Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Atenção: este Prog mesmo. O descritos PE O material grama de Ed Os créditos na bibliograf C ERÍC deste módu ducação Con do conteúd fia consultad Curs CIAS MÓD lo está dispo ntinuada, é do aqui con da so de CRIM DULO onível apena proibida qua tido são da e MINA O IV as como parâ alquer forma ados aos se AIS âmetro de e de comerci eus respectiv studos para ialização do vos autores 169 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV NOÇÕES DE ODONTOLOGIA LEGAL A identificação humana é o assunto mais conhecido quando as pessoas são questionadas acerca da medicina legal, e consequentemente da odontologia legal. No entanto, será observado ao longo do curso que a área de atuação do cirurgião- dentista na odontologia legal é vasta, abrangendo inclusive a deontologia odontológica e a orientação profissional. Outro ramo de grande atuação do perito-odontólogo é a realização de perícias para identificação de lesões presentes no sistema estomatognático decorrentes de traumas diversos, que serão estudados no tópico de traumatologia e marcas de mordida. Lesões no sistema estomatognático também são estudadas para a avaliação de danos resultantes de erro profissional sejam eles decorrentes de imperícia, imprudência ou negligência. Regulamentação da odontologia legal no Brasil A odontologia legal faz parte do elenco de especialidades odontológicas dispostas na Resolução CFO – 63/2005 – Consolidação das normas para procedimentos nos Conselhos de Odontologia (no passado: Resolução CFO 185/93 de 26 de abril de 1993), sendo que na seção VIII, artigos 63° e 64° é disposta a sua definição e as áreas de competência do especialista: Art. 63. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais, reversíveis ou irreversíveis. 170 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. Art. 64. As áreas de competência para atuação do especialista em Odontologia Legal incluem: a) identificação humana; b) perícia em foro civil, criminal e trabalhista; c) perícia em área administrativa; d) perícia, avaliação e planejamento em infortunística; e) tanatologia forense; f) elaboração de: 1) autos, laudos e pareceres; 2) relatórios e atestados; g) traumatologia odontolegal; h) balística forense: i) perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes em fragmentos; j) perícia em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; l) exames por imagem para fins periciais; m) deontologia odontológica; n) orientação odontolegal para o exercício profissional; e, o) exames por imagens para fins odontolegais. O exercício da odontologia no Brasil é regulamentado pela Lei 5.081 de 24 de agosto de 1966. De maneira geral, todos os procedimentos odontológicos que o cirurgião-dentista pode realizar estão dispostos nessa lei. As perícias odontolegais estão elencadas nos procedimentos que o cirurgião-dentista devidamente habilitado 171 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores pode realizar. No entanto, é necessário adquirir esse conhecimento prévio, seja no próprio curso de graduação (regular) ou em cursos de pós-graduação. Isso demonstra a importância da disciplina de Odontologia Legal e Deontologia no currículo das faculdades de Odontologia. ART.6 - Compete ao cirurgião-dentista: I - praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação; (...) IV - proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa; (...) IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça. A odontologia legal teve sua primeira publicação oficial em 1898, sendo oficialmente reconhecida como uma ciência que auxilia a medicina legal. No entanto, o termo utilizado na época foi “L´art dentaire em Médicine Legal” – “A arte dentária da medicina legal”, e foi publicado por Oscar Amöedo, que era um dentista cubano de nascimento, mas radicado em Paris. Em sua obra, relatou detalhes da identificação dos corpos pela comparação dos tratamentos odontológicos ante e post-mortem (antes e depois da morte) de indivíduos carbonizados em um grande acidente. Em 1897, aconteceu um incêndio de grandes proporções em Paris em um local denominado Bazar da Caridade, que era frequentado pela alta sociedade parisiense, resultando na morte de mais de 100 pessoas, sendo que todas se encontravam carbonizadas. Na época, o cônsul do Paraguai na França sugeriu que as arcadas dentárias presentes nos corpos fossem comparadas com os tratamentos dentários documentados pelos cirurgiões-dentistas da época, resultando em cerca de 90% de corpos identificados (Rosenthal, 2001; Vanrell, 2002). 172 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dentro da área criminal, o cirurgião-dentista atuará como perito criminal oficial, em Estados que não existe o cargo de odontolegista. O perito criminal e o odontolegista é um funcionário público concursado, sendo que o odontolegista deve ser obrigatoriamente graduado em odontologia e ter seu diploma validado pelos respectivos conselhos regionais e federais. Perícia em odontologia: Perícia na área civil Segundo Silva (2003), as perícias na área civil em odontologia ocorrem principalmente em ressarcimentos de danos, como nos casos de responsabilidade profissional ou erro profissional odontológico, em casos de acidentes como o de trabalho, de trânsito e em casos de agressão com comprometimento de órgãos dentários. O arbitramento judicial de honorários profissionais, a exclusão de paternidade, a estimativa da idade, principalmente em casos de adoção e a avaliação de equipamentos odontológicos para fins contratuais e avaliação de seguradoras também podem ser realizados no âmbito civil. “TÍTULO IX Da Responsabilidade Civil CAPÍTULO I Da Obrigação de Indenizar Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (...) Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar maissobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 173 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmite-se com a herança. CAPÍTULO II Da Indenização Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. (...) Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.” Perícia na área criminal A perícia na área criminal é aquela realizada quando há a suspeita de um crime, ou para a identificação médico ou odontolegal. Para um melhor entendimento, é necessária a definição de crime. Segundo o Código Penal (Decreto-Lei n°2.848, de 7 de dezembro de 1940), o crime só existirá se uma lei anterior o definir: “PARTE GERAL TÍTULO I DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)” 174 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Existem diversos tipos de crimes e consequentemente punições, no entanto em odontologia, as perícias na área criminal podem ser realizadas para a identificação humana, lesões corporais, determinação de idade para indivíduos sem identificação e outros. Baseado na divisão elaborada por Silva (2003), as perícias de identificação podem ser realizadas no vivo, no cadáver e nos esqueletos, e divididas didaticamente em: 1) Identificação no vivo: a) Presença de marcas de mordida na vítima ou no agressor; b) Presença de marcas de mordida em alimentos e objetos; c) Estimativa da idade pelos dentes de indivíduos com idade não comprovada. 2) Identificação no cadáver: a) Indivíduos em adiantado estado de putrefação, afogados ou carbonizados, nos quais a identificação dactiloscópica é impossível devido à degradação ou ausências das polpas digitais; b) Casos de acidentes em massa como catástrofes naturais, acidentes de aviso, entre outros, nos quais inúmeras pessoas perdem a vida ao mesmo tempo dificultando o reconhecimento; c) Casos de dilaceração de corpos. 3) Identificação no esqueleto: a) Identificação da espécie animal; b) Estimativa do sexo; c) Estimativa da idade; d) Estimativa da estatura; e) Estimativa do biótipo. 175 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 4) Lesões corporais – traumatologia forense: a) Análise do comprometimento da face e dos dentes em crimes e acidentes; b) Análise da lesão em casos de erro profissional odontológico. 5) Determinação da idade: a) De criminosos sem idade comprovada; b) De vítimas sem idade comprovada. 6) Perícias de vestígios biológicos e manchas encontradas na cena do crime ou no corpo da vítima a) Diagnósticos diferenciais de manchas de saliva, esperma, mucosidade vaginal, sangue, etc. b) Extração e análise do DNA de saliva do agressor encontradas no corpo da vítima, ou em objetos deixados na cena do crime c) Extração e análise do DNA de dentes ou seus fragmentos encontrados na cena do crime Perícias na área trabalhista As perícias trabalhistas são normalmente realizadas quando a face e a boca são atingidas por algum tipo de acidente do trabalho e quando ocorrem doenças profissionais com manifestações bucais que serão melhores estudadas no capítulo de manifestações bucais de doenças profissionais. Perícias administrativas As perícias administrativas podem ocorrer em duas vertentes, segundo Silva (1998): 1) Processos éticos realizados nos Conselhos Regionais de Odontologia: o cirurgião-dentista é avaliado sobre seus comportamentos éticos durante o 176 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores exercício da odontologia, após uma denúncia de comportamento antiético. A perícia é realizada pela comissão de perícias e avaliações de tratamentos odontológicos e pela comissão de ética do Conselho Regional e/ou Federal. 2) Auditorias realizadas em convênios: São realizadas auditorias constantes que convencionalmente são denominadas de “perícias”. O cirurgião- dentista que trabalha com convênios declara expressamente que está ciente da realização dessa “perícia” no paciente em qualquer momento do tratamento odontológico, tanto no começo, como no final do tratamento. Algumas empresas realizam, obrigatoriamente, as “perícias” antes e depois do tratamento sendo que outras só a realizam aleatoriamente. Como o curso é voltado às perícias criminais, a seguir será detalhado algumas técnicas utilizadas para a identificação humana em odontologia legal. Estimativa do sexo por meio do estudo do crânio A estimativa do sexo pelos elementos do crânio tem sua importância pericial, principalmente quando em casos que o mesmo é encontrado separado do corpo, ou existem dúvidas em relação à análise da pélvis (Silva, 1997). As características femininas e masculinas de um crânio podem ser resumidamente apresentadas no quadro 10. Estimativa da estatura por meio do estudo do crânio e dos dentes A estimativa da altura por meio do estudo das dimensões dos dentes é realizada pelo método descrito por Correa em 1920 e estudado para a população brasileira por Silva, em 1971 (apud Silva, 1997). A estatura real dos indivíduos brasileiros foi de 70% entre o valor máximo e mínimo calculado por esse método, demonstrando não ser uma técnica confiável para essa estimativa. No entanto, Silva (1997) recomenda que todos os achados antropológicos podem ser significativos para chegar à conclusão final da perícia. 