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Cultura Luso Brasileira 2

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Cultura
LUSO
Brasileira
-
CulturaLUSO
Brasileira
Cu
ltu
ra
 LU
SO
-B
ra
sil
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a
Valdemar Valente Junior
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2860-3
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Valdemar Valente Junior
Cultura Luso-Brasileira
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
© 2008 IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos 
direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
________________________________________________________________________________
V249c
 
Valente Junior, Valdemar
 Cultura luso-brasileira / Valdemar Valente Junior. - ed., rev.. - Curitiba, PR : IESDE 
Brasil, 2012. 
 112p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-2860-3
 
 1. Brasil - Civilização - Influências portuguesas. 2. Brasil - Civilização. I. Inteligência 
Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título. 
12-4736. CDD: 981
 CDU: 94(81)
06.07.12 19.07.12 037143 
________________________________________________________________________________
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Sumário
Origens da história cultural brasileira | 7
Presença portuguesa no Brasil: viajantes e missionários | 10
Mito e decadência: sebastianismo e domínio espanhol | 13
A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia | 21
A colônia e a metrópole: conflitos do século XVIII | 24
Transição da colônia ao império | 28
Independência política e nacionalismo cultural | 35
O índio, o negro e o branco | 37
A abolição e o fim da monarquia | 40
A república de cartolina | 47
Nacionalismo e Positivismo | 50
O parnaso é aqui | 51
Visões do arcaico e do moderno | 59
Cultura erudita e expressão popular | 61
A explosão do novo | 64
1922 e o século XX | 71
As contradições do Brasil | 74
Cultura e pesquisa etnográfica | 76
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1930 e os efeitos da crise | 83
O rádio e a música popular | 85
O Carnaval e o futebol | 87
Da casa-grande às raízes do Brasil | 95
O olhar estrangeiro | 97
Conservadorismo e participação | 99
Referências | 105
Anotações | 111
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Apresentação
Este trabalho sintetiza uma proposta de estudo sobre aspectos da 
cultura luso-brasileira, tendo início nas origens de nossa colonização, no 
século XVI, e indo até a primeira metade do século XX, aproximadamente, 
quando se consolida o perfil de nacionalidade que nos acompanha até os 
dias atuais. 
Com o objetivo de dotar o estudante de condições básicas de en-
tendimento sobre nossa formação, pensamos ser procedente a ampliação 
de sua visão sobre aspectos socioculturais acerca do país em que vive-
mos. Além disso, acreditamos poder tornar possível o acesso a este mate-
rial através de uma linguagem compatível de entendimento sem com isso 
abrir mão do rigor formal da linguagem que o caracteriza.
A divisão capitular deste material atende à cronologia dos acon-
tecimentos históricos e culturais que tiveram lugar em diferentes etapas. 
Assim sendo, relacionamos os momentos históricos ao florescimento de 
uma cultura artística e literária que acompanha nossa trajetória servindo-
-lhe de base e entendimento necessário.
Por fim, pensamos oferecer um material de bom nível, fundamental 
ao preenchimento de lacunas acerca da cultura luso-brasileira, como par-
te integrante da matriz curricular do nosso curso.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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Origens da história cultural 
brasileira
Valdemar Valente Junior*
O advento das conquistas marítimas e sua repercussão significam para a Europa uma completa 
mudança de visão com relação a um mundo desconhecido e suas representações. De início, as possibi-
lidades que apontam a direção dos muitos dividendos a que o espírito empreendedor português lança 
mão. A viagem de Vasco da Gama às Índias é a consolidação plena do desejo de expansão a que mais 
tarde Luís de Camões dedica a epopeia Os Lusíadas, sua obra maior. Em torno dos negócios da Coroa 
organiza-se uma classe de comerciantes que investe capital e trabalho na causa ultramarina. Parece im-
possível a Portugal, com o correr do tempo, assumir outra atitude que não seja a de intervir diretamen-
te na ocupação de novas terras. A localização marítima privilegiada impõe um programa que tem efeito 
com o avanço sobre o mar.
Assim, ao dedicarmos nossa atenção a documentos formadores do que podemos chamar de “ras-
cunhos da cultura brasileira”, nosso olhar recai inevitavelmente sobre a Carta do Descobrimento, espécie 
de certidão de nascimento do Brasil. Nela estão contidos alguns dos elementos definidores da política 
e das estratégias administrativas da metrópole, além das diretrizes de que está investido o projeto co-
lonial português.
No caso do Brasil, a ausência provisória de metais preciosos contribui para que o cultivo da cana-
-de-açúcar, espécie de ouro branco, sucedâneo à exploração de ouro e prata, fosse um meio lucrativo, 
tornando viável a colônia. Desse crescimento vegetal voltado para a exportação, que prejudica o solo e 
devasta a natureza, é que demanda a necessidade da fraude ideológica que tanto atrai quanto devora 
os que saem da metrópole para se aventurar entre florestas e selvagens. Sem dúvida, o que atrai os co-
lonos é a promessa de enriquecimento, contudo, tal condição não é possível sem o esforço do trabalho 
transferido para o índio. A ocupação do Brasil efetiva-se de maneira penosa, havendo em seu processo 
dificuldades inerentes ao desconhecimento e à inadaptação provisória.
* Doutor e mestre em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bacharel em Letras pela UFRJ.
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8 | Origens da história cultural brasileira
Tudo faz crer que a diversidade animal e vegetal não impunha ao índio qualquer outro tipo de es-
forço senão o de recolher os frutos que a terra oferece. Alguns tipos de lavoura rudimentar como o culti-
vo de milho e de mandioca completam um quadro de cultura alimentar, com a vantagem de esta última 
manter-se sob a terra em estado de conservação, não sendo necessário colhê-la de uma só vez.
Sobre a visão de índios colonos a respeito do trabalho e suas relações, a ação dos religiosos inter-
fere como um terceiro termo. É procedente atentar para o fato de que Igreja e Estado unem-se em torno 
do grande projeto que representa a exploração da colônia. Da efetiva ocupação que se consolida com 
a instalação do Governo-Geral, advém um programa de contensão do índio, preparando-o a aceitar a 
nova estrutura de governo e exploração. O trabalho dos padres representa uma tentativa de pavimen-
tar o caminho a ser trilhado sem dificuldades pela ação colonizadora.A questão está posta. Os negócios da metrópole na colônia exigem um retorno e os desígnios de 
Deus diferem da vontade dos homens. É preciso fundar um modelo em que a cultura eurocêntrica pre-
domine de modo completo e absoluto, sem deixar sinais da presença do homem nativo, exilado em sua 
própria terra.
O homem e a natureza brasileira são, portanto, obstáculos a serem vencidos para a instauração 
do plantio da cana-de-açúcar, o principal elemento mantenedor do negócio colonial. De natureza nô-
made, o índio não tem como se inserir em uma ordem que não lhe cabe, nem se adaptar à faina das la-
vouras de cana-de-açúcar, por não reconhecer nenhum sistema monetário que não seja a troca de bens 
e utensílios entre as tribos. Do ponto de vista religioso, a não aceitação totêmica de entidade suprema 
o faz destituído do sentimento de reverência dos cristãos.
Por todos esses motivos cabe alinhavar o plano de exploração a partir de uma dominação de 
cunho religioso e ideológico que torne o índio uma presa fácil ao implemento definitivo de um novo 
sistema imposto à terra descoberta. Não se trata apenas da simples troca do pau-brasil por quinquilha-
rias de toda ordem, tão ao agrado das partes, mas de implementar um sistema de ocupação da terra 
que adapte o homem local às regras da colonização. Desse modo, é preciso vestir o índio, que seja com 
uma roupa de algodão, além de livrá-lo do hábito de comer carne humana. A colonização traz assim, em 
seu conjunto de medidas, elementos culturais que repetem o modelo da metrópole, adaptando modos 
discrepantes à nova terra. Dito isso, não resta outra saída senão incorporar o padrão linguístico e cultu-
ral do índio.
Desse modo, bem sabem os padres jesuítas tirar proveito de milagres e seus fenômenos. É preci-
so atribuir às hostes divinas os eventos diários. A intervenção do divino funciona de modo a ocupar o 
espaço de uma possível religiosidade indígena, quando não rejeitando sua existência. Tudo faz crer que 
as sementes da fé lançadas em terreno tão inóspito não frutificam de verdade, ficando isso por conta da 
conversão ao trabalho escravo, confundida com a conversão do espírito, uma vez que trabalhar para a 
empresa colonial justifica qualquer sacrifício.
O fato causador de espanto apresenta-se como o milagre de Deus na terra, interferindo o divino 
sobre o humano. Em verdade, os fenômenos da natureza são incorporados à religiosidade como forma 
de coisificação de uma divindade relacionada ao fogo e à punição. Assim sendo, nada melhor que bus-
car nos elementos naturais a combinação dos fundamentos da religião católica aplicada aos índios do 
Brasil. Ocorre uma oscilação entre a tentativa de divulgar a nova terra pelo auxílio de hipérboles e a in-
tenção de ampliar o quadro de uma realidade. Tanto o sagrado quanto o profano dão mostras de uma 
força mágica, seus milagres e suas heresias.
