Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ca´lculo II Profa. Lisiane Ramires Meneses PELOTAS, RS. 2o Semestre de 2011 i “Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que estudam seriamente esta cieˆncia acabam tomados de uma espe´cie de paixa˜o pela mesma. Em verdade, o que proporciona o ma´ximo prazer na˜o e´ o conhecimento e sim a aprendizagem, na˜o e´ a posse mas a aquisic¸a˜o, na˜o e´ a presenc¸a mas o ato de atingir a meta.” Carl F. Gauss. Theu Realce ii Prefa´cio Esta apostila foi elaborada para servir de base para a disciplina de Ca´lculo II dos cursos superiores do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense. Lisiane R. Meneses - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense - IF iii iv Conteu´do 1 Func¸o˜es de Va´rias Varia´veis Reais 1 1-1 Func¸o˜es de Duas Varia´veis Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1-1.a Domı´nio e Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1-1.b Gra´fico de Func¸o˜es de Duas Varia´veis . . . . . . . . . . . . . . 6 1-1.c Curvas de Nı´vel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1-2 Func¸o˜es de Treˆs Varia´veis Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1-2.a Domı´nio e Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1-2.b Superfı´cies de Nı´vel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1-3 Func¸o˜es de “n” Varia´veis Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1-4 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2 Limite e Continuidade 17 2-1 Limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2-2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2-3 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3 Derivadas Parciais 23 3-1 Derivadas Parciais de Func¸o˜es de Duas Varia´veis . . . . . . . . . . . . 23 3-1.a Regra Pra´tica para Determinar Derivadas Parciais . . . . . . 24 3-2 Interpretac¸a˜o Geome´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3-3 Diferenciac¸a˜o Parcial Implı´cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3-4 Derivadas Parciais de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3-4.a Aplicac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3-4.a.1 Equac¸a˜o de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3-4.a.2 Equac¸a˜o da Onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3-5 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3-6 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3-7 Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3-8 Derivadas Direcionais e o Vetor Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . 50 3-8.a Derivadas Direcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3-9 Vetor Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3-9.a Propriedades Alge´bricas dos Gradientes . . . . . . . . . . . . 55 3-10 Planos Tangentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 v vi CONTEU´DO 3-11 Reta Normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 3-12 Valores Extremos de Func¸o˜es de Duas Varia´veis . . . . . . . . . . . . 62 3-12.a Extremos Absolutos em Conjuntos Fechados e Limitados . . . 67 3-12.b Problemas Aplicados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 3-13 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 3-13..1 Interpretac¸a˜o Geome´trica . . . . . . . . . . . . . . . 78 4 Integrais Duplas 83 4-1 Conceitos Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 4-2 Problema Motivador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 4-3 Func¸o˜es Integra´veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4-4 Propriedades da Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4-5 Integrais Iteradas - Teorema de Fubini . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4-6 Integrais duplas sobre regio˜es na˜o retangulares limitadas . . . . . . . 88 4-7 Integrais Duplas em Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . 93 4-8 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 4-9 A´rea de Superfı´cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 4-10 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 4-11 Integrais Triplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 4-11.a Coordenadas Cilı´ndricas e Esfe´ricas . . . . . . . . . . . . . . . 100 Capı´tulo 1 Func¸o˜es de Va´rias Varia´veis Reais No estudo de fenoˆmenos fı´sicos, uma quantidade normalmente depende de duas ou mais varia´veis. Portanto, precisamos ampliar a ide´ia ba´sica do ca´lculo de func¸o˜es de uma u´nica varia´vel para func¸o˜es de va´rias varia´veis. A seguir sa˜o apresentados alguns exemplos de func¸o˜es que dependem de mais de uma varia´vel. • A lei dos gases ideais PV = nRT , onde n e R sa˜o constantes, permite expressar qualquer uma das varia´veis P , V e T como func¸o˜es das outras duas. • A quantidade de energia utiliza´vel que um painel solar pode captar depende de sua eficieˆncia, do seu aˆngulo de inclinac¸a˜o um relac¸a˜o aos raios solares, do aˆngulo de elevac¸a˜o do sol acima do horizonte, e outros fatores. • O volume de um cilindro circular reto depende de seu raio r e de sua altura h. De fato, sabemos que V = pir2h. Podemos dizer que V e´ func¸a˜o de r e h, e escrevemos V (r, h) = pir2h 1-1 Func¸o˜es de Duas Varia´veis Reais Definic¸a˜o 1.1 Uma func¸a˜o f de duas varia´veis reais x e y, e´ uma lei que associa cada ponto (x, y) de algum subconjunto D do R2 a um u´nico nu´mero real denotado por z = f(x, y). Quando escrevemos z = f(x, y), queremos tornar explı´citos os valores tomados por f em um ponto gene´rico (x, y) ∈ D. As varia´veis x e y sa˜o varia´veis independentes, e z e´ a varia´vel dependene. 2 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais 1-1.a Domı´nio e Imagem Definic¸a˜o 1.2 Seja f uma func¸a˜o de duas varia´veis reais x e y, com z = f(x, y), defi- nimos o domı´nio de f , denotado por D(f), como o maior conjunto do R2 para o qual a lei de formac¸a˜o de f gera nu´meros reais a menos que esse domı´nio seja especificado de forma explı´cita. Definic¸a˜o 1.3 A imagem de uma func¸a˜o f de duas varia´veis reais, denotada por Im(f), e´ definida como o conjunto dos valores z = f(x, y), com (x, y) ∈ D. A seguir apresentamos alguns exemplos de obtenc¸a˜o do domı´nio. Exemplo 1.1 Determine o domı´nio de f , sendo f definida por: f(x, y) = √ x+ y + 1 x− 1 . Soluc¸a˜o: A expressa˜o para f esta´ bem definida se o denominador for diferente de zero e o nu´mero cuja raiz quadrada sera´ extraı´da for na˜o negativo. Portanto, o domı´nio de f e´: D(f) = {(x, y) ∈ R2/x+ y + 1 ≥ 0 e x 6= 1}. A desigualdade x + y + 1 ≥ 0, ou y ≥ −x − 1, descreve os pontos que esta˜o sobre ou acima da reta de equac¸a˜o y = −x− 1, ao passo que x 6= 1 significa que os pontos sobre a reta x = 1 precisam ser excluı´dos do domı´nio. A figura a seguir, mostra o esboc¸o gra´fico do domı´nio da func¸a˜o f , definida acima. 1-1. func¸o˜es de duas varia´veis reais 3 Exemplo 1.2 Determine o domı´nio de f , sendo f definida por f(x, y) = x ln(y2 − x). Soluc¸a˜o: Como ln(y2− x) e´ definido somente quando y2− x > 0, ou seja, x < y2, segue que o domı´nio de f sera´: D(f) = {(x, y) ∈ R2/x < y2}. Isso representa o conjunto de pontos a` esquerda da para´bola x = y2. O esboc¸o gra´fico do domı´nio e´ apresentado na figura a seguir. Exemplo 1.3 Determine o domı´nio de f , sendo f dada por: f(x, y) = √ y − x2 + √ 2x− y. Soluc¸a˜o: Esta func¸a˜o esta´ definida se o nu´mero cuja raiz quadrada sera´ extraı´da for na˜o negativo. Assim, o domı´nio de f e´ D(f) = {(x, y) ∈ R2/y ≥ x2 e y ≤ 2x}. A desigualdade y ≥ x2 descreve os pontosque esta˜o acima da para´bola de equac¸a˜o y = x2, enquanto que y ≤ 2x representa o conjunto dos pontos que esta˜o abaixo da reta de equac¸a˜o y = 2x. Assim, o esboc¸o gra´fico do domı´nio e´ apresentado na figura a seguir. 4 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais Exemplo 1.4 Determine o domı´nio da func¸a˜o z = f(x, y) definida dada por z2 + 4 = x2 + y2, z ≥ 0. Soluc¸a˜o: Como z ≥ 0, a expressa˜o z2 + 4 = x2 + y2 pode ser reescrita como z =√ x2 + y2 − 4. Note que, esta func¸a˜o esta´ definida se x2+ y2− 4 ≥ 0. Assim, o domı´nio de f e´ dado por: D(f) = {(x, y) ∈ R2/x2 + y2 ≥ 4}. A desigualdade x2 + y2 ≥ 4 descreve os pontos que esta˜o sobre a circunfereˆncia de equac¸a˜o x2 + y2 = 4 e os pontos exteriores a ela, como podemos ver na ilustrac¸a˜o a seguir. Exemplo 1.5 Determine o domı´nio da func¸a˜o f definida dada por f(x, y) = √ x+ y x− y . Soluc¸a˜o: Esta func¸a˜o esta´ definida se x+ y x− y ≥ 0. Note que, uma frac¸a˜o assume um valor positivo, se o numerador e o denominador forem ambos positivos, ou, se o numerador e o denominador forem ambos negativos. Assim, temos: x+ y x− y ≥ 0 ⇒ x+ y ≥ 0 e x− y > 0 ou x+ y ≤ 0 e x− y < 0 Logo, o domı´nio da func¸a˜o f e´: D(f) = {(x, y) ∈ R2/y ≥ −x e y < x ou y ≤ −x e y > x}. As desigualdades y ≥ −x e y < x descrevem os pontos que esta˜o acima da reta de equac¸a˜o y = −x e abaixo da reta de equac¸a˜o y = x, enquanto que as desigualdades y ≤ −x e y > x descrevem os pontos que esta˜o abaixo da reta de equac¸a˜o y = −x e acima da reta de equac¸a˜o y = x. A figura a seguir apresenta o esboc¸o gra´fico da func¸a˜o f . 