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Linguagem e Comunicação Jurídica - Qualidades

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Linguagem jurídica
Características e qualidades do texto jurídico
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Qualidades da linguagem jurídica
Correção
Clareza
Concisão – coesão - coerência
Precisão
Naturalidade
Originalidade
Elegância textual
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CORREÇÃO
É a utilização da norma culta e a fidelidade às regras gramaticais. Exemplos adiante.
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CLAREZA
É o que torna o texto de fácil entendimento, refletindo a boa organização das ideias na escrita. Deve evitar-se a obscuridade e a ambiguidade.
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Exemplo de falta de clareza
“Insuficiente o acervo amealhado. Indemonstradas as majorantes. Se houve crime, não desbordou da tentativa, impondo-se redução máxima das reprimendas”.
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“O Autor teve a sua lateral direita abalroada pelo veículo do Réu...”
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CONCISÃO
Ser conciso é uma luta muito árdua.
É dizer o necessário com o mínimo de palavras, sem prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
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E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.
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Para muitos, aliás, esse hábito começa na escola. É só fazer uma “sessão nostalgia” e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que o professor anunciava: “hoje é dia de redação”. Você se lembra da “alegria” que contagiava a turma? Você se lembra de algum colega que dizia estar “inspirado”?
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Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado toda a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum. Pedíamos outro tema. Se o professor apresentasse vários temas, pedíamos “tema livre”. E se fosse “tema livre”, exigíamos um. Era uma insatisfação total. Depois de muita briga, o tema era “democraticamente imposto”. 
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E aí vinha aquela tradicional pergunta: “Quantas linhas?” A resposta era original: “No mínimo 25 linhas”. O professor Sérgio Nogueira, costuma dizer que 25 é um número traumático na vida do aluno, pois, a partir daquele instante, começava um verdadeiro drama na sua vida: “Meu reino pela 25ª linha”. Valia tudo para se chegar lá. Desde as ridículas letras que “engordavam” repentinamente até a famosa “encheção de linguiça”.
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E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a “encher linguiça”. Pelo visto, há políticos e juristas que fizeram “pós-graduação” no assunto. São os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas situações não têm o que dizer, às vezes, não sabem explicar ou argumentar e muitas vezes precisam “enrolar”.
	Paula Bertho - professora
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Exemplo
“O procurador encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria determinando que seja investigado…”
Sendo direto: 
“O procurador mandou investigar”.
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Um professor perguntou a um dos seus alunos do curso de Direito: 
- Se você quiser dar a Epaminondas uma laranja, o que deverá dizer ? 
O estudante respondeu: - Aqui está, Epaminondas, uma laranja para você. 
O professor gritou, furioso: - Não ! Não ! Pense como um Profissional do Direito ! O estudante respondeu: - Ok, então eu diria: Eu, por meio desta dou e concedo a você, Epaminondas de tal, CPF e RG nºs., e somente a você, a 
propriedade plena e exclusiva, inclusive benefícios futuros, direitos, 
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reivindicações e outras vindicações, títulos, obrigações e vantagens no que concerne à fruta denominada laranja em questão, juntamente com sua casca, sumo, polpa e sementes transferindo-lhe todos os direitos e vantagens necessários para espremer, morder, cortar, congelar, triturar, descascar com a utilização de quaisquer objetos e de outra forma comer, tomar ou de qualquer forma ingerir a referida laranja, ou cedê-la com ou sem casca, sumo, polpa ou sementes, e qualquer decisão contrária, passada ou futura, 
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fica assim sem nenhum efeito no mundo cítrico e jurídico, valendo este ato entre as partes, seus herdeiros e sucessores, em caráter irrevogável e irretratável, declarando Paulo que o aceita em todos os seus 
termos e conhece perfeitamente o sabor da laranja, não se aplicando ao caso o disposto no Código do Consumidor. 
E o professor então comenta: - Melhorou bastante, mas ainda está muito conciso. 
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COESÃO
É a união exata entre as palavras, as frases, os períodos. Devemos escrever de maneira que as ideias se liguem umas às outras, formando um fluxo lógico e contínuo. Quando um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura se dá com facilidade.
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Prioridade, relevância:
em primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, principalmente, primordialmente, sobretudo.
Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade):
então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, no momento em que, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente agora atualmente, hoje, frequentemente, constantemente às vezes, 
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eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, nem bem.
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 Semelhança, comparação, conformidade:
igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, como se, bem como.
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Condição, hipótese:
se, caso, eventualmente.
Adição, continuação:
além disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais, ainda cima, por outro lado, também, e, nem, não só … mas também, não só… como também, não apenas … como também, não só … bem como, com, ou (quando não for excludente).
