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Análise do filme "Bebes" segundo Bronfenbrenner

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7
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA/FACULDADE DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO I
Lucas Silva Garcia Blanco	RA 17014812
Natália Silveira Lisbôa	RA 17198011
3ª PARTE DO RELATÓRIO SOBRE DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ – FILME “BEBÊS” (2010)
5) Análise segundo Bronfenbrenner
Até o final da década de 1970 as pesquisas sobre a influência do ambiente para o desenvolvimento humano eram focadas na importância da família, referindo-se muitas vezes à necessidade de estimulação para a criança, como livros e brinquedos (BEE, BOYD), classe social, moradia e tipo de relações às quais a pessoa em desenvolvimento tinha acesso (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 2004).
Bronfenbrenner formulou sua teoria de desenvolvimento humano no final da década de 1970 fazendo uma crítica a esse modo tradicional de se estudar o desenvolvimento. Para ele, essas investigações focavam a pessoa em desenvolvimento somente dentro de um ambiente restrito e estático, sem a devida consideração das múltiplas influências dos contextos em que viviam (BRONFENBRENNER, 1977; 1996 apud MARTINS, SZYMANSKI, 2004). 
Bronfenbrenner enfatizou em sua teoria que cada criança crescia em um ambiente social complexo, influenciada pelas relações estabelecidas com outras pessoas (irmãos, pais, amigos, familiares, governo). Sua abordagem ecológica (e mais recentemente, bioecológica) estudou o desenvolvimento de forma contextualizada e em ambientes naturais (em oposição às experiências em laboratório), visando apreender a realidade de forma abrangente, tal como é vivida e percebida pelo ser humano no contexto em que habita (MARTINS, SZYMANSKI, 2004). 
A partir dessas observações, Bronfenbrenner criou um modelo que diferencia várias camadas de ambientes. No modelo ecológico, o desenvolvimento não se limita apenas ao ambiente imediato da criança, mas a uma sucessão de contextos (ou esferas) interpenetradas de influência que exercem sua ação combinada e conjunta sobre o desenvolvimento (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 2004). Esse conjunto de estruturas, que no dizer do autor parece lembrar um jogo de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra, atuam mutuamente entre si e afetam conjuntamente o desenvolvimento da pessoa (MARTINS, SZYMANSKI, 2004).
Coll, Palacios e Marchesi (2004) apresentam uma breve descrição de cada sistema: o microssistema é o contexto imediato em que a pessoa se encontra. Nele ocorrem suas experiências mais significativas (para a criança, esse microssistema envolve sua família, escola e amigos). O mesossistema é o que conecta os microssistemas. O exossistema é a esfera que exerce impacto indireto sobre a criança: inclui o trabalho dos pais, os serviços comunitários disponíveis, a família extensa com a qual não se tenha um contato tão intenso, os serviços de formação dos professores, etc. Finalmente, o macrossistema é a esfera mais ampla que define os demais sistemas. Ele se relaciona com as leis, costumes, cultura e com a situação econômica. 
Em versões mais recentes desse modelo, Bronfenbrenner incluiu uma nova influência sobre o desenvolvimento humano, além de todos esses sistemas: são as características genotípicas e fenotípicas da pessoa (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 2004). O modelo passou a ser chamado bioecológico justamente por levar em conta tanto fatores ambientais quanto biológicos da pessoa, os dois se influenciando mutuamente e provocando mudanças desenvolvimentais.
No filme Bebês, a influência do ambiente torna-se muito clara, principalmente pela escolha do diretor em selecionar quatro bebês inseridos em culturas muito diferentes entre si. Apesar de várias características das crianças serem definidas por questões maturacionais, é interessante notar que o ambiente influencia a manifestação de certos comportamentos em certos momentos da vida. 
Ponijao vive em uma tribo africana. Ele está inserido em um ambiente tradicional (bem diferente do nosso), brinca no chão de terra, tem liberdade para se locomover. Sua mãe não parou de trabalhar após dar à luz, e precisa achar formas de realizar seu trabalho enquanto cuida do filho. Ponijao também vive em uma comunidade com maior solidariedade: ele está sempre perto de outras pessoas, sejam elas crianças ou adultos. Isso faz com que seus microssistemas sejam bastante interligados, pois na tribo a maioria da vida ocorre de forma coletiva, compartilhada. É interessante notar que ele e as demais crianças desse contexto têm muito contato umas com as outras e com animais: o ambiente deles fornece muita estimulação, apesar de não se tratar propriamente de brinquedos ou livros pedagógicos. Ele exibiu alguns comportamentos mais cedo do que outros bebês (como andar e balbuciar), até por uma questão de sua maior autonomia frente ao ambiente. Nesse caso, apesar de o macrossistema ser bastante precário (a África é um continente muito pobre), o microssistema dele parece suprir suas necessidades desenvolvimentais, pelo menos por enquanto.
