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ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR MATERIAL DE ESTUDOS DA CERTIFICAÇÃO CPA-102 A CPA-10 é uma importante parte do Programa de Certificação Continuada da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), um esforço empreendido pela entidade e pelos participantes do mercado para elevar o nível de conhecimento dos profissionais e a qualidade do mercado de investimento. O principal objetivo da CPA-10 é a contínua elevação da capacitação técnica dos profissionais que atuam em instituições financeiras em contato com o público em geral, no processo de distribuição de produtos de investimento. Essa iniciativa, amparada na Resolução 3.158 do Conselho Monetário Nacional, instituiu um processo de aferição do conhecimento desses profissionais nos principais aspectos relacionados à distribuição de produtos de investimento. No exame da CPA-10, o candidato deve demonstrar conhecimento sobre as principais características dos produtos de investimento que são ofertados nas agências bancárias, bem como entender os padrões éticos de comportamento que devem ser adotados no relacionamento com os investidores, de tal forma que os produtos oferecidos satisfaçam aos objetivos e às necessidades dos clientes. Esse material de estudo da CPA-10 tem por objetivo fornecer aos candidatos uma forma de preparação autônoma para o exame, além de permitir o aprofundamento nos temas abordados. A ANBIMA acredita que esse esforço de modernização dos mercados financeiro e de capitais e a melhoria no atendimento ao investidor – com a disponibilização, pelos profissionais, de informações de melhor qualidade sobre os produtos de investimento, em especial, sobre os principais fatores de risco envolvidos – resultará em estímulos à concorrência leal, à padronização de procedimentos e à adoção das melhores práticas em prol do crescimento dos mercados. O resultado desse esforço refletirá o estímulo ao crescimento da poupança financeira no país, uma das maneiras de favorecer o crescimento sustentável da economia brasileira. INTRODUÇÃO O CONTEÚDO DO MATERIAL DE ESTUDO DA CPA-10 O Material de Estudos da CPA 10 é estruturado segundo os temas relacionados no Programa Detalhado da CPA-10 e contém todo o conhecimento que pode ser demandado dos candidatos no exame da CPA-10. O objetivo da ANBIMA com essa iniciativa é permitir que todos os candidatos tenham acesso a um conteúdo padronizado, de forma que possam realizar sua preparação de maneira mais uniforme sem necessidade da realização de cursos preparatórios, apesar de considerá-los uma forma muito eficiente de formação dos candidatos que deve continuar a ser ofertada. Este material será atualizado sempre que necessário, por isso sempre baixe as apostilas nesta página! Quando for estudar, não deixe de confirmar que a versão que você tem em mãos é a última publicada, consultando a data da revisão na última página de cada apostila. O conteúdo da CPA-10 é resultado do trabalho conjunto da ANBIMA com as principais instituições do mercado financeiro que acreditam que seus respectivos desdobramentos em tópicos, itens e subitens detalham os assuntos, cujo conhecimento pelos profissionais envolvidos na distribuição de produtos de investimento nas instituições financeiras é considerado essencial. O Material de Estudo da CPA-10 é composto de sete grandes temas que foram divididos em capítulos para facilitar a apresentação: Sistema Financeiro Nacional; Ética, Regulamentação e Análise do Perfil do Investidor; Noções de Economia e Finanças; Princípios de Investimento; Fundos de Investimento; Instrumentos de Renda Variável e Renda Fixa; e Previdência Complementar Aberta: PGBL e VGBL. Cada capítulo foi estruturado com uma orientação de estudo com o que será aprendido sobre o assunto, seguida do objetivo, do conteúdo com o conhecimento requerido sobre o assunto, uma seção de questões, as justificativas das respostas corretas e um glossário ao final. A ANBIMA assume o compromisso de manter o conteúdo dos exames da CPA-10 e o respectivo Material de Estudos sempre alinhado às legislações e revisá-los, periodicamente, com a finalidade de incluir novos assuntos, tão logo o dinamismo e a evolução dos mercados financeiro e de capitais venham torná-los relevantes e essenciais. A legislação vigente relacionada à distribuição de produtos de investimento, ainda que não explicitada em todos os temas, encontra-se presente, por meio dos conceitos e das regras aplicáveis a todos os temas e tópicos abordados. Além disso, é considerado mais importante para o profissional ter domínio dos conceitos envolvidos nas questões do seu dia a dia do que utilizar cálculos matemáticos. Dessa forma, não haverá necessidade do uso de calculadora para a realização do exame da CPA-10, apesar de estarem presentes alguns exemplos com cálculos matemáticos para permitir melhor entendimento de alguns conceitos apresentados. A ANBIMA espera que os candidatos ao exame da CPA-10 possam utilizar de maneira proveitosa o conteúdo desse Material de Estudo e partilhem do mesmo entusiasmo sentido por todos os profissionais que participaram da construção desse processo. INTRODUÇÃO APRESENTAÇÃO DOS AUTORES LUIZ ROBERTO CALADO Luiz Calado é pós-doutorado pela Universidade da Califórnia (Berkeley). Autor dos best sellers Imóveis (Ed. Saraiva) e Fundos de Investimentos (Ed. Campus), além de mais de 20 livros sobre mercado financeiro, entre eles Securitização (Ed. Saint Paul), Relacionamento Bancário (Ed. Saraiva), Governança Corporativa (Ed. Andato), 100 Dúvidas de Carreira em Finanças (Ed. Saint Paul) e Regulação e Autorregulação (Ed. Saint Paul). Seus livros são vendidos em mais de 80 países, traduzidos para vários idiomas. É professor e pesquisador do Centro de Estudos GV Invest da FGV. Foi gerente de Certificação e Educação na ANBIMA. MAURO MIRANDA, CFA, FRM Presidente da CFA Society Brazil e profissional de finanças desde 2000. Tem carreira em instituições financeiras brasileiras e estrangeiras nas áreas de renda fixa, dívida estruturada e crédito privado. Começou sua carreira na área de administração da dívida externa no Banco Central do Brasil. Em seguida, trabalhou como trader e estruturador de renda fixa, entre outras posições, nos bancos Bear Stearns, Lehman Brothers, Banco Fator e Banco ABN Amro, em Nova York, Londres e São Paulo. É bacharel em Relações Internacionais e em Ciências Econômicas pela Universidade de Brasília, tem MBA pela Columbia Business School e obteve as designações Chartered Financial Analyst (CFA) em 2006 e Financial Risk Manager (FRM) em 2011. TÂNIA RAQUEL DOS SANTOS AMARAL Analista sênior da Superintendência de Educação da ANBIMA. Doutoranda em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA – USP). É mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA – USP). Cursou MBA em Gestão de Investimento na Fundação Getúlio Vargas (FGV SP). É pós-graduada em Administração Financeira e Contábil na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e graduada em Tecnologia em Processamento de Dados na Universidade Mackenzie. VICENTE PICCOLI MEDEIROS BRAGA Advogado e doutorando em Direito Comercial na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), é mestre em Direito e Desenvolvimento pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV DIREITO SP). Trabalhou junto ao setor de Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional do Ministério Público Federal do Paraná, assessorouo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN), foi responsável pelos aspectos jurídicos dos processos de Autorregulação da ANBIMA e atualmente coordena as Operações de Assistência Estrutural e de Liquidez prestadas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). INTRODUÇÃO RICARDO NARDINI – coordenador e revisor Gerente executivo da ANBIMA, responsável pelas áreas de Certificação e Educação Continuada. Desde 2005, responsável por coordenar o desenvolvimento dos exames de certificação da ANBIMA e da Associação PLANEJAR, sendo responsável pelo desenvolvimento da Certificação de Especialistas em Investimento ANBIMA (CEA), da Certificação de Gestores ANBIMA (CGA) e da Certificação CFP no Brasil. Antes de ingressar na ANBIMA, trabalhou nas áreas de tesouraria, private banking e investimentos no Lloyds Bank Plc., Banco Credit Commercial de France e HSBC Asset Management. Formado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, é pós-graduado em Banking pela FGV SP. INFORMAMOS QUE AS QUESTÕES APRESENTADAS NESSE MATERIAL NÃO FAZEM PARTE DOS EXAMES DE CERTIFICAÇÃO APLICADOS PELA ANBIMA, DEVENDO SERVIR APENAS COMO ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DOS CANDIDATOS. EM HIPÓTESE ALGUMA A SUA UTILIZAÇÃO É GARANTIA DE APROVAÇÃO NO EXAME, UMA VEZ QUE APENAS SERVE COMO COMPLEMENTO AO ESTUDO, SENDO FACULTADO AO CANDIDATO ANALISAR A VIABILIDADE DE SEU USO, COMO TAL INFORMADO. AS QUESTÕES APRESENTADAS NESTE MATERIAL FORAM DESENVOLVIDAS PELOS AUTORES ESPECIFICAMENTE PARA FINALIDADE DE APOIO. PORTANTO, NÃO É GARANTIDA A APROVAÇÃO OU QUE AS QUESTÕES SERÃO APRESENTADAS DA MESMA FORMA NO EXAME. A ANBIMA RESERVA-SE O DIREITO DE APRESENTAR AS QUESTÕES NO EXAME DE CERTIFICAÇÃO CPA-10 DE FORMA DISTINTA AOS CANDIDATOS. INTRODUÇÃO Apresentação do capítulo...................................................................................................................................... 