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Contratos - SLIDE 01

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Direito dos Contratos
Bibliografia
Gonçalves, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro, Vol. 3, Contratos e Atos Unilaterais – Saraiva
Sampaio, Rogério Marrone de Castro – Direito Civil – Contratos – Série Fundamentos Jurídicos – Atlas
Aviso – determinadas operações de “recortar/colar” relativamente aos acórdãos citados podem ter gerado erros de grafia nos textos que seguem
Conceito
“Negócio jurídico criado a partir do acordo de vontades declaradas visando a criação, modificação ou extinção de direitos ou obrigações”.
Sendo espécie de negócio jurídico, deve ser examinado quanto aos campos de existência, validade e eficácia.
O Código Civil não tem um artigo definindo “contrato”.
Shakespeare – O Mercador de Veneza
Shakespeare – O Mercador de Veneza
No século XIV a cidade de Veneza, na Itália, era uma das mais ricas do mundo. Entre os mais ricos de seus comerciantes estava Antônio, uma pessoa boa e generosa. Bassânio, um jovem veneziano, de origem nobre mas que gastou todo o seu patrimônio, deseja viajar para Belmonte, onde pretende cortejar a bela e rica herdeira Pórcia. Bassânio contacta seu amigo, Antônio, que havia sido seu fiador por diversas vezes, para pedir-lhe um empréstimo de três mil ducados, necessários para pagar os custos da viagem durante três meses. Antônio concorda, porém está com pouco dinheiro; seus navios e suas mercadorias estão no mar, e ele promete ser o fiador se Bassânio conseguir um empréstimo, e este procura o financista judeu Shylock. (http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Merchant_of_Venice)
Shakespeare – O Mercador de Veneza
Shylock odeia Antônio por seu antissemitismo, demonstrado certa vez em que ele insultou e cuspiu no judeu. Além disso, Antônio faz empréstimos sem juros, o que atrapalha os negócios de Shylock. Este propõe então uma condição para o empréstimo: se Antônio não conseguir pagá-lo na data especificada, ele receberá uma libra da carne (pound of flesh) de Antônio. Bassânio não quer que Antônio aceite uma condição tão arriscada, porém Antônio se surpreende com o que ele vê como 'generosidade' do agiota (já que ele não pede juros), e assina o contrato. Com o dinheiro em mãos, Bassânio parte para Belmonte com seu amigo, Graciano, que pediu para acompanhá-lo. Graciano é um jovem gentil, porém impertinente, extremamente falante e com grande falta de tato. Bassânio pede a seu amigo que tente se controlar, e os dois partem para Belmonte e Pórcia.
Shakespeare – O Mercador de Veneza
Em Veneza, chega a notícia de que os navios de Antônio se perderam em alto-mar, o que lhe impossibilita a pagar a fiança (em linguagem financeira, insolvente). Shylock fica então ainda mais determinado a conquistar sua vingança sobre um cristão depois que sua filha, Jéssica, abandona o seu lar e se converte ao cristianismo para se casar com Lourenço, levando com ela uma grande quantidade do dinheiro de Shylock e um anel de turquesa, presente que Shylock havia ganho de sua falecida esposa, Léa (Leah). Shylock consegue que Antônio seja preso e levado ao tribunal.
Idem
O auge da peça ocorre no tribunal do Duque de Veneza. Shylock recusa a oferta de 6.000 ducados feita por Bassânio, o dobro do que havia sido emprestado originalmente, e exige sua libra de carne de Antônio. O Duque, querendo salvar Antônio porém evitando abrir o perigoso precedente legal de invalidar um contrato, entrega o caso a um visitante que se apresenta como Baltasar, um jovem "doutor em direito", que traz uma carta de recomendação para o Duque do célebre advogado Belário. (...) Baltasar, pede a Shylock que tenha misericórdia numa célebre fala (...), porém Shylock recusa. O tribunal, então, se vê obrigado a permitir a Shylock que pegue sua libra de carne. Shylock manda Antônio "se preparar"; no mesmo instante, no entanto, Baltasar aponta uma falha no contrato; os seus termos permitem que Shylock remova apenas a carne, e não o sangue de Antônio, de modo que se Shylock derramar uma gota sequer do sangue de Antônio, suas "terras e bens" seriam confiscados, de acordo com as leis de Veneza.
“Contratado não é caro?”
Pelo Direito Brasileiro este contrato (uma quantidade de carne em caso de inadimplência) teria que ser respeitado?
O que caracterizou, no exemplo trazido, a existência de um contrato entre Antonio e Shylock?
Contratos
Os contratos, em geral, podem ser escritos ou verbais; escrita pública ou escrita particular.
Os contratos escritos costumam ter um cabeçalho, ou preâmbulo, identificando as partes, e fornecendo sua qualificação; os itens que regulamentam o acordo de vontade entre as partes são chamados “cláusulas”. Os contratos escritos costumam terminar com a referência ao local onde foram redigidos, a data e a assinatura das partes.
