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Prática de Ensino nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Julia de Cassia Pereira do Nascimento Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado • Introdução • Formação do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental a partir das observações nos estágios; • Professor gestor da sala de aula; • Pluralidade cultural e orientação sexual. Organizar informações e produzir saberes que possibilitem a crítica e discussões na Disciplina Prática de ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com propostas pedagógicas voltadas ao professor como gestor da sala de aula e o trabalho com a pluralidade cultural e orientação sexual a partir das observações em campo durante o estágio supervisionado. OBJETIVO DE APRENDIZADO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Prática de ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental! Saiba que esta Disciplina tem como propósito auxiliá-lo(a) a organizar informações e produzir saberes que possibilitem a crítica e discussões nesta Disciplina, com propostas pedagógicas voltadas ao professor como gestor da sala de aula e o trabalho com a pluralidade cultural e orientação sexual a partir das observações em campo durante o estágio supervisionado, oferecendo-lhe contato com as discussões mais recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional. Esta Disciplina está organizada em quatro unidades, cujo eixo principal será [nominar o eixo], ou seja, que dê conta da prática de ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com discussões sobre a mencionada prática de ensino e o estágio curricular supervisionado, etapas voltadas à formação do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, privilegiando as práticas pedagógicas necessárias para o trabalho nesse nível de ensino, é o que você encontrará nas próximas unidades. Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo esta vivência digital! ORIENTAÇÕES Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado Contextualização Você já pensou na diversidade que existe em nosso país? Como o professor pode trabalhar com diferentes culturas, crenças e orientações sexuais? Como desenvolver e administrar o trabalho em sala de aula? Vamos conhecer um pouco mais sobre esse trabalho do professor? Bom estudo! 6 7 Introdução É indiscutível a expectativa dos alunos dos cursos de formação de professores, especialmente no caso do curso de Pedagogia, sobre a atuação em sala de aula. Inúmeros estudantes questionam quando e de que forma aprenderão a ensinar. Tal expectativa é realmente esperada, pois se entende que, ao término do curso, os alunos deverão ter adquirido conhecimento e práticas que possibilitem o domínio do exercício da profissão escolhida. Esse contexto nos leva a refletir sobre a importância da teoria e da prática nesse aprendizado. Aprender a ser professor pede que se construa conhecimentos a partir do diálogo entre teoria e prática, ou seja, entre o que se aprende na universidade e o que se vivencia no momento dos estágios. Esses conhecimentos não podem vir somente dos livros. É preciso que o aluno e futuro professor vivencie o momento do estágio curricular com atenção e comprometimento, a fim de que nas observações e convivência na escola onde está realizando o estágio, possa ponderar sobre os valores, a organização e o funcionamento da instituição de ensino, além de examinar as ações e o trabalho desenvolvido pelos professores, gestores, comunidade e os próprios alunos. Tal conhecimento, construído a partir da observação, deverá necessariamente servir de base para as reflexões a partir dos referenciais teóricos e discussões propiciadas na disciplina Prática de ensino. A prática de ensino e o estágio propiciam aos alunos, mesmo aqueles que já exercem a docência, a construção de novos saberes e a formação da identidade profissional. Por tais motivos, pode-se afirmar que ambos são muito importantes na motivação à reflexão do futuro professor, desenvolvendo o que denominamos práxis pedagógica. Importância da Prática de Ensino na realização do Estágio É muito importante que o aluno, futuro docente, possa observar as práticas dos professores em exercício nos anos iniciais do Ensino Fundamental para, posteriormente, fazer suas colocações e discutir tais práticas na disciplina Prática de ensino. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, utilizamos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como orientação para a prática em sala de aula. Esse documento serve de base às escolas e aponta ao professor as estratégias e os conteúdos que podem ser trabalhados em diferentes disciplinas. 