1 2.1 Códigos de regulação e melhores práticas da ANBIMA ............................................................................. 2 2.1.1 Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para os Fundos de Investimento...........................3 2.1.2 Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para a Atividade de Distribuição de Produtos de Investimento no Varejo............................................................................................................. 13 2.2 Prevenção contra a lavagem de dinheiro.................................................................................................... 20 2.2.1 Conceito de lavagem de dinheiro – legislação ..........................................................................................21 2.2.2 Clientes/investidores................................................................................................................................... 23 2.2.3 Operações suspeitas.................................................................................................................................... 25 2.2.4 Responsabilidades administrativas e legais de entidades e pessoas físicas sujeitas à lei e à regulamentação.................................................................................................................................................... 30 2.2.5 Crime de lavagem de dinheiro.................................................................................................................... 31 2.3 Ética na venda ................................................................................................................................................ 32 2.3.1 Venda casada: conceito ...............................................................................................................................32 2.3.2 Restrições do investidor: idade, horizonte de investimento, conhecimento do produto e tolerância ao risco ................................................................................................................................................................... 34 2.4 Análise do Perfil do Investidor (API)............................................................................................................. 35 2.4.1 Instrução CVM 539 – dever de verificação da adequação de produtos, serviços e operações ao perfil do cliente (suitability) – finalidade e para quem se aplica a regra..........................................................35 2.4.2 Adequação de produtos em função do perfil do investidor; importância e motivação do API para o investidor; possibilidade de venda de um produto não adequado ao perfil do investidor........................... 40 Questões.................................................................................................................................................................42 Respostas............................................................................................................................................................... 48 Glossário................................................................................................................................................................. 52 Expediente............................................................................................................................................................. 67 SUMÁRIO AUTOR Vicente Piccoli M. Braga ORIENTAÇÕES DE ESTUDO Conhecer os principais códigos ANBIMA de autorregulação referentes à atividade de intermediação financeira. Compreender as principais obrigações impostas às instituições financeiras pela autorregulação da ANBIMA. Entender o conceito de lavagem de dinheiro. Conhecer como se dá a prevenção contra a lavagem de dinheiro no Sistema Financeiro Nacional. Conhecer e delimitar o que caracteriza uma venda casada Compreender a finalidade e extensão do dever de verificação da adequação dos produtos, serviços e operações ao perfil do cliente (suitability). Adequar os produtos oferecidos às limitações, necessidades e anseios dos investidores, de acordo com a regulação. OBJETIVO Este capítulo se propõe a expor algumas das principais medidas regulatórias impostas ao profissional que trabalha com intermediação financeira. Grande parte dessas medidas têm sua justificativa amparada em considerações de natureza ética. Nesse sentido, serão expostas medidas focadas em duas grandes preocupações. Em primeiro lugar, há preocupação em garantir que o profissional atenda o público de forma efetiva, transparente e leal, visando buscar a melhor opção disponível para os anseios e as necessidades dos clientes, e não forçar produtos inadequados visando sobretudo ao favorecimento do próprio intermediário. Em segundo lugar, cuida-se para que a atividade de intermediação não seja utilizada para viabilizar ou facilitar atividades ilícitas. 1 CAPÍTULO 1 1ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISEDO PERFIL DO INVESTIDOR A definição mais bem aceita e difundida do termo “ética” é aquela que a define como o corpo de regras que regem determinado meio, expressando a sua moral. Assim, quando falamos de ética no mercado financeiro, estamos falando justamente das normas que definem a moral desse mercado. A principal finalidade das normas que regem o mercado financeiro é zelar pela confiança do público. Isso porque a confiança do público no Sistema Financeiro Nacional (SFN) é elemento essencial para seu bom desenvolvimento. Para zelar por essa confiança, tanto a autorregulação quanto a regulação estatal buscam estabelecer práticas focadas em dois pilares: (i) garantir que o SFN cumpra sua função de modo a satisfazer o público e (ii) zelar para que o mercado financeiro seja utilizado de acordo com as demaisleis vigentes na sociedade. Para compreender melhor algumas das principais disposições regulatórias nesse sentido, o presente capítulo se divide em quatro partes. A primeira parte dedica-se a detalhar as disposições previstas em dois códigos de autorregulação da ANBIMA de maior relevância para o escopo deste capítulo. A segunda parte dedica-se a explicar as medidas direcionadas ao combate e à prevenção à lavagem de dinheiro. A terceira parte dispõe sobre algumas das principais considerações relativas à ética na venda de produtos, com especial atenção à vedação à venda casada. A quarta e última parte, por sua vez, detalha as determinações regulatórias de observação obrigatória quanto à análise do perfil do investidor e restrições decorrentes da verificação de diferentes perfis. 2.1 Códigos de Regulação e Melhores Práticas da ANBIMA Conforme visto no capítulo anterior, a ANBIMA desempenha relevante função de autorregulação, cujas normas são expressas em diversos Códigos, cada um tratando de uma atividade diferente dentro do mercado financeiro. Contudo, no que diz respeito às normas advindas da preocupação de manter uma ética de mercado que vise tanto garantir ao público o serviço mais adequado aos seus anseios e necessidades quanto proteger a própria atividade de intermediação da sua utilização para fins ilícitos, dois Códigos de autorregulação da ANBIMA ganham maior destaque. De um lado, há o Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para os Fundos de Investimento (“Código de Fundos”), cujo número de aderentes é expressivo frente ao universo da indústria, ditando o padrão de conduta que se espera de gestores, administradores, custodiantes e distribuidores. De outro, há o Código de Varejo, que tutela a relação direta dos intermediários financeiros com os investidores. Em razão da relevância singular desses códigos na definição do corpo de regras que regem as relações no mercado financeiro, isto é, como visto, sua ética, ambos serão analisados em maior detalhe a seguir. 2 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 2.1.1 Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para os Fundos de Investimento Dado o crescimento da indústria de fundos na última década e a carência regulatória inicial, o Código de Fundos é o mais difundido da ANBIMA e o segundo mais antigo, datando de 2000. Também é o Código a respeito do qual se verifica maior atividade, sendo ano após ano aquele do qual decorre o maior número de procedimentos de apuração. Para melhor apreciação do conteúdo do Código de Fundos frente às preocupações deste capítulo, analisaremos em detalhe os principais capítulos dele relacionados a aspectos da ética de mercado. 2.1.1.1 Propósito e abrangência (Cap. I) O objetivo declarado do Código de Fundos é estabelecer parâmetros pelos quais a indústria deve se orientar visando à promoção da concorrência leal, da padronização de procedimentos, da maior qualidade e disponibilidade de informações, da elevação dos padrões fiduciários e a promoção de melhores práticas. Para tal, o código vincula as ações de todos que desejarem a ele aderir e aos associados da ANBIMA que pratiquem qualquer das seguintes atividades para os fundos de investimento: (i) administração; (ii) gestão de carteira; (iii) consultoria; (iv) distribuição de cotas; (v) tesouraria; (vi) controle de ativos; (vii) Controle do passivo; e (viii) custódia de ativos. Aqueles aos quais se aplica o código são chamados de instituições participantes. Além disso, as regras do código valem para todos os integrantes do conglomerado ou grupo financeiro das instituições participantes que estejam autorizados a operar no Brasil nas atividades descritas no parágrafo anterior. Considera-se pertencente ao mesmo conglomerado financeiro ou grupo financeiro qualquer sociedade controlada, controladora ou sob controle comum das instituições participantes. 