1-1. func¸o˜es de duas varia´veis reais 5 Exemplo 1.6 Determine o domı´nio da func¸a˜o f definida dada por f(x, y) = arcsin(xy). Soluc¸a˜o: Esta func¸a˜o esta´ definida se −1 ≤ xy ≤ 1. Assim, o domı´nio de f e´ dado por: D(f) = {(x, y) ∈ R2/− 1 ≤ xy ≤ 1}. A desigualdade xy ≥ −1 descreve os pontos que esta˜o sobre a hipe´rbole de equac¸a˜o xy = −1, bem como os pontos interiores aos ramos dela; e a desigualdade xy ≤ 1 descreve os pontos que esta˜o sobre a hipe´rbole de equac¸a˜o xy = 1, bem como os pontos interiores aos ramos dela. Assim, o esboc¸o gra´fico do domı´nio da func¸a˜o definida acima e´ dado pela intersecc¸a˜o das regio˜es mencionadas, como podemos ver na ilustrac¸a˜o a seguir. 6 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais 1-1.b Gra´fico de Func¸o˜es de Duas Varia´veis Definic¸a˜o 1.4 Se f e´ uma func¸a˜o de duas varia´veis com domı´nio D, enta˜o o gra´fico de f e´ o conjunto de todos os pontos (x, y, z) em R3 tal que z = f(x, y) e (x, y) pertenc¸am a D. Considerando-se um sistema ortogonal de coordenadas cartesianas no R3, o gra´fico de f pode ser pensado como o lugar geome´trico descrito pelo ponto (x, y, f(x, y)), quando (x, y) percorre o domı´nio de f . Assim, o gra´fico de uma func¸a˜o com duas varia´veis e´ uma superfı´cie S com equac¸a˜o z = f(x, y). Vejamos alguns exemplos de esboc¸os gra´ficos. Exemplo 1.7 O gra´fico da func¸a˜o constante f(x, y) = k e´ um plano paralelo ao plano xy. Exemplo 1.8 O gra´fico da func¸a˜o definida por z = 2x + y e´ um plano passando pela origem e normal ao vetor −→n = (2, 1,−1). Este plano, cujo esboc¸o gra´fico e´ apresentado a seguir, e´ determinado pelas retas de equac¸o˜es: r1 : { x = 0 z = y e r2 : { y = 0 z = 2x 1-1. func¸o˜es de duas varia´veis reais 7 Exemplo 1.9 O gra´fico de f(x, y) = √ 16− x2 − y2 e´ o gra´fico da equac¸a˜o z =√ 16− x2 − y2. Note que, apo´s elevar ambos os membros ao quadrado e realizar al- gumas manipulac¸o˜es alge´bricas, a equac¸a˜o anterior pode ser reescrita como x2 + y2 + z2 = 16, a qual representa uma esfera de raio 4, centrada na origem. Como z ≥ 0, o gra´fico e´ somente a semi-esfera superior. 1-1.c Curvas de Nı´vel Definic¸a˜o 1.5 As curvas de nı´vel ou curvas de contorno de uma func¸a˜o f de duas varia´veis sa˜o aquelas com equac¸a˜o f(x, y) = k, onde k e´ uma constante real. Se a superfı´cie z = f(x, y) for interceptada pelo plano horizontal z = k, enta˜o as curvas de nı´vel f(x, y) = k sa˜o apenas trac¸os do gra´fico de f no plano horizontal z = k projetado sobre o plano xy. A figura a seguir ilustra este fato. 8 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais Um conjunto de curvas de nı´vel para z = f(x, y) e´ chamado de mapa de contorno de f . Um exemplo comum de curvas de nı´vel ocorre em mapas topogra´ficos de regio˜es montanhosas. As curvas de nı´vel sa˜o aquelas em que a elevac¸a˜o em relac¸a˜o ao nı´vel do mar e´ constante. A superfı´cie sera´ mais inclinada onde as curvas de nı´vel estiverem mais pro´ximas umas das outras. Ela e´ mais ou menos plana onde as curvas de nı´vel esta˜o distantes umas das outras. Isto pode ser observado na ilustrac¸a˜o abaixo. Outro exemplo comum e´ a func¸a˜o pressa˜o p(x, y) definida nos pontos geogra´ficos (x, y), representados no mapa. Uma curva conectando os pontos de pressa˜o atmosfe´rica con- stante sobre um mapa meteorolo´gico e´ chamada de linha isoba´rica ou iso´bara. Matemati- camente, as iso´baras sa˜o curvas de nı´vel para a func¸a˜o pressa˜o. Linhas isoba´ricas muito pro´ximas correspodem a inclinac¸o˜es ı´ngremes no gra´fico da func¸a˜o pressa˜o, e esta˜o usual- mente associados a fortes ventos, quanto maior a inclinac¸a˜o, maior sera´ a velocidade do vento. 1-1. func¸o˜es de duas varia´veis reais 9 Exemplo 1.10 O gra´fico da func¸a˜o f(x, y) = y2−x2 noR3 e´ um parabolo´ide hiperbo´lico. As curvas de nı´vel desta func¸a˜o tem a forma y2 − x2 = k. Para k > 0, essas curvas sa˜o hipe´rboles com eixo real sobre o eixo dos y; para k < 0, elas sa˜o hipe´rboles com eixo real sobre o eixo dos x, e para k = 0, a curva de nı´vel consiste nas retas y+x = 0 e y−x = 0. 10 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais Exemplo 1.11 O gra´fico da superfı´cie z = 1 − 2x − y e´ o plano que passa pelos pontos A(1 2 , 0, 0), B(0, 1, 0) e C(0, 0, 1), ilustrado na figura a seguir. A curva de nı´vel de altura k tem a equac¸a˜o 1 − 2x − y = k, a qual podemos reescrever como y = −2x+ (1− k). Isto representa no plano xy, uma famı´lia de retas paralelas de inclinac¸a˜o −2. O mapa de contorno e´ apresentado na figura a seguir. A representac¸a˜o geome´trica do gra´fico de uma func¸a˜o de duas varia´veis nem sempre e´ tarefa fa´cil. Assim, quando se pretende ter uma visa˜o geome´trica da func¸a˜o, lanc¸a-se ma˜o de suas curvas de nı´vel, cuja representac¸a˜o geome´trica e´ sempre mais fa´cil de ser obtida do que o gra´fico da func¸a˜o. Veja o exemplo a seguir. Exemplo 1.12 Seja f a func¸a˜o definida por f(x, y) = 1 x2 + y2 . (a) Determine o domı´nio e a imagem de f . (b) Desenhe as curvas de nı´vel de f . (c) Esboce o gra´fico de f . Soluc¸a˜o: (a) Esta func¸a˜o na˜o esta´ definida na origem, pois 02 + 02 = 0 e 1 0 na˜o existe. Assim, D(f) = {(x, y) ∈ R2/(x, y) 6= (0, 0)} 1-1. func¸o˜es de duas varia´veis reais 11 Como 1 x2 + y2 ≥ 0, temos Im(f) = {z ∈ R/z > 0}. (b) A curva de nı´vel correspondente a z = k, com k > 0, e´: 1 x2 + y2 ⇒ x2 + y2 = 1 k Assim, as curvas de nı´vel sa˜o circunfereˆncias conceˆntricas de centro na origem e raio 1√ k . Note que, quando k tende a +∞, o raio tende a zero e quando k tende a zero, o raio tende a +∞. (c) O trac¸o desta superfı´cie no plano yz e´ a curva de equac¸a˜o { x = 0 z = 1 y2 , enquanto que, o trac¸o desta superfı´cie no plano xz e´ a curva de equac¸a˜o { y = 0 z = 1 x2 . Para cada k > 0, o plano z = k intercepta o gra´fico de f segundo a circunfereˆncia { z = k x2 + y2 = 1 k . Observac¸a˜o 1.1 Note que a denominac¸a˜o curva de nı´vel varia de acordo com o que a func¸a˜o f representa. Se f e´ uma distribuic¸a˜o de temperatura, ou seja, f(x, y) e´ a temper- atura no ponto (x, y), as curvas de nı´vel denominam-se isotermas (pontos de temperaturaconstante); se f e´ a energia potencial de um certo campo de forc¸as bidimensionais, as curvas de nı´vel denominam-se curvas equipotenciais, etc. 12 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais 1-2 Func¸o˜es de Treˆs Varia´veis Reais Definic¸a˜o 1.6 Uma func¸a˜o f de treˆs varia´veis reais x, y e z, e´ uma lei que associa cada ponto (x, y, z) de algum subconjunto D do R3 a um u´nico nu´mero real denotado por w = f(x, y, z). Chamamos x, y e z de varia´veis independentes e w de varia´vel dependente. Exemplo 1.13 Seja f(x, y, z) = √ x2 + y2 + z2, determine f(3, 0,−4) e f(−1,−1,−2). Soluc¸a˜o: f(3, 0,−4) =√32 + 02 + (−4)2 = √9 + 0 + 16 = 5 f(−1,−1,−2) =√(−1)2 + (−1)2 + (−2)2 = √1 + 1 + 4 = √6 Note que, o valor funcional de f , representa a distaˆncia do ponto de coordenadas x, y e z a` origem. 1-2.a Domı´nio e Imagem Definic¸a˜o 1.7 Seja f uma func¸a˜o de treˆs varia´veis reais x, y e z, com w = f(x, y, z), definimos o domı´nio de f , denotado por D(f), como o maior conjunto do R3 para o qual a lei de formac¸a˜o de f gera nu´meros reais a menos que esse domı´nio seja especificado de forma explı´cita. Definic¸a˜o 1.8 A imagem de uma func¸a˜o f de treˆs varia´veis reais, denotada por Im(f), e´ definida como o conjunto dos valores w = f(x, y, z), com (x, y, z) ∈ D. Exemplo 1.14 Determine e fac¸a o esboc¸o gra´fico do domı´nio da func¸a˜o definida por f(x, y, z) = ln(16− 4x2 − 4y2 − z2). Soluc¸a˜o: Como ln(16−4x2−4y2−z2) e´ definido somente quando 16−4x2−4y2−z2 > 0, ou seja, x2 4 + y2 4 + z2 16 < 1, temos que, o domı´nio de f e´: D(f) = { (x, y, z) ∈ R3 / x 2 4 + y2 4 + z2 16 < 1 } Isso representa o conjunto de pontos interiores ao elipso´ide de centro na origem, cujo gra´fico e´ apresentado a seguir. 1-2. func¸o˜es de treˆs varia´veis reais 13 Observac¸a˜o 1.2 Note que o gra´fico de y = f(x) e´ uma curva no R2 e o gra´fico de z = f(x, y) e´ uma superfı´cie no R3, logo o nu´mero de dimenso˜es necessa´rias para esses gra´ficos e´ o nu´mero de varia´veis mais 1. Consequ¨entemente, na˜o ha´ maneira de fazer o gra´fico de uma func¸a˜o de treˆs varia´veis, uma vez que a quarta dimensa˜o e´ necessa´ria. 1-2.b Superfı´cies de Nı´vel Definic¸a˜o 1.9 As superfı´cies de nı´vel de uma func¸a˜o f de treˆs varia´veis reais sa˜o aquelas com equac¸a˜o f(x, y, z) = k, onde k e´ uma constante. Assim, de acordo com esta definic¸a˜o, se um ponto (x, y, z) se move ao longo de uma superfı´cie de nı´vel, o valor de f(x, y, z) permanece fixo. Exemplo 1.15 Determine as superfı´cies de nı´vel da func¸a˜o f(x, y, z) = x2 + y2 + z2. Soluc¸a˜o: As superfı´cies de nı´vel sa˜o x2 + y2 + z2 = k, onde k ≥ 0. Elas formam uma famı´lia de esferas conceˆntricas com raio √ k. Veja a figura a seguir. Enta˜o, quando (x, y, z) varia sobre uma das esferas com centro O, o valor de f(x, y, z) permanece fixo. 14 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais 1-3 Func¸o˜es de “n” Varia´veis Reais A definic¸a˜o de func¸a˜o de duas ou treˆs varia´veis pode ser estendida para mais varia´veis, conforme definic¸a˜o abaixo. Definic¸a˜o 1.10 Uma func¸a˜o f de n varia´veis reais x1, x2, x3, ... xn e´ uma lei que associa cada ponto (x1, x2, x3, ..., xn) de algum subconjunto D do espac¸o Rn a um u´nico nu´mero real, denotado por f(x1, x2, x3, ..., xn). 