7 UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado Aliás, trata-se de uma característica dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, atualmente formados nos cursos de Pedagogia e que merecem um olhar diferenciado por desenvolverem um trabalho ligado a todas as disciplinas; talvez por esse motivo, conhecidos como professores polivalentes. Tal profissional precisa saber atuar com diferentes saberes, tais como o conhecimento sobre seus alunos, suas aprendizagens e o desenvolvimento desses; sobre os conteúdos que lecionará; sobre como lecionar tais conteúdos e sobre suas próprias necessidades enquanto educador em constante processo de formação e de transformação em seus inúmeros aspectos. O estágio é um momento fundamental na formação profissional. Por esse motivo, entende-se que nesse momento o futuro professor pode encontrar subsídios que o sustentem na prática docente, no desenvolvimento de um trabalho polivalente, tendo em vista sua atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos diferentes campos do conhecimento. Entende-se também que a constituição do professor não pode se restringir às teorias estudadas no curso de formação ou somente a partir das experiências vivenciadas durante a curta experiência do estágio. No entanto, é na observação do professor em sala de aula que o licenciando tem contato direto com a realidade do trabalho docente, podendo refletir melhor sobre as competências e habilidades que precisará desenvolver para assumir a profissão de educador. A formação de um professor é um processo permanente e, como tal, requer um esforço contínuo de superação, na medida em que devemos nos questionar constantemente a respeito de nossas práticas e nossos modos de compreender a docência. Dessa forma, podemos avaliar a importância do estágio para o desenvolvimento profissional, assim como da interação ocorrida na disciplina Prática de ensino, onde ocorrem discussões, trocas de saberes e um processo contínuo e necessário de reflexão crítica acerca das práticas e reconstruções pessoais. Sob essa perspectiva, o estágio e a prática de ensino surgem como oportunidades, entre tantas que aparecerão para o desenvolvimento e crescimento do professor em formação; razão pela qual a disciplina Prática de ensino é tão importante para o aluno e futuro professor. Trata-se do momento, em sua formação, no qual poderá confrontar a teoria aprendida na universidade com a prática vivenciada nos estágios. As tarefas de constante observação da ação do professor em sala de aula, reflexão sobre esta ação em relação às teorias estudadas, construção de novas ações e reflexões correspondem a um ciclo de ação-reflexão-ação,o qual os teóricos chamam de práxis pedagógica. 8 9 A Práxis Pedagógica Pinto e Fontana (2002) consideram que o estágio e a prática de ensino convergem para os saberes, histórias de vida e experiências tanto individuais quanto coletivas. Ressaltam também que por meio das atividades e discussões propiciadas na disciplina Prática de ensino, o trabalho realizado na escola e a produção de conhecimento permitem mostrar que as ideias e os ideais de professores da Educação Básica, da universidade e alunos estagiários se encontram e, em alguns momentos, confrontam-se em suas reflexões e ações. Vamos então refletir um pouco sobre o conceito de práxis: A prática está inserida na execução de qualquer tarefa e com a profissão docente não é diferente, pois o professor se utiliza de prática e métodos no desenvolvimento de suas aulas, no processo de ensino. O trabalho docente é, portanto e ao mesmo tempo, prática e ação. A prática mostra-se como uma atividade sistemática que se constrói a partir da cultura da escola. Seu objetivo é permitir a construção do conhecimento, nas aulas, em atividades ou projetos que são desenvolvidos tanto pelo professor quanto pela própria escola. Com relação à ação, está mais ligada à subjetividade do professor, às suas próprias iniciativas, sendo essencial para o processo reflexivo sobre a prática. Vemos então que é preciso que o professor reflita para construir a prática necessária para o ensino na sala de aula, a fim de que a mesma leve à aprendizagem. Colocando em ação essa prática, o professor, por meio da reflexão, poderá analisar se tal prática atende aos seus objetivos. Portanto, por meio de um processo contínuo de reflexão-ação-reflexão, surge a chamada práxis docente. A práxis permite que professor se torne sujeito do processo, uma vez que não mais se prende apenas aos conteúdos abordados pelo currículo, mas se transforma em agente de mudanças, utilizando seu senso crítico e reflexão para atender às necessidades que os alunos mostram durante a ação. Com isso, o professor pode, por meio da reflexão sobre a própria prática, pesquisar seu trabalho e ressignificá-lo para que haja mais qualidade em seu desenvolvimento e aplicação. É importante destacar que, ao realizarem o estágio, certamente muitos alunos se defrontam com professores acomodados em uma prática que é reproduzida há tempos, repetindo as ações em sala de aula, o que contraria o conceito de práxis aqui descrito. Na verdade, o que se espera de um bom professor é que lute para ultrapassar as barreiras de uma prática pré-estabelecida, buscando métodos diferenciados, que tragam a reflexão como forma de compreender a realidade, na construção de um diálogo pedagógico que leve à crítica e à reflexão. 