternizações, cafés e idas à Dona 
Hilda. 
Aos meus amigos: Jennifer Wollinger por ter sido leal durante todos esses anos; 
Emille C. Campestrini por ser minha Sininho e meu raio de sol em todos os dias nublados; 
Mariane Bittencourt por ser parceira em todos os momentos; Maiana Rosenstein por ter me 
dado segurança e por ter me mostrado que para ser irmã não precisa ser do mesmo sangue; 
Luana C. Schüler por ter me provado de todas as formas que distâncias podem ser vencidas e 
Wanderley R. Ortunio por ter sido e continuar sendo um referencial e por ter se mantido 
presente durante todos esses anos. 
Em especial, gostaria de agradecer à lembrança de minha prima, Bruna Ineichen, a 
qual devo minha força para seguir em frente. 
Por fim, agradeço a Deus, por ter me feito quem e como sou e por iluminar, todos os 
dias, meu caminho até aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Entregue a todos os seus temores, suas reticências e suas fraquezas, o homem é sempre 
chamado, na correnteza da vida, a decidir entre o bem e o mal em meio às tentações da 
ambição, do poder, do ‘ter’ ao invés do ‘ser’. Concomitantemente, estará ele, respirando os 
ares da ira, da inveja, do orgulho, da vaidade, da prepotência e das paixões desenfreadamente 
destruidoras, tudo a emaranhá-lo na possibilidade, sempre presente, do retrocesso moral e 
espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade”. 
 
Newton Fernandes e Valter Fernandes 
RESUMO 
 
Nesse trabalho nos propomos a encontrar o perfil psicológico do psicopata. Reproduzimos, de 
forma a complementar e contextualizar, um histórico da Criminologia, a importância do perfil 
criminal e, em linhas gerais, o perfil do criminoso e a relação da Psicologia com o crime. Por 
fim fizemos um levantamento sobre definição, características, causas possíveis e tratamento 
dos psicopatas. Esse trabalho é de cunho qualitativo, a pesquisa é exploratória e se constitui 
em um estudo de caso. No início, foi-se proposto a aplicação de uma técnica projetiva para a 
coleta de dados, porém, devido a não colaboração dos quatro indivíduos escolhidos na 
amostragem, optou-se, de forma complementar, a fazer um questionário aberto com as 
estagiárias de Psicologia sobre os contatos delas com os indivíduos selecionados. A pesquisa 
foi efetuada no Presídio Regional de Blumenau e no Fórum na Central de Penas Alternativas. 
Os resultados obtidos vão de encontro com o que foi encontrado na bibliografia, sendo que a 
característica mais chamativa é a dificuldade de fazer com que estes sujeitos participem de 
pesquisas. Pôde-se também contribuir com os conhecimentos já existentes ao tornar a Central 
de Penas Alternativas uma possibilidade de acesso a essas personalidades psicopáticas, que 
antes se restringia aos Presídios. 
 
Palavras-chave: Criminologia. Transtorno de Personalidade. Psicopatia. 
ABSTRACT 
 
In this report, we find the psychological profile of psychopathic people. In order to 
complement and contextualize, it reproduces a history of criminology, the importance of the 
criminal profile and, the profile of the criminal psychology in general and its relationship with 
the crime. Finally, we did a survey on the definition, characteristics, possible causes and 
treatment of psychopaths. This work consists on a qualitative and exploratory research and it 
is also a case study. At first, it was proposed to apply a projective technique to gather data, but 
due to non cooperation of four individuals chosen at random, we decided on a complementary 
basis, to make an open questionnaire with trainees of Psychology about their contacts with the 
selected individuals. The research was conducted at the Blumenau’s Jail, Regional Forum and 
the Central Sentencing Alternatives. The results are in agreement with what was found in the 
literature, and the most striking feature is the difficulty of making these subjects participate in 
research. It might also contribute to the existing knowledge by making the Central Sentencing 
Alternatives a possibility of accessing these psychopathic personalities, which previously was 
restricted to Prison. 
 
Keywords: Criminology. Personality’s Disorder. Psychopathy. 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................ 12 
1.2 OBJETIVOS................................................................................................................... 12 
1.2.1 Geral ............................................................................................................................... 12 
1.2.2 Específicos...................................................................................................................... 13 
1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 13 
2 CRIMINOLOGIA ........................................................................................................ 16 
2.1 DEFINIÇÃO................................................................................................................... 16 
2.2 HISTÓRICO DA CRIMINOLOGIA ............................................................................. 17 
2.3 O PERFIL CRIMINAL .................................................................................................. 23 
3 TÉCNICAS POJETIVAS ............................................................................................ 24 
3.1 HTP (HOUSE, TREE, PERSON) .................................................................................. 25 
4 PSICOLOGIA E CRIME ............................................................................................ 26 
4.1 PERFIL DO CRIMINOSO.............................................................................................28 
4.2 PERFIL DO PSICOPATA ............................................................................................. 29 
4.2.1 Definição ........................................................................................................................ 29 
4.2.2 Características................................................................................................................. 32 
4.2.3 Etiologia ......................................................................................................................... 35 
4.2.4 Tratamento...................................................................................................................... 38 
5 CAMINHO DA PESQUISA ........................................................................................ 39 
5.1 MÉTODO DE PESQUISA............................................................................................. 39 
5.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ........................................................................................ 40 
5.3 PROCEDIMENTOS....................................................................................................... 41 
5.3.1 Procedimentos de coleta ................................................................................................. 41 
5.3.2 Procedimento de análise de dados .................................................................................. 42 
5.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................... 43 
6 RESULTADO DA PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS ....................................... 44 
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................. 47 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 51 
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTAGIÁRIA 1.................................. 54 
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTAGIÁRIA 2 .................................. 56 
 
 
11 
1 INTRODUÇÃO 
 A presente pesquisa é dirigida aos estudantes e profissionais da Psicologia integrada 
ao Direito, bem como às demais áreas e pessoas interessadas no assunto, para que de forma 
interdisciplinar se possa pensar neste tema que há tanto aflige a sociedade, e que com esforços 
conjuntos possamos, além de ampliar o conhecimento, buscar melhorias e quem sabe até 
soluções. 
 Esse trabalho se propõe, através de uma ótica da Psicologia e da Criminologia, 
encontrar características semelhantes nos indivíduos psicopatas e confrontá-las com a teoria 
hoje existente. Está sendo realizada devido a um grande interesse da autora sobre o tema e 
também por se encontrar como um assunto ainda muito abstrato na área da Psicologia e 
bastante mistificado pelos olhos da sociedade. 
 A Psicologia Jurídica aplicada ao Direito encontra-se limitada, abrangendo apenas a 
Psicologia do testemunho, a obtenção de evidência delituosa, a compreensão do delito, a 
informação forense a seu respeito e a reforma moral do delinquente. Existem muitos outros 
capítulos forenses e criminais aos quais os recursos são escassos como, por exemplo, o ramo 
que engloba o estudo do perfil do criminoso, pois “[...] existe, até certo ponto, uma norma 
geral de evolução da personalidade, de suma importância para o jurista, pois, sem o seu 
conhecimento não chegará nunca a compreender devidamente os problemas psicológicos 
suscitados por seus clientes [...].” (MIRA Y LOPEZ, 2005, p. 55). 
 Para tal se faz importante o exame psicológico que 
[...] tem por objetivo apreender e descrever o perfil psicológico da pessoa examinada, 
independentemente da existência ou não de suspeita que ela seja portadora de uma 
patologia mental. Destarte, ele pode ser aplicado em qualquer indivíduo, pois, 
inquestionavelmente, sempre trará informações de interesse para a compreensão e o 
entendimento da forma como são exercidas as atividades mentais do examinado. 
(FERNANDES; FERNANDES, 1995, p.227). 
 É neste quesito que entra o trabalho do psicólogo pesquisador, com o intuito de 
amparar o trabalho dos demais peritos em relação ao que tange a personalidade do indivíduo. 
A avaliação psíquica do criminoso é que trará os esclarecimentos: conhecer os 
diferentes aspectos de sua personalidade, sua estrutura específica e suas características 
fundamentais que, como são variáveis de uma para outra pessoa, são de capital 
importância para se saber a gênese e a dinâmica do evento delituoso. (FERNANDES; 
FERNANDES, 1995, p. 227) 
12 
 Esse trabalho procura, justamente, identificar o perfil psicológico do psicopata, este 
que ainda hoje é visto como um ser mistificado e indubitavelmente perigoso. Seu perfil 
continua sendo um mistério para todas as ciências e seu comportamento incompreendido pela 
sociedade. O homem considerado normal não consegue entender, muito menos explicar, as 
reações e planejamentos de um ser tão cruel que pensa em excesso em sua própria satisfação. 
 Segundo os dicionários LISA – Grande Dicionário da Língua Portuguesa e Michaelis: 
Moderno Dicionário da Língua Portuguesa o psicopata é definido de uma forma reducionista, 
como a pessoa que sofre de doença mental, e a psicopatia vista de uma forma mais ampla, é: 
1. nome comum a todas as doenças mentais; 2. anormalidade congênita de personalidade, 
especialmente nas esferas afetiva, volitiva e instintiva, podendo serem normais as faculdades 
intelectuais. O Dicionário Técnico de Psicologia vem corroborar com esta visão, dizendo que, 
além da psicopatia ser vista como uma perturbação mental, ela é uma “[...] instabilidade 
emocional que torna o indivíduo incapaz de restringir ou controlar certos impulsos anti-
sociais, mas sem que possa diagnosticar-se um estado caracterizadamente 
patológico”.(CABRAL; NICK, 2003, p. 260). 
 Para Kaplan e Sadock (1993) a personalidade é vista como aquele todo estável e 
previsível de características emocionais e comportamentais que indentificam um indivíduo. E 
de acordo com Kienen e Wolff (2002) o comportamento de uma pessoa pode variar conforme 
a situação, o histórico pessoal e o contexto (envolvendo o social, econômico, cultutal e 
político). 
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA 
Qual o perfil psicológico do psicopata? 
1.2 OBJETIVOS 
1.2.1 Geral 
Identificar o perfil psicológico do psicopata. 
13 
1.2.2 Específicos 
a) identificar, na literatura, a definição e o histórico da Criminologia; 
b) elucidar sobre perfilação de personalidades; 
c) identificar, na literatura, características sobre o perfil criminal; 
 d) levantar traços do perfil psicológico dos indivíduos psicopatas. 
1.3 JUSTIFICATIVA 
 Em todos os meios de comunicação se vê o aumento da criminalidade (por um lado 
devido a uma exacerbação de uma imagem que vende, por outro, por ser um retrato do que 
ocorre na sociedade atual), o que nos leva a perceber a necessidade de maior consideração dos 
fatores psicológicos dos indivíduos criminosos. Existe na nossa sociedade uma crescente 
demanda em se tratando da atividade de um psicólogo criminal, seja na perfilação1 dos 
criminosos, seja no auxílio a investigações e às perícias médico-legais, ou seja, estudando a 
personalidade daqueles que cometem os crimes. Sendo que esse estudo também é importante 
seja por sua relação com as taxas de reincidência criminal, seja para a seleção de tratamento 
apropriado e programas especiais de reabilitação no sistema penitenciário. 
Ao se tratar dos criminosos considerados psicopatas, segundo Morana (2003), a 
prevalência na população geral estaria em torno de 1%, enquanto que na população carcerária 
esta porcentagem sobe para 15-20%. Apesar de o índice ser relativamente baixo, são estes que 
são consideradosos culpados pela maior parte dos crimes violentos cometidos nos EUA, e 
provavelmente no resto do mundo também. 
Outra estatística relevante ao estudar personalidades criminosas é o índice de 
reincidência, que só no Brasil, de acordo com Morana (2003), atinge uma taxa de 70%. O 
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional (2003), considera que no Brasil a 
reincidência criminal é de 82%, sendo que só em São Paulo é de 58%, ou seja, a cada dois 
presos que saem da cadeia, um volta, sendo que para as personalidades psicopáticas, segundo 
Morana (2003), esta taxa é quatro vezes maior. 
 
1 Perfilação: ferramenta investigativa utilizada como perícia forense para estabelecer hipóteses sobre os 
criminosos. 
14 
A criminalidade é um problema social, econômico e político importante que deve ser 
enfrentado. Ele é social porque afeta diariamente a qualidade e expectativa de vida das 
populações. É econômico, pois, além de estar associada às classes sociais e suas condições 
econômicas, limita o potencial de desenvolvimento das nações. E é também um problema 
político, já que as ações consideradas necessárias para combater a criminalidade exige a 
participação efetiva dos governos e a utilização certa dos recursos públicos. Sendo assim, a 
sociedade como um todo, não apenas o sistema judiciário, está envolvida, pois todos, ou 
perpetuam, ou sofrem com a falta de segurança na atualidade. 
Outro ponto que deve ser ressaltado é o Artigo 22 do Código Penal Brasileiro que diz: 
 
É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz 
de entender o caráter criminoso do fato ou determinar-se de acordo com esse 
entendimento. (DOTTI, 1987, Art. 22 do Código Penal). 
 
Através do que prevê esse artigo, tem-se consciência da importância do auxílio de um 
psicólogo nos processos criminais para que se determine se há alguma psicopatologia regendo 
as atitudes da pessoa, para que se possa dar uma pena adequada a cada caso, visando não 
somente o crime, mas também a personalidade presente por trás dele. Pois, antes de ver 
apenas o crime como núcleo das decisões jurídicas e infrações penais, é “[...] preciso estudá-
lo e conhecê-lo como ação humana, isto é, como fenômeno natural e social, notando-lhe 
causas tanto naturais como sociais e avaliando-o como expressão anti-social de uma dada 
personalidade”. (FERRI, 2003, p. 50). Ou seja, na avaliação forense deve-se observar não só o 
crime cometido, mas também a forma como o criminoso atua. 
Neste sentido, é importante lembrar que “[...] o criminoso não é um ser à parte; é um 
homem que age e pensa como os demais e cujo comportamento, por diversas razões, 
ultrapassou um limite que a sociedade não admite como tolerável.” (DOURADO, 1969, p. 
19). Sendo assim, deve-se sempre levar em conta o critério psicológico, pois enquanto que o 
crime é uma realidade, a visão da sociedade em relação ao criminoso, é um mito. Precisa-se 
fazer esta diferenciação entre o crime e o homem que o comete, pois como já afirmava 
Nietzsche, os dois são diferentes, pois, ao contrário do crime, os homens são profundamente 
diferentes entre si sob diversos ângulos. 
Constata-se, no exercício profissional dos psicólogos no âmbito judiciário, a 
predominância das atividades de confecções de laudos, pareceres e relatórios, no 
pressuposto de que cabe à Psicologia, neste contexto, uma atividade 
predominantemente avaliativa e de subsídio aos magistrados. (BRANDÃO; 
GONÇALVES, 2005, p. 22). 
 