A cultura que passa a ter lugar no Brasil obedece à conciliação de interesses. A origem de nosso 
nome de batismo exclui os nomes religiosos para impor o nome do pau-de-tinta, a madeira que desde o 
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9|Origens da história cultural brasileira
início representa o motor econômico, sendo nosso primeiro produto de exportação, o pau-brasil. Trata-
-se de substituir, no século XVI, uma cultura primitiva e tribal por uma outra de caráter mercantil em 
nome da fundação de uma empresa. Assim, sucede-se a brutalização predatória agenciadora da criação 
de núcleos produtores isolados entre eles, o que caracteriza um grande arquipélago cultural e econômi-
co. O problema é agravado pelo bilinguismo, dada a presença de uma língua geral, a do índio, ao lado 
do português como língua oficial, além do latim, adotado pelos religiosos. Assim, confirmam-se as con-
dições de aculturação de formas díspares que concorrem para a construção de um terceiro termo.
Do ponto de vista biótico, é desencadeada uma guerra bacteriológica a partir de enfermidades 
que o homem europeu traz em seu corpo. Do ecológico, a destruição da natureza, reservada ao plantio, 
e a disputa por terras. Do ponto de vista econômico e social, a escravidão do índio e a ligação da colônia 
aos mercados da Europa como produtora de bens.
Somam-se cerca de três milhões de índios vivendo na extensão litorânea da terra. Podemos afir-
mar, portanto, que o implemento colonialista serve para sustar um ciclo natural de desenvolvimento 
temporal do homem. A motivação mercantil alimenta o desejo de subjugar os outros povos em situa-
ção de desigualdade, o que caracteriza a expansão marítima de Portugal no processo civilizatório, além 
da missão de agrupar o índio em torno do cristianismo.
Assim, tem efeito o encontro entre duas culturas: uma abundante, representada pelo índio vigo-
roso e sadio, habitante de uma terra vasta e fértil; outra escassa, representada pelo europeu enfermo 
e lascivo, em busca de novas terras a serem acrescentadas a seu exíguo território. Mais ainda: a solida-
riedade tribal, a vida livre e desprovida de sentido cumulativo em oposição à agitação permanente e à 
praticidade na acumulação e retenção de bens. Concluímos, assim, que a exclusão da relação entre tra-
balho e prazer, por parte do colono, ao que tudo indica, é o elemento capaz de permear a vida entre os 
índios. Sob o aspecto da destruição exercida, dá-se a colonização em total desrespeito a uma cultura 
precedente.
Em que pese a aclimatação à nova terra, a cada edificação religiosa correspondem muitas arro-
bas de açúcar, o ouro branco, que faz a fortuna de alguns e a infelicidade de outros tantos, condenados 
a verter suores e purgar seus pecados na labuta dos engenhos. A ideia do pecado ou temor a Deus re-
sulta de uma ação engendrada, um artifício de que lançam mão os jesuítas no intuito de chegar aos ín-
dios tentando distanciá-los de seus hábitos. Assim, a conversão do trovão em Deus resulta da intenção 
dos jesuítas de associar ao medo a ideia de castigo.
Os demônios mandados ao Brasil têm que se agrupar a outros demônios encontrados na terra 
pela ótica cristã. As representações indígenas, por mais que lhes sejam negadas as possibilidades de ter 
um deus, dizem respeito à ocupação de um determinado cosmus de atuação física. Sua religiosidade 
responde aos movimentos de cura do corpo, além da garantia de fartura.
Como fator agravante é acrescida a ideia do tormento na travessia marítima. Desse modo, depa-
ra-se a colonização com outra questão: o expurgo de um mal que em sua totalidade vem em seus pró-
prios navios. Imagina-se que a medicina indígena operada pelos pajés não conhece o rol de epidemias 
que paulatinamente instaura-se entre as tribos com a chegada dos colonos.
O clima de interrogação e surpresa que circunda o período das navegações e a euforia imaginati-
va que busca a substituição do inconsciente de uma Europa desgastada, tende a transferir para o novo 
mundo as atenções decorrentes dessa expectativa. Podemos dizer que o processo de colonização trans-
fere parte significativa de seu sonho coletivo para uma terra longínqua, povoada por seres exóticos, le-
vando uma vida sob prismas diversos.
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10 | Origens da história cultural brasileira
Presença portuguesa no Brasil: viajantes e missionários
Os escritos que decorrem do processo de implemento da atividade colonial no Brasil são chama-
dos de literatura de informação. Em muitos casos, o relato histórico sobre o homem e a terra é excluído 
de um sentido literário, sendo que esses documentos refletem uma visão de mundo, uma linguagem 
e a capacidade de observação de nossos primeiros visitantes, consolidando a gênese de uma cultura 
que passa a ser reconhecida, mais tarde, no plano do literário. Em várias oportunidades, a pesquisa so-
bre a cultura brasileiradebruça-se sobre esses documentos como forma de ratificar uma brasilidade im-
pressa nas imagens descritas por esses viajantes e missionários que, mesmo obedecendo ao princípio 
eurocêntrico, vigente nessa época, oferecem um vigoroso painel da vida brasileira nos primórdios da 
colonização.
A presença no Brasil de viajantes e missionários, no transcurso do século XVI e início do século 
XVII, lega à história da cultura e da literatura uma série de textos que têm a função de documentar os 
primeiros sinais dessa brasilidade. Vários são os registros, a começar pela Carta do Descobrimento, escri-
ta por Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota comandada por Pedro Álvares Cabral.
Tratando, desde logo, de estabelecer regras à ocupação, define com clareza situações e posições que 
mais tarde vêm a ser conflitantes nas relações entre religiosos e colonos em solo brasileiro. Em determinado 
trecho, adverte ao rei D. Manuel sobre a esperança de poder fazer-se cristã a toda gente da terra: “E, segun-
do que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, senão entender- 
-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer, como nós mesmos, por onde nos pareceu a to-
dos que nenhuma idolatria, nem adoração têm (CAMINHA apud PEREIRA, 1999, p. 57).”
Baseia-se na visão inicial de um povo dócil e desprovido de qualquer tipo de idolatria, podendo 
ser convertido, dado o grau de inocência em que vivem. Em outro trecho da carta, trata de não haver si-
nais de ouro nem de prata, bem como de outro metal, ainda que a terra possua bons ares:
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. 
Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste 
tempo de agora os achávamos como os de lá. (CAMINHA apud PEREIRA, 1999, p. 58)
Seguem-se à nossa “certidão de nascimento” – publicada em 1817, na Corografia Brasílica, pela 
Imprensa Régia do Rio de Janeiro – mais outros dois documentos, ainda que sem o mesmo destaque 
da conhecida Carta do Descobrimento. O primeiro é a Carta do Mestre João Faras, físico e astrólogo que 
discorre sobre os céus da nova terra, denominando de Cruzeiro do Sul a constelação do céu austral que 
passa anos a caracterizar, conforme o manuscrito guardado na Torre do Tombo; além desse, temos a 
Relação do Piloto Anônimo, cópia da versão italiana de 1507 que, à maneira de Pero Vaz de Caminha, ain-
da que resumidamente, discorre sobre a natureza e a gente da terra descoberta.
Cerca de três décadas decorrem do descobrimento ao implemento de benfeitorias que culmi-
nam no malogro das capitanias hereditárias, forma de divisão territorial implementada por D. João III, 
em 1534, cujo fracasso deve-se, entre outros fatores, à precariedade do sistema administrativo. Dessas 
capitanias, apenas duas, a de Pernambuco, de Duarte Coelho, e a de São Vicente, de Martim Afonso de 
Sousa, conseguem vingar.
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11|Origens da história cultural brasileira
Desse período é o Diário de Navegação, de Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso de Sousa, 
que trata de sua viagem de chegada ao Brasil, em 1530, além do reconhecimento da terra. Duas décadas 
separam esse documento da chegada dos primeiros jesuítas que, investidos da função de evangelizar o 
índio, normatizando a atividade religiosa na colônia, recorrem à atividade epistolar, além da poesia e do 
teatro como demonstração do seu trabalho em torno da catequese.
Devemos destacar que, com a fundação da Companhia de Jesus, impõe-se a vinda desses padres 
inacianos para o Brasil, a partir do Primeiro Governo-Geral, em 1549, e com eles a intenção de se estabe-
lecer um ordenamento capaz de conciliar interesses diversos. De um lado, os colonos, sem nenhum tipo 
de apego ao que não seja o lucro decorrente da exploração da terra e da escravidão do índio; de outro, 
os jesuítas e seu ideal de evangelização, instâncias do poder econômico e religioso em disputa.
Podemos afirmar que, tanto a sanha devastadora e predatória dos colonos quanto o intento re-
ligioso e evangelizador dos jesuítas têm por objetivo apagar por completo os resíduos de uma cultu-
ra local, impedindo a manifestação dos ciclos da vida do índio na terra e impondo novas regras, o que 
culmina no embotamento de uma em favor de outra. Para tanto, a bula Inter Arcana, de 1529, édito do 
papa Clemente VII, recomenda o uso da força para efeito da conversão do selvagem, para quem não ha-
via outro meio viável.