9 UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado Situações vivenciadas nos Estágios Quando o aluno de Pedagogia está na universidade, no processo de formação profissional, espera-se que a qualidade em sua formação se relacione ao favorecimento da articulação entre a teoria disponibilizada e discutida nas aulas da Graduação e as práticas sociais vivenciadas na realização do estágio, a fim de que o graduando aprenda a refletir e agir a partir da apropriação que faz da teoria e da prática, o que permitirá a realização da práxis pedagógica ou educativa. Discutir o estágio e a prática de ensino na formação docente é importante na medida em que nesse tipo de atividade os alunos poderão vivenciar situações em seu futuro local de trabalho. Conforme destaca Curi (2011, p. 78), a formação do professor se inicia antes mesmo de o aluno frequentar o curso de Graduação. O professor é o único profissional que vai trabalhar no mesmo ambiente em que foi formado, por esse motivo carrega marcas de toda sua vivência naquele ambiente, incluindo de seus professores (bons ou ruins). Muitas vezes ele se espelha em situações vivenciadas na sua formação anterior ao curso de Graduação. Cada professor possui uma experiência própria de situações de aprendizagem ou de dificuldades [...] aspectos individuais [...] constitutivos de sua formação, ou seja, os conhecimentos dos professores são provenientes de várias fontes e construídos em tempos diferentes. É preciso então vivenciar e entender o estágio como uma oportunidade de agir e refletir, na constituição da práxis, que certamente oferecerá ao futuro professor uma formação mais completa e contextualizada, possibilitando o desenvolvimento de competências pedagógicas e sua inserção no mundo do trabalho. Por esse motivo, é importante que o futuro professor, ao realizar o estágio nos anos iniciais do Ensino Fundamental, direcione seu olhar para a prática pedagógica do professor que acompanha, a fim de que possa adquirir a prática profissional e a competência pedagógica necessária à formação de sua postura e identidade docente. É preciso também que o licenciando observe alguns focos importantes do trabalho nesse nível de ensino. Tais focos se baseiam nas orientações contidas nos PCN e que devem nortear o trabalho desses profissionais, a saber: · O professor como gestor em sala de aula; · Orientação sexual e pluralidade cultural; · Alfabetização e letramento na Educação e Jovens e Adultos (EJA); · Produção textual e oralidade; · Arte e o lúdico; · Ensino de Geografia e História; · Ciências Naturais e questões didáticas; 10 11 · Prevenção e meio ambiente; · Matemática: números e operações; · Matemática: medidas e Geometria; · A utilização de tecnologias em sala de aula. Um ponto muito discutido pelos profissionais da educação é a questão do trabalho do professor em sala de aula, sua postura e seus conhecimentos. Vamos refletir nesta Unidade dois focos: O professor como gestor em sala de aula A orientação sexual e pluralidade cultural. Professor como Gestor em sala de aula A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.º 9.394/96, em seu Artigo 14 orienta à participação de todos na gestão da escola, em uma perspectiva democrática: Art. 14º - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na Educação Básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996). Esta orientação legal trouxe um novo pensamento educacional, originando uma cultura escolar que estimula os professores à participação na organização do trabalho escolar, além de suas atribuições normais nas atividades de sala de aula. Quando mencionamos gestão da educação, entende-se que essa ação se refere à organização de espaços, trabalhos, currículos, participação e tomadas de decisão sobre diferentes assuntos e situações dentro do âmbito escolar. Tal gestão precisa se desenvolver essencialmente na sala de aula, sob a supervisão do professor, pois é lá que se realiza o que foi planejado no projeto pedagógico da escola e onde o professor encontra recursos para repensar sua prática e tomar novas decisões. Libâneo (2004) ressalta que a concepção democrático-participativa sugere um trabalho conjunto da escola, na figura da direção, professores e demais profissionais da educação, de acordo com a posição e atribuição de cada um, na busca dos objetivos educacionais comuns. 