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DEPEN - AGENTE - Ética no serviço público

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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos 
Ética no Serviço Público A Opção Certa Para a Sua Realização 1
 
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICOÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICOÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICOÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO 
 
1 Ética e moral. 
2 Ética, princípios e valores. 
3 Ética e democracia: exercício da cidadania. 
4 Ética e função pública. 5 Ética no Setor Público. 
5.1 Decreto nº 1.171/ 1994 (Código de Ética Profissio-
nal do Servidor Público Civil do Poder Executivo Fede-
ral). 
 
O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pes-
soa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a 
conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e 
bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. 
Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está 
relacionada com o sentimento de justiça social. 
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos 
e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda 
os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. 
Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. 
Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser 
ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos 
estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas bioló-
gicas é denominada bioética. 
Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, 
existe também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste 
sentido, podemos citar: ética médica, ética profissional (trabalho), ética 
empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na 
política, etc. 
Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual pertence é 
chamado de antiético, assim como o ato praticado. 
Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho: 
- Educação e respeito entre os funcionários; 
- Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de trabalho; 
- Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o desempenho 
das atividades realizadas na empresa; 
- Respeito à hierarquia dentro da empresa; 
- Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de 
trabalho; 
- Ações e comportamentos que visam criar um clima agradável e positi-
vo dentro da empresa como, por exemplo, manter o bom humor; 
- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas 
ao trabalho; 
- Respeito às regras e normas da empresa. 
 http://www.suapesquisa.com/religiaosociais/etica_profissional.htm 
 
A origem da palavra ética vem do grego ethos, que quer dizer o modo 
de ser, o caráter. Os romanos traduziram o ethos grego, para o latim mos 
(ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. 
Tanto ethos (caráter) como mos (costume) indicam um tipo de compor-
tamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com 
ele como se fosse um instinto, mas que é "adquirido ou conquistado por 
hábito" (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, dizem 
respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente 
a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde 
nascem e vivem. 
No nosso dia-a-dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos 
as duas palavras como sinônimos. Mas os estudiosos da questão fazem 
uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o 
conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o 
comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. 
Enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do 
comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar 
a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica. 
"Nenhum homem é uma ilha". Esta famosa frase do filósofo inglês 
Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. 
Para o ser humano viver é conviver. É justamente na 
convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e 
se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que 
surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como 
agir em determinada situação? 
Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injus-
tiças, o que fazer? 
Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações 
que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da 
nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas 
decisões, escolhas, ações e comportamentos - os quais exigem uma avali-
ação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é conside-
rado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. O 
problema é que não costumamos refletir e buscar os "porquês" de nossas 
escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, 
dos costumes e da tradição, tendendo à naturalizar a realidade social, 
política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica 
diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois 
não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa 
realidade moral. 
No Brasil, encontramos vários exemplos para o que afirmamos acima. 
Historicamente marcada pelas injustiças sócio-econômicas, pelo preconcei-
to racial e sexual, pela exploração da mão-de-obra ïnfantil, pelo "jeitinho" e 
a "lei de Gerson", etc, etc. A realidade brasileira nos coloca diante de 
problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostu-
mados com nossas misérias de toda ordem. Naturalizamos a injustiça e 
consideramos normal conviver lado a lado as mansões e os barracos, as 
crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar 
vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo otário quem 
procura ser honesto. 
Na vida pública, exemplos é o que não faltam na nossa história recen-
te: "anões do orçamento", impeachment de presidente por corrupção, 
compras de parlamentares para a reeleição, os 
medicamentos, máfia do crime organizado, desvio do Fundef, etc. etc. Não 
sem motivos fala-se numa crise ética, já que tal realidade não pode ser 
reduzida tão somente ao campo político-econômico. Envolve questões de 
valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. 
Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um problema 
ético. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é 
indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e 
não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda reali-
dade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser 
humano concreto é desrespeitado na sua condição humana. 
www.dhnet.org.br 
Ética Profissional Ética Profissional Ética Profissional Ética Profissional é compromisso socialé compromisso socialé compromisso socialé compromisso social 
Rosana Soibelmann Glock 
José Roberto Goldim 
Conceituação: O que é Ética Profissional? 
É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Di-
reito. Estas três áreas de conhecimento se distinguem, porém têm grandes 
vínculos e até mesmo sobreposições. 
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabe-
lecer uma certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se 
diferenciam. 
A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma 
forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geo-gráficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, 
mas utilizam este mesmo referencial moral comum. 
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O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada 
pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem 
apenas para aquela área geográfica onde uma determinada população ou 
seus delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito é um sub-
conjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a 
lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de 
conflitos entre a Moral e o Direito. A desobediência civil ocorre quando 
argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. 
Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de referirem-se a 
uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes. 
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, 
justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a 
busca de justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. 
Ela é diferente de ambos - Moral e Direito - pois não estabelece regras. 
Esta reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética. 
Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão? 
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão 
deve iniciar bem antes da prática profissional. 
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas 
vezes, já deve ser permeada por esta reflexão. A escolha por uma profissão 
é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais passa a 
ser obrigatório. Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira 
sem conhecer o conjunto de deveres que está prestes ao assumir tornando-
se parte daquela categoria que escolheu. 
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências 
e habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve 
incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar 
a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua 
adesão e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente 
ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, 
esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo 
as mais adequadas para o seu exercício. 
Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar 
ou paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem 
completar os estudos ou em área que nunca estudou, aprendendo na 
prática. Isto não exime você da responsabilidade assumida ao iniciar esta 
atividade! O fato de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu 
livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como emprego por precisar 
trabalhar, o fato de exercer atividade remunerada onde não pretende seguir 
carreira, não isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que tempora-
riamente, a uma classe, e há deveres a cumprir. 
Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de almoxari-
fado durante o dia e, à noite, faz curso de programador de computadores, 
certamente estará pensando sobre seu futuro em outra profissão, mas deve 
sempre refletir sobre sua prática atual. 
Ética Profissional: Como é esta reflexão? 
Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito 
incorporado ao dia-a-dia. 
Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se perguntar sobre 
os deveres assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de almoxarifado, 
como está cumprindo suas responsabilidades, o que esperam dela na 
atividade, o que ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não há 
outra pessoa olhando ou conferindo. 
Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou a-
gindo adequadamente? Realizo corretamente minha atividade? 
É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que 
não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são 
comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer. 
Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo 
quando a atividade é exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte de 
um conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho 
desta. 
Uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que 
foram dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, 
mesmo que ele seja temporário. 
Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer ruas e 
juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que você vê que está 
prestes a cair na rua, podendo futuramente entupir uma saída de escoa-
mento e causando uma acumulação de água quando chover. Você pode 
atender num balcão de informações respondendo estritamente o que lhe foi 
perguntado, de forma fria, e estará cumprindo seu dever, mas se você 
mostrar-se mais disponível, talvez sorrir, ser agradável, a maioria das 
pessoas que você atende também serão assim com você, e seu dia será 
muito melhor. 
Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, des-
de que você esteja aberto e receptivo, e que você se preocupe em ser um 
pouco melhor a cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se não 
surgir, outro trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando do que 
você faz e sem perder, nunca, a dimensão de que é preciso sempre conti-
nuar melhorando, aprendendo, experimentando novas soluções, criando 
novas formas de exercer as atividades, aberto a mudanças, nem que seja 
mudar, às vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer uma grande 
diferença na sua realização profissional e pessoal. Isto tudo pode acontecer 
com a reflexão incorporada a seu viver. 
E isto é parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que vo-
cê pode ter de ser um profissional que qualquer patrão desejaria ter entre 
seus empregados, um colaborador. Isto é ser um profissional eticamente 
bom. 
Ética Profissional e relações sociais: 
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento 
de água da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umida-
de no local destinado para colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião 
que confere as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, a 
atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa 
após ir ao banheiro, o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou 
que não maquia o balanço de uma empresa, o engenheiro que utiliza o 
material mais indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo 
de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem o que não é 
visto, ao fazerem aquilo que, alguém descobrindo, não saberá quem fez, 
mas que estão preocupados, mais do que com os deveres profissionais, 
com as PESSOAS. 
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os 
profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem 
daquele profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamen-
te e que fazem parte do comprometimento do profissional em ser eticamen-
te correto, aquele que, independente de receber elogios, faz A COISA 
CERTA. 
Ética Profissional e atividade voluntária: 
Outro conceito interessante de examinar é o de Profissional, como a-
quele que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou ativi-
dade que exerce, em oposição a Amador. Nesta conceituação, se diria que 
aquele que exerce atividade voluntária não seria profissional, e esta é uma 
conceituação polêmica. 
Em realidade, Voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer 
a prática Profissional não-remunerada, seja com fins assistenciais, ou 
prestação de serviços em beneficência, por um períododeterminado ou 
não. 
Aqui, é fundamental observar que só é eticamente adequado, o profis-
sional que age, na atividade voluntária, com todo o comprometimento que 
teria no mesmo exercício profissional se este fosse remunerado. 
Seja esta atividade voluntária na mesma profissão da atividade remu-
nerada ou em outra área. Por exemplo: Um engenheiro que faz a atividade 
voluntária de dar aulas de matemática. Ele deve agir, ao dar estas aulas, 
como se esta fosse sua atividade mais importante. É isto que aquelas 
crianças cheias de dúvidas em matemática esperam dele! 
Se a atividade é voluntária, foi sua opção realizá-la. Então, é eticamen-
te adequado que você a realize da mesma forma como faz tudo que é 
importante em sua vida. 
Ética Profissional: Pontos para sua reflexão: 
É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não a-
penas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, 
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mas também nos aspectos legais e normativos. Vá e busque o conheci-
mento. Muitos processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais 
acontecem por desconhecimento, negligência. 
Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas, 
confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvi-
mento, afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas 
com as pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que é deposi-
tada em você... 
Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são indis-
sociáveis! 
Todos os Códigos de Ética Profissional trazem em seu texto a maioria dos seguintes princí-
pios: 
» honestidade no trabalho; 
» lealdade para com a empresa; 
» formação de uma consciência profissional; 
» execução do trabalho no mais alto nível de rendimento; 
» respeito à dignidade da pessoa humana; 
» segredo profissional; 
» discrição no exercício da profissão; 
» prestação de contas ao chefe hierárquico; 
» observação das normas administrativas da empresa; 
» tratamento cortês e respeitoso a superiores, colegas e subordinados 
hierárquicos; 
» apoio a esforços para aperfeiçoamento da profissão. 
Consideram-se faltas contra a dignidade do trabalho: 
» utilizar informações e influências obtidas na posição para conseguir 
vantagens pessoais; 
» fazer declaração que constitua perigo de divulgação; 
» oferecer serviços ou prestá-los a preço menor para impedir que se 
encarregue dele outra pessoa; 
» negar-se a prestar colaboração nas distintas dependências da enti-
dade para quem trabalhe; 
» prestar serviço de forma deficiente, demorar injustamente sua execu-
ção ou abandonar sem motivo algum o trabalho que foi solicitado; 
» delegar a outras pessoas a execução de trabalhos que em forma es-
tritamente confidencial lhe tenha sido solicitada; 
» fomentar a discórdia: 
» usar tráfico de influências como meio para lograr ou favorecer a be-
nevolência dos chefes; 
» rechaçar a colaboração na execução de determinado trabalho, quan-
do se fizer necessário; 
» não prestar ajuda aos companheiros; 
» ter conduta egoísta na transmissão de experiências e conhecimentos; 
» fazer publicações indecorosas e inexatas. iSecretarias 
 