2.1.1.2 Princípios gerais (Cap. II) Os princípios gerais dispostos no Código de Fundos diferem dos princípios comumente elencados nas leis, que normalmente se referem a conceitos sucintos de definição aberta, como os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência dispostos no art. 37 da Constituição Federal de 1988. O que o Código de Fundos chama de princípios gerais são, na verdade, declarações de deveres a serem observados pelas instituições participantes em relação a fundos de investimento. Esses deveres são descritos em maior detalhe que a mera menção a um princípio jurídico, mas ainda assim contêm em sua descrição conceitos um tanto quanto abertos, que permitem, portanto, alguma interpretação. Assim, são quatro os deveres impostos às instituições participantes pelos princípios gerais do código: 3 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR I. “Desempenhar suas atribuições buscando atender aos objetivos descritos nos documentos do fundo de investimento, observada a regulamentação aplicável a cada tipo de fundo, bem como a promoção e divulgação de informações a eles relacionadas, inclusive no que diz respeito à remuneração por seus serviços, visando sempre ao fácil e correto entendimento por parte dos investidores;” Como se pode perceber pela leitura desse dispositivo, ele é composto por duas obrigações, a saber: atuar dentro do mandato recebido – ou seja, na busca dos objetivos do fundo – e ser transparente com as informações do fundo – inclusive aquelas relativas à remuneração das instituições participantes. II. “Cumprir todas as suas obrigações, devendo empregar, no exercício de sua atividade, o cuidado que toda pessoa prudente e diligente costuma dispensar à administração de seus próprios negócios, respondendo por quaisquer infrações ou irregularidades que venham a ser cometidas durante o período em que prestarem algum dos serviços previstos no § 1º do artigo 2º deste Código;” O que esse princípio determina é a obrigação de desempenhar suas funções respeitando o dever de diligência – assim entendido como a prudência e o zelo que se esperariam de alguém na administração de seus próprios negócios1. III. “Evitar práticas que possam ferir a relação fiduciária mantida com os cotistas dos fundos de investimento;” Isso quer dizer que a instituição participante deve zelar pela relação fiduciária existente entre ela e os cotistas, assim entendida como a relação de confiança e lealdade estabelecida com eles no momento da contratação. IV. “Evitar práticas que possam vir a prejudicar a indústria de fundos de investimento e seus participantes, especialmente no que tange a deveres e direitos relacionados às atribuições específicas de cada uma das instituições participantes, estabelecidas em contratos, regulamentos e na legislação vigente.” Em outras palavras, as instituições participantes devem cumprir de forma adequada suas respectivas funções e obrigações, de modo a preservar e fortalecer a reputação da indústria de fundos de investimento perante investidores. 1 Tal como conceitua o art. 153 da Lei 6.404/76. 4 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Saiba mais: uma delimitação mais precisa do que efetivamente significa o dever de diligência é discutida em SALAMA, Bruno Meyerhoff & BRAGA, Vicente Piccoli M. Dever de Diligência do Conselheiro de Administração: Lições da Jurisprudência Administrativa nas Companhias Abertas. In ROSSETTI, Maristela Abla & PITA, Andre Grunspun. Governança Corporativa: Avanços e Retrocessos. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2017. p. 133- 157. Disponível em: https://works.bepress.com/bruno_meyerhof_salama/113/2.1.1.3 Documentos e informações dos fundos: Anexo I – Fundos de Investimento Parte fundamental das melhores práticas propostas pelo Código de Fundos diz respeito a documentos e informações que devem ser fornecidos ou disponibilizados pelas instituições participantes para seus cotistas e para a ANBIMA. Isso ocorre para permitir maior controle por parte dos cotistas e dos reguladores sobre as atividades referentes aos fundos de investimento, bem como para informar melhor as decisões de investimento. Pensando nisso é que o código estabeleceu em seus anexos as obrigações documentais e informacionais específicas dos principais tipos de fundo, respeitando as particularidades de cada um deles. O rol desses documentos e informações de prestação obrigatórias podem ser analisados nos seguintes anexos para os seguintes tipos de fundo: Anexo I – Fundos regulados pela instrução CVM 555; Anexo II – Fundos de Investimento em Direitos Creditórios; Anexo III – Fundos de Investimento Imobiliário; e Anexo IV – Fundos de Investimento em Índice de Mercado. Especialmente no que se refere ao Anexo I, relativo aos fundos de investimento regulados pela Instrução CVM 5552 , são impostas as seguintes obrigações às instituições participantes que administram esses fundos: Registrar o fundo na ANBIMA no prazo máximo de dez dias, contados do início da captação ou de ter a instituição administradora se tornado instituição participante do código, o que ocorrer por último. Encaminhar para a ANBIMA documentação específica contendo: • Formulário de Informações Complementares (“formulário”); • regulamento do fundo; • comprovante de pagamento da taxa de registro; e • formulário de cadastro. Fazer constar do Formulário de Informações Complementares, no mínimo, as seguintes informações: • classificação de Tipo ANBIMA atribuída ao fundo, acompanhada da descrição do respectivo tipo; 2 A Instrução CVM 555 veio em substituição à Instrução CVM 409, de modo que os fundos de investimento regulados por essa nova instrução são, basicamente, aqueles antigamente conhecidos como “fundos 409”. 5 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Dica: O profissional nunca deve ignorar as seções dos princípios nos códigos ANBIMA, pois, além de nortear a aplicação das regras, eles também geram obrigações e podem motivar a instauração de processos de autorregulação. • descrição detalhada dos fatores de risco do fundo, em obediência ao conteúdo mínimo de cada fator de risco descrito no inciso II do art. 3º do Anexo I do Código de Fundos; descrição do sistema de gerenciamento de risco utilizado pelo administrador e/ou gestor do fundo; • descrição do sistema de gerenciamento de risco utilizado pelo administrador e/ou gestor do fundo; • breve histórico do administrador e do gestor do fundo; • Política de Exercício de Direito de Voto em Assembleia. Para fundos distribuídos por diversas instituições, deve constar no formulário um aviso com o seguinte teor: “ESTE FUNDO PODE TER SUAS COTAS COMERCIALIZADAS POR VÁRIOS DISTRIBUIDORES, O QUE PODE GERAR DIFERENÇAS DE HORÁRIOS E VALORES MÍNIMOS PARA APLICAÇÃO OU RESGATE, E TELEFONES PARA ATENDIMENTO AO CLIENTE.” Ademais, no que se refere aos fundos que disponibilizarem a “Lâmina de Informações Essenciais” aos seus cotistas, cabe à instituição participante observar as diretrizes emitidas nesse sentido pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento, em especial as “Diretrizes de Escala de Risco para Preenchimento da Lâmina de Informações Essenciais”, disponíveis no site da ANBIMA. 2.1.1.4 Documentos e Informações dos Fundos de Investimento (Cap. V) Seguindo a linha dos deveres informacionais, o Código de Fundos estabelece que os documentos disponibilizados devem conter as principais características do fundo de investimento, em especial as informações relevantes ao investidor sobre a política de investimento, os riscos envolvidos e os direitos e responsabilidades dos cotistas. Além disso, devem conter, no mínimo, alguns dizeres obrigatórios elencados no art. 14º do código. Entre eles, destaca-se o Selo ANBIMA, representado pela logomarca da ANBIMA, que deve constar na capa do prospecto ou do formulário, seguida de um dos seguintes dizeres, conforme o caso: 6 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Dica: A adequada descrição dos fatores de risco é obrigação das instituições participantes a fim de manter o cotista plenamente ciente dos riscos que aceitará ao investir em determinado fundo. Portanto, é indispensável que sejam listados todos os riscos ao qual o fundo esteja sujeito, pois o não cumprimento dessa obrigação sujeitará a instituição participante à instauração de processos de autorregulação. I. no caso do prospecto: “PROSPECTO DE ACORDO COM O CÓDIGO ANBIMA DE REGULAÇÃO E MELHORES PRÁTICAS PARA OS FUNDOS DE INVESTIMENTO”; II. no caso do formulário: “A PRESENTE INSTITUIÇÃO ADERIU AO CÓDIGO ANBIMA DE REGULAÇÃO E MELHORES PRÁTICAS PARA OS FUNDOS DE INVESTIMENTO”. Além disso, quando for o caso e conforme o nível de exposição a risco de cada fundo, devem ser incluídos obrigatoriamente, com destaque – ou seja, nada de letras miúdas ou menções escondidas –, na capa, contracapa ou primeira página do prospecto ou formulário, um dos seguintes avisos: I. “ESTE FUNDO UTILIZA ESTRATÉGIAS QUE PODEM RESULTAR EM SIGNIFICATIVAS PERDAS PATRIMONIAIS PARA SEUS COTISTAS.”; ou II. “ESTE FUNDO UTILIZA ESTRATÉGIAS QUE PODEM RESULTAR EM SIGNIFICATIVAS PERDAS PATRIMONIAIS PARA SEUS COTISTAS, PODENDO INCLUSIVE ACARRETAR PERDAS SUPERIORES AO CAPITAL APLICADO E A CONSEQUENTE OBRIGAÇÃO DO COTISTA DE APORTAR RECURSOS ADICIONAIS PARA COBRIR O PREJUÍZO DO FUNDO.” Outros avisos também são obrigatoriamente previstos por força do Código de Fundos e das deliberações emitidas pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento, pelo que o profissional responsável por essas atividades deve ler o Código de Fundos em detalhe, bem como as deliberações e diretrizes correspondentes, todas divulgadas em suas versões atualizadas no site da ANBIMA. 