11 UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado Entende-se, portanto, que a gestão em sala de aula apresenta-se como uma extensão da gestão escolar, constituindo-se em um espaço no qual o professor coordena e administra as ações, a fim de que possa ser produzido conhecimento, vivenciados comportamentos democráticose promovida a aprendizagem e crescimento dos alunos. Nesse espaço, tanto o professor quanto os alunos poderão agir e pensar coletivamente, isso porque a construção de uma gestão democrática, levando-se em conta a organização do trabalho escolar, deve visar os interesses coletivos. Essa nova organização, que coloca o professor como gestor de seu espaço em sala de aula, não depende apenas desse, mas da atuação de todos os setores da escola, orientados e incentivados pelo diretor, como gestor democrático. No que diz respeito à sala de aula, é preciso que o professor-gestor esteja comprometido com o que foi combinado e acertado coletivamente na escola, além de se comprometer com a construção do espaço em sala de aula, apropriado para a aprendizagem dos conteúdos e construção do conhecimento por parte dos alunos e de sua própria práxis. Libâneo (2004) define o ensino como uma atividade conjunta de professores e alunos sob a supervisão e direção do professor, tendo a finalidade de fornecer os meios necessários para que os estudantes possam assimilar conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Por esse motivo, o autor afirma que tanto o ato educativo quanto o trabalho pedagógico não são – e não podem ser – neutros para que não se constituam em práticas repetitivas, sem compromisso com o crescimento discente. Por isso, o trabalho pedagógico na sala de aula deve sempre estar em articulação com o projeto pedagógico da escola, as orientações curriculares, as práticas pedagógicas mais indicadas para aquela turma e, especialmente, as necessidades individuais e coletivas de cada turma, pensando na formação para a cidadania e na sociedade que estamos ajudando a construir. Ensinar envolve ações administrativas, de modo que o professor, diariamente, toma decisões de forma intencional e sistemática, na escolha do conteúdo a ser trabalhado em determinada aula, nas estratégias, recursos, organização do espaço, na realização daquilo que planejou, na condução do processo de ensino, na reflexão sobre suas ações, na construção de novas ações e no replanejamento. Essa é a maneira que o professor utiliza para ser o gestor da sala de aula, planejando e orientando o modo como os alunos deverão se conduzir nesse espaço para que possam desenvolver as atividades propostas e, dessa forma, garantirem a sistematização do saber. Por fim, considera-se que um professor-gestor multiplica suas aulas, deixando- as interessantes, prendendo a atenção e estimulando a participação dos alunos. Ao se deparar com dificuldades de gerenciar a sala de aula, muitos docentes são acometidos pelo desânimo, mas é preciso que estejam comprometidos com o aprimoramento das aulas. 12 13 O professor deve estudar, analisar, colocar em prática novas técnicas, métodos ou pesquisas e assim, por meio de seu trabalho, mostrar aos alunos a importância do exercício da cidadania, da visão analítica e crítica, da relevância da reflexão no entendimento do contexto no qual estamos inseridos. Deve ainda estar articulado com as novas exigências educacionais deste século, a fim de preparar os alunos para uma sociedade cognitiva, onde o conhecimento será a base das competências do futuro. Pluralidade Cultural Além de ser muito vasto em termos territoriais, o Brasil recebeu, ao longo de nossa história, imigrantes de variados países, o que contribuiu para uma grande diversidade étnica e cultural. Hoje convivemos com diferentes formas de viver e pensar, assim como distintas etnias, entre índios, afrodescendentes, imigrantes, além das diferenças encontradas na população urbana, nos sertanejos, caiçaras etc. Pensando nessa diversidade e nas díspares culturas que as escolas recebem, as quais os professores devem trabalhar e valorizar em sala de aula, o governo federal dedicou um documento especial nos PCN para o tema pluralidade cultural. Assim, refletiremos sobre esse tema e seu trabalho em sala de aula. Muito embora convivamos desde o início de nossa história com diferentes povos e culturas, é sabido que muitos brasileiros sofrem com a exclusão social e discriminações por suas diferenças. O trabalho proposto pelos PCN na questão da pluralidade cultural busca ressaltar nossas heranças culturais, além de propiciar a formação de uma mentalidade própria em nossos jovens e crianças, buscando a superação da discriminação e exclusão. É importante que escola e professor percebam a necessidade de se vivenciar a pluralidade de nossa cultura, dando especial atenção à elaboração de seus projetos e programas educacionais, levando em conta as realidades de cada comunidade escolar, adaptando ou acrescentando conteúdos que possam valorizar tais realidades, colaborando no desenvolvimento discente. Os PCN