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228 NII"Z HEEOS7GOS MACHADO. J. Zara.t.lJstra. tragédia nietzschiana. Ri d jan Ir : j. Zahor, 1997. -NIETZSCHE, i.$([;;iliche Werke: Kritische Studienausgab (K A) rg.: . Colli e M. Mon- tinari. Berlim/Nova Yor0Muniq~e:Walter de Gruyl r/ ut h r Tos h nbuch Verlag. 1988. Trad. francesa: Oeuvres philosophiques completes. Pari: llimard, 1976-8. __o O crepúsculo dos ídolos, "Moral como contranalur za", . Tr. M. A. asa Nova. Rio de janeiro: Relume-Dumará. 2000. __o A gaia ciêncip. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, Arquíloco e Empédocles: dois nomes de sujeitos dionisíacos* CAMILLE DUMOULIÉ" A noção de "sujeito dionisíaco" pode parecer urna antin9mia e um Pílradoxo. Por que conservar o termo sujeito, após a desconstrução operada pelo próprio Nietzsche em seguida a crítica kan'tiana do sujeito-substância? E. sobretudo. por que associá-la à experiência do dionisíaco, que supõe a destruição dessa instância metafísica? É que Nietzsche não se atém nem ao niilismo, 'que destrói os fundamentos do indivíduo, nem ao gesto romântico. que mantém ironicamente a su- premacia d~ Eu. Efetivamente, essas duas vias estão no.centro de seu pensamento. Então. mesmo que ele reduza o Eu a um sim'ples pronome pessoal. dir- se-ia a um puro significante, ele reafirma a importância do egoísmo e dos valores pessoais. Pois ater-se à desconstrução do sujeito é, final- n:ente, reencontrar â moral do cristianismo resumida pela c~lebre fór- mula de Pascal: "O eu é odiável". Nietzsche também pressentiu que na época de dominação das massas, esta luminosa exceção, esta bela in- venção apolínea que é o indivíduo. herdada dos gregos, devia ser salv.a çl.a besteira e do espírito gregário, mesmo que só se pudesse. ter uma confiança irânica nestas noções de sujeito e de indivíduo. Quanto. à . . . . . ironia, que consi~te em admitir que a cre~a no sujeito fosse ainda possível, ela bem pertence ao gesto intelectual de Nietzsche. GilIes - . .."... ."- Deleuze mostrou que o preço a pagar, por aquele que se mant~ve ironicamente nas alturas do Eu, foi adissolução trágica no abismo do sujeito. * Tradução de Gabriel Harfield Pinheiro. Doutor em Filosofia; professor da Universidade de Paris X - Nanterre. DP&A EDITORA REFERÊNCIAS PETER PÁL PELBART" DP&A EDITORA Eu gostaria de abordar alguns aspectos dolniílismo em Nietzsche] .Pretendo me concentrar no que o filósofo chamou de caráter equívoco do niilismo, sem o qual seu conceito seria propriamente incompre- ensível. Em pouquíssimas palavras trata-se qisto: por um lado o niilis- ,. mo é sintoma d~?ecad.ência e aversão pe!ã existênCIa, por outro,=;ao ~esino tempo, e~~ é expressão de um aumento de força. çondição para "um novo começo, até mesmo uma promessa. Essa ambi;~"lênciano 'tratamento dos fenômenos da cultura é característi~a da ab~rdagem nietzschiana, mas aqui parece atingir um ponto de tensão para onde corivergem muitas apostas de sua filosofia. Não me, parece absurda a hipótese de que parte do interesse que ainda desperta o arauto da trans- valoração se deva a esse traço tão contemporâneo de seu pensamento, 'onde o decl~o e a ascensão, o colapso e a emergência, o fim e o começo . , . -. .~Qexistem numa.:tensão irresoluta: Alguns àirão que essa coriflinção não é invenção d';; Nietzsche. e deita raízes na tracüção da filosofia alemã e suas renovadas promessas de um novo começo, caracterizando a própria Modernidade e sua consciência do teinpo (Habermas, 2000). É possível. Em todo caso, eu gostaria de mostrar que a lógiCa paradoxal que preside a tematização do niilismo em Nietzsche arrasta seu pensa- mento corno um todo numa direção .singulaiíssima. , . Pois o fato é que o leitor de Nietzsche sente um grande embaraço quando se defronta com suas análises sobre o niilismo. Ora tem a im- pressão que o filósofo está em vias de diagnosticar~ niilismo que ele ~ndena, ora tem certeza de que, ao cOIitrári~, ~próprioNi;t-;-~'h~é-~m niilista, e que segundo ele é preciso levar este movimento a seu termo. Travessias do niilismo '. Doutor em Filosofia; professor da Pontifícia Universidade' Católica de São pa~lo'(PUC-SP). , . NlETZSCHE E OS GREGOS204 BAUDELAIRE. C. OeU<Tes completes. Paris: Le cJub du meilleur livre. 1955. v. 2. N!ETZSCJ-S. F. Genea!ogia da mordo Trad. P. G. Souza. São Paulo: Brasiliense. 198;. __o Samtfiche Werke: i<rltische Studienausgabe [KSA). Org.: G. Colli e M. Montinari. Bd. I-XV. Bedin! Nova York: Walter de Gruyter. 1988. __o La volonté de puissance. Trad. G. Bianquis. Paris: Gallimard. 1995. V. I. II. __o A gaia ciência. Trad. P. C. Souza. São Paulo: Companhia das LetraS. 2001. STENOHAL. Oeuvres complétes. Paris: Gallimard. 1948: Biblio'thequede la Plêiade.' 13. Trata-se de Le peintre de Ia vie moderne. "Le beau. Ia made etle bonheur". p. 48. subordina a beleza à felicidade e não a felicidade à beleza. A Baudelaire não escapou o sentido da expressão ne... que no texto de Stendhal. Ele observa, no primeiro capítulo do livro Le peintre de la vie moderne, "Le beau, la mode et le bonheur", que a definição de Stendhal "O belo é apenas promessa de felicidade" ultrapassa seu objetivo: "Eléi submete o belo ao ideal variável de felicidade, retira muito rapidamente do belo seu caráter aristocrático, mas tem o grande mérito de se afastar , . decididamente do engano dos acadêmicos" (Baudelaire, 1955).13 Nietzsche, desde o início, insiste sobre a promessa e não sobre a fi- nalidade da promessa: a felicidade. Haja vista que ele sublinha a palavra promessa. Para Nietzsche a felicidade nã.o é um fim, mas um acompa- nhamento inicial de ação. Deste modo, o interesse da promessa não reside no que ela promete, mas no que ela'provoca, a excitação da von- tade. A vontade de que Nietzsche está falando nada mais é do que a vontade de potência no seu caminho ativo: :"Não falo aqui", diz Nietzsche, "de um caminho para'a felicidade, mas do caminho para a potência, para o ato, para a mais'poderosa atividade" (Nietzsche, 1987, 3a diss., § 7). Assim, o belo, para Nietzsche, é muito mais do que uma promessa. . Ele- é signo de uma dominação. Do triunfo sobre os obstáculos, sobre as resistências que os estados artísticos encontram na criação do belo. '. Toda doutrina é supérf]u~~a, a"q~;U I}~O ,estivessem já prontas todo tipo d":.f.orças acumllladas, de matérias ex·plosivas. Uma transvalo- r.;çã~de valores s6 ode realizar-se se existe uma tensão de novas necessidades, de 'no~os i . itos':' Rue sofrem da anti a valoriza-~.F.,,""':".- __:."~ -;11"....... _:-_. ......... ~9. Slm disso tornar consciência" (5~): 1i-avessias do niilismo "Eu descrevo aquilo que vem: a escalada do niili~mo" (362). De fato, encontramos aí algumas das passàgens cruciais de Nietzsche a respeito do tema, na sua formulação já madura embora nem sempre acabada. No entanto, para que elas ganhem seu sentido pleno. seria preciso ter em mente a função que Nietzsche reserva à teoria: NIILISMO Meu ponto de partida será uma pequena frase extraída de O anti- cristo. "Se se põe d ~eE.