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Utilitarismo e integridade 
Bernard Williams 
O utilitarismo é a teoria segundo a qual nós devemos sempre tentar maximizar 
~ 
a felicidade. E difícil argumentar contra o valor de ser feliz, no entanto, os críti-
cos são rápidos em apontar que nós valoramos também outras coisas. 
Sir Bernard William (1929-2003), um dos maiores críticos do utilitarismo, 
lecionou tanto na Cambridge University quanto na Oxford University. Nessa 
seleção ele considera dois testes diferentes para a teoria utilitarista. 
(1) George, que recém obteve seu Ph.D. em química, encontra dificuldades 
extremas para conseguir um emprego. Ele não é muito robusto em saúde, o 
que diminui o número de empregos que ele poderia estar apto a desempenhar 
satisfatoriamente. Sua esposa tem de trabalhar fora para apoiá-lo, o que por si 
só causa uma dose de tensão, visto eles terem crianças pequenas e problemas 
graves para tomar conta delas. Os resultados de tudo isso, especialmente para as 
crianças, são danosos. Um químico mais velho, que sabe dessa situação, diz que 
pode conseguir para George um emprego pago decentemente em certo labo-
ratório que faz pesquisa em guerras biológicas e químicas. George diz que não 
pode aceitar o emprego porque se opõe a esse tipo de guerra. O velho homem 
diz que não está muito interessado nisso e que, afinal, a recusa de George não 
fará com que o emprego e o laboratório desapareçam. Mais ainda, sabe que se 
George recusar o emprego, este será dado a um contemporâneo de faculdade de 
George que não seja inibido por qualquer escrúpulo e que, provavelmente, se 
exigido, fará a pesquisa com mais zelo do que George. Realmente, não é somen-
te a preocupação com George e a sua família, mas (para falar franca e confiden-
Texto extraído de Bernard Williams, ''A Critique of Utilitarianism': Utilitarianism: For 
and Against, Cambridge University Press, 1973. Reproduzido com a permissão da Cam-
bridge University Press. 
A coisa certa a fazer 53 
cialmente) também uma preocupação com o excesso de zelo do outro químico, 
o que levou o velho homem a oferecer e a usar de sua influência para conseguir 
o emprego para George ... A esposa de George, a quem ele é profundamente li-
gado, tem uma visão segundo a qual (os detalhes de tal visão não precisam nos 
preocupar) não haveria nada de particularmente errado com respeito à pesqui-
sa em guerras biológicas e químicas.* O que ele deveria fazer? 
(2) Jim se encontra na praça central de uma pequena cidade da América do 
Sul. Contra um muro há uma fila de vinte índios, a maioria aterrorizada, alguns, 
desafiadores; em frente, vários homens armados e de uniforme. Um homem pe-
sado em uma camisa cáqui manchada de suor parece ser o capitão em comando. 
Após um bom tempo interrogando Jim, fica estabelecido que ele estava lá por 
acaso, uma vez que participava de uma expedição botânica. O capitão explica 
que os índios são um grupo aleatório de habitantes e que, após atos recentes de 
protesto contra o governo, estão ali para serem mortos a fim de lembrar a outros 
possíveis manifestantes das vantagens de não protestarem. Porém, visto que Jim 
é um honorário visitante de outro país, o capitão está feliz em oferecer a ele o 
privilégio de poder matar um dos índios. Se Jim aceitar a oferta, como uma mar-
ca especial da ocasião, os demais índios serão soltos. Naturalmente, se recusar, 
então, não haveria ocasião especial, e Pedro iria fazer o que estava pronto a fazer 
quando Jim chegara. Matará a todos. Jim, com alguma lembrança desesperada 
de uma ficção de garoto de escola, imagina que se segurar uma arma, poderá 
parar o capitão, Pedro, bem como o resto dos soldados ameaçando-os, mas está 
absolutamente claro na situação que nada desse tipo funcionaria: qualquer ten-
tativa como essa implicaria que todos os índios seriam mortos e ele também. 