Exemplo – A ser analisado oportunamente quanto à validade
CONTRATO DE CONSIGNAÇÃO DE VEÍCULO
CONSIGNANTE: JOSÉ DA SILVA
CNPJ/ CPF Nº 000..674.000-37 I.E. OU IDENTIDADE Nº 10.0000
DATA DE NASCIMENTO: 17/ 1 / 1968
RESIDENTE À: RUA BERGATONGO, 332 – APTO 10
BAIRRO: LAPA MUNICÍPIO DE: SAO PAULO
FONE: (011) 97846-5059 CELULAR: 97893-6526
E-MAIL: 
CONSIGNATÁRIA: ESCAPAMENTO VEÍCULOS LTDA
, SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA,INSCRITA NO CNPJ – MF SOB O Nº 05.345.420/0001-60; COM SEDE NA AVENIDA EUSÉBIO PEDROSO Nº 1540– BUTANTA – SÃO PAULO -SP 
Exemplo
CONTRATO DE CONSIGNAÇÃO DE VEÍCULO
CONSIGNANTE: JOSÉ DA SILVA
CNPJ/ CPF Nº 000..674.000-37 I.E. OU IDENTIDADE Nº 10.0000
DATA DE NASCIMENTO: 17/ 1 / 1968
RESIDENTE À: RUA BERGATONGO, 332 – APTO 10
BAIRRO: LAPA MUNICÍPIO DE: SAO PAULO
FONE: (011) 97846-5059 CELULAR: 97893-6526
E-MAIL: 
CONSIGNATÁRIA: ESCAPAMENTO VEÍCULOS LTDA
, SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA,INSCRITA NO CNPJ – MF SOB O Nº 05.345.420/0001-60; COM SEDE NA AVENIDA EUSÉBIO PEDROSO Nº 1540– BUTANTA – SÃO PAULO -SP 
Melhor
Instrumento particular de (.....)
Pelo presente instrumento, de um lado (nome, nacionalidade, estado civil, RG, CPF, profissão, domicílio), doravante denominado 1º contratante e, de outro, (nome, nacionalidade, estado civil, RG, CPF, profissão, domicílio), a seguir denominado 2º contratante, tem entre si certo e ajustado o que segue: ....
EXPLICAR A RELEVÂNCIA DOS ITENS ACIMA, NA QUALIFICAÇÃO DAS PARTES
Função social do contrato
O sistema de 16 (individualista) x o sistema de 2002
Pacta sunt servanda, doa a quem doer. Sou livre para realizar qualquer contrato?
Art. 421: liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Funciona como um limite à autonomia da vontade, à liberdade absoluta de realizar a contratação.
Princípio geral: “regra de conduta que não consta do sistema normativo, mas se encontra na consciência dos povos” (Gonçalves, p. 27). Cláusula geral: “princípio geral inserido no direito positivo, (...) permitindo à doutrina e à jurisprudência identificá-las, definir seu sentido e alcance, aplicando-as ao caso concreto” (Nery, apud Gonçalves, p. 27).
TJSP, Processo n. 003275-51.201.8.26.0428, Rel. Des. Claudio Godoy
Compromisso de compra e venda de imóvel. Ação de rescisão e reintegração de pose, ao pressuposto de falta de pagamento das prestações. Necessidade de prévia notificação para purgação da mora. Caso, ademais, em que o promissário comprador pagou 85% do preço, sendo-lhe inviabilizado o pagamento do saldo devedor. Impossibildade de resolução. Adimplemento substancial. Sentença reformada. Recurso do réu provido.
idem
“Cuida-se de apelação interposta contra sentença (fls. 135/136) que julgou procedente a ação para dar por resolvido contrato particular de compromiso de venda e compra, autorizada a reintegração dos autores na pose do imóvel após a devolução das quantias pagas, devidamente atualizadas, com redução do percentual de 30%, como indenização pela ocupação do bem. Sustenta o réu, em sua iresignação,
que, além de ter efetuado o pagamento inicial de R$ 34.00,0 e mais 53 das 76 parcelas asumidas quando da contratação, o que totaliza 85% do preço avençado, efetuou construções e reformas no imóvel, tendo inclusive efetuado o pagamento de tributo municipal que os autores deixaram de honrar. Insiste em que os autores, de forma desleal, porque o contrato estava em seu nome junto à loteadora, e transgredindo os limites da boa fé, sabedores da pequena inadimplência em que incoreu e sem qualquer prévia comunicação, procuraram a alienante e efetuaram o pagamento do saldo
devedor, impedindo assim que a obrigação fosse por ele cumprida”.
1º fundamento para provimento do recurso:
De mais a mais, ainda assim não se queria, sabido que, nos compromissos de venda e compra, a despeito do estabelecimento de termo certo para pagamento das prestações (mora ex- re), o legislador entendeu de exigir, ainda asim, ato de cientificação para comprovação desta mora do promissário, deste modo conferindo-lhe a possibildade de purga (art. 1º do Decreto-Lei n. 745/69).
2º fundamento para provimento do recurso:
De qualquer forma, é incontroverso que o apelante pagou a quantia de R$ 34.00,0 diretamente aos autores e quitou 49 prestações diretamente à loteadora, ficando a dever apenas as últimas 23 parcelas. Vale dizer, como alegado no recurso, sem impugnação, quitou 85% do preço estabelecido no contrato, sendo posteriormente impedido de saldar o débito por iniciativa dos autores, que viram neste pequeno débito a oportunidade de retomar o imóvel para si.