Bayarjargal é o que tem o ambiente mais “comprometido”. Sabe-se que a Mongólia é um país que está crescendo, mas ainda conserva muita desigualdade social (macrossistema). O garoto vive numa área rural, seus pais estão quase sempre ausentes trabalhando e seu irmão mais velho parece estar tendo um pouco de dificuldade em aceitar sua chegada (microssistema). Não há chuveiros, nem chupetas, nem brinquedos, nem um espaço próprio para o bebê. Não à toa, por conta de todos esses fatores, ele é a criança das quatro que mais demora para apresentar alguns comportamentos (tipo andar), além de ser a criança com comportamento mais infantilizado com birras e choro, provavelmente para tentar conseguir a atenção de seus pais.
Mari e Hattie estão inseridas em sistemas mais parecidos entre si. Ambas vivem em países capitalistas altamente desenvolvidos (Japão e Estados Unidos, respectivamente). Esses macrosistemas influenciam claramente seus microssistemas porque as possibilita de terem contatos com um mercado propriamente voltado para a infância, com livros, brinquedos e aparelhos que auxiliam no desenvolvimento da criança. Além disso, seus cuidadores são seus principais microssistemas. A família está sempre por perto e percebe-se um grande engajamento dos pais com os cuidados dos filhos, além do engajamento com as outras crianças (Mari frequenta uma creche e Hattie vai na aula de ioga com a mãe e brinca na piscina com os primos). Elas terão provavelmente muitos incentivos do microssistema para seu desenvolvimento: escola, faculdade, trabalho, suas famílias… Não que os outros bebês não terão nenhum tipo de incentivo, mas o caso dessas duas meninas é mais claro porque elas estão em uma realidade mais parecida com a nossa. De qualquer forma, nota-se que sociedades cada vez mais complexas influenciam de forma mais interrelacionada os demais sistemas em que as crianças estão inseridas.
Embora não seja possível afirmar somente pelo ambiente qual bebê terá o “melhor” ou “pior” desenvolvimento, é notável que este influencia o processo de desenvolvimento e como as respostas frente ao meio serão elaboradas. Enquanto Gesell afirmava que apesar do ambiente, o desenvolvimento segue alguns padrões por conta da maturação, Bronfenbrenner afirma justamente que, além da maturação, o desenvolvimento também é influenciado pelos contextos macro e micro em que a pessoa está inserida. Então, de modo geral, conclui-se o trabalho apontando conforme Bronfenbrenner, que tanto fatores biológicos quanto ambientais (e ambientais referindo-se não somente ao contexto familiar, mais imediato) influenciam o desenvolvimento e a forma como as crianças experimentarão a descoberta de si mesmas e do mundo ao seu redor.
6) Delineamento e método de pesquisa
O filme Bebês usa o delineamento sequencial de pesquisa, que combina os delineamentos transversal e longitudinal.
De acordo com Mota (2010), o delineamento transversal de pesquisa acompanha diferentes indivíduos no mesmo momento e o longitudinal acompanha os mesmos indivíduos ao longo do tempo. Cada um desses dois modelosapresenta benefícios e limitações: o delineamento transversal é mais barato e não há risco de perder sujeitos durante a pesquisa pois cada pessoa é observada apenas uma vez, mas ele não controla as variações individuais e a consistência do comportamento ao longo do tempo; o delineamento longitudinal controla a consistência do comportamento ao longo do tempo, mas é mais caro e consome mais tempo, além do risco de perder parte da amostra ao longo do tempo.
Uma alternativa para os problemas apresentados pelos dois modelos anteriores é o delineamento sequencial de pesquisa, que combina os modelos transversal e longitudinal de alguma forma (BEE, BOYD, 2011). 