177 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quadro 10: Resumo das características da estrutura do crânio quanto ao sexo. Adaptado de Silva, (1997) e Vanrell (2003). Estrutura do crânio Sexo Masculino Sexo Feminino Fronte Mais inclinada Mais vertical Glabela Mais pronunciada Menos pronunciada Arcos superciliares Mais salientes Menos salientes Articulação frontonasal Angulosa Curva Apófise mastoide Rugosas e proeminentes Pouco proeminentes Apófise estiloide Mais longa e mais grossa Mais curva e mais fina Côndilos occipitais Mais longos e estreitos Mais curtos e mais largos Côndilos mandibulares Mais robustos Mais delicados Peso médio da mandíbula 80g 63g Capacidade do crânio 1400cm3 ou mais 1300 cm3 A fórmula desenvolvida após diversas pesquisas realizadas por Carrea para a estimativa da altura de um indivíduo é a seguinte: Estatura máxima = a x 6 x 10 x 3,1416 2 sendo a = mensuração do arco em milímetros Estatura mínima = a’ x 6 x 10 x 3,14162 sendo a’ = mensuração da corda em milímetros 178 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Medidas realizadas: ? Corda: Mensurou-se o incisivo central e lateral e os caninos inferiores com o auxílio de um paquímetro, medindo-se a: ? Arco: mesial do incisivo central até a distal do canino utilizando-se uma fita métrica. Contraindicações: ? Dentes apinhados; ? Dentes ausentes; ? Essa metodologia deve ser mais pesquisada atualmente para checagem de variações que possam ocorrer de indivíduo para indivíduo. No entanto, quando não se tem nenhuma informação sobre a altura dessa pessoa, utiliza-se de todas as ferramentas, inclusive essa metodologia para a sua estimativa. 179 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Exemplo: ESTIMATIVA DA IDADE POR MEIO DO ESTUDO DO CRÂNIO E DOS DENTES A estimativa da idade normalmente é realizada observando-se a estatura, o peso, a presença de rugas, caracteres sexuais secundários e pela análise do desenvolvimento ósseo e dental. Uma das metodologias a ser utilizada para a estimativa da idade pelo crânio é o fechamento de suturas cranianas. Dorandeu et al (2008). Recentemente publicou um artigo para a estimativa de idade pelas suturas cranianas (Figura 28) com desvio padrão de 1 a 18,4 anos, como demonstra a tabela 2. Estatura máxima = 19 x 6 x 10 x 3,1416 = 1790,712 mm ou 1,79m 2 sendo a = mensuração do arco em milímetros Estatura mínima = 19,5 x 6 x 10 x 3,1416 = 1837,836 mm ou 1,83m 2 sendo a’ = mensuração da corda em milímetros 180 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 45: Avaliação anatômica e visual do estágio da sutura craniana, segundo os estágios dispostos na tabela abaixo. Tabela 3: Avaliação do estágio da sutura craniana demonstrada na figura__ com a estimativa da idade e a idade real do indivíduo, com o valor do desvio padrão. Estudos demonstram que os dentes são as estruturas orgânicas que fornecem os melhores subsídios para a estimativa da idade, sofrem menos interferências de fatores sistêmicos e de desnutrição, principalmente da vida fetal até os 21 anos aproximadamente, que termina o desenvolvimento dentário. Dessa maneira, quanto mais jovem, mais próximo da idade cronológica será a estimativa da idade. Para isso, maiores números de informações são necessárias, tais como a mineralização e sequência de erupção dentária, presença de patologias odontológicas (cáries, exodontias e periodontopatias) e sinais de envelhecimento (desgastes fisiológicos) (Silva, 1997). A técnica mais utilizada e recomendada para a estimativa da idade pelo exame dos dentes aqui no Brasil, em indivíduos até aproximadamente 21 anos, é a descrita por Nicodemo, Moraes e Médici (1974): os autores relacionam os estágios de mineralização dos elementos dentários (Quadro 11): Quadro 11: Cronologia da mineralização dos dentes permanentes entre brasileiros, por Nicodemo, Moraes e Médici Filho 181 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estimativa do fenótipo e cor da pele por meio do estudo do crânio e dos dentes O crânio fornece maiores possibilidades para a pesquisa da cor da pele do que outras estruturas ósseas (Birkby, 1966), pois se preserva com maior facilidade após a morte e pode ser classificado de diversas maneiras. No Brasil, existe uma grande miscigenação ao comparar com outros países (Arbenz, 1988; Melani, 1995). Para a realização desses estudos, é necessária a análise e mensuração entre distâncias de pontos de reparos anatômicos específicos. Segundo Krogman (1955, apud Silva, 1997), alguns caracteres morfológicos craniofaciais qualitativos são observados em diferentes tipos de grupos populacionais (Quadro 12), fornecendo uma ferramenta a mais para o estudo antropológico. Quadro 12: Resumo das características craniofaciais qualitativas em diferentes grupos populacionais. 182 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Identificação humana pelos dentes Em muitos casos, os dentes constituem elementos preciosos na identificação, principalmente em carbonizados ou esqueletizados (Silva, 1997; França, 2001; Vanrell, 2003; Pretty e Sweet, 2001; INTERPOL, 2008). Os dados anatômicos dos dentes são analisados e utilizados pelos peritos: ? Dente decíduo ou permanente; ? Grupo de dente que pertence (incisivos, molares e pré-molares); ? Dente central ou lateral, primeiro ou segundo; ? Dente presente na arcada superior ou inferior; ? Dente presente no lado direito ou esquerdo; ? Alterações dentárias de interesse pericial. Diversas características particulares podem estar presentes na arcada dentária, incluindo as anomalias e alterações dentárias (Figura 46). Para que esses 183 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores dados sejam devidamente documentados, é necessário que, o cirurgião-dentista realize tais anotações em uma ficha odontológica adequada, segundo orientações de grande profissionais da área da odontologia legal, caso contrário, a identificação pode não ser realizada por falta ou por má preservação da documentação odontológica. Figura 46: Exemplo de identificação pelos dentes (vide detalhes ao lado da figura). A INTERPOL (2008), visando estabelecer uma padronização da documentação odontológica para a identificação de vítimas de desastres, elaborou um formulário completo, que engloba não só dados pessoais, como todos os exames realizados para a identificação humana. O formulário consta duas páginas: uma ficha odontológica para descrição dos dentes e outra para o exame intra e extrabucal. 