1-4 Exercı´cios 1. Seja f(x, y) = x2y + 1. Calcule: (a) f(1,−3) (b) f(uv, u− v) (c) f(x+ h, y)− f(x, y) h (d) f(x, y + h)− f(x, y) h 2. Seja f(x, y) = x− y x+ 2y . (a) Determine o domı´nio de f . (b) Calcule f(2u+ v, v − u). 3. Determine o domı´nio das func¸o˜es z = f(x, y) definidas a seguir. Esboce-os grafi- camente. (a) f(x, y) = 1 x− y2 (b) f(x, y) = ln(y − 2x) (c) f(x, y) = ln(1− x2 − y2) (d) f(x, y) = ln x · y (e) f(x, y) = √ 4− x2 y2 + 3 (f) f(x, y) = x− y√ x2 + y2 − 9 (g) f(x, y) = √|x| − |y| (h) f(x, y) = x− y sinx− sin y (i) f(x, y) = √ x2 + y2 − 1 + ln(4− x2 − y2) (j) f(x, y) = 4x2 + y2 + z2 = 1, z ≤ 0 Theu Nota Respostas 108 1-4. exercı´cios 15 4. Esboce o gra´fico de f , sendo f definida por: (a) f(x, y) = x+ 3y (b) f(x, y) = 6− 3x− 2y (c) f(x, y) = x2, −1 ≤ x ≤ 0 (d) f(x, y) = 4− x2 − y2 (e) f(x, y) = √ x2 + y2 − 1 (f) f(x, y) = 1 + x2 + y2 (g) f(x, y) = √ x2 + y2 (h) f(x, y) = 1− x2, x ≥ 0, y ≥ 0 e x+ y ≤ 1 (i) f(x, y) = sin y (j) f(x, y) = arctan(x2 + y2) 5. Esboce a curva de nı´vel z = k para os valores especificados de k. (a) z = x2 + y2, k = 0, 1, 2, 3, 4 (b) z = y x , k = −2,−1, 0, 1, 2 (c) z = x2 + y, k = −2,−1, 0, 1, 2 (d) z = x2 + 9y2, k = 0, 1, 2, 3, 4 (e) z = y cscx, k = −2,−1, 0, 1, 2 6. Seja f(x, y) = yex. Determine uma equac¸a˜o da curva de nı´vel que passa pelo ponto: (a) (ln 2, 1) (b) (0, 3) (c) (1,−2) 7. Se V (x, y) for a voltagem ou potencial sobre um ponto (x, y) no plano xy e V = 8√ 16 + x2 + y2 esboce as curvas equipotenciais nas quais V = 2, V = 1 e V = 0, 5. 8. Suponha que T (x, y) = xy represente uma distribuic¸a˜o de temperatura no plano xy: T (x, y) e´ a temperatura, que podemos supor em ◦C, no ponto (x, y). (a) Esboce as curvas isote´rmicas sobre as quais T = 1, T = 2 e T = 3. (b) Determine a equac¸a˜o da curva de nı´vel que passa pelo ponto (1, 4). 16 1. func¸o˜es de va´rias varia´veis reais Capı´tulo 2 Limite e Continuidade 2-1 Limite Definic¸a˜o 2.1 Seja f uma func¸a˜o de duas varia´veis reais, definida em um domı´nio D ⊂ R2. Dizemos que f possui limite L quando (x, y) ∈ D aproxima-se (x0, y0), se, dado qualquer nu´mero positivo ², existe um nu´mero positivo δ tal que, para todo (x, y) no domı´nio de f , 0 < √ (x− x0)2 + (y − y0)2 < δ ⇒ |f(x, y)− L| < ², e escrevemos lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = L. Considere a figura a seguir, onde D representa o domı´nio de f e (x, y) ∈ D. Dado ² > 0, podemos achar δ > 0 tal que, se (x, y) 6= (x0, y0), sua imagem estara´ entre os planos horizontais z = L− ² e z = L+ ². Para func¸o˜es de uma varia´vel real, quando fazemos x se aproximar de x0, ha´ apenas dois sentidos possı´veis de aproximac¸a˜o: pela esquerda ou pela direita. Assim, definimos os limites laterais no ponto x0, isto e´ lim x→x−0 f(x) e lim x→x+0 f(x). 18 2. limite e continuidade Lembre-se do Ca´lculo I que, se lim x→x−0 f(x) 6= lim x→x+0 f(x), enta˜o lim x→x0 f(x) na˜o existe. Para func¸o˜es de duas ou treˆs varia´veis, a situac¸a˜o e´ mais complicada, pois ha´ infinitas maneiras de (x, y) se aproximar de (x0, y0) por uma quantidade infinita de direc¸o˜es, bastando que (x, y) se mantenha no domı´nio de f . Se o limite existe, f(x, y) deve se aproximar do mesmo valor limite, independentemente do modo como (x, y) se aproxima de (x0, y0). Assim, se acharmos dois caminhos diferentes de aproximac¸a˜o ao longo dos quais f(x, y) tem limites diferentes, segue enta˜o que lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) na˜o existe. Exemplo 2.1 Mostre que lim (x,y)→(0,0) x2 − y2 x2 + y2 na˜o existe. Soluc¸a˜o: Considere f(x, y) = x2 − y2 x2 + y2 . Inicialmente determinaremos este limite ao longo do eixo x. Assim, tomando y = 0, temos f(x, 0) = x 2 x2 = 1 para todo x 6= 0, logo f(x, y)→ 1 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo do eixo x. Agora, determinaremos este limite ao longo do eixo y, fazendo-se x = 0, logo f(0, y) = −y2 y2 = −1, para todo y 6= 0. Assim, f(x, y)→ −1 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo do eixo y. Como f tem dois limites diferentes ao longo de duas retas distintas, concluı´mos que o limite na˜o existe. Observac¸a˜o 2.1 Na˜o podemos provar que f(x, y) → L quando (x, y) → (x0, y0) provando que f(x, y)→ L quando (x, y)→ (x0, y0) ao longo de uma curva especificada ou mesmo de uma famı´lia de curvas. Isto porque, pode existir alguma curva fora da famı´lia para a qual o limite na˜o exista ou tenha um limite que e´ diferente de L.2-1. limite 19 Figura 2.2: Gra´fico da func¸a˜o definida por f(x, y) = x2 − y2 x2 + y2 Exemplo 2.2 Determine lim (x,y)→(0,0) 2x2y x2 + y2 , se este existir. Soluc¸a˜o: Inicilamente determinaremos este limite ao longo de uma reta qualquer que passa pela origem. Tomando y = mx, temos f(x, y) = f(x,mx) = 2x2(mx) x2 + (mx)2 = 2x3m x2 + x2m2 = 2mx 1 +m2 Portanto, f(x, y)→ 0 quando (x, y)→ (0, 0) ao londo de y = mx. Fazendo-se (x, y) se aproximar de (x0, y0) ao longo da para´bola de equac¸a˜o y = x2 tambe´m obtemos o limite 0. Assim, fazendo-se y = x2, temos: f(x, y) = f(x, x2) = 2x2x2 x2 + x4 = 2x4 x2(1 + x2) = 2x2 1 + x2 Logo, f(x, y)→ 0 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo de y = x2. Isto na˜o prova a existeˆncia do limite igual a 0, mas suspeitamos que o limite ex- ista e seja igual a 0. Para provar a existeˆncia deste limite, devemos provar que dado ² > 0, existe um δ > 0, tal que ∣∣∣∣ 2x2yx2 + y2 − 0 ∣∣∣∣ < ² sempre que 0 <√x2 + y2 < δ, ou seja 2x2|y| x2 + y2 < ² sempre que 0 < √ x2 + y2 < δ. Note que x2 ≤ x2 + y2, pois y2 ≥ 0. Logo x 2 x2 + y2 ≤ 1 e, portanto 2x2|y| x2 + y2 ≤ 2|y| = 2 √ y2 ≤ 2 √ x2 + y2 < 2δ. 20 2. limite e continuidade Assim, se escolhermos δ = ² 2 e considerando 0 < √ x2 + y2 < δ, temos:∣∣∣∣ 2x2yx2 + y2 − 0 ∣∣∣∣ ≤ 2√x2 + y2 < 2δ = 2 · ( ²2) = ². Logo, lim (x,y)→(x0,y0) 2x2y x2 + y2 = 0, Provando que o limite existe. Figura 2.3: Gra´fico da func¸a˜o definida por f(x, y) = 2x2y x2 + y2 Teorema 2.1 Sejam f e g func¸o˜es de duas varia´veis x e y, ambas definidas no domı´nio D do plano xy. Sejam lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = L1 e lim (x,y)→(x0,y0) g(x, y) = L2. Enta˜o, lim (x,y)→(x0,y0) [f(x, y) + g(x, y)] = L1 + L2 (2.1) lim (x,y)→(x0,y0) [f(x, y) · g(x, y)] = L1 · L2 (2.2) lim (x,y)→(x0,y0) [ f(x, y) g(x, y) ] = L1 L2 , com L2 6= 0 (2.3) Definic¸a˜o 2.2 Seja f uma func¸a˜o de treˆs varia´veis reais, definida em um domı´nio D. Dizemos que f possui limite L quando (x, y, z) ∈ D aproxima-se (x0, y0, z0), se, dado qualquer nu´mero positivo ², existe um nu´mero positivo δ tal que, para todo (x, y, z) no domı´nio de f , |f(x, y, z)− L| < ² sempre que 0 < √ (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 < δ e escrevemos lim (x,y,z)→(x0,y0,z0) f(x, y, z) = L. 2-2. continuidade 21 2-2 Continuidade Definic¸a˜o 2.3 Uma func¸a˜o f de duas varia´veis e´ dita contı´nua em (x0, y0) se lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = f(x0, y0). Dizemos que f e´ contı´nua se f for contı´nua em todo ponto (x0, y0) de seu domı´nio. Teorema 2.2 (a) Se g e h forem func¸o˜es contı´nuas de uma varia´vel real, enta˜o f(x, y) = g(x) · h(y) e´ uma func¸a˜o contı´nua de x e y. (b) Se g for uma func¸a˜o contı´nua de uma varia´vel e h for uma func¸a˜o de duas varia´veis contı´nua, enta˜o sua composic¸a˜o f(x, y) = g(h(x, y)) e´ uma func¸a˜o contı´nua de x e y. Observac¸a˜o 2.2 (a) A composic¸a˜o de func¸o˜es contı´nuas e´ contı´nua. (b) A soma, diferenc¸a ou produto de func¸o˜es contı´nuas e´ contı´nuo. (c) O quociente de func¸o˜es contı´nuas e´ contı´nuo, exceto onde o denominador e´ zero. Exemplo 2.3 Determine onde a func¸a˜o f , definida por f(x, y) = x2 − y2 x2 + y2 e´ contı´nua. Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f , na˜o esta´ definida em (0, 0), logo e´ descontı´nua neste ponto. Como trata-se de uma func¸a˜o racional, ela e´ contı´nua em seu domı´nio, o que corresponde a D = {(x, y) ∈ R2/(x, y) 6= (0, 0)}. Exemplo 2.4 Determine onde a func¸a˜o h, definida por h(x, y) = arctan (y x ) e´ contı´nua. Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x, y) = y x e´ racional, assim contı´nua em todo R2, exceto sobre a reta x = 0. A func¸a˜o g(t) = arctan(t) e´ contı´nua. Logo, a func¸a˜o composta g(f(x, y)) = arctan (y x ) = h(x, y) e´ contı´nua, exceto em x = 0. Definic¸a˜o 2.4 Dizemos que uma func¸a˜o f de treˆs varia´veis reais e´ contı´nua num dado ponto (x0, y0, z0) se o limite da func¸a˜o e o valor da func¸a˜o forem o mesmo neste ponto, isto e´, se lim (x,y,z)→(x0,y0,z0) f(x, y, z) = f(x0, y0, z0). 