Neste contexto, tem-se de assegurar a persistência do negócio, ressalvando a cobrança do valor em aberto, mais juros e correção. A rigor, o caso bem se amolda a princípio relevante, o da boa-fé objetiva, que há de nortear o deslinde.
idem
Como é sabido, ao princípio da boa-fé objetiva, de inspiração constitucional (art. 3º, I, da CF/8), levado, na sua função limitativa, ao texto do artigo 187 do CC, ademais da previsão, agora em seu papel supletivo, do art. 42, quando impõe conduta solidária aos contratantes, de colaboração e lealdade, repugna a recusa em tolerar faltas menores ou, antes, diante delas exigir sanções, tanto quanto a postulação resolutória de contrato ou ajuste, quando substancialmente adimplido.
idem
Conforme observa Menezes Cordeiro, no que chama de exercício inadmisível de posições jurídicas, verdadeira função de limitação de direitos subjetivos que se reconhece à boa-fé objetiva, o exercício de faculdades sancionatórias diante de faltas menos relevantes representa objetiva deslealdade, no sentido de que desconsidera aquele padrão valorativamente diferenciado da relação contratual (in Da boa fé no direito civil, Almedina, v. 2, p. 853). É o que, em diversos termos, Fernando Noronha afirma constiuir um exercício desequilbrado de direito, também e igualmente à luz da incidência do princípio da boa-fé objetiva (O direito dos contratos e seus princípios fundamentais, Saraiva, p. 180).
idem
Ou, ainda na mesma esteira, asentada, com mesmo fundamento, a chamada teoria do adimplemento substancial, que tende a evitar solução resolutória quando quase atingido o completo adimplemento contratual, assim antes remetendo-se o credor à exigência coativa do quanto faltante (v.g. Masimo Bianca. Dirito civile: il contrato. Giufrè, 1.987. v. 3. p. 473; Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Extinção dos contratos por incumprimento do devedor (resolução). AIDE, 191. p. 124).
Exatamente tal qual na espécie se dá, pago cerca de 85% do preço
Idem
Neste último julgado foi lembrada jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça envolvendo contrato de arrendamento mercantil, fixando que: “É pela lente das cláusulas gerais previstas no Código Civil de 202, sobretudo a da boa-fé objetiva e da função social, que deve ser lido o art. 475, segundo o qual '(a) a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos'. Nesa linha de entendimento, a teoria do substancial adimplemento visa a impedir o uso desequilbrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecesários em prol da preservação da avença, com vistas à realização dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. (...)”
Outro caso: APELAÇÃO CÍVEL Nº 1016061-2.2014.8.26.0100, Rel. Des. Enio Zuliani
Cláusula de exclusão (tratamento experimental) x cláusula que autoriza quimioterapia
Plano de saúde Paciente portadora de MIELOMA MÚLTIPLO I, com recidiva da doença - Prescrição por médico especialista de tratamento quimioterápico por meio do medicamento LENALIDOMIDA [REVLIMID] -Custos e fornecimento da droga a cargo da cooperativa, independentemente de ela ser importada e considerada experimental no âmbito da legislação nacional, tendo em vista o fim social do contrato [art. 421 do CC], que é o de permitir que o usuário tenha efetiva e completa asistência à saúde, nos limites do contrato - Remédio indispensável para tentar prolongar a vida da paciente -Sentença mantida - Não provimento.
Diva x Unimed Paulistana
visando obrigar a requerida a asumir os custos do tratamento oncológico necesitado por ela, com o fornecimento do medicamento LENALIDOMIDA, pelo tempo prescrito pelo médico que a asiste. A autora é beneficiária de plano de saúde empresarial, com vigência a partir de 16.05.2010, adaptado, portanto, à Lei 9.656/98. É portadora de MIELOMA MÚLTIPLO I, já tendo se submetido a diversas drogas e inclusive a transplante autólogo de medula ósea, sem suceso, no entanto, com a recidiva da doença e infiltração extensa da medula ósea. Deste modo foi prescrito pelo médico que a asiste, Dr. Celso Melo, uma nova linha de tratamento com o uso do medicamento LENALIDOMIDA 25mg/dia, por 21 dias, repetindo a cada 28 dias, pelo período mínimo de 6 meses, única alternativa de sobrevida da autora. 
A UNIMED PAULISTANA negou a cobertura ao medicamento por se tratar de droga experimental, importada e que não conta com a autorização da ANVISA, hipóteses expressamente excluídas contratualmente.
idem
Os planos de saúde e seguros funcionam como uma poupança preventiva dos golpes do destino, entre eles as doenças que surgem com surpresa. O paciente, desconfiado da presteza da assistência oficial oferecida pelo Estado, devido aos apertados subsídios orçamentários que terminam por prejudicar a qualidade do atendimento, não tem outra opção, senão aderi ao sistema de medicina conveniada, pagando prêmios para que as prestadoras rembolsem médicos e hospitais credenciados, justamente porque não tem condições econômicas de responder pelo custo da medicina particular.