~<2de g~avida,de da vida, ndo :ri~ -v{d~mas no 'além' - no nada -, tirou-se da vida toda gravidade" (ibidem, p. 43). Temos a(ê;p;~ta a lógica q~~ enfeixa boa parte do pensamento de Nietzsche a respeito do niilismo. O niilismo começa com um d~oc camento de da vida em düeção a uma outra esfera que não ela mesma - o resto é conseqüência.-Para dizê-lo da ~aneira mais direta: o niilismo consiste numa, deprecia' ãometafísica da vida, a artir de valores consi os su eriores à ró ria vida. com o que a vida fica red~~~l!IDJ@!Qr de nadá.~;ântes que estes mesmos vares apareçam, segundo um processO de desvalorização, naquilo que eram desde o início - "nada". Ternos aí vários momentosencavalados. E, de fato, com o' termo niilismo Nietzsche abraça um l2.nguíssimo arco históric~-filosófico,em qu~ se. deixa ler~~ dos ;~ior~smor~~ ----------..... ". -----.-- o modo em q~e ~~~es valoresvieram a vale~rso de~a , cultura socrático-crist~asseur~do-Ihe'u~a"finalidade e um sentidp ";;~ mas ao ~esmo te d~doa ,existência, e o rocesso" elo ual caíram em de do entrever ue a verdade desses valores desde o início era da ordem - .'Se,o pensamos radicalmente, Nietzsche quer dizer que a históri~ do Ocidente foi cons~ída sobre fundamentos niili~tas, com o que ofíiil!si!J.6 dos fundamen tosnão poderia deixar de vir à tona, ,?ed() out~ no transcurso dessa história, rpond~qu~- ~ ~o~~'trução como um todo, e a, próÍnia idéia de - ' \ ' - ---,---- '---fundamento. \ i NIETZSCHE E OS GREGOS206 ========;;;;i;;;;;;;i;;;i;i;;;;ii'iiii-i;i-iji-iii;'i;i-'Ii-.--.'.- •••• - -'----= 1. Trata-se do fnigIDentó pÓstUmõ'-outonode Ú187. 9(123J, Quando diSp?níveiS em edi.ções , brasileiras. as demais traduções são na sua maioria de Rubens Rodngues-Torres F.ilho. em Obras incompletas ("Os pensadores"), e de Paulo Césa~ de.Souza, para os livros publicados pela Cia, dás' Letras. Para alguns fragmentos. O, G,acOla ]r, ou L. KOSSOVltch. quando se tratar de tr'echos comentados em seus livros, 2, Qu~o'se tr~tar'cíe lilgum--fragmento-desse--cõrij;llltO. indicaremos apenas no corpo do texto (, número arábico 'dado por Nietzsche. ,,- Tal duplicidade na leitura não se deve a um mero ziguezague do autor, ou apenas a uma mudança de perspectiva que lhe é tão peculiar, e que na sua lógica filosófica caberia inteiramente; tampouco deve ser atri- buída a qualquer incoerência intrínseca. A ambigüidade é constitutiva do conceito, e apenas reflete o fato de que essa tematização, e o próprio trajeto filosófico de Nietzsche c~:n0 u~_~,~d~, se pre!-=nd~§üiiia tra~esSiã'ãõniíl1Sin~~SSTm,gostaria deinsis'tir aqui sobre dois ..~ aspectos prlnCi'pàis: de um lado, a necessidade históri~~e fil~~:~ do niilismo que Nietzsche detecta, e de âutro, oin'~do pelo qual ele mesmo se Sente partícipe desse movimento que' lhe cabe ao mesmo tempo fliélgnosticar, pr~Cipita:.; co~ater e ultr~J?~~' ' , 'Dra.:""sãb'emos que' ãéonsciên~plenadesse se undo aspecto apare- 'ceu a Nietzsche com um'certo'retardo em sua obra'-Ele escreve, em , 1887: "Tàrdiamente é que temos a coragem de confessar o que sabemos verdadeiramente. Que até o presente eu tenha sido fundamentalmente niilista, foi há bem pouco tempo que confessei a mim mesmo" (Nietzsche, 1988).' Daí minha opção de privilegiar, nesse breve comentário, alguns textos desse período, sobretudo aqueles que vão do outono de1887 ao iníc;iode 1888. Embora esSes 'fragmentos não fosSem originalmente destinado~ a publicação, sabe-se que Nietzsche viu neles uni esboço inicial da planejada e abortada obra A vontade de potência. Por isso os numerou de 1 a 372, e redigiu até mesmo um índice! A variedade de temas vai de Sócrates a Stendhal, do Budismo a Offenbach, da melan- colia lasciva da dança mauresca até o casti-atismo cristão. O conjunto ,é irregular, tanto rio estilo como n~'teor, alternando esboços de idéias, comentários ~obre àutores: citações de leituras, aforismos acabados, alguns dos quais foiam ~eaproveitadosem obras publicadas ria seqüên- cia,' como O"caso' Wagner, O 'crepúsculo dos ídolos e O imticristo.. Contudo, o prefácio esboçado para o conjunto não deixa dúvida quanto ao centro de gravidade desses fragmentos: Ele o enuncia,claramente: j ., :J ,i ! I "i.<:.. mais pm ce poder conduzi-Io,.nem motivá-lo. Passamos de uma expe- riên~ia..exl~mada'cre~ça,emquEiorbiia:vlmos Et~~~d;~c~tr~, drum sol, fie uma luz, de ama verdade, para o IDctremo-oia-sto da de'scrença, e'm·qHe.etramos s'etrcrumo na esc~ridãó·:jihjÕ·;~tisistem ~ .. . Vem o tempo em que teremos de pagar por termos sido cristãos du- rante dois milênios(peraêêemos (; ~eniro d:g;:;;~que nos per~ .. --..-----"'-~~----~ mi tio viver durante algum tempo não saberemos mais como. sair disso nem para onde nos voltar. Nós nos precipitaremos com a ca·' ~"Il b~eça abai.xada_e~~oao~ val~r~?pos~:.c~~~~srna-energia. 1J). com a gual fomos cnstãos. S • -..:.:...-::...", !..1:_~ Assim. ~o anunciar a derrocada do ~undo supra-sensível da tracUção '. . .': ...' meta~sica, d~ q~e a fig~~ ~e De~s n_~o.passa d~ ~~a concre.çàp histó- rico-religiosa, Nietzsche. toma o cuidado de indicar seus súcerlâneos . . . . .. ,.. .. modernos, que em vão tentam preençher função similar, ofer,ecendo-se como centT,?~de gra.vid~de~epret~nd,end.oestab~]~ce~ob·jetivos. e ~ss.~ gu~~ srmtidos.com·~ma autorida~e eqUi,Y~~le~i"~1!'~illfl'e~ePte' atrijuÍ"~tr~rera.supra-h':ffil~a: ~eja ,Çonsc~~~_ \. ~ Ra~ão,jJfistó: rial o Coletiv,o, e ora fazendo cintilar arnfragem do 1m~o Moral,<... ::.:<, .. '. .. .. ,I'. ,:1,,\:(."'; 4. Fragmento póstumo. primavera de 1887, 7{43J.'v. 12-. - '-_.... 5. F;agmento póstwpo.. ·n.ovembro ~~ i 88.?Úná.rçu'ile ";0'60: l1(Hâi. v. 13.. \.'; Travessias do niilismo as coordenadas do alto e?o baixo, do sagrado e:do profano, do_centro e da periferia.;..~~~odo'q~~~essatopografia aplaina?"3, sem balizas nem referência ·~agamos à deri~a) Nietzsche não se compraz na descrição dessa vertig n:r::poi& o'e~r;,cial consiste em detectar as razões' de um tal exlravio. Pois se falta uma meta' e umpor~odo ~m vão" lende a crescer, juntamente com °temor diante dele, não é apenas porque "os valores supremos se d~svaloii"Zam"(27)-. mas , sobretudo porque depois que a~e!<!física e sua permeação ~. moral entraram em colapso,;qualquer va~áparece Impossível. o niilismo, diz ele categoricam~~;~eqü~J~da ~~~t~ção moralista do mundo··.· Boa parte da obra de Nietzsche está dedicada à ---_.- " . analise dessa interpretação moralista do mun.do que vigorou por mi- lênios, que o preencheu de finalidade e s;~tido, e seu crescente esboroa- ._--".. -~ menta, E diz Nietzsche: . NIIITZS HE E OS RECOS , :' 208 3. Genealogia da moral. 