15 
A completa investigação dos âmbitos criminais, especialmente da personalidade do 
indivíduo delinqüente, é necessária não apenas para que o judiciário aplique a pena correta, 
mas também, para que, através disto, sejam feitos planos em torno de reabilitações 
especializadas para cada tipo de personalidade, levando em conta que, enquanto uns têm a 
possibilidade de se libertarem e viverem uma vida longe “das grades”, outros, como os 
psicopatas, não possuem esperança de reabilitação, acabam reincidindo e influenciando outros 
presos a continuarem cometendo violência contra terceiros. 
É possível observar nas formas modernas de subjetividade, que a partir do século XIX 
“[...] mais do que punir, buscar-se-á a reforma psicológica e a correção moral dos indivíduos.” 
(BRANDÃO; GONÇALVES, 2005, p 20). Dentro disto se vê a necessidade de uma maior 
força dos psicólogos no âmbito jurídico, visando não somente o acompanhamento do processo 
carcerário, mas também uma prevenção, buscando não soltar aqueles que têm propensão ao 
crime, que estão em estado periculoso, ou seja, aqueles que têm probabilidade de cometer 
novamente o delito e aumentar o índice de reincidência, além de diminuir a segurança da 
sociedade. 
Isto pode ser feito através do que Dourado (1969) afirma sobre a Psicologia Criminal, 
considerando que esta se destina a estudar a personalidade do criminoso, a estudar aquelas 
características que, usualmente, são processos estáveis e relativamente coesos do 
comportamento, pensamento, reação e experiência de determinada pessoa. Por intermédio 
desse estudo, é possível compreender e até prever grande parte do comportamento futuro do 
indivíduo. 
Para Franca (2004), há grande necessidade de maiores estudos em todos os âmbitos da 
Psicologia Jurídica, pois, embora, no Brasil, estes atinjam quase a totalidade de seus setores, 
ainda temos uma concentração maior de psicólogos em áreas como as das questões da 
infância e juventude, das questões familiares, enquanto que algumas áreas tradicionais são 
pouco desenvolvidas no Brasil, como a Psicologia do testemunho, a Psicologia policial/militar 
e a Psicologia Jurídica e o direito cível. 
Há setores, muitas vezes denominados como não tradicionais ou mais recentes, como 
proteção de testemunha, autópsia psíquica, entre outros, que são muito desfalcados em relação 
a estudos e ao número de psicólogos operantes neles. Justamente pela grande importância 
apontada à Psicologia Jurídica em diversos âmbitos e pela dificuldade do psicólogo ao emitir 
seu laudo ou parecer a pedido do Poder Judiciário, é bastante evidente a necessidade e 
relevância de mais estudos nessa área. 
16 
2 CRIMINOLOGIA 
2.1 DEFINIÇÃO 
 De acordo com Fernandes e Fernandes (1995) a Criminologia é considerada uma 
ciência recente e multidisciplinar devido às diversas variáveis encontradas em situações 
delituosas. Pode-se ver a contribuição da Biologia, da Antropologia, da Sociologia, da 
Psicanálise e da Psicologia. 
 Para Fernandes e Fernandes (1995) a Criminologia se interessa em tornar claro tudo o 
que contribui ou concorre para a existência da criminalidade, admitindo que para que o crime 
venha a eclodir é indispensável que ocorra uma intenção ou um ato humano. Por isso, o 
estudo do comportamento humano é considerado a base da Criminologia, pois para que seja 
possível esclarecer os fatos que circundam as ações delituosas, é preciso primeiramente se 
debruçar sobre o indivíduo que as comete. Seguindo esta mesma linha de raciocínio, Dias e 
Andrade (1994) definem a Criminologia como “[...] estudo etiológico-explicativo do crime 
[...].” (p. 05). 
[...] O delito e o delinquente, na Criminologia, não são encarados do ponto de vista 
jurídico, mas examinados, por meio de obervação e experimentação, sob enfoques 
diversos. O crime é considerado um fato humano e social; o criminoso é tido como ser 
biológico e agente social, influenciado por fatores genéticos e constitucionais, bem 
como pelas injunções externas que conduzem à prática da infração penal, e, numa 
postura moderna, agente de comportamento desviante. (MIRABETE, 2005, p. 31). 
 Ou seja, a Criminologia,“[...] é um conjunto de conhecimentos que estuda o fenômeno 
e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta delituosa e a 
maneira de reassociá-lo.” (FERNANDES; FERNANDES, 1995, p. 24). Sendo assim, essa 
ciência tem como objetivo não se preocupar apenas com o crime, mas também estudar o 
criminoso, com a intenção de encontrar meios de prevenir os crimes e a reincidência. Sempre 
é importante lembrar que embora todas as ações sejam sociais, não há critérios que digam, 
com certeza, qual o homem que poderá delinqüir e qual não poderá. 
 Fernandes e Fernandes (1995) deixa bem claro que o crime é um fenômeno social, que 
pode ter causas endógenas, exógenas ou mistas. O crime, portanto, é o produto de dois 
fatores: o indivíduo e a sociedade. Dizem ainda que, “[...] toda pessoa é um ‘criminoso 
17 
potencial’, mas são imprescindíveis contatos e direção de tendências para torná-la criminosa 
ou respeitadora da lei.” (FERNANDES; FERNANDES, 1995, p.52). 
 O comportamento do homem sempre foi campo de estudo para ele mesmo, seja por 
uma busca de auto-conhecimento, seja por uma tentativa de buscar entender as diferenças 
passíveis de observação do comportamento humano perante uma mesma situação. 
[...] a própria natureza da inteligência do homem faz com que seu pensamento seja 
imperscrutável e, decorrentemente, seu procedimento não raro se torna inexplicável, 
quando não enigmático, persistindo, daí, um infindável número de atos humanos que, 
desde os tempos imemoriais até hoje, não foram decifrados ou suficientemente 
esclarecidos. (FERNANDES; FERNANDES, 1995, p.53). 
2.2 HISTÓRICO DA CRIMINOLOGIA 
 A história nos mostra que o interesse pelo comportamento delinquencial do homem 
existe desde antes de Cristo. Estes atos indecifrados são vistos com muita curiosidade, 
estudados e comentados desde os tempos do Código de Hamurabi. Este, por sua vez, é um dos 
primeiros precursores da Criminologia de hoje. A história pregressa da Criminologia que 
segue foi retirada de Dias e Andrade (1984), de Fernandes e Fernandes (1995) e Benetti 
(2005). 
 O Código de Hamurabi foi instituído na Babilônia de 1728 a 1686 a.C.. Ele é 
conhecido por ter sido o primeiro a utilizar a chamada “pena do talião”, também intitulada 
popularmente de “olho por olho, dente por dente”. 
 Logo após, no séc. XVI a.C. tem-se, através dos Livros da Bíblia, o conhecimento da 
Legislação de Moisés, na qual se pode observar noções de aspectos punitivos aos indivíduos 
que cometem delitos. 
 Confúcio (551-478 a.C.) já reproduzia o pensamento de que, o que deve ser de 
preocupação da sociedade, é justamente a prevenção dos crimes, afirmando que a pena é uma 
má condição de reabilitação, sendo que considera os castigos atos depreciativos e não 
funcionais, ou seja, ao invés de fazer os criminosos pagarem por seus crimes e serem 
reabilitados na sociedade de uma forma a não reincidirem, acabam por perpetuar os atos 
delituosos. 
 É possível observar uma curiosidade sobre o assunto também entre os Gregos, a 
começar por Alcmeon, de Cretona no séc. VI a.C. que se dedicou a estudos das características 
18 
biopsiquicas dos delinqüentes. Também tentou correlacionar a conduta do ser humano com o 
seu cérebro. Afirmava que a vida é o equilíbrio entre as forças contrárias que constituem o ser 
humano, ou seja, quando estas forças estão em desequilíbrio, pode-se observar algo diferente 
na personalidade e na conduta do homem. 
 Esopo (séc. VI a.C.) afirmava que o crime não pode ir além da capacidade daquele que 
o cometeu, sendo que cada crime e tudo aquilo que o envolve diz algo sobre a personalidade 
de seu causador. 
 Isócrates (436-338 a.C.) já tinha a noção da idéia de cumplicidade criminosa, 
considerando que ao ter conhecimento de um crime e não comunicá-lo às autoridades, o 
indivíduo estará compactuando com este, sendo considerado, também, um criminoso. 
 Protágoras (485-415 a.C.) foi considerado o precursor da Penologia (ramo da 
Criminologia que se ocupa com o fundamento e aplicação das penas), pois afirmava que a 
pena deveria ter caráter preventivo, com a condição de servir de exemplo, não de tortura e 
castigo. 
 Sócrates (470-399 a.C.), de forma bastante atual, acreditava que deveria haver uma 
preocupação com aqueles indivíduos que estão saindo do encarceramento, para que estes não 
voltem à vida do crime, incentivando programas de reabilitação, visando uma nova formação 
de caráter, diminuindo a taxa de reincidência. 
 Hipócrates (460-355 a.C.) já perpetuava o que prevê nosso Código Penal, pois já 
defendia a inimputabilidade ou irresponsabilidade do homem insano. Também comparava o 
vício com o crime, dizendo que como o primeiro é fruto da loucura, o segundo (considerado 
um ato mais grave) também o seria. 
 Platão (427-347 a.C.) assim como diversos de seus seguidores já citava como motivo 
da criminalidade a pobreza, os fatores econômicos e as características humanas de ambição, 
cobiça e poder. Dizia, também, que a causa de os jovens entrarem para a vida do crime é 
devido aos meios, às más companhias, e aos costumes dissolutos. Considerava o crime como 
um sintoma para o qual as causas seriam as paixões, a procura do prazer e a ignorância. 
 Aristóteles (384-322 a.C.) segue o pensamento de Platão, afirmando que a miséria 
pode ser considerada motivadora de rebelião e dos delitos, apontando novamente as causas 
econômicas como uma das principais causas para crimes. Observava também que os mais 
graves são justamente para adquirir o que é supérfluo e que o caráter dos delinqüentes tinham 
uma freqüente tendência à reincidência. Trazia que paixões humanas eram mais importantes 
19 
que as razões econômicas na etiologia delinquencial, apontando para um crescimento dos 
crimes, hoje conhecidos como passionais. Como acreditava que o criminoso era um inimigo 
da sociedade, este deveria ser castigado. 
 Sêneca, em Roma (4 a.C.- 65 d.C.) ao fazer uma análise da ira, observava que esta 
seria a propulsora dos crimes e a razão da sociedade viver em constante luta. 
 Santo Agostinho (354-430 d.C.) retoma a “pena de talião” para afirmar que ela era a 
“justiça dos injustos”. Em vista disso propunha que a pena deveria ser uma forma de defesa 
social e contribuir para a regeneração do culpado, além de conter uma ameaça e um exemplo, 
ou seja, retomava a idéia de reeducação do indivíduo. 
 Na Idade Média, São Tomás de Aquino (1226-1274) foi o primeiro a fazer reparo na 
questão da criminalidade. Criador da “Justiça Distributiva” (que manda dar a cada um aquilo 
que é seu, segundo uma certa igualdade), afirmava, assim como muitos, que a pobreza é 
geralmente incentivadora do crime e defendia a idéia do furto por necessidade. 
 Afonso X (séc XIII) criou o Código das 7 Partidas que definia o termo assassínio (ou 
assassino como é tratado hoje) e tratava dos crimes premeditados e mediante remuneração. 
 Até as ciências ocultas entraram no ramo da Criminologia buscando entender e 
explicar a conduta do sujeito, em especial aquele que não segue o status de normal e se torna 
delinqüente. A Astrologia tenta, através de estudos, definir o comportamento do homem pela 
movimentação das constelações localizadas na faixa do Zodíaco. 
 A Oftalmoscopia, antecessora da Oftalmologia e da Irilogia, procurou estabelecer o 
caráter do homem através do exame da parte interior do olho. 
 A Metoposcopia buscou determinar o caráter através do estudo das rugas e carquilhas 
da pele do rosto. 
 A Quiromancia utilizou o exame das linhas das palmas das mãos para estudar o 
presente e o passado do indivíduo, procurando prever o futuro. Esta técnica ainda existe, mas 
com outros intuitos. 
 A Fisiognomonia tentou conhecer o caráterpelos traços fisionômicos e pela formação 
craniana. Através de um estudo com cadáveres de criminosos, Juan Batista Della Porte 
observou conexões entre as formas dos rostos e os crimes, o que propiciou o aparecimento da 
Frenologia no séc. XIX. 
20 
 A Demonologia tentava conhecer os indivíduos possuídos pelo demônio. O mau 
comportamento do homem ou sua má conduta eram interpretados como uma enfermidade 
diabólica, e os acometidos tinham como possibilidade de cura ser queimados pelo fogo 
purificador de uma fogueira humana. Propiciou o aparecimento da Psiquiatria. 
 Filósofos e pensadores também deram a sua contribuição: Thomas Moro (1478-1535) 
em sua obra Utopia faz a primeira crítica contra a burguesia ascensional, para analisar as 
razões da decadência do regime feudal. Ele queria penas menos rigorosas (nesta época os 
criminosos eram condenados à morte, não importando qual teria sido seu delito) e que elas 
fossem correspondentes aos delitos. Sinalizava o fator econômico como uma das causas da 
criminalidade. 
 Martinho Lutero foi o primeiro a perceber e distinguir uma criminalidade rural e outra 
urbana. 
 Francis Bacon (1561-1626), assim como Descartes (1596-1650), admitia como causas 
determinantes da criminalidade os fenômenos socioeconômicos. 
 A época do Iluminismo (Séc. XVIII) foi de suma importância, pois devido às muitas 
modificações de idéias e conceitos, contribuiu para inovações no campo das concepções 
penais, semeando o caminho propício ao advento das escolas penais e à sistematização 
científica não só do Direito Penal, mas também das demais ciências afins. 
 Montesquieu (1689-1755) (L’esprit dês lois) assumiu a posição de que o que se deve 
fazer é prevenir, não punir. Pensava também que as penas deveriam ser reeducadoras e não no 
sentido de castigar. 
 Marat (1743-1793) também apontou que a pena não deveria ter como fim castigar, e 
sim preservar a segurança da sociedade, e acrescentou que a punição e seus efeitos não 
poderiam ultrapassar a figura do criminoso. 
 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) ponderou que as penas devem ser dadas de acordo 
com os delitos cometidos e apontou a miséria como um dos principais fatores dos grandes 
delitos. 
 Voltaire (1694-1778) lutou pela reforma das prisões, pela reformulação da pena de 
morte, propondo a substituição por “trabalhos forçados”, e combateu a prática da tortura. O 
condenado não deveria permanecer na ociosidade na prisão, no sentido de buscar a 
reeducação. Também acreditava que o roubo e o furto são delitos dos pobres. 
21 
 Cesar Bonesana (1738-1794) conhecido como o Marquês de Beccaria, escreveu um 
dos livros mais influentes no ramo da Criminologia e do Direito Penal intitulado “Dos Delitos 
e das Penas”. Nele, Beccaria faz as seguintes afirmações: não cabe aos juízes interpretar leis 
penais; as acusações não podem ser secretas; as penas devem ser proporcionais aos delitos; 
não se pode admitir a tortura do acusado; somente os magistrados é que podem julgar os 
acusados; o objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e 
servir de exemplo para que outros não venham a delinqüir; as penas devem ser previstas em 
lei; o réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória; o roubo é 
ocasionado geralmente pela miséria e pelo desespero; as penas devem ser moderadas; mais 
útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos; não tem a sociedade o direito de aplicar a 
pena de morte nem de banimento. 
 Pode-se observar que muitas das afirmações de Beccaria, senão todas, são 
extremamente atuais, norteando a atuação nas áreas penais e criminais. Juntamente com 
Romagnosi, Pagano, Rossi, etc., criou a Escola Clássica (metafísica) que considera o crime 
uma infração, a pena uma repressão; o criminoso um ser livre de querer, ou não querer, ou 
seja, o livre-arbítrio determina a existência do crime. Foi a partir dessa escola que a 
Criminolgia começou a ser considerada uma nova ciência. 
 Geremie Benthan (1748-1832) teve participação no trabalho de reforma penal e na 
criação de um estabelecimento penal com caráter eminentemente educativo. 
 John Howard (1726-1780) era contra manter encarcerado quem já tivesse cumprido 
pena ou, se absolvido, não pudesse pagar pela “hospedagem”, pois naquela época existia a 
obrigatoriedade de pagamento pela “estadia” na prisão. Mais tarde o parlamento inglês aboliu 
o dever de pagar. Foi criador do sistema penitenciário. 
 Franz Joseph Gall (1758-1828) e Joseph Gaspard Lavater (1797-1859) foram os 
criadores da Frenologia, que foi considerada um avanço na pesquisa do comportamento 
humano. Seus precursores foram Niko Tembergern, Robert Ardrey, Desmond Morris, Konrad 
Lorenz e outros. A Frenologia acreditava conseguir determinar as características da 
personalidade pela forma da cabeça do indivíduo. 
 Felipe Pinel (1645-1826) modificou a forma como eram tratados os loucos, sendo que 
de párias passaram a ser considerados doentes e, portanto, deveriam parar de sofrer 
violências, tendo em mente que o cuidado deles pode melhorar ou agravar a doença. É 
considerado o pai da Psiquiatria Moderna. 
22 
 Esquirol (1772-1840) fez estudos relacionando a loucura com o cometimento de 
crimes. Foi o criador do conceito monomania (concepção psiquiátrica de loucura moral, que é 
definida como sendo característica de alguém com níveis regulares de inteligência, mas com 
graves defeitos ou transtornos nos seus princípios morais). 
 Morel (1809-1873) defendia que ao fim de algumas gerações e por circunstancias 
desfavoráveis, o indivíduo normal podia degenerar-se e adquirir taras biológicas, psicológicas 
e morais. 
Cesare Lombroso (1835-1909) acreditava que os estudos deveriam se basear nas 
características anatômicas do indivíduo criminoso, para que através disto fosse possível saber 
sobre o antropológico deste homem. Foi criador da Antropologia Criminal e defendia que o 
criminoso podia ser: nato, falso delinqüente ou delinqüente ocasional, e criminalóide ou meio 
delinqüente. Juntamente com Ferri, Garófalo, dentre outros, deu início a Nuova Scuola 
(escola antropológica), a qual acreditava que sobre o criminoso exercem fatores extrínsecos e 
intrínsecos; que o criminoso não é responsável porque não é livre, e que a punição é como 
uma medida de defesa social. Esta escola antropológica juntamente com a Escola 
Determinista (escola sociológica), que entendia o crime como uma ação anti-social e a pena 
como uma intimidação ou correção que prevê a defesa social, formavam a Escola Positiva. 
 Enrico Ferri (1856-1929) classificou o criminoso como: nato (o tipo instintivo; possui 
completa atrofia do senso moral); louco (o alienado mental; o semi-louco; o matóide; o 
fronteiriço); ocasional (aquele que eventualmente comete um delito); habitual (reincidente da 
ação delituosa); passional (levado a cometer o crime pelo ímpeto). 
 Também Raphael Garófalo (1884), que foi o criador do termo Criminologia, 
classifica-os em: assassinos ou delinqüentes típicos (obedecem unicamente aos próprios 
desejos e apetites instantâneos, atuam sem cumplicidade alguma indireta, oferecem, 
freqüentemente, anomalias anatômicas); violentos (falta o sentido de compaixão, na maioria 
das vezes são impulsivos); e ladrões (falta o instinto de probidade). 
 Durante a história acima citada, nasceram algumas teorias, como: as Teorias 
Antropossociais que associam os princípios constitucionais de Lombroso com os sociais, 
pregando que o meio social influi sobre o criminoso antropologicamente-nato, predispondo-o 
a perpetuar delitos. Não aceita a concepção de criminoso nato, mas considera a possibilidade 
de existir o individuo predisposto; as Teorias Sociais, propriamenteditas, que relegaram os 
fatores endógenos e ressaltaram a relevância dos exógenos, dentre os quais têm maior 
23 
importância os sociais; e finalmente chegamos a teoria mais próxima da nossa época, a Teoria 
Socialista, que acredita que o regime capitalista pode influenciar no aumento da 
criminalidade. 
 Temos também, já na modernidade, a Biologia Criminal (para a qual o crime é um 
fenômeno individual, ocupando-se das condições naturais do homem criminoso), a Sociologia 
Criminal (que estuda o crime como fenômeno social) e a Psicologia Criminal (que ocupa-se 
em estudar as condições psicológicas do homem delinquente e do crime em si). 
2.3 O PERFIL CRIMINAL 
 O Perfil Criminal é muito útil para o exame pericial, pois 
[...] é fundamental a observação atenta do comportamento do examinando, desde o 
momento de sua entrada na sala de exame. Isso porque a tendência do periciando é 
repetir, ainda que de forma inconsciente, o seu padrão de funcionamento mental, 
sobretudo como ele se manifesta no relacionamento interpessoal, o que poderá ser 
utilizado como critério de diagnóstico. (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 
2009). 
 De acordo com Casoy (2002) o perfil criminal é uma ferramenta investigativa 
disponível para ajudar a solucionar um crime, ela foi adotada primeiramente pelos EUA em 
1940. Já a Psicologia Investigativa teve início em 1985, quando David Cânter foi chamado 
pela Scotland Yard (Quartel General de Serviço da Polícia Metropolitana de Londres) para 
discutir a possibilidade de integrar a investigação técnica com conceitos psicológicos. 
 Embora no Brasil não se possa observar com muita freqüência essa tendência, a 
perfilação (ou profiling como também é conhecida) é muito utilizada em diversos outros 
países no intuito de procurar aquele indivíduo que tenha cometido um crime, mas ainda esteja 
foragido. Segundo Correia, Lucas e Lamia (2007) o profiling é tido como perícia forense 
pluridisciplinar e é definido como uma tentativa de estabelecer hipóteses acerca do criminoso, 
utilizando-se de uma análise da cena do crime, da vitimologia (estudo da vítima) e do 
conhecimento sobre os agressores. 
 O profiling tem por objetivo fazer “[...] a correnspondência entre a personalidade e o 
comportamento criminal [...].” (CORREIA; LUCAS; LAMIA, 2007, p. 595), pois leva em 
consideração que cada comportamento humano reflete a personalidade do indivíduo. Ou seja, 
cada detalhe do crime, cada comportamento que o criminoso apresenta e escolhe demonstrar, 
nos diz alguma coisa sobre sua personalidade e sobre as características de seu perfil. 
24 
 Devido ao fato de como a mídia disseminou essa técnica, existe uma crença de que o 
perfil nos leva a um criminoso específico, o que não é verdade. Segundo Casoy (2002) o 
perfil apenas nos indica um tipo de criminoso. 
 O perfil criminal envolve o histórico do passado, histórico médico e características 
comportamentais do agressor, os quais tentam descrever a pessoa que cometeu o crime, 
facilitando a busca da polícia. No modelo do FBI, esse estágio pode envolver orientações 
sobre como melhor entrevistar o suspeito. 
[...] Freqüentemente encontramos nos perfis criminais as seguintes informações: 
idade, raça, sexo, aparência geral do criminoso, seu status de relacionamento, tipo de 
ocupação e dados sobre seu emprego, educação e vida militar. [...] As vezes, são 
incluídas informações sobre se o criminoso vive na área onde foi cometido o crime ou 
se o local é familiar para ele, algumas características básicas sobre sua personalidade e 
objetos significantes que deve possuir [...] Também é sugerido aqui o método de 
aproximação que o criminoso usa para contatar sua vítima. (CASOY, 2002, p. 38-39). 
 Ainda segundo Casoy (2002) essas conclusões serão baseadas na cena do crime, na 
reconstrução do comportamento do criminoso e na análise desse comportamento no contexto 
do crime. Com esses dados, o número de suspeitos a serem investigados diminui 
sensivelmente. 
 Um dos instrumentos bastante disseminados para a investigação da personalidade e 
comportamento do indivíduo, que pode auxiliar tanto no profiling quanto após a prisão do 
indivíduo, são os testes psicológicos. Estes são considerados instrumentos padronizados e 
objetivos. 
3 TÉCNICAS POJETIVAS 
 Segundo Morana, Stone e Abdalla-Filho (2009), os exames psicológicos podem ser 
muito úteis na investigação diagnóstica de transtornos de personalidade. Sendo os portadores 
de TP2 anti-social tipicamente indivíduos manipuladores, eles podem tentar exercer o controle 
sobre sua própria fala durante a perícia, simular, dissimular, enfim, manipular suas respostas 
ao que lhe for perguntado. Os testes psicológicos dificultam tal manipulação e fornecem 
elementos diagnósticos complementares. 
 Segundo Dias e Andrade (1994) existe uma multiplicidade de testes, mas os que mais 
interessam à investigação criminológica são os testes projetivos, no qual se acredita que o 
 