Idem
Por fim, também não deve prevalecer o argumento de que estaria excluído de cobertura nos termos do contrato pactuado entre as partes e que veda o fornecimento de medicamentos importados ou não nacionalizados. Isto porque, a função social do contrato de plano de saúde é o de permtir que o usuário tenha efetiva e completa assistência, nos limites do contrato [art. 421, do CC]. Assim, como o plano de saúde contratado pela autora não exclui a cobertura para quimioterapia, não faz sentido que a cooperativa negue o custeio do tratamento quimioterápico necessitado por ela, com o fornecimento da medicação REVLIMID.
Princípios do Direito Contratual
Princípio da autonomia da vontade – Os sujeitos de direito são livres para decidir: a) se contratam; b) o que contratam e c) com quem contratam. Possibilidade de formulação de contratos atípicos/inominados.
Há limites: ordem pública, licitude do objeto etc.
Será verdadeiro este princípio nos dias de hoje? Companhia de luz? Água?
Autonomia da vontade
“Contratado não é caro”?
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
“Pacta Corvina”
in https://www.questoesdeconcursos.com.br/pesquisar?pv=28792&di=8&ss=16115
Prova: CESPE - 2012 - MPE-RR - Promotor de Justiça
Disciplina: Direito Civil | Assuntos: Dos Contratos em Geral; Noções e Princípios do Direito Contratual; 
No que se refere aos princípios contratuais, assinale a opção correta.
 a) O instituto da pacta corvina é admitido pelo ordenamento jurídico pátrio.
 b) O princípio da função social dos contratos limita a liberdade de A contratar com B. ??
 c) Determinada pessoa pode exercer um direito contrariando um comportamento anterior próprio, sem necessidade de observância dos elementos constitutivos da boa-fé objetiva.
 d) Dados os predicados do princípio da boa-fé objetiva, a violação dos deveres anexos tipifica a incidência do inadimplemento. ??
 e) O princípio da boa-fé objetiva se relaciona com o ânimo das pessoas envolvidas nos polos ativo e passivo da relação jurídica de direito material.
Sócio não quer mais permanecer na sociedade que vigora por prazo indeterminado
Na lição de Fábio Ulhoa Coelho: 'Na sociedade limitada de vínculo instável, a natureza contratual orienta a compreensão da matéria. Se contratada por prazo indeterminado, o sócio pode retirar-se a qualquer momento (CC, art. 1.029), já que, em decorrência do princípio da autonomia da vontade, que informa o direito contratual, ninguém pode ser obrigado a manter-se vinculado contra a vontade, por tempo indefinido (Gomes, 1959:29/33).‘ (Curso de Direito Comercial Direito de Empresa, Volume 2, 12ª Edição, Editora Saraiva).” (TJSP 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Agravo de Instrumento nº 2042049-71.2013.8.26.0000, Relator Des. Maia da Cunha, j. 5.12.2013).
AGRAVO DE INSTRUMENTO
N°1121780- 0/3 Rel. Des. Clóvis Castelo
CONTRATO DE HOSPEDAGEM - APART-HOTEL - RETOMADA DO IMÓVEL - LEI N° 8.245/91 - INAPLICABILIDADE - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - MORA CONFIGURADA - LIMINAR MANTIDA. Considerando que o contrato convencionado pelas partes envolve hospedagem em apart-hotel ou equiparado, não se aplica a especificidade da Lei n.° 8.245/91, sendo adequado o ajuizamento da ação de reintegração de posse visando a retomada do imóvel objeto do pacto.
Com efeito, a hospedagem constitui espécie de contrato atípico ou nominado, ou seja, não possui definição específica e própria no ordenamento legal. De todo o modo, a celebração de contratos nominados, ou mesmo mistos (resultantes de combinações de espécies contratuais típicas e atípicas), é admitida e encontra respaldo no princípio da autonomia da vontade, consoante dispõe o artigo 425 do Código Civil.
Princípio da Supremacia da Ordem Pública
Compromisso de compra e venda. Atraso na entrega das obras. Inexistência de causa eximente da responsabilidade das alienantes. Mora configurada, não disponibilizado o imóvel à promissária após o prazo estendido. Lucros cessantes consistentes na impossibilidade de fruição do bem. Indenização cabível. Fixação de aluguel mensal, devido durante o período do atraso da obra, contado do término do prazo de carência até a efetiva entrega das chaves. Valor a se apurar em liquidação. Congelamento do saldo devedor. Índice setorial de correção indevido, embora não se afaste a possibildade de correção. Danos morais não configurados. Sentença parcialmente revista. Recurso provido em parte.
Supremacia da ordem pública
Em primeiro lugar, consigne-se que o Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica discutida. Trata-se de produto oferecido no mercado de massa e mediante contrato de adesão, na qual a liberdade de contratar é limitada pelo princípio da supremacia da ordem pública, segundo o qual o Estado está autorizado a intervir na relação contratual para evitar ou reprimir desequilíbrios, restabelecendo-se a igualdade real dos contratantes.
Apelação nº 40384-58.2013.8.26.019, Relator Des. Claudio Godoy
Supremacia da ordem pública
“Ordem pública” é cláusula geral, a ser detectada caso a caso. “Normas que instituem a organização da família (casamento, filiação, adoção, alimentos; as que estabelecem a ordem de vocação hereditária; (....) (cf. Gonçalves, p. 45) são exemplos de normas de ordem pública.