ressaltam a importância do cuidado e atenção no tratamento desse tema: Convém lembrar que, por se tratar de Ensino Fundamental regular, portanto de crianças, pré-adolescentes e adolescentes, é preciso especial atenção para trabalhos voltados para a formação de novas mentalidades, voltados para a questão dos Direitos Universais da Pessoa Humana, da consolidação democrática do Brasil, da valorização de todos os povos e grupos humanos que formam a população brasileira, do pleno respeito a todo cidadão, nas diferentes esferas da vida. Pela dificuldade do tema, há que se lidar com cuidado, para garantir um tratamento objetivo e compreensivo daqueles aspectos considerados mais relevantes em cada região, localidade, escola, classe (BRASIL, 1997a, p. 22). 13 UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado O trabalho com o tema pluralidade cultural deve levar à reflexão sobre nossa sociedade, sobre as relações pessoais que nessa se estabelecem, permitindo que o aluno conheça o Brasil, um país complexo, com diferentes etnias e culturas que precisam ser valorizadas, com desigualdades socioeconômicas e, especialmente, com relações sociais discriminatórias e excludentes. Esse tema provoca muitas discussões na sociedade e nas mídias, mas nas escolas devemos pensar que, por ser um local de formação, deve-se buscar mudança de atitudes, desenvolvendo nas crianças e jovens o pensamento democrático, o entendimento e o respeito às pessoas que formam nosso país, “[...] suas vidas e seus trabalhos, suas histórias de sofrimentos e lutas, de conquistas e perdas, ressaltando que o patrimônio humano da nação é o bem maior a ser cuidado, protegido e promovido” (BRASIL, 1997a, p. 23). Buscando contribuir para a construção da cidadania em nossa sociedade, os PCN propõem o trabalho direcionado ao desenvolvimento de algumas capacidades. A orientação dos PCN é de que o professor desenvolva seu trabalho levando em conta os seguintes blocos de conteúdo: · Pluralidade cultural e a vida das crianças no Brasil; · Constituição da pluralidade cultural no Brasil e situação atual; · O ser humano como agente social e produtor de cultura; · Pluralidade cultural e cidadania. Conheça os objetivos propostos pelos PCN para o trabalho com pluralidade cultural para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1997a, p. 40), assim como os objetivos específicos a serem trabalhados com cada um dos blocos de conteúdo, no volume 10.1 dos PCN (BRASIL, 1997a, p. 47-61), esse Disponível em: http://goo.gl/WLs91Z Ex pl or Ressaltamos que os PCN (BRASIL, 1997a, p. 65) destacam que para o desenvolvimento e discussão desse tema nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é preciso que se crie na escola, especialmente na sala de aula, uma relação dialógica cultural, com base no respeito mútuo. Além disso, o professor deve levar os alunos a perceberem que não existe uma só cultura, aprendendo a conhecer cada cultura na sua totalidade, dentro de cada contexto social no qual nasceram e foram produzidas. Por fim, o professor deve fazer usode diferentes materiais e fontes de pesquisa, levando até os alunos livros, revistas, objetos de cultura, ou até mesmo pessoas que resgatem memórias culturais. Tal postura permitirá que as crianças conheçam e respeitem mais a pluralidade cultural existente em nosso país, sem se prenderem a visões limitadas ou à falta de materiais e livros didáticos. 14 15 Orientação Sexual O tema orientação sexual é assim discutido no volume 10.2 dos PCN: Ao tratar do tema orientação sexual, busca-se considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano. Engloba o papel social do homem e da mulher, o respeito por si e pelo outro, as discriminações e os estereótipos atribuídos e vivenciados em seus relacionamentos, o avanço da Aids e da gravidez indesejada na adolescência, entre outros, que são problemas atuais e preocupantes (BRASIL, 1997b, p. 3). É impossível ignorarmos a curiosidade e manifestações de sexualidade presentes em todas as faixas etárias. Porém, muitos profissionais da educação não levam em conta as perguntas discentes sobre o tema, entendendo que a discussão deve ser responsabilidade exclusiva da família. Todavia, pensando na educação compartilhada, ou seja, que deve acontecer entre escola e família, os PCN destacam que: A oferta, por parte da escola, de um espaço em que as crianças possam esclarecer suas dúvidas e continuar formulando novas questões contribui para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares. Se a escola que se deseja deve ter uma visão integrada das experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que desempenha um papel importante na educação para uma sexualidade ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar, que integra as diversas dimensões do ser humano envolvidas nesse aspecto (BRASIL, 1997b, p. 7). Desenvolver um trabalho