25. Que fizemos nós. ao desatar a !crra do seu sol? P"l'U onde se movo eiã agora? Para onde Dosmovemos n6s1 Para longe de todos os sóis? ~---.~ Não caímos. continuamente? Para trás. para os lados. para a frente, em todas as direçôes? Existem ainda "cm cima" e "embaixo"? Não . '" -----vagamós como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro 'do vácuo? (Nietzsche. 2001. 125). Como se sabe, e'ssa é a'primeira formulação exp1fcitrr de Nietzsche da morte deDeus. A novidade desta fórmula' não eSlá em anunciar que \ o Deus cristão'morreu, I]ljls'ein fazer ver' que à mundo s~P;~~~?':í~~e'!.. em'geral, que":.dava à e":istênc.i~.9P ~omem um se~ina'razão,caiu .' -- - ,.- .." ......-- -"._~-r.......-._,,.. /1 em descrédi_t? Vis~o_qu~_ess~eg~~l? p~~~~:"ef~~La~em como sua função de ancoragJm, o homem já não sabe no que se agarrar, e nada - ... . - ;/ \, Já poClemos postular que o'termo niilismo tal comp eles rilO nesse grau de abrangência recobre grossomo'do a história da nlosoOa o do cul- lura ocidental inteira, nos seus dois movimentos sucessivos o conlraeli~ ""tó'rios. Um primeiro movimento corr.esponde ao deslocam nto molafí- '" .W. IfV I sico o era?o na Anti üi?ade, desde P.lat~();e rolon ado no rislia- '~ I nismo "êUiTlsegundo .movimento inverso, correspondo à perda esso I: I e·xo"m'etaf.ís .sobretudo na Mbdernidade. Quanto mais avança m~ ~,~ sua obra',' ~nto·mais 'Ni~tzsche se debr'uça sobre o segundo momento dessà s:éqüência, deiXáhdo a impressão que (, termo niilismo diz 1'05- peitô'sobretud~a esse pe~íodo-pelo merios,'é o sentido mais correnle no seu tempo, em consonância com sua circulação enlfo os russ 5, m especial em Turgueniev e Dostoievski, que Nietzsch froqü nlou ardenlem nte. orno Nictzs ho d s reve esse niilismo da Modernidade? "Desde Copórni o o hom m par ter aído cm um plano inclinado- lo rola. cada voz mais veloz, paro 10118 do conlro - pora nd? Rumo 00 nada? ao" lancinante s ntimonto d sou nado"?' Mas tolvoz o toxto cr1"1 qu tal perplexidade enconlra sua formulaçã po ti fi rllois n .oboclo drnmá- lica é o conhecid.o fragmento,dataddo 1882, 001 IUO insonsato pro- cura Deus com uma lanlerna em. plena luz da manh para depois anunciar que Deus está morlo: H~idegger (1971, p' 91): "Car, tout bien considéré, la transvaluation accomplie par Nietzsche ne consiste pas à substituer aux valeurs prévalentes jusqu'alors des valeurs nouvelles, mais en ce qu'j:J conçoit d'ores et déjà en tant que valeurs l"être', la 'fin', la 'verité', et rien qu' en tant que valeurs, La 'transvahiation' nietzschéenne revient dans le fond à convertir en valeurs toutes les déterminations de l'étant", -.;\J uaVl::~~.l'~.lJ.~J.~"" -..-../ . ..ç . v('I; !. ~ , ,(,J J .~ ",Q r. •• , .. ,t..l.. ".. lo! ~ ::... O." :.y.", , '? - / ,~,-v'-r'"\-' """ '-.!'lI ;, . ." "''5 '\ /.l.- J é?,"aj~~~~~~~ Quem pr~cisa de tal ou qual conVlcçao, crença, valor, para conservar-se, para impor seu ' .' ~po, par~ alastrar seu domín~o?Pois uIP, v,alor~.~~~.~a~~~~ tr.EBA~ Y}<\ª,.•<l'Luma f9JJUaç,í!.o de doml111o ... Com Isto, NIetzsche faz' ,_~" '" ',u~__ ..",__, ," _. __~ , ,rI " aparecer ojQgo das perspectivas antes qu s transformassem em áe.nl:í r,:as, con~icçõ.es, (deàis. É o sentido his.tóri o 'lu 01 não se can~ade cobrar d~sJilósofo's~Assim, ~ verdadel,à virtudeJa beleza. o progre~so, .:~ ,cadaum desses valores deve~lasei'-concebidocomo uma p rspectiva ,\... " produzida no tempo antes que,.se unive,rSalizasse, um onto de,vista ~(U ,t~ais vitorioso .'llJJJDl~:-q~e.,~t~Q..de-ocl:!!aI.Q.fu!Ode se um on~o :;3 : ~t=ª:.Um valor, por definição,resulta sempre de uma avaliação, por . isso a expressão "estimativa de valor", ou "apreciação de valor" tem ',. El,mérito de desfetichizar a'idéia de valor em si e remetê-la à operação // " de avaliação que está na origem do valor. Afinal, o 1;.;,_~em é o ani~~l~ 'j ~valiador por excel~~c~~~oser que mede, que fixa preços, que imagina! Iequivalência, que estabelece hierarquias, que privilegia tal ou qual ele-1 , \mento em comparação com tal outro, atribuindo-lhe um peso superior,; ~pu fazenc;!..-O .del.e uma medida. , Mas tÍ~a avaliaçãõ!tão é apenas um ponto de vista sobre o mundo, __ / ela eXJ,)f~Ê?xigênéi"~~psicofisiológicas, ;ela é indissociável do corp~o.4:S ...~ . . \.. ......-,-....... -. ..- que a gerou, da hierarquia instintiva aí presente, dos processos interpre- ta't:ívoi do próprio organismo, isto é, seus modos de apropriação, de me- tabolização, de dominação e incorporação deuma'exterioridade. Uma iivalüição brota de uma maneira de ser que ela expressa e reivindica. Dado um valor, que modo de eXistência, que estilo de vida ele implica? pergunta Nietzsche~Pesado, leve, baix-Q, alt~, escravo, nobre? Um valor te.rn sempre'uma genealogia da qual dependem a nobreza e a baixeza daquilo a que ele nos convida ,a acreditar, a sentir e a pensar, esclarece Deleuze.' Um valor.é um instrumento pelo qual um tipo devida se impõe, se conserva'ou trata de'expandir-se. Nietzsche o expressa nos segui~tes termos: "O ponto de vista do 'valor' é o p'onto de vista de con'dições de conserVação e de expansdO ql.H~concer~e àsfonnaçõe's complexas 7. Deleuze (1976, p, 64): "O que uma vontade quer, segundo sua qualidade, é afirmar sua diferença [oo.) O que se quersão sempre qualidades: o pesado, o leve... O que uma vontade quer não é um objeto. mas um tipo, o tipo daquele que faia, daquele que pensa, que age, que não age, que reage etc.", -.i, Travessias do niilismo A. DESCRENÇA. 9.. Fragnlento.póstumo. (lutono de18!l5/outono,de 1886. 2[·127], 3, v.12.: 10. G/tnealogia da mora': 111,2.6.. ' . ,. ,.' .: ',." ." Jí,. ....:i:r ,,'.' . . .,' "' .. , M '. (Ja-V~ ~-t~Al (./,..~ '~-on' j.7~/ ~~.i~i!/(/l<~,~:::::-~. ~, ;// J~J l:·tF-1 ,·t:~ t-rPY)rlA' d,t1./t~vt/~- ,...1--0- ""t,~ t:>'VV"L' i/i:-v..~,)-:,,\, i/ '" ; 'fy?"'/" i'l.tJ,.~13 &V ! ! (V# '>tPJ-V-' /"~~.~ J I' .r 6/"UYY Antes que uma reviravolta seja possível e pen1áfel; muitas oscilações e zigúezagues são previsíveis e àté inevitáveis:ii começarpelb fato de 'que o désmorbnamento de uma interpreta/ão 'dominante parece inviabilizar. por um tempo. pelo menos, ,qualquer interpretação, / I abrindo o espaço para o reino do tudo é vrrf, para um traço budista, para a aspiração pelá nadéi. 9 "Há apenas .. ,!,', '.da emnc!:ecel.i· as úl- timas gr~lhasqúes'efazem'ouvír dize' 'p~a quê?' "em v~o! , 'nada' - nada maIs cresce pu medra, no máximql "ica p urguense 'e: 'co~paixão·:tolstoiana. "10 ,É o pens~ento 1118is .paralisante, diz o B.lósofo"Ele.nasce contaqueles quepfrderam, diante do ,esgotamento da moral cristã. seu lugar e seu~ valq{garantido na ordem metafísica, e que ~ão conseguem conformar-s~~~msua ausência, Se a descrença parece 'indicar um esgotamentd,~ital,Nietzsche'vêaí também uma oportunidade, e até mesmo Umá'éxigência. de s'e estar à altu:-a dessa descrença, para sustentá-la e lévá-Ia às últimas conseqüências. Mas é como se faltasse uma "espécie superior", como diz Nietzsche 'às vezes, que fosse capaz de desistir de vez da crenç,9-mrverdade; essa expressão req~íntadada impotênci~jdavontade, para poder enfim empréender '\' /1 atos criadores (46). ApeqàsÚIhaespéde fatigada predsa, para vivei,;de/ I crençéSde verd.aQ.