Princípio do consensualismo
O contrato depende do acordo de vontades manifestado pelas partes para se formar e, em regra, basta isto. Exceção: contratos formais ou solenes, que dependem de forma especial para sua realização.
Em alguns casos haverá necessidade da entrega da coisa para aperfeiçoar o contrato (contratos reais), como, por exemplo, no depósito. Mas também são hipóteses de exceção.
Apelação nº
001541-39.201.8.26.0566 – Rel. Des. Soares Levada
Está incontroverso nos autos que a apelada, na condição de advogada, patrocinou os interesses do apelante na reclamação trabalhista que moveu em face de sua empregadora, conforme demonstram irrefutavelmente os documentos de fl. 3/47.
O apelante resiste à sua condenação defendendo que a inexistência de contrato escrito celebrado entre as partes impede a exigência dos honorários advocatícios, porque o Código de Ética e Disciplina da OAB estabelece que a prestação de serviços deve ser documentada.
idem
No entanto, a alegação não se sustenta. Considerando-se os ditames do Código Civil, cioso é notar que no nosso sistema contratual vige o princípio do consensualismo ou liberdade de forma, salvo exceções pontuais, dentre as quais não se encontra o contrato de prestação de serviço aqui discutido, uma vez que a lei não exige para ele forma especial (art. 107 CCivil).
O Código de Ética da OAB não é lei. Logo, se o contrato foi estabelecido de forma verbal pode até gerar violação às orientações de conduta que o órgão de classe dos advogados busca padronizar, mas, perante o ordenamento vigente, não infringe nenhum dispositvo
APELAÇÃO Nº 04958-64.209.8.26.0000, Rel. Des. Gomes Varjão
A apelada ajuizou ação de execução de título extrajudicial em face do apelante, alegando ser credora da quantia de R$2.790,0 (dois mil, setecentos e noventa reais). Na inicial, sustentou que celebrou contrato de compra e venda de veículo com o recorrente, do qual consta cláusula prevendo a cobrança de multa, no percentual de 10% do valor do automóvel, em caso de desistência do ajuste.
Alega (a parte apelante) a ausência de prova quanto à aquisição do caro e à assinatura do contrato. Ressalta que a alteração da proposta ficou comprovada nos autos. Acrescenta que a recorrida modificou unilateralmente as condições de financiamento para a aquisição do veículo. Argumenta que, no prazo legal, desistiu do negócio. Sustenta que a multa cobrada pela concessionária é ilegal.
Idem
Releva destacar, a princípio, que acordadas as condições, o contrato está perfeito e acabado, independente da entrega da coisa, gerando obrigações para os contratantes. É a aplicação do princípio do consensualismo, previsto no art. 482 do Código Civil que assim estabelece: “a compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”. Todavia, existem contratos, como o de mútuo, em que o acordo por si só não é suficiente, sendo necessária a entrega do numerário financiado.
idem
Assim, considerando que os contratos de compra e venda e de financiamento são interligados, e visam a atingir benefícios comuns tanto para a instituição financeira quanto para a empresa que vendeu o produto, o ajuste pode ser considerado perfeito e acabado, gerando obrigações para os contratantes, somente após a entrega do veículo e do crédito financiado.
No presente caso, embora o recorrente não tenha retirado o veículo da concessionária, ele foi colocado à sua disposição. O apelante foi, inclusive, notificado pela recorrida para proceder à retirada do automóvel da loja (fls. 82/83). Do mesmo modo, o crédito solicitado pelo recorrente, para a aquisição do veículo, foi-lhe concedido (fls. 79), ocasionando, a partir de então, obrigações para as partes. 
Idem
Tais fatos foram corroborados pelos contratos de compra e venda e financiamento (fls. 74/75, 7 e 79) e pelo cheque, no
valor de R$9.50,0 (nove mil e quinhentos reais), entregue como sinal à apelada, de acordo com o disposto na cláusula segunda do ajuste (fls. 81). Insta ressaltar que o apelante não impugnou a assinatura constante dos contratos.
Venda de veículo: consensual ou formal?
APELAÇÃO Nº 001580-70.2013.8.26.0629
Cuida-se de ação por meio da qual pretende o autor ver o réu condenado na obrigação de transferir a propriedade do veículo descrito na inicial para seu nome, bem como ver o réu condenado ao pagamento de indenização por danos morais. O pleito foi parcialmente acolhido pelo magistrado a quo, insurgindo-se o demandado contra tal decisão por meio deste recurso de apelação. O recurso interposto não comporta provimento. Como se sabe, a transmissão da propriedade de bem móvel, a rigor, faz-se mediante simples tradição, sendo que a transferência perante o DETRAN tem por fim cientificar os órgãos públicos a respeito da substituição do titular do domínio, para que dele posam exigir, diretamente, os débitos que recaem sobre o bem.
Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
O contrato só produz efeitos obrigacionais entre as partes contratantes.
O princípio está mitigado pela boa fé objetiva e pela função social do contrato.