Assim, o padre Manuel da Nóbrega escreve o seu Diálogo sobre a Conversão do Gentio, de 1557, 
em que Gonçalo Álvares e Mateus Nogueira debatem sobre a possibilidade do cristianismo vigorar en-
tre os índios, ante a ameaça protestante, haja vista a tentativa de criação da França Antártica pelos fran-
ceses, no Rio de Janeiro. Os debatedores afirmam ser a palavra de Deus incapaz de frutificar entre os 
selvagens em face da bestialidade em que vivem, como atesta o trecho a seguir:
Gonçalo Álvares
Por demais é trabalhar com estes! São tão bestiais, que não lhes entra no coração coisa de 
Deus! Estão tão encamiçados em matar e comer, que nenhuma outra bem-aventurança sabem de-
sejar! Pregar a estes é pregar em deserto a pedras.
Mateus Nogueira
Se tiveram rei, puderam-se converter ou se adoraram alguma coisa. Mas como não sabem que 
coisa é crer nem adorar, não podem entender a pregação do Evangelho, pois ela se funda em fazer 
crer e adorar a um só Deus e a esse só servir; e como este gentio não adora nada, não crê nada, tudo 
o que lhes dizes se fica nada. (NÓBREGA apud DOURADO, [s.d.], p. 102)
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12 | Origens da história cultural brasileira
A situação de poder converter o selvagem à doutrina cristã tem ainda efeito no papel desempe-
nhado pelo teatro do padre José de Anchieta. O conhecido apóstolo do Brasil adentra a mata em busca 
do contato com os índios. Desse encontro, decorre a adaptação da língua tupi ao ideário do cristianis-
mo, utilizando-se a encenação teatral com o intuito de evangelizar. Assim, o Auto de São Lourenço é um 
exemplo da disputa entre Deus e o Diabo em terras brasileiras, recorrendo ao modelo do teatro medie-
val como forma de expressão.
De grande importância são também dois excelentes documentos sobre a terra e a gente com os 
títulos de Tratado da Terra do Brasil, publicado apenas em 1858, e História da Província de Santa Cruz, pu-
blicado em 1576, de Pero de Magalhães Gândavo, sendo este o primeiro documento sobre o Brasil es-
crito e editado em português. Nele está contido o histórico do descobrimento e da administração, além 
da descrição sobre plantas e animais, bem como sobre os costumes selvagens. Amigo pessoal do poeta 
Luís de Camões, autor dos tercetos que antecedem à História da Província de Santa Cruz, Gândavo edita 
sua obra na oficina gráfica de Antônio Gonçalves, em Lisboa, o mesmo prelo onde Camões publica Os 
Lusíadas, anos antes, em 1572.
A esse grande cronista, o primeiro a dar um ordenamento sistemático aos elementos da terra bra-
sileira, segue-se o Tratado da Terra e Gente do Brasil, do padre Fernão Cardim, jesuíta chegado ao Brasil 
em 1583, que discorre minuciosamente sobre a forma de vida entre os selvagens. Em seu relato, promo-
ve o inventário dos animais da terra e dos costumes do homem. Essa obra só vem a público em 1939.
O final do século XVI reserva ainda para a literatura de informação o minucioso Tratado Descritivo 
do Brasil, escrito em 1587, por Gabriel Soares de Sousa, cristão-novo que escreve esse tratado como for-
ma de receber da Coroa espanhola concessões e benefícios para a exploração dos recursos do interior 
brasileiro. De caráter enciclopédico, a obra enfatizaa necessidade de aprofundamento da exploração 
das terras brasileiras como via de autossuficiência, abordando ainda o papel da colonização portugue-
sa nos trópicos. A paisagem e o homem são também pontos de destaque.
Ainda sobre os textos portugueses, podemos citar Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio 
Fernandes Brandão, só publicado em 1618, publicado em forma de livro só em 1930, que mostra, atra-
vés do debate entre os interlocutores Brandônio, já adaptado à colônia, e Alviano, recém-chegado de 
Portugal, os prós e os contras da terra brasileira, querendo parecer uma espécie de guia destinado aos 
principiantes na nova terra.
Além dos portugueses, viajantes e missionários de outras nacionalidades vêm ao Brasil no trans-
curso do século XVI, e sobre a terra dedicaram trechos de relatos ou obras inteiras. São os casos dos ita-
lianos Américo Vespúcio, em Cartas de Viagem, de passagem pelo Brasil, em 1504, e Antonio Pigafetta, 
Primeira Viagem ao Redor do Mundo, relato da viagem na expedição de Fernão de Magalhães, em 1519; 
dos alemães Ulrich Schmidel, em Roteiro e Viagem à Espanha e às Índias, que visita o Rio de Janeiro, em 
1536, e Hans Staden, em Duas Viagens ao Brasil, publicado em 1557; dos franceses André Thevet, em 
Singularidades da França Antártica, e Jean de Léry, em Viagem à Terra do Brasil, que participam da ten-
tativa de instauração do protestantismo no Rio de Janeiro, por volta de 1555; do espanhol Álvar Nuñes 
Cabeza de Vaca, em Naufrágios e Comentários, no Brasil por volta de 1541; do inglês Anthony Knivet, em 
Da Inglaterra ao Mar do Sul, em companhia de Thomaz Cadish, que tenta uma invasão ao litoral brasileiro, 
em 1591, além dos padres capuchinhos franceses Claude d’Abbeville, em História da Missão dos Padres 
Capuchinhos na Ilha do Maranhão, e Ive d’Evreux, em Viagem ao Norte do Brasil, representantes da mis-
são religiosa que desembarca no Maranhão, em 1614.
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13|Origens da história cultural brasileira
Mito e decadência: sebastianismo e domínio espanhol
No canto terceiro de Os Lusíadas, Vasco da Gama, após sua chegada, narra ao rei de Melinde a his-
tória de Portugal, dando mostras da afirmação da nacionalidade portuguesa como representação glo-
riosa dos feitos humanos. A epopeia de Camões, publicada em 1572, põe em evidência o orgulho da 
gente portuguesa que tem na viagem às Índias um evento capaz de alçar a pátria a um lugar de desta-
que na história da humanidade. É assim que o poeta exalta, ao cantar “o ilustre peito lusitano”, a bravura 
e o vigor do homem português.
Séculos mais tarde, em 1934, Fernando Pessoa personifica o mito das navegações e das grandes 
conquistas marítimas através de seus heróis. O livro Mensagem na verdade é um conjunto de 44 poemas 
que também pode ser lido como uma epopeia, e evidencia o desejo desfeito da grande nação em seu 
sonho de constituir o “Quinto Império”. No poema “O infante”, “Deus quer, o homem sonha, a obra nas-
ce”, ou seja, a vontade de Deus, aliada ao desejo humano, resulta na realização da obra materializada.
Quem lê Os Lusíadas, em cujo canto primeiro está o oferecimento ao rei D. Sebastião, não imagi-
na que tanta grandeza tenha um final que já se aproxima. No oferecimento, Camões ([s.d.], p. 55) serve- 
-se das estâncias de 6 a 18 para exaltar a figura do rei:
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E, quando desce, o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:
Inclinai por um pouco a majestade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgados numerosos.
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14 | Origens da história cultural brasileira
Em verdade, o trono português vive um momento de crise, com a morte de D. João III, em 1557, 
quando D. Sebastião, seu neto, conta apenas três anos de idade. A 20 de janeiro de 1554, o nascimen-
to do futuro rei é recebido com grandes celebrações, por se tratar de um varão, o que provisoriamen-
te susta o problema da sucessão ao trono. No entanto, a morte do monarca antecipa a previsão de uma 
crise anunciada. Órfão de pai, que morre dias antes de seu nascimento, D. Sebastião é a única represen-
tação na ordem sucessória a ser legitimada. Assim, sob a regência de D. Catarina e depois do cardeal D. 
Henrique, D. Sebastião recebe o poder aos 14 anos, tornando-se rei de Portugal.
A situação problemática que envolve sua ascensão prematura ao trono é agravada pelo endivida-
mento decorrente do enriquecimento súbito seguido de grandes dispêndios, o que aprofunda a crise 
financeira da Coroa. O número de cortesãos sustentados pelo reino é enorme e os prejuízos no merca-
do de especiarias provocam o início de um grave abalo. Além disso, a antiga rota do Mar Vermelho é 
restabelecida e agora os produtos do Oriente chegam à Europa por duas vias, fazendo com que a con-
corrência baixe os preços de venda e aumente o valor das compras. A guerra contra os turcos exige o 
dispêndio de bens em navios, canhões e contingente. O avanço do poder dos mouros faz do Norte da 
África um território unificado. Os costumes de luxo e opulência da fidalguia aumentam os gastos da 
Corte, o que concorre para sangrar mais ainda seus já combalidos cofres. Ainda, a perseguição aos cris-
tãos-novos faz com que o empresariado fuja, levando seus capitais.