2.1.1.5 Publicidade e divulgação de material técnico (Cap. VI) As obrigações informacionais do Código de Fundos, contudo, não se limitam a garantir que os investidores tenham as informações adequadas e precisas sobre o fundo, nem a que entendam seus riscos. Há também a preocupação de garantir que os investidores ingressem na indústria com perspectivas realistas acerca do desempenho de seus investimentos e que as instituições participantes concorram de forma leal. Para isso, o Código de Fundos impõe algumas condutas e exige a plena observância das Diretrizes para Publicidade e Divulgação de Material Técnico de Fundos de Investimento. Tal documento, como se pode intuir, estabelece regras que visam tornar a divulgação de rentabilidade e rendimentos autêntica e facilmente compreensível, de modo a amparar o investidor em suas escolhas. Para tanto, as comunicações publicitárias e os materiais solicitados com objetivo de dar suporte a uma decisão de investimento devem se ater aos seguintes princípios: 7 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Objetividade e relevância: as informações disponibilizadas devem ser objetivas e pertinentes ao processo de decisão de investimento, devendo ser tratados de forma técnica assuntos relativos ao desempenho passado, conferindo-se privilégio às informações de longo prazo em detrimento daquelas de curto prazo. Consistência, atualidade e regularidade: as informações apresentadas de forma constante e regular devem manter a mesma linha de conteúdo e forma, incluindo a informação mais recente disponível, de tal maneira que não sejam alterados os períodos de análise buscando ressaltar períodos de boa rentabilidade, com o descarte de períodos desfavoráveis. Transparência e clareza: deve ser usada linguagem adequada ao público-alvo, não induzindo a erro ou decisão equivocada de aplicação ou permanência no fundo. Comparabilidade: devem ser privilegiados dados de fácil comparabilidade. Caso não sejam usados métodos de cálculo universais, deve ser indicado onde o cotista pode obter informações sobre a metodologia utilizada, que deve ser pública e estar disponível para consulta. Concorrência leal: não se deve promover determinados fundos ou instituições participantes em detrimento dos seus concorrentes, sendo permitida a comparação entre os fundos sem juízo de valor. Adequação: as instituições participantes devem envidar melhores esforços para fornecer material adequado ao seu público-alvo, minimizando incompreensões quanto ao seu conteúdo e privilegiando informações necessárias para a tomada de decisão. Com isso, busca-se fortalecer a relação de confiança dos investidores com a indústria de fundos, bem como garantir um ambiente de concorrência saudável e leal entre as instituições participantes. 2.1.1.6 Marcação a Mercado (MaM) – Código de Fundos de Investimento (Cap. VII) Seguindo a linha de zelo pela confiança dos investidores na indústria, a ANBIMA estabelece uma série de regras determinando a MaM de diversos ativos. 8 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Saiba mais: As Diretrizes para Publicidade e Divulgação de Material Técnico de Fundos de Investimento compõem um dos principais corpos de diretrizes emitidos pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento, impondo uma série de obrigações às instituições participantes, pelo que sua leitura atenta é recomendável para todo profissional que exerça atividade correlata. O inteiro teor da versão atual das respectivas diretrizes pode ser encontrado em: http://www.anbima.com.br/data/files/81/ E7/01/88/0BC575106582A275862C16A8/DeliberacaoN70-Diretrizes-para- Publicidade-e-Divulgacao-de-Material-para-Fundos-de-Investimento_1_.pdf Basicamente, a MaM consiste em registrar todos os ativos, para efeito de valorização e cálculo de cotas dos fundos de investimento, pelos respectivos preços negociados no mercado em casos de ativos líquidos ou, quando esse preço não é observável, por uma estimativa adequada de preço que o ativo teria em eventual negociação feita no mercado. IMPORTANTE: as determinações obrigando esse tipo de MaM se baseiam em dois motivos: Maior transparência: os cotistas sabem dia a dia como está sendo o desempenho de suas cotas. Evitar a transferência de riqueza: porque há grande preocupação que, se a flutuação natural dos preços dos ativos não for devidamente acompanhada e demonstrada, investidores podem aproveitar para efetuar a retirada de recursos em determinados momentos nos quais, em verdade, as cotas valeriam menos que o pago por elas, pois os ativos poderiam ter se desvalorizado sem que isso estivesse refletido no preço da cota. A MaM é de responsabilidade do administrador de cada fundo, mas ele pode, sob sua fiscalização, contratar prestador de serviço habilitado para o exercício dessas funções. Ademais, cabe destacar que a maior parte das regras específicas referentes à MaM estão dispostas nas Diretrizes de Marcação a Mercado emitidas pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento e disponíveis no site da ANBIMA. Entre essas regras, merece destaque a obrigatoriedade de que as instituições participantes administradoras de fundos registrem na ANBIMA um manual de MaM. Esse manual, além de estar sujeito ao escrutínio da autorregulação, precisa ter uma estrutura mínima, incluir o memorial de cálculo do preço dos diversos instrumentos financeiros e modalidades operacionais utilizadas na gestão dos fundos, bem como englobar as políticas da instituição com relação à prática de MaM e à estrutura organizacional envolvida. 2.1.1.7 Serviços: administração, gestão e distribuição de fundos de investimento (Cap. IX, X e XI do Código de Fundos) Embora este código se preste a regular a atividade de todos os prestadores de serviços elencados no ponto 2.1.1.1, as previsões específicas constantes nele se concentram em três núcleos de atividade: a administração, a gestão e a distribuição. A administração de um fundo de investimento compreende o conjunto de serviços relacionados direta ou indiretamente ao funcionamento e manutenção do fundo. Para isso, a mais importante atividade realizada pelo administrador consiste na contratação de prestadores de serviço, razão pela qual o Código de Fundos exige que ele tenha – e efetivamente leve a cabo – uma política interna que descreva os processos de seleção, contratação e monitoramento desses prestadores de serviço. Os requisitos básicos dessa política estão descritos no Código de Fundos. Ademais, uma das principais obrigações do administrador é garantir que os prestadores de serviços contratados para as atividades relacionadas nos itens (ii), (v), (vi), (vii) e (viii) do ponto 2.1.1.1. sejam instituições participantes do Código de Fundos ou do Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para Serviços Qualificados ao Mercado de Capitais, se for o caso. 9 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR A única hipótese em que isso não é exigido é caso se trate de fundo exclusivo, em que a gestão seja exercida pelo próprio cotista, legalmente habilitado e formalmente constituído como tal. Para a contratação de prestador do serviço de distribuição, embora não seja obrigatória a aderência do distribuidor a nenhum Código ANBIMA, o contrato de prestação de serviços deve incluir o fluxo e as responsabilidades na divulgação de material técnico e publicitário. Além disso, na contratação de prestação de serviços para outras atividades, o administrador deve incluir no contrato entre as partes a obrigação de cumprir tais tarefas em conformidade com as disposições do Código de Fundos. A atividade de gestão, por sua vez, compreende o conjunto de decisões que, executadas com observância dos termos do regulamento, prospecto ou do formulário, conforme aplicável, determinam o desempenho do fundo. Nesse sentido, tem-se que a instituição gestora é responsável: Pelas decisões de investimento e desinvestimento, segundo a política de investimento estabelecida para o fundo. Pelas respectivas ordens de compra e venda de ativos financeiros e demais modalidades operacionais, incluindo direitos creditórios. Pelo envio das informações relativas a negócios realizados pelo fundo de investimento ao administrador do fundo ou ao prestador de serviço contratado para tal. Pelo gerenciamento da liquidez das carteiras dos fundos de investimento, de acordo com as diretrizes elaboradas pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas para cada tipo de fundo regulado por esse código (salvo se o fundo de investimento gerido for constituído sob a forma de condomínio fechado). Por garantir que as operações realizadas pelo fundo tenham sempre propósitos econômicos compatíveis com sua política de investimento, sobretudo aquelas operações referentesa empréstimos de títulos e valores mobiliários. De resto, vale salientar que entre as principais obrigações a que está sujeita uma instituição participante que realiza a atividade de gestão estão: o estabelecimento dos critérios necessariamente observáveis para a aquisição de ativos financeiros representativos de dívidas ou obrigações não soberanas (crédito privado) e a obrigação de manter política interna de gestão de riscos que cumpra uma série de requerimentos de gestão de risco. Funções básicas ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Saiba mais: no que se refere à obrigação do gestor de gestão do risco, merecem destaque as Diretrizes para Gerenciamento de Risco de Liquidez, que impõem uma série de obrigações. Portanto, especialmente para profissionais que trabalham com gestão de risco, recomendamos acessar o referido documento no site da ANBIMA. 