Apelação Cível n
o90097-52.201.8.26.0100 – Relator Des. Francisco Loureiro – Relativização do princípio
CONCORRÊNCIA DESLEAL. Distribuidoras de derivados de petróleo. Tutela externa do crédito. Autor que pretende seja a ré condenada a se abster da venda e distribuição de combustíveis a postos de gasolina estranhos à lide, porquanto firmou com estes últimos contratos de fornecimento com exclusividade. Doutrina e jurisprudência que consagram a “tutela externa do crédito” ou a “doutrina do terceiro cúmplice”, que veda a interferência danosa de terceiros estimulando o inadimplemento do contrato alheio. 
Manifesta intenção de usurpar nome e prestígio alheios, configurando abuso de direito. Desvio de clientela. Descrédito e obscurecimento da marca. Proteção conferida pela Lei n° 9.279/96. Danos materiais. Lucros cessantes. Liquidação de sentença. Conduta da ré que também ofendeu o rol de direitos extrapatrimoniais da apelante. Danos morais configurados. Quantificação. Funções punitiva e ressarcitória. Valor arbitrado levando em consideração a reprovabilidade da conduta da apelada.
Recurso provido.
continuação
O D. Magistrado sentenciante entendeu que a conduta da requerida é perfeitamente lícita, pois é terceira alheia aos efeitos do contrato firmado entre o autor, ora apelante, e o posto de gasolina, que comprou combustível de modo a quebrar a promessa de exclusividade.
No entanto, como já afirmado em Acórdão de minha relatoria que decidiu agravo de instrumento tirado destes autos, novamente olvidou-se o MM. Juiz da doutrina contemporânea da função social do contrato, cujo exato adimplemento interessa não somente às partes contratantes, como também à sociedade em geral.
continuação
Um dos princípios cardeais do direito contemporâneo, a função social do contrato faz com que se insira a convenção como fenômeno que se instala no mundo da realidade jurídica, ao qual não mais são indiferentes terceiros. Na lição clássica de Jacques Ghestin, há uma tutela externa do crédito, que impõe ao terceiro uma obrigatoriedade de não violar obrigação contratual alheia que seja ou deva ser de seu conhecimento (cfr. Cláudio Luiz Bueno de Godoy, Função Social do Contrato, Saraiva, 2.04). 
continuação
Há, por assim dizer, um alargamento do princípio da relatividade, de modo que terceiros não podem se comportar como se o contrato não existisse. As interferências de terceiros podem ocorrer de diversos modos, inclusive “nela lesione (in positivo o in negativo) dela libertá contratuale conseguente ala difuzione di informazioni false o inesate che abiano ingenerato n afidamento produtivo di dani” (Carlo Roselo, Responsabiltà contratuale ed aquilana: il punto sula giurisprudenza, in Contrato e Impresa, 1.996).
continuação
Dizendo de outro modo, o terceiro, ainda que não seja parte no contrato, pode nele interferi de modo lesivo e ser responsabilizado por culpa extracontratual (Fernando Noronha, O Direito dos Contratos e seus Princípios Fundamentais, Saraiva, p. 19; Antonio Junqueira de Azevedo, Estudos e Pareceres de Direito Privado, Saraiva, pp. 137/147).
continuação
Também não lhe socorre a invocação da Portaria ANP n° 16/200, que expressamente dispõe que “caso o revendedor varejista opte por exibir a marca comercial do distribuidor de combustíveis líquidos derivados de petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos, deverá vender somente combustíveis fornecidos pelo distribuidor detentor da marca comercial exibida”.
Ora, se a apelada conhecia o teor desse enunciado normativo-administrativo, e o posto ostenta a marca “Ipiranga” de forma patente e escancarada, evidente que somente a distribuidora Ipiranga está autorizada a fornecer combustível àquele revendedor.
(Apelada: Aspen Distribuidora de Combustíveis Ltda.)
Óbvio que o descumprimento do contrato por parte de quem comercializa combustível com cláusula de exclusividade não apaga e nem minimiza o ilícito da ré, distribuidora que estimula e facilta o inadimplemento alheio.
continuação
Feitas as considerações acima, imperiosa a reforma total da sentença, para o fim de julgar inteiramente procedente a ação para os seguintes fins: a) abstenção de venda de combustíveis a postos da rede Ipiranga, pena de multa de R$ 10.00,0 a cada episódio; b) composição de danos morais, fixados em R$ 10.00,0 atualizados a contar desta data e acrescidos de juros de mora contados a partir da data do ato ilícito, isto é, 08 de agosto de 2.01 (fls. 83); c) composição de danos materiais, apuráveis em liquidação de sentença por arbitramento.
continuação
A contagem dos juros deve ser feita a partir do ato ilícito porque a responsabildade da apelada é extracontratual, razão pela qual se aplica a Súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça. 
Ainda que o Acórdão estenda os efeitos do contrato a terceiros, o vínculo que liga as partes não é contratual. É, na verdade, extracontratual, pois decore do princípio da função social do contrato.