184 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dois formulários idênticos são realizados para a realização do banco de dados (Figura 47 e 48): Figura 47: Página de exame clínico intra e extrabucal post-mortem do formulário de identificação de vítimas da INTERPOL. Registros ante-mortem o Com registros obtidos da própria família o Com registros obtidos de médicos da vítima ? Com registros obtidos de dentistas da vítima ? Registro post-mortem obtidos do cadáver ou esqueleto encontrado. 185 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 48: Ficha odontológica post-mortem do formulário de identificação de vítimas da INTERPOL. 186 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seusrespectivos autores Estudo do mecanismo de ação das marcas de mordidas e o processo de identificação das impressões dentárias Mordidas são lesões complexas produzidas pela pressão do apertamento dos dentes podendo ou não romper os tecidos moles. A mordida é complementada pela pressão dos tecidos moles da pele pelos lábios e pela língua (Whittaker, 1990; Melani, 1997). A marca de mordida pode ser encontrada na pele ou em objetos inanimados, podendo ser produzida pelo homem ou por algum animal (Clarck, 1992). Em uma mordida, os dentes podem produzir vários tipos de lesões, incluindo eritema, contusão, abrasão, laceração, ou avulsão tecidual (Sweet & Shutler, 1999). As marcas produzidas pelos dentes na pele podem auxiliar na identificação do agressor em razão às particularidades morfológicas de cada dente. A análise da marca de mordida não se limita exclusivamente ao estudo dos dentes do agressor. Devem-se levar em consideração além dos dentes do mordedor, a ação da língua, dos lábios e das bochechas, devido à ação da musculatura, e a parte do corpo que foi afetada (Figura 49) (Levine, 1977; Melani, 1997). 187 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 49: Diversos tipos de marcas de mordida enumeradas de acordo com a escala de Pretty (2008) descrita na figura 89. 188 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para assegurar a qualidade, integridade e eficácia da análise, registro e estudo das marcas de mordida, o Conselho Americano de Odontologia Forense (American Board of Forensic Odontology) elaborou normas de procedimentos visando padronizar as metodologias de análise. O primeiro modelo de procedimento foi estabelecido em 1983 em um seminário de marcas de mordida. Em 1994, o Conselho atualizou o primeiro conjunto de normas estabelecendo metodologias para a preservação da evidência de marca de mordida (ABFO, 2002). Informações como localização, formato, tamanho, cor e tipo de injúria devem ser observados e registrados por fotografias com a utilização da escala ABFO, no 2 (Hyser & Krauss, 1988) e impressão com material de moldagem. O exame extra e intrabucal do suspeito, juntamente com o registro fotográfico, moldagens dos arcos dentais e registro da mordida em cera possibilitam o estudo comparativo por diversas metodologias, principalmente por sobreposição de imagens (ABFO, 2002). Segundo Sweet et al. (1996), a saliva depositada na pele durante o ato da mordida pode ser coletada para a extração do DNA e subsequente amplificação por reação em cadeia pela polimerase independente do tempo de deposição ou da concentração da saliva. Ao depositarem saliva na pele de cadáveres, realizaram a sua coleta após 5 minutos, 24 e 48 horas. Constataram que a concentração de DNA extraído da saliva até 24 horas após a sua deposição diminui, no entanto, fica estável a partir desse tempo até 48 horas. Relacionando-se a saliva com as marcas de mordida, Sweet et al. (1997) preconizaram uma metodologia de coleta de saliva depositada sobre a pele Double Swab Technique (técnica do duplo esfregaço com algodão). A técnica consiste em utilizar duas hastes com algodão (swab) estéreis para a remoção da saliva impregnada na pele, sendo uma umedecida com água estéril e a outra seca, que são usados um em seguida do outro. Segundo os autores, a técnica permite coletar uma maior quantidade de material biológico para a extração de DNA. 189 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores NOÇÕES DE DNA FORENSE A identificação humana pelo estudo do perfil genético é amplamente utilizada em casos de caracterização de vínculo genético familiar seja em processos cíveis – exemplo: exclusão ou não da paternidade – como também em processos criminais – exemplo: cadáveres e materiais biológicos encontrados na cena do crime. Atualmente, a mídia tem contribuído de forma significativa para a divulgação e popularização dessa tecnologia, que vem evoluindo de forma significativa nas últimas duas décadas. No entanto, algumas considerações sobre essa tecnologia não passam de mito, pois não se pode concluir que “o DNA resolve tudo”, mas que a análise do perfil genético pode auxiliar na identificação humana fazendo parte das provas periciais de um determinado caso criminal ou civil. Segundo Butler (2005) Os testes de DNA para identificação humana podem ser utilizados para: Casos forenses: análise do DNA do suspeito com aquele obtido da evidência biológica encontrada na cena do crime ou nas vítimas; Teste de paternidade ou caracterização de vínculo genético familiar: exclusão ou não de supostos pais, filhos, mães e outros membros da família; Desastres em massa: identificação dos fragmentos humanos e dos corpos encontrados em um desastre com inúmeras vítimas; Investigações históricas; Investigações de pessoas desaparecidas; Identificação de militares; 190 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Banco de DNA de criminosos ou de evidências biológicas. Fundamentos básicos de biologia molecular para entendimento do DNA forense O DNA (ácido desoxirribonucleico) armazena toda a informação genética, sendo encontrados nos cromossomos do núcleo e nas mitocôndrias, com a maior parte localizada no primeiro (Figuras 50). 