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i FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA Concreto Armado Domínios de Deformações Flexão Simples Salvador Domingos Marth Piracicaba, junho de 2005. Revisão - 2015 ii Lista de Figuras Figura 1: Trajetória das tensões principais de uma viga biapoiada no estádio I sob carregamento uniformemente distribuído 2 Figura 2: Componentes de tensão segundo os estados de tensão relativos aos eixos principais e aos eixos nas direções x e y 2 Figura 3: Domínios de Estado Limite Último de uma seção transversal 3 Figura 4: Tração Uniforme na reta a 4 Figura 5: Tração Não Uniforme no domínio 1 a 5 Figura 6: Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 2a 5 Figura 7: Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 3 6 Figura 8: Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4 7 Figura 9: Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4a 7 Figura 10: Compressão Não Uniforme no Domínio 5 8 Figura 11: Compressão Uniforme na Reta b 9 Figura 12: Diagrama de deformações para a dedução de X2LIM 9 Figura 13: Diagrama de deformações para a dedução de X3LIM 10 Figura 14: Diagrama de deformações dos domínios 2, 3 e 4 11 Figura 15: Zonas de dimensionamento em função da deformação no aço 12 Figura 16: Diagramas σ x ε parábola-retângulo e retangular simplificado para distribuição de tensões de compressão no concreto 14 Figura 17: Seções com tensão de compressão igual a 0,85 fcd 15 Figura 18: Seções com tensão de compressão igual a 0,8 fcd 15 Figura 19: Disposição da armadura de pele Asp em cada face e com espaçamento e ≤ 20 cm na seção transversal de vigas com h > 60 cm 17 Figura 20: Armadura transversal à alma em seções transversais com mesa 18 Figura 21: Espaçamentos livres mínimos entre as barras de aço 19 Figura 22: Distribuição de tensões e deformações em viga de seção retangular com armadura simples 21 Figura 23: Distribuição de tensões de compressão segundo os diagramas parábola-retângulo e retangular simplificado 21 Figura 24: Seção retangular com armadura dupla 45 Figura 25: Decomposição da seção com armadura dupla 46 Figura 26: Seções pré-moldadas em forma de V, I e duplo T 62 Figura 27: Notação da viga seção T 62 Figura 28: Laje moldada no loção do tipo nervurada 63 Figura 29: Seção celular de pontes rodoviárias 63 Figura 30: Consideração de seção retangular ou T em viga contínua com lajes adjacentes nas bordas inferior ou superior 64 Figura 31: Planta de fôrma da estrutura 65 Figura 32: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V100 66 Figura 33: Analogia de seção L com seção T 66 Figura 34: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V101 67 iii Figura 35: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V102 67 Figura 36: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V103 68 Figura 37: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V104 68 Figura 38: Esquema estático e diagrama de momentos fletores da viga V105 69 Figura 39:Trajetórias das tensões principais na viga T 69 Figura 40: Distribuição das tensões de compressão σx na alma e nas lajes da seção T 70 Figura 41: Distribuição das tensões de compressão σx e trajetória da linha neutra na seção T 70 Figura 42: Largura colaborante de vigas seção T 71 Figura 43: Valores de a em função dos vínculos da viga nos apoios 71 Figura 44: Planta de fôrma com indicação das dimensões para formar as seções L ou T 72 Figura 45: Seção T com altura 0,8x ≤ hf calculada como seção retangular bf . h 73 Figura 46: Decomposição da seção T com armadura simples 75 Figura 47: Dimensões consideradas no cálculo do vão efetivo das vigas 92 Figura 48: Valores práticos para estimativa da altura das vigas 93 Figura 49: Momentos fletores máximos positivos nos vãos de vigas contínuas 95 Figura 50: Condições de vinculação nos apoios internos de vigas contínuas 95 Figura 51: Momento de engastamento perfeito e momento de ligação da viga no pilar extremo 96 Figura 52: Distribuição dos momentos fletores no pilar extremo 96 Figura 53: Aproximação em apoios extremos 97 Figura 54: Arredondamento do diagrama de momentos fletores 99 Figura 55: Plastificação do momento fletor negativo no apoio interno de vigas contínuas 100 iv Lista de Tabelas Tabela 1: Valores de εyd e βx3LIM em função da categoria do aço 10 Tabela 2: Taxas mínimas de armadura de flexão para vigas 16 Tabela 3: Valores de βfl 94v Lista de Anexos Anexo A-1: Valores de Kc e Ks para o aço CA-50 110 Anexo A-2: Valores de Kc e Ks para os aços CA-25, CA-50 e CA-60 111 Anexo A-3: Área e massa linear de fios e barras de aço (NBR 7480/96) 112 Anexo A-4: Área de aço e largura bw mínima 113 Anexo A-5: Tensão e deformação na armadura para diferentes relações d’/d para a linha neutra em X3lim. relações d’/d para a linha neutra em X3lim 115 Anexo A-6: Deformação e coeficiente K’s para diferentes 115 Anexo A-7: Tensão e deformação na armadura para diferentes relações d’/d para a linha neutra em 0,4d 116 Anexo A-8: Deformação e coeficiente K’s para diferentes relações d’/d para a linha neutra em 0,4d 116 vi Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1 2. DOMÍNIO DE DEFORMAÇÕES .......................................................................................... 3 3. HIPÓTESES DE CÁLCULO ................................................................................................ 14 4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS DAS ARMADURAS ................................................... 16 4.1 ARMADURAS LONGITUDINAIS MÁXIMAS E MÍNIMAS ..................................... 16 4.1.1 Armadura Mínima de Tração ................................................................................... 16 4.1.2 Armadura Longitudinal Máxima .............................................................................. 17 4.1.3 Armadura de Pele ..................................................................................................... 17 4.1.4 Armaduras de Ligação Mesa-Alma .......................................................................... 18 4.1.5 Espaçamento Livre entre as Barras .......................................................................... 18 5. SEÇÃO RETANGULAR COM ARMADURA SIMPLES .................................................. 20 5.1 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO ...................................................................................... 20 5.2) CÁLCULO MEDIANTE COEFICIENTES TIPO K .................................................... 24 5.3 EXEMPLOS NUMÉRICOS ........................................................................................... 25 6. SEÇÃO RETANGULAR COM ARMADURA DUPLA ..................................................... 44 6.1 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO ...................................................................................... 44 6.2) CÁLCULO MEDIANTE COEFICIENTES TIPO K .................................................... 49 6.3 EXEMPLOS NUMÉRICOS ........................................................................................... 50 7. SEÇÃO T ............................................................................................................................... 62 7.1) LARGURA COLABORANTE ...................................................................................... 69 7.2) SEÇÃO T COM ARMADURA SIMPLES ................................................................... 73 7.2.1 Equações de Equilíbrio ............................................................................................. 73 7.2.2 Cálculo mediante Coeficientes tipo K ...................................................................... 76 7.2.3 Exemplos Numéricos ................................................................................................ 78 8. CARGAS VERTICAIS NAS VIGAS ................................................................................... 90 8.1 PESO PRÓPRIO ............................................................................................................. 90 8.2 PAREDES ....................................................................................................................... 90 8.3 LAJES .............................................................................................................................. 90 8.4 OUTRAS VIGAS ............................................................................................................ 91 9. PRESCRIÇÕES GERAIS PARA AS VIGAS ...................................................................... 92 9.1 VÃO EFETIVO ............................................................................................................... 