10 Temos, ainda, a atividade de distribuição, que para fins do Código de Fundos compreende a oferta de cotas de fundos de investimento ao investidor ou potencial investidor, de forma individual ou coletiva, resultando ou não em captação de recursos para o fundo de investimento. De acordo com o Código de Fundos, entre outras coisas, é responsabilidade do distribuidor: A prestação adequada de informações sobre o fundo de investimento, esclarecendo suas dúvidas e recebendo reclamações. O fornecimento dos documentos do fundo, termo de adesão e/ou demais documentos obrigatórios. O controle e a manutenção de registros internos referentes à compatibilidade entre as movimentações dos recursos dos clientes, sua capacidade financeira e suas atividades econômicas, nos termos das normas de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLDFT). O atendimento aos requisitos da legislação e da regulamentação e melhores práticas em relação à adequação dos investimentos recomendados (suitability). Além disso, são de especial importância as regras referentes às exigências para a publicidade (já mencionadas) e as obrigações referentes às informações mínimas a serem disponibilizadas na internet 2.1.1.8 Dever de verificar a adequação dos investimentos recomendados – suitability (Cap. XII) O dever de verificação da adequação dos investimentos recomendados, conhecido como obrigação de suitability (em razão da origem anglo-saxã da prática), é exigido pela autorregulação da ANBIMA desde 2007, ou seja, bem antes da publicação da Instrução CVM 539, em 2013, sobre a matéria. Em linhas gerais, o dever de suitability estabelece que a instituição participante deve garantir que os produtos por ela oferecidos aos investidores sejam adequados ao perfil deles. Essa obrigação existe tanto para evitar que investidores sejam levados, por intermediários inescrupulosos, a adquirir produtos cujas características não compreendem bem como para evitar que o pouco conhecimento leve o investidor a adquirir produtos que não conhece bem ou que sejam inadequados ao seu perfil de risco, o que pode frustrar suas expectativas, afugentando-o do mercado financeiro. O Código de Fundos impõe esse dever às instituições participantes que atuam na distribuição de cotas de fundos de investimento e exige delas a indelegável e integral aplicação dos processos de suitability. As obrigações específicas, por sua vez, estão descritas em detalhe no documento Diretrizes para Adequação do Produto, Serviço ou Operação ao Perfil do Investidor (Suitability), emitido pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento. Funções básicas ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 11 Nesse sentido, a principal obrigação prevista nas Diretrizes de Suitability diz respeito à necessidade de elaboração e condução de “metodologia e processos adotados para verificar a adequação dos produtos, serviços ou operações ao perfil do investidor”, chamado de Processo de Suitability. Esse processo, que é dispensado apenas para pessoas jurídicas consideradas investidores qualificados e na distribuição dos Fundos de Renda Fixa Simples, deve conter, no mínimo, os seguintes elementos: Coleta de informações: deve fornecer informações suficientes para permitir a definição do perfil de cada cliente, sendo necessário observar, no mínimo, seu objetivo de investimentos, sua situação financeira e seu conhecimento em matéria de investimentos. Classificação do perfil: com base nas informações coletadas, uma classificação de perfil deve ser adotada para o cliente. Geralmente os perfis variam entre “conservador”, “moderado” e “arrojado”. Classificação dos produtos de investimento: os produtos de investimento devem ser classificados considerando, no mínimo, os riscos associados ao produto e seus ativos subjacentes, o perfil dos emissores e prestadores de serviços associados ao produto, a existência de garantias e os prazos de carência. Comunicação com os clientes: é necessária a comunicação transparente com o cliente acerca do perfil pelo qual foi classificado e a respeito do eventual desenquadramento de um investimento com seu perfil. Procedimento operacional: pelo qual deve haver a aferição periódica entre o perfil do cliente e seus investimentos. Atualização do perfil do investidor: o perfil deve ser atualizado com frequência e isso precisa ser comunicado ao investidor. Controles internos: deve haver controles e mecanismos a fim de assegurar a efetividade dos processos estabelecidos. Sendo conduzido o referido processo, fica vedado ao distribuidor recomendar produtos ou serviços quando: (i) o perfil do cliente não seja adequado ao produto ou ao serviço; (ii) não sejam obtidas as informações que permitam a identificação do perfil do cliente; ou (iii) as informações relativas ao perfil do cliente não estejam atualizadas. Funções básicas ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 12 Não obstante, caso o cliente ordene a realização de operações nas situações em que a recomendação é vedada, o distribuidor deve, antes da primeira operação com a categoria de ativo, alertar o cliente acerca da ausência, desatualização ou inadequação do perfil, com a indicação das causas da divergência. Ademais, caso o cliente insista na operação, o distribuidor deve obter declaração expressa do cliente de que deseja manter a decisão de investimento nesta categoria de ativo, mesmo estando ciente da ausência, desatualização ou inadequação de perfil. 2.1.2 Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para a Atividade de Distribuição de Produtos de Investimento no Varejo Conforme visto no capítulo 1, o Código de Varejo foi instituído em 2012 e se presta a definir e regulamentar a atividade de distribuição de produtos de investimento no varejo, estabelecendo os requisitos mínimos a serem respeitados pelas instituições participantes que atuam nesse segmento. Para melhor apreciação do conteúdo do Código de Varejo frente às preocupações deste capítulo, analisaremos em detalhe os principais capítulos do código relacionados a aspectos da ética de mercado. 2.1.2.1 Propósito e abrangência (cap. I) Também como visto no capítulo 1, o Código de Varejo tutela as atividades de oferta de produtos de investimento destinadas a pessoa natural, atendida pelo segmento de varejo ou de varejo alta renda, conforme definição própria adotada pelas instituições participantes, e que invista ou tenha potencial para investir nos produtos deinvestimento sujeitos ao Código de Varejo. Por se debruçar sobre atividade diretamente ligada ao grande público, tem como objetivos: Manter elevados padrões éticos e consagrar a institucioanalização das práticas equitativas no mercado Estimular o adequado funcionamento da atividade. Manter transparência no relacionamento com os investidores. Funções básicas ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 13 Dica: a adequada descrição dos fatores de risco é obrigação das instituições participantes a fim de manter o cotista plenamente ciente dos riscos que aceitará ao investir em determinado fundo. Portanto, é indispensável que sejam listados todos os riscos ao qual o fundo esteja sujeito, pois o não cumprimento dessa obrigação sujeitará a instituição participante à instauração de processos de autorregulação. Promover a qualificação das instituições e de seus profissionais envolvidos na atividade. Comprometer-se com a qualidade da atuação na distribuição de produtos e serviços. O Código de Varejo se aplica a todos que desejarem a ele aderir e aos associados da ANBIMA que pratiquem a atividade de distribuição de produtos no varejo. Aqueles aos quais se aplica o Código de Varejo são chamados de instituições participantes. Além disso, as regras do Código de Varejo valem para todos os integrantes do conglomerado ou grupo financeiro das instituições participantes que estejam autorizados a operar no Brasil na atividade descrita. Considera-se pertencente ao mesmo conglomerado financeiro ou grupo financeiro qualquer sociedade controlada, controladora ou sob controle comum das instituições participantes. 