Aplicação clássica do princípio: Apelação n° 992.05.059184-2, Rel. Des. S. Oscar Feltrim
Em breve histórico da demanda, sustenta que em abril de 1988 [Silvia] celebrou com a Sra. Ondina (contadora) contrato verbal de prestação de serviços contábeis. Em janeiro de 1.999 recebeu notificação da Secretaria da Receita Federal para que pagasse uma diferença existente na Declaração do Imposto sobre a Renda do Ano Calendário anterior. Ao contatar sua contadora, esta reconheceu o erro e se comprometeu a ressarcir mensalmente o parcelamento da dívida.
 Em dezembro de 2.000, houve a venda de parte da carteira de clientes à apelada (Contábil Nello), honrando esta os débitos apenas até dezembro de 2.001. Após e sob a alegação de limitação da responsabilidade (cláusula 3ª , §2°, alínea c do contrato de cessão de direitos) deixou de 
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efetuar o ressarcimento das parcelas. (...)
Assim, para a validade do pacto não basta a existência da autonomia de vontade das partes e o seu consentimento, é preciso que o contrato não contrarie as normas postas pelo ordenamento jurídico ou ainda os princípios e fundamentos do regime contratual. 
Neste último aspecto estão enquadrados os princípios da boa-fé e o da relatividade dos efeitos do contrato que, embora não estivessem expressos na revogada lei civil, sempre encontraram guarida na doutrina e jurisprudência como basilares da teoria geral dos contratos.
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Por outro lado, pelo princípio da relatividade dos efeitos do contrato, tem-se que os resultados do pacto são produzidos exclusivamente entre as parte, não aproveitando nem prejudicando terceiros (res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest).
Terceiros na definição de Orlando Gomes, (op. cit., p. 51), compreende qualquer pessoa estranha ao contrato ou à relação sobre a qual ele estende os
seus efeitos. Assim, "o sucessor, a título universal de um contratante, embora não tenha participado da formação do contrato, terceiro não é porque a sua posição jurídica deriva das partes, como tal devendo ser tido. (...)”
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O contrato de cessão de direitos (fls. 16/31) estabelecido entre a contadora Ondina Aparecida dos Santos e a apelada Contábil Nello S/C Ltda, estipulou, entre outras proposições, o limite da responsabilidade da empresa no valor de R$ 250.000,00 para todos os débitos pendentes/abertos não pagos pela contadora/cedente e referentes aos erros/omissões por ela cometidos e não adimplidos nas datas convencionadas. 
Ao contrário do sustentado na contestação (fls. 102/106) e reproduzido nas contra-razões (fls. 219/223), não teve a apelante ciência dos termos do pacto e ainda que o tivesse, as obrigações ali estabelecidas não podem vincular o direito de terceiros com o intuito de prejudicá-los, o que no caso ocorreu com a apelante/credora.
Princípio da força obrigatória dos contratos
Pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos).
Se o contrato “faz lei entre as partes”, cria normas que devem ser cumpridas tal como ajustadas, sob pena da insegurança das relações jurídicas; não são permitidos: a) o descumprimento unilateral e b) alterações unilaterais relativamente ao ajustado.
Vantagens da contratação por escrito!
Mitigação: teoria da imprevisão e cláusula “rebus sic stantibus”.
Princípio da força obrigatória APELAÇÃO Nº: 001048-65.201.8.26.0565, Rel. Des.Cesar Luiz Almeida
Insurge-se o apelante quanto à aplicação da Tabela Price como índice de coreção das parcelas mensais decorrentes da aquisição de imóvel residencial, apartamento nº 61, situado à Rua Silvia, 865, São Caetano do Sul - SP, adquirido mediante contrato Particular de Promessa de Cessão de Direitos e outras avenças firmado entre as partes.
Consta do referido contrato, na cláusula segunda, a correção das parcelas pelo Sistema da Tabela “Price”, mensal e cumulativamente, mais IGPM ou qualquer outro índice oficial que venha a substituí-lo (fls. 29/34).
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Como bem destacou a MM. Juíza “a quo”, “As partes são maiores e capazes, o que lhes dá autonomia jurídica para firmar compromissos da maneira como lhes convier, sem que haja necessidade de tutela do Estado/Poder Judiciário para proteção e seus intereses”. Sic
Deve prevalecer o princípio pacta sunt servanda, uma vez que houve livre negociação entre as partes.
Princípios da boa fé e probidade
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Boa fé objetiva – norma de conduta parceira entre os contratantes.
Proibição do venire contra factum propium (comportamento contraditório): veda comportamento contraditório da parte (não cumprir o que lhe cabe e exigir o cumprimento da obrigação da outra).
Julgado venire contra factum proprium - Apelação Cível n
o003868-36.2013.8.26.0129 – Rel. Des. Francisco Loureiro
Em ação anterior, os autores pleitearam a retificação do patronímico “FAGIANI” para “FAGGIAN”, com o específico propósito de obter cidadania italiana. A demanda foi julgada procedente e os assentos civis dos requerentes foram devidamente modificados.
Agora, porém, os autores ajuízam uma nova ação, pleiteando providência no sentido exatamente inverso, ou seja, para modificar o sobrenome “FAGGIAN” para “FAGIANI”. O argumento é que a alteração trouxe complicações no que se refere à identificação dos autores, uma vez que os documentos pessoais continuam a retratar o patronímico anterior (FAGIANI).