 
Ética e Moral. Ética e Moral. Ética e Moral. Ética e Moral. 
ÉticaÉticaÉticaÉtica 
A finalidade dos códigos morais é reger a conduta dos membros de 
uma comunidade, de acordo com princípios de conveniência geral, para 
garantir a integridade do grupo e o bem-estar dos indivíduos que o consti-
tuem. Assim, o conceito de pessoa moral se aplica apenas ao sujeito en-
quanto parte de uma coletividade. 
Ética é a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do compor-
tamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prática 
atos identificados com o bem. 
Interiorização do dever. A observação da conduta moral da humanidade 
ao longo do tempo revela um processo de progressiva interiorização: existe 
uma clara evolução, que vai da aprovação ou reprovação de ações exter-
nas e suas conseqüências à aprovação ou reprovação das intenções que 
servem de base para essas ações. O que Hans Reiner designou como 
"ética da intenção" já se encontra em alguns preceitos do antigo Egito 
(cerca de três mil anos antes da era cristã), como, por exemplo, na máxima 
"não zombarás dos cegos nem dos anões", e do Antigo Testamento, em 
que dois dos dez mandamentos proíbem que se deseje a propriedade ou a 
mulher do próximo. 
Todas as culturas elaboraram mitos para justificar as condutas morais. 
Na cultura do Ocidente, são familiares a figura de Moisés ao receber, no 
monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos divinos e o mito narrado por 
Platão no diálogo Protágoras, segundo o qual Zeus, para compensar as 
deficiências biológicas dos humanos, conferiu-lhes senso ético e capacida-
de de compreender e aplicar o direito e a justiça. O sacerdote, ao atribuir à 
moral origem divina, torna-se seu intérprete e guardião. O vínculo entre 
moralidade e religião consolidou-se de tal forma que muitos acreditam que 
não pode haver moral sem religião. Segundo esse ponto de vista, a ética se 
confunde com a teologia moral. 
História. Coube a um sofista da antiguidade grega, Protágoras, romper 
o vínculo entre moralidade e religião. A ele se atribui a frase "O homem é a 
medida de todas as coisas, das reais enquanto são e das não reais en-
quanto não são." Para Protágoras, os fundamentos de um sistema ético 
dispensam os deuses e qualquer força metafísica, estranha ao mundo 
percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista, Trasímaco de Calcedô-
nia, o primeiro a entender o egoísmo como base do comportamento ético. 
Sócrates, que alguns consideram fundador da ética, defendeu uma mo-
ralidade autônoma, independente da religião e exclusivamente fundada na 
razão, ou no logos. Atribuiu ao estado um papel fundamental na manuten-
ção dos valores morais, a ponto de subordinar a ele até mesmo a autorida-
de do pai e da mãe. Platão, apoiado na teoria das idéias transcendentes e 
imutáveis, deu continuidade à ética socrática: a verdadeira virtude provém 
do verdadeiro saber, mas o verdadeiro saber é só o saber das idéias. Para 
Aristóteles, a causa final de todas as ações era a felicidade (eudaimonía). 
Em sua ética, os fundamentos da moralidade não se deduzem de um 
princípio metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao homem: razão 
(logos) e atuação (enérgeia), os dois pontos de apoio da ética aristotélica. 
Portanto, só será feliz o homem cujas ações sejam sempre pautadas pela 
virtude, que pode ser adquirida pela educação. 
A diversidade dos sistemas éticos propostos ao longo dos séculos se 
compara à diversidade dos ideais. Assim, a ética de Epicuro inaugurou o 
hedonismo, pelo qual a felicidade encontra-se no prazer moderado, no 
equilíbrio racional entre as paixões e sua satisfação. A ética dos estóicos 
viu na virtude o único bem da vida e pregou a necessidade de viver de 
acordo com ela, o que significa viver conforme a natureza, que se identifica 
com razão. As éticas cristãs situam os bens e os fins em Deus e identificam 
moral com religião. Jeremy Bentham, seguido por John Stuart Mill, pregou o 
princípio do eudemonismo clássico para a coletividade inteira. Nietzsche 
criou uma ética dos valores que inverteu o pensamento ético tradicional e 
Bergson estabeleceu a distinção entre moral fechada e moral aberta: a 
primeira conservadora, baseada no hábito e na repetição, enquanto que a 
outra se funda na emoção, no instinto e no entusiasmo próprios dos profe-
tas, santos e inovadores. 
Até o século XVIII, com Kant, todos os filósofos, salvo, até certo ponto, 
Platão, aceitavam que o objetivoda ética era ditar leis de conduta. Kant viu 
o problema sob novo ângulo e afirmou que a realidade do conhecimento 
prático (comportamento moral) está na idéia, na regra para a experiência, 
no "dever ser". A vontade moral é vontade de fins enquanto fins, fins abso-
lutos. O ideal ético é um imperativo categórico, ou seja, ordenação para um 
fim absoluto sem condição alguma. A moralidade reside na máxima da 
ação e seu fundamento é a autonomia da vontade. Hegel distinguiu morali-
dade subjetiva de moralidade objetiva ou eticidade. A primeira, como cons-
ciência do dever, se revela no plano da intenção. A segunda aparece nas 
normas, leis e costumes da sociedade e culmina no estado. 
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Objeto e ramos da ética. Três questões sempre reaparecem nos diver-
sos momentos da evolução da ética ocidental: (1) os juízos éticos seriam 
verdades ou apenas traduziriam os desejos de quem os formula; (2) prati-
car a virtude implica benefício pessoal para o virtuoso ou, pelo menos, tem 
um sentido racional; e (3) qual é a natureza da virtude, do bem e do mal. 
Diversas correntes do pensamento contemporâneo (intuicionismo, positi-
vismo lógico, existencialismo, teorias psicológicas sobre a ligação entre 
moralidade e interesse pessoal, realismo moral e outras) detiveram-se 
nessas questões. Como resultado disso, delimitaram-se os dois ramos 
principais da ética: a teoria ética normativa e a ética crítica ou metaética. 
A ética normativa pode ser concebida como pesquisa destinada a esta-
belecer e defender como válido ou verdadeiro um conjunto completo e 
simplificado de princípios éticos gerais e também outros princípios menos 
gerais, importantes para conferir uma base ética às instituições humanas 
mais relevantes. 
A metaética trata dos tipos de raciocínio ou de provas que servem de 
justificação válida dos princípios éticos e também de outra questão intima-
mente relacionada com as anteriores: a do "significado" dos termos, predi-
cados e enunciados éticos. Pode-se dizer, portanto, que a metaética está 
para a ética normativa como a filosofia da ciência está para a ciência. 
Quanto ao método, a teoria metaética se encontra bem próxima das ciên-
cias empíricas. Tal não se dá, porém, com a ética normativa. 
Desde a época em que Galileu afirmou que a Terra não é o centro do 
universo, desafiando os postulados ético-religiosos da cristandade medie-
val, são comuns os conflitos éticos gerados pelo progresso da ciência, 
especialmente nas sociedades industrializadas do século XX. A sociologia, 
a medicina, a engenharia genética e outras ciências se deparam a cada 
passo com problemas éticos. Em outro campo da atividade humana, a 
prática política antiética tem sido responsável por comoções e crises sem 
precedentes em países de todas as latitudes. ©Encyclopaedia Britannica do 
Brasil Publicações Ltda. 
MoralMoralMoralMoral 
Conjunto de regras e prescrições a respeito do comportamento, estabe-
lecidas e aceitas por determinada comunidade humana durante determina-
do período de tempo. 
Ética e moralÉtica e moralÉtica e moralÉtica e moral 
 Uma distinção indistinta 
 Desidério MurchoDesidério MurchoDesidério MurchoDesidério Murcho 
A pretensa distinção entre a ética e a moral é intrinsecamente confusa e 
não tem qualquer utilidade. A pretensa distinção seria a seguinte: a ética 
seria uma reflexão filosófica sobre a moral. A moral seria os costumes, os 
hábitos, os comportamentos dos seres humanos, as regras de comporta-
mento adaptadas pelas comunidades. Antes de vermos por que razão esta 
distinção resulta de confusão, perguntemo-nos: que ganhamos com ela? 
Em primeiro lugar, não ganhamos uma compreensão clara das três á-
reas da ética: a ética aplicada, a ética normativa e a metaética. A ética 
aplicada trata de problemas práticos da ética, como o aborto ou a eutaná-
sia, os direitos dos animais, ou a igualdade. A ética normativa trata de 
estabelecer, com fundamentação filosófica, regras ou códigos de compor-
tamento ético, isto é, teorias éticas de primeira ordem. A metaética é uma 
reflexão sobre a natureza da própria ética: Será a ética objetiva, ou subjeti-
va? Será relativa à cultura ou à história, ou não? 
Em segundo lugar, não ganhamos qualquer compreensão da natureza 
da reflexão filosófica sobre a ética. Não ficamos a saber que tipo de pro-
blemas constitui o objeto de estudo da ética. Nem ficamos a saber muito 
bem o que é a moral. 
Em conclusão, nada ganhamos com esta pretensa distinção. 
Mas, pior, trata-se de uma distinção indistinta, algo que é indefensável e 
que resulta de uma confusão. O comportamento dos seres humanos é 
multifacetado; nós fazemos várias coisas e temos vários costumes e nem 
todas as coisas que fazemos pertencem ao domínio da ética, porque nem 
todas têm significado ético. É por isso que é impossível determinar à partida 
que comportamentos seriam os comportamentos morais, dos quais se 
ocuparia a reflexão ética, e que comportamentos não constituem tal coisa. 
Fazer a distinção entre ética e moral supõe que podemos determinar, sem 
qualquer reflexão ou conceitos éticos prévios, quais dos nossos comporta-
mentos pertencem ao domínio da moral e quais terão de ficar de fora. Mas 
isso é impossível de fazer, pelo que a distinção é confusa e na prática 
indistinta. 
Vejamos um caso concreto: observamos uma comunidade que tem co-
mo regra de comportamento descalçar os sapatos quando vai para o jar-
dim. Isso é um comportamento moral sobre o qual valha a pena reflectir 
eticamente? Como podemos saber? Não podemos. Só podemos determi-
nar se esse comportamento é moral ou não quando já estamos a pensar 
em termos morais. A ideia de que primeiro há comportamentos morais e 
que depois vem o filósofo armado de uma palavra mágica, a "ética", é uma 
fantasia. As pessoas agem e refletem sobre os seus comportamentos e 
consideram que determinados comportamentos são amorais, isto é, estão 
fora do domínio ético, como pregar pregos, e que outros comportamentos 
são morais, isto é, são comportamentos com relevância moral, como fazer 
abortos. E essas práticas e reflexões não estão magicamente separadas da 
reflexão filosófica. A reflexão filosófica é a continuação dessas reflexões. 
Evidentemente, tanto podemos usar as palavras "ética" e "moral" como 
sinônimas, como podemos usá-las como não sinônimas. É irrelevante. O 
importante é saber do que estamos a falar se as usarmos como sinônimas 
e do que estamos a falar quando não as usamos como sinônimas. O pro-
blema didático, que provoca dificuldades a muitos estudantes, é que geral-
mente os autores que fazem a distinção entre moral e ética não conse-
guem, estranhamente, explicar bem qual é a diferença — além de dizer 
coisas vagas como "a ética é mais filosófica". 
Se quisermos usar as palavras "moral" e "ética" como não sinônimas, 
estaremos a usar o termo "moral" unicamente para falar dos costumes e 
códigos de conduta culturais, religiosos, etc., que as pessoas têm. Assim, 
para um católico é imoral tomar a pílula ou fazer um aborto, tal como para 
um muçulmano é imoral uma mulher mostrar a cara em público, para não 
falar nas pernas. Deste ponto de vista, a "moral" não tem qualquer conteú-
do filosófico; é apenas o que as pessoas efetivamente fazem e pensam. A 
ética, pelo contrário, deste ponto de vista, é a disciplina que analisa esses 
comportamentos e crenças, para determinar se eles são ou não aceitáveis 
filosoficamente. Assim, pode dar-se o caso que mostrar a cara em público 
seja imoral, apesar de não ser contrário à ética; pode até dar-se o caso de 
ser anti-ético defender que é imoral mostrar a cara em público e proibir as 
mulheres de o fazer.O problema desta terminologia é que quem quer que tenha a experiên-
cia de escrever sobre assuntos éticos, percebe que ficamos rapidamente 
sem vocabulário. Como se viu acima, tive de escrever "anti-ético", porque 
não podia dizer "imoral". O nosso discurso fica assim mais contorcido e 
menos direto e claro. Quando se considera que "ética" e "moral" são termos 
sinônimos (e etimologicamente são sinônimos, porque são a tradução latina 
e grega uma da outra), resolve-se as coisas de maneira muito mais sim-