O jovem rei investe na guerra contra os turcos, considerando-se um soldado de Deus em de-
fesa da cristandade e contra o avanço dos hereges. Ainda que aconselhado, por conta da amea-
ça ao trono, mantém-se solteiro, sem deixar herdeiros. Diante do quadro de guerra, o próprio rei 
organiza um exército com cerca de 17 mil homens, pois, segundo ele, há a possibilidade dos mou-
ros invadirem a Espanha e ameaçarem a cristandade europeia. Comandando pessoalmente as tro-
pas, desembarca em Tanger e avança por Alcácer Quibir. Os exércitos marroquinos dispõem de 40 mil 
homens. Os portugueses, longe do litoral e vencidos pela sede e pelo cansaço, são massacrados. A 
metade da tropa é dizimada e a outra metade tornada prisioneira. No dia quatro de agosto de 1578 
D. Sebastião, o último rei da dinastia de Avis, sucumbe nas areias do deserto.
Esse episódio funesto é retomado pelo teatro português do século XIX, em 1843, quando é en-
cenado o drama Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Nele, Manuel de Sousa Coutinho e Madalena de 
Vilhena casam-se à revelia do corpo insepulto de D. João de Portugal, marido desta, desaparecido em 
Alcácer Quibir, que anos mais tarde retorna a Portugal na figura de um romeiro.
O rei-menino, de desejado passa à condição de encoberto. Do homem ao mito, a história se com-
pleta, como Fernando Pessoa aborda (1980, p. 50-51) no poema “D. Sebastião, rei de Portugal”:
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
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15|Origens da história cultural brasileira
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
O corpo insepulto do rei transcende a realidade e transforma-se em mito. D. Sebastião agora vive 
em uma ilha encoberto por uma névoa espessa e sua nau deve voltar, singrando as águas do porto e 
trazendo de volta o sonho de grandezae opulência. O mito tem grande repercussão popular, consti-
tuindo o imaginário de um povo que passa a ver no fracasso de Alcácer Quibir a idolatria a D. Sebastião 
como grande herói. O trono vago passa às mãos do cardeal D. Henrique. Velho e doente, o cardeal-rei 
morre em janeiro de 1580. Desse modo, Felipe II, da Espanha, na condição de herdeiro legítimo, coman-
da um exército que entra em Portugal, assumindo o trono e dando início ao que se denominou domí-
nio espanhol.
Com o domínio espanhol, que dura até 1640, a moeda e a língua dos portugueses continuam a 
ser as mesmas, além de ser mantido o comércio com a África e o Oriente. Por sua vez, os espanhóis têm 
que enfrentar dois grandes inimigos: os ingleses e os holandeses, que passam a saquear seus navios de 
carga. Os prejuízos são imensos, mas compensados pelos lucros com o açúcar e o tabaco oriundos do 
Brasil, agora entre os maiores produtores mundiais. Por outro lado, além do agravamento da crise de-
corrente do esgotamento das minas de ouro do Peru, os espanhóis enfrentam duas invasões holande-
sas ao Brasil – Bahia e Pernambuco – de onde os inimigos são rechaçados anos mais tarde.
A esse respeito e sob a ameaça de uma segunda invasão holandesa à Bahia, em 1640, o padre 
Antônio Vieira profere o “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as da Holanda”, do 
qual reproduzimos um trecho. É interessante notar a engenharia verbal de que o religioso serve-se em 
seu sermão, caracterizando o auge do discurso conceptista Barroco, que veremos na unidade seguinte:
O que venho a pedir ou protestar, Senhor, é que nos ajudeis e nos libertais. Adjuva nos, est redime nos. Mui conformes 
são estas petições ambas ao lugar e ao tempo.
Em tempo que tão oprimidos e tão cativos estamos, que devemos pedir com maior necessidade, senão que nos liber-
teis: Redime nos? E na casa da Senhora da ajuda, que devemos esperar com maior confiança, senão que nos ajudeis: 
Adjuva nos? Não hei de pedir pedindo, senão protestando e argumentando; pois esta é a licença e a liberdade que tem 
quem não pede favor, senão justiça. Se a causa fora só nossa e eu viera a rogar só por nosso remédio, pedira favor e mi-
sericórdia. Mas como a causa, Senhor, é mais vossa que nossa, e como a requerer por parte de vossa honra e glória, e 
pelo crédito de vosso nome – Propter nomen tuum – razão é que peça só razão, justo é que peça só justiça. Sobre esse 
pressuposto vos hei de arguir, vos hei de argumentar, e confio tanto em vossa benignidade, que também vos hei de 
convencer. Se chegar a me queixar de vós e a acusar as dilatações de vossa justiça, ou as desatenções de vossa miseri-
córdia: Quare obdormis? quare oblivisceris? Não será esta vez a primeira em que sofrestes semelhantes excessos a quem 
advoga por vossa causa. As custas de toda a demanda também vós, Senhor, as haveis de pagar, porque me há de dar 
vossa mesma graça as razões com que vos hei de arguir, a eficácia com que vos hei de apertar e todas as armas com 
que vos hei de render. E se para isto não bastam os merecimentos da causa, suprirão os da Virgem Santíssima, em cuja 
ajuda principalmente confio. Ave Maria. (VIEIRA apud GOMES, 1975, p. 20)
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16 | Origens da história cultural brasileira
Ainda em 1640, com a eclosão de uma revolta na Catalunha e a mobilização dos fidalgos portu-
gueses para a guerra, começa uma conspiração para devolver o trono aos portugueses. Desse modo, 
D. João, duque de Bragança, é investido da condição de rei, depois de um golpe que imobilizou as tro-
pas espanholas estacionadas em Lisboa. A esse episódio dá-se o nome de restauração, quando termina 
o domínio espanhol.
Texto complementar
A dialética do culto e da cultura na condição colonial
(BOSI, 1993)
O que pesa e importa quando se pesquisa a vida colonial brasileira como tecido de valores e 
significados é justamente essa complexa aliança de um sistema agromercantil, voltado para a má-
quina econômica europeia, como uma condição doméstica tradicional, quando não francamente 
arcaica nos seus mores e nas suas políticas.
Distingo os termos sistema e condição para marcar nitidamente as notas desse acorde que pa-
rece justo e consonante a alguns ouvidos, mas dissonante e desafinado a outros. Por sistema enten-
do uma totalidade articulada objetivamente. O sistema colonial, como realidade histórica de longa 
duração, tem sido objeto de análises estruturais de fôlego, como o fizeram, com tônicas diversas, 
Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado, Fernando Novais, Maria Sylvia Carvalho Franco 
e Jacob Gorender, para citar alguns de seus maiores estudiosos.
A vida econômica nos três primeiros séculos da colonização portuguesa no Brasil travou-se 
por meio de mecanismos que podem ser quantificados, pois se traduzem em números de produ-
ção e circulação, isto é, em cifras de bens e de força de trabalho. Muito antes de se pensar em histó-
ria quantitativa, o poeta Gregório de Matos, em um ardido soneto barroco que dedicou à cidade da 
Bahia nos fins do século XVII, falava em máquina mercante, à letra, nau de mercadorias, expressão 
que se poderia, por metonímia, estender a toda a engrenagem comercial vigente na colônia.
Na formação do sistema exigiram-se reciprocamente tráfico e senzala, monopólio e monocul-
tura. No plano internacional, determinou-se o ciclo de fluxo e refluxo da mercancia colonizada nas 
linhas das flutuações do mercado e sob o império da concorrência entre os Estados metropolitanos. 
Em suma, a reprodução do sistema no Brasil e o seu nexo com as economias centrais cunharam a 
frente e o verso da mesma moeda.
Quanto ao termo condição, atinge experiências mais difusas do que as regularidades da produ-
ção e do mercado. Condição toca em modos ou estilos de viver e sobreviver. Fala-se naturalmente 
em condição humana, não se diz jamais sistema humano. E não por acaso.
A condição senhorial e a condição escrava supunham um desempenho de papéis no sistema 
produtivo, objeto de uma análise funcional da economia do açúcar, mas não se reduziam ao exer-
cício das ações correspondentes a esses mesmos papéis. Condição traz em si as múltiplas formas 
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17|Origens da história cultural brasileira
concretas da existência interpessoal e subjetiva, a memória e o sonho, as marcas do cotidiano no 
coração e na mente, o modo de nascer, de comer, de morar, de dormir, de amar, de chorar, de rezar, 
de cantar, de morrer e ser sepultado.
[...]
Os elementos da cultura material apontados ad nauseam como exemplos de adaptação do co-
lonizador ao colonizado não deveriam ser chamados a provar mais do que podem. Ilustram o uso e 
abuso do nativo e do africano pelo português tanto no nível do sistema econômico global quanto 
nos hábitos enraizados na corporeidade. Por que idealizar o que aconteceu? Deve o estudioso bra-
sileiro competir com outros povos irmãos para saber quem foi melhor colonizado? Não me parece 
que o conhecimento justo do processo avance por meio desse jogo inconsciente e muitas vezes in-
gênuo de comparações que necessariamente favorecem o nosso colonizador.
Importaria perguntar se, para além das adaptações mais evidentes, não teriam o culto e a cul-
tura (e a arte que de ambos se nutre) suprido, pela sua faculdade de dar sentido à vida, tudo quanto 
a rotina deixa insatisfeito ou intocado.