~!..9ii~tãl:.:l?j!S'de autoiidade qüê as legitimem e l/i sancionem, ao invés.de ser ela mesma legisladora, instauradora, cria- dora. Apenas um ho / em cansado. quando já não enCOntra apoi~ nessas \. . ..-? . ----crenças ou (nStâ cias, t tna-se niilista num sentido que Nietzsche denomin de p~sivo, o seja, aquele que~caRar~irado&Q.I!~"~eber que, o mu o;t.aLco· .. ~l.e énãôdeveria4ftf~~m~tal1lli.~~.:~ d~riéi'iet-'nãQ:e)(is"te,;''::' ,'nãofazsentido agir; sofrer,~- çit ~, ~~~~ ~~ -. __.__ querer. senti'I';:emim ( ,o.c.tudo: éem -v.::/ / essê:o .páthos niilista: que --------.......... /" .Nietzsche tratà'de dissecéIT1Fee-m- atêr, mas tambétn;ao acompanhar sua inconseqüên~ia,perceb~!neleo ponto em qWU<,le poderia reviraI'- . '..;=,. se em seu avesso. Pois ap:Osiçao particularíssím'a -de Nietzsche consiste I em~n;;r-:-que2,. recon_heciment9 de um mundo desprov~do dtfflj se~~~~ª~m~,:o~denáV~;_~_~~,I~vaa'um~ p~rali_s!a ~o~querer !j I Nlt;TZ::iCHE E OS GREGOS Não nos enganemos quanto ao sentido do título que quer tomar este evangelho do futuro. UA, vontade de potência. Ensaio de transvalo~ ração de todos os valores" - fórmula pela qual se exprime um con- tr~ovjmento, qu~nto'ao ~rincípio e' à tarefa: um movimento que, num futuro qualquer, substituirá esse niilismo cqmpleto; que no en- . 'tanto ~pressl,lpõ~. lÓgica epÚcologicame~te. que de todo modo não pode senão:s&guir-sea ele e dele proceder. Pois por que a escalada do iliilismo' é' do"íavanté necessária? Porque são nossos' valores afé agora predominantes, eles ·mesmos•.que nele extraem sua últitna conseqiiência;,porque oniilismq é o último. limite lógico de nossos grandes valores e . de, nossos ideais,. porque precisamos :'primeiro viver o niilismo para descobrir o qúe era Q valpr propriamente ditc? desses uvalor~~;·. Teremos neces$idade.~ummomento ~ualquer, de novos' valores. 8· . com duração relativa de vida no interior do devir" (331). Então já po- demos acrescentar, explicitando a direção última do pensamento de Nietzsche a respeito,.e que aqui só podemos percorrer nesta velocidade supersônica: os valores são as condições de exercício da vontade de PO" tência, são. colocados pela vontade de potencia la fi ma, e também descartados por ela quando já não servem s su xig n ias seja de conservação ouexpansão:. A conseqüên i para qualqu r projeto de transvaloração dos valores é que somente ali ncl a v oLad de potêno, ciaé reconhecida como fonte dos vaI r s, qu 'in ·titui ã de novos valores pode ser exercida principalm partir daquilo que de fato é- sua fOIite. Mas tal r v /'s radoxo ao qual Nietzsch se r fere d mOn iro r . rr nl ív l quando a depr cia ão do v I,or r r 1 v da a . U L rm "p. is ap nas esse pro- ce 50 concluído ap z d faz r aparec r o vetor d v 1 r vigentesaté então (vaI r de nada) e a n gatividade de que resultam. Por con~ seguinte, apenas no rastro desse movimento declinante pode-se de- sencadear a.exigência da reversão. Em outros termos, o, contramovi7 mento reivindicado por Nietzsche só é pensável a partir do niilismo, do qual ele nasce eque ele pretende.uhrapassai:, 'levado a 'eu termo. Como diz o esboço ao prefácio:' 8; Fragmento 'p6stumo. novembro de 1887/março d~ 18~8, 11[411 i, 'v. 13., : j I ll,Frag~ento póslumo~ novembro de 1887/março de '1888,11[411]. 4;v. 13. DUPL~QQ~.,__.__ .__.... _ ..--- Já podemos evocar o duplo sentido d niili m s textos desse ---- período deixam entrever, ou o duplo movim nlo mbutid na própria noção de niilism0-l0r um lado o niilismo é um sintoma d r scente fraqueza, por outro de força ascendente. Ora é expressão de um decrés- cimo da força criadora, onde a decepção diante da,ausência de um sen- tido ou direção geral conduz ao sentimento de que tud~ é em vão (47), .ora é sinal de um aumento na força de criar, de querer, a tal· ponto que 'já não são .necessárias as interpretações de conjunto que davam um : sentido global à existência. Não se pode pensar no niilismo -tal como Nietzsche o elaborou sem tal duplicidade, sem esse caráter equívoco, ambívalente, no entroncamento entre direçÕes antagônica~,de um mo- vimento declinante e ascendente da vida. "O homem modema cons- titui, biologicâmente.' uma contradição d~ vaiare;,' ~le está s~~tado entre .duas cadeiras, ele di~ Si~ e Não com Q mesmo fôleg;.-" ". I . .' _ . Quando o leitor de Nietzsche se pergunta, em textos contraditórios, se afinal para Nietzsche o niilismo é algo desejável QU nefasto per se, e corno o filósofo mesmG se situa em relaç;ãa.' a is~o que ele diagnosti~a, é preciso ter em mente o fragmento preparatório ao prefácio:. "Descrevo aquilo que vem: a escaladado niilismo [... IEu louvo, e.u nãoreprovo aqui o fato de que ele vem [...] saber se o homem se recuperará, seele . . \ ..... '... .' do~inará esta crise, é llma questão que depende de sua força: isto é pÓssível"(362). E na versão m~is elaborada do prefácio, vem?s o próprio Nietzsche confessando-se o primeiro niilista perfeitç da Eu- ---.:--- . . . ..) rapa, tendo viyido .' . o em su~alma até o seu ter~I1o:-e já o tendo u apà~ado-jáotem atrásdesi,deb~o de~i, fora de'si ... 11 Portanto, ~ ~~---- a posição de Nietzsche não é extrínseca ao te;a,-:eãpeifeição parece ,:.,-~ . referir-se ao fato de ter mergulhado no niilismo e o ter atravessado em Travessias do niilismo e desll:mp.Q~ando ne!a,m~.s_se.~ q~~i'~_t~E~~ainda a força para o novo. É,,~omentoda maior promessa e do maior p~rigõ;:Poisprecisamente "agora, q~ando a vontade seria necessãrJO enn:UC; Suprema força, '1~ é mais fraca e mEf~pusil!inime" (33). - ---_.- A crença é sempre desejada. com a máxima avidez. é mais urgen- temente necessária onde falta vontade: pois é a vontade, como emo- ção domando, o sinal distintivo de autod~mínió e: i~rça. Isto é. quanto .menos algué'm sabe mandar. mais avfdamente deseja al- gUém que mande, que mande com rigor. lim Deus, um' príncipe. uma classe; um médico, um confessor, um dogma, uma consciência partidária" (Nietzsche, 2001, 347). 214 fv0./tÇ'-iV.Iy...q, ,f"Nlt-I L~L.l{t- 1:. ~",vKl:.vU;:' }/),"Ir1'\.~1 -a. Y>Ú-V1.~ Ó/ V~t;\ 'l<.... i, (;.. lN ~ . uma vontade depa~ , " m' abundante, ao con- trário, suporta e~ necessita desse esvaziamen o ara darvaz.ão à sua força de interpretação, aquela que n~o usca o sentido nas coisas, pois o impÕe a elas. No fundo, acrenç~relação inversamente proporcional: Nietzsc.he. detecta nessa neçessi .n nera ão um adõec~vontade. fonte das religiÕes e fanatismos .. Emcontra- posição ao crente, Nietzsche chama por um espírito que "se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em li.ir P~~~~-:r:.-~~:;1..