2 Transtorno de Personalidade 
25 
indivíduo irá projetar suas características de personalidade. O mais citado pelos autores são o 
Rorschach e o Zulliger. Acrescentamos o também conhecido, House, Tree, Person (HTP), o 
qual seria utilizado para as entrevistas com os indivíduos psicopatas selecionados. 
 As técnicas projetivas são técnicas que abordam de forma global a personalidade, de 
acordo com Anastasi e Urbina (2000) elas se focam em todo o composto desta. 
 São técnicas não-estruturadas, o que permite “[...] uma variedade quase ilimitada de 
respostas possíveis.”(ANASTASI; URBINA, 2000, p. 338). As autoras ainda acrescentam que 
essas técnicas possuem estímulos vagos e ambíguos e instruções breves e gerais, o que 
possibilita uma liberdade total ao indivíduo, deixando espaço aberto a todas as fantasias e 
interpretações deste, evitando, também, reações defensivas. 
 A técnica é assim estruturada, pois, a forma como o indivíduo interpreta o que lhe é 
apresentado irá refletir seus aspectos mais individuais. “Em outras palavras, espera-se que os 
materiais de teste sirvam como uma espécie de tela, na qual os respondentes ‘projetam’ seus 
processos de pensamento, suas necessidades, suas ansiedades e seus conflitos característicos.” 
(ANASTASI ; URBINA, 2000, p. 338). Ou seja, de acordo com Anastasi (1977) as técnicas 
projetivas se interessam por características emocionais, motivacionais, interpessoais, 
intelectuais e comportamentais. 
 As técnicas projetivas são bastante eficazes, pois devido a sua associação com uma 
testagem dirsfarçada, os sujeitos testados não conseguem decifrar o que é esperado de suas 
interpretações e respostas, o que dificulta a manipulação dos resultados. 
3.1 HTP (HOUSE, TREE, PERSON) 
 O HTP, também chamado de House, Tree, Person (casa, árvore, pessoa), é uma técnica 
projetiva gráfica. Este teste tem sido usado há mais de 50 anos como uma forma de obter 
informações sobre “[...] como uma pessoa experiencia sua individualidade em relação aos 
outros e ao ambiente do lar.”(BUCK, 2003, p. 01). Ou seja, através da projeção que o 
indivíduo faz, é possível conhecer as características e conflitos da personalidade do sujeito. 
 Segundo Buck (2003) o HTP inclui no mínimo duas fases, sendo a primeira não-
verbal, que consiste em uma forma não-estruturada, na qual é solicitado ao sujeito que faça 
um desenho acromático de uma casa, uma árvore e uma pessoa; a segunda consiste em um 
inquérito que envolve perguntas relativas aos desenhos feitos. Podem existir uma terceira e 
26 
uma quarta fase, que envolvem o desenho de mais figuras, perguntas adicionais e a 
possibilidade da utilização da cor. A aplicação dura, em média, de trinta minutos a uma hora e 
meia. 
 Apósser aplicado o teste, parte-se para o procedimento de avaliação, na qual são 
consideradas as características do desenho, como tamanho e localização, as características dos 
traçados que o sujeito utilizou, as respostas dadas ao inquérito, além de todos os detalhes 
colocados nos mesmos. 
 Esta tarefa “[...] pode ser vista como uma amostra inicial de comportamento que 
possibilita ao clínico o acesso às reações do indivíduo a uma situação consideravelmente não 
estruturada.”(BUCK, 2003, p. 02). Ou seja, o HTP não só visa ter contato com as 
características principais e singulares do sujeito examinado, mais que isso, “[...] fornece 
informações, que, quando relacionadas à entrevista e a outros instrumentos de avaliação, 
podem revelar conflitos e interesses gerais dos indivíduos, bem como aspectos específicos do 
ambiente que ele ache problemáticos.” (BUCK, 2003, p. 02). 
4 PSICOLOGIA E CRIME 
 Segundo Mira y López (2005) e Fiorelli e Mangini (2009) com o passar do tempo, 
surgiram muitas teorias que se propuseram a explicar o indivíduo delinqüente, como: 
 - o Condutivismo que tem como lema o estímulo-resposta, ou seja, cada estímulo 
desencadeará um tipo de resposta pela parte do indivíduo (que serve para tentar predizer a 
conduta humana), e dada esta determinada resposta, saber que estímulos puderam gerá-la 
(utilizada para o julgamento ou valorização do indivíduo delinqüente); 
 - a abordagem Cognitiva se baseia nos valores e crenças, dizendo que quando estes 
não possuem coerência com os exigidos pelas leis ou verificados nas demais pessoas, surge o 
conflito, que pode ser expresso através de comportamentos; 
 - a Psicologia da Forma diz que o ato delituoso, assim como os fenômenos psíquicos, 
não podem ser decompostos para que não percam sua essência. Para essa teoria, segundo 
Fiorelli e Mangini (2009) o crime ocorre no momento em que a necessidade surge, sendo 
assim, o que importa são as necessidades ocorridas no momento do comportamento, pois são 
elas que originam a ação e podem de alguma forma explicá-lo; 
27 
 - a Psicologia Genético-Evolutiva que se baseava na concepção de Lombroso (do 
criminoso nato), mas ela já não a mantém, embora não duvide que a herança hereditária 
influencie de forma a incutir no sujeito predisposições. Aqui se pode observar o quão 
importantes são as primeiras experiências ocorridas na infância; 
 - a Psicologia Anormal utiliza uma escala de normalidade perante todos os atos. O 
problema apontado por essa doutrina, não está em saber quem é normal e quem é anormal, 
mas sim que classe e que grau estão presentes em cada indivíduo. Uma de suas maiores 
contribuições, foi a de desmistificar a idéia de que o doente mental não é responsável por seus 
atos; 
 - a Psicologia Social leva em consideração não apenas o delinqüente de forma isolada, 
mas observa e estuda a influência dos grupos e da sociedade sobre seus atos; 
 E por fim, Mira y López (2005) cita também a Psicanálise. A teoria freudiana acredita 
que a agressão nasce dos conflitos internos do indivíduo, mais que isso, ela parte do 
pressuposto de que o crime ocorre quando as três instâncias mentais (id – forças irracionais e 
inconscientes; ego – forças racionais, lógicas e derivadas da experiência e educação; superego 
– forças surgidas do processo de introjecção, coercitivas e punitivas) entram em conflito. 
 Para a Psicanálise, 
[...] o crime exprime uma perda do poder inibitório do Super-ego em relação ao Ego, 
que fica, assim, livre para obedecer às exigências do Id. O crime significa, em noutros 
termos, uma fuga à vigilância do ‘juiz interior’ por parte do delinqüente que vive em 
cada homem. (DIAS ; ANDRADE, 1984, p.193) 
 Segundo Dias e Andrade (1984), embora o objetivo do crime seja sempre dar 
satisfação, de forma simbólica, aos instintos libidinosos, deve-se ter em mente que todos 
possuem um delinqüente dentro de si, mas isso não significa que todos iremos exprimir esses 
atos de forma delituosa, pois, por muitas vezes, mesmo essa tensão sendo constante no 
interior até mesmo do homem mais respeitador das leis, essa força se encontra como uma 
criminalidade latente, de modo que não conseguem superar as barreiras repressivas da 
consciência, manifestando-se através de dispositivos compensadores. 
 Estes dispositivos, também conhecidos como “[...] mecanismos psicológicos de defesa 
[...].” (FIORELLI; MANGINI, 2009, p.49), dentre eles: deslocamento (desvio do sentimento 
para um alvo substituto); distração (desvio da atenção para outro objeto); fantasia (troca do 
mundo real pelo sonhado); identificação (estabelecimento de uma aliança com alguém); 
negação da realidade (recusa em reconhecer os fatos reais, muitas vezes fugindo para o 
28 
imaginário); racionalização (tentativa de justificar os comportamentos através de desculpas 
falsas); regressão (adoção de comportamentos característicos de uma idade inferior); projeção 
(atribuição de algo pessoal a outra pessoa); idealização (busca de um ideal, vendo apenas 
aquilo que gostaria); e sublimação (transformação dos impulsos do id em algo socialmente 
aceito). Ou seja, 
[...] do equilíbrio entre aqueles e estes resulta a conduta normal da personalidade; um 
ligeiro predomínio de qualquer deles e já nos encontramos diante de um tipo de 
personalidade mal preparada para a vida social e, por conseguinte, apta para entrar em 
conflito com as leis e consigo mesma. (MIRA Y LÓPEZ, 2005, p.62). 
4.1 PERFIL DO CRIMINOSO 
 Segundo Mira y López (2005), do ponto de vista psicológico, o delito é a 
conseqüência do conflito das forças e fatores que determinam o sujeito e os mecanismos 
psicológicos que atuam na excecução dos atos socialmente aceitos e dos atos delituosos são os 
mesmos. 
 Tanto Dias e Andrade (1984), quanto Fernandes e Fernandes (1995), explicitam sobre 
autores que consideram os fatores genéticos determinantes para a formação de uma 
personalidade criminológica e também citam outros autores que discordam totalmente, 
afirmando que o determinante é a formação, ou seja, dizem que é o desenvolvimento do 
sujeito desde a infância que dirá se ele será ou não um criminoso. 
 De forma mais atual, esses autores juntamente com Fiorelli e Mangini (2009), 
demonstram acreditar que o que forma um indivíduo criminoso ou não, é uma junção destes 
dois fatores, genética e desenvolvimento, com todos os demais (ambientais, sociais, 
econômicos, etc.), sugerindo como hipótese, que a genética traz apenas predisposições. De 
forma mais precisa, Mira y López (2005) afirma que a reação das pessoas em dado momento 
depende da interação de três fatores: os herdados (temperamento, constituição corporal, etc.), 
os mistos (caráter) e os adquiridos (experiências anteriores, situação externa atual, modo de 
percepção, etc.). 
Todos esses mais diversos comportamentos são comportamentos justificados pelas 
vivências e pela forma de ser de cada um desses indivíduos, resumidas na 
personalidade de cada um. Essas capacidades e predisposições, ou tendências, 
denominam-se disposições individuais. É evidente que se a disposição daquele que 
optou pelo crime [...] for de tal monta que revela tendência para a prática futura de 
outros delitos, ele deve ser encarado como um indivíduo perigoso para a sociedade. 
(FERNANDES; FERNANDES, 1995, p. 50). 
29 
 Essas personalidades criminológicas se baseiam nas características encontradas, 
inclusive, nos sujeitos que vivem de acordo com a lei. Segundo Dias e Andrade (1984), a 
teoria do condicionamento aponta a extroversão como uma das características que aumenta a 
propensão para o crime e indica também que altos graus de ansiedade podem colaborar. 
Outra característica é a impulsividade, afirmando que ela “[...] poderia influenciar a 
decisãono sentido de se cometer um delito, assim como o cuidado com que ele fosse 
executado.”(FELDMAN, 1977, p.211). Tem-se também a agressividade, que segundo 
Fernandes e Fernandes (1995), surge juntamente com o desenvolvimento da inteligência 
humana como uma forma de auto-proteção. 
Os diversos sentimentos encontrados na essência humana são, segundo Fiorelli e 
Mangini (2009), afetados pelos estados emocionais do sujeito: quando se tem raiva ou se 
vivencia um elevado nível de estresse, isto irá modificar a forma de percepção da pessoa, o 
que leva qualquer ato ou palavra a ser considerado o estopim para a ação de um 
comportamento criminal. 
Muito popularmente se ouve associar ao sujeito criminoso o traço de insano. Embora 
esta associação esteja, segundo Casoy (2002), correta, este adjetivo é utilizado de forma 
equivocada. Casoy (2002) diz, de forma bastante precisa, que a insanidade muitas vezes 
alegada nos tribunais como uma tentativa de absolvição do criminoso, ao contrário do que 
muitos pensam, não é uma condição de saúde mental, mas sim, refere-se à habilidade de saber 
se suas ações são certas ou erradas no momento em que estão ocorrendo. Tal traço diz muito 
respeito à personalidade psicopática, que é a de maior relevância neste estudo. 
4.2 PERFIL DO PSICOPATA 
4.2.1 Definição 
 Segundo Garcia (1979) e Fonseca (1997) os psicopatas já foram chamados de mania 
sem delírio (Pinel em 1805), de “loucos morais“ (Prichard em 1835), de degenerados (Morel 
em 1857), de enfermos de caráter (Boudet em 1858), de “variantes mórbidos do normal” 
(Moebius em 1900). A psicopatia foi conhecida também como fase inicial de uma autêntica 
30 
neurose (Jaspers em 1913), ou de psicose (Kraepelin em 1921), como uma personalidade 
anormal que sofre e faz sofrer (Schneider em 1950) e, por fim, como personalidade 
sociopática ou comportamento anti-social ou ainda associal (Henderson em 1939 e Cleckley 
em 1959). 
 A psicopatia é um Transtorno de Personalidade3, também conhecido como Transtorno 
de Personalidade Anti-social. 
Com efeito, por absoluta carência de qualquer sentimento de culpa ou arrependimento, 
certos criminosos recidivantes efetivamente representam sério perigo à sociedade 
quando em liberdade e mesmo quando enclausurados, eis que na prisão sempre 
procuram degenerar os demais. [...] Eles são dotados de um poder irreversível de 
praticar o mal. Neles não existe qualquer traço de simpatia humana, não existe 
qualquer noção de dever para com a comunidade. (FERNANDES; FERNANDES, 
1995, p.298). 
 “O termo anti-social refere-se, em regra (de acordo com o Manual de Diagnóstico e 
Estatística da Associação Americana de Psiquiatria), a certos comportamentos delinqüentes 
crônicos que não se corrigem pela experiência nem pelo castigo.” (FONSECA, 1997, p. 469, 
grifos do autor). O Transtorno de Personalidade Anti-Social 
[...] trata-se de uma incapacidade de se adaptar às normas sociais que ordinariamente 
governam vários aspectos do comportamento do indivíduo adolescente e adulto. 
Embora caracterizado por atos anti-sociais e criminosos de forma contínua, o 
transtorno não é sinônimo de criminalidade. (SADOCK; SADOCK, 2007, p. 860). 
Holmes (1997) corrobora com esta última idéia, afirmando que seria um erro grave se 
considerássemos que todos os indivíduos com esse transtorno são criminosos, sendo que a 
parte que se envolve com esses tipos de atos, é considerada psicopata. 
O transtorno de personalidade anti-social, segundo Fiorelli e Mangini (2009), também 
pode ser intitulado de psicopatia, sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático, 
transtorno dissocial e transtorno de conduta. O “[...] Transtorno de Personalidade Anti-Social 
é um padrão de desconsideração e violação dos direitos alheios.” (JORGE, 2002, p. 641). 
Possui como características centrais o engano e a manipulação, não possuem empatia e 
costumam ser insensíveis e desprezar os sentimentos alheios. 
 