191 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 50: DNA a molécula da vida: do cromossomo a cadeia dupla de DNA. Este materia saliv outro com entre uma molé & Cr A) Wats o car por d duas (ade com al deve ser utiliza O DNA va, de osso os materia As mo postos de e as posiçõ a dupla hé éculas são rick, 1953) Figura 5 son & Crick, rbono 3’ com uas. A base s ou três enina - A, t o açúca ado apenas como A pode ser o, de dent ais biológico oléculas de unidades ões 3’ e 5’ élice de c o mantidas . 51: A) Repre 1953; B) Est m o carbono 5 e adenina ligações d timina - T, r, constitu parâmetro de es r extraído e, de tecid os (Brettel e DNA cara básicas d de carbon cadeias co juntas po B) esentação e trutura quími 5’. As bases liga-se co de hidrogê citosina - uem o nu 192 tudo deste Progr de amostr dos e órgã l et al, 200 acterizam- de nucleot nos por liga omplemen r fracas po esquemática ica da moléc C e G são l om timina ênio respe C e guan cleosídeo; rama. Os créditos ras de san ãos, de fios 05). se por pol ídeos, con ações fosfo tares opo ontes de h da dupla hé cula de DNA igadas por tr e citosina ectivament ina – G ou ; sendo q s deste conteúdo s gue, de es s de cabel ímeros de ntendo 2-d odiéster. A stas, na hidrogênio élice da mol , com sua na rês pontes d a com a g e. Essas u g) (Figur que o últim são dados aosseu sfregaços os, de sêm alto peso desoxirribos A estrutura qual as s (Figura 51 lécula de DN atureza antip de hidrogênio uanina po bases nitr ra 52) ao s mo ligado us respectivos au bucais, de men, entre molecular se ligados do DNA é suas duas ) (Watson NA segundo paralela com o e as A e T, or meio de rogenadas se ligarem o com um utores e e r s é s n o m , e s m m 193 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores grupamento fosfato, constitui o nucleotídeo, que é a unidade básica de repetição na fita de DNA (Watson & Crick, 1953). Figura 52: Representação esquemática da molécula de DNA. Determinados fragmentos de DNA especificam a síntese de RNA em um processo denominado transcrição. O ácido ribonucleico (RNA) é um polímero linear 194 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores composto de cadeia de unidades de ribose ligadas pelas posições 3’ e 5’ por intermédio de grupamentos fosfodiéster, tendo como função a síntese proteica e também pode constituir o genoma de alguns vírus. O gene é uma unidade de transcrição que consiste de um segmento de DNA específico que se estende do início do sítio de transcrição ao sítio de término de transcrição. O RNA especifica a síntese de polinucleotídeos que formarão as proteínas, sendo tal processo denominado tradução, ocorrendo nos ribossomos, nas mitocôndrias e cloroplastos (Figura 53) (Beard & Armentrout, 1967; Srinivasan & Yathindra, 1977). Figura 53: Fluxograma da transcrição e translação. 195 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As regiões de um gene que codificam proteínas são denominadas éxons e aquelas que não a realizam, íntrons. Cada éxon codifica uma porção específica da proteína completa (Figura 54). Em algumas espécies, incluindo a humana, os éxons são separados por longas regiões de DNA denominadas íntrons ou DNA “lixo”, que aparentemente não estão associadas à codificação de DNA (National Human Genome Research Institute, 2008). Os alelos constituem as variantes de um gene em uma particular região, ou lócus, em um cromossomo. Diferentes alelos produzem variações nas características individuais como, por exemplo, cor do cabelo ou tipo sanguíneo (National Human Genome Research Institute, 2008) (Figura 55). A transferência das informações genéticas de uma geração a outra ocorre através da replicação do DNA, catalisada por enzimas denominadas DNA polimerases. Essas enzimas mediam a síntese da nova fita de DNA in vivo, utilizando como molde ("template") a fita complementar da molécula existente. Inicialmente, a molécula de DNA tem as suas fitas separadas pelo rompimento das ligações de hidrogênio que mantêm a dupla hélice, em um processo denominado desnaturação, que ocorre in vivo em pH alcalino. Além da fita molde, é necessária a presença de um oligonucleotídeo iniciador ou "primer", ou seja, um pequeno fragmento de DNA simples, complementar a fita molde, desoxinucleotídeos trifosfatados (dATP, dCTP, dGTC, dTTP) que serão incorporados à fita duplicada. A replicação do DNA ocorre em regiões específicas denominadas origem de replicação (Marmur & Doty, 1959). Sucintamente, a replicação ocorre com a adição de um nucleotídeo à fita de DNA pela ligação de seu grupo fosfórico, presente no carbono 5' da desoxirribose, com a hidroxila do carbono 3' da desoxirribose do último nucleotídeo presente na cadeia replicada. Por esse motivo que se descreve que a síntese de DNA ocorre no sentido 5´-> 3´ (Marmur & Doty, 1959;). Todo o processo descrito acima será à base do princípio da amplificação do DNA in vitro denominada reação em cadeia pela polimerase (Polymerase Chain Reaction – PCR) que serão estudados nos tópicos adiante. 196 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 54: Diferenças entre os Éxons e Introns. Observe a remoção da parte em amarela correspondente ao íntron. 197 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 55: Alelos correspondentes a cor de olhos ligados ao cromossomo X. O conjunto completo de sequências no material genético de um organismo é denominado genoma incluindo todos os cromossomos mais qualquer DNA presente nas organelas. O genoma nuclear humano possui cerca de 3300 Mb, distribuídos em 22 cromossomos autossômicos e 2 sexuais, compostos de 30 a 35 mil genes, caracterizando por 1,5% a 2% de DNA codificante de proteínas, sendo que 46% do total constitui-se de sequências de DNA repetitivas (Szymasky, 2005). O genoma mitocondrial possui particularidades que o diferenciam do genoma cromossômico, sendo sua herança materna. Sua estrutura circular de 16,5Kb lhe fornece maior resistência à digestão enzimática e em uma única célula, há a presença de milhares de mitocôndrias, cada qual com uma cópia de DNA mitocondrial, sendo que 93% do seu genoma é codificante, não possuindo íntrons e com poucas regiões repetitivas (Anderson et al, 1981). Dentro de uma única célula, há inúmeras cópias do genoma mitocondrial, ao contrário do genoma nuclear que possui uma cópia por célula (Budowle et al, 2003) (Figura 56). 