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UFRN – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DISCIPLINA: SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA GERAL DOCENTE: PROF. DR. DOUGLAS ARAÚJO DISCENTE: MARIA JÚLIA BARBOSA DOS SANTOS CURSO: DIREITO/MATUTINO – 2019.1 RESENHA DA OBRA “CRIME E COSTUME NA SOCIEDADE SELVAGEM” DE BRONISLAW MALINOWSKI PARTE II - O CRIME PRIMITIVO E SEU CASTIGO Na segunda parte de Crime e costume na sociedade selvagem , intitulada O crime primitivo e seu castigo, o antropólogo Malinowski parte para uma análise mais profunda e detalhada dos aspectos da lei que remetem e incorporam os crimes primitivos e suas punições. Introduz a discussão com características das transgressões das leis e a restauração da ordem, determinando de início que o estado primitivo é dominado pela tradição e pela ordem, independente das paixões e dos acasos. Afirma também a relevância da lei civil, ou o equivalente na vida selvagem, no que se refere a sua dominância sobre todos os demais aspectos da organização social. Nessa linha social, a partir de sua força e coerção é que são mantidas as leis, fugindo do caráter rígido e absoluto que muitas vezes foi referido a elas. O antropólogo, faz a correlação das atitudes do nativo e dos civilizados perante ao dever e ao privilégio, concluindo a similaridade, uma vez que ambos contornam e, às vezes, rompem a lei. Adentrando no campo social, Malinowski encontrou uma ordenação que regula e organiza as relações sociais, que seriam princípios legais. O direito materno assumindo papel do mais importante, uma vez que determina uma criança sendo corporal e moralmente relacionada ao parentesco da mãe, possuindo a sucessão da posição social, das posses econômicas e de solo e a cidadania local pertencente ao clã totêmico. Segundo Malinowski, ao tratar da aplicação da moral e dos ideias à vida real, os fatos assumem aspectos diferente. E a opinião pública não era afetada com o conhecimento dos crimes, nem possuía reação direta, necessitava de um estímulo, dado pela vítima ou por quem foi ofendido, proferindo insultos e humilhações em meio a uma exposição pública do cometedor do ato ilegal. Porém, a comunidade exerce uma coerção de julgamento no que diz respeito ao trato com o criminoso, fofocando ou banindo, mas a execução da punição é feita pelo próprio transgressor. A fim de exemplificação, Malinowski relata um caso de exogamia - o maior horror da vida primitiva e, antagonicamente, não raro - e sua decorrência, em que a opinião pública é exposta com hipócrita e complacente. A respeito da exogamia, havia a reação de grupo - opinião pública, descrita no parágrafo anterior - e a sanção sobrenatural, a qual desempenha um papel importante, uma vez que possibilita a remediação da transgressão, livrando o transgressor das punições sobrenaturais. Um instrumento de evasão, que auxilia ao autor constatar na desconstrução de qualquer perspectiva que coloca o ser nativo com uma adesão e obediência, tanto espontâneas quanto servil às leis e às tradições. Posteriormente, Malinowski recai sobre a prática da bruxaria utilizada como mecanismo de coerção e a prática do suicídio como remediador e expiador. A crença na bruxaria está intrínseca na comunidade primitiva e toda doença grave ou morte é atribuída a magia negra, fazendo do feiticeiro uma pessoa temida e respeitada com uma posição que permite o abuso e a vantagem. Apoiando-se sobre os serviços dos feiticeiros, o chefe recorre à bruxaria como meio de punição para com os que apresentam qualquer excesso de qualidades ou posses que não são garantidas à sua posição social. Dados excessos são vistos como ofensas ao chefe e por isso é detido da necessidade de penalidade, entretanto o chefe não pode empregar violência física nessa questão, recaindo sobre o feiticeiro fazer seu trabalho. No que se refere ao suicídio, embora não seja uma instituição judicial, possui aspecto legal, de modo que é um método em que o acusado - culpado ou inocente - alcança a autopunição, a reabilitação. Na psicologia dos nativos, suicídio é um abafador sobre os desvios de costume ou da tradição. Destarte, a bruxaria e o suicídio são meios de suporte da ordem e da lei, evitando comportamentos excessivos ou extremos. Em consideração com o que foi descrito sobre as retribuições dos crimes, o antropólogo compreende a vaguidade dos princípios de punição, não há um arranjo que possa ser classificado como uma forma de administração da justiça, não há um método fixo. Estabelecendo uma dificuldade na restauração de um equilíbrio tribal. Além disso, o autor observa que a lei primitiva não é um conjunto homogêneo e unificado de regras. Pelo contrário, a lei advém de uma série de sistemas quase independentes, ajustados parcialmente uns aos outros. Cada um possui uma abrangência e uma área própria, mas pode ultrapassar seus limites legais. Ademais, Malinowski coloca em questão as vantagens e os benefícios para o estudo antropológico e etnológico do método de trabalho em campo, com uma observação direta, contextualizada, buscando diminuir as falhas encontradas em outros métodos, que descrevem de forma equivocada e até mesmo absurdas sobre o comportamento de diversos povos. Em suma, a lei e a ordem originam-se dos mesmos processos, mas não são rígidas, nem fixas em determinados métodos e modelos. Contrariamente, elas se mantêm como resultado de uma constante luta, tanto de paixões humanas contra as leis, quanto dos aspectos e princípios legais uns contra os outros. Contudo, não é uma luta independente, ela está limitada sobre barreiras da publicidade, devendo sempre está em sua superfície, pois chegando ao estado público, a precedência da lei estrita sobre a prática legalizada ou um princípio invasor é despertada e a hierarquia ortodoxa dos sistemas legais controla a questão.
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