92 9.2 DEFINIÇÃO DA ALTURA E DA LARGURA ............................................................. 92 9.3 INSTABILIDADE LATERAL ....................................................................................... 93 9.4 APROXIMAÇÕES PERMITIDAS EM VIGAS CONTÍNUAS DE ESTRUTURAS USUAIS DE EDIFÍCIOS ...................................................................................................... 94 9.5 ARREDONDAMENTO DO DIAGRAMA DE MOMENTOS FLETORES ................. 98 9.6 LIMITES PARA REDISTRIBUIÇÃO DE MOMENTOS FLETORES ........................ 99 10. EXERCÍCIOS PROPOSTOS ............................................................................................ 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 107 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................................................... 108 1 1. INTRODUÇÃO A flexão simples é definida como a flexão sem força normal. Quando a flexão ocorre acompanhada de força normal tem-se a flexão composta. Solicitações normais são aquelas cujos esforços solicitantes produzem tensões normais (perpendiculares) às seções transversais dos elementos estruturais. Os esforços que provocam tensões normais são o momento fletor (M) e a força normal (N). Nas estruturas de concreto armado são três os elementos estruturais mais importantes: as lajes, as vigas e os pilares. E dois desses elementos, as lajes e as vigas, são submetidas à flexão normal simples, embora possam também, eventualmente, estarem submetidas à flexão composta. Por isso, o dimensionamento de seções retangulares e seções T sob flexão normal simples é a atividade diária mais comum aos engenheiros projetistas de estruturas de concreto armado (SANTOS, 1983). De modo que o estudo da flexão simples é muito importante. O estudo da flexão normal simples tem como objetivo proporcionar ao aluno o correto entendimento dos mecanismos resistentes proporcionados pelo concreto sob compressão e pelo aço sob tração, em seções retangulares e T, visando levá-lo a bem dimensionar ou verificar a resistência dessas seções. O equacionamento para a resolução dos problemas da flexão simples é deduzido em função de duas equações de equilíbrio da estática, e que proporciona as chamadas “equações teóricas”, que podem ser facilmente implementadas para uso em programas computacionais. Também é apresentado o equacionamento com base em coeficientes tabelados tipo K, largamente utilizados no Brasil. É importante esclarecer o aluno que no estudo desta apostila ele aprenderá a dimensionar as seções transversais das vigas aos momentos fletores máximos, e fazer o detalhamento das armaduras de flexão apenas na seção transversal correspondente. Nesta disciplina o estudo das vigasestá apenas iniciando. O estudo completo das vigas simples ou contínuas, com dimensionamentos aos esforços cortantes e momentos torçores, bem como o detalhamento completo e ancoragem das armaduras, só será alcançado ao término da disciplina - Estruturas de Concreto II. Além disso, outros tópicos relativos às vigas, como fissuração e flecha. No caso de uma viga biapoiada sob carregamento uniformemente distribuído, no estádio I, as tensões principais na altura da linha neutra (a meia altura da viga) apresentam inclinação de 45° (ou 135°) em relação ao eixo longitudinal da viga, como mostrado na Figura 1. Observe que nas regiões próximas aos apoios as trajetórias das tensões principais inclinam- se por influência das forças cortantes, mantendo, no entanto, a perpendicularidade entre as trajetórias. 2 + - + σII σI Direção de (tensões de tração) Direção de (tensões de compressão) σI σII M V x Figura 1 - Trajetória das tensões principais de uma viga biapoiada no estádio I sob carregamento uniformemente distribuído (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). O carregamento induz o surgimento de diferentes estados de tensão nos infinitos pontos que compõem a viga, e que podem ser representados por um conjunto de diferentes componentes, em função da orientação do sistema de eixos considerados. Como exemplo, a Figura 2 mostra a representação dos estados de tensão em dois pontos da viga, conforme os eixos coordenados x-y e os eixos principais. O estado de tensão segundo os eixos x-y define as tensões normais σx, as tensões σy e as tensões de cisalhamento τxy e τyx. O estado de tensão segundo os eixos principais definem as tensões principais de tração σI e de compressão σII . A tensão σy pode ser em geral desprezada, tendo importância apenas nos trechos próximos à introdução de cargas. O dimensionamento das estruturas de concreto armado toma como base normalmente as tensões σx e τxy . X y X y y = 0 x X y ( - ) ( + ) II I ( - ) ( + ) + xy yx Figura 2 – Componentes de tensão segundo os estados de tensão relativos aos eixos principais e aos eixos nas direções x e y (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 3 2. DOMÍNIO DE DEFORMAÇÕES Os domínios são representações das deformações que ocorrem na seção transversal dos elementos estruturais. As deformações são de alongamento e de encurtamento, oriundas de tensões de tração e compressão, respectivamente. Segundo a NBR6118/2014 (item 17.2.2), o estado limite último (ELU) de elementos lineares sujeitos a solicitações normais é caracterizado quando a distribuição das deformações na seção transversal pertencer a um dos domínios definidos na figura 3: Figura 3 – Domínios de Estado Limite Último de uma seção transversal (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). A ruptura convencional pode ocorrer por deformação plástica excessiva da armadura (reta a e domínios l e 2) ou por encurtamento excessivo do concreto (domínios 3, 4, 4a, 5 e reta b). O desenho mostrado na Figura 3 representa vários diagramas de deformação de casos de solicitações diferentes, com as deformações limites de 3,5 ‰ para o máximo encurtamento do concreto comprimido e 10 ‰ para o máximo alongamento na armadura tracionada. Os valores de 3,5 ‰ e 10 ‰ são valores últimos, de onde se diz que todos os diagramas de deformação correspondem ao estado limite último considerado. As linhas inclinadas dos diagramas de deformações são retas, pois se admite a hipótese básica das seções transversais permanecerem planas até a ruptura. A capacidade resistente da peça é admitida esgotada quando se atinge o alongamento máximo convencional de 10 ‰ na armadura tracionada ou mais tracionada, ou, de outro modo, correspondente a uma fissura com abertura de l mm para cada 10 cm de comprimento da peça. Os diagramas valem para todos os elementos estruturais que estiverem sob solicitações normais, como a tração e a compressão uniformes e as flexões simples e compostas. 4 Solicitação normal é definida como os esforços solicitantes que produzem tensões normais nas seções transversais das peças. Os esforços podem ser o momento fletor e a força normal. O desenho dos diagramas de domínios pode ser visto como uma peça sendo visualizada em vista ou elevação, constituída com duas armaduras longitudinais próximas às faces superior e inferior da peça. A posição da linha neutra é dada pelo valor de x, contado a partir da fibra mais comprimida ou menos tracionada da peça. No caso específico da Figura 3, x é contado a partir da face superior. Em função dos vários domínios possíveis, a linha neutra estará compreendida no intervalo entre -∞ (lado superior do diagrama no desenho da Figura 3) e +∞ (lado inferior do diagrama). Quando 0 < x < h, a linha neutra estará passando dentro da seção transversal. São descritas a seguir as características da cada um dos oito diferentes domínios de deformações: RETA A O caso de solicitação da reta a é a tração uniforme (também chamada tração simples ou tração axial), com a força normal de tração aplicada no centro de gravidade da seção transversal (Figura 4). A linha neutra encontra-se no -∞, e todos os pontos da seção transversal, inclusive as armaduras estão com deformação de alongamento igual à máxima de 10 ‰. As duas armaduras, portanto, estão com a mesma tensão de tração, a de início de escoamento do aço. Como exemplo, existem os tirantes. Figura 4 – Tração Uniforme na reta a (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). DOMÍNO l O domínio l ocorre quando a força normal de tração não é aplicada no centro de gravidade da seção transversal, isto é, existe uma excentricidade da força normal em relação ao centro de gravidade. Neste caso, ocorre a tração não uniforme, e a seção ainda está 5 inteiramente tracionada, embora com deformações diferentes (Figura 5). Também se diz que a solicitação é de tração excêntrica com pequena excentricidade, ou flexo-tração. Figura 