A reprodução de um certo esquema de hábitos suportou, é certo, os andaimes da estrutura co-
lonial, mas teria essa máquina de consumir, produzir e vender preenchido todos os valores e ideais, 
todos os sonhos e desejos que colonizadores e colonizados trouxeram em seu passado ou proje-
taram no futuro ainda que de maneira apenas potencial? Em outras palavras: foi a colonização um 
processo de fusões epositividades no qual tudo se acabou ajustando, carências materiais e formas 
simbólicas, precisões imediatas e imaginário; ou, ao lado de uma engrenagem de peças entrosadas, 
se teria produzido uma dialética de rupturas, diferenças, contrastes?
[...]
A transportação para o Novo Mundo de padrões de comportamento e linguagem deu resulta-
dos díspares. À primeira vista, a cultura letrada parece repetir, sem alternativa, o modelo europeu; 
mas, posta em situação, em face do índio, ela é estimulada, para não dizer constrangida, a inventar. 
Que o primeiro aculturador dê exemplo: Anchieta compõe em latim clássico o seu poema à Virgem 
Maria quando, refém dos tamoios na praia de Iperoígue, sente necessidade de purificar-se. O mes-
mo Anchieta aprende tupi e faz cantar e rezar nessa língua os anjos e santos do catolicismo medie-
val nos autos que encena com os curumins. Uma antiga forma literária, a epopeia, nobilitada pela 
Renascença italiana, molda conteúdos de uma situação colonial, no primeiro caso. No segundo, po-
rém, o jesuíta aguilhoado pelas urgências da missão precisou mudar de código, não por motivos de 
mensagem, mas de destinatário. O novo público e, mais do que público, participante de um novo e 
singular teatro, requer uma linguagem que não pode absolutamente ser a do colonizador.
E há mais: Anchieta inventa um imaginário estranho sincrético, nem só católico, nem puramen-
te tupi-guarani, quando forja figuras míticas chamadas karaibebé, literalmente profetas que voam, 
nos quais o nativo identificava talvez os anunciadores da Terra sem Mal, e os cristãos reconheciam 
os anjos mensageiros alados da Bíblia. Ou Tupansy, mãe de Tupã, para dizer um atributo de Nossa 
Senhora. De mãos dadas caminhavam a cultura-reflexo e a cultura-criação.
É necessário acompanhar de perto o dinamismo peculiar à missão jesuítica no Brasil com toda 
a sua exigência de fidelidade aos votos jurados na península durante a Contrarreforma. Virá o mo-
mento de se apartarem e se hostilizarem a cruz e a espada, que desceram juntas das caravelas, mas 
que acabaram disputando o bem comum, o corpo e a alma do índio.
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18 | Origens da história cultural brasileira
Estudos literários
1. A colonização portuguesa no Brasil enfrenta o problema da adaptação entre culturas e interesses 
diferentes. De um lado, a cultura europeia, representada pela escassez e pela repressão; de outro, 
a do selvagem, representada pela abundância e pela liberdade. Dito isso, discorra sobre o que re-
presentou o encontro entre colonos, índios e religiosos no Brasil.
2. A ideia geral dos viajantes e missionários de passagem pelo Brasil é a de que os índios são bárba-
ros, para quem a conversão não terá nenhum resultado positivo. De que maneira Gonçalo Álvares 
e Mateus Nogueira confirmam essa ideia no Diálogo sobre a Conversão do Gentio?
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19|Origens da história cultural brasileira
3. Em que pese a visão eurocêntrica dos viajantes e missionários, a literatura de informação serve 
também como espécie de “rascunho da cultura brasileira”, abordando aspectos interessantes da 
natureza e do homem. Discorra sobre o assunto.
4. O sebastianismo manteve-se por longo tempo presente na memória afetiva do povo português. 
Além disso, a literatura serve para confirmar o lugar do mito, como no caso do livro Mensagem, de 
Fernando Pessoa, no qual o poema “D. Sebastião, rei de Portugal” nos oferece uma leitura especí-
fica sobre o tema. Discorra sobre o assunto.
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20 | Origens da história cultural brasileira
Gabarito
1. O encontro entre os índios donos da terra, os colonos desbravadores e os religiosos evangeliza-
dores representou a primeira possibilidade de confronto entre culturas e interesses. Assim sendo, 
a colonização em sua origem deparou-se com questões inconciliáveis, o que resultou na violência 
que marca esse período. A gênese de nossa história é representada pela ideia do conflito entre as 
razões religiosa e econômica, situando entre elas os índios como elementos intermediadores des-
sa questão. Dito isso, podemos entender o descompasso que marcou boa parte da vida brasileira 
durante a colonização.
2. O Diálogo sobre a Conversão do Gentio, do Padre Manuel da Nóbrega, ressalta a conversão dos ín-
dios ao catolicismo como improvável, dada a condição de nomadismo, selvageria e descrença em 
que vivem. O trabalho jesuíta, portanto, seria debalde. Em vão, os padres buscam conciliar a di-
vergência religiosa que separa os índios de seu ideal. Gonçalo Álvares e Mateus Nogueira são os 
interlocutores dessa constatação. Diante disso, há neles a descrença quanto ao êxito dos efeitos 
da catequese, pela completa descrença dos índios nas coisas da fé.
3. Os nossos principais autores de informação, apesar da leitura por vezes parcial sobre a vida na 
colônia, tendem a enumerar aspectos bastante interessantes sobre o homem e a terra brasileira. 
Desse modo, podemos identificar nos primeiros documentos de nossa literatura de informação 
os elementos inusitados da fauna e da flora, bem como aspectos humanos diferenciados de um 
modelo, o que serve de atrativo ao imaginário europeu. A literatura de informação serve ainda 
como formadora de um imaginário que transita de forma excepcional entre a realidade e a ficção, 
querendo parecer bastante tênue a linha divisória entre esses dois aspectos.
4. O mito de D. Sebastião chegou até o século XX como uma espécie de preservação, por parte dos 
portugueses, de um “sonho da grandeza perdida”. O suposto retorno do rei, morto na batalha de 
Alcácer Quibir, alimenta o sonho de opulência que pontificou no período das grandes navegações, 
representado pela constituição do que seria o Quinto Império. Fernando Pessoa, ao enfocar esse 
mito, através de Mensagem, reafirma o passado glorioso de Portugal como uma extensão do 
sonho presente, o que serve e mantém vivo – no imaginário desgastado e combalido de um 
Portugal do século XX – o desejo de glória e bem-aventurança do povo português.
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A grandeza do Barroco e a 
riqueza da colônia
O Barroco no Brasil sugere um momento de transição, espécie de divisor de águas entre o fim de 
um Renascimento promissor e a grave crise que se instaura no pensamento do homem europeu a partir 
do movimento Reforma versus Contrarreforma. Imaginemos que a Europa medieval, sob o primado do 
pensamento teocêntrico de afirmação de Deus acima dos desígnios humanos, ofereça uma previsibili-
dade da vida a que o homem segue sem maiores conflitos. Imaginemos ainda um universo de pessoas 
de certo modo confiantes, convictas de seu destino na terra. Em Deus reside a grande promessa e a res-
posta para todas as questões. Assim sendo, não há porque o homem se importar ou temer por mudan-
ças que não vêm. Os ricos continuam ricos e os pobres resignadamente pobres. Não há, portanto, nos 
setores baixos da sociedade medieval, o desejo de crescimento ou a ambição material que passa a ter 
lugar com a ascensão dos burgueses na economia do final da Idade Média. Com isso, em seguida, já no 
final do século XVI, à euforia do Renascimento é acrescida a crise que origina o Barroco. As aspirações do 
homem, portanto, são debalde. A oscilação entre classes sociais, representadas pelo declínio de setores 
da nobreza e pela subida ao poder de camadas baixas, é responsável pelo clima de inquietação que se 
apodera do homem seiscentista.
Na Bahia, capital da colônia, o açúcar representa o principal veículo de ligação com a metrópole. 
Salvador, nesse tempo, é considerada como a pérola doAtlântico. De seu porto saem levas do produto 
que adoça o paladar europeu. É nesse clima que o Barroco se impõe como modelo de uma alegoria do 
contraste entre a riqueza e a pobreza, como alerta o poeta Gregório de Matos (2000, p. 40) em “À Cidade 
da Bahia”, poema que serve como exemplo claro da relação da colônia com a metrópole no que se refe-
re à exploração e à troca desigual:
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estais e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
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22 | A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
A ti tocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio, e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote.
O açúcar excelente é trocado pelas drogas inúteis do Brichote – corruptela de British –, como é 
chamado pejorativamente o inglês, mercador dos mares que aporta no Brasil. A dessemelhança pre-
sente nos faz indagar sobre a relação conflituosa trazida à tona no poema. A colônia e, especificamente, 
a Bahia, é o ponto de atração para onde converge o negociante em busca de um bom negócio. A má-
quina mercante é movida pela troca de bens úteis por bens inúteis; na larga barra da Baía de Todos os 
Santos, onde se situa a capital da colônia, são movimentadas essas mercadorias.