22 2. limite e continuidade 2-3 Exercı´cios 1. Determine o conjunto dos pontos de continuidade das func¸o˜es definidas a seguir. Justifique sua resposta. (a) f(x, y) = 3x2y2 − 5xy + 6 (b) f(x, y) = √ 6− 2x2 − 3y2 (c) f(x, y) = ln ( x− y x2 + y2 ) (d) f(x, y) = ( x− y√ 1− x2 − y2 ) (e) f(x, y) = y + 1 x2 + z2 − 1 (f) f(x, y) = sin−1(x2 + y2) (g) f(x, y, z) = sin √ x2 + y2 + 3z2 (h) f(x, y, z) = √ x x2 − y2 + z2 2. Determine o limite, se existir, ou mostre que o limite na˜o existe. (a) lim (x,y)→(5,−2) (x5 + 4x3y − 5xy2) (b) lim (x,y)→(6,3) (xy cos(x− 2y)) (c) lim (x,y)→(0,0) x2 x2 + y2 (d) lim (x,y)→(0,0) x4 − y4 x2 + y2 Capı´tulo 3 Derivadas Parciais O volume V de um cilindro circular reto e´ dado pela fo´rmula V = pir2h, onde r e´ o raio da base do cilindro e h e´ a sua altura. Assim, podemos dizer que o volume e´ uma func¸a˜o do raio e da altura. Poderı´amos nos perguntar: qual e´ a taxa de variac¸a˜o do volume se o raio da base for mantido fixo e a altura for permitido variar ou se a altura for mantida fixa e ao raio da base for permitido variar? Estudaremos nesta sec¸a˜o as taxas de variac¸a˜o que envolvam duas ou mais varia´veis. 3-1 Derivadas Parciais de Func¸o˜es de Duas Varia´veis Definic¸a˜o 3.1 Seja f : Ω ⊂ R2 → R, uma func¸a˜o de duas varia´veis x e y, e Ω um aberto do R2. Definimos a derivada parcial de f em relac¸a˜o a x e escrevemos ∂f ∂x (ou fx(x, y)) como o limite ∂f ∂x (x, y) = lim ∆x→0 f(x+∆x, y)− f(x, y) ∆x , se este limite existir. Esta derivada, em outras palavras, e´ obtida mantendo-se y fixo e fazendo-se x variar. Definic¸a˜o 3.2 Seja f : Ω ⊂ R2 → R, uma func¸a˜o de duas varia´veis x e y, e Ω um aberto do R2. Definimos a derivada parcial de f em relac¸a˜o a y e escrevemos ∂f ∂y (ou fy(x, y)) como o limite ∂f ∂y (x, y) = lim ∆y→0 f(x, y +∆y)− f(x, y) ∆y , se este limite existir. Esta derivada, em outras palavras, e´ obtida mantendo-se x fixo e fazendo-se y variar. 24 3. derivadas parciais A seguir apresentamos um exemplo do ca´lculo da derivada parcial utilizando-se a definic¸a˜o. Exemplo 3.1 Sendo f uma func¸a˜o definida por z = f(x, y) = 3x2y + y2, determine ∂z ∂x e ∂z ∂y , utilizando a definic¸a˜o. Soluc¸a˜o: (a) ∂z ∂x = lim ∆x→0 [3(x+∆x)2y + y2]− (3x2y + y2) ∆x ∂z ∂x = lim ∆x→0 3x2y + 6xy∆x+ 3y∆x2 + y2 − 3x2y − y2 ∆x ∂z ∂x = lim ∆x→0 ∆x(6xy + 3y∆x) ∆x ∂z ∂x = lim ∆x→0 (6xy + 3y∆x) ∂z ∂x = 6xy ∂z ∂y = lim ∆y→0 [3x2(y +∆y) + (y +∆y)2]− (3x2y + y2) ∆y ∂z ∂y = lim ∆y→0 3x2y + 3x2∆y + y2 + 2y∆y +∆y2 − 3x2y − y2 ∆y ∂z ∂y = lim ∆y→0 ∆y(3x2 + 2y +∆y) ∆y ∂z ∂y = lim ∆y→0 (3x2 + 2y +∆y) ∂z ∂y = 3x2 + 2y 3-1.a Regra Pra´tica para Determinar Derivadas Parciais 1. Para determinar ∂f ∂x , considere y como uma constante e diferencie f com relac¸a˜o a x. 2. Para determinar ∂f ∂y , considere x como uma constante e diferencie f com relac¸a˜o a y. 3-1. derivadas parciais de func¸o˜es de duas varia´veis 25 Exemplo 3.2 Determine ∂f ∂x e ∂f ∂y , sendo z = f(x, y) = e2x sin y. Soluc¸a˜o: ∂f ∂x = ∂ ∂x (e2x sin y) = e2x ∂ ∂x (sin y)+sin y ∂ ∂x (e2x) = e2x ·0+2e2x sin y = 2e2x sin y ∂f ∂y = ∂ ∂y (e2x sin y) = e2x ∂ ∂y (sin y)+sin y ∂ ∂y (e2x) = e2x cos y+sin y ·0 = e2x cos y Exemplo 3.3 Mostre que a func¸a˜o f , definida por f(x, y) = { xy x2 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) , admite derivadas parciais em (0, 0), mas na˜o e´ contı´nua neste ponto. Soluc¸a˜o: De acordo com a definic¸a˜o de derivada parcial,temos: ∂f ∂x (0, 0) = lim ∆x→0 f(0 + ∆x, 0)− f(0, 0) ∆x ∂f ∂x (0, 0) = lim ∆x→0 f(∆x, 0)− f(0, 0) ∆x = 0 e ∂f ∂y (0, 0) = lim ∆y→0 f(0, 0 + ∆y)− f(0, 0) ∆y ∂f ∂x (0, 0) = lim ∆y→0 f(0,∆y)− f(0, 0) ∆x = 0 Assim, f admite derivadas parciais em (0, 0) e valem ∂f ∂x (0, 0) = ∂f ∂y (0, 0) = 0. Para mostrar que f na˜o e´ contı´nua em (0, 0), verificaremos se lim (x,y)→(0,0) f(x, y) existe. Inicialmente determinaremos este limite ao longo da reta de equac¸a˜o y = x. f(x, y) = f(x, x) = x · x x2 + x2 = x2 2x2 = 1 2 . Portanto, f(x, y)→ 1 2 quando (x, y)→ (0, 0) ao longo de y = x. No entanto, se considerarmos este limite ao longo do eixo x, temos: f(x, y) = f(x, 0) = x · 0 x2 + 02 = 0 x2 = 0. Assim, f(x, y)→ 0, quando (x, y)→ (0, 0) ao longo do eixo y. 26 3. derivadas parciais Como f tem dois limites diferentes ao longo de duas retas distintas, concluı´mos que o limite na˜o existe. Assim, a func¸a˜o na˜o e´ contı´nua em (0, 0). A figura a seguir mostra o esboc¸o gra´fico da func¸a˜o f . Figura: Gra´fico da func¸a˜o definida por f(x, y) = xy x2 + y2 Exemplo 3.4 Seja f(x, y) = x3 − y2 x2 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) . Determine: (a) ∂f ∂x (b) ∂f ∂y Soluc¸a˜o: (a) Nos pontos (x, y) 6= (0, 0) podemos aplicar a regra do quociente. Veja a seguir. ∂f ∂x (x, y) = (x2 + y2) ∂ ∂x (x3 − y2)− (x3 − y2) ∂ ∂x (x2 + y2) (x2 + y2)2 = (x2 + y2) · 3x2 − (x3 − y2) · 2x (x2 + y2)2 = 3x4 + 3x2y2 − 2x4 + 2xy2 (x2 + y2)2 = x4 + 3x2y2 + 2xy2 (x2 + y2)2 Em (0, 0), temos: ∂f ∂x (0, 0) = lim ∆x→0 f(0 + ∆x, 0)− f(0, 0) ∆x = lim ∆x→0 ∆x3 ∆x2 − 0 ∆x = lim ∆x→0 ∆x− 0 ∆x = 1 3-1. derivadas parciais de func¸o˜es de duas varia´veis 27 Assim, ∂f ∂x e´ func¸a˜o de R2 em R dada por ∂f ∂x (x, y) = x4 + 3x2y2 + 2xy2 (x2 + y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0) 1, se (x, y) = (0, 0) (b) Nos pontos (x, y) 6= (0, 0) podemos aplicar a regra do quociente. Veja a seguir. ∂f ∂y (x, y) = (x2 + y2) ∂ ∂y (x3 − y2)− (x3 − y2) ∂ ∂y (x2 + y2) (x2 + y2)2 = (x2 + y2) · (−2y)− (x3 − y2) · 2y (x2 + y2)2 = −2x2y − 2y3 + 2x3y + 2y3 (x2 + y2)2 = −2x2y(1 + x) (x2 + y2)2 Em (0, 0), temos: ∂f ∂y (0, 0) = lim ∆y→0 f(0, 0 + ∆y)− f(0, 0) ∆y = lim ∆y→0 −1− 0 ∆y Note que, lim ∆y→0 −1 ∆y na˜o existe, ou seja, ∂f ∂y (0, 0) na˜o existe. Assim, ∂f ∂y esta´ definida em todo (x, y) 6= (0, 0) e e´ dada por: ∂f ∂y (x, y) = −2x2y(1 + x) (x2 + y2)2 Figura: Gra´fico da func¸a˜o definida por f(x, y) = x3 − y2 x2 + y2 28 3. derivadas parciais 3-2 Interpretac¸a˜o Geome´trica Suponha que C1 e´ a intersecc¸a˜o da superfı´cie z = f(x, y) com o plano y = y0 e que C2 e´ a sua intersecc¸a˜o com o plano x = x0. Assim, fx(x, y0) pode ser interpretada como a taxa de variac¸a˜o de z em relac¸a˜o a x ao longo da curva C1, e fy(x, y) pode ser interpretada como a taxa de variac¸a˜o de z em relac¸a˜o a y ao longo da curva C2. Em particular, ∂f ∂x (x0, y0) e´ a taxa de variac¸a˜o de z em relac¸a˜o a x ao longo da curva C1 no ponto (x0, y0) e ∂f ∂y (x0, y0) e´ a taxa de variac¸a˜o de z em relac¸a˜o a y ao longo da curva C2 no ponto (x0, y0). Geometricamente, fx(x0, y0) pode ser vista como o coeficiente angular da reta tan- gente a` curva C1 no ponto (x0, y0); e fy(x0, y0) pode ser vista como o coeficiente angular da reta tangente a` curva C2 no ponto (x0, y0). Exemplo 3.5 De acordo com a lei dos gases ideiais para um ga´s confinado, em P newtons por metros quadrados for a pressa˜o, V metros cu´bicos for o volume e T graus for a temperatura, teremos a fo´rmula PV = kT (3.1) onde k e´ uma constante de proporcionalidade. Suponha que o volume de um ga´s em certo recipiente seja 100m3 e que a temperatura seja 90◦C e k = 8. (a) Determine a taxa de variac¸a˜o de P por unidade de variac¸a˜o de T se V permanece fixo em 100m3. (b) Use o resultado do item (a) para aproximar a taxa de variac¸a˜o da pressa˜o, se a tem- peratura for aumentada para 92◦C. (c) Determine a taxa de variac¸a˜o de V por unidade de variac¸a˜o em P se T permanece fixa em 90◦C. 3-2. interpretac¸a˜o geome´trica 29 Soluc¸a˜o: (a) Considerando a equac¸a˜o 3.1 e k = 8, temos: P = 8T V Assim, a taxa de variac¸a˜o de P por unidade de variac¸a˜o de T se V permanece fixo em 100m3 e´ obtida derivando esta equac¸a˜o com relac¸a˜o a T e considerando V constante e igual a 100m3. Logo ∂P ∂T = 8 V = 8 100 = 0, 08 (b) ∂P ∂T = 0, 08, significa que para cada unidade de temperatura aumentada a pressa˜o aumenta de 0,08. Assim, se a temperatura passar de 90◦ para 92◦, ou seja, sofrer um aumento de 2◦, o aumento aproximado em P sera´ de 2 · 0, 08 = 0, 16N/m2. (c) Sendo V = 8T P , temos: ∂V ∂P = −8T P 2 Note que, para V = 100m3, T = 90◦ e k = 8, obtemos P = 8 · 90 100 = 7, 2N/m2. Logo, a taxa de variac¸a˜o de V por unidade de variac¸a˜o em P quando T = 90◦ e P = 7, 2, se T permanecer fixa em 90◦ e´ dada por ∂V ∂P = −8 · 90 7, 22 = −125 9 Exercı´cios 1. Determine ∂f ∂x (x, y) e ∂f ∂y (x, y), sendo f definida por: (a) f(x, y) = x+ y xy − 1 (b) f(x, y) = sin2(x− 3y) (c) f(x, y) = ln(x+ y) (d) f(x, y) = exy sin 4y2 (e) f(x, y) = y− 3 2 arctan ( x y ) 2. Determine fx, fy e fz, sendo f definida por: (a) f(x, y, z) = (x2 + y2 + z2)− 1 2 (b) f(x, y, z) = yz ln(xy) (c) f(x, y, z) = tan(x+ 2y + 3z) (d) f(x, y, z) = y3e2x+3z 30 3. derivadas parciais (e) f(x, y, z) = x2 − y2 y2 + z2 3. Se f(x, y) = 16−4x2−y2, determine fx(1, 2) e fy(1, 2) e interprete esses nu´meros como inclinac¸o˜es. Ilustre graficamente. 4. Seja f(x, y) = xe−y + 5y. (a) Determine a inclinac¸a˜o da superfı´cie z = f(x, y) na direc¸a˜o x no ponto (3, 0). (b) Determine a inclinac¸a˜o da superfı´cie z = f(x, y) na direc¸a˜o y no ponto (3, 0). 5. A lei dos gases para um nu´mero de moles n de um ga´s ideal a` temperatura T , pressa˜o P e volume V e´ dada por PV = nRT , onde R e´ a constante do ga´s. Mostre que: (a) ∂P ∂V ∂V ∂T ∂T ∂P = −1. (b) T ∂P ∂T ∂V ∂T = nR 6. A temperatura de um ponto (x, y) de uma placa de metal e´ dada por T (x, y) = 60 1 + x2 + y2 , onde T e´ medido em ◦C e x e y em metros. Determine: (a) a taxa de variac¸a˜o da temperatura na direc¸a˜o do eixo x no ponto (2, 1). (b) a taxa de variac¸a˜o da temperatura na direc¸a˜o do eixo y no ponto (2, 1). 