5 – Tração Não Uniforme no domínio 1 (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). A deformação de alongamento na armadura mais tracionada é fixa e vale 10 ‰. A linha neutra é externa à seção transversal, podendo estar no intervalo entre -∞ (reta a) e zero (limite entre os domínios l e 2), com x tendo um valor negativo. A capacidade resistente da seção é proporcionada apenas pelas armaduras tracionadas, pois o concreto encontra-se inteiramente fissurado. Como exemplo de elemento estruturais no domínio l há o tirante. DOMÍNIO 2 No domínio 2 ocorrem os casos de solicitação de flexão simples, tração excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande excentricidade. A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 6). O domínio 2 é caracterizado pela deformação de alongamento fixada em 10 ‰ na armadura tracionada. Em função da posição da linha neutra, que pode variar de zero a X2lim, (0 < x < X2lim), a deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de zero até 3,5 ‰. Quando a linha neutra passar por X2lim, ou seja, x=X2lim, as deformações na armadura tracionada e no concreto da borda comprimida serão os valores últimos, 10 ‰ e 3,5 ‰, respectivamente. Figura 6 – Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 2 (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 6 No domínio 2, diz-se que a armadura tracionada (As2) é aproveitada ao máximo, com εsd 10 ‰, mas o concreto comprimido não, com εcd < 3,5‰. O domínio 2 é subdividido em 2a e 2b em função da deformação máxima de encurtamento no concreto comprimido. No domínio 2a considera-se a deformação variando de zero a 2 ‰ e no domínio 2b de 2 ‰ a 3,5 ‰. DOMINIO 3 Os casos de solicitação são os mesmos do domínio 2, ou seja,flexão simples, tração excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande excentricidade. A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 37). O domínio 3 é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida. A deformação de alongamento na armadura tracionada varia da deformação de início de escoamento do aço (εyd) até o valor máximo de 10 ‰, o que implica que a tensão na armadura é a máxima permitida, fyd (ver Figura 7). Figura 7 – Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 3 (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). A posição da linha neutra pode variar, desde o valor X2lim até X3lim (X2lim ≤ x ≤ X3lim), que delimita os domínios 3 e 4. A deformação de encurtamento na armadura comprimida é menor, mas próxima a 3,5 ‰, por estar próxima à borda comprimida, onde a deformação é 3,5‰. Na situação última a ruptura do concreto comprimido ocorre simultaneamente com o escoamento da armadura tracionada. DOMÍNIO 4 Os casos de solicitação do domínio 4 são a flexão simples e a flexão composta (flexo- compressão ou compressão excêntrica com grande excentricidade). A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 8). O domínio 4 é caracterizado pela deformação 7 de encurtamento máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida. A deformação de alongamento na armadura tracionada varia de zero até a deformação de início de escoamento do aço (εyd), o que implica que a tensão na armadura é menor que a máxima permitida, fyd (ver figura 3). A posição da linha neutra pode variar de X3lim até a altura útil d (X3lim ≤ x ≤ d). Figura 8 – Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4 (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). DOMÍNIO 4A No domínio 4a a solicitação é de flexão composta (flexo-compressão). A seção transversal tem uma pequena parte tracionada e a maior parte comprimida (Figura 9). O domínio 4a também é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada em 3,5‰ no concreto da borda comprimida. A linha neutra ainda está dentro da seção transversal, na região de cobrimento da armadura menos comprimida, ou seja, d ≤ x ≤ h. Ambas as armaduras encontram-se comprimidas, embora a armadura próxima à linha neutra tenha tensões muito pequenas. Figura 9 – Caso de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4a (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 8 DOMÍNIO 5 No domínio 5, ocorre a compressão não uniforme ou flexo-compressão com pequena excentricidade (flexão composta). A linha neutra não corta a seção transversal, que esta completamente comprimida, embora com deformações diferentes. As duas armaduras também estão comprimidas. A posição da linha neutra varia de h até +∞ (Figura 10). O que caracteriza o domínio 5 é o ponto C a 3/7 h , como mostrado na Figura 4. A linha inclinada do diagrama de deformações passa sempre por este ponto no domínio 5. A deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de 2 ‰ a 3,5 ‰ e na borda menos comprimida varia de 0 a 2 ‰, em função da posição x da linha neutra. Com exceção do caso da linha neutra x = h, a forma do diagrama de deformações será a de um trapézio. Figura 10 – Compressão Não Uniforme no Domínio 5 (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). RETA B O caso de solicitação da reta b é a compressão uniforme (também chamada compressão simples ou compressão axial), com a força normal de compressão aplicada no centro de gravidade da seção transversal (Figura 11). A linha neutra encontra-se no + ∞, e todos os pontos da seção transversal estão com deformação de encurtamento igual a 2 ‰. As duas armaduras, portanto, estão sob a mesma deformação e a mesma tensão de compressão. 9 Figura 11 – Compressão Uniforme na Reta b (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). DETERMINAÇÃO DE X2LIM E X3LIM Tendo como base os diagramas de domínios mostrados na Figura 3, os valores limites de X2LIM e X3LIM podem ser deduzidos. Da Figura 12 deduz-se o valor de X2LIM: Figura 12 – Diagrama de deformações para a dedução de X2LIM (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 10 Com o procedimento análogo pode-se deduzir o valor de X3LIM. Da figura 13, tem-se: Figura 13 – Diagrama de deformações para a dedução de X3LIM (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). Como se observa nas anteriores, os valores de X3LIM e βx3LIM dependem de εyd, isto é, dependem da categoria do aço da armadura passiva. A tabela 1 mostra os valores de X3LIM e βx3LIM em função da categoria do aço. Tabela 1 – Valores de εyd e βx3LIM em função da categoria do aço (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 11 COMPARAÇÃO DOS DOMÍNIOS 2, 3 E 4 As deformações nos materiais componentes das vigas de concreto armado submetidas à flexão simples encontram-se nos domínios de deformações 2, 3 ou 4, conforme definidos na NBR 6118/14 (item 17.2.2). A análise das Figuras 5 e 6 permite fazer as seguintes considerações das vigas na flexão simples em relação aos domínios 2, 3 e 4: a) Domínio 2 No domínio 2 a deformação de alongamento na armadura tracionada (εsd) é fixa e igual a 10 ‰, e a deformação de encurtamento na fibra mais comprimida de concreto (εcd) varia entre zero e 3,5 ‰ (0 ≤ εcd ≤ 3,5 ‰). Sob a deformação de 10 ‰ a tensão na armadura corresponde à máxima permitida no aço (fyd), como se pode verificar no diagrama σ x ε do aço mostrado na Figura 15. No domínio 2, portanto, a armadura tracionada é econômica, isto é, a máxima tensão possível no aço pode ser implementada nessa armadura. Na questão relativa à segurança, a ruptura, se vier a ocorrer, será chamada com “aviso prévio”, isto é, como a armadura continuará escoando além dos 10 ‰, a fissuração na viga será intensa e ocorrerá antes de uma possível ruptura por esmagamento do concreto na região comprimida. A intensa fissuração será visível e funcionará como um aviso aos usuários do comportamento inadequado da viga, alertando-os, de modo que sejam tomadas medidas visando a evacuação da construção, antes que uma possível ruptura possa vir a ocorrer. As vigas dimensionadas no domínio 2 são, por vezes, chamadas subarmadas. Embora esse termo conste na NBR 6118/14 ele não será utilizado nesse texto, pois é inadequado, dando a falsa ideia de que a seção tem armadura insuficiente. Na verdade, a seção no domínio 2 tem a área de armadura necessária, nem mais nem menos. Superarmada Seção B 3,5 ‰0 0ε A 10 ‰ 2 3 4 Zona Útil yd A s Figura 14 – Diagrama de deformações dos domínios 2, 3 e 4. 