A Bahia de Gregório de Matos é a terra da eloquência de um discurso barroco com ênfase nos tor-
neios de linguagem, os quais reforçam as contradições de um sistema que, após a restauração, vem a 
ter por sorte a descoberta dadivosa do ouro de Minas Gerais. Gregório de Matos é a voz dissonante de 
um poeta que se vê no centro nervoso de uma cidade rica que, paulatinamente, empobrece. O “Boca do 
Inferno” lança mão de sua verve ferina para tratar da crise moral e econômica da colônia.
Assim, diante da crise do açúcar baiano, Gregório de Matos trata de falar o que sente, condenan-
do o roubo e os desmandos que tornam cada vez mais triste e lamentável a sua Bahia. A sátira do vate 
baiano é a ponta de lança afiada que visa atingir o âmago de uma estrutura de poder que acaba por 
condená-lo ao degredo em Angola. Portugal e Brasil são, desse modo, as duas pontas de um novelo a 
que o poeta desenrola. O modelo de uma sátira lusitana se insere na crítica à burguesia colonial de no-
vos-ricos que aspiram a nobreza e decaem às profundezas da crise que os empobrece.
Ao trânsito de um ideário barroco que se insere na relação da metrópole com a colônia, no ou-
tro extremo da questão comum ao Brasil, coloca-se a figura do padre Antônio Vieira, exemplo máximo 
da retórica barroca. Orador de grande erudição e pensamento, notável por sua percepção e capacida-
de crítica, o famoso jesuíta é alguém que alia à oratória religiosa o discurso político, seja denunciando a 
ganância dos colonos na forma violenta de escravizar, ou ainda alertando para o perigo do protestantis-
mo, remediado apenas pelos efeitos da semeadura da palavra de Deus.
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23|A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
A engenharia retórica de seu discurso atende a um tipo especial de inteligência, que aborda as 
contradições do sistema, do qual vem a ser um crítico feroz. Instado a responder por crime de heresia, 
diante de um tribunal do Santo Ofício, acusado por conta da leitura das “Trovas”, de Bandarra, o proféti-
co sapateiro de Trancoso, e a alusão à fundação do Quinto Império, o padre Antônio Vieira defende-se 
num longo manuscrito, com cerca de 900 folhas, utilizando-se de uma forma peculiar de esgrima com 
as nuances do discurso conceptista, sobre o qual exerce absoluto domínio retórico e persuasivo. Por fim, 
diante dessa penosa demanda que lhe confina ao cárcere, mas não lhe priva das ideias, afirma seu de-
sejo por um reino de justiça a ter efeito aqui na terra, neste mundo e nesta vida, não podendo esperar 
que a morte nos dê essa ventura.
Sua obra, entre outras questões, aponta para a divergência entre os propósitos da colonização e 
da evangelização. O padre Antônio Vieira é responsável pelo enfrentamento desse conflito. No “Sermão 
da Sexagésima”, trata do fruto da palavra de Deus no coração do homem, querendo parecer ser de res-
ponsabilidade do pregador o mau fruto da pregação:
[...] Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro de si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são 
necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus 
concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conver-
são das almas por meio da pregação depende desses três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles 
devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, por parte do pregador, ou por parte de Deus? (VIEIRA, [s.d.], p. 47)
Assim, o padre Antônio Vieira, na condição de conselheiro do rei D. João IV, suscita a criação da 
Companhia das Índias Ocidentais, estabelecendo a relação direta entre o porto de Lisboa e os portos da 
Bahia e do Rio de Janeiro, tendo a empresa fundado o monopólio de certos produtos como o vinho, o 
azeite, a farinha e o bacalhau em troca da escolta das frotas que levam para a metrópole o açúcar e o ta-
baco, sob a ameaça de serem saqueadas.
A grande contradição de seu discurso reside no fato de que o negócio da Companhia das Índias 
Ocidentais tem como financiadores os cristãos-novos, ameaçados pela Inquisição. Do outro lado da 
questão, seus sermões, a exemplo do “Sermão da Sexagésima”, ao denunciar a falta de fé, e do “Sermão 
de Santo Antônio”, ao se indispor contra a ganância e a corrupção, parecem contrariar sua atitude ao 
defender os cristãos-novos e ser a favor do comércio marítimo ao modelo de países como a Inglaterra 
e a Holanda. 
Assim, Alfredo Bosi (1993, p. 120) esclarece sobre o desempenho do religioso:
Vieira, ao contrário do poeta saudoso do “Antigo Estado”, sabia que a máquina mercante viera para ficar, irreversível, ine-
xorável. E que, sendo inútil lastimar a sua intrusão nos portos da colônia, importava dominá-la imitando seus mecanis-
mos e criando, na esfera do poder monárquico luso, uma estrutura similar que pudesse vencê-la na concorrência entre 
os impérios.
No quadro geral do colonialismo, tanto o xadrez de palavras da poesia de Gregório de Matos, as-
sim como o jogo de ideias dos sermões do padre Antônio Vieira situam a Bahia, capital da colônia, no 
centro de irradiação da grande literatura barroca. É interessante ressaltar o debate de ideias a partir do 
qual Antonio Candido e Haroldo de Campos, críticos do século XX, vão situar a questão. Para o primei-
ro, a poesia de Gregório de Matos não representa o início de uma literatura brasileira, na medida em 
que nesse tempo não existe no Brasil qualquer indício de vida cultural como bibliotecas, universidades, 
imprensa, livrarias, que constitua um “sistema literário”, não existindo, tampouco, público, crítica e obra 
(CANDIDO, 1993). A argumentação de Haroldo de Campos (1989) diz ter havido o que chama de “se-
questro do Barroco”, querendo crer no fato de obras poderem existir mesmo na ausência de meios.
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24 | A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Já no alvorecer do século XVII, em 1711, o padre jesuíta João Antônio Andreoni, italiano que vem ao 
Brasil a convite do padre Antônio Vieira, já estabelecido como reitor do Colégio dos Jesuítas na Bahia,tem 
a edição de sua obra Cultura e Opulência do Brasil1, publicada em Portugal, queimada pela Ordem Régia, já 
que o governo português de D. João V se opõe à divulgação na Europa das riquezas brasileiras, sobretudo 
o ouro. O padre André João Antonil – anagrama que adota – aborda a exploração de bens como o açúcar, 
o ouro e o tabaco, além da atividade pecuária. Sobre o ouro, este bem constitui uma realidade presente. 
Se nos documentos de informação do século XVI há uma visível intenção em difundir a possibilidade da 
existência de ouro no Brasil agora, no século XVIII, o ouro explorado deve ter sua propaganda evitada 
por conta da cobiça de outras nações.
O ouro descoberto no Brasil contribui para que o esplendor do Barroco se manifeste, ganhando 
em requinte e opulência. Ainda que em grande parte exportado, sua produção contribui para o enri-
quecimento da arte sacra, sobretudo na Bahia e em Minas Gerais, ponto central da produção aurífera 
para onde se deslocam os interesses da metrópole. Minas passa à condição de polo de atração da vida 
brasileira, sendo a arte sacra barroca a tradução de um momento de grandeza. Os reflexos do Barroco 
europeu conciliam-se à exaltação cristã refletida na arquitetura colonial. Na falta de uma tradição pre-
cedente, prevalece uma arquitetura europeia transplantada para a colônia.
A colônia e a metrópole: conflitos do século XVIII
A expansão das riquezas brasileiras tem como resultado as primeiras levas de ouro para Portugal. 
Depois de uma espera de cerca de um século e meio, no final do século XVIII o metal precioso se con-
solida em sua existência. Na região denominada como Minas Gerais, a cerca de quatrocentos quilôme-
tros da costa litorânea, surge em quantidade o ouro de aluvião. Isso significa que uma verdadeira febre 
toma conta do território por cerca de meio século ou um pouco mais. Nesse período, a terra explorada 
se converte em centro de atração da atividade econômica da colônia, obrigando, mais tarde, em 1763, 
a mudança da capital da Bahia para o Rio de Janeiro.
Do ponto de vista de sua exploração e comércio, o ouro fica nas mãos da iniciativa privada, haven-
do por parte da Coroa portuguesa a cobrança de 20% de cada parte explorada, daí justificar-se à época 
a expressão “quintos do Brasil”. O não cumprimento à cobrança desse imposto dá margem à sonegação 
seguida de contrabando. Como uma parte desse ouro tende a ficar no Brasil, isso contribui para a gran-
deza do Barroco como estilo, além de dar origem a uma classe média esclarecida quanto ao seu lugar e, 
portanto, portadora de um sentimento de liberdade da colônia ante o jugo da metrópole. Essa riqueza 
acaba por definir as classes sociais no Brasil. Não somente a descoberta do ouro, mas também dos dia-
mantes fazem de Minas Gerais o grande centro explorador desses bens.
Com o retorno a um mundo de opulência, como no período anterior ao domínio espanhol, o ouro 
e os diamantes do Brasil constituem um ciclo representado pelo reinado de D. João V, que correspon-
de à primeira metade do século XVIII. Por sua vez, a falta de uma estrutura empresarial e administrativa 
promove a diluição desse patrimônio, que serve à manutenção de um mundo de grandeza, pagando as 
despesas dos produtos consumidos comprados à França e à Inglaterra, principalmente.