~~es cordas e possibilidades,. e mesmo diante ~;,\kde abIsmos dançar ainda". . . .. :;~~ . . Já podemos definir essa transição da ven(3ração para o mando corno sendo a passagem do "tu deves" para o "eu quero". Através dessa meta- morfose do camelo em leão, o que está sendo dramatizado é o ato pelo qual a vontade livra-se não só de sua subm,issão, mas de. sua inclinação à veneração, à abnegação e à negação de si. Tal passagem, porém; não está dada, elaé uma travessia, e tem seu preço e sua vertigem própria. Ela se chama niilismo (Jaspers, 195D).A transição do "tu deves" para o "eu quero" não pode fazer a economia, portanto, desse. estado interc mediário, problemático, em que a desc~ença;não encontrou ainda a vontade que a sustente, ou a vontade crescente não: encontrou ainda o caminho desbastado o suficiente para. poder querer o. que; lhe cabe, embora já se tenha desfeito de suas veneraçÕes.. Esta é a ambigüidade. do niilismo da modernidade, em que coexiste o declínio da moral e a ascensão de uma vontade que ainda não sabe a que veio. Pode até ser um período de lucidez, como diz Nietzsche, em que se compreende que há~~B-tigoe Q.!1~_com'p'r.e:en.Ae-se também que todos os antigos ideais são hostis à vida, decorrentesd~ence -._-------- --- ; I 1; , Ji 1 i I II I I 11 i 1 . j-I ! 217 i I 'II!, I i III ;j ---- - 15. Fragmento póstumo, outono de 1885/outono de 1886; 2[127l. 'v. 12. : i Travessias do niilismoI I TIPOS DE NIILIS~1O I -Mas afinal, comp se ápresentab quadro dos niilismos em Niétzsche, , - - com todas essas osblaçães na extensão do conceito e na sua coloração? 1 ... Seria preciso com~arpor uma forma prévia ao niilismo, uin certo:pes- simismo de inspirJ,ção schopenhatierianap~esénteentre os gregos tal como ó refere Onas imen to' dd tragédia; e queulteriorinente Nietische chamaria de niilism teóricO' e prático, ou Qrimeiro. Trâta~se'deUni so- J frhnento in~i;;;;~- -:--:- diante do niIà.l'~corri;o risco'de a~~ _.L E!r" - a n~ga ão dista'da existêncy..cáSo não iuter usesse pre- --_:~:,','.,-,_:,._, li ci teparo artístico e . ivinapolíueo,. ta'sciduúr-~s:õ .' _ __ '_2'i~turas para a vidil~~~- as do d~go~~.»:,Maso'nÜ- :: ,I.' lisrn:ó propfiamente dito, talt::oind des'eilvolvidopor Nietzsche no úl- I timo perío~o de ~~a obra,'nadadeve a~c~ópé~auer- se~ão comoJZID : JI exemplo smtomatlco de um de seus tipos meus acabados. "_'1----'" Seria preciso, então! começar esta série pelo niilismo neg~o~__ 'o mais abrangente, para referir-se praticamente à história damêtaR'Sica como um todo, com suas apreciações de valor teológicas, morais, ra" - cionais, ~;~ir~~~prezo,g,eÍg;;u~do.seg;ív~Éoreino do espírito de vingança e de depreciaçáà, ~e se vQlt6s.0ntril':Jéda...../. Mais do que uma estrutura metafísica', trâta~se de w-naestrutÚfa psico- lógica,'no sentido e que NietZsche a entende,co~m~r!'0?gia d ' . Jade de potência: a vonta e e potencia reduzi a a seu po er d negar. , A Modernidade. contu o, ruante túal processo e esv 'onzaçao dos supr ücessivos~.'!~~titu,tivo3(o Imperativo ~ Moral o Progre Felieiâad-e; a Cultura), sem qhe o ltigar de que emana qualquêra;ltefãção,embór~;tenhap~tdiâó:seupb'd'éi de car;;ão. És~e signo ue vive o,~o~erÍ1;noderIÍ~,assassinodé' Deus, ma:senvolto el~ sombra dQDeus mo," , ~j O quepóderia resultar daí, seiiãó' um' decepçãor 'Vémos 'que não alcançamos a esferàerri que'pusemos n~ssos va ores --" toni isso: a outra esfera, em que vivemos, de 'modiJ'nehhi'JiÍrairiâa ganh6uvalor: ao con- trário, estamos cansados, porqlie perdembS inCijJal,'Foi em vão-até agora"'. '5 É-o niilismo passivo, d grilode cansaço em que .-== se - NIETZSCHE E OS GREGOS216 ;2. Ge~ealagiQ da ;'araf, iIi: 27: 13_ Fr~gnieni~ pós;~'m~,õutorioCle 1885/aut~~o de 1886, 2[127].v.i2. 14. Ver a res?eito Giacoi~ !r. (1997). MüIler-Lauter (1999) e, sobretudo, Bourget (1993). Cabe assmalar que vanos fispectos. aqui abordados foram· tratados de maneira siste- mática por Araldi [2'004), àbi-a à quàl aindà não tive acesso no-nicimimtode elaboração deste artigo. todos os seus estados, "enquanto um espírito que arrisca e experimenta, que já se perdeu~ma vez em cada labirinto do futuro", a'té sair do outro \ lado - e que po'l'sua-natur'eza "augurial" olha,para trás e conta o que \ vai vir.~~~ietite que viveu a doen~té' W-~t..~J!.li!!-_?, e que na atenta auto-observação conseguiu sust ntá-Ia e intensificá·la até seu esgotamento e sua cura "homop ti a", por assim dizer, e portanto já pode, como médico, diagnosti á-Ia m seus cón:te~porâneoseatérIu3SmO prever suanecess{dade e possfv!~ des..:...., dobramentos, embóra o desfecho seja sempre indeterminad .~ - Em termos rrten.os pessoais, como foi dÜoacima, o niilí;'o aparece a Nietzsche comó uma necessidade histórica na medida em qu .' d corre dos próp~ios va!ores cuj~ supremacia se'vê posta em xequ ,I v odo a u termo a lógiía: interna d s s vaI r s, na m dicla m qu I' s- v lt m ntra si m mo, num dinàmi d aul -supr . "Todas gr. nd d uto- ~.!:' ã:a imqu ral idavid ,aI ul que há na éssên ia da vld - ouve o 'chariíado: "Pat r ] g m, quan ip mesmo prbimse'ste]'.'2'Por x mpl :" s nli o d v ment~'desenvolvido pelo cri tianismo, fi om nojo da falsidade e mendacidade de 'to'da interpretação cristã do mun O a hi t ri ".13 O excesso de valorizaçãá da: verdade volta-se coo trá a cr nça nas ilusões tidas por verdades, acarretando uma suspeita m r lação a todo e qual- quer toma'r-l?or-vetdade, isto é, voltando-se contra todo valor, e por- tanto' contra a possibilida,de mesma de avaliação e valoração. Para situar com precisão mai~r es~a necessidade histórica do niilismó, embora não tenhaITÍoscondições de desenvolver aqui este tópico, seria preCiso reférir-se- ã idéiiCle 'décadeJice, central e recorrente' neste pe- ríodo: que rem:ete a umprocessci de desagregação próprio' à vida, até .dopi::mtod-evista'fisiólógiCo, que pÕe flniàs formações de domínio, uma vez esg'otad~'s suaspossibilidadese' completado 0- seu ciclo. H 'v~ '5 I t1 i --.... ! - " .I Travessias do niilismo O desejo de destruição. mudança. vir a ser, pode ser a expressão da força repleta, grávidad~ (... ], ma';pode ser também o ódio do malogrado, do desprovido. do enjeitado. que destrói, tem de des- truir, porque para ele o subsistente, e aliás todo subsistir, t<2~o ser mesmo, revolta e irrita - para ntender este sentimento, vejam·se ..___- •••__ o '''0 ".. . de perto nossos' anarquistas (Nietzsch , 2001. 370). . C '.' i ..,' ty1:A L \.V)!.}, o, '.'" ',v' A destruição da moral, da religião d m tafísica ....~>ias.fof~,~ que as propagám,'7 preconizadas por Nietzsche para o frl'ilismo ati~?.:.n.ã~_ p'od'e provir dQ....Q.Q..Í.o_.c!?_ mal.o~~_c!::>~~=d_:>-...::'.en.!'l~.? ~:~o, do iinpulso' reátiv<:J_~~ l1,I!!-ª~Ü-ª.窺..Beg'!ºVi~;· mas deve ser a f~necessária de uma vontadeafin.n~ti~.