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ELEMENTOS DE TEORIA GERAL DO ESTADO 1. ESTADO – ORIGEM E CONCEITO; 1.1. NAÇÃO – DIFERENÇA CONCEITUAL; 2. ELEMENTOS DO ESTADO; 2.1. POPULAÇÃO; 2.2. TERRITÓRIO; 2.3. ORDENAMENTO JURÍDICO; 2.4. PODER; 2.5. BEM COMUM; 3. FORMAS DE ESTADO; 4. FORMAS DE GOVERNO; 4.1. REPÚBLICA; 4.2. MONARQUIA; 5. SISTEMAS DE GOVERNO; 5.1. PRESIDENCIALISTA; 5.2. PARLAMENTARISTA; 6. REGIMES POLÍTICOS; 6.1. TOTALITARISMO; 6.2. DEMOCRACIA; 6.2.1. DEMOCRACIA DIRETA; 6.2.2. DEMOCRACIA INDIRETA OU REPRESENTATIVA; 6.2.3. 6.2.3. DEMOCRACIA SEMIDIRETA OU PARTICIPATIVA --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1. ESTADO – ORIGEM E CONCEITO Para entendermos a origem do Estado é necessário analisar a história do homem, sobretudo após o momento em que passou a viver em sociedade. Em determinada época, o homem viu que sua sobrevivência estaria melhor assegurada se vivesse em sociedade. A necessidade de caça ou do compartilhamento da mesma é um bom exemplo de atividade social. Acerca desse exemplo, Maximilianus informa que “germinava (aí) a forma mais rudimentar de sociedade”, para quem ainda o conceito de sociedade compreende “a união mais menos estável de pessoas, que tem por fim a cooperação para a realização de um bem comum, mediante a adoção de algumas regras”�. Com o tempo e, conseqüentemente, com o fortalecimento dos vínculos sociais, tendo como pano de fundo a questão da sobrevivência, acabaram por surgir várias formas sociais além da familiar (a mais primitiva sob o ponto de vista organizacional), dentre elas o Estado, como expressão ou fruto da sociedade politicamente organizada. Muito embora a palavra “Estado” tenha sido empregada tecnicamente após a publicação de “O Princípe”, de Niccoló Machiavelli, em 1513, é certo que sua origem guarda características semelhantes aos da formação das cidades-Estados dos gregos (polis) e romanos (civitas). Para o Prof. Pedro Salvetti Netto, o Estado “é a forma mais perfeita de organização social jamais engendrada pelo homem. Produto da evolução e da cultura, encontra-se na mais ascendente posição entre as sociedades, razão pela qual nele se observa a composição de uma tendência universal, síntese perfeita de uma orientação comum, evolutiva e cultural, que lobrigou a harmonia da convivência, nesta forma de organização evoluída”�. Paulo Nader, sob outro ângulo, ensina que “Estado é um complexo político, social e jurídico, que envolve a administração de uma sociedade estabelecida em caráter permanente em um território e dotado de poder autônomo”�. 1.1. NAÇÃO – DIFERENÇA CONCEITUAL Não raro se vê registrado na doutrina o Estado definido como nação jurídica ou politicamente organizada�. Todavia, Estado e nação não se pressupõem necessariamente. Aliás, são conceitos distintos. Estado ( Nação ( Estado: conceito jurídico ( Nação: conceito sociológico ( Observações: 1ª) a nação, de conceito tormentoso, costuma implicar na identidade de língua, religião, tradições, origens e anseios comuns existente ou nutrida por um conjunto de pessoas, o que não ocorre necessariamente num Estado; 2ª) como prova disso, a existência de Estados com várias nações, assim como nações fracionadas em Estados distintos, conforme registra o saudoso Hildebrando Accioly�. 2. ELEMENTOS DO ESTADO O Prof. Pedro Salvetti Netto, ao tecer outro conceito de Estado, deixa claro os elementos que o compõe: “Estado é a sociedade necessária em que se observa o exercício de um governo dotado de soberania a exercer seu poder sobre uma população, num determinado território, onde se cria, executa e aplica seu ordenamento jurídico, visando ao bem comum”� (sem destaque no original). Costuma-se dizer que o Estado é dotado de três básicos elementos, a saber: território, população e soberania. Entretanto, o poder, o ordenamento jurídico e o bem comum também constituem elementos fundamentais do Estado - razão dos destaques acima. Preferimos, pois, classificar os elementos do Estado conforme segue: MATERIAIS ( população e território ELEMENTOS FORMAIS ( ordenamento jurídico e poder FINAL ( bem comum 2.1. POPULAÇÃO