ples. Continuamos a fazer a distinção entre os comportamentos das pesso-
as e as suas crenças morais, mas não temos de introduzir o artificialismo 
de dizer que essas crenças morais, enquanto crenças morais, estão corre-
tas, mas enquanto preferências éticas podem estar erradas. Isto só confun-
de as coisas. É muito mais fácil dizer que quem pensa que mostrar a cara é 
imoral está pura e simplesmente enganado, e está a confundir o que é um 
costume religioso ou cultural com o que é defensável. Peter Singer, James 
Rachels, Thomas Nagel, e tantos outros filósofos centrais, usam os termos 
"ética" e "moral" como sinônimos. Para falar dos costumes e códigos religi-
osos, temos precisamente estas expressões muito mais esclarecedoras: 
"costumes" e "códigos religiosos". 
Ética e moralÉtica e moralÉtica e moralÉtica e moral 
Thomas MautnerThomas MautnerThomas MautnerThomas Mautner 
Universidade Nacional da Austrália 
A palavra "ética" relaciona-se com "ethos", que em grego significa hábi-
to ou costume. A palavra é usada em vários sentidos relacionados, que é 
necessário distinguir para evitar confusões. 
1.1.1.1. Em ética normativa, é a investigação racional, ou uma teoria, sobre 
os padrões do correto e incorreto, do bom e do mau, com respeito ao 
caráter e à conduta, que uma classe de indivíduos tem o dever de aceitar. 
Esta classe pode ser a humanidade em geral, mas podemos também 
considerar que a ética médica, a ética empresarial, etc., são corpos de 
padrões que os profissionais em questão devem aceitar e observar. Este 
tipo de investigação e a teoria que daí resulta (a ética kantiana e a utilitaris-
ta são exemplos amplamente conhecidos) não descrevem o modo como as 
pessoas pensam ou se comportam; antes prescrevem o modo como as 
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pessoas devem pensar e comportar-se. Por isso se chama ética normativa: 
o seu objetivo principal é formular normas válidas de conduta e de avalia-
ção do caráter. O estudo sobre que normas e padrões gerais são de aplicar 
em situações-problema efetivos chama-se também ética aplicada. Recen-
temente, a expressão "teoria ética" é muitas vezes usada neste sentido. 
Muito do que se chama filosofia moral é ética normativa ou aplicada. 
2.2.2.2. A ética social ou religiosa é um corpo de doutrina que diz respeito o 
que é correto e incorreto, bom e mau, relativamente ao caráter e à conduta. 
Afirma implicitamente que lhe é devida obediência geral. Neste sentido, há, 
por exemplo, uma ética confucionista, cristã, etc. É semelhante à ética 
normativa filosófica ao afirmar a sua validade geral, mas difere dela porque 
não pretende ser estabelecida unicamente com base na investigação 
racional. 
3. 3. 3. 3. A moralidade positiva é um corpo de doutrinas, a que um conjunto de 
indivíduos adere geralmente, que dizem respeito ao que é correto e incorre-
to, bom e mau, com respeito ao caráter e à conduta. Os indivíduos podem 
ser os membros de uma comunidade (por exemplo, a ética dos índios 
Hopi), de uma profissão (certos códigos de honra) ou qualquer outro tipo de 
grupo social. Pode-se contrastar a moralidade positiva com a moralidade 
crítica ou ideal. A moralidade positiva de uma sociedade pode tolerar a 
escravatura, mas a escravatura pode ser considerada intolerável à luz de 
uma teoria que supostamente terá a autoridade da razão (ética normativa) 
ou à luz de uma doutrina que tem o apoio da tradição ou da religião (ética 
social ou religiosa). 
4. 4. 4. 4. Ao estudo a partir do exterior, por assim dizer, de um sistema de 
crenças e práticas de um grupo social também se chama ética, mais espe-
cificamente ética descritiva, dado que um dos seus objetivos principais é 
descrever a ética do grupo. Também se lhe chama por vezes étnoética, e é 
parte das ciências sociais. 
5.5.5.5. Chama-se metaética ou ética analítica a um tipo de investigação ou 
teoria filosófica que se distingue da ética normativa. A metaética tem como 
objeto de investigação filosófica os conceitos, proposições e sistemas de 
crenças éticos. Analisa os conceitos de correto e incorreto, bom e mau, 
com respeito ao caráter e à conduta, assim como conceitos relacionados 
com estes, como, por exemplo, a responsabilidade moral, a virtude, os 
direitos. Inclui também a epistemologia moral: o modo como a verdade ética 
pode ser conhecida (se é que o pode); e a ontologia moral: a questão de 
saber se há uma realidade moral que corresponde às nossas crenças e 
outras atitudes morais. As questões de saber se a moral é subjetiva ou 
objetiva, relativa ou absoluta, e em que sentido o é, pertencem à metaética. 
A palavra "moral" e as suas cognatas refere-se ao que é bom ou mau, 
correto ou incorreto, no caráter ou conduta humana. Mas o bem moral (ou a 
correcção) não é o único tipo de bem; assim, a questão é saber como 
distinguir entre o moral e o não moral. Esta questão é objeto de discussão. 
Algumas respostas são em termos de conteúdo. Uma opinião é que as 
preocupações morais são unicamente as que se relacionam com o sexo. 
Mais plausível é a sugestão de que as questões morais são unicamente as 
que afectam outras pessoas. Mas há teorias (Aristóteles, Hume) que consi-
derariam que mesmo esta demarcação é excessivamente redutora. Outras 
respostas fornecem um critério formal: por exemplo, que as exigências 
morais são as que têm origem em Deus, ou que as exigências morais são 
as que derrotam quaisquer outros tipos de exigências ou, ainda, que os 
juízos morais são universalizáveis. 
A palavra latina "moralis", que é a raíz da palavra portuguesa, foi criada 
por Cícero a partir de "mos" (plural "mores"), que significa costumes, para 
corresponder ao termo grego "ethos" (costumes). É por isso que em muitos 
contextos, mas nem sempre, os termos "moral/ético", "moralidade/ética", 
"filosofia moral/ética" são sinónimos. Mas as duas palavras têm também 
sido usadas para fazer várias distinções: 
1. Hegel contrasta a Moralität (moralidade) com a Sittlichkeit ("eti-
calidade" ou vida ética). Segundo Hegel, a moralidade tem origem em 
Sócrates e foi reforçada com o nascimento do cristianismo, a reforma e 
Kant, e é o que é do interesse do indivíduo autônomo. Apesar de a morali-
dade envolver um cuidado com o bem-estar não apenas de si mas também 
dos outros, deixa muito a desejar por causa da sua incompatibilidade 
potencial com valores sociais estabelecidos e comuns, assim como com os 
costumes e instituições que dão corpo e permitem a manutenção desse 
valores. Viver numa harmonia não forçada com estes valores e instituições 
é a Sittlichkeit, na qual a autonomia do indivíduo, os direitos da consciência 
individual, são reconhecidos mas devidamente restringidos; 
2. De modo análogo, alguns autores mais recentes usam a palavra 
"moralidade" para designar um tipo especial de ética. Bernard Williams 
(Ethics and the Limits of Philosophy, 1985), por exemplo, argumenta que "a 
instituição da moralidade" encara os padrões e normas éticas como se 
fossem semelhantes a regras legais, tornando-se por isso a obediência ao 
dever a única virtude genuína. Esta é uma perspectiva que, na sua opinião, 
deve ser abandonada a favor de uma abordagem da vida ética menosmoralista e mais humana e sem restrições; 
3. Habermas, por outro lado, faz uma distinção que está também 
implícita na Teoria da Justiça de Rawls entre ética, que tem a ver com a 
vida boa (que não é o mesmo para todas as pessoas), e a moralidade, que 
tem a ver com a dimensão social da vida humana e portanto com princípios 
de conduta que podem ter aplicação universal. A ética ocupa-se da vida 
boa, a moralidade da conduta correta. 
Thomas MautnerThomas MautnerThomas MautnerThomas Mautner 
Tradução e adaptação de Desidério Murcho 
Retirado de Dictionary of Philosophy, org. por Thomas Mautner (Penguin, 
2005) 
Princípios e Valores Éticos. Princípios e Valores Éticos. Princípios e Valores Éticos. Princípios e Valores Éticos. 
Difundindo princípios e conceitos éticosDifundindo princípios e conceitos éticosDifundindo princípios e conceitos éticosDifundindo princípios e conceitos éticos 
 Milton Emílio VivanMilton Emílio VivanMilton Emílio VivanMilton Emílio Vivan 
Rotary Club de São Paulo-Pacaembu, D.4610, desenvolveu no ano rotário 
2003-04 um projeto de difusão de princípios e conceitos éticos. O projeto 
procura responder a uma das frases mais relevantes de Paul Harris: “O 
Rotary continuará a ser caridoso, mas pode fazer mais do que isso: faça-
mos com que o Rotary extermine a causa que faz necessária a caridade”. A 
que se referia Paul Harris? Após profunda reflexão, por vários caminhos, 
surgiu a resposta: a maior vivência dos preceitos éticos. Assim nasceu a 
idéia do projeto. O primeiro passo foi a escolha de conceitos simples, de 
fácil mas ampla aplicação, e profundos em sua essência. Resultou na 
escolha dos princípios da universalidade e do respeito enunciados por 
Emmanuel Kant. 
 Princípios da universalidade e do respeito de KantPrincípios da universalidade e do respeito de KantPrincípios da universalidade e do respeito de KantPrincípios da universalidade e do respeito de Kant 
 Princípio da Universalidade: quando você quiser saber se uma ação é 
ética ou não, suponha que essa ação se tornará um padrão universal de 
comportamento, ou seja, a partir de agora, esse será o modelo de compor-
tamento. Imagine, então, todos agindo dessa forma. 
 Se não gostar de viver numa sociedade com todas as pessoas agindo 
dessa forma, pode-se concluir que a ação em questão não é ética. 
 Em resumo, a pergunta é: e se todos agissem assim? Princípio do Res-
peito: todo ser humano deve ser considerado como um fim em si mesmo. 
Os aspectos que mais caracterizam o Princípio do Respeito são: 
 • Não negar informações pertinentes e 
 • Permitir-lhe liberdade de escolha. 
 Em todos os boletins semanais do clube esses princípios foram citados. 
Durante o ano, em todos eles foram incluídas perguntas e respostas sobre 
a aplicação prática desses dois princípios. Ao final, foram enunciadas e 
respondidas 100 perguntas, as quais foram englobadas em um livro que foi 
distribuído na Conferência Distrital do D.4610. A comunidade foi atingida 
pela inserção em jornais de bairro. Para que o projeto alcançasse o âmbito 
mundial, foi criado o boletim Stadium International, que foi enviado para 
mais de 600 clubes no mundo e que veiculou os dois princípios de Kant 
enunciados em português, inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, 
japonês e hindi. Algumas dessas versões foram feitas por clubes do exteri-
or, por solicitação do RCSP-Pacaembu, como sinal de engajamento no 
projeto. 
 A acolhida tem sido excepcional. Governadores incluíram em suas cartas 
mensais os dois princípios e incentivaram seus presidentes a se envolve-
rem no projeto. 
 InflInflInflInfluência do “estado da arte” sobre a éticauência do “estado da arte” sobre a éticauência do “estado da arte” sobre a éticauência do “estado da arte” sobre a ética 
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 Para sabermos se uma ação é benéfica a toda sociedade, é necessário 
que se conheçam adequadamente as conseqüências dessa ação sobre a 
sociedade. Nos casos onde o estado da arte do assunto em questão não 
atingiu um grau de maturidade suficiente para conclusões seguras e corre-
tas, não se pode concluir se a ação é ou não ética. Leonardo da Vinci era 
criticado por ter iniciado a dissecação de cadáveres, mas sem essa prática 
a medicina jamais conseguiria atingir o grau de evolução atual. Hoje vemos 
que sua atitude era ética, apesar de que, naquela época, alguns o critica-
vam injustamente, principalmente por ignorância de origem religiosa ou 
simplesmente técnica. 
 Quando uma ação é ou não é éticaQuando uma ação é ou não é éticaQuando uma ação é ou não é éticaQuando uma ação é ou não é ética 
 Não é difícil diferenciar o que é e o que não é benéfico para uma socie-
dade. Mas em alguns casos, onde o conhecimento humano do estado da 
arte não atingiu um nível adequado, a decisão sobre se uma ação é ou não 
ética ficará prejudicada. Estão claramente nesse rol a clonagem de seres 
humanos, o plantio de alimentos transgênicos etc. Outras ações como a 
eutanásia, em certas circunstâncias, o aborto em determinadas situações, a 
prisão perpétua ou a pena de morte de alguns crimes também podem 
carecer de maior conhecimento humano se desconsiderarmos os preceitos 
religiosos, pois ainda não sabemos cientificamente a partir de que momento 
existe ou deixa de existir a vida, a alma, o espírito ou a capacidade de 
regeneração de um ser humano. 
 Meio ambiente e a éticaMeio ambiente e a éticaMeio ambiente e a éticaMeio ambiente e a ética 
 Como a ética está umbilicalmente ligada à obtenção de melhores condi-