de orientação sexual nas escolas deve visar a promoção da saúde das crianças e dos adolescentes. Esse trabalho poderá prevenir também problemas sérios que alcançam crianças e jovens, tais como abuso sexual ou mesmo gravidez prematura. Quando as crianças e jovens têm um espaço de discussão e conhecimento, propiciado pela orientação sexual nas escolas, podem refletir sobre sua própria sexualidade, aprender cuidados preventivos e, nesse ponto, entender melhor sobre o seu hoje e o seu amanhã. A sexualidade é importante no desenvolvimento e na vida das pessoas, é algo inerente, que desponta desde o nascimento, construindo-se ao longo da vida. Por esse motivo, tal desenvolvimento é influenciado pela cultura do indivíduo, a forma de pensar de sua família, seus valores. A proposta de orientação sexual contida nos PCN considera a sexualidade nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural, uma vez que o sexo é expressão biológica e a sexualidade é manifestação cultural, se levarmos em conta que o comportamento sexual de cada pessoa é ditado por regras criadas pela respectiva sociedade. 15 UNIDADE Como abordar esse tema na escola, na sala de aula? Como o professor pode fugir da postura comum – de ignorar as dúvidas e comportamentos dos alunos – em relação ao sexo? Os PCN orientam que: Para um bom trabalho de orientação sexual, é necessário que se estabeleça uma relação de confiança entre alunos e professor. Para isso, o professor deve se mostrar disponível para conversar a respeito das questões apresentadas, não emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e responder às perguntas de forma direta e esclarecedora. Informações corretas do ponto de vista científico ou esclarecimentos sobre as questões trazidas pelos alunos são fundamentais para seu bem- estar e tranquilidade, para uma maior consciência de seu próprio corpo e melhores condições de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e abuso sexual. Na condução desse trabalho, a postura do educador é fundamental para que os valores básicos propostos possam ser conhecidos e legitimados de acordo com os objetivos apontados. Em relação às questões de gênero, por exemplo, o professor deve transmitir, pela sua conduta, a equidade entre os gêneros e a dignidade de cada um individualmente. Ao orientar todas as discussões, deve, ele próprio, respeitar a opinião de cada aluno e ao mesmo tempo garantir o respeito e a participação de todos (BRASIL, 1997b, p. 84). Entendemos então que o trabalho de orientação sexual proposto nos PCN indica uma ação conjunta da escola e da família. As famílias sempre devem ser informadas pela escola sobre a inclusão de conteúdos ligados à orientação sexual, explicando o que será trabalhado e, especialmente, respeitando cada criança e sua família, no que diz respeito aos seus valores e expectativas. Esse trabalho pode ser desenvolvido tanto nas ações planejadas nos projetos da escola, abordando conteúdos transversais em diferentes disciplinas; como algo fora do planejamento, que atenda a necessidades eventuais, quando surgem questões sobre o tema que merecem relevância e discussão. Trabalhar orientação sexual nas escolas atende, segundo os PCN, ao objetivo de [...] contribuir para que os alunos possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade. Esse tema vincula-se ao exercício da cidadania na medida em que, de um lado, se propõe a trabalhar o respeito por si e pelo outro, e, por outro lado, busca garantir direitos básicos a todos, como a saúde, a informação e o conhecimento, elementos fundamentais para a formação de cidadãos responsáveis e conscientes de suas capacidades (BRASIL, 1997b, p. 91). Pesquisas sobre orientação sexual nos anos iniciais do Ensino Fundamental mostram que a maior curiosidade das crianças está em compreender como se dá o relacionamento sexual, assim como as transformações que ocorrem com o corpo na adolescência, gravidez, parto e aborto. 16 17 Por isso, é importante que o professor, de acordo com as particularidades de sua turma, possa contemplar de forma reflexiva tais curiosidades, discutindo também os preconceitos em relação aos variados temas, aos comportamentos das meninas e dos meninos, respondendo e tratando de forma direta essas questões. Para atender às diferentes expectativas sobre o trabalho com o tema orientação sexual, os conteúdos foram organizados nos PCN em três blocos, os quais: · Corpo: matriz da sexualidade; · Relações de gênero; · Prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)/Aids. Os conteúdos específicos a serem trabalhados em cada um desses blocos estão disponíveis no volume 10.2 dos PCN (BRASIL, 1997b, p. 138-146). Disponível em: http://goo.gl/CNzEpI. Ex pl or Cada etapa do desenvolvimento infantil está ligada a uma questão diferente sobre sexualidade, por isso é muito importante que o professor leve em conta a