Dúvida: talvez provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é certo, se é que.
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Certeza, ênfase:
decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.
Surpresa, imprevisto:
inesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente.
Surpresa, imprevisto:
inesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente.
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Propósito, intenção, finalidade:
com o fim de, a fim de, com o propósito de, com a finalidade de, com o intuito de, para que, a fim de que, para, ao propósito.
Lugar, proximidade, distância:
perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além, acolá, lá, ali, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo, ante, a.
Resumo, recapitulação, conclusão:
em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse modo, logo, pois, destarte, assim sendo, Nesse sentido.
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Causa e consequência. explicação:
por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito, tão (tanto, tamanho) … que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez que, visto que, como (= porque), portanto, logo, que (= porque), de tal sorte que, de tal forma que, haja vista.
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Contraste, oposição, restrição, ressalva:
pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, se bem que, por mais que, por menos que, só que, ao passo que, em contrapartida.
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COERÊNCIA
Ser coerente é não se contradizer. É sustentar o ponto de vista, por meio de argumentos, de forma a não ir contra o que nós mesmos já dissemos.
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Exemplo de incoerência
“Em primeiro
lugar, cumpre ressaltar que o ora acusado, nunca tivera qualquer envolvimento com drogas, pois na verdade, é um cidadão que rotineiramente vê-se em estado de total embriaguez, mas, no entanto, honesto, trabalhador e cumpridor de suas obrigações”... “O ora acusado já foi encontrado inúmeras vezes caído nas sarjetas, mas é um homem íntegro, que honra os seus compromissos”...
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PRECISÃO
É o emprego do termo adequado para o que se quer dizer; é buscar a exatidão por meio da escolha vocabular adequada; técnica e não arcaica.
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Quando uma palavra é usada com exata correlação entre o vocábulo e a ideia que se pretende expressar, dizemos que ela foi empregada com PROPRIEDADE. Se o sentido que o autor pretendeu dar a ela não corresponde àquele convencionado em sociedade, que se encontra inscrito no dicionário, dizemos que houve IMPROPRIEDADE LEXICAL.
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EXEMPLOS
“O inquilino locou o imóvel há exatos cinco anos e vinha pagando seus alugueres à proprietária regularmente...”.
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A impropriedade está no verbo “locar”, pois quem loca oferece em aluguel, portanto, o locador loca; o locatário (inquilino) aluga o imóvel.
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“ A negativa de autoria do réu é o que mais se adequa à prova colhida na instrução processual”.
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O verbo adequar é DEFECTIVO, ou seja, não assume a forma de presente do indicativo ( adequa).
A melhor escolha lexical seria: “ ... é a que mais está adequada à prova colhida...”.
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NATURALIDADE
É a forma espontânea do autor comunicar-se com seu leitor. Muita preocupação com estilo ou artificialismo, vão em direção contrária aos aspectos da naturalidade.
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ORIGINALIDADE
É o dom natural que caracteriza o escritor e torna seu estilo muito pessoal, livre das imitações e coisas comuns, que são aspectos contrários à originalidade.
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Falta de originalidade - clichês
banhar as mãos no sangue de
com uma mão atrás e outra na frente
de mãos abanando
meter os pés pelas mãos
uma mão lava a outra
Onde há fumaça há fogo
Quem ri por último ri melhor
E em time que está ganhando não se mexe
Depois de um longo e tenebroso inverno
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ele não dá ponto sem nó
quem tem boca vai a Roma
 Abrir com chave de ouro
Antes de mais nada
Importância vital
No fundo do poço
Uma luz no fim do túnel
 Pergunta que não quer calar
 Agradar a gregos e troianos
Nós, seres humanos
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Conclui-se que
Concluindo
Com base nos fatos mencionados, conclui-se que
Para concluir
Desde os primórdios da humanidade...; Nos dias atuais Nos dias de hoje
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ELEGÂNCIA TEXTUAL
A elegância é ter um estilo agradável , claro, de escrever; é também preocupar-se com a estética propriamente dita, o respeito às regras de formatação...
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Exemplos
Petições com desenhos, imagens...
Letras exageradas
Panos de fundo
Outros
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DICAS GERAIS
Evite períodos longos;
Use a ordem direta para facilitar o entendimento;
Use a linguagem de seu receptor, pois o mais importante num texto é a comunicação das ideias.
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Exemplos – correção gramatical
Muitos juristas preocupam-se com a ornamentação das palavras, mas esquecem-se de observar a correção gramatical delas. Vejamos alguns exemplos que foram extraídos de peças processuais.