12 Zona Útil 10 ‰ s ydf sσ ydε ε Seções Superarmadas Figura 15 - Zonas de dimensionamento em função da deformação no aço. b) Domínio 3 No domínio 3 a deformação de encurtamento na fibra mais comprimida corresponde ao valor último ou máximo, de 3,5 ‰. A deformação de alongamento na armadura tracionada varia entre εyd (deformação de início de escoamento do aço) e 10 ‰, o que significa que a armadura escoa de um certo valor. Verifica-se na Figura 15 que a tensão na armadura é a máxima permitida, igual a fyd, pois qualquer que seja a deformação entre εyd e 10 ‰ (zona útil), a tensão será fyd. Isso implica que, assim como no domínio 2, a armadura também é econômica no domínio 3. Neste domínio, portanto, tanto o concreto como o aço são aproveitados ao máximo, ao contrário do domínio 2, onde o concreto tem deformações menores que a máxima de 3,5 ‰. A ruptura no domínio 3 é também chamada com “aviso prévio”, pois a armadura, ao escoar, acarretará fissuras visíveis naviga, antes que o concreto possa romper-se por esmagamento. Quando a viga tem as deformações últimas de 3,5 ‰ no concreto e 10 ‰ na armadura alcançada simultaneamente, costuma-se dizer que a seção é “normalmente armada”. A linha neutra coincide com o X3lim, e a seção está no limite entre os domínios 3 e 4. c) Domínio 4 No domínio 4 a deformação de encurtamento na fibra mais comprimida está com o valor máximo de 3,5 ‰, e a armadura tracionada não está escoando, pois a sua deformação é menor que εyd. Neste caso, conforme se pode notar no diagrama σ x ε do aço mostrado na Figura 15, a tensão na armadura é menor que a máxima permitida. A armadura resulta, portanto, anti-econômica, pois não aproveita a máxima capacidade do aço. Diz-se então que a armadura está “folgada” e a seção é chamada superarmada, como mostrado nas Figuras 14 e 15. 13 O projeto das vigas no domínio 4 deve ser evitado, pois além da questão da economia a ruptura será do tipo “frágil”, ou “sem aviso prévio”, onde o concreto rompe por compressão (εcd > 3,5 ‰), causando o colapso da estrutura antes da intensa fissuração provocada pelo aumento do alongamento na armadura tracionada. Como conclusão pode-se afirmar: “Não se deve projetar as vigas à flexão simples no domínio 4, e sim nos domínios 2 e 3, com preferência ao domínio 3 por ser mais econômico”. 14 3. HIPÓTESES DE CÁLCULO Na determinação dos esforços resistentes de elementos fletidos, como vigas, lajes e pilares, são admitidas as seguintes hipóteses básicas (NBR 6118/14 item 17.2.2): a) As seções transversais permanecem planas até a ruptura, com distribuição linear das deformações na seção; b) A deformação em cada barra de aço é a mesma do concreto no seu entorno. Essa propriedade ocorre desde que haja aderência entre o concreto e a barra de aço; c) No estado limite último (ELU) despreza-se obrigatoriamente a resistência do concreto à tração; d) O encurtamento de ruptura convencional do concreto nas seções não inteiramente comprimidas é de 3,5 ‰ (domínios 3, 4 e 4a); e) O alongamento máximo permitido ao longo da armadura de tração é de 10 ‰, a fim de prevenir deformações plásticas excessivas; f) A distribuição das tensões de compressão no concreto ocorre segundo o diagrama tensão-deformação parábola-retângulo. Porém, é permitida a substituição desse diagrama pelo retangular simplificado, com altura y = 0,8x, e a mesma tensão de compressão σcd, como mostrado na Figura 16. h 3,5 ‰ 2 ‰ x y = 0, 8 x cσ σc LN Figura 16 – Diagramas σ x ε parábola-retângulo e retangular simplificado para distribuição de tensões de compressão no concreto. A tensão de compressão no concreto (σcd) é definida como: a) no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, quando a seção não diminui da linha neutra em direção à borda comprimida (Figura 17), a tensão é: c ck cdcd f85,0f85,0 γ ==σ (Eq. 1) 15 LN Figura 17 - Seções com tensão de compressão igual a 0,85 fcd . b) em caso contrário, isto é, quando a seção diminui (Figura 18), a tensão é: c ck cdcd f8,0f8,0 γ ==σ (Eq. 2) LN Figura 18 - Seções com tensão de compressão igual a 0,8 fcd . c) A tensão nas armaduras é a correspondente à deformação determinada de acordo com as hipóteses anteriores e obtida nos diagramas tensão-deformação do aço (ver Figura 15). 16 4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS DAS ARMADURAS 4.1 ARMADURAS LONGITUDINAIS MÁXIMAS E MÍNIMAS Nos itens 17.3.5 e 18, a NBR 6118/14 estabelece diversas prescrições relativas à armadura longitudinal mínima e máxima e armadura de pele. 4.1.1 Armadura Mínima de Tração “A armadura mínima de tração, em elementos estruturais armados ou protendidos deve ser determinada pelo dimensionamento da seção a um momento fletor mínimo dado pela expressão a seguir, respeitada a taxa mínima absoluta 0,15 %.” Md,mín = 0,8 W0 fctk,sup (Eq. 3) onde: W0 = módulo de resistência da seção transversal bruta de concreto relativo à fibra mais tracionada; fctk,sup = resistência característica superior do concreto à tração: fctk,sup = 1,3 fct,m (Eq. 4) 3 2 ckm,ct f3,0f = (MPa) (Eq. 5) sup0min0 0 80,0 ctkfMdMMI Mgi ωσω ω σ =∴=∴== (Eq. 6) O dimensionamento para Md,mín deve ser considerado atendido se forem respeitadas as taxas mínimas de armadura da Tabela 2. Tabela 2 - Taxas mínimas de armadura de flexão para vigas. Forma da seção Valores de ρmín (%) (As,mín/Ac) (1) fck ωmín 20 25 30 35 40 45 50 Retangular 0,035 0,150 0,150 0,173 0,201 0,230 0,259 0,288 T (mesa comprimida) 0,024 0,150 0,150 0,150 0,150 0,158 0,177 0,197 T (mesa tracionada) 0,031 0,150 0,150 0,153 0,178 0,204 0.229 0,255 Circular 0,070 0,230 0,288 0,345 0,403 0,460 0,518 0,575 17 (1) Os valores de ρmín estabelecidos nesta tabela pressupõem o uso de aço CA-50, γc = 1,4 e γs = 1,15. Caso esses fatores sejam diferentes, ρmín deve ser recalculado com base no valor de ωmín dado. NOTA: Nas seções tipo T, a área da seção a ser considerada deve ser caracterizada pela alma acrescida da mesa colaborante. Em elementos estruturais superdimensionados pode ser utilizada armadura menor que a mínima, com valor obtido a partir de um momento fletor igual ao dobro de Md. Neste caso, a determinação dos esforços solicitantes deve considerar de forma rigorosa todas as combinações possíveis de carregamento, assim como os efeitos de temperatura, deformações diferidas e recalques de apoio. Deve-se ter ainda especial cuidado com o diâmetro e espaçamento das armaduras de limitação de fissuração. 4.1.2 Armadura Longitudinal Máxima “A soma das armaduras de tração e de compressão (As + As’) não deve ter valor maior que 4 % Ac , calculada na região fora da zona de emendas.” 4.1.3 Armadura de Pele Nas vigas com h > 60 cm, deve ser colocada uma armadura lateral, chamada armadura de pele (Figura 19), em cada face da alma da viga, composta por barras de alta aderência (η1 ≥ 2,25) e com espaçamento não maior que 20 cm, com área mínima igual a: Asp,face = 0,10 % Ac,alma = 0,0010 bw . h (Eq. 7) “Em vigas com altura igual ou inferior a 60 cm, pode ser dispensada a utilização da armadura de pele.” e e e e e e e e e e b dh > 60 cm w Figura 19 – Disposição da armadura de pele Asp em cada face e com espaçamento e ≤ 20 cm na seção transversal de vigas com h > 60 cm. <0,10h 18 4.1.4 Armaduras de Ligação Mesa-Alma “Os planos de ligação entre mesas e almas ou talões e almas de vigas devem ser verificados com relação aos efeitos tangenciais decorrentes das variações de tensões normais ao longo do comprimento da viga, tanto sob o aspecto de resistência do concreto, quanto das armaduras necessárias para absorver as trações decorrentes desses efeitos. As armaduras de flexão da laje, existentes no plano de ligação, podem ser consideradas como parte da armadura de ligação, complementando-se a diferença entre ambas, se necessário. A seção transversal mínima dessa armadura, estendendo-se por toda a largura útil e ancorada na alma, deve ser de 1,5 cm2 por metro” (Figura 20). b f h f wb h >1,5 cm /m2 Figura 20 – Armadura transversal à alma em seções transversais com mesa. 4.1.5 Espaçamento Livre entre as BarrasA fim de se garantir que o concreto penetre com facilidade dentro da forma e envolva completamente as barras de aço das armaduras, a NBR 6118/14 estabelece os seguintes espaçamentos livres mínimos entre as barras (Figura 21): - numa mesma camada horizontal φ≥ agrmáx, mín,h d 2,1 cm 2 e l (Eq. 8) - numa mesma fila vertical φ≥ agrmáx, mín,v d 5,0 cm 2 e l (Eq. 9) 19 onde: eh,mín = espaçamento livre horizontal mínimo entre duas barras da mesma camada; ev,mín = espaçamento livre vertical mínimo entre duas barras de camadas diferentes; dmáx,agr = diâmetro máximo do agregado graúdo utilizado no concreto. w h v Øt Øl c b e e Figura 21 – Espaçamentos livres mínimos entre as barras de aço. 20 5. SEÇÃO RETANGULAR COM ARMADURA SIMPLES Embora a seção transversal das vigas possa ter qualquer forma, na maioria dos casos da prática a seção adotada é a retangular ou aquela com forma de T. Em estruturas compostas por vigas e lajes maciças, a seção T ocorre quando se pode contar com a contribuição das lajes para a resistência às tensões de compressão da flexão, como se verá com detalhes mais adiante. Porém, no caso de lajes tipo nervurada ou pré- fabricada, com altura da capa de 4 cm, a contribuição da capa é pequena e comumente desprezada, obrigando a se considerar no cálculo apenas a seção retangular. Define-se por viga com armadura simples a seção que contém apenas a armadura tracionada, e considera-se que a área de concreto comprimido é suficiente para resistir às tensões de compressão, sem a necessidade de se acrescentar armadura na região comprimida. Depois será estudada a seção com armadura dupla, que é aquela que contém também uma armadura comprimida, além da armadura tracionada. 