1 ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.
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25|A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Nesse período de apogeu, representado pelo ouro brasileiro, Portugal busca recuperar o seu 
prestígio internacional, ofuscado pelo período do domínio espanhol. Após ter interferido em questões 
como a Guerra da Sucessão espanhola ou ter entrado em conflito com o Vaticano, Portugal obtém ex-
pressivo êxito com a assinatura do Tratado de Madrid, colocando um ponto final à situação das fron-
teiras do Brasil. Por conta da cessão da colônia de Sacramento, ao sul, as fronteiras do norte e do oeste, 
onde se inclui a Amazônia, de propriedade da Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, passam a 
pertencer a Portugal. 
Com tudo isso, além dos ecos do Iluminismo francês, ocorrem transformações na concepção de 
vida das elites, agora interessadas em cultura. O que constitui o saber letrado, em poder da Companhia 
de Jesus desde o século XVI, passa a ser questionado, ainda que a Inquisição exerça sua força contra o 
que representam os novos ideais de integração de Portugal a uma modernização nos moldes de outros 
países da Europa. Existem vários exilados por motivos religiosos e diplomáticos que buscam adequar a 
vida portuguesa aos novos encaminhamentos legados pelo mundo do esclarecimento. Entre eles pon-
tifica a figura do diplomata Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, como fica conhe-
cido pelo título que lhe é dado pelo rei D. João V.
Homem de forte personalidade, levado pelos ideais do absolutismo esclarecido, o Marquês de 
Pombal exerce um papel relevante junto ao rei, assumindo poderes irrestritos. Assim, com o funesto epi-
sódio do terremoto que destrói boa parte de Lisboa, em 1755, toma a postura inusitada de não reparar 
os edifícios parcialmente danificados, ordenando a demolição destes para a construção de uma nova 
cidade. Influenciado pelos feitos da burguesia comercial na Inglaterra, ordena que a reconstrução da ci-
dade seja feita de modo a não revelar qualquer situação de superioridade social e econômica, alinhan-
do as igrejas à altura das demais construções.
Em seguida, depois de acusar a Companhia de Jesus pelo atentado ao rei D. José, expulsa os 
inacianos de Portugal, tendo-lhes confiscado os bens. A censura da Inquisição perde seu poder, pas-
sando à competência do Estado. Mas o grande feito pombalino é a reorganização do comércio, consi-
derada atribuição da iniciativa privada, mas sob o aval do Estado, sendo ainda criada a primeira Escola 
de Ensino Superior dedicada ao estudo da atividade comercial. Ainda no âmbito das reformas, com a 
expulsão dos jesuítas o ensino passa a ser de responsabilidade pública, sendo construídas escolas de 
Ensino Primário e Secundário, além da reforma da universidade, considerada inovadora para os padrões 
da época. Depois de 27 anos no exercício do poder absolutista, o Marquês de Pombal consegue trans-
formar a antiga monarquia semifeudal em um Estado moderno, em que prevalece o poder da alta bur-
guesia. 
No âmbito do Brasil Colônia, as reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal interferem de 
modo a despertar uma nova concepção que ganha relevo na criação cultural e artística. Com o esgo-
tamento do modelo colonial e o crescimento da insatisfação de setores emergentes da sociedade, a si-
tuação no Brasil tende a seguir os rumos da arte e da política, havendo imbricações entre estas. Daí o 
fomento à atividade científica e cultural no Brasil, com a criação de instituições em várias partes tais 
como a Academia dos Seletos, em 1752, Academia Brasílica dos Acadêmicos Renascidos, em 1759, a 
Colônia Ultramarina, em 1764, a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, em 1768, ou ainda a Academia 
Científica do Rio de Janeiro, em 1772. Em Minas Gerais, a cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, concentra 
a atividade dos poetas árcades ligados ao movimento por independência que fica conhecido como 
Conjuração Mineira.
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26 | A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
A poesia árcade recorre ao encontro da natureza com a tradição clássica. A crítica burguesa está 
na ordem do pensamento contrário ao prolongamento de um modelo colonial em franca decadência. 
O conceito de verossimilhança, herdado da tradição clássica, encontra no Arcadismo brasileiro o lugar 
ideal à incorporação de um discurso mimético de valorização donatural. Assim sendo, nada melhor se 
presta à definição de uma Arcádia nos trópicos que as alterosas mineiras, para onde convergem os inte-
resses econômicos, transformada em cenário de ação da poesia.
Nessa conjuntura, a influência dos filósofos do Iluminismo francês como Voltaire e Rousseau nas 
Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, tomados de contrabando no Brasil, incita o debate de 
ideias que se contrapõe ao pensamento pombalino contido na epopeia O Uraguai, de Basílio da Gama. 
Num modelo mais pleno de nosso Arcadismo, os mitos gregos encontram no real da natureza brasilei-
ra o plano de beleza e simplicidade como essência de vida. Assim recorremos ao exemplo do poema 
“Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga de onde citamos um trecho:
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro, 
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado;
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste.
Ao som dela concerto a voz celeste
Nem canto letra, que não seja minha.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
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27|A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Depois que o teu afeto me segura
Que queres do que tenho ser Senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.
 Graças, Marília minha,
 Graças à minha Estrela!
(A Poesia dos Inconfidentes. COSTA, Cláudio Manuel da; GONZAGA, Tomás Antônio; PEIXOTO, Alvarenga. 
 Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996, p. 573.)
A paisagem mineira é idealizada nos moldes de uma simplicidade que remete à Antiguidade atra-
vés de um locus amoenus que vê na existência humana um estado de perfeição adequado à natureza.
Tomás Antônio Gonzaga compõe também a sátira Cartas Chilenas, na qual discorre sobre a situ-
ação social e política do Brasil diante da dominação metropolitana, transpondo para a capital chilena, 
Santiago, a situação de crise vivida em Vila Rica. Desse modo, as cartas de Critilo endereçadas a Doroteu 
atingem ao Governador-Geral Luís da Cunha Menezes, o Fanfarrão Minésio, e seus desmandos à frente 
do poder, acusando-o por seus atos de corrupção e desrespeito ao interesse público, como no trecho 
que se segue:
Agora, Fanfarrão, agora falo
contigo, e só contigo. Por que causa
ordenas que se faça uma cobrança
tão rápida e tão forte contra aqueles
que ao Erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem
de mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte que esses dessem,
não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
e o rico, porque é rico, vai pagando
sem soldados à porta, com sossego!
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28 | A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Não era menos torpe, e mais prudente,
que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
metessem no Erário um tanto certo,
à proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
o público interesse. Tu só queres
mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
os grossos devedores, que repartem
contigo os cabedais, que são do reino.
(A Poesia dos Inconfidentes. COSTA, Cláudio Manuel da; GONZAGA, Tomás Antônio; PEIXOTO, Alvarenga. 
 Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996, p. 856.)
O movimento decorrente do encontro de ideias entre os poetas e intelectuais da segunda me-
tade do século XVIII, em Minas Gerais, dá lugar à conspiração contra a Coroa portuguesa, cujos resulta-
dos são a prisão de seus membros e a condenação à morte por enforcamento de Joaquim José da Silva 
Xavier, o Tiradentes. Cláudio Manuel da Costa enforca-se na prisão e Tomás Antônio Gonzaga é conde-
nado ao degredo de dez anos em Moçambique. Desse modo, tem fim um momento que representa 
uma profunda exaltação do sentimento de liberdade em nosso país.
Transição da colônia ao império
Com o fim do período dominado pelo Marquês de Pombal, ocorre um processo de profunda li-
beralização e abertura do pensamento. Assim, é fundada a Academia de Ciências de Lisboa, em 1779, 
com o propósito de fomentar a investigação científica a serviço de Portugal. Além disso, é construído o 
teatro São Carlos, em Lisboa, dedicado à ópera. Do ponto de vista econômico, o país apresenta uma ba-
lança comercial cujo saldo é extremamente favorável. Tudo leva a crer no sopro de bons ventos, condu-
zindo o país a um tempo de bonança. 
Ocorre, porém, a crise que tem início em 1793, em decorrência da Revolução Francesa. Com a 
morte de Luís XVI, as antigas monarquias, ameaçadas pelos novos tempos, unem-se contra a França re-
publicana. A Europa, dividida em dois grupos distintos, tem de um lado a França, e de outro, a Inglaterra. 
Aliar-se à França representa para Portugal entrar em conflito com a Inglaterra, que patrulha o Atlântico 
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29|A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
e garante a manutenção do negócio rentável representado pela riqueza advinda do Brasil. Mantida a 
aliança com os ingleses, é assegurada a atividade marítima com a colônia, em vista da ameaça represen-
tada pela pirataria aos navios portugueses, de quem os ingleses são os principais defensores. Há tam-
bém a ameaça de invasão pelos vizinhos espanhóis, aliados dos franceses. A questão está posta entre a 
asfixia econômica ou a invasão militar.