198 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 56: Representação esquemática do DNA genômico ou nuclear e do DNA mitocondrial (mtDNA). Marcadores de Variação Genética A variabilidade do DNA humano confere a diferença entre cada ser vivo, sendo que pode ser denominada por polimorfismo se a variação genética possuir frequência acima de 1% em determinada população e mutação se abaixo desse valor (Beiguelman, 2006). Os Single Sequence Length Polymorphism (SSLP) ou polimorfismo de comprimento de sequência única, englobam os VNTR (Variable Number of Tandem Repeats) ou repetições consecutivas de número variável ou minissatélites, e 199 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores também os STR (Short Tandem Repeats) ou repetições consecutivas curtas ou microssatélites (Figura 57 e 58). A diferença entre eles é o tamanho da sequência que se repete, sendo que nos microssatélites essa estrutura é menor, pois possuem repetições constituídas de 2 a 9 pares de bases, e o minissatélite, de 10 a 64 pares de bases. Esse DNA satélite na maioria das vezes não é transcrito, consequentemente não estão associados com a expressão da informação genética (Edwards et al, 1991; Hamond et al, 1994). Figura 57: Representação esquemática comparando as VNTRs das STRs, segundo sua unidade de repetição. 200 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 58: Representação esquemática das repetições consecutivas do STR TPOX e seus respectivosalelos. Os Single Nucleotide Polymorphism (SNP) ou polimorfismo de nucleotídeo único é uma variação na sequência de DNA que ocorre quando um nucleotídeo é alterado por outro em sequências de DNA que podem ou não codificar genes (Delahunty, 1996) (Figura 59). Figura 59: Representação esquemática se sequências de DNA de três indivíduos distintos com a presença de um SNP e um STR mostrando suas diferenças. 201 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quadro 13: Comparação entre os STRs e SNPs (adaptado de Butler, 2005) STR SNP Variam de 2 a 9 nucleotídeos que se repetem consecutivamente Troca de bases A/T, A/G, A/C, C/T, C/G, T/G. Apresentam-se em diversos alelos, normalmente mais de 5 Normalmente 2 Detectado por separação eletroforética em gel ou capilar Análise por sequenciamento ou hibridização em microchip. O FBI preconiza 13 STRs Estima-se que mais de 50 SNPs seriam necessários para a análise (Gill et al, 2004) Vantagens: • Banco de dados populacionais realizados no mundo todo • A presença de vários alelos facilita a identificação de mutações e misturas de DNA. Vantagens: • Os produtos de PCR podem ser menores, resultado em maior chance de amplificação, principalmente em amostras biológicas degradadas. • Após devidamente otimizados e estudados, pode-se analisar mais de 1000 SNPs em um mesmo microchip, mas essa tecnologia ainda não é amplamente empregada. 202 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estudo da metodologia aplicada à identificação humana A análise do DNA em caracterização do vínculo genético engloba desde o domínio da metodologia de coleta do material biológico até a interpretação dos resultados obtidos (Butler, 2005) (Figura 60). Cada qual possui sua particularidade e cuidados inerentes à técnica que podem possuir vantagens e desvantagens de acordo com o objetivo almejado. Figura 60: Esquema de todos os procedimentos envolvidos em caracterização do vínculo genético Coleta do material biológico: Anteriormente à extração e análise dos ácidos nucleicos, um importante passo a ser discutido relaciona-se aos cuidados relacionados à coleta e preservação do material biológico. Os cuidados incluem utilização de luvas descartáveis, 203 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores instrumentos de coleta, armazenamento e análise devem ser estéreis e apropriados para cada tipo de material, a documentação completa do vestígio eleito para a coleta, incluindo-se fotografias da região, tipo de armazenamento entre outros, o armazenamento do material biológico úmido em sacos plásticos deve ser de no máximo 2 horas, ou quando possível, permitir que seque antes do acondicionamento final. Cada tipo de amostra de material biológico (sangue, saliva, osso, dente, etc.) deve ter sua coleta e acondicionamento individualmente descrito (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo – SSP-SP, 1999; INTERPOL, 2001). Cada tipo de material biológico terá quantidades diferentes de DNA para ser extraído (Quadro 14). Quadro 14: Quantidade de DNA extraído de diversos tipos de material biológico (Butler, 2005). Tipo de amostra Quantidade de DNA Sangue total 20000 ~ 40000 ng/mL Mancha de sangue 250 ~500 ng/cm3 Líquido seminal 150000 ~ 300000 ng/mL Esfregaço de material vaginal pós-coito 10 ~3000 ng/esfregaço Fio de cabelo com bulbo 1 ~750 ng/fio Pelo com bulbo 1 ~10 ng/pêlo Saliva total 1000 ~10000 ng/mL Esfregaço bucal 100 ~1500 ng/esfregaço Urina 1 ~20 ng/mL Osso 3 ~10 ng/mg Tecido 50 ~500 ng/mg 204 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Extração e quantificação de ácidos nucleicos: A quantidade, a pureza e a integridade do DNA dependem de vários fatores, podendo ser influenciados pelas metodologias aplicadas para a sua extração. A técnica mais amplamente empregada envolve em sua primeira fase, a lise celular, seguida de desnaturação ou inativação de proteínas. Com solventes orgânicos o DNA é posteriormente