5.1 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO A formulação dos esforços internos resistentes da seção é feita com base nas equações de equilíbrio das forças normais e dos momentos fletores: - 0N =∑ e 0M =∑ (Eq. 10) A Figura 22 mostra a seção retangular de uma viga solicitada por momento fletor positivo, com largura bw e altura h, armadura As e área A’c de concreto comprimido delimitada pela linha neutra. A linha neutra é demarcada pela distância x, contada a partir da fibra mais comprimida da seção. O diagrama de deformações ao longo da altura da seção, com as deformações notáveis εcd (máximo encurtamento do concreto comprimido) e εsd (alongamento na armadura tracionada) e o diagrama retangular simplificado de distribuição de tensões de compressão, com altura y = 0,8x, e as respectivas resultantes de tensão (Rcc e Rst) também estão mostrados na Figura 22. 21 σcd cd0,85 f Rcc ccZ Rst εcd LN x Rcc M As A'c h d d - x y = 0,8x bw stR εsdsA Figura 22 – Distribuição de tensões e deformações em viga de seção retangular com armadura simples. Para ilustrar melhor a forma de distribuição das tensões de compressão na seção, a Figura 23 mostra a seção transversal em perspectiva, com os diagramas parábola-retângulo e retangular simplificado, como apresentados anteriormente. O equacionamento apresentado a seguir será feito segundo o diagrama retangular simplificado, que conduz a equações mais simples e com resultados muito próximos aqueles obtidos com o diagrama parábola-retângulo. z 0,4x 0,8x 0,85 fcd bw ccR As x cd ccR Rst As wb x LN LN stR 0,85 f Figura 23 – Distribuição de tensões de compressão segundo os diagramas parábola-retângulo e retangular simplificado. a) Equilíbrio de Forças Normais Considerando que na flexão simples não ocorrem forças normais solicitantes, e que a força resultante das tensões de compressão no concreto deve estar em equilíbrio com a força resultante das tensões de tração na armadura As, como indicadas na Figura 22, pode-se escrever: stcc RR = (Eq. 11) 22 Tomando da Resistência dos Materiais que A R =σ , a força resultante das tensões de compressão no concreto pode ser escrita como: cdwwcdccdcc fxb68,0bx8,0f85,0'AR ==σ= (Eq. 12) e a força resultante das tensões de tração na armadura tracionada: ssdst AR σ= (Eq. 13) b) Equilíbrio de Momentos Fletores Considerando o equilíbrio de momentos fletores na seção, o momento fletor solicitante deve ser equilibrado por um momento fletor resistente, proporcionado pelo concreto comprimido e pela armadura tracionada. Assumindo valores de cálculo, por simplicidade de notação ambos os momentos fletores devem ser iguais ao momento fletor de cálculo Md, tal que: Msolic = Mresist = Md (Eq. 14) As forças resistentes internas, proporcionadas pelo concreto comprimido e pela armadura tracionada, formam um binário oposto ao momento fletor solicitante, podendo ser escrito: Md = Rcc . zcc (Eq. 15) Md = Rst . zcc (Eq. 16) onde: Rcc . zcc = momento interno resistente, proporcionado pelo concreto comprimido; Rst . zcc = o momento interno resistente, proporcionado pela armadura tracionada. Com zcc = d – 0,4x e aplicando a Eq. 12 na Eq. 15, fica: ( )x4,0dbx8,0f85,0M wcdd −= ,então: ( )xdfxbM cdwd 4,0.68,0 −= (Eq. 15) que é definido como o momento interno resistente proporcionado pelo concreto comprimido. O valor de Md deve ser considerado em valor absoluto. Substituindo a Eq. 13 na Eq. 16 define-se o momento interno resistente proporcionado pela armadura tracionada: 23 ( )x4,0dAM ssdd −σ= (Eq. 17) Isolando a área de armadura tracionada: ( )x4,0d MA sd d s −σ = (Eq. 18) As Eq. 15 e 18 proporcionam o dimensionamento das seções retangulares com armadura simples. Nota-se que são sete as variáveis contidas nas duas equações, o que leva, portanto, na necessidade de se adotarem valores para cinco das sete variáveis. Na prática, de modo geral, fixam-se os materiais (concreto e aço), a seção transversal, o momento fletor solicitante geralmente é conhecido, ficando como incógnitas a posição da linha neutra (x) e a área de armadura (As). Com a Eq. 15 determina-se a posição x para a linha neutra, o que permite definir qual o domínio em que a viga se encontra (2, 3 ou 4). Nos domínios 2 ou 3 a tensão na armadura tracionada (σsd) é igual à máxima tensão possível, isto é, fyd (ver diagramas mostrados nas figuras anteriores). Definidos x e σsd calcula-se a área de armadura tracionada (As) com a Eq. 18. Se resultar o domínio 4, a seção deverá ser dimensionada com armadura dupla, como se verá mais adiante. A flexão simples ocorre nos domínios 2, 3 ou 4. Com o intuito de melhorar a ductilidade das estruturas nas regiões de apoio das vigas ou de ligações com outros elementos estruturais, a NBR 6118/14 (item 14.6.4.3) impõe que a posição da linha neutra obedeça aos seguintes limites: a) βx = x/d ≤ 0,50 para concretos C35 ou de menor resistência (fck ≤ 35 MPa); ou b) βx = x/d ≤ 0,40 para concretos superiores ao C35 (fck > 35 MPa). Com esses limites a norma quer aumentar a capacidade de rotação das vigas nas regiões de apoio ou de ligação com outros elementos, ou seja, quer aumentar a ductilidade, que é a capacidade do elemento ou material deformar-se mais até a ruptura. No entanto, nas seções ao longo dos vãos das vigas, não ocorrendo ligação com outros elementos, não será necessário limitar a posição da linha neutra. c) Permanência da Seção Plana Do diagrama de deformações mostrado na Figura 22 define-sea relação entre as deformações de cálculo na armadura (εsd) e no concreto correspondente à fibra mais comprimida: xd x sd cd − = ε ε (Eq. 19) 24 Considerando-se a variável βx , que relaciona a posição da linha neutra com a altura útil d, tem-se: d x x =β (Eq. 20) Substituindo x por βx.d na Eq. 19 fica: sdcd cd x ε+ε ε =β (Eq. 21) 5.2) CÁLCULO MEDIANTE COEFICIENTES TIPO K Com o intuito de facilitar o cálculo manual, há muitos anos vem se ensinando no Brasil a utilização de tabelas com variáveis do tipo K. Para diferentes posições da linha neutra, expressa pela relação βx = x/d, são tabelados coeficientes Kc e Ks, relativos à resistência do concreto e à tensão na armadura tracionada. Os coeficientes Kc e Ks encontram-se apresentados nos Anexos A-1 e A-2, colocados no final desta apostila. O anexo A-1 é para apenas o aço CA-50 e o anexo A-2 é para todos os tipos de aço para concreto armado. Considerando a Eq. 15, ( )x4,0dfxb68,0M cdwd −= , substituindo x por βx.d, encontram-se: ( )d4,0dfdb68,0M xcdxwd β−β= (Eq. 21) ( )xcd2xwd 4,01fdb68,0M β−β= (Eq. 22) Introduzindo o coeficiente Kc: c 2 w d K dbM = (Eq. 23) Onde: ( )xcdx c 4,01f68,0 K 1 β−β= (Eq. 24) Isolando o coeficiente Kc tem-se: d 2 w c M dbK = (Eq. 25) O coeficiente Kc está apresentado no anexo A-1. Observe na Eq. 24 que Kc depende da resistência do concreto à compressão (fcd) e da posição da linha neutra, expressa pela variável βx. 25 O coeficiente tabelado Ks é definido substituindo-se x por βx . d na Eq. 18: ( )x4,0d MA sd d s −σ = ⇒ ( ) d4,01 MA xsd d s β−σ= (Eq. 26) Onde: ( )xsds 4,01 1K β−σ= (Eq. 27) A área de armadura tracionada As, em função do coeficiente Ks é: d MKA dss = (Eq. 28) O coeficiente Ks está apresentado no anexo A-1. Observe que Ks depende da tensão na armadura tracionada (σsd) e da posição da linha neutra, expressa por βx. 5.3 EXEMPLOS NUMÉRICOS As vigas têm basicamente dois tipos de problemas para serem resolvidos: de dimensionamento e de verificação. O dimensionamento consiste em se determinar qual a armadura necessária para uma viga, sendo previamente conhecidos: os materiais, a seção transversal e o momento fletor solicitante. Esse tipo de cálculo normalmente é feito durante a fase de projeto das estruturas, para a sua futura construção. Nos problemas de verificação a incógnita principal é o máximo momento fletor que a seção pode resistir. Problemas de verificação normalmente ocorrem quando a viga pertence a uma construção já executada e em utilização, e se deseja conhecer a capacidade de carga de uma viga. Para isso é necessário conhecer os materiais que compõem a viga, como a classe do concreto (fck), o tipo de aço, a quantidade de armadura e o seu posicionamento na seção transversal, as dimensões da seção transversal, etc. Na grande maioria dos casos da prática os problemas são de dimensionamento, e esporadicamente ocorrem os problemas de verificação. 