População é o conjunto de indivíduos, nacionais ou estrangeiros, que se encontram em determinado território num dado momento histórico. Constitui elemento/pressuposto material do Estado. “Não há limite mínimo ou máximo de habitantes para a formação de um Estado.”, salienta Paulo Nader�, que prossegue, a título ilustrativo, indicando limites antes concebidos, por filósofos renomados, como ideal para um Estado�. Parte da doutrina considera o povo como elemento ou pressuposto do Estado. Todavia, cabe distinguir povo de população, conforme aqui propomos com o apoio de Maximilianus�. Pois bem: População ( Povo ( População: abrange os estrangeiros; ( Povo: abrange apenas os nacionais; ( Pertinência: somente os do povo podem exercer direitos políticos e alguns outros considerados exclusivos de nacionais (cf., no caso do Brasil, art. 222 da Constituição Federal); ( Observação: os estrangeiros residentes no Brasil desfrutam, tais como os nacionais, dos direitos individuais e coletivos previstos na Constituição Federal (art. 5º). 2.2. TERRITÓRIO O território, também elemento vital para a materialização do Estado�, é definido por Maximilianus como “a área onde o Estado exerce com exclusividade a sua soberania”�. No mesmo sentido, diz Amilcar de Castro: “Território, como elemento do Estado, nada mais é que o limite do poder público.”�. Importante, entretanto, saber quanto representa o tal limite ou área a que corresponde o elemento em estudo. Pois bem, o território compreende os seguintes espaços: terrestre (solo e subsolo); ESPAÇOS aéreo; aquático (quando existente). 2.3. ORDENAMENTO JURÍDICO Elemento que dá forma/corpo ao Estado, o ordenamento jurídico compreende o sistema de normas jurídicas de um Estado, num determinado momento histórico, com a finalidade de valer em seu território e ser atendido por todos os que nele se encontrem, permanente ou transitoriamente. Em nosso país, o formato do nosso ordenamento jurídico é dado pela Constituição Federal, que se encontra situada no ápice da pirâmide das normas jurídicas, sobrepondo-se, assim, a todas as demais, e impondo-se, via de conseqüência, a todos nós. 2.4. PODER Maximilianus afirma: “Poder é a possibilidade de o Estado impor suas determinações, dentro de seu respectivo território, utilizando a força, se necessário.”� Muito embora o autor diga “dentro de seu território”, há de se conceber o poder como elemento formal do Estado exercitável interna e externamente. Internamente, perante seus súditos, e externamente, perante os outros Estados, no sentido de sua autodeterminação. O poder e o ordenamento jurídico refletem o que se conhece por soberania. 2.5. BEM COMUM O bem comum se traduz no objetivo buscado pelo Estado. Daí ser considerado elemento final do mesmo. Todo Estado tem finalidades e o bem comum é a principal delas. O Prof. Pedro Salvetti Netto nos informa que tal elemento impõe ao Estado atuação em três frentes, a saber: 1ª) segurança interna e externa; 2ª) procura do Estado de Justiça, em lugar do mero Estado de Direito; 3ª) busca do bem-estar dos súditos�. 3. FORMAS DE ESTADO Resumidamente, o Estado pode ter forma unitária ou composta. A forma unitária, também chamada de simples, caracteriza o Estado como um todo indivisível e soberano, e que costuma se materializar em Estados de pequena extensão territorial, muito embora o Brasil já tivesse ostentado tal forma “ao tempo do Império”�. Por outro lado, a forma composta pode ocorrer por coordenação ou por subordinação, como nos orienta o mestre Hildebrando Accioly. A primeira se manifesta sob aforma de união pessoal, união real, confederação de Estados e união federal. A outra, por sua vez, traz presente a subordinação no caso dos Estados vassalos, dos protetorados, dos países sob tutela e dos Estados clientes. Dentre as formas acima, cremos importante destacar apenas a união federal, representativa do Estado composto por coordenação, cuja definição nos é fornecida pelo mestre Hildebrando: “o Estado composto por coordenação é constituído pela associação de Estados soberanos ou pela associação de unidades estatais que, em pé de igualdade, conservam apenas uma autonomia de ordem interna, enquanto o poder soberano é investido num órgão central.”