3 Segundo o DSM-IV-TR (2002) o Transtorno de Personalidade é considerado como experiências e 
comportamentos subjetivos persistentes que não estão de acordo com os padrões culturais vigentes. 
Normalmente têm início na adolescência ou no início da vida adulta, costumam não se modificar com o tempo. 
Possuem traços de personalidade rígidos e mal-adaptativos e produzem comprometimento de desempenho em 
diversas áreas da vida. Dividem-se em Grupo A (Transtorno de Personalidade: Paranóide, Esquizóide e 
Esquizotípico), Grupo B (Transtorno de Personalidade: Anti-Social, Boderline, Histriônico e Narcisista) e Grupo 
C (Transtorno de Personalidade: Esquiva, Dependente e Obsessivo-Compulsivo). 
31 
Embora a terminologia da palavra “psicopatia” esteja relacionada com doenças 
mentais, os atos criminosos não são decorrentes “[...] de mentes adoecidas, mas sim de um 
raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas 
como seres humanos pensantes e com sentimentos.” (SILVA, 2008, p.37). Segundo Silva 
(2008) pode-se afirmar que os psicopatas têm completa consciência de seus atos, sendo que 
sabem quando estão infringindo leis e/ou regras sociais e o porquê disso, pois sua deficiência 
se encontra no campo das emoções e dos afetos, não em sua cognição, ou seja, como já disse 
Whitaker (1969) as anormalidades psicopatas são quantitativas (pois se tratam de excessos ou 
defeitos), por isso não se incluem no domínio das doenças mentais. 
 A psicopatia não pode ser considerada uma doença psiquiátrica pois, segundo Fonseca 
(1997), poucos casos de psicopatia se enquadram nos requisitos básicos, que são: conhecer a 
evolução, não modificar o diagnóstico com o tempo, os dados ulteriores da família e etiologia 
são conformes, sua patofisiologia é clara e é possível lhe indicar um tratamento. Ainda para 
complementar, Spirolazzi (1965) diz que a psicopatia não é uma doença mental e sim uma 
“constituição mental anormal”. 
Para Fiorelli e Mangini (2009) o anti-social age de forma a prejudicar a sociedade 
buscando a praticidade, concentrando-se no momento presente e em maneiras diretas de atuar. 
Este indivíduo não pode ser considerado como portador de doença, pois, mesmo que se 
encontre com o emocional e o comportamental alterados, ainda é redentor de discernimento 
entre certo e errado. Fiorelli e Mangini (2009) explicam tal alteração como uma estruturação 
inadequada da sociabilidade, manifestando crueldade fortuita, sem desejar, o que é comum 
nos demais criminosos: riqueza e poder. 
Silva (2008) e Fiorelli e Mangini (2009) ressaltam o fato de que, embora muitos 
associem o psicopata ao Serial Killer, esta é uma visão reducionista, pois a taxa de psicopatas 
que chegam a realmente matar alguém é mínima. Estes indivíduos costumam cometer outros 
crimes, considerados de menor gravidade, como furtos, fraudes, tráfico, etc., ou seja, é muito 
mais fácil encontrar um político psicopata do que um assassino psicopata. Os indivíduos com 
perfil psicopata costumam procurar e almejar funções que lhe tragam status, poder e 
influência. 
32 
4.2.2 Características 
Segundo Holmes (1997) os psicopatas apresentam uma tríade de anormalidade, 
possuindo sintomas de humor (ausência de culpa e ansiedade, hedonismo, superficialidade de 
sentimentos e ausência de apego emocional), sintomas cognitivos (parecem ser muito 
inteligentes, com habilidades verbais e sociais bem desenvolvidas e têm habilidade de 
racionalizar seu comportamento, não aprendendo com a punição) e sintomas motores 
(impulsividade e atos agressivos, embora em minoria, também existem). 
As características dos psicopatas citadas por Mira y López (2005) são: atração pessoal 
superficial e boa inteligência; ausência de delírios;ausência de crises; falta de constância; 
falta de sinceridade; falta de pudor e ética; falta de autocrítica; egoísmo exagerado; pobreza 
afetiva; incapacidade de seguir um plano de vida; tendência à fantasia; propensão aos vícios; 
vida sexual desajustada. 
Segundo Fiorelli e Mangini (2009) o psicopata é conhecido pelo seu distanciamento 
afetivo (por não apreciar contato íntimo) e pelo histrionismo (comportamento sedutor, 
atrativo, convidando à intimidade). Ele pode ser independente ou dependente, extrovertido ou 
introvertido. Pode apresentar traços de obsessão, de ousadia (fazendo com que a pessoa 
assuma riscos em excesso), de narcisismo (buscando tratamentos especiais) e de egocentrismo 
(não se preocupando com os demais e manipulando-os para seus propósitos). 
 De acordo com Fiorelli e Mangini (2009) o PCL-R (escala de Hare), muito utilizado 
para identificar a população psicopata e o grau de periculosidade desta, também elencou as 
principais características do transtorno, citadas a seguir: 
[...] loquacidade (facilidade para discursos); charme superficial; superestima; 
tendência ao tédio; mentira patológica; vigarice; manipulação; ausência de remorso 
ou culpa; insensibilidade afetivo-emocional; indiferença; falta de empatia; 
impulsividade; descontroles comportamentais; ausência de metas realistas a longo 
prazo; irresponsabilidade; incapacidade para aceitar responsabilidade pelos próprios 
atos
4
; promiscuidade sexual; muitas relações conjugais de curta duração; transtornos 
de conduta na infância; delinqüência juvenil; revogação de liberdade condicional; 
versatilidade criminal. (Fiorelli; Mangini, 2009. p. 107). 
 