A duas, porque, em ação anterior, os requerentes pleitearam e conseguiram modificar o patronímico para FAGGIAN, com o declarado intuito de obter cidadania italiana.
Não parece razoável que, após a aparente obtenção da cidadania italiana, voltem os autores sobre seus próprios passos, requerendo providência no sentido exatamente inverso, o que significaria verdadeira burla. Em termos diversos, mostra-se inconcebível que os autores modifiquem seus nomes os quais a princípio são imutáveis conforme seus interesses imediatos, afetando a segurança jurídica esperada do Registro Civil.
O que fazem os autores, em verdade, é um verdadeiro comportamento contraditório (venire contra factum proprium), o qual merece ser rechaçado
Venire contra factum próprio: emissão de boletos pela credora que, depois, reclama de diferenças não pagas – Processo n. 106183-68.2013.8.26.010, Rel. Des. Claudio Godoy
“E não é só. Todos os boletos foram emitidos e seus valores calculados pela própria ré e, desta forma, foram sempre pagos e recebidos sem qualquer ressalva. O cálculo das prestações foi nos montantes constantes da cláusula do plano geral de pagamento (fls. 29), sem qualquer ressalva ou cobrança de diferenças.
Em outras palavras, sem que a ré tivesse, à frente do empreendimento, especialmente se diz que a preço de custo, informado o promissário das diferenças que se iam manifestando diante de um preço estimado em importe algo em torno de metade do preço final.
 Idem (ação tendente a declarar a nulidade de cláusula contratual de apuração final de saldo residual, com o reconhecimento da quitação do preço e a condenação da ré à obrigação de outorgar a escritura ao autor)
Posto em diversos termos, tem-se típico caso de venire contra factum proprium, que não se compadece com o padrão de lealdade que a boa-fé objetiva encera e que deve permear as relações negociais. Por isso que, em sua função de limitação do exercício de direitos subjetivos, procura-se evitar o que Menezes Cordeiro chama de exercício inadmisível de posições jurídicas (A boa fé no direito civil, Almedina, 1984, v. 2. p. 161), aqui revelado pela contraditoriedade da conduta da requerida com aquela anteriormente externada, constituindo a clara moldura do venire (Op. cit. p. 745).
Supressio e Surrectio
Supressio é o não exercício de um direito, reiteradamente, de forma a criar, na outra parte, a confiança de que tal direito não será mais exercido.
Surrectio é a reiteração de um comportamento de forma a criar na outra parte a confiança de que aquele será o comportamento exigível no contrato.
São como a cara e a coroa de uma mesma moeda.
Supressio – ocupação de privativa de vagas comuns em garagem de condomínio - Apelação Cível no 01836-48.2012.8.26.023, Relator Francisco Loureiro
Acontece que, conforme afirma o autor e admitem os réus, logo após a instituição do condomínio a divisão das vagas foi redefinida pelos condôminos, de tal modo que as vagas de uso comum desapareceram.
A nova divisão e readequação das vagas de garagem, embora não formalizada mediante alteração da instituição do condomínio perante o Oficial de Registro de imóveis, está consolidada há mais de 28 anos, sem que nenhum conflito tenha ocorrido até a propositura da presente demanda.
idem
2. A posse prolongada e consensual sobre áreas supostamente comuns, ao longo de décadas, embora não gere usucapião e nem transfira a propriedade das vagas, produz efeitos jurídicos, tendo como consequência, em razão da figura da supressio, a impossibilidade de mutação da situação possesória sem consentimento da maioria. (..)
idem
Entre as categorias de exercício de direito que infringem a boa-fé, estão o venire contra factum próprio e a supressio. No venire contra factum próprio, não é permitido agir em contradição com comportamento anterior. A conduta antecedente gera legítimas expectativas em relação à contra-parte, de modo que não se admite a volta sobre os próprios passos, com quebra da lealdade e da confiança (Menezes de Cordeiro, Da Boa-Fé no Direito Civil, Almedina, Coimbra, 1.97, os 742/752; Laerte Marrone de Castro Sampaio, A Boa fé Objetiva na Relação Contratual, Coleção Cadernos de Direito Privado da Escola Paulista da Magistratura, Editora Manole, p.78/79). Na supressio, a situação de um direito que, não tendo em certas circunstâncias sido exercido, por um determinado lapso de tempo, não mais pode sê-lo, por defraudar
a confiança gerada (Menezes de Cordeiro, obra citada, p. 797/823). 
Tu quoque – conduta traioçoeira e contraditória
Tu quoque, Brute, filii mei? Até tu, Brutus, meu filho? (Julio Cesar, segundo alguns, espantado com Marco Junio Brutu, filho de sua amante (e de Cesar também?), participando do complô que o assassinou.
“Admitir que a ré fosse excluída da sociedade por debitar no caixa da empresa despesas pessoais, conduta idêntica à do autor, seria violação à regra do tu quoque que, segundo Franz Wieacker, tem como fundamento a conhecida regra de ouro da tradição ética: não faças aos outros o que não queres que façam a ti (El principio general de la buena fé, Civitas, 1.982, p. 67).
In Apelação nº 90025-65.201.8.26.0100, relator Des. Francisco Loureiro.
Desembargador Francisco Loureiro
Desembargador Claudio Godoy

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