ções da vida em sociedade, a preservação e melhoria das condições do 
meio ambiente são itens dos mais importantes para as gerações futuras. 
Portanto, uma indústria que solta poluentes em um rio, o carro que emite 
gases que poluem o ar por estar desregulado, empresas que produzem 
materiais não-biodegradáveis ou que ataquem a camada de ozônio etc não 
estão agindo de forma ética, pois estarão comprometendo a qualidade de 
vida das gerações e sociedades futuras. 
 Uma ação egoísta, porém éticaUma ação egoísta, porém éticaUma ação egoísta, porém éticaUma ação egoísta, porém ética 
 Imagine a criação de um empreendimento de sucesso, com ótimos resul-
tados aos investidores, mas que também permita empregar centenas de 
trabalhadores, inserindo-os socialmente e permitindo-lhes que exerçam 
plenamente a cidadania. Esta ação, por ser benéfica à sociedade, é consi-
derada uma ação ética. Imagine um local onde ocorra seca periodicamente 
no Nordeste brasileiro. Um empreendedor investe num projeto de irrigação 
e cria um pólo produtor de frutas que emprega centenas de famílias. Supo-
nha que esse empreendimento tenha enorme sucesso, com produtos de 
ótima qualidade e preços competitivos. 
 Admita que as condições de trabalho sejam adequadas, e que os traba-
lhadores possam educar seus filhos e contar com assistência médica, ter à 
disposição transportes, lazer e segurança, enfim, que tenham o necessário 
para que possam exercer com plenitude a cidadania. A ação desse empre-
endedor será uma ação ética, pois resultará em benefício para toda a 
sociedade. Fatos como esse podem ocorrer no campo, em qualquer cidade 
e em qualquer metrópole. 
 Ações legais porém nãoAções legais porém nãoAções legais porém nãoAções legais porém não----éticaséticaséticaséticas 
 Toda lei que não beneficie a sociedade será uma ação não-ética. Leis 
incompetentes ou leis que venham a beneficiar grupos em prejuízo de toda 
uma sociedade gerarão ações legais, mas não-éticas. Esse tipo de ação é 
bastante comum quando grupos julgam legítimo defender seus interesses 
corporativos,mesmo quando em detrimento do interesse da sociedade. 
Não são raras as ações desse tipo em todas as casas onde se legisla, seja 
nas Câmaras de Vereadores, Assembléias Legislativas, Câmara de Depu-
tados, Senado Federal e até em Associações de Normas Técnicas. Nestas 
últimas, interesses corporativos podem pugnar por maiores tolerâncias, 
incompatíveis com requisitos de qualidade etc. Esses interesses corporati-
vos procuram se cercar de garantias que diminuam os riscos de prejuízo, 
não pela competência e maior qualidade dos produtos, mas pela mudança 
nos parâmetros de controle. Ações legais e não-éticas também podem ter 
origem na corrupção, na omissão de pessoas ou instituições, mas também 
simplesmente em ações não-competentes. Um exemplo é o caso de situa-
ções geradas por governos que endividam seus países em níveis incompa-
tíveis com a capacidade de pagamento, obrigando ao envolvimento em 
dívidas monstruosas, quase que impagáveis, e que obrigam esses gover-
nos a empenharem vultosas quantias que, em princípio, deveriam ser 
investidas em benefício da população. Outro exemplo é o caso da cobrança 
exagerada de impostos que, apesar de legal, pode se tornar não-ética 
quando sufocar os meios de produção de uma sociedade. 
 Comportamentos éticos aplicáveis universalmenteComportamentos éticos aplicáveis universalmenteComportamentos éticos aplicáveis universalmenteComportamentos éticos aplicáveis universalmente 
 • A compaixão, relacionada com a ajuda ao próximo; 
 • A não-maleficência, que trata de evitar a imposição de sofrimento ou 
privação ao próximo; 
 • A beneficência, que procura prevenir e combater o sofrimento do próxi-
mo, promover a felicidade do próximo, e com natural e maior intensidade à 
nossa família e amigos; 
 • A imparcialidade: tratar as pessoas da forma como merecem ser trata-
das, tendo direitos iguais até que o mérito ou necessidades justifiquem 
tratamento especial; 
 • A coragem para se opor a injustiças, mesmo que em prejuízo próprio; 
 • O respeito à autonomia individual: não manipular ou induzir o pensa-
mento das pessoas, mesmo que para o próprio bem delas; 
 • A honestidade: não enganar as pessoas. A mentira é um vício, especi-
almente quanto à supervalorização das próprias capacidades. Acostume-se 
a saber que as pessoas merecem saber a verdade; 
 • Não fazer promessas que não pretende ou que sabe que dificilmente 
conseguirá cumprir; 
 • Integridade: cumprir com as obrigações, mesmo que a despeito de 
inconveniência pessoal. 
 • Consistência. Pode-se medir o valor moral de um ser humano pela 
consistência de suas ações. Essa medida tem maior qualidade quando 
princípios conflitam com interesses. 
 Como a televisão poderia servir como difusor desses priComo a televisão poderia servir como difusor desses priComo a televisão poderia servir como difusor desses priComo a televisão poderia servir como difusor desses prinnnncípios e cocípios e cocípios e cocípios e con-n-n-n-
ceitos?ceitos?ceitos?ceitos? 
 A televisão é claramente subutilizada socialmente nesse aspecto. As 
telenovelas poderiam conter episódios que didaticamente mostrassem as 
conseqüências benéficas de atitudes éticas à sociedade. Nos esportes 
poderiam ser ressaltados, valorizados e premiados os comportamentos 
mais adequados. Reconhecimentos profissionais em âmbito nacional a 
entidades e pessoas que se destacaram em suas funções e objetivos, 
observando os princípios éticos. Programas dominicais poderiam apresen-
tar quadros específicos a esse respeito. Pequenas histórias e séries pode-
riam conter temas que focalizassem um determinado assunto sob o ponto 
de vista ético. Programas de entrevista poderiam dar ênfase a comporta-
mentos a serem imitados. Prêmios poderiam ser oferecidos a comporta-
mentos exemplares, programas de perguntas e respostas poderiam dar 
ênfase aos princípios e conceitos éticos, enfim, em quase todos os tipos de 
programas há uma forma de incluir conceitos éticos. 
 A ética na formação moral de uma naçãoA ética na formação moral de uma naçãoA ética na formação moral de uma naçãoA ética na formação moral de uma nação 
 Pode-se constatar que há pessoas bastante cultas, educadas, formadas 
pelas melhores escolas do Brasil ou até do exterior que não se preocupam 
com a vida em comunidade, ou seja, não têm a necessária sensibilidade 
ética. Por outro lado, um analfabeto pode ser tão ou mais ético que um 
doutor se suas ações forem pautadas pelo respeito ao que é de todos. Não 
é necessário ser alfabetizado para se compreender e viver os valores 
éticos. Basta que a cabeça seja aberta e não fechada em seus próprios 
interesses. 
 A ética no RotaryA ética no RotaryA ética no RotaryA ética no Rotary 
 A difusão de princípios e conceitos éticos é, sem dúvida, um dos objetivos 
do Rotary. O comportamento ético está diagnosticado como remédio ade-
quado para quaisquer países de todos os continentes: grandes potências, 
países ricos, emergentes, carentes e pobres. Uma instituição como o 
Rotary, de âmbito internacional, tem vocação inerente para ser a portadora 
da bandeira da difusão dos princípios éticos. Esse projeto custa muito 
pouco comparado com os existentes, e os frutos serão colhidos em todas 
as áreas, com benefício incomensurável para todos os seres humanos. 
 Relação entre a ética e a religiãoRelação entre a ética e a religiãoRelação entre a ética e a religiãoRelação entre a ética e a religião 
 Não importa de que religião somos, no que, em que e como cremos: 
podemos sempre nos empenhar na prática do bem. Isso não contradiz 
qualquer religião. Se nossas ações visam ao empenho pela prática do bem 
da sociedade, nossas ações cumprem a meta de cada religião. É pela 
prática verdadeira em sua vida diária que o homem cumpre de fato a meta 
de toda religião, qualquer que seja ela, qualquer nome que tenha. Se 
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acreditamos na prática do bem independente de quaisquer recompensas, 
imediatas ou futuras, cumprimos ainda melhor essa missão. 
 Relação entre ética e políticaRelação entre ética e políticaRelação entre ética e políticaRelação entre ética e política 
 Ética e política se entrelaçam e se confundem em seu significado mais 
profundo. A ética está profundamente ligada com a vida em sociedade. 
Ações éticas implicam em ações que beneficiam a comunidade. 
 Na política deve prevalecer o interesse da sociedade como um todo, e 
não o de uma minoria privilegiada com acesso ao poder. Um bom político é 
aquele que consegue melhorar as condições de vida de seu povo. Assim 
ele será ético. Um deputado que cria leis que não beneficiam seu povo ou 
que beneficiam a poucos criará uma ação que, apesar de legal, será não-
ética. A criação de novos impostos que venham a sufocar a economia são 
ações tipicamente não-éticas. A outorga de benefícios imerecidos e injustos 
também são ações não-éticas. Não basta aos políticos terem boas inten-
ções ou boa vontade. Também é necessário ter competência. Para os 
políticos, a prática da ética está intimamente relacionada com a sua compe-
tência profissional. 
 O problema é que, para os políticos, mesmo que queiram, não é fácil 
praticar a ética. Soluções simples e surradas muitas vezes não bastam. É 
necessário criatividade, inteligência, arrojo e coragem para encontrar solu-
ções competentes e, portanto, éticas, que vão realmente beneficiar a socie-
dade. Uma casa legislativa onde se criam leis ineficazes será uma fonte de 
ações não-éticas, mas legais. 
 Relação entre ética e justiçaRelação entre ética e justiçaRelação entre ética e justiçaRelação entre ética e justiça 
 Numa sociedadeética é fundamental que todos tenham, apesar das 
diferenças individuais, no mínimo, as mesmas oportunidades para viver 
com plenitude a cidadania. O desenvolvimento de suas capacidades será 
função de suas habilidades e vocações, de sua disciplina e talento. A 
desigualdade social deve ser a mínima aceitável de modo a garantir ao 
mais humilde o essencial para que possa ter acesso à cidadania: saúde, 
educação, transporte e segurança. A justiça deve agir no sentido de asse-
gurar que cada indivíduo da sociedade tenha o que realmente merece, 
principalmente do ponto de vista distributivo, em função do mérito, mas 
também do ponto de vista corretivo, em função do dano causado. Uma 
justiça eficiente permite que a sociedade viva de forma mais estável, har-
moniosa, com paz e, portanto, mais feliz, atingindo assim os objetivos de 
uma sociedade ética. Numa sociedade justa, até o mérito do sucesso tem 
maior valor. O mérito, quando legítimo, não pode ter limites. Isso induz e 
incentiva a prática do bem, das boas ações, facilitando o alcance da felici-
dade comum. 
 A corrupção, os conluios e acertos visando aos privilégios que sabotam a 
ação da justiça e que visam à certeza da impunidade devem ser encarados 
como vícios e imperfeições da sociedade, que não podem ser tolerados. 
 Relação entre a ética e a malandrageRelação entre a ética e a malandrageRelação entre a ética e a malandrageRelação entre a ética e a malandragem e o otáriom e o otáriom e o otáriom e o otário 
 Em nosso país, inclusive na TV, é comum a valorização e a banalização 
do termo “malandro”. Malandro assume então o significado de esperto, o 
que leva vantagem. Mas é impossível dissociar que malandro também 
significa trapaceiro, velhaco. 
 Otário é o que se deixa enganar pela esperteza, pela trapaça do velhaco. 
Assim é comum ver-se a figura do malandro, do que procura levar vanta-
gem em tudo, ser valorizada em detrimento de um comportamento condi-
zente com a vida em sociedade, que sequer é lembrado – e muitas vezes 
até rejeitado – pelos mais insuspeitos cidadãos. É lamentável a falta de 
sensibilidade de quem de fato ou de direito deveria corrigir essas atitudes 
que deformam o caráter dos indivíduos, mas principalmente de nossa 
mocidade. 
 A existência de um malandro sempre supõe a existência de um otário que 
foi enganado. A malandragem que visa a obtenção de alguma vantagem 
para si ou para outrem, mesmo que independente dos meios, e com o 
mínimo esforço possível, é evidentemente incompatível com a vida em 
sociedade. Esse conceito deve ser rejeitado com veemência e não tolerado. 
O mérito e o valor da conquista com disciplina e talento devem ser valoriza-
dos. Não se pode pretender uma sociedade ética ou justa quando se valori-
za o comportamento do malandro. 
Fórum Social Mundial Fórum Social Mundial Fórum Social Mundial Fórum Social Mundial –––– a reinvenção da democra reinvenção da democra reinvenção da democra reinvenção da democraaaacia (1)cia (1)cia (1)cia (1) 
*Cândido Grzybowski 
 