1º) Calcular a área de armadura necessária e as deformações nos materiais de uma viga, como mostrada na figura abaixo, para o momento fletor máximo, sendo conhecidos: Mk,máx = 10.000 kN.cm d = 47 cm γc = 1,4 ; γs = 1,15 concreto C20 (fck = 20 MPa) aço CA-50 c = 2,0 cm φt = 5 mm (diâmetro do estribo) concreto com brita 1 26 Mk,máx A A lef bw 20 cm h = 50 cm RESOLUÇÃO O problema é de dimensionamento, onde a incógnita principal é a área de armadura (As). A resolução será feita segundo as equações teóricas deduzidas do equilíbrio da seção (Eq. 15 e 18), e também com aplicação das equações do tipo K. O momento fletor de cálculo é: kN.cm 000.1410000.4,1M.M kfd ==γ= A posição da linha neutra que delimita os domínios 2 e 3 é dada por: cm 2,1247.26,0d26,0x lim2 === A delimitação entre os domínios 3 e 4 é dada por x3lim. Para o aço CA-50 é: x3lim = 0,63 d = 0,63 . 47 = 29,6 cm a) Equações teóricas Com a Eq. 15 determina-se a posição da linha neutra para a seção: ( )x4,0dfxb68,0M cdwd −= ( )x4,047 4,1 0,2 x20.68,014000 −= 05,18015,1172 =+− xx → = = cm 1,18x cm 4,99x 2 1 A primeira raiz não interessa, pois 99,4 cm > h = 50 cm. Portanto, x = 18,1 cm, como mostrado na figura abaixo. Como o momento fletor solicitante tem sinal positivo, a posição da linha neutra deve ser medida a partir da borda superior, que está comprimida. 27 Como a seção que está sendo dimensionada não é de apoio da viga e nem há ligação com outros elementos estruturais, os limites fornecidos pela norma não necessitam ser obedecidos. 4750 2limx = 12,2 x = 29,6 sA LN 20 3lim x = 18,1 Comparando a posição da linha neutra (x) com os limites X2lim e X3lim determina-se qual o domínio em que a viga se encontra: cm 6,291,182,12 lim3lim2 =≤=≤= XcmxcmX Como a linha neutra está no intervalo entre X2lim e X3lim, conforme a Figura 16, verifica-se que a viga está no domínio 3. Nesse domínio a deformação na armadura varia de εyd (início de escoamento do aço) a 10 ‰ (ver Figura 3). Conforme o diagrama σ x ε do aço (Figura 15), a tensão nesta faixa de deformação é σsd = fyd = fyk/γs (para o aço CA-50, fyk = 50 kN/cm2 = 500 MPa). A área de armadura é calculada pela Eq. 18: ( )x4,0d MA sd d s −σ = ( ) 210,8 1,18.4,047 15,1 50 14000 cmAs = − = b) Equações tipo K Primeiramente deve-se determinar o coeficiente Kc (Eq. 25): d 2 w c M dbK = = 2,3 14000 4720 2 = ⋅ 28 Com Kc = 3,2, concreto C20 e aço CA-50, no Anexo A-1 (ver tabelas anexas) determinam-se os coeficientes βx = 0,38, Ks = 0,027 e domínio 3. A área de armadura (Eq. 28) resulta: 204,8 47 1400 .027,0 cm d M KA dss === A posição da linha neutra fica determinada pela equação: d x x =β x = βx . d = 0,38 . 47 = 17,9 cm Comparando os resultados obtidos segundo as duas formulações verifica-se que os valores são muito próximos. c) Detalhamento da armadura na seção transversal A escolha do diâmetro ou dos diâmetros e do número de barras para atender à área de armadura calculada admite diversas possibilidades. Um ou mais diâmetros podem ser escolhidos, preferencialmente diâmetros próximos entre si. A área de aço escolhida deve atender à área de armadura calculada, preferencialmente com uma pequena folga, mas segundo sugestão do autor admite-se uma área até 5 % inferior à calculada. O número de barras deve ser aquele que não resulte numa fissuração significativa na viga e nem dificuldades adicionais durante a confecção da armadura. A fissuração é diminuída quanto mais barras finas são utilizadas. Porém, deve-se cuidar para não ocorrer exageros. Para a área de armadura calculada neste exemplo, de 8,10 cm2, com auxílio das Tabelas em anexo A-3 e A-4, podem ser enumeradas as seguintes combinações: 16 φ 8 mm = 8,00 cm2; 10 φ 10 mm = 8,00 cm2; 7 φ 12,5 mm = 8,75 cm2; 4 φ 16 mm = 8,00 cm2; 3 φ 16 mm + 2 φ 12,5 mm = 8,50 cm2; 3 φ 20 mm = 9,45 cm2; 2 φ 20 mm + 1 φ 16 mm = 8,30 cm2; 2 φ 20 mm + 2 φ 12,5 mm = 8,80 cm2. Outras combinações de número de barras e de diâmetros podem ser enumeradas. A escolha de uma das combinações listadas deve levar em conta os fatores: fissuração, facilidade de execução, porte da obra, número de camadas de barras, exeqüibilidade (largura da viga principalmente), entre outros. 29 Detalhamentos com uma única camada resultamseções mais resistentes que seções com duas ou mais camadas de barras, pois quanto mais próximo estiver o centro de gravidade da armadura à borda tracionada, maior será a resistência da seção. Definem-se como camada as barras que estão numa mesma linha paralela à linha de borda da seção. O menor número possível de camadas deve ser um dos objetivos do detalhamento. Das combinações listadas, 16 φ 8 e 10 φ 10 devem ser descartadas porque o número de barras é excessivo, o que aumentaria o trabalho do armador (operário responsável pela confecção das armaduras nas construções). Por outro lado, as três últimas combinações, com o diâmetro de 20 mm, têm um número pequeno de barras, não sendo o ideal para a fissuração, além do fato da barra de 20 mm representar maior dificuldade no seu manuseio, confecção de ganchos, etc. Entre todas as combinações, as melhores alternativas são 7 φ 12,5 e 4 φ 16 mm, sendo esta última pior para a fissuração, mas que certamente ficará dentro de valores máximos recomendados pela NBR 6118/14. O estudo da fissuração nas vigas será apresentado na disciplina - Concreto I. Na escolha entre 7 φ 12,5 e 4 φ 16 mm deve-se também atentar para o porte da obra. Construções de pequeno porte devem ter especificados diâmetros preferencialmente até 12,5mm, pois a maioria delas não têm máquinas elétricas de corte de barras, onde são cortadas com serras ou guilhotinas manuais, com capacidade de corte de barras até 12,5 mm. Guilhotinas maiores são praticamente inexistentes nas obras de pequeno porte. Além disso, as armaduras são feitas por pedreiros e ajudantes e não armadores profissionais. Não há também bancadas de trabalho adequadas para o dobramento das barras. De modo que recomendamos diâmetros de até 12,5 mm para as obras de pequeno porte, e acima de 12,5 mm apenas para as obras de maior porte, com trabalho de armadores profissionais. Como o momento fletor solicitante tem sinal positivo, é extremamente importante que a armadura As calculada seja disposta na posição correta da viga, isto é, nas proximidades da borda sob tensões de tração, que no caso em questão é a borda inferior. Um erro de posicionamento da armadura, como, as barras serem colocadas na borda superior, pode resultar no sério comprometimento da viga em serviço, podendo-a levar inclusive ao colapso imediatamente à retirada dos escoramentos. A disposição das barras entre os ramos verticais do estribo deve proporcionar uma distância livre entre as barras suficiente para a passagem do concreto, a fim de evitar o surgimento de nichos de concretagem, chamados na prática de “bicheira”. Para isso, conforme apresentado no item 4.3 (Eq. 8 e 9), o espaçamento livre horizontal mínimo entre as barras é dado por: φ≥ agrmáx, mín,h d 2,1 cm 2 e l Quando as barras de uma mesma camada têm diâmetros diferentes, a verificação do espaçamento livre mínimo (eh,mín) entre as barras deve ser feita aplicando-se a Eq. 8 acima. Por outro lado, quando as barras da camada têm o mesmo diâmetro, a verificação pode ser feita com auxílio do anexo A-4, que mostra a “largura bw mínima” para um dado cobrimento nominal (c). Determina-se a largura mínima na intersecção entre a coluna e a linha da tabela, 30 correspondente ao número de barras da camada e o diâmetro das barras, respectivamente. O valor para a largura de bw mínimo depende do diâmetro máximo da brita de maior dimensão utilizada no concreto. A figura abaixo mostra o detalhamento da armadura na seção transversal da viga, onde foi adotada a combinação 4 φ 16 mm (a combinação 7 φ 12,5 mm deve ser feita como atividade do aluno). Para 4 φ 16 mm, no anexo A-4 encontra-se a largura mínima de 19 cm para concreto com brita 1 e cobrimento de 2,0 cm. Como a largura da viga é 20 cm, maior que a largura mínima, é possível alojar as quatro barras numa única camada, atendendo ao espaçamento livre mínimo. Além da armadura tracionada As devem ser dispostas também no mínimo duas barras na borda superior da seção, barras construtivas chamadas “porta-estribos”, que servem para a amarração dos estribos da viga. Armaduras construtivas são muito comuns nos elementos estruturais de concreto armado, auxiliam na confecção e montagem das armaduras e colaboram com a resistência da peça, embora não sejam levadas em conta nos cálculos. 