7. Em cada caso, mostre que u(x, y) e v(x, y) satisfazem as equac¸o˜es de Cauchy- Riemann. ∂u ∂x = ∂v ∂y e ∂u ∂y = −∂v ∂x (a) u = ex cos y; v = ex sin y (b) u = ln(x2 + y2); v = 2arctan (y x ) 3-3. diferenciac¸a˜o parcial implı´cita 31 3-3 Diferenciac¸a˜o Parcial Implı´cita Definic¸a˜o 3.3 Uma func¸a˜o z = f(x, y) se diz definida implicitamente pela equac¸a˜o g(x, y, z) = 0 se, para todo (x, y) pertencente ao domı´nio de f tivermos g(x, y, f(x, y)) = 0. Considere por exemplo, a func¸a˜o f , definida por z = f(x, y) = √ 9− x2 − y2, com x2 + y2 < 9, e´ dada implicitamente pela equac¸a˜o x2 + y2 + z2 = 9 pois, para todo (x, y) no seu domı´nio, x2 + y2 + ( √ 9− x2 − y2)2 = 9. Para efetuar a diferenciac¸a˜o implı´cita, consideramos z como uma func¸a˜o de x e y e diferenciamos ambos os lados em relac¸a˜o a x, mantendo y fixo, ou em relac¸a˜o a y, mantendo x fixo. Exemplo 3.6 Sendo z = f(x, y) dada implicitamente por x2 + y2 + z2 = 9, com z > 0, calcule ∂f ∂x e ∂f ∂y . Soluc¸a˜o: ∂ ∂x (x2 + y2 + z2) = ∂ ∂x (9) ∂ ∂y (x2 + y2 + z2) = ∂ ∂y (9) 2x+ 0 + 2z ∂z ∂x = 0 0 + 2y + 2z ∂z ∂y = 0 ∂z ∂x = −x z ∂z ∂y= −y z Exemplo 3.7 Calcule ∂z ∂x e ∂z ∂y usando a diferenciac¸a˜o implı´cita, sendo x2+ z sinxyz = 0. Soluc¸a˜o: ∂ ∂x (x2 + z sinxyz) = ∂ ∂x (0) 2x+ z · cosxyz · ( xy ∂z ∂x + zy ) + sin xyz · ∂z ∂x = 0 ∂z ∂x (xyz cosxyz + sin xyz) = −2x− yz2 cos xyz ∂z ∂x = −2x− yz2 cosxyz xyz cosxyz + sin xyz ∂ ∂y (x2 + z sinxyz) = ∂ ∂y (0) 0 + z · cosxyz · ( xy ∂z ∂x + zx ) + sin xyz · ∂z ∂y = 0 ∂z ∂y (xyz cosxyz + sin xyz) = −xz2 cosxyz ∂z ∂y = −xz2 cosxyz xyz cosxyz + sin xyz 32 3. derivadas parciais Exemplo 3.8 Se resistores ele´tricos de R1, R2 e R3 ohms sa˜o conectados em paralelo para formar um resistor de R ohms, o valor de R pode ser encontrado a partir da equac¸a˜o 1 R = 1 R1 + 1 R2 + 1 R3 . Encontre o valor de ∂R ∂R2 quando R1 = 30, R2 = 45 e R3 = 90 ohms. Soluc¸a˜o: Para determinarmos ∂R ∂R2 , tratamos R1 e R3 como constantes e diferenciamos ambos os lados da equac¸a˜o em relac¸a˜o a R2. Veja abaixo. ∂ ∂R2 ( 1 R ) = ∂ ∂R2 ( 1 R1 + 1 R2 + 1 R3 ) − 1 R2 ∂R ∂R2 = 0− 1 R2 2 + 0 ∂R ∂R2 = R2 R2 2 = ( R R2 )2 Quando R1 = 30, R2 = 45 e R3 = 90, 1 R = 1 30 + 1 45 + 1 90 = 3 + 2 + 1 90 = 6 90 = 1 15 . Logo, R = 15 e ∂R ∂R2 = ( 15 45 )2 = 1 9 Exemplo 3.9 Ache a inclinac¸a˜o da reta tangente a` curva de intersecc¸a˜o da superfı´cie 36x2 − 9y2 + 4z2 + 36 = 0 com o plano x = 1, no ponto (1,√12,−3). Fac¸a um esboc¸o do gra´fico. Interprete essa inclinac¸a˜o como a derivada parcial. Soluc¸a˜o: Sabemos que a inclinac¸a˜o da reta tangente a` curva de intersecc¸a˜o da superfı´cie de equac¸a˜o z = f(x, y) com um plano x = x0, no ponto (x0, y0, f(x0, y0)) e´ dada pela derivada parcial de f com relac¸a˜o a y, aplicada no ponto (x0, y0, f(x0, y0)). Como z esta´ definido implicitamente pela equac¸a˜o 36x2 − 9y2 + 4z2 + 36 = 0, devemos realizar a derivac¸a˜o implı´cita para determinar ∂z ∂y . Considerando z func¸a˜o de x e de y, temos: ∂ ∂y (36x2 − 9y2 + 4z2 + 36) = ∂ ∂y (0) −18y + 8z ∂z ∂y = 0 ∂z ∂y = 9y 4z Assim, a inclinac¸a˜o da reta tangente a` curva de intersecc¸a˜o da superfı´cie de equac¸a˜o 36x2 − 9y2 + 4z2 + 36 = 0 com um plano x = 1, no ponto (1,√12,−3) e´ dada por ∂z ∂y (1, √ 12) = 9 √ 12 4(−3) = − 3 √ 12 4 3-4. derivadas parciais de segunda ordem 33 Exercı´cios 1. Calcule ∂z ∂x e ∂z ∂y , usando a diferenciac¸a˜o implı´cita. (a) (x2 + y2 + z2) 3 2 = 1 (b) ln(2x2 + y − z3) = x (c) x2 + z sinxyz = 0 (d) x2 + y2 + z2 = 3xyz (e) exy sinh z − z2x+ 1 = 0 2. Determine o coeficiente angular da reta tangente ao gra´fico de y = f(x) no ponto (x, y) dado. (a) sin(x− y) + cos(x+ y) = 0; (pi 4 , pi 4 ) (b) (x2 − y2)2 − x2y2 − 55 = 0; (1, 1) 3. Determine a inclinac¸a˜o do hiperbolo´ide de equac¸a˜o x2 + y2 − z2 = 1 na direc¸a˜o x nos pontos (3, 4, 2 √ 6) e (3, 4,−2√6). 3-4 Derivadas Parciais de Segunda Ordem Se f e´ uma func¸a˜o de duas varia´veis, suas derivadas parciais fx e fy sa˜o func¸o˜es de duas varia´veis, de modo que podemos considerar novamente suas derivadas parciais. Isto origina quatro possı´veis derivadas parciais de segunda ordem de f , as quais sa˜o definidas por: ∂2 ∂x2 f(x, y) = ∂ ∂x ( ∂ ∂x f(x, y) ) = lim ∆x→0 fx(x+∆x, y)− fx(x, y) ∆x , ∂2 ∂y∂x f(x, y) = ∂ ∂y ( ∂ ∂x f(x, y) ) = lim ∆y→0 fx(x, y +∆y)− fx(x, y) ∆y , ∂2 ∂x∂y f(x, y) = ∂ ∂x ( ∂ ∂y f(x, y) ) = lim ∆x→0 fy(x+∆x, y)− fy(x, y) ∆x , ∂2 ∂y2 f(x, y) = ∂ ∂y ( ∂ ∂y f(x, y) ) = lim ∆y→0 fy(x, y +∆y)− fy(x, y) ∆y . 34 3. derivadas parciais Resumindo, dizemos que a derivada segunda de f e´ a derivada da func¸a˜o derivada. Tambe´m utilizamos a seguinte notac¸a˜o para as derivadas de segunda ordem: ∂2 ∂x2 f(x, y) = fxx(x, y) ∂2f ∂y∂x (x, y) = fxy(x, y) ∂2f ∂y2 (x, y) = fyy(x, y) ∂2f ∂x∂y (x, y) = fyx(x, y) Exemplo 3.10 Determine as derivadas parciais de segunda ordem de f , definida por f(x, y) = (x2 + y2) arctan y x . Soluc¸a˜o: fxx = ∂ ∂x ( ∂f ∂x ) = ∂ ∂x (x2 + y2) · 1 1 + y2 x2 · (y x )′ + ( arctan y x ) · 2x = ∂ ∂x ( (x2 + y2) · x 2 x2 + y2 · ( x · 0− y · 1 x2 ) + 2x arctan y x ) = ∂ ∂x ( −y + 2x arctan y x ) = 0 + 2x · 1 1 + y2 x2 · (y x )′ + ( arctan y x ) · 2 = 2x · x 2 x2 + y2 · (−y x2 ) + 2arctan y x = −2xy x2 + y2 + 2arctan y x fyy = ∂ ∂y ( ∂f ∂y ) = ∂ ∂y (x2 + y2) · 1 1 + y2 x2 · (y x )′ + ( arctan y x ) · 2y = ∂ ∂y ( (x2 + y2) · x 2 x2 + y2 · ( 1 x ) + 2y arctan y x ) = ∂ ∂y ( x+ 2y arctan y x ) = 0 + 2y · 1 1 + y2 x2 · 1 x + ( arctan y x ) · 2 = 2y · x 2 x2 + y2 · 1 x + 2arctan y x 3-4. derivadas parciais de segunda ordem 35 = 2xy x2 + y2 + 2arctan y x fxy = ∂ ∂y ( ∂f ∂x ) = ∂ ∂y ( −y + 2x arctan y x ) = −1 + 2x · 1 1 + y2 x2 · 1 x + ( arctan y x ) · 0 = −1 + 2x · x 2 x2 + y2 · 1 x = −x2 − y2 + 2x2 x2 + y2 = x2 − y2 x2 + y2 fyx = ∂ ∂x ( ∂f ∂y ) = ∂ ∂x ( x+ 2y arctan y x ) = 1 + 2y · 1 1 + y2 x2 · −y x2 + ( arctan y x ) · 0 = 1 + 2y · x 2 x2 + y2 · −y x2 = x2 + y2 − 2y2 x2 + y2 = x2 − y2 x2 + y2 Note que no exemplo anterior fxy = fyx. O pro´ximo teorema, do matema´tico fraceˆs Alexis Clairant, fornece condic¸o˜es sob as quais podemos afirmar que fxy = fyx. Teorema 3.1 Suponha que f seja definida em uma bola aberta D que contenha o ponto (x0, y0). Se as func¸o˜es fxy e fyx forem ambas contı´nuas em D, enta˜o fxy(x0, y0) = fyx(x0, y0) Em outras palavras, se as derivadas mistas de f forem contı´nuas no aberto D, enta˜o elas sa˜o iguais, ou seja, na˜o vai importar a ordem de derivac¸a˜o. 36 3. derivadas parciais 3-4.a Aplicac¸o˜es 3-4.a.1 Equac¸a˜o de Laplace A equac¸a˜o de Laplace tridimensional ∂2f ∂x2 + ∂2f ∂y2 + ∂2f ∂z2 = 0 e´ satisfeita pelas distribuic¸o˜es de temperatura no estado estaciona´rio T = f(x, y, z) no espac¸o, pelos potenciais gravitacionais e pelos potenciais eletrosta´ticos. A equac¸a˜o de Laplace bidimensional ∂2f ∂x2 + ∂2f ∂y2 = 0 obtida eliminando-se o termo ∂2f ∂z2 da equac¸a˜o anterior, descreve potenciais e distribuic¸o˜es de temperatura no estado etaciona´rio no plano. 3-4.a.2 Equac¸a˜o da Onda Se ficarmos em uma praia e tirarmos uma fotografia das ondas, esta mostrara´ um padra˜o regular de picos e depresso˜es em dado instante. Veremos movimento vertical perio´dico no espac¸o em relac¸a˜o a` distaˆncia. Se ficarmos na a´gua, poderemos sentir a subida e descida da a´gua com o passar das ondas. Veremos movimento perio´dico vertical no tempo. Em fı´sica, essa bela simetria e´ expressa pela equac¸a˜o de onda unidimensional ∂2w ∂t2 = c2 ∂2w ∂x2 onde w e´ a altura da onda, x e´ a varia´vel distaˆncia, t e´ a varia´vel tempo e c e´ a velocidade com a qual as ondas se propagam. Em nosso exemplo, x e´ a distaˆncia ao longo da superfı´cie do mar, mas em outras aplicac¸o˜es x pode ser a distaˆncia ao longo de uma corda vibrando, a distaˆncia no ar (ondas sonoras) ou a distaˆncia no espac¸o (ondas luminosas). O nu´mero c varia de acordo com o meio e o tipo de onda. 3-4. derivadas parciais de segunda ordem 37 Exercı´cios 1. Calcule todasas derivadas parciais de segunda ordem das func¸o˜es definidas a seguir. (a) f(x, y) = sin xy (b) g(x, y) = x2y + cos y + y sinx (c) h(x, y) = xey + y + 1 (d) r(x, y) = ln(x+ y) (e) s(x, y) = arctan (y x ) 2. Considerando a func¸a˜o f , definida a seguir, verifique se fxy = fyx. (a) f(x, y) = ln √ x2 + y2 (b) f(x, y) = xy2 + x2y3 + x3y4 (c) f(x, y) = ex + x ln y + y ln x (d) f(x, y) = x sin y + y sinx+ xy (e) f(x, y) = x sin(x+ 2y) 3. Mostre que as func¸o˜es definidas a seguir sa˜o harmoˆnicas. (a) f(x, y) = e−2y cos 2x (b) f(x, y) = ln √ x2 + y2 (c) f(x, y, z) = 2z3 − 3(x2 + y2)z (d) f(x, y, z) = (x2 + y2 + z2)− 1 2 4. Mostre que cada func¸a˜o definida a seguir satisfaz a equac¸a˜o do calor ∂z ∂t = c2 ∂2z ∂x2 , onde c > 0, contante (a) z = e−t sin (x c ) (b) z = e−t cos (x c ) 5. Quando dois resistores de resisteˆncia R1 em ohms e R2 em ohms sa˜o conectados em paralelo, sua resisteˆncia R em ohms e´ R = R1 ·R2 R1 +R2 . Mostre que ∂2R ∂R21 · ∂ 2R ∂R22 = 4R2 (R1 +R2)4 6. A energia cine´tica de um corpo com massa m e velocidade v e´ K = 1 2 mv2. Mostre que ∂K ∂m ∂2K ∂v2 = K. 38 3. derivadas