2.1.2.2 Princípios gerais (Cap. II) Assim como visto no Código de Fundos, o que o Código de Varejo chama de princípios gerais são, na verdade, declarações de deveres a serem observados pelas instituições participantes em relação ao desempenho da atividade de oferta de produtos de investimento. Esses deveres são descritos em maior detalhe que a mera menção a um princípio jurídico, mas ainda assim contêm em sua descrição conceitos um tanto quanto abertos, que permitem, portanto, alguma interpretação. Assim, são quatro os deveres impostos às instituições participantes pelos princípios gerais do Código: I. “Adotar práticas que promovam a transparência na relação com o Investidor;” Em razão de o cliente do varejo ser aquele que, geralmente, mais se distancia da instituição participante em termos de grau de informação e capacidade de análise, é indispensável que a instituição participante se esforce no zelo pela transparência em suas interações com os investidores, a fim de fomentar a confiança necessária para o bom desenvolvimento do segmento. II. “Cumprir todas as suas obrigações, devendo empregar, no exercício de sua atividade, o cuidado que toda pessoa prudente e diligente costuma dispensar à administração de seus próprios negócios, respondendo por quaisquer infrações ou irregularidades que venham a ser cometidas;” Em outras palavras, o que esse princípio determina é a obrigação de desempenhar suas funções respeitando o dever de diligência – assim entendido como a prudência e o zelo que se esperariam de alguém na administração de seus próprios negócios3 . Em outras palavras, espera-se que a instituição participante atue no melhor interesse do cliente de varejo, não recomendando produtos que favoreçam a si em detrimento de outros que atenderiam melhor o cliente. 3 Tal como conceitua o art. 153 da Lei 6.404/76. Funções básicas ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 14 III.“Efetuar prévia e criteriosa análise quando contratar serviços de terceiros;” Não raro, a atividade de distribuição no varejo é conduzida por meio de parcerias com prestadores de serviços responsáveis por dar maior visibilidade aos produtos oferecidos. Essas parcerias, quando existem, requerem uma análise rigorosa do parceiro a fim de evitar a prática de irregularidades frente ao grande público do varejo, geralmente mais vulnerável, sobretudo em termos informacionais. IV. “Evitar práticas que possam vir a prejudicar o mercado de Distribuição de Produtos de Investimento no Varejo;” O que esse princípio pretende é tutelar a confiança dos clientes do varejo no mercado financeiro. Para tanto, é essencial que o distribuidor desses produtos, que é quem mais diretamente interage com o público, tenha um cuidado especial em preservar a imagem e reputação do mercado, não atuando de modo a gerar desconfiança. 2.1.2.3 Exigências mínimas (Cap. III) A fim de cumprir seu propósito, o Código de Varejo estabelece um rol extenso de exigências mínimas a serem requeridas das instituições participantes para desempenho da atividade de distribuição de produtos de investimento no varejo. As exigências mínimas estão dispostas no art. 9º do Código de Varejo e compreendem: Estar devidamente habilitado a distribuir produtos de investimento, nos termos da regulação em vigor. Prestar informações adequadas sobre os produtos de investimento, visando esclarecer, no mínimo, os riscos relacionados. Adotar procedimentos formais de “conheça seu cliente” (KYC) compatíveis com o porte, o volume, a natureza e a complexidade das transações envolvendo produtos de investimento, visando ao aprimoramento de práticas de prevenção aos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores (PLD) e buscando o monitoramento contínuo das transações, de modo a identificar aquelas que são suspeitas e/ou incompatíveis com o patrimônio e/ou renda do cliente. Adotar procedimentos formais que possibilitem verificar a Adequação dos Produtos de Investimento ao perfil do Investidor (API); Indicar profissional responsável pela atividade de distribuição de produtos de investimento no varejo, especificando área de atuação, incumbido de zelar pela observação das regras e políticas internas existentes. Possuir profissionais de atendimento dedicados à distribuição de produtos de investimento que sejam certificados, nos termos exigidos pelo Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para o Programa de Certificação Continuada. 15 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Contar com política interna de capacitação da equipe envolvida na distribuição que contemple, no mínimo: • conteúdo do Código de Ética; • conteúdo das políticas de investimentos pessoais e de segurança da informação; • procedimentos de PLD e KYC; • regras e princípios do Código de Varejo, especialmente no que se refere aos procedimentos formais de API; • treinamento contínuo dos funcionários, com prazo de atualização. Disponibilizar aos funcionários o código de ética da instituição, bem como a política de investimentos pessoais. Ter política de segurança da informação, incluindo: • gerenciamento de senhas e acessos a redes e sistemas; • canal criptografado de relacionamento eletrônico com o cliente, como home banking ou e-mail. Possuir documento que contenha a metodologia utilizada para permitir a verificação dos procedimentos de API. Ter um plano de continuidade de negócios atualizado e documentado. Também como parte das exigências mínimas, as instituições participantes devem manter área ou profissionais responsáveis pela atividade de compliance com isenção necessária para o cumprimento do seu dever, assim entendido como o de promoverações preventivas visando ao cumprimento de leis, regulamentações e princípios corporativos aplicáveis, para garantir as boas práticas de mercado e o atendimento dos requisitos constantes do Código de Varejo. Ademais, quando de sua adesão ao Código de Varejo, as instituições participantes devem apresentar correspondência assinada pelo profissional responsável pela atividade de distribuição explicando e evidenciando o cumprimento das exigências mínimas aqui dispostas. Por fim, a instituição participante que contratar agente(s) autônomo(s) de investimento (AAI) devidamente autorizado(s) pela CVM para a distribuição e mediação de valores mobiliários deve celebrar contrato entre as partes incluindo a obrigação ao(s) AAIs de cumprir tais tarefas em conformidade com as disposições do Código de Varejo. É válido notar que mesmo essa contratação de AAI está sujeita à observação das Diretrizes para Contratação de Agentes Autônomos de Investimento, publicadas pelo Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Distribuição de Produtos no Varejo. 16 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 2.1.2.4 Da Publicidade e divulgação dos produtos de investimento (Cap. IV) Parte fundamental da atividade de distribuição de produtos de investimento no varejo é o contato com o grande público, que se dá primeiramente pela divulgação de publicidade e materiais técnicos elaborados pelas instituições participantes a fim de informar sobre as características dos diferentes produtos. Para a divulgação de cada produto de investimento em específico, é necessário observar as regras relativas a isso previstas nos diferentes Códigos ANBIMA para cada diferente produto. Não obstante, o próprio Código de Varejo apresenta regras próprias. Primeiramente, as instituições participantes devem cumprir algumas obrigações genéricas quando à publicidade e divulgação de material técnico de produtos de investimento, a saber: Envidar seus melhores esforços no sentido de produzir publicidade ou material técnico adequado ao seu público-alvo, minimizando incompreensões quanto ao seu conteúdo, e privilegiando informações necessárias para a tomada de decisão. Buscar transparência e clareza das informações, fazendo uso de linguagem adequada ao público-alvo, no intuito de embasar a decisão do investidor. Conter informações alinhadas com a documentação do produto, quando for o caso. Cuidar para que não haja qualificações injustificadas, superlativos não comprovados, opiniões ou previsões para as quais não exista uma base técnica, promessa, garantia de resultados futuros ou isenção de risco para o investidor, quando isso não refletir a realidade do produto. Nesse sentido, também são vedadas comparações entre produtos de investimentos de diferentes naturezas ou categorias. Produtos de mesma natureza podem ser comparados, desde que sejam informadas simultaneamente as datas, os períodos, a fonte das informações e os critérios de comparação utilizados. Tudo isso visa evitar a falsa ou tendenciosa representação dos fatos aos investidores. Quanto às regras de publicidade em si, pode-se destacar que qualquer publicidade, exceto aquela veiculada em rádio ou short message service (SMS), deve obedecer às seguintes regras: Envidar seus melhores esforços no sentido de produzir publicidade ou material técnico adequado ao seu público-alvo, minimizando incompreensões quanto ao seu conteúdo, e privilegiando informações necessárias para a tomada de decisão. Publicidade que não possua selo ANBIMA proveniente das regras estabelecidas para o produto de investimento deve adicionar aviso com a seguinte redação: “ESTA INSTITUIÇÃO É ADERENTE AO CÓDIGO ANBIMA DE REGULAÇÃO E MELHORES PRÁTICAS PARA ATIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTO NO VAREJO”. 