50 d a 20 4Ø16 (8,00 cm²) A distância a, medida entre o centro de gravidade da armadura tracionada e a fibra mais tracionada da seção transversal, neste caso é dada pela soma do cobrimento, do diâmetro do estribo e metade do diâmetro da armadura: a = 2,0 + 0,5 + 1,6/2 = 3,3 cm A altura útil d, definida como a distância entre o centro de gravidade da armadura tracionada à fibra mais comprimida da seção transversal, conforme o detalhamento é: d = h – a = 50 – 3,3 = 46,7 cm O valor inicialmente adotado para a altura útil d foi 47 cm. Existe, portanto, uma pequena diferença de 0,3 cm entre o valor inicialmente adotado e o valor real calculado em função do detalhamento escolhido. Pequenas diferenças, de até 1 cm ou 2 cm podem, de modo geral, serem desconsideradas em vigas de dimensões correntes, não havendo a necessidade de se recalcular a armadura, pois a diferença de armadura geralmente é pequena. 31 d) Deformações no concreto e na armadura No domínio 3 a deformação de encurtamento no concreto é fixa e igual a 3,5 ‰. A deformação na armadura As varia de εyd (2,07 ‰ para o aço CA-50) a 10 ‰, podendo ser calculada pela Eq. 19: xd x sd cd − = ε ε 1,1847 1,185,3 sd − = ε ‰6,5=sdε A figura abaixo ilustra as deformações nos materiais e os domínios 2 e 3 de deformação. ε =10 ‰ yd 0 3,5 ‰0 5,6 ‰ x 2lim 3limx 2,07 ‰ 2 3 4 x = 18,1 cm LN ε sd cdε 2º) Calcular a altura útil d e a armadura As da seção retangular da viga mostrada na figura abaixo. Dados: concreto C20 φt = 5 mm (diâmetro do estribo) aço CA-50 c = 2,5 cm bw = 20 cm concreto com brita 1 Mk,máx = 10.000 kN.cm 32 M = 10.000 kN.cmk,máx RESOLUÇÃO Como a altura da viga não está fixada, dado que a altura útil d é uma incógnita, o problema admite infinitas soluções, tanto no domínio 2 como no domínio 3. No domínio 4 não se admite o dimensionamento, como já explicado. Como a seção em estudo não é de apoio da viga nem se está admitindo ligação com outros elementos estruturais, os limites para x/d apresentados na norma não necessitam ser obedecidos, o que significa que a posição da linha neutra pode se estender até o limite entre os domínios 3 e 4. Isto é, a posição da linha neutra (x) pode variar de zero a X3lim. Para cada valor de x corresponderá um par d e As. Com o objetivo de mostrar essas relações existentes, o exemplo será resolvido com a posição da linha neutra fixada em duas diferentes posições, no limite entre os domínios 2 e 3 (x = X2lim) e 3 e 4 (x = X3lim). A resolução do exercício será feita segundo as equações do tipo k, ficando a resolução pelas equações teóricas como tarefa do aluno. O cálculo pelas equações teóricas (Eq. 15 e 18) faz-se arbitrando valores para x (X2lim e X3lim, por exemplo) na Eq. 15, donde obtém-se um valor correspondente para d. A área de armadura é calculada então com a Eq. 18, tendo todas as suas variáveis conhecidas. O momento fletor de cálculo é: kN.cm 000.1410000.4,1MM kfd ==γ= a) 1a solução: linha neutra passando por X2lim Com a linha neutra em X2lim implica que βx = βx2lim = 0,26 (ver item 9.9 da apostila de “Fundamentos do Concreto Armado” (BASTOS, 2004). Com βx = 0,26, no anexo A-1 para: concreto C20 e aço CA-50 encontram-se: = = 026,0K4,4K s c Com a Eq. 25 calcula-se a altura útil d: 33 d 2 w c M dbK = cm 5,55 20 14000.4,4 b MKd w dc === A área de armadura As (Eq. 28) resulta: 2d ss cm 56,65,55 14000026,0 d MKA === Para a área calculada uma combinação de barras é: 2 φ 16 mm + 2 φ 12,5 mm = 6,50 cm2. Há várias outras combinações possíveis. A posição da linha neutra (x) pode ser obtida pela equação: cm 4,145,55.26,0dx x d x lim2xlim2x ==β==→=β A figura abaixo mostra a posição da linha neutra, os domínios e o diagrama de deformações para a seção em análise. Observe que, com a linha neutra passando por X2lim, a deformação de encurtamento no concreto comprimido (εcd) é igual a 3,5 ‰, e a deformação de alongamento na armadura (εsd) é igual a 10,0 ‰, ambos iguais aos máximos valores permitidos pela NBR6118/14. 10 ‰ ε yd 2limx 0 3,5 ‰ x = 14,42lim ε = 3,5 ‰cd sdε As LN As 20 55,5 2 3 cA' h A figura mostra o detalhamento da armadura na seção transversal. Como já observado no exercício anterior, é extremamente importante posicionar corretamente a armadura As, dispondo-a próxima à face tracionada da seção, que neste caso é a face inferior, pois a viga está solicitada por momento fletor positivo. 34 Não há a necessidade de determinar a posição exata do centro de gravidade da armadura As, a posição aproximada é suficiente, não conduzindo a erro significativo. No exemplo, o centro de gravidade pode ser tomado no centro das duas barras φ 16 mm. A distância (a) entre o centro de gravidade (CG) da armadura longitudinal tracionada (As) à fibra mais tracionada da seção neste caso é: a = c + φt + φl/2 = 2,5 + 0,5 + 1,6/2 = 3,8 cm A altura da viga é a soma da altura útil d com a distância a: h = d + a = 55,5 + 3,8 = 59,3 cm A altura para a viga resultou 59,3 cm, medida essa não usual na prática. Recomenda-se adotar a altura das vigas com valores múltiplos de 5 cm ou 10 cm. A altura de 60 cm pode ser adotada para a viga em questão. A armadura mínima de flexão: hb%15,0A wmín,s = 2 mín,s cm 80,160200015,0A =⋅⋅= As = 6,56 cm2 > As,mín = 1,80 cm2 ∴dispor a armadura calculada. Como foram escolhidos dois diâmetros diferentes para a armadura não é possível utilizar a tabela do anexo A-4 para verificar a possibilidade de alojar as quatro barras numa única camada. Neste caso, a verificação deve ser feita comparando o espaçamento livre existente entre as barras com o espaçamento mínimo preconizado pela NBR 6118/14. Considerando a barra de maior diâmetro e concreto com brita 1 (dmáx,agr = 19 mm), o espaçamento mínimo entre as barras, é: =⋅= =φ≥ cm3,29,12,1d2,1 cm6,1 cm2 e agr,máx mín,h l ∴ eh,mín = 2,3 cm O espaçamento livre existente entre as barras, considerando as quatro barras numa única camada é: ( ) 8,2 3 25,16,15,05,2220 eh = +++− = cm Como eh = 2,8 > eh,mín = 2,3 cm, as quatro barras podem ser alojadas numa única camada. Caso resultasse eh < eh,mín, as quatro barras não poderiam ser alojadas numa única camada. Neste caso, uma alternativa seria dispor uma barra φ 12,5 numa segunda camada, amarrada nos ramos verticais dos estribos, ou tentar um novo detalhamento com diâmetro e número de barras diferentes. 35 x = x = 14,4 55,5 59,3 20 2 Ø 16 a 2 Ø 12,5 e = 2,8h c LN 2lim 1ª cam. b) 2a Solução: linha neutra passando por x3lim Para o cálculo da viga com armadura simples e dentro do domínio 3, a posição da linha neutra pode ser assumida igual ao valor máximo, X3lim, correspondente ao limite entre os domínios 3 e 4. Portanto, assumindo x = X3lim = 0,63 d (ver Tabela 12 da apostila de “Fundamentos do Concreto Armado”, de BASTOS, 2004), implica que βx = βx3lim = 0,63. Com βx = 0,63, na tabela do anexo A-1 para concreto C20 e aço CA-50, encontram-se: = = 031,0K 2,2K s c Com a Eq. 25 calcula-se a altura útil d: d 2 w c M dbK = cm 2,39 20 14000.2,2 b MKd w dc === A área de armadura As (Eq. 28) resulta: 2d ss cm 06,112,39 14000031,0 d MKA === Um arranjo de barras é composto por 6 φ 16 mm = 12,00 cm2. Outros arranjos podem ser utilizados. A posição da linha neutra (x) pode ser obtida: cm7,242,39.63,0dx x d x lim3xlim3x ==β==→=β 36 A figura abaixo mostra a posição da linha neutra, os domínios e o diagrama de deformações para a seção em análise. Observe que, com a linha neutra passando por X3lim, a deformação de encurtamento no concreto comprimido (εcd) é igual a 3,5 ‰, e a deformação de alongamento na armadura (εsd) é igual a εyd, igual a 2,07 ‰ para o aço CA-50. 