 Gonçalves e Amorin (2004) ressalta que um dos critérios importantes para se 
diagnosticar um sujeito com personalidade anti-social é apresentar uma infância que acumula 
 
4 Grifos nossos 
33 
pequenos desvios de conduta, como fugas de casa, ausências nas salas de aula, crueldade com 
animais ou crianças menores, mentiras patológicas, pequenos furtos, etc., e uma adolescência 
com agravamento destes crimes, tais como tentativas de suicídio, violência, abuso de álcool e 
drogas entre outros. 
 É importante lembrar que estas características podem ser comuns a outras pessoas 
além dos psicopatas, porém elas sinalizam os traços-chave do perfil psicopático, ao menos é o 
que apresenta o DSM IV-TR, como pode ser visto no quadro abaixo. 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-
SOCIAL PELO DSM-IV-TR (CÓDIGO: 301.7) 
A. Um padrão pervasivo de desrespeito e violação aos direitos dos outros, que ocorre desde os 
15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios: 
1. Fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, 
indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção; 
2. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro; 
3. Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões 
físicas; 
4. Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; 
5. Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um 
comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras; 
6. Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, 
maltratado ou roubado outra pessoa. 
 
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. 
C. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de idade. 
D. A ocorrência do comportamento anti-social não se dá exclusivamente durante o curso de 
Esquizofrenia ou Episódio Maníaco. 
 Silva (2008) apresenta de forma mais detalhada algumas destas características. O 
psicopata costuma ser muito bem articulado, tornando a conversa atrativa e demonstrando 
grande eloqüência, porém, embora tenha habilidade de falar sobre diversos assuntos, revela 
superficialidade de conteúdo, e mesmo quando desmascarado, não demonstra vergonha ou 
culpa. 
 Ao afirmar que esses sujeitos são egocêntricos, Silva (2008) fala do narcisismo e 
supervalorização que os psicopatas apresentam em relação aos próprios valores e ações. Eles 
acreditam que são superiores aos demais, o que lhes dá o direito de viverem de acordo com as 
próprias leis e pensam que o mundo deve girar em torno deles. Ao juntar isso a sua habilidade 
34 
de transferência de responsabilidade, temos alguém que comete os atos mais atrozes, e mesmo 
quando verbalizam remorso, têm ações que demonstram sua ausência de culpa. São também 
considerados megalomaníacos, com grande fascínio por poder e pelo controle sobre os outros, 
possuem mania de grandeza. Acreditam poder fazer qualquer coisa, pois pensam ter 
habilidades excepcionais. 
 De acordo com Silva (2008), os psicopatas não possuem a habilidade de se colocar no 
lugar dos outros, demonstrando ausência de empatia, pois, para eles, as demais pessoas são 
apenas objetos que servem para serem utilizados com o objetivo de trazer satisfação pessoal. 
Esta falta de empatia é apresentada não somente com estranhos, mas também com os próprios 
familiares. Qualquer laço aparentemente mais profundo aponta certamente os seus 
sentimentos de possessividade e seus grandes poderes de racionalidade, que possibilitam que 
eles aprendam a fingir sentimentos, e não a amar genuinamente. 
 Para Silva (2008), os psicopatas são mentirosos contumazes, ou seja, fazem da mentira 
seu instrumento de trabalho. Junto com a mentira trapaceiam e manipulam com 
impressionante frieza e habilidade, o que comprova sua pobreza de emoções “[...] evidenciada 
pela limitada variedade e intensidade de seus sentimentos.” (SILVA, 2008, p. 77). Costumam 
confundir os sentimentos e, normalmente quando demonstram alguns, é pura encenação, por 
isso, são considerados atores da vida real. 
 Silva (2008) acredita que um dos recursos mais observados em situações de 
manipulação psicopática, é o que a autora denomina de “jogo de pena”, na qual o indivíduo 
psicopata utiliza os sentimentos de piedade e solidariedade de outra pessoa para dominá-la e 
controlá-la. 
 Outra característica apontada por Silva (2008) é a impulsividade, com a qual o sujeito 
visa sempre alcançar o prazer, a satisfação sem qualquer arrependimento, ou seja, tende a 
viver o momento, buscando satisfazer seus desejos. Nessa mesma lógica, Silva (2008), cita o 
autocontrole deficiente, que faz com que o psicopata responda às frustrações com violência 
súbita ou ameaças, e ele facilmente se ofende por motivos banais. 
 Segundo Silva (2008) os psicopatas possuem grande necessidade de excitação, pois 
não possuem tolerância ao tédio, o que faz com que tenham incapacidade de serem 
responsáveis, muitas vezes ignorando ou tratando com indiferença seus compromissos. Silva 
(2008) salienta que para que o diagnóstico de psicopatia seja dado, é necessário que o 
35 
indivíduo tenha boa parte destas características e apresente, de forma significativa, os 
requisitos do DSM-IV-TR acima citados. 
 Segundo Holmes (1997) os psicopatas são hedonistas, ou seja, vivem em busca do 
prazer imediato sem se importar com as consequências ou quem irão prejudicar no caminho 
da satisfação. 
 Segundo Kernberg (1995) o psicopata pode ser passivo-parasita ou agressivo, sendo 
que é o segundo que tem como característica a ausência de culpa. Para o autor a maior 
diferenciação entre eles está em relação a seus crimes. Enquanto que os primeiros praticam 
mentiras, roubos, falsificações, fraudes e prostituição, os segundos são mais comumente 
vistos praticando assaltos, estupros, roubos à mão armada e assassinatos. 
A reduzida tolerância à frustração conduz à violência fácil e gratuita; os mecanismos 
de defesa inconscientes de eleiçãosão a racionalização e a projeção, indicando 
outrem ou a própria sociedade como unicamente culpada e responsável por seus atos. 
Não aprende com a punição. (FIORELLI; MANGINI, 2009, p. 108, grifos do autor). 
 De acordo com Silva (2008, em entrevista para o programa Sem Censura da TVE 
Brasil) os psicopatas ainda podem ser classificados como portando psicopatia leve (os 
extelionatários), moderados (aqueles que mandam matar) e graves (aqueles que matam com as 
próprias mãos). 
 Silva (2008) ainda acrescenta que existe um grande problema em se tratando de 
pesquisas sobre psicopatas, uma vez que estas só são viáveis em penitenciárias e que, por 
muitas vezes, não há interesse por parte dos sujeitos pesquisados de revelarem algo, e quando 
estes aceitam participar, normalmente procuram manipular as respostas em busca de 
vantagens pessoais. 
4.2.3 Etiologia 
 Os seguintes dados foram retirados de Fonseca (1997) e Holmes (1997). Segundo 
estes autores é possível observar causas hereditárias, fisiológicas e familiares. 
 Explicação Estrutural: diz respeito à teoria de Freud, no qual ele afirma que os 
indivíduos com Transtorno de Personalidade Anti-Social carecem de ansiedade e culpa devido 
a um superego mal desenvolvido, deixando-os desadequados às suas vivências em sociedade. 
Como existe essa ausência de um superego bem desenvolvido, o id tem uma redução de 
restrições, o que conduz a comportamentos mais impulsivos e hedonistas. Essa falha de 
36 
desenvolvimento do superego é associada a uma identificação inadequada com figuras adultas 
adequadas e supõe-se que isto aconteça devido a uma ausência física ou psicológica destas 
figuras adultas. 
 Explicação Desenvolvimentista: também resultante das teorias de Freud, prega que os 
indivíduos com esse transtorno estão fixados em estágios iniciais do desenvolvimento. Sendo 
que a imaturidade desses sujeitos diz respeito a um desenvolvimento retardado, e este 
desenvolvimento disfuncional é atribuído ao fato de que as necessidades de afeto, apoio e 
aceitação não foram satisfeitas por seus pais, o que impediu o avanço para os seguintes 
estágios de desenvolvimento. 
 Explicações Psicodinâmicas: os resultados de alguns estudos indicam que os 
indivíduos com o Transtorno de Personalidade Anti-Social tiveram uma infância de 
negligências, abusos, falta de amor e inconsistências nas respostas dos pais. Porém, não é 
possível afirmar que estes maus cuidados parentais são os causadores do transtorno, pois 
existem duas explicações para estes dados: 1) a atitude de negligência dos pais é explicada 
pelo fato de os filhos já possuírem o transtorno e; 2) é possível que tanto as ações dos pais, 
quanto o transtorno dos filhos, seja originário de genes em comum, não devido as suas 
interações. 
 Ainda nas explicações psicodinâmicas é possível observar outros fatores, como o fato 
de que crianças com esse transtorno costumam ter mais cansaço físico e ferimentos na face e 
cabeça que podem indicar, novamente, a negligência dos pais. Através deste dado pode-se 
levantar a hipótese de que, devido a esses traumas físicos, obteve-se algum dano no sistema 
nervoso, que poderia acarretar no Transtorno de Personalidade Anti-Social. E por último, é 
possível também, que a busca por sensações cada vez maiores (presentes em muitos 
indivíduos com o transtorno) tenha feito essas crianças irem de encontro, cada vez mais, com 
situações perigosas. 
 Explicações da Aprendizagem: existem três hipóteses de explicações possíveis nesta 
área: 
 1) Déficit no condicionamento clássico - considera que a ansiedade é uma resposta 
condicionada, e como crianças com Transtorno de Personalidade Anti-Social não 
condicionam bem, acabando por não desenvolver ansiedade, demonstrando então, assim como 
em algumas pesquisas feitas, que indivíduos com esse transtorno, requerem muito mais 
37 
tentativas para aprender a resposta de ansiedade, apresentando um condicionamento clássico 
pobre. Neste caso há uma habilidade prejudicada; 
 2) Condicionamento de Evitação - acredita que, os indivíduos teriam menos ansiedade 
ao responderem perguntas de forma incorreta, sendo que em testes com perguntas possuem 
um desempenho pior do que os indivíduos “normais”. Tanto isto, quanto a primeira hipótese, 
levam a evidenciar uma lentificação no condicionamento de evitação, comprovando que, 
embora os indivíduos com esse transtorno saibam quais as reações adequadas, eles não inibem 
as inadequadas e; 
 3) Evitação de Ansiedade Operatoriamente Condicionada - defende que as pessoas 
com esse transtorno, na infância, descobrem meios de evitar a punição, mesmo tendo atitudes 
inapropriadas que teriam como conseqüência a mesma, o que gera uma diminuição da 
ansiedade e uma certeza de gratificação. Com esta falha em aprender a adiar a gratificação, há 
um reforço da impulsividade e da superficialidade emocional. Neste caso há um aprendizado 
de técnicas para evitar a ansiedade. 
 Explicação Fisiológica: contempla duas hipóteses: 1) anomalias no EEG5 - há uma 
elevada atividade de ondas lentas no cérebro de indivíduos com esse tipo de transtorno (que 
indica que estes sofrem de uma subestimulação cortical) e de espículas positivas (o que 
representa eclosão súbita de atividade eletrocortical). Durante os estudos feitos, observou-se 
que estas anomalias dos EEGs encontradas nesses indivíduos são consideradas normais na 
infância, o que fez com que se concluísse que os indivíduos com este transtorno possuem 
desenvolvimento cortical retardado e refletem uma disfunção do sistema límbico6; 2) 
genética, que parte do pressuposto que a criminalidade é um indicador para esse transtorno. 
Os estudos nessa área mostraram que a concordância para criminalidade é maior em gêmeos e 
pessoas de uma mesma família. 
 “É importante reconhecer que nenhuma explicação ou conjunto de evidências pode 
explicar todos os casos de TPA7. Isto sugere que há provavelmente diferentes formas do 
transtorno e que pode haver mais de uma explicação correta para ele.”(HOLMES, 1997, p. 
319). O autor acrescenta ainda que estas explicações não necessariamente conflitam entre si, 
bem pelo contrário, elas podem ser complementares. 
 