Desde a sua primeira edição em 2001, o Fórum Social Mundial (FSM) 
vem sendo um espaço privilegiado de mobilização e encontro da diversida-
de de movimentos sociais, organizações, suas redes, campanhas e coali-
zões que se opõem à globalização econômica e financeira dominante. A 
especificidade e força agregadora do FSM decorrem da sua capacidade de 
fazer com que tamanha heterogeneidade de atores sociais – em termos 
sociais, culturais e geográficos – acreditem em si mesmos e na possibilida-
de de transformar e reconstruir o mundo. Com a globalização dominante a 
maior parte da humanidade está sendo deixada de lado, como um exceden-
te descartável. Com o FSM as pessoas mais simples redescobrem o seu 
valor fundamental como membros da comunidade humana e cidadãs 
construtoras de sociedades, das culturas, dos poderes, das economias. 
Sentir-se produzindo e reproduzindo a vida é a esperança que nasce no 
Fórum. Seu desafio maior é repolitizar a vida para que outro mundo seja 
possível diante da homogeneidade concentradora de riquezas, socialmente 
excludente e ambientalmente destrutiva da globalização feita por e ao 
serviço das grandes corporações. 
 
Meu olhar sobre o FSM decorre da minha própria inserção social e polí-
tica em sua promoção. Nesse sentido, faço aqui um exercício engajado do 
livre pensar, um misto de testemunho e de reflexão estratégica sobre os 
possíveis rumos em que, como participantes diversos e plurais, podemos 
avançar com o FSM e seu impacto sobre as instituições multilaterais e os 
Estados. Minha perspectiva não é partir do poder econômico e político 
constituído e sim do processo e das condições para que os cidadãos e as 
cidadãs do mundo estejam no centro, controlando o poder e os mercados 
globais. 
 