� Para o mestre, a união federal, a quem chama ainda de Estado federal ou Federação de Estados, “é a união permanente de dois ou mais Estados, na qual cada um deles conserva apenas sua autonomia interna, sendo a soberania externa exercida por um organismo central, isto é, pelo governo federal, plenamente soberano nas suas atribuições, entre as quais se salientam a de representar o grupo nas relações internacionais e a de assegurar a sua defesa externa.”�. Com nossas palavras, a forma federal se vislumbra pela existência de parcelas territoriais de um Estado, ao qual devem obediência por ser ele, Estado, o ente que as congrega e que, dotado da soberania, se manifesta perante a comunidade internacional como um todo composto de determinadas parcelas territoriais, as quais, no caso do Brasil, assumem a denominação de Estados-membros (O Estado de São Paulo, v.g.), sem que haja perda dos poderes que o ordenamento jurídico lhes confere, sobretudo em sua Constituição (na Carta Magna brasileira vide, dentre outros, artigos 18, “caput”, 25, 26, 98 e 125). O Brasil tornou-se Estado Federal com a Constituição de 24 de fevereiro de 1891. 4. FORMAS DE GOVERNO Nossa Constituição Federal reconhece duas formas de governo (república e monarquia), cuja escolha foi por nós feita em 7 de setembro de 1993, por meio do plebiscito a que refere o art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o qual dá conta também da escolha do sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo), objeto de estudo do item 5 - infra. 4.1. REPÚBLICA Forma de governo que pressupõe o exercício de mandato temporário para os membros do Executivo e do Legislativo, à exceção, pois, dos integrantes do Judiciário, os Juízes, por gozarem de vitaliciedade e por serem investidos no cargo após aprovação em concurso público. É a forma adotada pelo Brasil e pela grande parte dos países. presidencialista A república poderá ser: parlamentarista 4.2. MONARQUIA Para Aristóteles seria o governo de um só�. Ainda para ele, a monarquia deturpada gera a tirania�. Apesar dos diversos tratamentos doutrinários acerca dessa forma de governo, é pacífico que sua característica singular é o exercício da chefia do Estado pelo monarca. Obs.: Chefe de Estado ( Chefe de Governo De acordo com Ricardo Brancato, a monarquia comporta a seguinte classificação: ABSOLUTA MONARQUIAS pura CONSTITUCIONAL parlamentar Na monarquia absoluta, o monarca não encontra limites para o exercício de seu poder, enquanto na constitucional, o mesmo se depara com os limites traçados na Constituição do Estado, considerada a tripartição dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Se pura, ele exercerá também a chefia de governo. Se parlamentar, desempenhará apenas funções de chefe de estado. 5. SISTEMAS DE GOVERNO 5.1. PRESIDENCIALISTA Sistema pelo qual as chefias do Estado e do Governo se concentram nas mãos de uma só pessoa, o presidente. 5.2. PARLAMENTARISMO Sistema pelo qual a chefia do Estado compete a um Gabinete de Ministros, formado pelo partido majoritário no Parlamento, liderado pelo Primeiro-Ministro, conforme ensina Maximilianus�, para quem tal regime se revela interessante pela possibilidade do Parlamento derrubar o Gabinete através de “moção de desconfiança”, cabendo ao Gabinete, por seu turno, a possibilidade de dissolver a Assembléia para convocação de novas eleições. Maximilianus registra ainda a existência do sistema diretorial�, existente atualmente apenas na Suíça e não previsto em nossa Carta Magna, razão porque não nos debruçaremos sobre ele, até mesmo para não avolumar o presente roteiro. 6. REGIMES POLÍTICOS Entenda-se por regime político o modo pelo qual se desenvolve a ação política estatal. Corresponde “à alma política do Estado, que oscila entre a democracia e o totalitarismo”�. TOTALITARISMO REGIMES POLÍTICOS DIRETA DEMOCRACIA -( INDIRETA/REPRESENTATIVA SEMIDIRETA/PARTICIPATIVA 6.1. TOTALITARISMO É o regime político que pressupõe a existência de partido único e subordinação das pessoas à autoridade do governo. Maximilianus acentua que o totalitarismo “é um sistema político de conteúdo estático, opondo-se naturalmente a qualquer evolução na área dos direitos e garantias individuais e sociais, que podem vir a ameaçar a hegemonia do partido único.”