5 Eletroencéfalograma é uma técnica de exame cerebral. 
6 Sistema responsável pela regulação da emoção. 
7 Transtorno de Personalidade Anti-Social 
38 
4.2.4 Tratamento 
 Um dos maiores problemas em relação às pesquisas de tratamentos está no fato de 
que, segundo Holmes (1997), os psicopatas não apresentam sintomas tradicionais (como 
delírios, alucinações, etc), por isso eles não são diagnosticados como sendo portadores de 
problemas psicológicos, sendo assim, não são encaminhados para tratamento. Abaixo expõe-
se os possíveis tratamentos hoje existentes abordados por Holmes (1997). 
 Abordagem Psicodinâmica: parte do pressuposto de que as pessoas com este 
transtorno não possuíram pais presentes, nem comportamentalmente adequados, com quem 
pudessem se identificar e aprender tais comportamentos, por isso, a maioria dos terapeutas 
dessa abordagem tenta servir de figuras parentais apoiadoras. Tem como meta ajudar os 
pacientes a se identificarem com o terapeuta, capacitando o paciente com as características 
adequadas e maduras do terapeuta. Porém, como esses indivíduos têm costume de falar tudo 
que a outra pessoa quer ouvir, eles dão uma falsa idéia de melhora ao terapeuta, sendo que em 
pouco tempo têm recaídas fortes. As pesquisas mostram conclusões mais negativas do que 
positivas sobre essa técnica. 
 Abordagem de Aprendizagem: parte do pressuposto que os indivíduos com esse 
transtorno possuem um déficit na habilidade de desenvolver respostas de ansiedadecondicionalmente adquiridas, portanto usar o condicionamento clássico seria infrutífero. Faz-
se possível então utilizar as técnicas de condicionamento operatório, porém, os indivíduos 
com Transtorno de Personalidade Anti-Social já são capazes de conseguir as gratificações 
desejadas através de comportamentos inadequados. Sendo assim, não há evidências positivas 
que demonstrem a utilidade dessa abordagem. 
 Abordagem Fisiológica: parte do pressuposto que existe uma subestimação cortical 
nos indivíduos com esse transtorno, e por isso não condicionam bem e optam por 
comportamentos inadequados para aumentar os níveis de estimulação. Por isto, pensou-se que 
fosse possível tratá-los com estimulantes corticais, que aumentariam a possibilidade de 
condicionamento e reduziria a necessidade de estimulação. Porém, o efeito dos estimulantes é 
de curta duração e não é possível manter indivíduos sob efeitos destes por muito tempo. É 
possível, com outras drogas, reduzir outros fatores (como os sintomas comportamentais), por 
isso a pesquisa com medicamentos tem sido encorajadora, mas limitada. 
39 
 Segundo Fiorelli e Mangini (2009) é possível observar falhas na formação do 
superego, e que, assim como nos demais criminosos, há influências biológicas, ambientais e 
familiares na formação da personalidade. Os psicopatas são considerados os criminosos com 
mais periculosidade e maior reincidência, muito disso ocorre porque há uma “[...] dificuldade 
de essas pessoas aprenderem com a experiência, sendo que a intervenção terapêutica, em 
geral, não alcança os valores éticos e morais comprometidos.” (FIORELLI; MANGINI, 2009, 
p. 107), ou seja, por não existir tratamento que faça com que esses indivíduos consigam se 
inserir novamente na sociedade, eles acabam voltando para a cadeia, onde, com seu forte 
poder de manipulação, acabam influenciando, de forma negativa, os outros presos. 
 Devido a essa baixa perspectiva de tratamento, considera-se gratificante que este 
transtorno tenha redução a partir dos 40 anos. Acredita-se que há maior dificuldade no 
tratamento, especialmente, como diz Holmes (1997) por terem mais propensão, devido ao 
comportamento ilegal, a serem punidos do que tratados. 
 
5 CAMINHO DA PESQUISA 
5.1 MÉTODO DE PESQUISA 
A pesquisa desse trabalho é de cunho qualitativo, o que, segundo Denzin, Lincoln e 
colaboradores, implica em uma ênfase sobre as qualidades, sobre os processos e significados 
que não podem ser medidos experimentalmente, e este ressalta a natureza socialmente 
construída da realidade. Ainda sobre a pesquisa qualitativa, ela “[...] dá uma explicação para 
comportamentos e atitudes.”(CRESWELL, p. 23, 2007) e segundo Rodrigues (2007), ela, 
predominantemente, analisa e interpreta dados relativos ao fenômeno estudado. Rodrigues 
(2007) também diz que este tipo de pesquisa não implica na utilização de hipóteses ou 
experimentação. 
De acordo com Gil (2002) quanto os objetivos a pesquisa é exploratória, tendo como 
meta causar maior aproximação e familiaridade com o problema, de forma a torná-lo mais 
explícito. Busca também o aprimoramento de idéias ou a descoberta de instituições. Possui 
planejamento flexível. 
40 
Quanto ao procedimento de pesquisa, ele se constitui em um estudo de caso, voltando-
se “[...] à realidade objetiva, investigando e interpretando os fatos sociais que dão contorno e 
conteúdo a essa realidade.” (MARTINELLI, p. 25, 1999). Segundo Martinelli (1999) o estudo 
de caso busca também alcançar a captação da expressividade humana em atividades 
quotidianas. O estudo de caso propõe a exploração e o aprofundamento dos dados, ou seja, 
analisar situações concretas, nas suas particularidades. 
“O estudo de caso não pode ser considerado uma técnica que realiza a análise do 
indivíduo em toda sua unicidade, mas é uma tentativa de abranger as características mais 
importantes do tema que se está pesquisando.”(PÁDUA, 2007, p.74). E segundo Gil (2002) o 
estudo de caso é um estudo mais profundo de um ou poucos objetos, permitindo um maior 
conhecimento sobre o assunto estudado e que hoje, o estudo de caso “[...] é encarado como 
um delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro 
de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente 
percebidos.” (GIL, 2002, p. 54), e acrescenta que nesse tipo de pesquisa existe a utilização de 
mais de uma técnica de coleta de dados. 
5.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 
 Segundo Pádua (2007) a amostra representa uma porção menor de um todo maior, e as 
técnicas de amostragem são utilizadas quando se pretende ampliar as características 
encontradas, através de generalização ou predição. 
 A amostragem, segundo Appolinário (2006), se refere a como os sujeitos que 
participarão da pesquisa serão selecionados. Sendo assim, a amostra será probalística 
sistemática, que segundo Appolinário (2006), conta com algum critério previamente 
estabelecido que tenha relação com as variáveis pesquisadas. 
 No presente estudo, serão escolhidos indivíduos que condizem com as características 
de psicopatia e que se encontrem encarcerados no Presídio Regional de Blumenau ou em 
atendimento durante a Condicional na Central de Penas Alternativas do Fórum de Blumenau. 
 O “n” da pesquisa será de quatro indivíduos com as características acima citadas. 
41 
5.3 PROCEDIMENTOS 
5.3.1 Procedimentos de coleta 
 Para a coleta de dados foram utilizados três meios: 1) A pesquisa bibliográfica que, 
segundo Pádua (2007) consiste em fundamentar o conhecimento com documentação e 
bibliografia, sendo que tem por objetivo produzir contato entre pesquisador e tudo que já foi 
pesquisado e escrito sobre o tema. Para a pesquisa foi utilizada uma revisão bibliográfica 
englobando questões sobre criminologia, perfilação e perfil do psicopata, dentre outras; 
 2) Tentou-se utilizar, para levantamento de dados do estudo de caso, a técnica 
projetiva HTP em sua forma mais simples (desenhos acromáticos da casa, da árvore e da 
pessoa). Embora o “HTP: Manual e Guia de Interpretações” preveja um inquérito após a 
aplicação dos desenhos, havia-se optado por solicitar que o indivíduo escolhesse uma das 
figuras que fez e contasse uma história sobre o desenho. Escolheu-se por este segmento, por 
se acreditar que, através da história contada, a expressão da projeção pudesse ser maior 
devido à liberdade em termos de resposta, uma vez que o inquérito direciona mais a partir das 
perguntas feitas. 
 3) Prevendo-se possíveis contratempos, optou-se por usar, de forma complementar, 
questionários abertos, nos quais, segundo Pádua (2007) é dado um tema ou uma pergunta 
aberta sobre o assunto pesquisado e solicita-se que o entrevistado descreva livremente sobre 
ele. E entrevistas informais, que de acordo com Pádua (2007) possibilitam conhecimento mais 
aprofundado da temática que se está pesquisando, com as estagiárias para descrição de 
comportamentos observados durante as conversas delas com os indivíduos da amostra. Por 
serem consideradas complementares, os questionários, juntamente com as respostas, 
encontram-se em anexo. 
 Desde o início da pesquisa foi feito contato com as estagiárias de Psicologia que se 
encontravam no Presídio Regional de Blumenau e na Central de Penas Alternativas do Fórum 
no semestre atual (2009/II). Ficou acordado que nas primeiras semanas elas identificariam os 
casos mais típicos e expressivos de psicopatia. Durante este processo conversamos algumas 
vezes sobre os indivíduos já identificados de forma a já conhecer um pouco sobre eles. 
 Nesses encontros elas passaram alguns dados (sobre o crime cometido, sobre as ações 
e comentários deles perante elas, etc.). Ficou acordado então,que como elas já tinham um 
42 
contato maior com os indivíduos, elas conversariam com eles a fim de explicar que eu 
gostaria de me encontrar com eles devido ao meu Trabalho de Conclusão de Curso e propor 
que eles participassem da pesquisa, de forma que precisariam apenas desenhar e contar uma 
história. 
 Fomos duas sextas-feiras ao Presídio Regional de Blumenau com o intuito de aplicar o 
teste nos indivíduos lá selecionados, porém, da primeira vez, o GRT estava fazendo a 
“operação pente-fino”, e da segunda, embora tenha aplicado o teste em três sujeitos, nenhum 
deles tinha traços condizentes com o de um psicopata, além disso, os indivíduos 
anteriormente selecionados se recusaram a participar da pesquisa. 
 No Fórum não foi diferente. Combinamos com a estagiária de lá de nos encontrarmos 
em uma quarta-feira à tarde, na intenção de ela mostrar o local, de conversarmos sobre a 
pesquisa. Ela ficou de fazer contato com os sujeitos previamente escolhidos e combinamos 
para a quarta-feira seguinte a aplicação dos testes. 
 Quando chegamos na outra quarta-feira à tarde, ela contou que nenhum dos sujeitos 
que ela abordou haviam concordado em fazer parte da pesquisa. Aplicou-se o teste em dois 
indivíduos, mas infelizmente, nenhum dos dois poderia ser considerado psicopata. É 
importante reforçar que ao escolher os sujeitos, o pensamento, inclusive das estagiárias, era 
que eles aceitariam e inclusive ficariam felizes de poder participar e fazer algo diferente do 
quotidiano deles. 
 Tendo em vista a falta de colaboração dos sujeitos, fez-se necessário optar por uma 
segunda alternativa para poder comparar teoria com a prática. Escolheu-se então, fazer um 
questionário aberto com as estagiárias (pedindo para que descrevessem as conversas com os 
sujeitos) e utilizar as entrevistas informais realizadas durante o processo (devido ao pouco 
tempo até a data limite de entrega do TCC). 
5.3.2 Procedimento de análise de dados 
“A análise de dados é importante, justamente porque através desta atividade há 
condições de evidenciar-se a criatividade do pesquisador.” (PÁDUA, 2007, p. 82). Ela foi 
efetuada através de uma análise de conteúdos, que “[...] tem como objetivo principal a busca 
do significado de materiais textuais.” (APPOLINÁRIO, 2006, p. 161). 
43 
Os dados seriam retirados das análises dos desenhos e das histórias, porém, como não 
se fez possível a aplicação da técnica por não aceitação da amostra, optou-se por usar os 
dados dos questionários e entrevistas de forma a comparar com a teoria as características e 
dados obtidos. 
5.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA 
 Deve-se considerar a dificuldade, muitas vezes apresentada, para detectar os sujeitos 
com o Transtorno de Personalidade Anti-Social e para conseguir dados puros (sem 
manipulação) por parte do indivíduo psicopata. Lembrando também, que o tipo de estudo 
proposto, depende, em partes, da colaboração dos sujeitos da amostra. 
 Devido às características singulares do que se propôs, esta pesquisa não se torna 
relevante para a caracterização de outros tipos de personalidades. 
44 
6 RESULTADO DA PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS 
NOME8 IDADE ACUSADO DE TEMPO EM 
CONFINAMENTO 
Amanda 42 anos Assassinato, 
formação de 
quadrilha e roubo de 
jóias. 
5 anos e 6 meses em 
confinamento 
Jair 36 anos Planejamento de 
assassinato 
20 anos de 
condenação, sendo 
2/5 em confinamento 
João 42 anos Estupro 20 anos de 
condenação, sendo 
2/5 em confinamento 
Márcio ? Planejamento de 
assassinato 
? 
Obs.: Tabela com os dados referentes aos indivíduos da amostra; 
Obs2.: De Márcio obteve-se contato apenas através das entrevistas informais, ficando alguns dados sem 
indicação e localizados por “?”. 
 Durante o processo de contato com os indivíduos da amostra foi possível, através de 
conversas informais e de descrições das estagiárias de Psicologia, observar diversas das 
características encontradas na teoria. 
 Na análise dos dados se observou que os fatos de os sujeitos da amostra se isentarem 
da culpa corrobora com a teoria. Isso pode ser contestado na fala de João, que é acusado de 
estupro, embora não assuma a responsabilidade, assim como Jair, que mesmo tendo provas 
evidenciando o envolvimento dele no assassinato da esposa, diz-se inocente, e Márcio, que 
 