~ietzsche te~ muita clareza sobre o estatuto de sua destrUlçao. Nos outros, nos i:u;,oralistas [H']N~mente,b~cainos nossa hon~;:iho fat~ dé se~os afirmativos" (Nietzsche, 2000). Ao fazer um elogIO da crítica, Nietzsche revela a lógica aí embutida: "Quando exercemos a crítica, isso [. .. ] é [H'] urna prov'a de que ~s-flá-e.ne.rgiJ:l~y!tai~9:~e estão crescendo e quebrando uma casca. Nós neg~s_e_t~~s~~negai; pois algó erri hós está querendo viver e se~~ .algoque talvez ainda não'coriheçctlnos, ainda não vejamos!" (Nietzsche, 2001, 307). Ou corno, diz um fragtrJ.ento preparatÓrio ao Zaratustra: "Os criadores são os ... mais odiados: céim efeito', eles são ós destruidores mais radicais".'8 Ou: "O criador dm.eser semprê'um destruidor".'9 Ou: "Eu falo de uma grande sÍntese~r, do arh~te e dodestruidor". No limite, é a preponderãnci~~'Quero ser, algum dia, apena~ ~l~ém que díz SiIrt!" Poderíamos usar essa avaliação como cnteno para um diagnóstiCo diferencial dos niilismos... •.. . . . Sendo assim, é apenas nes extremo da destruição e da afir- mação ue ~de'intervir niilismo completo suprimindo o próprio lugar dos valores a fim de os colocar de outra maneira. O niilismo acabado, "clássico", perfeito; do qual Nietzsche parece fazer-se porta- 17. Koss'oviich (2004, p. 127): "A vir~l~nc'i~ do nii)js~o ati;~ está n~ s~u poder de destruição. Não pensar que vise aos valores: trata-se. ao contrarIO. de amqUllar as força,s que os propagam. Ao dizer que 'é preciso começar. enforcando os moraltstas . Nietzsche os acusa não só da promoção de valores VIS, ,:,as, p~r~ além .?eles .. da preservação, através desses valores, das forças que deverIam sUlcldar·se . l8. Fragmento póstumo, verã%utono de 1882,.3(1) 30, v. 10. . 19. Fragmento póstumo. novembro de 1882/fevereiro de 1883, 5(1) 234. v. 10. ~,' I L, -', . NIETZSCHE E OS GREGOS218 predomina a sensação de que "tudo é igual, nada vale a pena". 6 É o nojo) pela existência rep titiva e sem sentido, simbolizada pela horn' te' ._-....--:---,,---,,----_._- .... ----------- " imagem do pastor co a cobra negra pendendo da boca, no Zaratustra. ~eOu:i:-:::;~::is~~e1::::~~ê:sé;~~::,Üt::::::::s:: que a unidade da cultura se dissolve, conforme a lógica da décadence, e os ,d~ferentes elementos que a co~.!ituLam entram em guerra, intens_i~ fica~d~~p~diente;_;;;~~nsató~det.:?nqüilização, cllra, ineb~~o,hedonis~, reconforto, bem como seus travestimentos morais, religiosos, p~iíti~os, estéticos. Trata-..se de um '.'estado Y;éI;n~ó- . rio J!,9.t.Q1Q,gico". . . .~. ..' . ..' . '\'Af\]V;~\ As trê~fig;rasdo niilismo mencionadas aderiam as~m ser tradu- zidasf.'Il!o·t rmos acp . -o dos valores: alo e erio~ substitutivos ada de va!, res Niilismo negativo, niilismo r nu pas~enr10docaso, sempre um niilismo incompleto. O Ornais interessante nessa progressão é o ponto terminal, o estágio mais" aflitivo, mais patológico, mais paradoxal - ali justamente onde urna .,..conversão é possível. ,h,'O paradoxo do niilismo pa'ssivo es á em que os .ill~sIll..º-~.sintornas po eriam significar direções opostas. Mesmo~mopessimi~ do mundo moderno poderia ser o indício de um crescimento de força, e de uma transição a no~às condições de existência que nosso senti- mento moral conservador julga negativamente, pois não consegue compreender de qúe novas condições ele procede ... (155). Nessa ática. o sentimento niilista pod.~ri~~eroo..!'ig~.o cie umaopotêneia-amplíada-do espírito, que necessita ~e novos valores, j~ que os anteriores são incapazes de ex ressar 0oestado d . o~ a atual. . Na cànversão d;;rtiilismo assivo em at~Y_9'percebe-se que os alvos. ,. ~'vigentes até então (convicções, artigos de fé) não estão à altura da força presente, e se é impelido a .destruíclos ativ~ente. "O niilismo não é somente um conjunto de considerações sobre o terna: 'tudo é vão', não é somente ença ·e..que· tudo merece perecer: c_onsiste em pôr a mão na massa, m destn,lVfH.j" (366). Mas Nietzsche distingue dois tipos~ode destruicão:-' ..- - 16. Com pequenas variações, em Assim falou Zaratustra: II. "O adivinho": III. "Dos três males". § 2. e "Das velhas e novas tábuas". § 13 e 16; IV, "O grito de socorro". " 200 No presente parágrafo acompanho-de perlo esse livroo , .'.~ f· ! 'j 1 ~ 1 ! . 221 é-' '1 . ! <. ;J'ravessias do niilismo Toda a beleza e sublin:lidade que atribuímos às coisas reais e ima- ginárias, eu as quero, reivindicar de volta como prorrie?a~e,e. pro- duto do homem: como sua mais belaapologiao O homem enqj.l~,to poeta, pensador, deus, amor, potência - com que régia generosidade ele dotou todas as cois~s p~a se empobrecer e se~tir:'se ;ni~~ráv~I'! Foi essa até ago~a sua niaio~ abnegação, que 'ele t~Il.!i~ ãdrtÜr~do:~ adorado e que ele tenha sabidó se'dissimular que era ele quemtinhil criado aquilo mesmo que ele admirava (341), -~- .' Mas uma leitura mais ntO§-:re-~e-p-ai-aa superação do niilism não basta um crepúsculo de ídolo -a supressão ~a esfera su pra- e~sível, e- a reapropriação umamsta; difereritemente ,de Feuerba h. az-se necessaria a desconstrli ãodo prop-rio homem ·ue nessa esf ra projetou suas neCeSSl ades ecategorias. com, llidade e inclinação à reverênciaoNão basta. portanto, colocar o homem no lugar de D us ou devolver ao homem os atributos divinos. ou mesmo a criação dos...-valeres, Sem"que se d,e.§.~ontep-pzóprío homem na: Sua confi uraç ~ '~s-crava l e~sentifi.a. «~l a~a, t~ati ~ Em outros terr;;s, axiologia nao po e estar enralZ uma 'antropologi ,cujoparen- oco ogla é'sua origemincon lllsta qúe destrói' o mundo sem destíllira si mesmo prolonga- oant-ropoántrismo; a decadência e a metafisica que ele pensa 'combater. Em suma;:o sujcídio voluntário seria o acabamento coIlseqüimte do niilismo, seu gesto mais extremo. AlJIortede Deus implica na mort.t9-0 homem, mas como diz DelEiuze, ambas esperam aihda:as forças que ihes possam dar o sentido mais elevado. ! Seria preciso agora, brevemente, situar o modo pelo. qual Nietzsche entende contrapor-se a esses mecanismos antropomórficos de projeção e de negação niilistao A uma primeira leitura o filósofo da transvalo- ração parece encaminhar-se na direção de urna reapropriação. lem- , brando os herdeiros de HegeL : CONTRAMOVIMENTO RENIETZ HE E220 voz. exige' a instauração de valores a artir de um ou lr t)lado na própria VI 'a, a vontade de otência, e d Todos os valores com os quais alé agora procuramos tornar o mundo estimável para nós e afinal, justamente com eles,~ quando' é'íés se 'demonstra~ inaplicáv'eis ---, todos esses valor s são, , I do pbnt:ó de ~ista psicológico, resulfados de determinadas perspec- ; ---"'~"""'-"-:-:":":"~~--~""';'~~7'"--:-::---:-;::--=----;--,-;:-:-:-:! )tivas de útilid e ara a manutenção e iontensificação de fo ; :ções humanas ,dominação: e .apenas' falsamente projetados na - j'eSSência da;col;0 sempre am aah~~' gen~o iJlOmem: colocar a si mesmo como sentIdo e medida de valor das , .........-.~_. ~~ . . ~-':"'~-~~ .'