1. O Fórum Social Mundial como canteiro de obras da cidadania mundi-
al 
 
Em sua origem, o FSM se constituiu no contrapé do Fórum Econômico 
Mundial, nos mesmos dias, exatamente para marcar os lados opostos 
gerados pelas globalização dominante. Fóruns opostos no tempo e no 
lugar, um velho de mais de 30 anos, outro recém começando a irrupção na 
história; um numa luxuosa estação de esqui, em Davos, isolado pela polí-
cia, o outro na planície de Porto Alegre, a cidade com história de participa-
ção popular na gestão pública. Mas não podemos iludir-nos, são opostos 
que exprimem o mundo globalizado de hoje. A globalização que combate-
mos nos transformou, pelo pior caminho possível, em uma comunidade 
humana planetária interdependente. Este é o ponto de partida: a transfor-
mação que a globalização produziu em nossas condições de vida no Plane-
ta. Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer que não basta e até é 
impossível democratizar esta globalização, dar-lhe uma face mais humana 
e sustentável. A tarefa que se nos impõe é de refundação democrática de 
um mundo interdependente, de gente para gente, compartindo bens co-
muns entre todos os povos, com todos os direitos humanos garantidos a 
todos os seres humanos, com igualdade no respeito à diversidade social e 
cultural. 
 