8 Nomes fictícios para respeitar o sigilo profissional 
45 
através de um planejamento e contratação de terceiros, mandou matar a ex-namorada e nunca 
admitiu ter participação no crime. 
 Márcio, através de seu crime premeditado, demonstrou grande inteligência (bastante 
demarcada na teoria) através de seu planejamento, assim como Amanda, que além de 
conversar sobre tudo, já cometeu diversos crimes nos quais planejou roubos de forma 
perspicaz (como por exemplo quando contratou pessoas para assaltarem sua casa bem na hora 
que o joalheiro estava lá, para que pudesse ficar com as jóias) e Jair que se utiliza de termos 
difíceis e com bastante eloqüência (muito citada pelos autores como sendo uma das 
características centrais dos psicopatas), demonstrando conhecimento em diversas áreas, 
inclusive confrontando a estagiária em seus conhecimentos. 
 Por não conhecer detalhes das vidas dos sujeitos da pesquisa, pudemos constatar 
apenas em Amanda fortes indícios de transtorno de conduta durante boa parte da vida (o que é 
um dos indícios utilizados pelo DSM-IV-TR para se dagnosticar um psicopata), aplicando 
diversos golpes planejados, comprovando o que Gonçalves e Amorin (2004) dizem, que os 
psicopatas estão sempre atrás de sensações mais fortes, sendo que isto também pode ser visto 
pela sucessão de seus crimes, que foram diferenciando em complexidade. Ela também 
demonstrou bastante frieza, não só por assassinar alguém da família de forma violenta, mas 
também por falar da situação de forma a não se emocionar, além de se utilizar de teatro para 
fingir emoções, características também encontradas nas conversas com João e Jair que falam 
com confiança, olham no olho e não demonstram abalo emocional (não choram nem 
modificam suas expressões faciais) nem ao falar das situações mais horrendas, o que explicita 
o fator de que os psicopatas possuem danos emocionais. 
 Amanda, assim como Márcio, confessam os crimes que cometeram, porém não 
mostram arrependimento ou culpa, traços característicos dos indivíduos psicopatas. Amanda, 
embora não costume falar de seus crimes, utiliza-se, muitas vezes, de projeção, afirmando ser 
a vítima. Já em Condicional, Amanda, por muito tempo não declarou qual era seu trabalho, e 
depois de algumas conversas confessou que o trabalho que exercia não era digno e então 
apresentou seu cartão, no qual se designava como prestadora de serviços, melhor visto por ela 
(sic). Aqui pôde-se observar a necessidade dos indivíduos psicopatas de status tanto 
comentada nos livros. É interessante ressaltarm que graças ao status que Jair possui, ele pode 
andar livremente pelo Presídio, e exercer uma função que necessita de certa instrução. A fala 
de Jair, ao chamar sua cela de “apartamento”, demonstra também esta necessidade de viver de 
aparências sempre grandiosas. Pode-se dizer também, que ao chamar sua cela de 
46 
“apartamento”, ele automaticamente se coloca como melhor que os outros presos, pois ele não 
vive em celas como eles. Além disso ele também demonstra a necessidade de status quando 
comenta conhecer muita gente importante e ser uma pessoa influente, mostrando que isto é 
algo importante para ele. 
 Apenas em Amanda foi possível constatar a utilização de outros mecanismos de 
defesa, como a negação da realidade e a fantasia, pois, segundo relatos da estagiária 2,Amanda cria personagens e outras vidas para que possa conseguir uma ressocialização, de 
forma que seu personagem é sempre vitimizado, onde podemos pensar que ela se utiliza do 
“jogo de pena”, na intenção de conseguir, mais uma vez, manipular as pessoas que se 
aproximarem dela. 
 Em Jair, o poder de manipulação e sedução, tanto encontrados nos livros, é bastante 
marcante, pois, por ter sua Condicional negada, busca estudar o HTP que foi utilizado para 
atestar a sua possibilidade de sair do confinamento. De várias formas tenta convencer a 
estagiária a passar mais tempo com ele, sempre pedindo que tome um café ou coma 
amendoins com ele em outros momentos, como foi possível ler no relato da estagiária 1, 
mostrando sempre uma tentativa de sedução, de tentar atrair a mesma. Pede com bastante 
freqüência que a estagiária aplique os testes que impediram sua Condicional, na intenção de 
que, como agora ele tem informações sobre a técnica, ele possa manipular os dados e 
convença a estagiária de que ele está apto a sair da prisão. 
 Outro momento em que pode-se observar a tentativa de manipulação de Jair, está em 
sua estratégia de “andar na linha” dentro do Presídio, e de fato, não foge às regras, de forma a 
associar isto a sua imagem de inocente, pois se passar uma aparência de “bom moço”, 
conseguirá manipular alguns para que acreditem que não foi ele que planejou matar a mulher. 
 Devido ao maior contato com Jair, é fácil perceber o que o psicopata consegue fazer 
com as pessoas ao seu redor. A estagiária 1 em seu relato, apresenta as diversas tentativas de 
Jair de se tornar alguém de confiança, sempre simpático, e falando o que os outros querem 
ouvir, de forma a se tornar “amigo” das pessoas que trabalham no Presídio, a maior prova de 
que isso funciona está no fato de que o pessoal do Presídio realmente vê em Jair alguém de 
confiança, pois permitem que ele mexa nos computadores, que contêm informações bastante 
importantes e particulares, e permitem também que ele ande de forma livre dentro do 
Presídio. 
47 
 Apenas em Jair foi possível observar a intolerância ao tédio afirmada por alguns 
autores, sendo que a estagiária 1 diz não o ver parado, já que está sempre procurando algo 
para fazer e, apenas em João se observou a impulsividade, pois em várias falas ameaça e 
confessa que se alguém falar algo em relação a ele e ele não gostar “ele mata mesmo” (sic), 
indo de encontro à teoria de que qualquer coisa pode ser o estopim para este tipo de 
personalidade. Faz ameaças frequentes, mostrando a sua necessidade de gratificação 
instantânea e isso só vai acontecer quando conseguir se vingar de quem o colocou na cadeia. 
 O mais marcante surgiu justamente do fato de que nenhum dos indivíduos abordados 
aceitou participar dessa pesquisa, indo de encontro com a dificuldade encontrada pelos 
autores. 
 
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 
Tendo em vista todos os dados expostos, talvez o maior desafio hoje seja a maior 
inserção do psicólogo na Psicologia Criminal, para que através de uma maior base de dados 
de perfis, exista, além de uma menor reincidência criminal, mais assistência às perícias 
criminais por parte daquele profissional. 
 As conclusões desse trabalho vêm ao encontro disto e de maior conhecimento sobre as 
personalidades psicopáticas. Aquelas têm a intenção de contribuir cientificamente para a 
melhor compreensão dessas personalidades. A validade desse trabalho está justamente na 
possibilidade de se traçar um perfil do psicopata, e, a partir disso, recomendar ações a serem 
tomadas pelos indivíduos e órgãos envolvidos ou novas áreas a serem pesquisadas. 
 Com relação ao objetivo geral dessa pesquisa, que é a identificação do perfil 
psicológico do psicopata, pode-se concluir que, como foi possível ver nos relatos, mesmo com 
um ínfimo contato com estes sujeitos, é fácil perceber as características abordadas 
teoricamente. De forma superficial (pois não tem-se resultados comprovados através de testes 
psicológicos) pode-se observar o nível elevado de inteligência, o fator de manipulação tão 
amplamente averiguado na teoria, a sedução vista de forma clara (tanto na prática quanto nos 
livros), a ausência de arrependimento juntamente com a projeção de culpa, presente na maior 
parte dos indivíduos da amostra, a necessidade de cargos com status social também se fez 
48 
presente, demonstrando uma vida de exageros e permeada por uma impulsividade, buscando 
satisfação instântenea de seus desejos. 
 Além disso, ao confrontar com a teoria, pode-se obter, através dos relatos das 
estagiárias, algumas vivências de intolerância ao tédio, da grande loquocidade ao falar com as 
estagiárias, do domínio de vários assuntos, da indiferença e insensibilidade afetivo-emocional, 
da impulsividade e da versatilidade criminal. 
 Em relação ao que afirma Silva (2008) sobre ser possível efetivar estas pesquisas 
apenas em presídios, se fez possível encontrar outro local disponível e viável para tais 
investigações: uma extensão dos Presídios, as Centrais de Penas Alternativas dos Fóruns, que 
trabalha com os indivíduos que conseguiram Condicional. 
 Mesmo tendo observado todos estes traços, o que mais chama a atenção e o que mais 
elucidou a teoria, diz respeito à dificuldade em se estudar e fazer pesquisas sobre e com os 
psicopatas, pois, como já abordado anteriormente, existe pouca colaboração destes indivíduos 
por considerarem que não vale à pena despenderem qualquer informação sobre eles, sendo 
que, quando aceitam, manipulam os dados. Embora não tenha sido possível verificar a 
manipulação de dados na presente pesquisa, nenhum dos abordados aceitou participar, 
demonstrando a falta de interesse em colaborar com algo que não traga benefícios diretos a 
eles. 
 Relativamente ao objetivo específico de se elucidar sobre a definição e o histórico da 
Criminologia, percebe-se que, de forma sucinta, a Criminologia é considerada uma das áreas 
com maior relevância em se tratando de resolução de crimes, propondo-se a esclarecer, 
através de análises, tudo que circunda as ações delituosas e a criminalidade. Com base no 
estudo do comportamento humano, é uma ciência multidisciplinar que, apesar de recente, vem 
crescendo rapidamente devido a um aumento da demanda. 
 Aqui cabe um pensamento mais crítico, sabe-se que é uma área pouco pesquisada e 
com poucos especialistas aqui no Brasil e é possível observar que nas grades curriculares das 
Universidades há poucas cadeiras que sejam específicas da Criminologia, no nosso curso de 
Psicologia não existe nenhuma, e no curso de Direito existe apenas a cadeira de Direito Penal 
que, de acordo com a ementa, leciona Criminologia. Será que, se temos consciência que é 
uma área em crescimento e só têm a acrescentar ao nosso sistema judiciário, não é uma falta 
de preparação e até de interesse por parte das faculdades e de todos os envolvidos neste 
49 
sistema? Acaba-se por cair na mesma utopia de trabalho multidisciplinar que encontramos em 
diversas outras áreas da Psicologia e dos demais campos profissionais. 
 No histórico da Criminologia foi possível observar que muitos dos antigos escritores, 
filósofos, pensadores, etc, já divulgavam pensamentos que hoje norteiam nossas idéias sobre 
Criminologia e os crimes. Dentre eles alguns bastante conhecidos como Platão, Voltaire, 
Rousseau, Bacon, Aristóteles, São Tomás de Aquino. Os mesmos, de forma original ou 
contribuidora, defendiam e divulgavam alguns dos preceitos hoje, de forma marcante, 
utilizados devido a nossa cultura capitalista e idéias que embasam boa parte da nossa teoria 
atual em se tratando da área de crimes. Algumas destas são: se comete crimes devido a fatores 
socioeconômicos, as penas deveriam serdadas em proporcional acordo com os delitos, e que 
estes não superam a personalidade dos homens que os cometeram. Além disso, acreditavam 
que o governo deve investir na prevenção dos crimes, sendo a punição uma forma equivocada 
de reeducação, embora seja útil como exemplo. 
 Em relação à importância da perfilação de personalidades, percebe-se que esta técnica, 
apesar de pouco utilizada no Brasil, concebe uma grande contribuição tanto para ajudar a 
diminuir a lista de suspeitos dando um perfil em cima do qual se pode trabalhar, quanto para 
investigar o perfil do sujeito que já se encontra encarcerado. Assim, possibilitando um 
parâmetro maior de decidir sobre a condicional, e quem sabe até porpor novos modelos, mais 
especializados para determinadas personalidades, que foi o que Hilda Morana (Doutora em 
Psiquiatria Forense, maior especialista brasileira em psicopatia, em 2009, em entrevista 
concedida a rádio da Câmara de Brasília) fez ao propor que os psicopatas deveriam ficar em 
cadeias especiais (já que hoje ainda não existem possibilidades reais de reabilitação para 
estes), de forma a ficarem longe dos demais detentos, para que estes não sofram com as 
influências negativas daqueles. 
 Quanto ao objetivo de identificar as características sobre o perfil criminal, em um 
levantamento breve de teorias, obteve-se uma visão sobre alguns dos desencadeantes da 
criminalidade, pode-se apontar como ponto central de quase todas as tentativas de explicação 
a influência de fatores externos (socioeconômicos, relações, etc.) e internos (biológicos, 
genéticos, etc.). 
 Sobre o perfil psicológico do psicopata se manteve as características observadas na 
escala de Hare (PCL-R), as quais, algumas, puderam ser observadas através dos relatos. 
Entende-se que existe uma linha tênue entre as personalidades psicopáticas e àquelas 
consideradas normais, atentando para o fato de que é muito difícil, na maioria dos casos, 
50 
diferenciar umas das outras, pois os psicopatas são considerados pessoas comuns, que embora 
não sejam emocionalmente iguais aos demais, conseguem de forma bastante real, iludir os que 
estão ao seu redor, através do seu jogo de sedução, a acreditar neles. 
 Sendo assim, recomendamos pesquisas não apenas com os próprios indivíduos, visto 
as dificuldades encontradas para tal, mas também com as pessoas que convivem com eles, 
pois sabe-se que os maiores afetados por estes sujeitos, são justamente aqueles que têm 
contato com pessoas com as características aqui apresentadas. Acredita-se que, por 
conviverem de forma direta e quotidiana com os psicopatas, seus familiares, amigos e pessoas 
com quem têm relacionamentos podem ser fontes de informações de grande valor. 
 Além disto, mais estudos na área são bem vindos, tendo em vista nunca desistir e 
continuar procurando meios para uma aproximação com os psicopatas, para que seja possível, 
cada vez mais, desmistificar estas personalidades e de forma a ir de encontro com as idéias de 
Hilda Morana (2009) e tentar convencer os órgãos responsáveis de que há necessidades de 
confinamentos especiais para os sujeitos portadores de Transtorno de Personalidade Anti-
Social, com o intuito de reduzir ao máximo o dano que estes podem causar a sociedade, tendo 
em vista que pouco ainda se sabe sobre um método de tratamento eficaz para estes sujeitos. E 
quem sabe até, buscar programas para o aproveitamento das potencialidades destes 
indivíduos. 
 
 
 
 
51 
REFERÊNCIAS 
ANASTASI, A. URBINA, S. Testagem psicológica. 7ed. Porto Alegre : ARTMED, 2000. 
 
ANATASDI, A. Testes psicológicos. 2ed. São Paulo : E.P.U., 1977. 
 
APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo: 
Pioneira Thomson, 2000. 
 
BENETTI, A. PCL-R instrumento de identificação do indivíduo sociopata. 2005. 78 f. 
Monografia (Graduação) – Faculdade de Direito, Fundação Universidade Regional de 
Blumenau. 
 
BORBA, F., S. da. Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. 2ed. São Paulo: 
Melhoramentos, 1998. 
 
BRANDÃO, E. P.; GONÇALVES, H. S. Psicologia jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU 
Ed., 2005. 
 
BUCK, J., N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva de desenho: manual e guia de 
interpretação. 1ed. São Paulo: Vetor, 2003. 
 
CABRAL, A.; NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 13ed. São Paulo: Editora Cultrix, 
2003. 
CASOY, I. Serial killer: louco ou cruel? 7ed. São Paulo : WVC, 2002. 
CORREIA, E.; LUCAS, S.; LAMIA, A. Profiling: uma técnica auxiliar de investigação 
criminal. Aná. Psicológica, vol.25, no.4, outubro de 2007, p.595-601. Disponível em: 
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312007000400005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 29 de agosto de 2009. 
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto 
Alegre: Artmed, 2007. 
 
DENZIN, N., K.; LINCOLN, Y., S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e 
abordagens. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 
 
DIAS, J. F.; ANDRADE, M. C. Criminologia: O homem delinqüente e a sociedade 
criminógena. Coimbra: Coimbra Editora, 1984. 
 
DOTTI, R. A. Código penal /atualizacão, notas e índices. Rio de Janeiro : Forense, 1987. 
 
DOURADO, L. A. Ensaio de psicologia criminal: o teste da árvore e a criminalidade. Rio de 
Janeiro: Zahar Editores, 1969. 
52 
FELDMAN, M. P. Comportamento criminoso: uma análise psicológica. 1ed. Rio de 
Janeiro: Zahar Editores. 1977. 
FERNANDES, N.; FERNANDES, V. Criminologia integrada. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 1995. 
FERRI, E. Princípios de direito criminal, o criminoso e o crime. 1ed., Campinas: Russel, 
2003. 
 
FIORELLI, J., O.; MANGINI, R., C., R. Psicologia jurídica. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
FONSECA, A., F. da. Psiquiatria e psicopatologia. 2ed. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 1997. 
 
FRANCA, F. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Psicologia: 
teoria prática, vol.6, no.1, junho de 2004, p.73-80. Disponível em: <http://pepsic.bvs-
psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
36872004000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 de junho de 2009. 
 
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ed., São Paulo: Atlas, 2002. 
 
GONÇALVES, L.; AMORIN, V. Patologia da personalidade: teoria clínica e terapêutica. 
2ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. 
 
HOLMES, D., S. Psicologia dos transtornos mentais. 2ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1997. 
 
JORGE, M. R. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-IV-TR. 4ed. 
Porto Alegre : Artes Médicas, 2002. 
 
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria. 3ed. Porto Alegre: Artes 
Médicas, 1993. 
 
KERNBERG, O., F. Agressão nos transtornos de personalidade e nas perversões. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1995. 
 
KIENEN, N.; WOLFF, S. Administrar comportamento humano em contextos 
organizacionais. Psicologia: Organizações e Trabalho, Florianópolis: Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, v.2, n.2, p. 11-37, 
jul./dez. 2002. 
 
LEAL, L. M. Psicologia jurídica: história, ramificações e áreas de atuação. Diversa: Ano 1 – 
nº 2, 2008. 
 
MARTINELLI, M., L. Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo: Veras, 1999. 
 
MIRABETE, J., F. Manual de direito penal. 22ed. São Paulo: Atlas, 2005. 
MIRA Y LÓPEZ, E. Manual de psicologia jurídica. 2ed. Campinas – SP: LZN, 2005. 
53 
MORANA, H. C. P. Identificação do ponto de corte para a escala PCL-R (Psychopathy 
Checklist Revised) em população forense brasileira : caracterização de dois subtipos de 
personalidade ; transtorno global e parcial. São Paulo, 2003. 178p. Tese (Doutorado) – 
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. 
 
MORANA, H., C., P; STONE, M., H; ABDALLA-FILHO, E.Transtornos de 
personalidade, psicopatia e serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.28, 
p. 74-79, 2006. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
44462006000600005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 de outubro de 2009. 
 
MORANA, H., C. Saiba mais sobre a psicopatia. Rádio Câmara. 2009. Entrevista concedida 
a Daniele Lessa. Disponível em: < 
http://www.camara.gov.br/internet/radiocamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=86609>. 
Acesso em: 15 de setembro de 2009. 
 
OLIVEIRA, H., M. LISA: grande dicionário da língua portuguesa, histórico e geográfico. 
2ed. São Paulo: Lisa – Livros Irradiantes, 1972. 
 
PÁDUA, E., M., M. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática. 10ed. Campinas, 
São Paulo: Papirus, 2004. 
RODRIGUES, R., M. Pesquisa acadêmica : como facilitar o processo de preparação de suas 
etapas. São Paulo: Editora Atlas, 2007. 
SADOCK, B., J.; SADOCK, V., A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento. 
2ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 
SILVA, A., B., B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 
2008. 
SILVA, A., B., B. Psicopatas. Sem Censura – TVE Brasil. 2008. Entrevista concedida a 
Leda Nagle. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=Sv98xU9QxYw>. Acesso 
em: 11 de agosto de 2009. 
SPIROLAZZI, G., C. Dicionário de psicopatologia forense. Coimbra: Atlântida Editora, 
1965. 
WHITAKER, E., A. Manual de psicologia e psicopatologia judiciária. 2ed. São Paulo: 
Sugestões Literárias S.A. 1969. 
54 
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTAGIÁRIA 1 
1 – Descreva seus contatos com os psicopatas: 
JAIR – Desde que falei com o Jair a primeira vez, ele logo me cumprimentou, foi simpático, 
porém não falava muito. Ele trabalhava na cozinha, então a cada dia que íamos lá, ele já vinha 
oferecendo algo que tinha feito, algum pudim, suflê, e todos os pratos sempre gostosos. 
Sempre nos acompanhava, vendo a gente comer e pedia como estava, se gostamos, enfim, 
sempre todo preocupado com o que achávamos. Sempre pedia como estava o nosso dia, 
demonstrando muita simpatia, porém nunca falava de si. 
Certo dia vi ele mexendo num computador e aí perguntei o que fazia, e então ele me 
disse que tinha curso superior, formado em sistemas de informação, por isso arrumava os 
computadores do Presídio e ficava na cela especial, a qual ele chama de “apartamento”. Achei 
isso muito estranho, o fato dele arrumar os computadores do local, onde podia ter acesso a 
várias coisas, mas todos têm confiança nele, afinal Jair é o característico psicopata, 
demonstra-se uma pessoa boa, correta, confiável, sedutor, sempre falando o que as pessoas 
querem ouvir. 
Ele é faz tudo premeditado; quando vem falar comigo, fala tudo perfeitamente, as 
palavras sem erro algum, com termos difíceis, demonstrando entender de vários assuntos, 
falando até mesmo de psicologia, para me confrontar, demonstrar que pode saber mais que eu. 
Ele diz que conhece muita gente importante, é influente, que não apresenta perigo para a 
população, pois todos gostam dele no Presídio, ele faz toda a parte técnica de informática. 
Atualmente ele trabalha na administração do Presídio, nos computadores; ele anda por lá 
livremente. 
Como conhecemos o seu perfil, sabemos que ele jamais fugiria, jamais faria algo de 
errado lá dentro, pois assim iria se contradizer; ele não faria isso porque faz tudo 
calculadamente. Sempre cumprimenta, todo educado, fala bonito. Quando vamos até perto da 
cela dele, ele oferece coisas pra comer, dizendo que seu apartamento é organizado, limpinho. 
Ele não suporta ficar sem fazer nada. Quando não está na administração, ele está 
perambulando pelo Presídio, vendo se há algo por fazer nos computadores, ou limpa sua cela, 
ou faz comida, etc. Diz ele que tem tudo anotado, programado o que vai fazer; ele faz uma 
espécie de cronograma de atividades. Obviamente que ele se mantém informado de tudo o que 
acontece no Presídio. 
55 
Não é o tipo de cara que se envolve com drogas, por isso também é confiável lá 
dentro, não aceita dinheiro em troca de algo, pois ele faz tudo pelas vias corretas, para 
confirmar que realmente não foi ele que matou a mulher dele. Ele diz que o incriminaram 
porque não acharam outro pra colocar no lugar dele, mas as evidências demonstram que só 
poderia ser ele, mas ele diz que não é provado, pois não foi ele, ele jamais mataria ela porque 
a amava muito. 
Quando ele fala até convence, mas vê-se a falta de emoção; ele jamais chora, não 
demonstra diferente expressão facial; olha fixamente nos olhos. Quando confrontado, sempre 
tem uma resposta pronta ou então a joga de volta. Seu pedido de progressão de regime foi 
recusado pela psicóloga que fez seu exame criminológico. Ele se considera mais que os 
outros, melhor que os outros presos, pois ele é inocente, é correto. 
 
JOÃO - Apesar de não saber muito dele, posso dizer que ele é bem frio, fala olhando 
fixamente nos olhos, não se emociona, fala as coisas ruins com a maior naturalidade. Ele é do 
tipo que não tem receio nenhum se matar alguém, se machucar. 
Ele é acusado de estuprar a filha, mas ele jura que não fez isso; diz que é uma pessoa 
certa, dentro da tradição; diz que nunca deixou ela andar de calcinha dentro de casa, nem o 
filho. Pelo o que ele fala, brigava muito com os filhos, batia e, acredito sim que ele tenha 
abusado da filha. Ele convence tanto que é inocente, que a mulher acredita, acompanha ele, 
visita no Presídio. O irmão dele também está preso por roubo e assassinato. 
Um dia um cara disse pra ele que ele era estuprador, aí ele disse que se o cara falasse 
mais uma vez isso ele iria buscar o facão que tem na cozinha e passar no pescoço dele e 
ficaria olhando o sangue correndo pelas grades no chão sem remorso algum. O cara pediu 
desculpas pra ele e nunca mais falou nada. 
Ele falou pra mim que psicólogo só destrói a vida das famílias, porque a mulher que 
entrevistou a filha não percebeu que ele não fez nada, só o incriminou. Eu disse a ele que é 
preciso ver o trabalho dela, a versão da menina, ela tentou protegê-la, daí ele disse que quando 
sair dali vai procurar essas pessoas que o colocaram na cadeia e acabar com todas; disse que 
antes vai pensar bem no que vai fazer, vai contratar terceiros, mas pensa em coisas bem 
horríveis. Eu falei que ele não vai ganhar nada com isso, que só vai gerar mais sofrimento, 
que a família dele vai sofrer mais, a mulher e que ele vai apodrecer na cadeia. Mas ele não se 
importa. Ele não sabe o que é sofrimento, só pensa na vingança, só ele tem razão. 
56 
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTAGIÁRIA 2 
1 – Descreva seus contatos com os psicopatas: 
AMANDA: É uma das poucas mulheres a comparecer e ser fiscalizada pela Central de Penas 
Alternativas, entende-se que Amanda é uma pessoa que da trabalho a central assim tomando 
esta fala do ambiente, pois a mesma não cumpre a lei como deveria ou seja não apresenta 
trabalho fixo, não comparece no dia agendado mas tem sempre milhares de dificuldades que a 
fazem não poder vir, a mesma, além de cumprir a pena atual, está envolvida com várias outras 
situações. 
Falar de Amanda é muitas vezes um enigma, pois é envolvente, veste-se bem, 
extremamente inteligente e conversa a respeito de tudo, horas e horas. 
Amanda é apresentada a mim um pouco diferente de todos os outros, pois a mesma da 
trabalho e não cumpri a lei. Ao conversar com Amanda percebo que a mesma não fala de seu 
delito, a mesma fala somente da dificuldade de sua vida, um ponto já inicial que temos que 
destacar pois 90 % dos apenados falam de seus crimes e deslizes para iniciar os atendimentos, 
pois entendem que sua vida hoje está como está devido a seus deslizes. Istoé diferente em 
Amanda, que em todo momento nega e até mesmo cria histórias para falar do assunto 
Seu crime, no qual hoje cumpre condicional, é formação de quadrinha e interceptação 
de jóias, a mesma foi a encabeçadora do bem planejado e fracassado crime. 
A mesma combina com seus amigos para roubarem jóias e assim acontece. A mesma 
combina com um joalheiro em sua casa marcando um horário e dia, ao chegar em sua casa o 
joalheiro começa a lhe apresentar as luxuosas e poderosas pedras e ouros e toda a ostentação e 
luxo que as jóias podem trazer a mesma. Como já citado acima, com tudo combinado com 
seus amigos simula um assalto e levam todos os ouros e jóias do joalheiro. A mesma faz caras 
e bocas e vai a delegacia para dar queixa, chora, fica indignada tanto quanto ao joalheiro que 
teve um enorme prejuízo. 
Após uma semana, a polícia, a modo investigativo (por Amanda já ter passagem pela 
policia por ter assassinado a sogra a machadada) visita sua casa e encontra boa parte das jóias 
a seu uso. Crime quase perfeito, a mesma é presa mas sem confessar. 
Outra coisa que temos que ressaltar aqui é a perspicácia em planejar e coordenar esta 
equipe de amigos pois Amanda não só participou mas foi a planejadora, também ocupou os 
dois papéis a de vitima e a de chefe de equipe. 
57 
Amanda após cumprir a pena em regime fechado, hoje cobre em regime de livramento 
condicional e desta forma comparece ao fórum para prestar contas ao juiz, também passa por 
atendimento psicológico. Amanda não fala e não tem arrependimentos do que aconteceu, na 
verdade e só mais uma vítima como a mesma relata. 
Outra coisa que quero ressaltar em seu perfil é que Amanda vive muito bem entre a 
sociedade diferente dos outros apenados que se escondem e sentem-se julgados e reprimidos 
pelos outros, como diz Amanda, você tem que andar de cabeça erguida, você é só mais uma 
vitima, Amanda. Sendo assim esta cria nomes e outras vidas como “personagens” para 
conseguir apresentar-se ao outro. Então a mesma não cumpre a lei e sai à noite como Maria, 
João, e assim por diante.

Mais conteúdos dessa disciplina