Ante a tentativa de neutralidade da diplomacia portuguesa, verifica-se a inviabilidade desta. A 
França concorda com a posição de neutralidade dos portugueses, desde que esta seja por completo, 
implicando o fechamento dos portos que servem à armada inglesa, que lhes faz guerra. A entrada e saí-
da de navios ingleses nos portos de Portugal são franqueadas, sem que haja qualquer obstáculo. Assim, 
a invasão francesa a Portugal é adiada a custos elevados, a partir da doação de riquezas como os dia-
mantes do Brasil, oferecidos em troca da não beligerância. A situação de paz é mantida a duras penas. 
Contudo, em 1806, Napoleão decreta o ataque à Inglaterra, tendo início o que chamamos de “bloqueio 
continental”, dando ordem expressa para que Portugal feche seus portos e declare guerra aos ingleses.
No final de 1807, ocorre a invasão a Portugal, comandada pelo general Junot. Assim, a corte por-
tuguesa parte para o Brasil. Toda a armada disponível no Tejo serve ao transporte da família real, que 
se desloca para a colônia com cerca de dez mil pessoas, incluindo funcionários e militares. Os franceses 
entram em Lisboa enquanto a esquadra inglesa serve de escolta à família real que ruma ao Brasil. Assim 
sendo, a corte portuguesa passa a viver no Brasil, sem os problemas enfrentados na Europa combali-
da por um clima de guerra. Com a fixação da corte no Brasil, é decretada a abertura dos portos brasilei-
ros ao comércio com os demais países, o que significa a passagem obrigatória dos navios ingleses por 
nossas águas, na medida em que a Inglaterra é a grande empresa mercantil desse tempo. Mais ainda, a 
vinda da família real implica a criação de mecanismos institucionais que lentamente vãoapagando os 
sinais do atraso que caracteriza os séculos precedentes do colonialismo em vigor. Desse modo, são cria-
das a Casa da Moeda e o Banco do Brasil, instituições que ajudam a consolidar a presença da corte, bem 
como contribuir para que o Brasil passe a gozar de certa autonomia em relação à antiga situação. Em 
1815, o Brasil é declarado como reino e o Rio de Janeiro passa à condição de capital de Portugal.
A esse respeito, Sérgio Buarque de Holanda (2003, p. 205-206) acrescenta:
A vinda da corte portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos, em 1808, consequência das condições da política in-
ternacional, aceleraram o progresso dessa transformação. Fundam-se escolas; de medicina, de marinha, de guerra, de 
comércio; uma Imprensa Régia, que sempre nos fora recusada; em 1814, uma livraria, que seria o núcleo de nossa bi-
blioteca nacional; o Museu; o Jardim Botânico. Criava-se tudo quanto até então nos havia sido recusado, tudo o que nos 
faltara, principalmente os utensílios, os instrumentos capazes de engendrar progressos no domínio da cultura intelec-
tual. Era como se o Brasil despertasse de um prolongado sono e se pusesse a caminho de sua libertação.
A vida cultural brasileira é incrementada, o que viabiliza o prenúncio de uma atividade artística e 
literária que se consolida mais tarde com o Romantismo. É claro que, com o impacto causado pelo des-
locamento da família real para o Brasil, vivemos um momento de transição em nossas letras. Não obs-
tante, com grande dose de entusiasmo nossa atividade cultural se configura com o século XIX. Esta é, 
portanto, a Época das Luzes brasileira, quando a literatura pontifica e para a qual surge um público con-
sumidor. Na prática, há um tipo de entendimento da parte dos intelectuais sobre o papel ideológico re-
presentado pela corte no Rio de Janeiro. Do lado português, a metrópole, equiparada à colônia com a 
abertura dos portos, preserva um sentido de desigualdade. De certo modo, no Brasil, há um entusias-
mo, que contamina a produção literária, baseado nas promessas e esperanças contidas na vinda da fa-
mília real. 
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30 | A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Surge daí o esboço de um desejo de consolidar o que seja uma literatura nacional. O Rio de 
Janeiro, desse modo, converte-se no espaço propício à difusão de ideais científicos e literários, contri-
buindo para que seja difundido o papel social e intelectual do escritor. O progresso científico dá mostras 
de sua presença com a criação de instituições de Ensino Superior, o que concorre para que a formação 
intelectual prescinda da carreira religiosa. A Imprensa Régia, por seu turno, fomenta o surgimento de 
várias tipografias que publicam trabalhos oficiais e ligados à educação, sendo que a literatura acompa-
nha o rastro dessa ampliação do mercado de impressão gráfica. As bibliotecas e livrarias, em que pese 
a ausência de escolas públicas e a insuficiência de escolas privadas, ajudam a ampliar a vida cultural no 
Brasil no início do século XIX.
Com o advento da abertura dos portos, há um significativo aumento da entrada de livros euro-
peus no Brasil, antes em boa parte clandestina. A atividade intelectual, por sua vez, está associada à 
classe funcional, para a qual são recrutados, na falta de material humano de boa qualificação entre os 
circunstantes. A ausência precedente de instituições numa colônia habitada por escravos e gente sem 
formação letrada tende a destacar a valorização dos poucos intelectuais da terra. Passam a ter desta-
que, portanto, figuras como o jornalista, o orador, o professor, o publicista, o pregador, que ganham re-
levo entre os demais.
Por sua vez, como feito inusitado, por iniciativa da corte, chega ao Brasil, em 1816, a missão ar-
tística francesa, em cujo corpo artístico, composto de pintores e arquitetos, destaca-se o pintor Jean 
Baptiste Debret, que reproduz em pintura aspectos da vida brasileira, o que constitui destacado mate-
rial iconográfico. Debret tem papel preponderante no fomento às artes no Brasil, sendo o fundador da 
escola de pintura da Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Do conjunto de sua obra, organiza-se 
a coletânea intitulada A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, retrato de sua permanência em terras bra-
sileiras até 1831, quando retorna à França.
Sobre a presença da missão artística francesa no Brasil, Alfredo Bosi (1993, p. 58) nos acrescenta:
Repare-se, por duas vezes, a ideia de substituição operada pela nova escola trazida por D. João VI. Do barroco religioso 
e popular (os santeiros) pelo neoclássico leigo e modernizante. E, como se sabe, muito de nossa arquitetura civil, prin-
cipalmente no Rio de Janeiro oitocentista, iria conformar-se com este padrão.
No período colonial, a atividade cultural e artística é constituída por religiosos e bacharéis, ha-
vendo, com o prenúncio da independência, uma modificação desses quadros. Agora, o intelectual bra-
sileiro não só estuda em universidades portuguesas, mas também em instituições de ensino de outros 
países europeus, sobretudo da França. Dessa maneira, há um crescente arejamento com relação ao an-
tigo ensino jesuíta, passando-se agora à mentalidade progressista dos ideais liberais. Por conta disso, 
o descompasso entre a metrópole e a colônia é entendido de modo a formar uma posição política bra-
sileira. Um verdadeiro culto ao saber vai caracterizar a atuação de intelectuais como José Bonifácio e 
Azeredo Coutinho, entre outros. A forte presença do pensamento maçônico tem lugar preponderante 
nos desdobramentos de nossa vida pública. Assim sendo, com o retorno de D. João VI a Portugal, em 
1820, em decorrência da revolução que eclode na cidade do Porto e a Independência, em 1822, pas-
sa a ter efeito um sentimento de hostilidade a Portugal conhecido como lusofobia, que predomina por 
muitos anos.
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31|A grandeza do Barroco e a riqueza da colônia
Texto complementar 
As condições do meio
(CANDIDO, 1993)
Muitas das aspirações mais caras aos intelectuais brasileiros da segunda metade do século XVIII 
foram aqui realizadas nos primeiros anos do século XIX com apoio do próprio governo que as com-
batera – tanto é certo que as ideias básicas duma fase nova “foram subversivas antes de serem tute-
lares” (Anatole France). Imprensa, periódicos, escolas superiores, debate intelectual, grandes obras 
públicas, contacto livre com o mundo (numa palavra: a promoção das luzes) assinalam o reinado 
americano de D. João VI, obrigado a criar na colônia pontos de apoio para o funcionamento das ins-
tituições. Foi nossa Época das Luzes, acarretando algumas consequências importantes para o desen-
volvimento da cultura intelectual e artística, da literatura em particular. Posta a cavalheiro entre um 
passado tacteante e o século novo, que se abria triunfal com a Independência, viu o aparecimen-
to dos primeiros públicos consumidores regulares de arte e literatura; a definição da posição social 
do intelectual; a aquisição, por parte dele, de hábitos e características mentais que o marcariam até 
quase os nossos dias. Momento decisivo, já se vê, que despertou nos contemporâneos os maiores 
entusiasmos, as mais rasgadas esperanças. E que se tentará delinear nas páginas seguintes. Os so-
nhos dos homens cultos parecem realizar-se e a adulação se fazia indiscernível da sinceridade, no 
vasto movimento de gratidão ao simpático trânsfuga real, que abria para o país a era do progresso.
Comecemos, pois, registrando a produção literária que abundou neste sentido e foi, sob mui-
tos aspectos, típico movimento de compensação ideológica, visando encobrir o que houvesse de 
menos viril na migração da corte. Para os brasileiros, exultantes, sublinhava-se a magnanimidade,

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