17 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Publicidade que faça referência a histórico de rentabilidade, ou menção a sua performance, deve adicionar aviso com a seguinte redação, quando aplicável: “A RENTABILIDADE DIVULGADA NÃO É LÍQUIDA DE IMPOSTOS”. Publicidade que mencione produto de investimento que não contem com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos deve adicionar aviso com a seguinte redação: “TRATA-SE DE UMA MODALIDADE DE INVESTIMENTO QUE NÃO CONTA COM A GARANTIA DO FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS – FGC”. Publicidade que divulgue simulação de rentabilidade deve adicionar aviso com a seguinte redação: “AS INFORMAÇÕES PRESENTES NESTE MATERIAL SÃO BASEADAS EM SIMULAÇÕES E OS RESULTADOS REAIS PODERÃO SER SIGNIFICATIVAMENTE DIFERENTES”. Igualmente é importante destacar que todo material de publicidade direcionado a um único produto de investimento deve conter o seguinte conteúdo mínimo: público-alvo classificação de risco; características do produto; informações sobre os canais de atendimento; e endereço para o portal de educação financeira da ANBIMA Como Investir (http://www. comoinvestir.com.br) e/ou portal de educação financeira da instituição participante, quando se tratar de material de publicidade disponibilizado na internet. Por fim, nas dependências das instituições participantes, deve-se manter à disposição dos interessados material impresso, ou passível de impressão, atualizado, com o mesmo conteúdo mínimo disposto nos itens anteriores, assim como informações sobre os canais de atendimento, a fim de garantir a verificação da idoneidade do material publicado. 2.1.2.5 Dever de verificar a adequação de perfil de investidor – API (Cap. VI) Como visto anteriormente, o dever de adequação de perfil de investidor é uma área da regulação financeira na qual a ANBIMA sempre esteve na vanguarda. Assim, é natural que o Código de Varejo, provavelmente aquele no qual há maior impacto na verificação de perfil de investidor, justamente por lidar com o grande público, detalhe tanto as disposições quanto ao dever de verificar a API. 18 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Analogamente ao que exige o Código de Fundos, o Código de Varejo determina que a principal obrigação diz respeito à necessidade de elaboração e condução de “procedimentos formais (…) e controles que possibilitem verificar o processo de API”. Esse processo, dispensado apenas para pessoas jurídicas consideradas investidores qualificados, deve conter, no mínimo, os seguintes elementos: Coleta de informações: deve fornecer informações suficientes para permitir a definição do perfil de cada cliente, sendo necessário observar, no mínimo, seu objetivo de investimento, sua situação financeira e seu conhecimento em matéria de investimentos. Classificação do perfil: com base nas informações coletadas, uma classificação de perfil deve ser adotada para o cliente. Geralmente os perfis variam entre “conservador”, “moderado” e “arrojado”. Classificação dos produtos de investimento: os produtos de investimento devem ser classificados considerando, no mínimo, os riscos associados ao produto e seus ativos subjacentes, o perfil dos emissores e prestadores de serviços associados ao produto, a existência de garantias e os prazos de carência. Comunicação com os clientes: é necessária a comunicação transparente com o cliente acerca do perfil pelo qual foi classificado e a respeito do eventual desenquadramento de um investimento com seu perfil. Procedimento operacional: pelo qual deve haver a aferição periódica entre o perfil do cliente e seus investimentos.Atualização do perfil do investidor: o perfil deve ser atualizado com frequência e isso precisa ser comunicado ao investidor. Controles internos: deve haver controles e mecanismos a fim de assegurar a efetividade dos processos estabelecidos. Sendo conduzido o referido processo, fica vedado ao distribuidor recomendar produtos ou serviços quando: (i) o perfil do cliente não seja adequado ao produto ou serviço; (ii) não sejam obtidas informações que permitam a identificação do perfil do cliente; ou (iii) as informações relativas ao perfil do cliente não estejam atualizadas, uma vez que a atualização deve ocorrer em prazos inferiores a 24 meses. Não obstante, caso o cliente ordene a realização de operações nas situações em que a recomendação é vedada, o distribuidor deve, antes da primeira operação com a categoria de ativo, alertar o cliente acerca da ausência, desatualização ou inadequação do perfil, com a indicação das causas da divergência. Caso o cliente insista na operação, o distribuidor deve obter declaração expressa do cliente de que deseja manter a decisão de investimento nessa categoria de ativo, mesmo estando ciente da ausência, desatualização ou inadequação de perfil. 19 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Ademais, as instituições participantes devem elaborar anualmente um laudo descritivo detalhado – revisado pela área responsável pela atividade de compliance ou auditoria interna – até o fim de março, contendo informações referentes ao ano civil anterior, com avaliação qualitativa sobre os controles internos implantados pela instituição participante para verificação do processo de API. Também devem adotar políticas internas específicas relacionadas à recomendação e classificação de produtos complexos, que ressaltem os riscos da estrutura em comparação com a de produtos tradicionais e a dificuldade em se determinar seu valor, inclusive em razão de sua baixa liquidez. As regras de classificação definidas devem observar também uma série de fatores listados no parágrafo único do art. 24 do Código de Varejo. Por fim, há que se atentar que as regras sobre o dever de verificar API aqui dispostas não se aplicam aos assim chamados “produtos automáticos”, que são aqueles produtos de aplicação e resgate automáticos destinados, exclusivamente, aos correntistas da instituição. Essa isenção, contudo, só é válida se a referida aplicação automática não tiver como base um valor mobiliário. Assim, para produtos automáticos que tenham como base fundos de investimento com a funcionalidade de aplicação e resgate automáticos, ou operações compromissadas com lastro em debêntures emitidas por instituições financeiras do mesmo conglomerado ou grupo econômico da instituição na qual o investidor seja correntista, será admitido processo simplificado de API, mas não será admitido dispensá-lo. Esse processo simplificado, por sua vez, consistirá na obtenção de declaração assinada pelo investidor no momento da contratação do produto automático, de acordo com modelo disponibilizado pela ANBIMA em seu site. 2.2 Prevenção contra a lavagem de dinheiro Em uma época marcada pelos rápidos avanços tecnológicos e pela globalização, a lavagem de dinheiro é um tema de especial relevância e que ganha destaque na agenda dos países. Nesse sentido é que já em 1988 a Organização das Nações Unidas aprovou a Convenção de Viena contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, cujo art. 3º estabeleceu que as partes signatárias deveriam se esforçar para transformar em delitos penais a conversão, transferência, ocultação ou encobrimento de bens provenientes de atividades ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas4. Isso impôs uma obrigação internacional de esforços visando coibir a lavagem de dinheiro, esforços esses que se estenderam ao combate do terrorismo e à corrupção. Assim, convencionou-se que a fim de combater a corrupção, o crime organizado, o terrorismo e até mesmo a simples evasão de divisas – que pode comprometer a situação fiscal e monetária de um país – é necessário vigilância constante. Para isso, contudo, os reguladores de cada país dependem imensamente da cooperação das instituições financeiras. Nesse sentido, há uma série de dispositivos normativos em vigor no Brasil direcionados a garantir que as instituições financeiras cumpram o seu papel no combate e na prevenção à lavagem de dinheiro. 4 No Brasil, esse acordo foi internalizado por meio do Decreto 154/91. 