faixa etária de sua classe no trabalho com orientação sexual, a fim de evitar antecipar anseios e preocupações nas crianças. “É importante que o professor aborde as questões dentro do interesse e das possibilidades de compreensão próprias da idade de seus alunos, respeitando os medos e as angústias típicos daquele momento” (BRASIL, 1997b, p. 103). Por fim, o professor deve oferecer aos alunos referências e limites no tratamento do tema, mostrando a manifestação da sexualidade como algo que, além de dar prazer, faz parte da vida de cada um e é sinal de desenvolvimento saudável. Em contrapartida, o professor nunca deve utilizar essas discussões para humilhar ou expor os alunos, ou mesmo condenar as manifestações da sexualidade, segundo padrões morais pessoais. Trabalhando com ética e naturalidade, “[...] o professor contribui para que o aluno reconheça como lícitas e legítimas suas necessidades e desejos de obtençãode prazer, ao mesmo tempo que processa as normas de comportamento próprias do convívio social” (BRASIL, 1997b, p. 103). 17 UNIDADE Prática de Ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Estágio Supervisionado Considerações Finais Nesta Unidade foram desenvolvidos e discutidos temas muito importantes para o trabalho docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Compreendemos a importância da prática de ensino e das discussões propiciadas nesta Disciplina para a formação do professor, destacando sua contribuição para que as observações da prática pedagógica, as quais propiciadas nos estágios, possam reforçar essa formação. Conhecemos o conceito de práxis pedagógica, ressaltando a reflexão do professor sobre sua ação, resultando em novas ações revistas e enriquecidas. Nesta Unidade foram destacados também dois focos do trabalho docente: • O professor como gestor da sala de aula, que mostra a importância do trabalho docente nas ações coletivas em ambiente de ensino, na produção de conhecimento, vivência de comportamentos democráticos e promoção da aprendizagem; • Pluralidade cultural e orientação sexual, dois importantes temas introduzidos recentemente nos currículos escolares, que tratam do direito e respeito à diversidade, além das discussões sobre sexualidade, esta considerada como uma das etapas do desenvolvimento humano. Ser professor nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na qualidade de professor polivalente, pede maior dedicação com sua própria aprendizagem, na atualização constante de seu conhecimento, nas diferentes disciplinas que esse profissional deverá ministrar, na constituição da própria prática e no crescimento de seus alunos. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Leia o seguinte e interessante artigo sobre o trabalho em sala de aula e a capacidade do professor em se preparar para imprevistos. Confira ainda dicas da autora para você se sair bem em vinte situações difíceis: SALLA, F. Gestão da sala de aula: você seguro em classe. out. 2012. Disponível em: http://goo.gl/WZInoN Vídeos Assista à entrevista com o professor Celso Vasconcellos a respeito da gestão da sala de aula, com destaque para as estratégias dessa e a importância da relação aluno-professor na participação dos estudantes na sala com vistas à construção do conhecimento: GESTÃO da sala de aula – Celso Vasconcellos. 12 jul. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MrGy_hnv5x8 Leitura Leia o seguinte artigo, o qual mostra como cada escola que recebe e educa os alunos, independentemente de origem, orientação sexual ou deficiência, ensina-os a viverem respeitosamente entre si: MENEZES, L. C. Diferenças: respeito versus preconceito. Disponível em: http://goo.gl/enPHfN Filmes Finalmente, descubra alguns bons filmes e livros para o trabalho com a orientação sexual nas escolas, a partir da lista: Disponível em: http://goo.gl/Y3osB7 19 UNIDADE Referências BRASIL. Lei n.° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: dez. 2015. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. v. 10.1. Brasília, DF, 1997a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro101. pdf>. Acesso em: dez. 2015. ______. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. v. 10.2. Brasília, DF, 1997b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ seb/arquivos/pdf/livro102.pdf>. Acesso em: dez. 2015. CURI, E. A formação inicial de professores para ensinar Matemática: algumas reflexões, desafios e perspectivas. Rematec: Revista de Matemática, Ensino e Cultura, Natal, RN, v. 6, n. 9, p. 75-94, jul. 2011. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia, GO: Alternativa, 2004. PINTO, A. L. G.; FONTANA, R. A. C. Trabalho escolar e produção de conhecimentos. In: MACIEL, L. S. B.; SHIGUNOV NETO; SHIGUNOV, A. (Org.). Desatando os nós da formação docente. Porto Alegre, RS: Mediação, 2002. p. 5-22. 20
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