parciais 3-5 Derivadas Parciais de Ordem Superior Apesar de lidarmos na maioria das vezes com derivadas parciais de primeira e segunda or- dens, porque elas aparecem com mais frequ¨eˆncia em aplicac¸o˜es, na˜o existe limite teo´rico para o nu´mero de vezes que podemos diferenciar uma func¸a˜o desde que as derivadas en- volvidas existam. Assim, obtemos derivadas parciais de terceira ordem que denotamos por ∂3f ∂x∂y2 = fyyx ∂4f ∂x2∂y2 = fyyxx e assim, por diante. Como acontece com derivadas de segunda ordem, a ordem de diferenciac¸a˜o e´ irrelevante desde que as derivadas na ordem em questa˜o sejam contı´nuas. Exercı´cios 1. Determine as derivadas parciais indicadas: (a) f(x, y) = 3xy4 + x3y2; fxxy, fyyy (b) f(x, y, z) = cos(4x+ 3y + 2z); fxyz, fyzz (c) f(x, y, z) = (4x− 3y + 2z)5; fzyx, fzyy, fxxyz 3-6. diferenciabilidade 39 3-6 Diferenciabilidade Voceˆ deve lembrar do trabalho com func¸o˜es de uma varia´vel real que se f , definida por y = f(x), for uma func¸a˜o deriva´vel, enta˜o: f ′(x) = lim ∆x→0 ∆y ∆x onde ∆y e ∆x sa˜o incrementos de x e y e ∆y = f(x+∆x)− f(x). Quando |∆x| for pequeno e ∆x 6= 0, ∆y ∆x difere de f ′(x) por um nu´mero pequeno que depende de |∆x| e sera´ denotado por ². Enta˜o, ² = ∆y ∆x − f ′(x) se ∆x 6= 0 onde ² e´ uma func¸a˜o de ∆x. Dessa forma, podemos reescrever a equac¸a˜o acima com: ∆y = f ′(x)∆x+ ²∆x. Note que, ²→ 0 quando ∆x→ 0. Quando isto ocorre para func¸o˜es de uma varia´vel real dizemos que a mesma e´ difer- encia´vel em x. Para func¸o˜es de duas ou mais varia´veis, uma equac¸a˜o correspondente a esta e´ us- ada para definir a diferenciabilidade da func¸a˜o. Definic¸a˜o 3.4 Se f for uma func¸a˜o de duas varia´veis x e y, enta˜o o incremento de f no ponto (x0, y0), denotado por ∆f(x0, y0), e´ dado por ∆f(x0, y0) = f(x0 +∆x, y0 +∆y)− f(x0, y0) Definic¸a˜o 3.5 Se f for uma func¸a˜o de duas varia´veis x e y e o incremento de f em (x0, y0) puder ser escrito como ∆f(x0, y0) = fx(x0, y0)∆x+ fy(x0, y0)∆y + ²1∆x+ ²2∆y, onde ²1 e ²2 sa˜o func¸o˜es de ∆x e ∆y, tais que ²1 → 0 e ²2 → 0 quando (∆x,∆y) → (0, 0), enta˜o dizemos que f e´ diferencia´vel em (x0, y0). 40 3. derivadas parciais Teorema 3.2 Se uma func¸a˜o f de duas varia´veis for diferencia´vel em um ponto, ela sera´ contı´nua neste ponto. Prova: Se f for diferencia´vel em (x0, y0), temos: f(x0 +∆x, y0 +∆y)− f(x0, y0) = fx(x0, y0)∆x+ fy(x0, y0)∆y + ²1∆x+ ²2∆y f(x0 +∆x, y0 +∆y) = f(x0, y0) + fx(x0, y0)∆x+ fy(x0, y0)∆y + ²1∆x+ ²2∆y Tomando o limite de ambos os membros da equac¸a˜o quando (∆x,∆y)→ (0, 0), obtemos lim (∆x,∆y)→(0,0) f(x0 +∆x, y0 +∆y) = f(x0, y0). Note que, considerando x = x0 + ∆x e y = y0 + ∆y, enta˜o (∆x,∆y) → (0, 0) e´ equivalente a (x, y)→ (x0, y0). Logo, lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = f(x0, y0) o que prova a continuidade da func¸a˜o. Observac¸a˜o 3.1 O Teorema 3.2 estabelece que para uma func¸a˜o de duas varia´veis, diferenciabilidade implica continuidade. No entanto, a existeˆncia de derivadas parciais num ponto na˜o implica diferenciabilidade naquele ponto. Verifiquemos isto no exemplo abaixo. Exemplo 3.11 No exemplo 3.3, mostramos que a func¸a˜o f , definida por f(x, y) = { xy x2 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) , admite derivadas parciais em (0, 0), no entanto, na˜o e´ contı´nua neste ponto. Logo, con- cluı´mos que f na˜o e´ diferencia´vel em (0, 0). 3-7 Regra da Cadeia Considerando-se o Ca´lculo de func¸o˜es de uma varia´vel real, quando y = f(x) era uma func¸a˜o diferencia´vel de x e x = g(t) era uma func¸a˜o diferencia´vel de t, y tornava-se uma func¸a˜o diferencia´vel de t e a regra da cadeia dizia que dy dt = dy dx · dx dt Para func¸o˜es de duas ou mais varia´veis, a regra da cadeia possui diversas formas que dependem da quantidade de varia´veis envolvidas. A seguir, sa˜o apresentadas algumas delas. 3-7. regra da cadeia 41 Teorema 3.3 (Derivada Total) Se z = f(x, y) possui derivadas parciais contı´nuas fx e fy e se x = x(t) e y = y(t) forem func¸o˜es diferencia´veis de t, enta˜o a composta z = f(x(t), y(t)) sera´ uma func¸a˜o diferencia´vel de t e df dt = fx(x(t), y(t)) dx dt + fy(x(t), y(t)) dy dt ou df dt = ∂f ∂x dx dt + ∂f ∂y dy dt , onde df dt chama-se Derivada Total de f . Prova: Devemos mostrar que, se x e y forem diferencia´veis em t = t0, enta˜o f sera´ diferencia´vel em t0. Consideremos ∆x, ∆y e ∆f os incrementos que resultam da variac¸a˜o de t0 a t0 +∆t. Como f e´ diferencia´vel, podemos escrever ∆f(x(t0), y(t0)) = ∂f ∂x (x(t0), y(t0))∆x+ ∂f ∂y (x(t0), y(t0))∆y + ²1∆x+ ²2∆y (3.2) onde ²1 → 0 e ²2 → 0 quando (∆x,∆y)→ (0, 0). Para encontrarmos df dt , dividimos ambos os membros da equac¸a˜o por ∆t e tomamos o limite quando ∆t → 0. Assim, dividindo 3.2 por ∆t e, em seguida, tomando o limite quando ∆t→ 0, no ponto P0(x(t0), y(t0)), obtemos: lim ∆t→0 ( ∆f ∆t ) P0 = ( ∂f ∂x ) P0 ( lim ∆t→0 ∆x ∆t ) + ( ∂f ∂y ) P0 ( lim ∆t→0 ∆y ∆t ) + + ( lim ∆t→0 ²1 ) lim ∆t→0 ∆x ∆t + ( lim ∆t→0 ²2 ) lim ∆t→0 ∆y ∆t Logo, ( df dt ) P0 = ( ∂f ∂x ) P0 ( dx dt ) t0 + ( ∂f ∂y ) P0 ( dy dt ) t0 + 0 · dx dt + 0 · dy dt( df dt ) P0 = ( ∂f ∂x ) P0 ( dx dt ) t0 + ( ∂f ∂y ) P0 ( dy dt ) t0 . Isto prova o teorema. 42 3. derivadas parciais O diagrama a seguir mostra um esquema pra´tico para montar a derivada total. Bem acima, indicamos f , a func¸a˜o dada. De f , partem duas ramificac¸o˜es, chegando em x e y, varia´veis principais. Como x e y sa˜o, ainda, func¸o˜es de t, o esquema termina com as ramificac¸o˜es de x e de y “migrando” para t. Assim, cada malha sera´ um produto e a soma das duas malhas resulta na igualdade estab- elecida pelo teorema. Exemplo 3.12 Determine a derivada total de f , utilizando a regra da cadeia, sendo f(x, y) = x+ t y + t , x = ln t e y = ln 1 t . Soluc¸a˜o: df dt = ∂f ∂x dx dt + ∂f ∂y dy dt df dt = 1 y + t · 1 t + ( (y + t) · 0− (x+ t) · 1 (y + t)2 ) · − 1t21 t df dt = 1 t(y + t) − (x+ t) t(y + t)2 · ( −1 t ) df dt = y + t+ x+ t t(y + t)2 df dt = x+ y + 2t t(y + t)2 Teorema 3.4 Se w = f(x, y, z) for diferencia´vel e x, y e z forem func¸o˜es diferencia´veis de t, enta˜o w sera´ uma func¸a˜o deriva´vel de t e dw dt = ∂w ∂x dx dt+ ∂w ∂y dy dt + ∂w ∂z dz dt 3-7. regra da cadeia 43 O diagrama a seguir mostra um esquema pra´tico para determinar a derivada total de w. Exemplo 3.13 Determine a derivada total dw dt , utilizando a Regra da Cadeia, sendo w =√ x2 + y2 + z2, x = tan t, y = cos t e z = sin t, com 0 < t < pi 2 . Soluc¸a˜o: dw dt = ∂w ∂x dx dt + ∂w ∂y dy dt + ∂w ∂z dz dt dw dt = x√ x2 + y2 + z2 (sec2 t) + y√ x2 + y2 + z2 (− sin t) + z√ x2 + y2 + z2 (cos t) Exemplo 3.14 Num dado instante, o comprimento de um cateto de um triaˆngulo retaˆngulo e´ 10 cm e ele esta´ crescendo a uma taxa de 1 cm/min e o comprimento do outro cateto e´ 12 cm o qual esta´ descrescendo a uma taxa de 2 cm/min. Determine a taxa de variac¸a˜o da medida do aˆngulo agudo oposto ao lado de 12 cm de comprimento, num dado instante. Soluc¸a˜o: Considere o triaˆngulo retaˆngulo ABC, de catetos x e y que medem respectiva- mente, 10 cm e 12 cm; e α o aˆngulo oposto ao cateto y. Podemos escrever α em func¸a˜o de x e y, como tanα = y x (3.3) 44 3. derivadas parciais A taxa de variac¸a˜o da medida do aˆngulo agudo oposto ao lado de 12 cm num dado in- stante e´ dada pela derivada parcial de α com relac¸a˜o ao tempo t. Logo, derivaremos implicitamente a expressa˜o 3.3 em relac¸a˜o a t. ∂ ∂t (tanα) = ∂ ∂t (y x ) sec2 α dα dt = ∂f ∂x dx dt + ∂f ∂t dy dt( 2 √ 61 10 )2 dα dt = − y x2 · 1 + 1 x · (−2) dα dt = ( − y x2 − 2 x ) · ( 100 4 · 61 ) dα dt = ( −y + 2x x2 ) · ( 100 4 · 61 ) dα dt = (−12− 20 102 ) · ( 100 4 · 61 ) dα dt = − 8 61 Assim, a taxa de variac¸a˜o da medida do aˆngulo agudo oposto ao lado de 12 cm num dado instante e´ − 8 61 rad/min. Exemplo 3.15 A altura de um cilindro circular reto esta´ decrescendo a uma taxa de 10 cm/min e o raio crescendo a uma taxa de 4 cm/min. Determine a taxa de variac¸a˜o do volume no instante em que a altura e´ 50 cm e o raio e´ 16 cm. Soluc¸a˜o: Sabemos que V (r, h) = pir2h, logo a taxa de variac¸a˜o do volume no instante em que a altura e´ 50 cm e o raio e´ 16 cm e´ dada por ∂V ∂t (16, 50). Assim, temos: dV dt (r, h) = ∂V ∂r (r, h) dr dt + ∂V ∂h (r, h) dh dt dV dt (r, h) = 2rpih · 4 + pir2 · (−10) dV dt (16, 50) = 8pi · 16 · 50 + pi(16)2(−10) dV dt (16, 50) = 3840picm3/min 3-7. regra da cadeia 45 Exemplo 3.16 A voltagem V em um circuito que satisfaz a lei V = IR vai caindo lenta- mente a uma taxa de 0, 01 volts/s a medida que a bateria descarrega. Ao mesmo tempo, a resisteˆncia R vai aumentando a uma taxa de 0, 5 ohm/s, conforme o resistor esquenta. Determine como a corrente esta´ variando no instante em que R = 600 ohm e I = 0, 04A. Soluc¸a˜o: A voltagem V e´ func¸a˜o de I e R, logo, podemos escrever: dV dt = ∂V ∂I dI dt + ∂V ∂R dR dt dV dt = R dI dt + I dR dt Como, dV dt = −0, 01 volts/s, dR dt = 0, 5 ohm/s, R = 600 ohm e I = 0, 04A, obtemos: −0, 01 = 600 · dI dt + 0, 04 · 0, 5 ⇒ dI dt = −0, 00005A/s Teorema 3.5 (Regra da Cadeia) Se f for uma func¸a˜o diferencia´vel de x e y definida por w = f(x, y), onde x = g(r, s) e y = h(r, s) e ∂x ∂r , ∂x ∂s , ∂y ∂r , ∂y ∂s todas