._.4''''_--'''''''''-_4.l .. ,~icoisas (351). ~ \ I_~_. /:.o·a·a~ " '% Já podemos. antes de nos encaminharmos para algum n tns n- clusivas, tentar sintetiza'rOalguns traços gerais colhid n s I xl s consultados e em ~J-~ " s interpretaçõ~s. O niilismo pode xpr como fiYosofia, cobio reli 'ã 'cCQm2.!:lOratc&K~~~tica, m mentCl social.~~~o c' uIsão polític~como..tioImrc;'ia revoJu (Giacoia Jr., 1997). ~o 6;Wismo atra~ssa todos esses fenôm n ,~a c@~ciê!1cia d~fusade que os valores s:UPt~om&9-fl ul ura 1- ,\:r, egt,,~Ls-e-de-s-valm:izam'--GQm.Q1W~~el.~ rev.elam seu .valor d oaqa, o \:\ J.., da: aparece corno a v dade de taIS valor" " Com Nletzsch , mo- ivimentó como que ascende à autocompreensão filosófica. Há u!11 v ide sentido. q~e é vi~d~ Cüm~ ~a exp€r:ência "psicol6gi 00 : a desvilloriz~ção atinge um nível de repres~ntação.Mas num # .' . . ...• ,parágrafo sobre o niilismo como estado psiocológico, Ni lz ,substanciali~a esse "nada" nibrando em a ar um nl lBergson a resp..~oi~ ada parece como .En !de e~contraln~'~~so do mundo uma finalid ,um : ~ " -- !verdade, e a conseqüente decepç~orr nt I (razão que não detectam equivalente na r alidad . R !Nielzs he não c sa de rctrabalhar, d sd u l xl V.'rdod m lo fraca s 'da proj çã? antropom rfic tran f rmada m p tul do [metafísico. omo o diz ele: 223 O que é bom? Tudo o que intensifica o sentimento de potência, a vontade de potência. a potência mesma no homem. [... )1 O que é a felicidade? O sentimento de que a potência aumenta - que uma resistência está sendo ultrapas~ada.lNão a satisfação, mas mais po- tência; não a az em geral, mas a u na; não a virtude, mas a cap~cida~e ~Virtu~e no estilo Renascença. virii!, virtud sem moraliSmO)!2\' o obJel.lvo nao é o aumento da consci n ia. fi s intensificação da potência" (332). ' ~---v , Travessias do niilismo 22. Fragme~io póstumo. novembro de'1887/~arçode 1888, 11[4141. v. 13,. 23. Nietzsche contra Wagner, ·'Nós. antípodas". Mesmo quando fala do sofrimento, ainda é o mesmo critério: "Exis- tem'dois tipos de sofredores. os que sofrem de superabund~ndade vida, que querem uma arte dionisíacá,'e desse modo uma corripreensão e persée'ctiva trágica da vida - e depois os que sofrem de empobre- • . cimento de vida, que requerem da arte e da filosofia silêncio, quietude, mar liso, ou embriaguez, entorpecimento, convulsão". 23 Para' que essa observação fosse plenamente compreensível seria preciso acompanhá- Ia de um longo desvio pelos gregos, a quem Nietzsche cada vez mais reconhece sua dívida, e que de fato parece esclarecer esta série por inteiro. Pois os 'critérios e,len:cado~ acima, de uma forma ~u out~a, já estão presentes no que Ni~chedenOmina in:stinto helênico: o exce- dente de força, a dimensão agonística, o imoralismo temerário. a vontade depotênc~ede vida", de vida eterna. Mas contrctI'iamente à eternidade cri;tã, o eterno retorno da vida traduz aqui, para além da morte e da mU9ança, com todo o sofrimento daí advindo. ;:..mtriunfante si~à_vid~!El.4º-aoeterno prazer da crlação~ <:.<: eterno "martírio da~turiente".Em suma, Dioniso. A tragédia como antídoto. como recusa do pessimismo, comocontr~-instância.e oyensamento trágieo como'a superação de todo pessimis~~."O dizer sim à vida mesma ainda em seus problemas máis estranhos e mais duros; a vontade devida, tornando-se alegre de sua própria inesgotabi- lidade (... ] para além de pavor e compaixão, ser por si mesmo o eterno prazer do vir a ser - aquele prazer que também encerra' em si ainda o prazer na aniquilação", Nietzsche reconhece haver tocado, nesse extremo derradeiro de seu pensamento,"o ponto dO qual partira· com A FORÇA 21. O par ativo/reativo comparece em Nietzsche várias vezes, e Deleuze fez disso um critério capital na redescrição de sua filosofia. .'., I ;'; . Para que essa última direção do pensamento de Nietzsche ganhe seu sentido pleno, é preciso situá-la em relação a um leque d~/éÇitériosque reaparecem em vários textos desse período, mas já est~6 presentes ao longo de grande parte da obra. Trata-se de noções corú'o grande estilo, gránde saúde, superabundância, elevação, plenitude;-atividade, au- mento da força, intensificação da potência, páthos da distância.sem~ : em comparação com o suposto "melhoramento" do homem, sua do- mesticação,mediocrização, rebaixamento, gregariedade. Os critérios que Nietzsche reivindica permitem avaliar e até classificar um valor, uma cultura, uma filosofia, uma vida ou até a modalidade de niilismo detectad~. Tomemos. o célebre prólogo de A gaia ciência: "Em um [homein] são suas lacunas que filosofam. em outro suas riqli8;;;; forças. [.. J em todo filosofar até agora nunca se tratou de ·verdade'. mas de algo outro, digamos saúde, futuro, crescimento, potência. vida". Emais adiante Nietzsche insiste em perguntar, em cada caso, se "foi a.fome ou ~ndânciaque aí se fez criadora1:.(i.b.idem, 370). Nos fragmentos do período mais tardio. Nietzsche volta inúmeras vezes a esboçar o seu critério: "Eu aprecio o homem segundo o quantum de potência e de abundância de sua vontade: não segundo o enfraquecimento e a extin- ção desta: considero uma filosofia que ensina a negação da vontade como uma doutrina de degradação e calúnia" (234); mun fragmento :!~,; .\1 sobre a hi.·erarq~ià: "É reciso te~itério:eu distingo ,~~de ili:j , fs~e~go tividade e re~e; eu distingo os sl.l!?:::!!)ún- ri',' , ~,t~s per~lários e sso~ais.(os "l,'dealistas") (228); II \. uma natw.eza fIca e segura de SI [... ] manda ao dIabo a questão de saber fi' se ela conhecerá a beatitude - ela não tem nenhum interesse em i~! ' qualquer forma de felicidade. ela é força, ato, apetite (242); "pontos de' . It Ab;\J)~tâ-fJ eus róprios valores: é or abundância ou por desejo ... ' :1: if'~{ trata-se de olhar fazer ou,~~ pôr a mão na mas,~a ] é a parti~ de uma I~' força a que se e espontaneamente estImulado, excItado ou :1~, de maneira puramente reativa" (254).21 Mais claramente ainda: o nascimento da tragédia, sua "primeira transval raçãod todos os valores".24 24. o crepúsciild dos 1dolos, "'O que devo aos' antigos", 25. Considerações extemporâneos. II, prefácio., 26. Faye (1998) .levanta·a hipótese de 'que ao ser acusado por Krieck, então reitor da Universidade de Frànkfurt e ofIcial de alta patente da S5, de "niilismo metafísico". Heidegger teria se escudado em Nietzsche para depois sacÚficá·!.o, acusando·o daquilo. que lhe fora imputado: "Le cher Heidegger, q\li a contribué ã la réhabilitation de Nietzsche dans I'opiniún apparente,l'enfonce daJis la perisée phílosophique'en Ie plaçant lã ou ii n'est pas et ou les nazis ont voulu mellre Heidegger lui même" (p. 49). 2,7: Ecce homo. "Por que sou tão sábio", 1. .I J' k,/ ~~ I 225 Travessias do niilismo ..- porque, como já d;~~~m~zsc~-<~mo~~a ne~~ss~~~:~~~.;.~n;.orte,~()=~=pe~.~.