10 ‰ ε yd sA x 3lim sdε 3,5 ‰ LN 0 B 24,7 3limx ε = 3,5 ‰cd 20 sA 39,2 A'c h 2 3 Na distribuição das seis barras φ 16 mm na seção transversal pode-se fazer uso da tabela do anexo A-4, para se determinar quantas camadas de barras são necessárias. O intuito é de alojar o maior número de barras numa primeira camada. Verifica-se que a largura bw mínima necessária para alojar 6 φ 16 mm é de 27 cm, maior que a largura existente, de 20 cm, não sendo possível, portanto, alojar as seis barras. Cinco barras também não podem, já que bw,mín = 23 cm supera a largura existente. Mas quatro barras podem ser alojadas numa única camada, a largura bw,mín de 20 cm é igual à largura da viga. As duas outras barras restantes devem ser dispostas numa segunda camada, posicionadas com o espaçamento livre mínimo (ev,mín) relativo à face superior das barras da primeira camada. As duas barras são posicionadas e amarradas nos ramos verticais dos estribos.. O espaçamento livre mínimo vertical entre as barras: =⋅= =φ≥ cm0,19,15,0d5,0 cm6,1 cm2 e agr,máx mín,v l ∴ ev,mín = 2,0 cm De modo geral, o espaçamento livre entre camadas resulta igual a 2,0 cm. Adotando-se a posição do centro de gravidade da armadura de forma aproximada, numa linha passando a 0,5 cm acima da superfície superior das barras φ 16 mm da primeira camada, a distância a (distância do centro de gravidade – CG - da armadura longitudinal tracionada (As) à fibra mais tracionada da seção) é: a = 2,5 + 0,5 + 1,6 + 0,5 = 5,1 cm Para a altura da viga resulta: h = d + a = 39,2 + 5,1 = 44,3 cm 37 A altura calculada para a viga, de 44,3 cm não é uma medida padrão de execução na prática das construções. É comum adotarem alturas múltiplas de 5 cm ou 10 cm para as vigas, o que levaria à altura de 45 cm. 2 Ø 16 4 Ø 16 e v tØ c C.G. 20 39,2 44,3 3 limx = x = 24,7A'c a 0, 5 c) Comparação dos resultados Os cálculos efetuados com a linha neutra fixada em X2lim e X3lim forneceram as soluções: a) X2lim: h = 60 cm , As = 6,56 cm2; b) X3lim: h = 45 cm , As = 11,06 cm2. Os resultados permitem tecer as seguintes considerações: - quanto menor for o valor de x ou a profundidade da linha neutra dentro da seção transversal, maior será a altura resultante para a viga e menor será a área de armadura tracionada. Com a maior altura da seção o braço de alavanca z entre as forças resultantes internas também é maior, o que leva a menor necessidade de armadura; - as vigas dimensionadas no domínio 2 resultam vigas com maior altura e menor armadura que as vigas dimensionadas no domínio 3; - a consideração anterior implica que as vigas dimensionadas no domínio 2 consomem maiores volumes de concreto e maiores quantidades de fôrma, escoramento,mão-de-obra, etc. Embora não tenhamos feito um estudo de custos, o dimensionamento nesse domínio deve conduzir a um maior custo que o dimensionamento no domínio 3, apesar do menor consumo de aço proporcionado pelo domínio 2; - outro aspecto importante é que o dimensionamento no domínio 3, com vigas de menor altura, resultam vigas mais flexíveis, sujeitas a flechas de maior magnitude. 38 3º) Calcular a armadura As de uma viga submetida à flexão simples, sendo dados: concreto C25 c = 2,5 cm aço CA-50 φt = 6,3 mm (diâmetro do estribo) h = 60 cm concreto com brita 1 bw = 22 cm Mk = - 15.000 kN.cm (momento fletor negativo no apoio da viga) RESOLUÇÃO Neste caso, como todas as variáveis estão fixadas, com exceção da posição da linha neutra (x) e da área de armadura As, existe apenas uma solução, dada pelo par x - As. A resolução é iniciada pela determinação de x e em seguida pelo cálculo de As. A altura útil d não é conhecida porque não se conhece o arranjo da armadura na seção transversal. É necessário estimar d, que é a altura da viga menos a distância entre o centro de gravidade da armadura tracionada e a fibra mais tracionada (chamada distância a). A distância a depende da armadura As, da largura da viga, do diâmetro do estribo e principalmente da espessura do cobrimento de concreto, que, quanto maior, maior será a distância a. De modo geral, para as vigas correntes, o valor de a varia de 3 cm a 6 cm. A solução é adotar um valor para a e depois verificar o valor exato no detalhamento da armadura na seção transversal. Normalmente não é necessário recalcular a armadura para o valor de a determinado no detalhamento, dado que a variação de armadura geralmente é pequena. O cálculo será feito com as equações do tipo K. O momento fletor de cálculo é: kN.cm 000.2115000.4,1MM kfd ==γ= Para a distância a será adotado o valor de 5 cm, e consequentemente d é: d = h – 5 cm = 60 – 5 = 55 cm A posição da linha neutra é determinada com o cálculo de Kc (Eq. 25): d 2 w c M dbK = 2,3 21000 55.22K 2 c == Observe que o momento fletor de cálculo (Md) é considerado com o seu valor absoluto no cálculo de Kc. Com Kc = 3,2, para concreto C25 e aço CA-50 na tabela do anexo A-1 encontram-se: Ks = 0,026, βx = 0,29 e domínio 3. Para momento fletor negativo no apoio da viga, a norma limita a relação βx = x/d em 0,50 para o concreto C25. A viga atende, portanto, a esta limitação, pois βx = 0,29 < 0,50. A área de armadura (Eq. 25) resulta: 39 2d ss cm 93,955 21000026,0 d MKA === (5 φ 16 mm = 10,00 cm2) A armadura mínima para a viga: hb%15,0A wmín,s = 2 mín,s cm 98,160.22.0015,0A == As > As,mín = 1,98 cm2 O detalhamento da armadura na seção transversal está mostrado na figura abaixo. Como o momento fletor é negativo, a armadura deve obrigatoriamente ser disposta próxima à face superior tracionada da seção. Seria um erro gravíssimo fazer o contrário, com a armadura As no lado inferior da viga. Tanto no projeto quanto na execução das vigas, especial atenção deve ser dada a este detalhe. A posição do centro de gravidade da armadura foi adotada de forma aproximada, a 5mm da face inferior das barras da primeira camada. Para vigas de pequeno porte não há a necessidade de se determinar com rigor a posição exata do centro de gravidade da armadura. Na distribuição das barras da armadura longitudinal negativa nas seções transversais das vigas é importante deixar espaço suficiente entre as barras para a passagem da agulha do vibrador. Deve-se ter em mente qual o diâmetro da agulha do vibrador que será utilizado. Os diâmetros de agulha mais comuns utilizados na prática são de 25 mm e 49 mm. De preferência o espaçamento entre as barras deve ser um pouco superior ao diâmetro da agulha, para permitir a penetração da agulha com facilidade, sem que se tenha que forçar a sua passagem. Para quatro e três barras na primeira camada os espaçamentos livres horizontais entre as barras são: ( )[ ] 1,3 3 6,1463,05,2222 e 4,h = ⋅++− = cm ( )[ ] 5,5 2 6,1363,05,2222 e 3,h = ⋅++− = cm Considerando o diâmetro da agulha do vibrador igual a 49 mm, verifica-se que devem ser dispostas apenas três barras na primeira camada, e as duas outras na segunda camada. O espaçamento livre mínimo horizontal entre as barras é: ⋅= =φ≥ cm 2,3 = 1,9 1,2 d 1,2 cm 1,6 cm 2 e agrmáx, mín,h l ∴ eh,mín = 2,3 cm O espaçamento livre mínimo vertical entre as barras das camadas é: = =φ≥ cm 1,0 = 1,9 . 0,5d0,5 cm 1,6 cm 2 e agrmáx, mín,v l ∴ ev,mín = 2,0 cm 40 A distância entre o centro de gravidade da armadura e a face tracionada da viga, adotada inicialmente como 5 cm, é: a = 2,5 + 0,63 + 1,6 + 0,5 = 5,2 cm C.G. a e = 2 cmv0.5 1ª cam. 2ª cam. 5 Ø 16 10,00 cm² 60 c Øt C.G. a d 22 4º) Dada a seção retangular de uma viga, como mostrada na figura abaixo, calcular qual é o momento fletor admissível (de serviço). São conhecidos: bw = 20 cm γf = γc = 1,4 h = 50 cm γs = 1,15 d = 46 cm As = 8,00 cm2 concreto C20 aço CA-50 46 20 50 A = 8,00 cm²s RESOLUÇÃO O problema agora não é de dimensionamento, e sim de verificação. As variáveis a serem determinadas são a posição da linha neutra (x) e o momento fletor de serviço ou admissível (Mk). A resolução deve ser feita por meio das equações teóricas. A primeira equação a considerar é a de equilíbrio das forças resultantes na seção transversal (Eq. 11). Rcc = Rst 41 As resultantes de compressão no concreto comprimido e de tração na armadura são (Eq. 12 e 13): wcdcc bx8,0f85,0R = ssdst AR σ= Inicialmente deve-se supor que a seção foi dimensionada nos domínios 2 ou 3, onde tem-se: 15,1 50ff s yk ydsd =γ ==σ Aplicando a Eq. 10 determina-se a posição da linha neutra (x): ssdwcd Abx8,0f85,0 σ= cm 9,17x 00,8 15,1 5020.x8,0 4,1 0,285,0 =⇒= É necessário verificar se a hipótese inicialmente considerada da viga estar nos domínios 2 ou 3 é verdadeira, o que se faz comparando x com os valores limites X2lim e X3lim: x2lim = 0,26 d = 0,26 . 46 = 12,0 cm x3lim = 0,63 d = 0,63 . 46 = 29,0 cm x2lim = 12,0 < x = 17,9 < x3lim = 29,0 cm Verifica-se que a seção encontra-se no domínio 3, e realmente σsd é igual a fyd. O momento fletor de serviço pode ser calculado pelas Eq. 15 ou 18: ( )x4,0dfxb68,0M cdwd −= ou ( )x4,0dAM sdsd −σ= ( ) kN.cm650.9=M 9,17.4,046 15,1 5000,8M4,1 kk ⇒−= Portanto, o momento fletor característico a que a seção pode resistir é 9.650 kN.cm (momento positivo). 42 5º) Determinar o máximo momento fletor que pode suportar uma viga com a seção mostrada na Figura 26. Dados: concreto C25 aço CA-50 As = 9,45 cm2 γc = γf = 1,4 γs = 1,15 d = 36 cm 40 20 3 3 Ø 20 9,45 cm² . RESOLUÇÃO Como no exercício anterior, o problema é de verificação e a incógnita principal do problema é o momento fletor característico (Mk) a que a seção transversal pode resistir. Da equação de equilíbrio de forças normais (Eq. 11), tem-se o equilíbrio das forças resultantes: Rcc = Rst As resultantes de compressão no concreto comprimido e de tração na armadura são (Eq. 12 e 13): wcdcc bx8,0f85,0R = ssdst AR σ= Supondo-se inicialmente que a seção foi dimensionada nos
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