Antes do FSM, já nos 80, com a crise da dívida e a ascensão de Marga-
reth Thatcher e Ronald Reagan, mas especialmente durante os anos 90 do 
século XX, foram inúmeras as insurreições de movimentos sociais e organi-
zações contra a avassaladora globalização neoliberal imposta ao mundo. O 
palco principal das manifestações foram as reuniões do G-7, as assembléi-
as do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e as roda-
das de negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC). De forma 
espetacular, desenvolveram-se redes temáticas regionais e mundiais: 
dívida, agricultura, comércio, meio ambiente, cooperação, direitos huma-
nos, educação, comunicação etc. Novos sujeitos foram se mundializando e 
se consolidando: os movimentos feministas, ambientalistas, dos povos 
indígenas, dos sem terra e camponeses, de trabalhadores migrantes, dos 
sem teto, movimentos contra o apartheid, todos com um emergente dimen-
são planetária, tanto na sua própria identidade social e raio de atuação 
como na solidariedade que foram despertando. Mas não havia uma encruzi-
lhada, um espaço de encontro do conjunto destas novas forças sociais e 
delas com os já mais históricos atores internacionalizados, como o movi-
mento operário e sindical. A grande insurreição nas ruas de Seattle, em fins 
de 1999, foi um empurrão decisivo para a emergência de algo inteiramente 
novo. 
 
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos 
Ética no Serviço Público A Opção Certa Para a Sua Realização 8
A novidade do FSM é de criar o espaço para que a diversidade de ato-
res se encontre, se reconheça, troque práticas, experiências e análises, se 
articule e crie novas redes, coalizõese campanhas. Enfim, o FSM surge 
como expressão de uma demanda contida da emergente cidadania planetá-
ria no sentido de pensar todos e todas juntos as possíveis ações de trans-
formação da ordem global existente. Desde o seu nascedouro, o FSM se 
impôs o respeito à diversidade e ao pluralismo como condição de sua 
própria existência e de enfrentamento do pensamento único, homogêneo e 
redutor, da globalização neoliberal.] 
 
De minha perspectiva, ainda não criamos alternativas estruturantes em 
face da globalização dominante. Isto é uma tarefa coletiva de longa dura-
ção. Temos apenas 5 anos! Mas despertamos um poderoso movimento de 
idéias, que alimenta o sonho, a utopia, a esperança e faz a emergente 
cidadania do mundo agir. Além disto, com o FSM, quebramos a arrogância 
dos pregadores do neoliberalismo e demonstramos o quanto de autorita-
rismo, de militarização e de guerra, de exclusão e intolerância, de anti-
humano são portadores os processos globais, centrados nos mercados e 
na força política e militar que os sustenta. 
 
É uma nova cultura política que pode se desenvolver a partir do proces-
so que o FSM despertou. A multiplicação de fóruns regionais, nacionais, 
locais e temáticos alimenta o movimento de idéias de que outros mundos 
são possíveis, lhe dá novas facetas e engrossa a adesão de sujeitos sociais 
os mais diversos social, cultural e geograficamente. Se isso ainda não se 
traduz em uma nova institucionalidade política, certamente cria o terreno 
propício para um repensar da política e do espaço público, do local até o 
poder global e suas instituições. O FSM, como espaço aberto à diversidade 
e aceitando as divergências, engendra um novo modo de fazer política. 
Como força propulsora, difusa mas poderosa, que vai além dos que se 
encontram nos eventos do FSM, há que se reconhecer, de um lado, uma 
consciência da comum humanidade na diversidade que nos caracteriza 
como seres humanos. De outro, não dá para subestimar o poder mobiliza-
dor e transformador da consciência dos bens comuns fundamentais à vida 
no Planeta que temos, sejam os frágeis e finitos como são os bens naturais, 
a atmosfera, a biodiversidade, sejam as conquistas humanas como o saber, 
as línguas e a cultura em geral. Consciência aliada a um resgate da ação 
cidadã como prática central na transformação das situações e no desenvol-
vimento humano, democrático e sustentável. Ação que necessariamente se 
concretiza localmente, lá onde vivemos, mas que é impregnada de univer-
salismo, busca ser planetária no seu sentido humano e alcance político. 
 
2. Desafios e tarefas para que o FSM contribua e reforce a capacidade 
da emergente cidadania planetária no sentido de uma democratização 
radical do mundo 
 
O FSM não é, em si mesmo, um movimento político, mas um espaço 
aberto para a reconquista da política em seu sentido mais pleno. Sua força 
reside nas múltiplas contradições que comporta, permitindo que elas se 
exprimam em seu espaço como livre prática de busca de cada participante, 
cada organização e cada movimento, cada rede e cada campanha, da mais 
simples à mais complexa e extensa. O FSM pode fortalecer a cidadania que 
nele se encontra, dialoga e confronta em busca de alternativas à 
(des)ordem global vigente, sem, no entanto, se tornar, ele mesmo, uma 
organização que aponta a direção a seguir. Formação de alianças e de 
novas redes, decisões sobre campanhas as mais amplas e mobilizadoras 
possíveis, disputas de hegemonia, desencontros em meio a muitos encon-
tros, tendo no centro o pensar as alternativas para o mundo global que 
temos, dão vida ao FSM. Enquanto ele conseguir ser espaço do diverso e 
da pluralidade, tendo por base os princípios e valores éticos compartidos 
que nos dá a dupla consciência da humanidade e dos bens comuns a 
preservar para todos os seres do Planeta, o FSM vai continuar sendo uma 
das alavancas da cidadania mundial. 
 
Isso não me impede de ver enormes desafios e tarefas que se colocam 
para todos e todas que participamos do FSM como espaço aberto. Inven-
tamos o FSM em um momento datado e situado neste começo do século 
XXI, em plena exacerbação da lógica do terror e da guerra, do acirramento 
do unilateralismo dos EUA, de crise e até falência da democracia represen-
tativa, com crescimento de uma enorme brecha entre as instituições políti-
cas e as demandas da cidadania, de continuidade da concentração de 
riquezas, da exclusão social e da destruição da base da vida. O FSM é 
tensionado pelos desafios do aqui e agora, precisa criar condições para um 
pensamento novo e um acúmulo estratégico, que leve a emergente cidada-
nia mundial a fortalecer a sua capacidade de ação política. O FSM precisa 
ser um espaço que contribua para imaginar o mundo, reinventar o método 
de ação e estimular a intervenção concreta nos processos de globalização 
em curso. É possível apontar algumas tarefas incontornáveis para respon-
der aos desafios que temos pela frente. Não se trata de um plano de ação 
do FSM – simplesmente porque ele não tem e nem pode ter planos de ação 
como espaço aberto – mas é o que recolho como seu participante, como 
analista, ativista e dirigente do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e 
Econômicas (Ibase). 
 
a) Imaginar o mundoImaginar o mundoImaginar o mundoImaginar o mundo 
 
Trata-se de alimentar uma ousada busca dos projetos possíveis de ou-
tros mundos como alternativa. Um novo ideal, em suma. Aí vejo como uma 
primeira tarefa essencial a reflexão sobre a democracia como referência 
estratégica, com crítica ao modelo liberal e às formulas institucionais atuais. 
Como trazer ao centro do embate e da construção democrática a idéia força 
da diversidade de sujeitos em sua igualdade e com as práticas mais libertá-
rias possíveis? Como incorporar os princípios e valores éticos fundantes da 
democracia – a base da universalidade – como referência para todas as 
relações humanas: familiares, sociais, culturais, econômicas, técnicas, 
políticas, entre os povos, entre os Estados? Incorporar o fundamento ético 
na visão estratégica da democracia representa uma mudança política e 
filosófica fundamental, que aponta para a possibilidade de uma nova cultura 
política da emergente cidadania planetária. Ele não abandona e nem des-
valoriza o embate ideológico, vital para a política democrática, mas delimita 
o seu lugar e as suas referências comuns. Dele decorre, também, uma 
visão que pensa os direitos como relação, como qualidade das relações 
sociais, onde direitos para serem direitos e não privilégios devem ser de 
todos e todas e onde direitos comportam responsabilidades. Com base em 
tais princípios e valores, é possível pensar na universalidade da democracia 
como referência para outros mundos. Mas isso implica para o FSM, como 
tarefa de fortalecimento da cidadania mundial, ser um espaço que favoreça 
o diálogo entre culturas, entre sujeitos sociais diversos, entre visões e 
perspectivas diferentes e divergentes, diálogo como condição para que o 
possível seja imaginado, pensado e formulado como proposta. 
 