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“... Obstinado, o mesmo tornou a ameaçar a vítima ...”.
“O acusado não foi reconhecido pelo caseiro da chácara, bem como pela proprietária. Saliente-se que a mesma o havia apontado...”
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“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
“Antes de entrar no elevador, verifique se ele está parado neste andar”.
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“Mesmo” jamais deve ser usado como pronome pessoal.
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“Ele fez um acordo amigável”.
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“acordo amigável” é expressão de uso frequente nos meios forenses, mas não tem emprego legítimo, trata-se de um pleonasmo a ser evitado, redundância de termos, que não confere mais vigor ou clareza à expressão.
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“O Réu era proprietário do veículo marca .......(...) e requer ser indenizado por todos os danos causados ao veículo...”.
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“Conforme orçamento, e, ainda, a desvalorização do veículo, haja visto que...”.
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“Do embate, resultou danos materiais e pessoais...”.
Resultaram
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“A impunidade premeia o crime”.
Verbos terminados em IAR são conjugados regularmente.
Portanto, A IMPUNIDADE PREMIA O CRIME.
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CRASE
Regra 1 – Só se usa a crase antes de palavra feminina: vou à escola – vou à Itália 
vou à biblioteca – vou à praia – vou à estrada. VER A ÚNICA EXCEÇÃO: REGRA 5.
Regra 2 – Na dúvida, substitua a palavra feminina por uma masculina: vou à escola
(vou ao templo) – vou à Itália (vou ao Brasil) _ vou à biblioteca (vou ao cinema). Se no masculino for “ao”, então antes do feminino tem crase: “à”.
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Regra 3 – Nomes geográficos ou de lugar: na dúvida, substitua o “a” por “para” ou por “de” –
Foi à Itália (foi para a Itália – voltou da Itália). Se for “para a” ou “da” (vou para a Itália – volto da Itália), então tem crase. Neste exemplo: foi a Roma, não tem crase, porque não se diz “foi para a Roma”, nem “voltou da Roma”.
Regra 4 – Nome de cidades – têm crase quando precedido de uma qualificação: vou à Roma dos Papas – vou à Paris das Luzes.
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Regra 5 – EXCEÇÃO – Usa-se crase diante do masculino, só neste caso: vou àquele lugar (senão, ficaria um hiato: vou a aquele lugar). Outro exemplo: referiu-se àqueles livros, àqueles documentos.
Regra 6 – Indicação de horas. Se for hora determinada, usa-se crase: chegou às 7 horas, veio à 1 hora – a contagem começa à zero hora – chegou à meia-noite. Se for hora indeterminada, não tem crase: chegará a qualquer hora.
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Regra 7 – Locuções adverbiais em geral levam crase: às vezes, à noite, à maneira de, à moda
da casa, à bala, à máquina, à tinta, à mão, à medida que, à vista. Se seguir palavra masculina, não tem crase: vender a prazo, escrever a lápis, andar a pé, viajar a cavalo.
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Regra 8 - Usa-se crase quando subentendida uma palavra feminina: salto à Luiz XV (à moda de Luiz XV) – Estilo à Camões (à maneira de Camões) – Vou à Saraiva (subentende-se à Livraria Saraiva).
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“...de propriedade do Recorrente, localizado à Rua.....”
“... Residente e domiciliado à Rua.........
“ (...) com empresa estabelecida à Avenida....
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Verbos: residir, domiciliar, estabelecer, situar, localizar etc, possuem a regência EM + A = NA.
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Portanto...
Residente e domiciliado NA rua....
Estabelecida NA avenida....
Localizado NA praça....
Situado NA rua....
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“...O contrato onde pode-se observar ...”.
“A inicial onde constam as descrições do Réu...”.
“... na denúncia, onde consta que a vítima estava acompanhada , mas ela estava sozinha, como comprovam as testemunhas...”.
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ONDE = LUGAR FÍSICO
USO ADEQUADO FORA DESSE CONTEXTO É: EM QUE, NO QUAL, NA QUAL ...
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“à fls 22-25 dos autos”...
ou se escreve a folhas (sem crase) ou às folhas (plural, com crase).
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Podem-se usar as preposições a, em, de, conforme o caso: a folha, à folha, a folhas, às folhas, em folhas, na folha, nas folhas, de folhas.
Quanto ao substantivo folha ou folhas, pode-se abreviar de uma ou de outra forma: fl. ou fls.
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“Houveram depoimentos não condizentes com a realidade dos fatos”.
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EM SUMA
Ao redigir, procure evitar esses erros gramaticais, pois eles depõem contra o profissional do Direito. Conhecer gramática também é fundamental para o exercício da profissão.

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