Os homens contra o muro e os demais habitantes compreendem a situação e, 
obviamente, pedem a ele que aceite o que foi proposto. O que Jim deve fazer? 
A esses dilemas parece-me que os utilitaristas replicariam, no primeiro 
caso, que George deveria aceitar o emprego e, no segundo, que Jim deveria ma-
tar o índio. Não somente os utilitaristas dariam essa resposta, mas, se a situação 
fosse essencialmente como as descritas e não havendo outros fatores especiais, 
olhariam tais respostas, parece-me, como obviamente corretas. Porém, muitos 
de nós iriam certamente ficar surpresos que a resposta para ( 1) fosse a mencio-
nada e, no caso de (2), mesmo alguém que viesse a pensar que, talvez, aquela 
fosse a resposta, poderia ficar pensando se ela seria obviamente a resposta. E 
não é somente uma questão de correção ou obviedade das respostas. É também 
uma questão de que tipo de consideração está em jogo para encontrar a respos-
ta. Um aspecto do utilitarismo é que ele elimina um tipo de consideração que 
* N. de R.: do inglês, chemical and biological warfare. 
54 James Racheis & Stuart Racheis 
para outros faz diferença em relação ao que eles sentem sobre tais casos: uma 
consideração envolvendo a ideia, como nós podemos primeira e muito simples-
mente colocar, de que cada um de nós é especialmente responsável pelo que nós 
fazemos, em vez de pelo que outras pessoas fazem. Essa é uma ideia muito es-
treitamente conectada com o valor da integridade. Suspeita-se, frequentemen-
te, que o utilitarismo, ao menos em suas formas diretas, torna a integridade um 
valor mais ou menos ininteligível. Eu tentarei demonstrar que essa suspeita é 
correta. Naturalmente, mesmo que fosse correta, não necessariamente se segui-
ria que nós deveríamos rejeitar o utilitarismo. Talvez, como os utilitaristas al-
gumas vezes sugerem, nós deveríamos simplesmente esquecer a integridade em 
favor de coisas como a preocupação com o bem geral. No entanto, se eu estiver 
correto, nós não podemos fazer isso simplesmente, visto que a razão pela qual o 
utilitarismo não pode entender a integridade é que ele não pode coerentemente 
descrever as relações entre os projetos dos homens e suas ações. 
DUAS ESP~CIES DE EFEITOS REMOTOS 
Muito do que nós temos a dizer sobre essa questão será sobre as relações entre 
meus projetos e os projetos das outras pessoas. Porém, antes que tratemos disso, 
devemos primeiro perguntar se estamos aceitando de forma muito apressada 
qual seria a resposta utilitarista aos dilemas. Em termos de efeitos mais diretos 
das possíveis decisões, não parece haver muita dúvida sobre a resposta em qual-
quer dos casos. Porém, poderia ser dito que os termos mais remotos ou os con-
trapesos dos efeitos menos evidentes poderiam entrar na balança utilitarista. 
Desse modo, pode ser invocado o efeito em George da tomada de decisão sobre 
o emprego, ou os seus efeitos em outros que poderiam saber de sua decisão. A 
possibilidade de haver trabalhos mais benéficos no futuro, em relação aos quais 
ele poderia ser barrado ou desqualificado, poderia ser mencionada e assim por 
diante. Tais efeitos - em particular possíveis efeitos sobre o caráter do agente e 
efeitos no público mais amplo - são frequentemente invocados pelos escritores 
utilitaristas que tratam de problemas sobre mentir ou quebrar promessas, sendo 
que considerações similares poderiam ser aqui invocadas. 
Há uma observação muito geral que é importante fazer sobre argumen-
tos desse tipo. A certeza que se liga a essas hipóteses sobre efeitos possíveis 
é, em geral, muito baixa. Em alguns casos, realmente, a hipótese invocada é 
tão implausível que ela dificilmente passaria se não estivesse sendo usada para 
transmitir a resposta moral respeitável, como na fantasia regular de que um 
dos efeitos de alguém dizer uma mentira em particular enfraquece a disposi-
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