~'~o~deumd~afío etlCo, e nao de um evento empírico ou metafísico. A mortedoh;;~~-';f~:;;;;;~'~fr~qü;~'t'~-~~'fiIôs'õfia";;;;'t;mpOrân~~,'quesuscitou não menos mal-entendidos do que otema da morte de Deus em Nietzsche sobretudo no que diz respeito à ambigüidade que aqui desejaríamos pôr em evidência, e ao páthos que por vezes deveria deixar transpa- . recertambém sua dimensão risível. De todo modo,nurncaso coma no / outro, nem sempre se percebe, se assistimos ao ~::::c~~co esg~!2-- ~ ~nto de uma promessa, ou à abertura de um possível cujo contorno , nos,é, intei~en,.S~.~i~~~~:ido. Ép~áváv'erq~;;~-:;~~Úçã~~_ rânea, incluído aí o equívõcOdesvio pelo pós-moderno, ou mesmo a condição arribfguâ da J:jfo.r5?lÍ..tts~iecaracterize preci:SariJ~ntepela con- junção esquizofrêl)icá~eii'~essas ~;;;';;:~lid~de~ afetiva ,correspon- dendo a movimerG'os disIJffiA.Í.ado~Ínbo.E.a si ." eos, e e 'á não s;p~. se estam em vias de morré ou 8e nascer, lame' r ou ~,3JNietzschetinha disso a mais viva ê~-;ciência,e o expressou na pnmeira linha de. sua autobiografia. A felicidade de minha existência, sua singularidade, talvez, está em sua fatalidade: para exprim'i-Io em forma de enigma. eu. como meu pai, já estou morto, como minharriãe, vivo ainda e envelheço. Essa dupla ascendência. como'que do mais aljg...e•.dUJ;!1:a,is baixode- grau da eSC2da da \'ida,';aõ~E;sm-o'iempõd~éente co;n:;;~ isso se é que é alguma coi;;, q~;·~1ic"r~'li'~Il"·í1eü'trãlf~aquel~ liberdade de partido em r~lação ao problemaglogaLQ..ityida",gue, /;_.~~l~\z,me carac~eriza. T~~~~,~::,:.~~t,~T>~"~Hclií,~?,~~~..§!1) ~ n~liI~~~~~r~.f~l~J!.!!º-JlQ..=q]l,!l.iw:"aj.~.~~:Y.!l~~,!!.;.hOT~~~-'o'-m~!re E.gl;.J!.,~ll.lJ~.!2q,~!l!~?o - c~~c:::.:~~~s:~~o~~>~.~~~<27 , ,..;:"~~~~:'""'~ Seria o caso de perguntar se a lucidez que Nietzsche demonstrou no , tocante à condição anfíbia de seu traje.tp não éum traço do próprio pen- samento contemporâneo, oU,Wesrrío'da filosofia como tal. Seria demais arriscar a hipótese dE!.,que àÍ';ilos9_fiabarrega..hoje essa dupla atribuição, ~. ~e detect~:..ll)!~>"~s~á.e!? yi~~ de per~cer.~,él.om~sr.rlO tempo, o que m s gr s no mo- , tr midade LI melan- NIETZ HE E OS GREGOS224 De fato todo grande crescimento traz consigo também Um descomunal ,desmoroname;;;à~p;;'ecimêntõ:' o·sofrer. os siDtoiTIás'&i'ciéCiínio ta- : ._._- -_.. ..- . zem .parte dos tempos.deft~unal avanço: .c;:;da f~~oe gote:qt.e mQYlID~g~ ~~~"d~é criolipo ~s~~:'~~po~~~~,;nto ruo ilista. Seria, em certas circUfistârl&as. o sillãI de um incisivo e essencia· ~ . JiI .,.~~ J!.~~~cWlento.para a passagem a novas condições de existência. que a mClÍs extremada fonna do pessimismo. o niilismo propriamente dito, viesse ao mundo. Isso eu o compreendi. Ttavessias do niilismo a moveu desde o início. por outro lado Nietzsche defende um contra- movimento, que senão podEi ser pensado independent~.9.?niilismo que '. ele supera, ~_~is o pressupõe e dele p~oced~e)'mn~"'2te~to'prepara. tório ao prefácio, nem por isso recebJ.<!ai \l'ma direção ~Uin desdobra- .mento necessários - já que seu contorno é s m certeza, pOIS' sem ver- dade, sem tel~ologia. sem determInismo, "m diaí tica..,."~ No entantü:ào contrário do que pod ria par el'. v uado o mundo de uma fin~idadesuposta ou esperada. não des mbo am na indife. renciação axiológica. A filosofia a marteladas qu Ni tzs he ensaia toma o "t':~;,ale" ou o "tudosJ3 e~t:le" (e o que há de mais "con-tempoi~~ do que isso?)c~~~i:ntomasm~~:d~~r~d~perigo."',' niilista. Todo o desafio consiste então em não fazer do niilismo uma leitura niilística... -'..'~,.,...:.---~,.-,-,.-.,.,-- . • . Em suma, como no caso da eterno ~l;!torno, tambélJl () ~i.iU~!ilO pode ser lido numa dupla aceP5~~-ct:mlQ~,!!~.d~~qsJ~_~de pensamento, mas.també~.gi.Depende, em última instância, de quem ae~a, ou para re:tomar o.s termos de Nietzsche, depende .da.f?rtéi~~'c~~9.il~.da mé!~~~~lf)siva, das novas necessidades e dos ;~~ ~~~it,o_~sYe(:eivirid~~}~.Rast;~~;·r;t;-h~j;,-;=mo· menta em que um leque de fêhômenos inquietantes no campo da cul. tura, da olí' das artes, da economia, do próprio pensamento atin- gem t ponto de tensão, eria Um desafio fascinante, mas que extrapola o objetivo este comentário, e talvez até mesmo as possibilidades da filosofia. REFERÊNCIAS ~~, C. L. Niilismo, criação e aniquilamento. São Paulo: Discurso Editorial; 'ljuf: Unijuí,2004. i:...... BOU!\GET. P. Essais de psychologie contemporaine. Paris: GaIlimard 1993. .- .--DE~ZE:r;-:Nréizscj.,e-e~~fi~-:iÚ~-·de Jan;i~;:' Ed~- Ri~. 19·;6-.~··!.." _._-- -- - -'" ---'-- . FAYE, J. P. Le vrai Nietzsche. Paris: Hermann, 1998. GIACOIA Jr., O. Labirintos da alma. C9mpinas: Ed. :Unicamp. 1997. HABERMAS. J. O discurso filosófico da ~odemidade. São Paulo: Martins Fontes. 2000. HEIDECCER, M. Nietzsche II. Paris: GaIlimard. 1971. JASPERS. K. Nietzsche. Paris: Gallimard. 195Ó. KO~~TCH, L. Signos e poderes em Nietzsche. São Paulo: Álica. 2004. MÜi.I:.ER··LwTER, W. Décadence artística enquanto décadence fisiológica. Cadernos Nietzsche. n. 6, 1999. NIETZSCHE E OS GREGOS226 o mais difícil, na sua obra, é pensar a conjunção entre esses dois movimentos. que seria preciso percorrer como numa fita de Moe1.?i.Ys. sem dúvida, fazendo ver sua c..2.e.xt~~~iviQa~~E~~~a,mas ao mes- mo tempo preservando a dissimetria, a heterogeneidade e a disparidade de regim.es entr~ as duas faces. Pois se por um lado há uma e~E..éci~.~e . necessidade histó~icana escalada'do niilismo, já que o niilismo não é .:~{;méidaêntê'ciã hi~tória, mas sua lógica interna, a história como a história de um erro, '~d<ºmais.!.ongo-ér{o", e de ~~a iiega~@_domu!:~o que só agora vem a ternlo ê-êIeixa a descoberto o bacilo de vingança que ~---":::_"~~~'. O_J:._t -'.~:-~' .:' ....... ' . \·~~1 "'_r' -.' •.••.-~ .••~.. - .•-.-,-:-........:o.: ••.•_._~-------_.--_.~ está em vias de nascer.t~~.I.l.Q9~~Ç.ª"-ª.~.s.~:~~_~.~I.a.?_~0--=~.~.~:l~~~) Há indicações sUficientes, em Nietzsche pelo menos, para corroborar uma tal hipótese. Por um lado, e desde muito cedo, Nietzsche fez um inventário cáustico daquilo que em nossa cultura é declinante, exangue ou moribundo, reivindicando que tal processo de desagregação venha a termo, conforme uma concepção de justiça que encontra na máxima de Goethe sua expressão insigne: "Pois tudo o que nasce merece pere~ '~".Não foi isso que sua obra levou"'ã'tilio'c~~'inc~~~~;:sticida~ .~/ h!e iss~ desde~qjp.j,!;;iQ" ..q)}~~d~ def~ndia qu~·jªa.Po~~, .' Jr'!'D:~o t. a força de queb~41~~~ir~~~.E~~~~~~~a~e . Vse nao az de temp~ e~.~:eg~dUS:0oi:'~g;,.~~rça"? . "1'$1â's qué'ni'-iiê em Nietzsche apenas {) destruidor impiedoso e bárbaro não percebe que tal demolição está sempre a serviço de unia afirmati· vidade primei;a. do desejo de um tempo fundador, cujos prenúncios ele não cessa de detectar aqui e ali, por vezes em ressbnância com uma: antigüidade suposta exemplar, em todo caso um tempo fundador cuja necessidade ele invoca crescentemente:
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