existirem, enta˜o w sera´ uma func¸a˜o de r e s e ∂w ∂r = ∂w ∂x ∂x ∂r + ∂w ∂y ∂y ∂r ∂w ∂s = ∂w ∂x ∂x ∂s + ∂w ∂y ∂y ∂s 46 3. derivadas parciais Exemplo 3.17 Determine ∂w ∂s e ∂w ∂r , sendo w = arcsin(3x+ y); x = r2es e y = sin rs Soluc¸a˜o: A equac¸a˜o w = arcsin(3x + y) pode ser reescrita como sinw = 3x + y. Para determinarmos ∂w ∂s e ∂w ∂r , precisamos inicialmente calcular ∂w ∂x e ∂w ∂y . Note que,w e´ dado implicitamente pela equac¸a˜o sinw = 3x + y, logo para calcular ∂w ∂x e ∂w ∂y , utilizaremos a derivac¸a˜o implı´cita. ∂ ∂x (sinw) = ∂ ∂x (3x+ y) ∂ ∂y (sinw) = ∂ ∂y (3x+ y) cosw · ∂w ∂x = 3 cosw · ∂w ∂y = 1 ∂w ∂x = 3 cosw ∂w ∂y = 1 cosw ∂w ∂r = ∂w ∂x ∂x ∂r + ∂w ∂y ∂y ∂r ∂w ∂r = 3 cosw · (2res) + 1 cosw · (s cos rs) ∂w ∂r = 6res + s cos(rs) cosw ∂w ∂s = ∂w ∂x ∂x ∂s + ∂w ∂y ∂y ∂s ∂w ∂s = 3 cosw · (r2es) + 1 cosw · (r cos rs) ∂w ∂s = 3r2es + r cos(rs) cosw Considerando w a medida do arco cujo seno e´ 3x+ y, obtemos cosw = √ 1− (3x+ y)2. Veja a figura a seguir. Logo, ∂w ∂r = 6res + s cos(rs)√ 1− (3x+ y)2 ∂w ∂s = 3r2es + r cos(rs)√ 1− (3x+ y)2 3-7. regra da cadeia 47 Teorema 3.6 (Regra da Cadeia Generalizada) Suponha que f seja uma func¸a˜o diferencia´vel de n varia´veis x1, x2, x3, ..., xn e cada uma dessas varia´veis por sua vez seja uma func¸a˜o de m varia´veis y1, y2, y3, ..., ym. Suponha ainda qua cada uma das derivadas parciais ∂xi ∂yj (i = 1, 2, ..., n; j = 1, 2, ...,m) exista. Enta˜o, f e´ uma func¸a˜o de y1, y2, y3, ..., ym, e ∂f ∂y1 = ∂f ∂x1 ∂x1 ∂y1 + ∂f ∂x2 ∂x2 ∂y1 + ...+ ∂f ∂xn ∂xn ∂y1 ∂f ∂y2 = ∂f ∂x1 ∂x1 ∂y2 + ∂f ∂x2 ∂x2 ∂y2 + ...+ ∂f ∂xn ∂xn ∂y2 ... ∂f ∂ym = ∂f ∂x1 ∂x1 ∂ym + ∂f ∂x2 ∂x2 ∂ym + ...+ ∂f ∂xn ∂xn ∂ym Exemplo 3.18 Determine ∂w ∂r , ∂w ∂θ e ∂w ∂φ , sendo w = x2 + y2 + z2, x = r sinφ cos θ, y = r sinφ sin θ e z = r cosφ. Soluc¸a˜o: ∂w ∂r = ∂w ∂x ∂x ∂r + ∂w ∂y ∂y ∂r + ∂w ∂z ∂z ∂r ∂w ∂r = 2x(sinφ cos θ) + 2y(sinφ sin θ) + 2z cosφ ∂w ∂θ = ∂w ∂x ∂x ∂θ + ∂w ∂y ∂y ∂θ + ∂w ∂z ∂z ∂θ ∂w ∂θ = −2xr sinφ sin θ + 2yr sinφ cos θ + 2z · 0 ∂w ∂θ = −2xr sinφ sin θ + 2yr sinφ cos θ Exercı´cios 1. Utilize a forma apropriada da regra da cadeia para determinar as derivadas indi- cadas. (a) z = 3 cos x− sin xy; x = 1 t , y = 3t, dz dt (b) z = e1−xy, x = t 1 3 , y = t3, dz dt (c) z = ln(2x2 + y); x = √ t, y = t 2 3 , dz dt 48 3. derivadas parciais (d) z = x y , x = 2 cos u, y = 3 sin v; ∂z ∂u , ∂z ∂v (e) z = ex2y; x = √ uv, y = 1 v ; ∂z ∂u , ∂z ∂v (f) w = rs r2 + s2 ; r = uv, s = u− 2v; ∂w ∂u , ∂w ∂v (g) w = r2 − r tan θ; r = √s, θ = pis; dw ds ∣∣∣s= 1 4 (h) z = xye x y ; x = r cos θ, y = r sin θ; ∂z ∂r ∣∣ r=2, θ=pi 6 , ∂z ∂θ ∣∣ r=2, θ=pi 6 2. Dois lados de um triaˆngulo tem comprimentos a = 5 cm e b = 10 cm, e o aˆngulo entre eles e´ θ = pi 3 rad. Se a estiver crescendo a uma taxa de 2 cm/s, b estiver crescendo a uma taxa de 1 cm/s, e θ mantendo-se constante, a que taxa esta´ crescendo ou decrescendo o terceiro lado? 3. Uma quantidade de ga´s obedece a lei dos gases ideiais PV = kT , com k = 1, 2; e o ga´s encontra-se em um recipiente que esta´ sendo aquecido a uma taxa de 3◦C por segundo. Se em um dado instante quando a temperatura e´ 300◦C, a pressa˜o e´ 6N/m2 e aumenta a uma taxa de 0, 1N/m2 por segundo, ache a taxa de variac¸a˜o do volume naquele instante. 4. A voltagem V em um circuito ele´trico simples esta´ decrescente lentamente a` me- dida que a bateria se descarrega. A resisteˆncia R esta´ aumentando como o aumento de calor do resistor. Use a Lei de Ohm, V = IR, para achar como a corrente I esta´ variando no momento em que R = 400Ω, I = 0, 08A, dV dt = −0, 01V/s e dR dt = 0, 03Ω/s 5. Suponha que a equac¸a˜o z = f(x, y) e´ expressa na forma polar z = g(r, θ) fazendo- se a substituic¸a˜o x = r cos θ e y = r sin θ. (a) Considere r e θ como func¸o˜es de x e y e use a diferenciac¸a˜o implı´citapara mostrar que ∂r ∂x = cos θ e ∂θ ∂x = −sin θ r . (b) Considere r e θ como func¸o˜es de x e y e use a diferenciac¸a˜o implı´cita para mostrar que ∂r ∂y = sin θ e ∂θ ∂y = cos θ r . 3-7. regra da cadeia 49 (c) Use os resultados dos itens (a) e (b) para mostrar que ∂z ∂x = ∂z ∂r cos θ ± 1 r ∂z ∂θ sin θ e ∂z ∂y = ∂z ∂r sin θ + 1 r ∂z ∂θ cos θ. (d) Use o resultado do item (c) para mostrar que( ∂z ∂x )2 + ( ∂z ∂y )2 = ( ∂z ∂r )2 + 1 r2 ( ∂z ∂θ )2 . (e) Use o resultado do item (c) para mostrar que se z = f(x, y) satisfaz a equac¸a˜o de Laplace ∂2z ∂x2 + ∂2z ∂y2 = 0, enta˜o, z = g(r, θ) satisfaz a equac¸a˜o ∂2z ∂r2 + 1 r2 ∂2z ∂θ2 + 1 r ∂z ∂r = 0. A equac¸a˜o acima e´ chamada de equac¸a˜o de Laplace na forma polar. 6. Mostre que se u(x, y) e v(x, y) satisfazem as equac¸o˜es de Cauchy-Riemann, e se x = r cos θ e y = r sin θ, enta˜o ∂u ∂r = 1 r ∂v ∂θ e ∂v ∂r = −1 r ∂u ∂θ . As equac¸o˜es acima sa˜o as equac¸o˜es de Cauchy-Riemann na forma polar. 50 3. derivadas parciais 3-8 Derivadas Direcionais e o Vetor Gradiente O mapa a seguir mostra os contornos da func¸a˜o temperatura T (x, y) a`s 19h do dia 5 de agosto de 2009. As curvas de nı´vel ou isote´rmas ligam localidades que apresentam a mesma temperatura. A derivada parcial Tx em um ponto, como Bage´, da´ a taxa de variac¸a˜o da temperatura em relac¸a˜o a distaˆncia se viajarmos para leste; Ty e´ a taxa de variac¸a˜o da temperatura se viajarmos para o norte. Mas o que acontece se desejarmos conhecer a taxa de variac¸a˜o da temperatura em outra direc¸a˜o qualquer, por exemplo, para nordeste, ou seja, se viajarmos de Bage´ para Porto Alegre? Nesta sec¸a˜o introduziremos um tipo de derivada, chamada derivada direcional, que nos permite determinar a taxa de variac¸a˜o de uma func¸a˜o de duas ou mais varia´veis em qualquer direc¸a˜o. 3-8.a Derivadas Direcionais Suponha que a func¸a˜o f seja definida em uma regia˜o R no plano xy e que −→u = u1−→i + u2 −→ j seja um vetor unita´rio arbitra´rio. Para determinar a taxa de variac¸a˜o de z no ponto (x0, y0) na direc¸a˜o e sentido de −→u , devemos considerar a superfı´cie S com equac¸a˜o z = f(x, y) e tomar z0 = f(x0, y0). O ponto (x0, y0, z0) pertence a S. O plano vertical que passa por P na direc¸a˜o de −→u intercepta S em uma curva C. A inclinac¸a˜o da reta tangente T a C em P e´ a taxa de variac¸a˜o de z na direc¸a˜o e sentido de −→u . 3-8. derivadas direcionais e o vetor gradiente 51 Se Q(x, y, z) e´ outro ponto sobre C e P ′, Q′ sa˜o as projec¸o˜es de P , Q sobre o plano xy, enta˜o o vetor −−→ P ′Q′ e´ paralelo a −→u , e portanto −−→ P ′Q′ = h−→u = (hu1, hu2) para algum valor do escalar h. Dessa forma, x − x0 = hu1 e y − y0 = hu2, logo x = x0 + hu1, y = y0 + hu2, e ∆z h = z − z0 h = f(x0 + hu1, y0 + hu2)− f(x0, y0) h Se tomarmos o limite quando h → 0, obteremos a taxa de variac¸a˜o de z em relac¸a˜o a distaˆncia, na direc¸a˜o e sentido de −→u , que e´ chamada derivada direcional de f na direc¸a˜o e sentido de −→u . Isto nos motiva a definic¸a˜o que segue. Definic¸a˜o 3.6 A derivada direcional de f em (x0, y0) na direc¸a˜o e sentido do vetor unita´rio −→u = u1−→i + u2−→j e´ D−→u f(x0, y0) = lim h→0 f(x0 + hu1, y0 + hu2)− f(x0, y0) h se esse limite existir. Observac¸a˜o 3.2 Comparando a definic¸a˜o 3.2 com 3.6, vemos que, se −→u = −→i = (1, 0), enta˜o Dif = fx e se −→u = −→i = (0, 1), enta˜o Djf = fy. Em outras palavras, as derivadas parciais de f com relac¸a˜o a x e y sa˜o casos particulares da derivada direcional. Outra notac¸a˜o para derivada direcional e´ a seguinte: D−→u f(x0, y0) = ∂f ∂−→u (x0, y0). 52 3. derivadas parciais Exemplo 3.19 Encontre a derivada de f(x, y) = x2 + xy em P (1, 2) na direc¸a˜o do vetor −→u = ( 1√ 2 −→ i + 1√ 2 −→ j ) . Soluc¸a˜o: Observe que −→u e´ unita´rio. Assim, pela definic¸a˜o de derivada direcional, temos: Duf(x, y) = lim h→0 f ( x+ h 1√ 2 , y + h 1√ 2 ) − f(x, y) h = lim h→0 ( x+ h√ 2 )2 + ( x+ h√ 2 ) · ( y + h√ 2 ) − (x2 + xy) h = lim h→0 x2 + 2xh√ 2 + h2 2 + xy + xh√ 2 + yh√ 2 + h2 2 − x2 − xy h = lim h→0 3x√ 2 + h+ y√ 2 = 3x√ 2 + y√ 2 Duf(1, 2) = 3 · 1√ 2 + 2√ 2 = 5√ 2 = 5 √ 2 2 Teorema 3.7 Se f e´ uma func¸a˜o diferencia´vel em x e y, enta˜o f tem derivada direcional na direc¸a˜o e sentido de qualquer vetor unita´rio −→u = u1−→i + u2−→j e Duf(x, y) = fx(x, y)u1 + fy(x, y)u2 Prova: Se definirmos uma func¸a˜o g de uma u´nica varia´vel real h por g(h) = f(x0 + hu1, y0 + hu2) enta˜o, pela definic¸a˜o de derivada ordina´ria (de uma varia´vel), temos: g′(0) = lim h→0 g(h)− g(0) h = lim h→0 f(x0 + hu1, y0 + hu2)− f(x0, y0) h , ou seja, g′(0) = Duf(x0, y0). (3.4) Por outro lado, podemos escrever g(h) = f(x, y), onde x = x0 + hu1, y = y0 + hu2, e assim, pela regra da cadeia, obtemos g′(h) = ∂f ∂x dx dh + ∂f ∂y dy dh = fx(x, y)u1 + fy(x, y)u2 3-8. derivadas direcionais e o vetor gradiente 53 Se tomarmos h = 0, enta˜o x = x0, y = y0 e g′(0) = fx(x0, y0)u1 + fy(x0, y0)u2. (3.5) Comparando 3.4 e 3.5, temos que Duf(x0, y0) = fx(x0, y0)u1 + fy(x0, y0)u2 (3.6) Se o vetor unita´rio −→u faz um aˆngulo θ com o eixo positivo, enta˜o podemos escrever −→u = cos θ−→i + sin θ−→j e a fo´rmula 3.6 pode ser reescrita como Duf(x, y) = fx(x, y) cos θ + fy(x, y) sin θ (3.7) Isto prova o teorema. Exemplo 3.20 Determine a derivada direcional da func¸a˜o f , definida por f(x, y) = 1 x− y ; na direc¸a˜o e sentido do vetor −→u = −12 13 −→ i + 5 13 −→ j no ponto (−1, 2). Soluc¸a˜o: Note que, o vetor−→u e´ unita´rio, assim inicialmente devemos determinar fx(x, y) e fy(x, y). fx(x, y) = ∂ ∂x ( 1 x− y ) = (x− y) · 0− 1 · 1 (x− y)2 = − 1 (x− y)2 fy(x, y) = ∂ ∂y ( 1 x− y ) = (x− y) · 0− 1 · (−1) (x− y)2 = 1 (x− y)2 Duf(x, y) = fx(x, y)u1 + fy(x, y)u2 Duf(x, y) = − 1 (x− y)2 ( −12 13 ) + 1 (x− y)2 ( 5 13 ) Duf(x, y) = 17 13(x− y)2 Duf(−1, 2) = 17 13(−1− 2)2 = 17 13 · 9 = 17 117 54 3. derivadas parciais 3-9 Vetor Gradiente Note que a derivada direcional pode ser escrita como o produto escalar de dois vetores. Duf(x, y) = fx(x, y)u1 + fy(x, y)u2 = (fx(x, y) −→ i + fy(x, y) −→ j ) · (u1−→i + u2−→j ) = (fx(x, y) −→ i + fy(x, y) −→ j ) · −→u O primeiro vetor e´ muito importante e e´ chamado de gradiente da func¸a˜o f , deno- tado por grad f ou ∇f (leˆ-se “nabla” de f , ou “del” de f ). ∇ e´ um operador diferencial vetorial. Sozinho, o∇ na˜o tem nenhum significado nume´rico; o significado surge quando ele e´ aplicado a uma func¸a˜o. Definic¸a˜o 3.7 Se f e´ uma func¸a˜o de duas varia´veis x e y, o gradiente de f e´ a func¸a˜o vetorial ∇f definida por ∇f(x, y) = ∂f ∂x −→ i + ∂f ∂y −→ j Assim, podemos reescrever a expressa˜o para derivada direcional como Duf(x, y) = ∇f(x, y) · −→u Para func¸o˜es de treˆs varia´veis podemos definir derivadas direcionais de modo semelhante. Definic¸a˜o 3.8 A derivada direcional de uma func¸a˜o f em (x0, y0, z0) na direc¸a˜o e sentido do vetor unita´rio −→u = u1−→i + u2−→j + u3−→k e´ Duf(x0, y0, z0) = lim h→0 f(x0 + hu1, y0 + hu2, z0 + hu3)− f(x0, y0, z0) h se o limite existir. Teorema 3.8 Se f e´ uma func¸a˜o diferencia´vel em x, y e z, enta˜o f tem derivada dire- cional na direc¸a˜o e sentido de qualquer vetor unita´rio −→u = u1−→i + u2−→j + u3−→k e Duf(x, y, z) = fx(x, y, z)u1 + fy(x, y, z)u2 + fz(x, y, z)u3 (3.8) A prova deste teorema e´feita de forma ana´loga a do teorema 3.8. 3-9. vetor gradiente 55 Para uma func¸a˜o f de treˆs varia´veis, o vetor gradiente, denotado por ∇f ou grad f , e´ ∇f(x, y, z) = ∂f ∂x −→ i + ∂f ∂y −→y + ∂f ∂z −→ k Logo, a equac¸a˜o 3.8 pode ser reescrita como Duf(x, y, z) = ∇f(x, y, z) · −→u Considere uma func¸a˜o f de duas ou treˆs varia´veis e todas as possı´veis derivadas direcionais de f em um ponto dado. Isso nos da´ a taxa de variac¸a˜o da func¸a˜o em todas as direc¸o˜es possı´veis. Assim, podemos perguntar: Em qual dessas direc¸o˜es f varia mais rapidamente e qual a ma´xima taxa de variac¸a˜o? Se α for a medida em radianos do aˆngulo entre os dois vetores −→u e ∇f , enta˜o −→u · ∇f(x, y) = |−→u ||∇f(x, y)| cosα Assim, temos Duf(x, y) = |−→u ||∇f(x, y)| cosα Observe que, Duf e´ ma´xima quando cosα = 1, e isso ocorre quando θ = 0. Portanto, o valor ma´ximo de Duf e´ |∇f | e ocorre quando −→u tem a mesma direc¸a˜o e mesmo sentido que o vetor gradiente. Assim, o gradiente de uma func¸a˜o esta´ na direc¸a˜o e sentido em que a func¸a˜o tem a taxa ma´xima de variac¸a˜o. Geometricamente, isso significa que a superfı´cie z = f(x, y) tem sua inclinac¸a˜o ma´xima em um ponto (x, y) na direc¸a˜o do gradiente e a inclinac¸a˜o ma´xima e´ |∇f |. Analogamente, podemos dizer que o valor mı´nimo de Duf e´ −|∇f |, e este valor ocorre quando θ = pi, isto e´, quando −→u esta´ no sentido oposto a ∇f . Geoemtricamente, isso significa que a superfı´cie z = f(x, y) tem sua inclinac¸a˜o mı´nima em um ponto (x, y) no sentido oposto ao do gradiente, e a inclinac¸a˜o mı´nima e´ −|∇f |. 3-9.a Propriedades Alge´bricas dos Gradientes Considere k uma constante e os gradientes ∇f = ∂f ∂x −→ i + ∂f ∂y −→ j + ∂f ∂z −→ k e ∇g = ∂g ∂x −→ i + ∂g ∂y −→ j + ∂g ∂z −→ k , o gradiente obedece as seguintes leis: ∇(kf) = k∇f (3.9) ∇(f + g) = ∇f +∇f (3.10) ∇(f − g) = ∇f −∇f (3.11) ∇(fg) = f∇g − g∇f (3.12) ∇ ( f g ) = g∇f − f∇g g2 (3.13) 56 3. derivadas parciais Observac¸a˜o 3.3 Repare que pensando em func¸o˜es de uma varia´vel real t, temos que ∇ = d dt . Logo, na˜o e´ por acaso a semelhanc¸a das propriedades do gradiente com as regras usuais de derivac¸a˜o estudadas no Ca´lculo Diferencial. Exemplo 3.21 Seja f , uma func¸a˜o definida por f(x, y) = x2 − 4y, determine: (a) o gradiente de f em P (−2, 2); (b) a taxa de variac¸a˜o dos valores funcionais na direc¸a˜o de −→u = cos pi 3 −→ i + sin pi 3 −→ j no ponto (−2, 2). Soluc¸a˜o: (a) ∇f(x, y) = ∂f ∂x −→ i + ∂f ∂y −→ j = ∂ ∂x (x2 − 4y)−→i + ∂ ∂y (x2 − 4y)−→j = 2x −→ i − 4−→j ∇f(−2, 2) = 2 · (−2)−→i − 4−→j = −4−→i − 4−→j (b) Duf(x, y) = ∇f(x, y) · −→u = (2x −→ i − 4−→j ) · ( 1 2 −→ i + √ 3 2 ) = x− 2√3 Duf(−2, 2) = −2− 2 √ 3 Exemplo 3.22 Esboce o mapa de contorno da func¸a˜o f , definida no exemplo 3.21, mostrando as curvas de nı´vel em −8, −4, 0, 4, 8. Mostre tambe´m a representac¸a˜o de ∇f(−2, 2), tendo seu ponto inicial em (−2, 2) Soluc¸a˜o: As curvas de nı´vel desta func¸a˜o tem a forma x2 − 4y = k. Assim, temos: k = −8 ⇒ x2 − 4y = −8 ⇒ y = x 2 4 + 2 k = −4 ⇒ x2 − 4y = −4 ⇒ y = x 2 4 + 1 k = 0 ⇒ x2 − 4y = 0 ⇒ y = x 2 4 k = 4 ⇒ x2 − 4y = 4 ⇒ y = x 2 4 − 1 k = 8 ⇒ x2 − 4y = 8 ⇒ y = x 2 4 − 2 3-9. vetor gradiente 57 Exemplo 3.23 O potencial ele´trico V (x, y) volts em qualquer ponto do plano xy e´ V (x, y) = e−2x cos 2y. A distaˆncia e´ medida em metros. (a) Determine a taxa de variac¸a˜o do pontencial no ponto ( 0, pi 4 ) , na direc¸a˜o do vetor unita´rio cos pi 6 −→ i + sin pi 6 −→ j . (b) Determine a direc¸a˜o, o sentido e o valor da taxa de variac¸a˜o ma´xima de V em ( 0, pi 4 ) . Soluc¸a˜o: (a) DuV (x, y) = [ ∂ ∂x (e−2x cos 2y) −→ i + ∂ ∂y (e−2x cos 2y) −→ j ] · [√ 3 2 −→ i + 1 2 −→ j ] = −√3e−2x cos 2y − e−2x sin 2y DuV ( 0, pi 4 ) = −√3e−2·0 cos 2 · pi 4 − e−2·0 sin 2 · pi 4 = −1 (b) A direc¸a˜o e o sentido da variac¸a˜o ma´xima de V em ( 0, pi 4 ) sa˜o dados pelo vetor gradiente. Calculando-se ∇f ( 0, pi 4 ) , temos: ∇f ( 0, pi 4 ) = −2e−2·0 cos 2 · pi 4 −→ i − 2e−2·0 sin 2 · pi 4 −→ j = −2−→j Logo, a variac¸a˜o ma´xima de V se da´ na direc¸a˜o e sentido do vetor ∇f ( 0, pi 4 ) = −2−→j e o valor da taxa de variac¸a˜o ma´xima de V e´ ∣∣∣∇f (0, pi 4 )∣∣∣ = 2 volts/m 58 3. derivadas parciais Exercı´cios 1. Determine a derivada direcional de f em P na direc¸a˜o de −→u . (a) f(x, y) = x2 − 3xy + 4y3; P (−2, 0); −→u = −→i + 2−→j (b) f(x, y) = y2 lnx; P (1, 4); −→u = −3−→i + 3−→j (c) f(x, y) = ex cos y; P ( 0, pi 4 ) ; −→u = 5−→i − 2−→j 2. Determine a derivada direcional de f em P na direc¸a˜o de um vetor que faz no sentido anti-hora´rio um aˆngulo θ com o eixo x positivo. (a) f(x, y) = x− y x+ y ; P (−1,−2); θ = pi 2 (b) f(x, y) = √ 5x− 4y; P (4, 1); θ = −pi 6 (c) f(x, y) = tan(2x+ y); P (pi 6 , pi 3 ) ; θ = 7pi 4 3. Determine o vetor unita´rio na direc¸a˜o do qual f cresce mais rapidamente em P e determine a taxa de variac¸a˜o de f em P nesta direc¸a˜o. (a) f(x, y) = x2y + exy sin y; P (1, 0) (b) f(x, y, z) = ln(x2 + y2 − 1) + y + 6z; P (1, 1, 0) 4. Determine o vetor unita´rio na direc¸a˜o do qual f decresce mais rapidamente em P e determine a taxa de variac¸a˜o de f em P nesta direc¸a˜o. (a) f(x, y) = x y − yz; P (4, 1, 1) (b) f(x, y, z) = xey + z2; P ( 1, ln 2, 1 2 ) 5. Se um potencial ele´trico em um ponto (x, y) do plano xy e´ V (x, y) enta˜o o vetor de intensidade ele´trica em um ponto (x, y) e´E = −∇V (x, y). Suponha que V (x, y) = e−2x cos 2y. (a) Determine o vetor de intensidade ele´trica em (pi 4 , 0 ) . (b) Mostre que, em cada ponto do plano, o potencial ele´trico decresce mais rapi- damente na direc¸a˜o e sentido do vetor E. 6. Sobre uma certa montanha, a elevac¸a˜o z em km acima de um ponto (x, y) em um plano xy ao nı´vel do mar e´ z = 200 − 2x2 − 4y2. O eixo x positivo aponta para o leste, e o eixo y positivo aponta para norte. Um escalador esta´ no ponto (−20, 5, 1100). (a) Se o escalador usar uma bu´ssula para caminhar em direc¸a˜o ao oeste, ele vai comec¸ar a subir ou descer? A que taxa? (b) Em qual direc¸a˜o da bu´ssula o escalador deve comec¸ar a andar para trilhar um caminho plano (duas respostas)? 3-10. planos tangentes 59 3-10 Planos Tangentes Seja S a superfı´cie de equac¸a˜o F (x, y, z) = 0 e suponha que P (x0, y0, z0) seja um ponto sobre S. Suponha ainda que C seja uma curva em S que passa pelo ponto P e que um conjunto de equac¸o˜es parame´tricas de C seja x = x(t), y = y(t) e z = z(t), onde o valor do paraˆmetro t no ponto P e´ t0. A curva C e´ descrita pela func¸a˜o −→r (t) = x(t) −→ i + y(t) −→ j + z(t) −→ k . Como C pertence a S, qualquer ponto (x(t), y(t), z(t)) precisa satisfazer a equac¸a˜o de S, ou seja, F (x(t), y(t), z(t)) = 0 (3.14) Se x, y e z sa˜o diferencia´veis como func¸o˜es de t e F tambe´m e´ diferencia´vel, podemos usar a regra da cadeia para diferenciar ambos os lados da equac¸a˜o 3.14. Assim, temos: ∂F ∂x dx dt + ∂F ∂y dy dt + ∂F ∂z dz dt = 0 (3.15) Note que,∇F (x, y) = ∂F ∂x −→ i + ∂F ∂y −→ j + ∂F ∂z −→ k e −→ r′ (t) = dx dt −→ i + dy dt −→ j + dz dt −→ k . Assim, a equac¸a˜o 3.15 pode ser escrita como ∇F · −→r′ (t) = 0 Quando t = t0, temos −→r (t0) = x0−→i + y0−→j + z0−→k , e assim, temos ∇F (x0, y0, z0) · −→ r′ (t0) = 0 Sabemos que −→ r′ (t0) tem a mesma direc¸a˜o que um vetor tangente a` curva C em P . Logo, pela equac¸a˜o
Compartilhar