separado de macromoléculas como as proteínas através de solubilização em água, e em seguida precipitado com etanol. Outras metodologias com o mesmo princípio, inclusive kits comerciais, podem ser utilizadas para cada tipo de amostra biológica. Há diferentes metodologias para a extração de DNA de sangue total, de esfregaços vaginais e de amostras de sêmen, de saliva total e de materiais contendo saliva (Walsh D et al., 1992; Anzai et al., 2001, Anzai-Kanto, 2005); de dente humano (Oliveira et al, 2002), de osso (Hagelberg et al., 1991); de material parafinado (Mesquita et al., 2001), entre outros. A escolha do uso de diferentes métodos de extração de DNA está relacionada ao tipo de material envolvido e influencia diretamente ao sucesso da análise dos STRs. Tal fator também se aplica ao DNA extraído de materiais biológicos obtidos post-mortem (Hoff-Olsen et al., 2001). A quantificação do DNA após a sua extração é importante para o aperfeiçoamento da qualidade do produto de DNA resultante da PCR (Internacional Society for Forensic Haemogenetics, 1992). Essa quantificação pode ser realizada espectrofotometria devido à capacidade do DNA em absorver luz ultravioleta de 260nm de onda (Walker & Rapley, 1999), incluindo equipamentos mais modernos que quantificam com 1 µL de amostra, como o espectrofotômetro Nanodrop®. Análise do perfil genético: Jeffreys et al. (1985) foi um dos primeiros a analisar as regiões de minissatélites do DNA humano, possibilitando a investigação de paternidade e a identificação em casos criminais. 205 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Uma tecnologia que revolucionou o campo da biologia molecular foi a PCR tendo como seu inventor Kary Mullis, recebendo o Prêmio Nobel por essa descoberta (INTERPOL, 2001). A PCR consiste na amplificação seletiva de uma sequência-alvo de DNA específica a partir de uma coleção heterogênea de DNA, empregando-se um par de oligonucleotídeos iniciadores que são complementares a certa extensão em ambas as fitas do DNA a ser amplificado (Saiki et al, 1985). A PCR envolve três etapas: desnaturação, hibridização e extensão. A desnaturação ocorre quando a molécula de DNA é aquecida acima da temperatura de 90°C na qual as pontes de hidrogênio da dupla hélice se rompem, ocorrendo a separação das cadeias complementares. Os iniciadores se ligam especificamente às sequências de DNA complementares no processo de hibridização, mediante a uma temperatura que pode variar de 45 a 72°C e deve ser previamente otimizada estando relacionada à temperatura de melting, que é medida por meio de uma fórmula específica que envolve a quantidade de C e G em sua sequência. A prevalência de ligação dos iniciadores ocorre pela sua alta concentração no meio da reação. A enzima termoestável denominada DNA polimerase direciona o posicionamento dos precursores do DNA –dNTP- iniciando a síntese de novas fitas de DNA. Com um novo aumento de temperatura,a enzima DNA polimerase catalisa a reação, incorporando o nucleotídeo na posição terminal do iniciador, complementando as bases do DNA molde, promovendo a extensão da fita (Saiki, 1985) (Figura 61). As vantagens da utilização da PCR na ciência forense são a sua sensibilidade, pois é capaz de amplificar sequências a partir de quantidades ínfimas da sequência-alvo de DNA e até mesmo do DNA de uma única célula; e sua robustez, permitindo a amplificação de sequências específicas a partir de material biológico degradado (ISFH, 1992, INTERPOL, 2001; Sambrook, 2001). No entanto, tal eficiência e sensibilidade implicam também na atenção aos cuidados para evitar- se a contaminação de DNA externo, que pode ocorrer durante todo o processo de análise do DNA (Internacional Society For Forensic Haemogenetics – ISFH, 1992). A eletroforese é uma metodologia amplamente empregada para a separação, isolamento, análise e manipulação dos ácidos nucleicos. Os ácidos 206 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores nucleicos possuem uma carga geral total negativa, em razão aos seus grupamentos fosfato do arcabouço, consequentemente, quando aplicados em um gel de agarose ou poliacrilamida, eles migrarão em direção ao ânodo em um campo elétrico (Aaji e Borst, 1972). Em condições apropriadas de tampão, voltagem e miliamperagem, os fragmentos pequenos migrarão mais facilmente do que os maiores (Figura 62). Figura 61: Representação esquemática da amplificação em cadeia pela polimerase (PCR). 207 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 62: Esquema da corrida de eletroforese com visualização dos fragmentos de DNA e das partículas de gel e dos poros, seguida de imagem dos fragmentos de DNA corados com brometo de etídeo exposto a luz ultravioleta. A variação do tipo e concentração do gel propicia diferentes características de separação, permitindo diferentes resoluções e análises. Em caracterização de vínculo genético utiliza-se eletroforese em gel de poliacrilamida ou eletroforese capilar para a análise das imagens. Em inclusão ou exclusão de paternidade, comparam-se os alelos presentes no filho com o do suposto pai, sendo que um seria o alelo obrigatório materno e o outro paterno (Figura 63). O mesmo acontece em inclusão de suspeitos de um crime, no qual se compara o DNA encontrado na vítima, como ocorre com marcas de mordida ou presença de sêmen na vítima, ou na cena de um crime. Pode ocorrer uma mistura 208 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores de amostras biológicas que poderá conter DNA da vítima e do agressor. Dessa maneira, compara-se o DNA da vítima com o dos suspeitos confrontando-os com o DNA das amostras presentes na cena do crime (Figura 64). Tais análises são realizadas em pelo menos 13 STRs distintos (Budowle & Moretti, 1999; INTERPOL, 2001; Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, 2006). Figura 63: Esquema representativo da análise de uma eletroforese em gel de poliacrilamida corado com prata contendo DNA de amostras biológicas da mãe, do filho e do suposto pai, de um STR amplificado pela PCR analisados juntamente com marcadores alélicos. 