�. 6.2. DEMOCRACIA De logo cabe reproduzir a célebre frase de Abraham Lincoln: “democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”�. Como bem assinala Brancato, a democracia, com o passar dos tempos, deixou de espelhar uma forma de governo para traduzir um regime político�. Para este autor, um Estado só será democrático se prestigiar o Direito, a ele se subordinando, sem se desapegar de elementares princípios democráticos: ( divisão dos Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), mantida a independência e a harmonia entre si (na Constituição brasileira, cf. art. 2º); ( exercício temporário das funções executiva e legislativa; ( igual oportunidade para todos; ( prevalência da vontade da maioria, sem que se despreze a manifestação minoritária. 6.2.1. DEMOCRACIA DIRETA Hoje, não mais existente por razões óbvias. Afinal, não há como a própria população tomar decisões governamentais. Há necessidade de constituir agentes políticos para tal fim. 6.2.2. DEMOCRACIA INDIRETA OU REPRESENTATIVA Neste modelo, o povo elege representantes para exercer o governo em seu nome e por certo tempo, durante o qual, em razão dos mandatos que lhes foram outorgados, não se tem a possibilidade de revogação ou participação do povo na tomada de decisões. Há na doutrina quem considere o Brasil uma democracia indireta. Entretanto, preferimos, acompanhando as lições de Maximilianus, concebê-lo como uma democracia semidireta, ou participativa�, estudada na seqüência. 6.2.3. DEMOCRACIA SEMIDIRETA OU PARTICIPATIVA Difere da anterior, pois admite a participação do povo mediante instrumentos próprios, como o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, a ação popular e, porque não o chamado “recall”, previsto no sistema norte-americano. À exceção do “recall”�, todos os outros instrumentos estão previstos na Carta Constitucional do Brasil. Confira-se a propósito: ( do plebiscito: arts. 14, I e 18, §§ 3º e 4º da CF e, ainda, Lei nº 9.709/98, arts. 1º, I, 2º, § 2º, 3º a 10 e 12; ( do referendo: art. 14, II da CF e, ainda, Lei nº 9.708/98, os arts. 1º, II, 2º, § 2º, 3º, 6º, 8º e 10 a 12; ( da iniciativa popular: art. 14, III, 61, § 2º da CF e, ainda, Lei nº 9.708/98, os arts. 1º, III, 13 e 14; ( da ação popular: art. 5º, LXXIII, da CF e, ainda, Lei nº 4.717/65. Elaborado em março de 2004 � In “Resumo de Direito Constitucional”, de Maximilianus Cláudio Américo Führer e Maximiliano Roberto Ernesto Führer, Malheiros, São Paulo, 7ª ed., 2004, p. 14. � Apud “Instituições de Direito Público e Direito Privado”, de Ricardo Teixeria Brancato, Saraiva, São Paulo, 12ª ed., 2003, p. 61. � In “Introdução ao Estudo do Direito”, Forense, Rio de Janeiro, 6ª ed.,1991, p. 141. � Cf. “Instituições ...”, p. 59 e “Introdução ...”, p. 141. � In “Manual de Direito Internacional Publico”, Saraiva, São Paulo, 11ª ed., 1991, p. 15. � Apud “Resumo ...”, p. 14. � In “Introdução ...”, p. 143. � Idem, idem: 5.040 habitantes para Platão e 10.000 para Aristóteles e Rousseau. � In “Resumo ...”, p. 15. � Consideramos o território elemento vital para a materialização do Estado, mas há registros de pensadores que sustentam a existência ou sobrevivência do Estado sem ele. Cf., a propósito, “Resumo...”, p. 22 � Idem, p. 19. � In “Direito Internacional Privado”, Forense, Rio de Janeiro, 5ª ed., 1995, p. 5. � In “Resumo...”, p. 24. � Apud “Resumo ...”, p. 26. � Cf. “Instituições ...”, p. 70. � In “Manual ...”, p. 17. � Ob. cit., p. 18. � Cf. “Instituições ...”, p. 72 e “Resumo ...”, p. 29. � Cf. “Instituições ...”, p. 73. � In “Resumo ...”, p. 31. � Idem, idem. � Idem, p. 32. � Idem, p. 33. � Apud “Resumo ...”, p. 33 � ob. cit., p. 74. � In “Resumo ...”, p. 34. � Fato que acabou conduzindo o ator Arnold Schwarzenegger ao governo da Califórnia, nos EUA.
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