No caso do filme, o delineamento sequencial é observado pois o diretor apresenta os mesmos quatro bebês ao longo de um período de um ano (longitudinal), e além disso, o diretor contrasta os diferentes bebês em diversos momentos (transversal). Explicando melhor:
O filme apresenta delineamento longitudinal pois conta a história de como quatro bebês de diferentes partes do mundo viveram seu primeiro ano de vida: Ponijao em sua tribo na África, Bayarjagal na área rural da Mongólia, Mari no Japão e Hattie nos Estados Unidos. De forma geral, os quatro bebês interagiram com os pais, foram experimentando o mundo com as mãos, depois com a boca, fazendo movimentos cada vez mais elaborados, engatinharam, depois andaram (ainda que não ao mesmo tempo pois já se sabe que vários fatores biológicos e ambientais interferem no desenvolvimento da criança). Esse delineamento longitudinal permite analisar como cada criança mudou desde o início da vida (e do filme) por aproximadamente um ano através de suas experiências com o mundo em que vivem e suas características biológicas e contextuais. 
O delineamento transversal do filme, por sua vez, compara os quatro bebês ao mesmo tempo em relação a alguns aspectos. Logo no início do filme, é mostrado o que ocorre com cada um dos bebês logo após o nascimento: Ponijao mama no seio da mãe que deu-lhe à luz em sua cabaninha na tribo, Bayarjagal é enrolado em uma mantinha no hospital antes de ser mandado para casa, Mari tem os pezinhos marcados com uma canetinha (que marcação é essa?) e Hattie é monitorada por vários aparelhos no hospital em que nasceu. Mais tarde, por volta de uma hora de filme, o diretor compara as quatro crianças por suas primeiras experiências de conseguir ficar em pé: Bayarjargal se levanta agarrando um bode e logo volta a engatinhar. Ponijao fica de pé e uma outra criança que está com ele também consegue, como se os dois soubessem que precisam realizar o mesmo tipo de movimento para o mesmo objetivo. Mari está num parque ao ar livre. Hattie está na beira de uma piscina, fica em pé mas assim como Bayarjargal, logo volta a engatinhar pois o movimento completo e refinado ainda levará algum tempo para ser realizado. Os dois exemplos mostram o caráter transversal da pesquisa do filme pois o diretor compara o mesmo aspecto de diferentes bebês ao mesmo tempo.
Na verdade, conclui-se que os dois estilos de delineamento, tanto o longitudinal quanto o transversal, são importantes para o resultado final do filme; isso traz um retrato mais amplo do desenvolvimento infantil já que mostra a evolução individual das crianças ao longo do tempo (longitudinal) e também como a cultura as influencia no sentido de moldar experiências únicas por que passam, o que é observado principalmente se as crianças são postas em contraste em relação a um aspecto (transversal).
Além do delineamento sequencial, a pesquisa utilizada no filme é qualitativa pois está mais relacionada ao levantamento de dados sobre as características de uma população (de bebês), e não se preocupa em analisar numericamente esses dados como uma pesquisa quantitativa exigiria (FRANKENTHAL, 2016). Além disso, é uma pesquisa intercultural pois compara os contextos de vida das quatro crianças. De acordo com o procedimento técnico utilizado, o filme utiliza o método descritivo pois descreve como o desenvolvimento dos bebês está relacionado com fatores não somente biológicos, mas também culturais. Cada criança tem seus progressos e descobertas sobre o mundo envolvidos também pela cultura e ambiente em que se inserem.
Finalmente, a obtenção dos dados foi realizada de forma direta através de filmagem dos quatro bebês ao longo da pesquisa. Logo, o filme constitui-se de observações naturalistas, em que pessoas são observadas em seus ambientes normais (BEE; BOYD, 2011, p. 47). Nesse caso, o diretor apenas observou as crianças dentro de seus contextos naturais (Ponijao na tribo africana; Bayarjagal na casinha da área rural da Mongólia, Mari no moderno Japão e Hattie nos Estados Unidos) sem que houvesse nenhum tipo de interferência do pesquisador sobre a pesquisa.
Referências bibliográficas
BEE, H; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
COLE, M; COLE, S. R. O desenvolvimento da criança e do adolescente. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
COLL, C; PALACIOS, J; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia evolutiva, v. 1, 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 
FRANKENTHAL, R. Pesquisa quantitativa e qualitativa: qual é a melhor opção?. MindMiners. 2016. Disponível em <https://mindminers.com/pesquisas/pesquisa-qualit
ativa-quantitativa>. Acesso em 02 de novembro de 2017.
MARTINS, E; SZYMANSKI, H. A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner em estudos com famílias. Estudos e pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2004. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S18
08-42812004000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 02 de novembro de 2017.
MOTA, M. M. P. E. Metodologia de Pesquisa em Desenvolvimento Humano: Velhas Questões Revisitadas. Psicologia em Pesquisa. Juiz de Fora, v. 4, n. 2, p. 144-149, 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S19
82-12472010000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 02 de novembro de 2017.

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