209 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 64: Esquema representativo da análise de uma eletroforese em gel de poliacrilamida corado com prata, contendo DNA de amostras biológicas da vítima, do material biológico coletado de uma marca de mordida, e de três suspeitos distintos de um STR amplificado pela PCR, analisados juntamente com marcadores alélicos. Os fragmentos de DNA amplificados por PCR são identificados após a eletroforese em gel de poliacrilamida, seguida da coloração com prata, ou pela detecção de sinal fluorescente, na qual os iniciadores utilizados no PCR são marcados com fluorocromos, possibilitando a análise por sequenciador automático (Gill et al, 1995). Como foi dito anteriormente, as amostras forenses normalmente apresentam-se degradadas e em quantidades escassas. A amplificação por kits multiplex pode auxiliar principalmente nesses casos. Pouca quantidade de DNA – nanogramas – é suficiente para que se amplifique pela PCR vários loci. Os kits multiplex são desenvolvidos para comercialização (Krenke et al. 2002) ou pelos laboratórios de análises clínicas para o seu próprio uso. A importância da evidência de DNA é dada através da probabilidade de que a casualidade tenha ocorrido. Para isso, tem-se antecipadamente a frequência dos perfis genéticos em uma dada população. Caso o perfil genético seja extremamente 210 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores raro em uma dada população, pode-se dizer que a evidência é extremamente forte, caso contrário, pode consistir em uma mera casualidade. A frequência de um perfil genético em uma dada população é calculada a partir da multiplicação das frequências do genótipo de cada lócus (Evett & Weir, 1998). Nos EUA, o FBI implantou o CODIS - Combined DNA Index System- que se tornou operacional em 1998, e combina a ciência forense com a tecnologia eletrônica, formando um banco de dados de perfis genéticos de DNA extraído de evidências biológicas coletadas na cena do crime e DNA de criminosos condenados por agressão sexual e outros tipos de violência física. Todos os Estados americanos podem ter acesso a esse banco de DNA e dessa maneira, há a possibilidade de comparar os perfis genéticos de um suspeito em um crime com os perfis contidos no CODIS, averiguando se o mesmo cometeu anteriormente outra infração (FBI, 2001). O CODIS selecionou 13 STRs para a análise do perfil genético: CSF1PO, FGA, TH01, TPOX, vWA, D3S1358, D5S818, D7S820, D8S1179, D13S317, D16S539, D18S51, e D21S11 (Budowle & Moretti, 1999) (Figura 65). Esse conjunto de loci se transformou em referência para outros países do mundo, no que se refere à ciência forense (Sun et al, 2003) Figura 65: STRs recomendados pelo Banco de DNA vinculado ao FBI (CODIS), segundo a sua distribuição nos cromossomos humanos. Fonte: http://www.cstl.nist.gov/div831/strbase/fbicore.htm. 211 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Essa normatização possibilita maior facilidade em comparar tanto as frequências alélicas populacionais como os resultados dos perfis genéticos, mesmo que seja realizada em outros países. Visando futuramente implantar um banco de perfis genéticos de criminosos como o CODIS, o governo federal brasileiro já adotou os STRs sugeridos pelo CODIS como referência em perícias criminais em seu Manual de Padronização de Exames de DNA em Perícias Criminais (Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, 2006), que está sendo utilizado como referência para os laboratórios que trabalham com identificação humana. O sequenciamento de regiões específicas de DNA é realizado para a análise precisa da sua sequência de nucleotídeos (Figura 66). O DNA mitocondrial é analisado principalmente por meio de seu sequenciamento, postoque haja alterações de bases únicas. Diferentemente dos STRs, que é analisado pelo tamanho da sequência, o DNA mitocondrial é analisado comparando a sequência de cada nucleotídeo com a sequência preestabelecida por Anderson et al (1981) como referência. Figura 66: Eletroferograma obtido do sequenciamento de um fragmento de DNA. A análise dos STRs, da amelogenina e do DNA mitocondrial descritos ao longo do capítulo são amplamente utilizados e continuarão nos próximos anos, principalmente porque já são referência no mundo todo e seus dados arquivados (Gill et al, 2004). Entretanto, os Single Nucleotide Polymorphisms (SNPs) ou polimorfismos de base única como descritos anteriormente, não podem ser excluídos de uma discussão relacionada a perspectivas futuras quanto à utilização em identificação humana, existindo vantagens na sua utilização (Butler, 2005) (Quadro 10). 212 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quadro 15: Comparação entre os STRs e SNPs (adaptado de Butler, 2005) STR SNP Variam de 2 a 9 nucleotídeos que se repetem consecutivamente Troca de bases A/T, A/G, A/C, C/T, C/G, T/G. Apresentam-se em diversos alelos, normalmente mais de 5 Normalmente 2 Detectado por separação eletroforética em gel ou capilar Análise por sequenciamento ou hibridização em microchip. O FBI preconiza 13 STRs. Estima-se que mais de 50 SNPs seriam necessários para a análise (Gill et al, 2004) Vantagens: • Banco de dados populacionais realizados no mundo todo • A presença de vários alelos facilita a identificação de mutações e misturas de DNA. Vantagens: • Os produtos de PCR podem ser menores, resultado em maior chance de amplificação, principalmente em amostras biológicas degradadas. • Após devidamente otimizados e estudados, pode-se analisar mais de 1000 SNPs em um mesmo microchip. ----------- FIM DO MÓDULO IV ------------
Compartilhar