20 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 21 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 2.2.1 Conceito de lavagem de dinheiro – legislação Em termos simples, a lavagem de dinheiro corresponde à prática pela qual se inserem na economia formal recursos decorrentes de atividades ilícitas, por meio da ocultação ou dissimulação de sua verdadeira origem. Em sua forma mais recorrente, portanto, a lavagem de dinheiro envolve três etapas independentes5, que muitas vezes ocorrem de forma sequencial ou simultânea. Colocação: a primeira etapa do processo é a inserção do dinheiro no sistema econômico. A colocação se efetua por meio de depósitos, compra de instrumentos negociáveis ou compra de bens. Para dificultar a identificação da procedência do dinheiro, os criminosos aplicam técnicas sofisticadas, tais como o fracionamento dos valores em quantias menores e a utilização de estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com dinheiro em espécie. Ocultação: a segunda etapa do processo consiste em dificultar o rastreamento contábil dos recursos ilícitos. O objetivo é quebrar a cadeia de evidências que conecta o dinheiro à sua origem ilícita. Os criminosos buscam movimentá-lo de forma eletrônica, transferindo os ativos para contas anônimas preferencialmente, em países amparados por fortes leis de sigilo bancário. Integração: na última etapa, os ativos são incorporados formalmente ao sistema econômico. As organizações criminosas buscam investir em empreendimentos que facilitem suas atividades – podendo tais sociedades prestarem serviços entre si. Uma vez formada a cadeia, torna-se cada vez mais fácil legitimar o dinheiro ilegal. Na legislação brasileira, o conceito de lavagem está expresso na Lei 9.613/986 (criada por força do compromisso assumido no já mencionado Tratado de Viena de 1988), que em seu art. 1º conceitua o crime de lavagem como “(o)cultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal”. Contudo, é importante notar que o referido artigo, em seus parágrafos 1º e 2º, impõe as mesmas penas para quem: “(…) ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: • os converte em ativos lícitos; • “os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; • importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros”. 5 Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Cartilha – Lavagem de Dinheiro: Um problema Mundial. 2015. p. 4-5. Disponível em: http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/pld-ft/publicacoes/cartilha.pdf/view. Acesso em: 20 jun. 2017. 22 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR “(…) utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”; “(…) participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à práticade crimes previstos nesta Lei”. Em suma, ficam sujeitas às punições aplicáveis aos crimes de lavagem de dinheiro todos que de alguma forma contribuem para qualquer uma das etapas tradicionais do processo de lavagem de dinheiro. Não obstante, o que todas essas atividades têm em comum é que, para que sejam consideradas crime consequente de lavagem de dinheiro, é necessário haver fonte ilícita para o recurso original, ou seja, uma infração penal precedente. Por isso é habitual a expressão de que na lavagem de dinheiro não há crime consequente sem crime precedente. Além disso, é importante observar que o combate à lavagem de dinheiro no Brasil é capitaneado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que é órgão integrante do Ministério da Fazenda e cumpre a função de Unidade de Inteligência Financeira. Enquanto tal, o Coaf tem a incumbência legal de receber e analisar as comunicações suspeitas oriundas dos segmentos econômicos elencados na Lei 9.613/98. Da mesma forma, esse diploma também confere ao Coaf o papel de supervisor das pessoas obrigadas lá elencadas que não têm um supervisor próprio, como é o caso das joalherias e das factorings. Além do Coaf, outras autoridades, tais como o BACEN, a CVM, a Polícia Federal, a Receita Federal, a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público cumprem importante papel no combate à lavagem de dinheiro7. No que se refere ao sistema financeiro, contudo, merecem especial atenção as normas emitidas pela CVM e pelo BACEN. As principais iniciativas regulatórias advindas desses órgãos para combate à lavagem de dinheiro são: Instrução CVM 3018 – dispõe sobre a identificação, o cadastro, o registro, as operações, a comunicação, os limites e a responsabilidade administrativa de que tratam os incisos I e II do art. 10; I e II do art. 11; e os arts. 12 e 13 da Lei 9.613/98, referente aos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. Circular BACEN 3.4619 – consolida as regras sobre os procedimentos a serem adotados na prevenção e no combate às atividades relacionadas com os crimes previstos na Lei 9.613/98. 6 A redação vigente foi alterada pela Lei 12.683/12, que buscou tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. 7 ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Guia de Prevenção à “Lavagem de Dinheiro” e ao Financiamento do Terrorismo no Mercado de Capitais Brasileiro. 2014. Disponível em: http://www.anbima.com.br/data/files/ A8/96/7B/01/B78C7510E855FB75862C16A8/ANBIMA-Guia-PLD_1_.pdf Acesso em: 20 jun. 2017. P. 4. 8 Com redação vigente fruto de alterações pelas Instruções CVM 463, 506, 523, 534 e 553. 9 Com redação vigente fruto de alterações pelas Circulares Bacen 3.517, 3.583, 3.654, 3.780 e 3.839 (cujas alterações passam a vigorar a partir de 28 de dezembro de 2017). 23 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR 2.2.2 Clientes/investidores Como é perceptível pela conceituação vista, a lavagem de dinheiro pode ser praticada tanto por instituições financeiras quanto por seus clientes e investidores. Logo, mesmo uma instituição financeira idônea precisa tomar as devidas cautelas a fim de que sua estrutura não seja utilizada para a prática de crime de lavagem, uma vez que isso pode difamar a instituição e diminuir a confiança do público no sistema financeiro. Tendo isso em vista é que o BACEN e a CVM impõem, sobretudo por meio dos normativos mencionados, uma série de obrigações procedimentais às instituições financeiras referentes a identificação, cadastro, registro e comunicações de operações de seus clientes. 2.2.2.1 Ações preventivas: princípio do “conheça seu cliente” Embora as disposições regulatórias advindas do BACEN e da CVM sejam de observância fundamental para as instituições financeiras, ações preventivas adicionais também podem e devem ser tomadas a fim de preservar a reputação das instituições financeiras. Nesse sentido, observaremos na sequência algumas dessas medidas preventivas. 2.2.2.1.1 Função do cadastro e implicações de um cadastro desatualizado e análise da capacidade financeira do cliente Uma das principais atuações preventivas ao alcance das instituições financeiras diz respeito à manutenção de um cadastro completo e atualizado dos clientes. Nesse sentido, quanto mais completo um cadastro, mais facilmente são identificadas operações suspeitas. Tão importante quanto a existência de um cadastro completo quando da abertura de um relacionamento de intermediação financeira, contudo, é a constante atualização dele. Afinal, as pessoas passam por uma série de mudanças em suas vidas, muitas das quais repercutem em alterações patrimoniais relevantes, de tal forma que apenas a manutenção de um cadastro atualizado periodicamente é capaz de fornecer às instituições financeiras os elementos necessários para averiguar a regularidade das operações de cada cliente. Portanto, as instituições devem prever e realizar as rotinas de atualização de dados cadastrais descritas em seus manuais internos, respeitando, no mínimo, a periodicidade definida na regulamentação vigente. Saiba mais: para conhecer mais sobre a história do combate à lavagem financeira no Brasil e sobre o conceito de unidade de inteligência financeira, recomendamos a leitura da Cartilha – Lavagem de Dinheiro: Um problema Mundial (disponível em: http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/pld-ft/ publicacoes/cartilha.pdf/view), publicada pelo Coaf em 2015. 24 ÉTICA, REGULAMENTAÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR Essa atualização dos dados cadastrais pode ser realizada via canais de atendimento, mas precisa ser evidenciada por meio de fichas cadastrais e/ou cartas assinadas pelos clientes, logs de sistemas, gravações telefônicas, ou outro comprovante idôneo de confirmação de dados. Igualmente, recomenda-se que nenhuma operação seja realizada com clientes cujo cadastro esteja incompleto ou desatualizado, afinal essa prática pode sujeitar a instituição financeira a sanções administrativas, conforme será visto em detalhe adiante10. Dessa forma, como na atividade de lavagem de dinheiro a utilização de pessoas aleatórias para a colocação, ocultação ou integração de recursos é prática recorrente, torna-se fundamental observar, entre outras características, a capacidade financeira do cliente, a fim de verificar se as movimentações dele são compatíveis com sua situação financeira. 2.2.2.1.2 O princípio “conheça seu cliente” como forma de proteção da instituição financeira e do profissional Nas instituições financeiras, o processo de averiguação detalhada do perfil do cliente é conhecido como “conheça seu cliente” ou pelo acrônimo KYC, advindo da forma inglesa da expressão (know your client). Esses procedimentos buscam reunir informações das mais diversas sobre os clientes, desde dados documentais até profissão, grau de escolaridade, patrimônio e renda mensal. Isso tudo a fim de possibilitar uma análise mais precisa sobre quais operações realizadas por algum cliente caracterizam ou não operações suspeitas. Mais especificamente, as informações mínimas requeridas podem variar a depender da natureza do cliente, se pessoa física, jurídica ou outro (como clubes de investimento, fundos de investimento, investidores não residentes e fundações). As informações mínimas requeridas pela CVM estão descritas no Anexo I da Instrução CVM 301 e as informações mínimas requeridas pelo BACEN estão descritas nos arts. 2º e 3º da Circular BACEN 3.461. É importante salientar que toda a documentação comprovante das informações prestadas deve ser armazenada pela instituição junto ao cadastro. Fazer isso, longe de consistir
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