Muitas outros desafios e tarefas surgem neste processo de imaginar o 
mundo. Precisamos superar o déficit conceitual, de teorização e de atribui-
ção de significados com o qual enfrentamos a globalização dominante. Não 
podemos ficar enquadrados para pensar o mundo pelos conceitos que nos 
são impostos pela ideologia neoliberal e sua visão da globalização – ela 
mesma um conceito que esconde a lógica de dominação que a engendrou. 
Nem são mais suficientes os conceitos e teorias das escolas de pensamen-
to e ação da esquerda superadas pela própria história. O caminho é radica-
lizar a crítica ao capitalismo e à globalização que ele alimenta, em todas as 
suas formas e processos. 
 
Precisamos reinventar o desenvolvimento como conceito e como mode-
lo, libertando-o do produtivismo, do tecnicismo e consumismoque decorrem 
de sua estreita e praticamente exclusiva associação com crescimento 
econômico. Isso implica, também, uma revisão do paradigma científico e de 
sua falsa objetividade, negadora da vida com tudo de subjetivo que ela tem. 
Precisamos conseguir pensar e imaginar o futuro humano livre da idéia de 
progresso material no padrão industrial e de consumo dos atuais países 
desenvolvidos, porque insustentável ambientalmente e excludente social-
mente. Imaginar outro mundo é resgatar o trabalho como criador de vida, 
de produção e reprodução da vida. E, ainda, relocalizar as economias para 
que tenham dimensão sustentável, segundo as possibilidades da base 
natural, e sejam humanas e justas socialmente, produtoras de bens e 
serviços para gente antes de serem para mercados. Isto implica em aceitar 
o desafio de pensar o lugar das relações mercantis e da regulação, media-
das pela negociação democrática. 
 
Imaginar o mundo tendo como referente estratégico a democracia é dar-
se a tarefa de pensar a ação e o espaço público em todas as esferas da 
vida. Sem dúvida, as instituições de poder e de Estado precisam ser redefi-
nidas para que as demandas e a participação cidadã sejam a força de 
legitimação e legalização de direitos e deveres. Isto do local ao global, 
segundo princípios de soberania e autonomia cidadã, de subsidiariedade e 
complementariedade de poderes, de multilateralismo e solidariedade entre 
povos.] 
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos 
Ética no Serviço Público A Opção Certa Para a Sua Realização 9
 
b) Inventar o métodoInventar o métodoInventar o métodoInventar o método 
 
Um outro grande desafio para o FSM é contribuir para o desenvolvimen-
to de um novo modo de fazer política. Com que método construir a cidada-
nia ativa mundial? Como o respeito aos princípios e valores democráticos, 
valorizando a diversidade social e cultural e respeitando a pluralidade de 
visões e idéias, pode ser traduzido em um método de ação? A partir do que 
já se pratica no FSM, parece fundamental que convergências e divergên-
cias – como tantas outras convergências, ao seu modo – tenham condições 
de se expressar no espaço do fórum. Ou seja, não se trata de buscar o 
mínimo denominador comum, redutor e excludente, mas de valorizar a 
diversidade de possibilidades, onde nenhuma possibilidade possa negar as 
outra e nem seja levada a se submeter à qualquer uma outra. 
 
Um tal princípio metodológico para a prática política nova que se quer 
implementar recoloca o problema da articulação, das alianças e coalizões, 
da formação de blocos de forças, condição indispensável nas democracias. 
Como formar hegemonias na diversidade de sujeitos e forças, sem prota-
gonismos? Respostas a priori não existem, precisam ser criadas. O ponto 
de partida é o reconhecimento da legitimidade e, até, da necessidade vital 
de conflitos e disputas para a democracia. As democracias se movem pela 
luta social, desde que sejam respeitados os princípios éticos fundantes 
pelas forças em confronto. Isso significa eleger metodologicamente a ação 
política, o pensar a ação e para a ação. Significa, também, reconhecer e 
respeitar os outros sujeitos, com eles se pondo em ação, em diálogo, em 
troca. 
 
Na prática, o FSM é desafiado a promover o mais radical diálogo entre 
movimentos sociais e organizações, num processo intra eles, superando 
barreiras culturais, geográficas e nacionais, e num processo inter diferentes 
movimentos e organizações, buscando as convergências e divergências. A 
questão metodológica e política aqui é da tradução, no sentido que lhe dá 
Boaventura Souza Santos. Vai na mesma direção a necessidade para o 
FSM de ser cada vez mais mundial, mais espaço da cidadania mundial, 
penetrando em todas as sociedades no Sul e no Norte, no Oeste e no 
Leste, atravessando tradições civilizatórias, religiões, filosofias e culturas as 
mais diversas. E um desafio ainda maior: tornar visíveis os hoje invisíveis 
social e politicamente para o mundo. Sem dúvida, muitas das questões aqui 
levantadas já tem soluções práticas, só que muito localizadas, fragmenta-
das, não sistematizadas. Permitir que isto venha à luz e se potencialize, 
tornando-se um modo de operar capaz de levar a cidadania a uma nova 
cultura política é a tarefa essencial do FSM. Temos muito a aprender a este 
respeito. A experiência de construir um programa de trabalho a partir de 
baixo, de estimular o encontro e articulação, aglutinação até, está em curso 
no FSM, mas é uma árdua e paciente tarefa. Temos hoje mais dispersão e 
confusão do que diversidade construída naquilo que mostramos nos nossos 
eventos. Mas é o caminho. 
 
c) Intervir concretamenteIntervir concretamenteIntervir concretamenteIntervir concretamente 
 
O FSM, em si mesmo, não tem capacidade de intervenção. Sua inci-
dência política se faz através do que decidem seus e suas participantes. 
Porém, voltado a fortalecer a emergente cidadania planetária, pensando a 
ação e para a ação política, o FSM acaba sendo um espaço aberto para a 
constituição de novas redes e coalizões visando a formulação de campa-
nhas, a promoção de mobilizações e demonstrações, a seleção de possí-
veis estratégias de influência no debate público, nas diferentes sociedades 
e espaços, nas conjunturas que se apresentam. Como espaço público 
aberto à cidadania mundial, o FSM é atravessado pela necessidade de agir 
aqui e agora sentida por quem dele participa. Vejo isto como um enorme 
desafio. 
 
Os temas mais prementes para participantes do FSM, como os vejo de 
onde me situo, são: 
 
· a necessidade de radicalizar a ruptura com e de se contrapor à ideologia e 
às visões da globalização neoliberal; 
· o aprofundamento da análise da lógica de funcionamento e da estratégia 
das grandes corporações e do capital financeiro, com denúncia de suas 
violações de direitos e de destruição das condições de vida; 
· a mercantilização de todas as relações sociais, a privatização de bens 
comuns e espaços públicos, a flexibilização de direitos conquistados, a 
desregulação e liberalização em nome do livre mercado; 
· o poder, concentrado e obscuro, das organizações globais, especialmente 
das organizações financeiras e comerciais, longe do controle da cidadania 
e dos povos; 
· a lógica do terror e da guerra, a crescente militarização e a ameaça à paz 
e soberania dos povos; 
· o perigo do unilateralismo crescente e do imperialismo, a necessidade de 
reconstrução do multilateralismo e da governança mundial para a paz. 
 
São todos temas cruciais em que de algum modo a cidadania mun-
dial já está envolvida, precisando dar respostas. Muitos outros podem ser 
arrolados aqui. Ative-me àqueles que mais diretamente se referem ao 
enfrentamento da globalização dominante. Todos estes temas já são deba-
tidos no FSM. A tarefa urgente é pensá-los mais associados às ações e, ao 
mesmo tempo, sem que acabem marginalizando os outros grandes desafi-
os que a emergente cidadania planetária tem pela frente. 
 
3. O FSM 2006: o desafio da expansão e mundialização 
Desde o começo, em 2001, a vocação mundial e universalista do 
FSM é posta à prova. Sua vitalidade depende de sempre estar colado às 
múltiplas realidades sociais e culturais, econômicas e ambientais dos povos 
do Planeta. A multiplicação de fóruns, nas cidadades, nos países, nas 
regiões, a realização de fóruns temáticos, e o deslocamento do próprio 
evento principal, girando o mundo, atende a tal imperativo. 
 
Em 2004, fomos para a Ásia, na Índia, na cidade de Mumbai. Agora, 
em 2006, estamos topando o desafio de realizar um Fórum Social Mundial 
Policêntrico, articulando eventos em diferentes continentes: vamos a Cara-
cas, na Venezuela, a Bamako, no Mali, e a Karachi, no Paquistão,

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