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ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL E ESCOLA DE DOMINGO: UM ESTUDO EM ENGELS SOBRE A EDUCAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS RELIGIOSOS Resumo A Escola Dominical é um movimento social e religioso não-escolar fundado pelo jornalista britânico Robert Raikes que dava aulas para jovens trabalhadores aos domingos. O industrial Engels observou em suas fábricas “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”, escrevendo este livro. Este artigo fala desta relação, do materialismo histórico dialético, dos conceitos de epistemologia e religião, da biografia de Engels, da origem da Escola Dominical e do livro citado. Apresenta o termo ―eclesiástico orgânico‖, baseado em Gramsci e um estudo de caso sobre o funcionamento de uma igreja atual revelando quantitativamente dados sobre a formação dos fiéis que ensinam. Palavras-chave: Escola de Domingo. Religião. Friedrich Engels. Abstract The Sunday School is a social and religious movement founded by British journalist Robert Raikes who taught young workers on Sundays. The industrial Engels noted in his factories "The Conditions of the Working-Class in England", writing this book. This article speaks of this relationship, of the dialectical historical materialism, of epistemology and religion concepts, the biography of Engels, the origin of the Sunday School and the book cited. Introduced the term "organic ecclesiastical", based on Gramsci and a case study on the functioning of an actual church revealing quantitatively dice on the formation of the believers who teach. Keywords: Sunday School. Religion. Friedrich Engels. 1. Engels: um filósofo preocupado com a dialética entre a análise e a totalidade Para Engels e Marx, a forma de se conhecer passa pela totalidade do objeto a partir da observação epistêmica de uma realidade material, histórica e dialética. Como paradigma, o objeto é analisado pelas suas partes para compreender o todo. Este método tem ainda por objetivo a transformação da realidade. Pautado no concreto e não mais como o modelo idealista de reflexão, a práxis (grosso modo, refletir para agir) conduz à transformação. Para entender como o concreto é pensado, Marcondes e Japiassú (2006) dizem: 2 Por oposição a abstrato, o concreto é aquilo que é efetivamente real ou determinado em sua totalidade. Portanto, é o que constitui a síntese da totalidade das determinações: "O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações. portanto, a unidade da diversidade" (Marx in: JAPIASSU e MARCONDES, 2006, p. 51). Dentro do marxismo, o autor que será tratado aqui é Friedrich Engels, mais especificamente em seu livro “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”, que escreveu em 1845, com apenas vinte e cinco anos de idade: Friedrich Engels (1820-1895), principal colaborador de Marx. Engels nasceu na Alemanha, estudou na Universidade de Berlim, onde ligou-se aos "jovens hegelianos" e dedicou-se a múltiplas atividades, desde o jornalismo, a militância política e o trabalho filosófico até a administração da indústria de seu pai em Manchester, Inglaterra. Engels foi não só colaborador teórico de Marx, mas também seu amigo mais íntimo, tendo-o ajudado inclusive financeiramente. Em 1845, publicou com Marx “A sagrada família”, em que eles rompem ao mesmo tempo com o idealismo hegeliano e o materialismo mecanicista. Torna-se por vezes difícil separar, nas principais teses do marxismo, quais as ideias de Marx e quais as de Engels, já que ambos escreveram quase sempre juntos desde que se conheceram em 1844. Considera-se, geralmente, que o materialismo dialético, especialmente a dialética da natureza, é uma criação típica de Engels, sendo, no entanto, de grande importância e influência no desenvolvimento da filosofia marxista. Além das obras que escreveu juntamente com Marx. (id ibidem, p. 85). A partir desta pequena biografia, pode-se estranhar como alguém que foi o co- fundador de uma teoria política socialista, fundamentada em sua obra Manifesto do Partido Comunista (escrita com Marx em 1848) e que visava o combate ao capitalismo poderia ser um administrador industrial, ou seja, um mantenedor da divisão de classes entre burguesia e proletariado, como eles mesmos definiram. A estes industriais, Engels chama de assassinos: Quando um indivíduo causa a outros danos que lhe provocam morte, chamamos a isso um homicídio; se o autor sabe de antemão que o seu gesto provocara a morte, chamamos ao seu ato um assassínio. Mas quando a sociedade põe centenas de proletários numa situação a tal que ficam necessariamente expostos a uma morte prematura e anormal; a uma morte tão violenta como a morte pela espada, ou à bala; quando retira a milhares de seres os meios de existência indispensáveis, impondo- lhes outras condições de vida com as quais lhes é impossível subsistir; quando os constrange, com o forte braço da lei, a permanecerem nesta situação até que a morte surja, o que é a consequência inevitável disso; quando sabe, quando está farta de saber, que estes milhares de seres serão vítimas destas condições de existência e, contudo, as deixa persistir; então é de fato um assassínio, perfeitamente idêntico ao cometido por um indivíduo, só que neste caso é mais dissimulado, mais pérfido, um assassínio do qual ninguém se pode defender, porque não parece um assassínio, porque o assassino não se vê, porque o assassino é toda a gente e não é ninguém, porque a morte da vítima parece natural, e é pecar menos pela ação do que pela omissão. Mas não deixa de ser um assassínio. (ENGELS, 1975, p. 135) No entanto, o filósofo radical fica impressionado com a situação de seus funcionários e através de um estudo in loco nas fábricas, ganha sustentação para escrever A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (1844, publicado em 1845). A preocupação aqui não é 3 sobre a aparente contradição entre vida/discurso e relações familiares e profissionais, até porque mesmo sendo industrial, Engels participou ativamente das violentas batalhas da Revolução de 1848. O que este filósofo materialista fez no livro escrito a partir de relatos que colheu durante viagens pelas cidades britânicas foi descobrir como o projeto das escolas de domingo, um movimento social de educação fora da escola (em casas particulares e nas igrejas) estava implantado, mas sem muitas condições para os alunos-trabalhadores poderem efetivamente estudar devido a várias situações que atrapalhavam um bom aproveitamento de formação. Ao ir pelas cidades inglesas e ver a situação deplorável da classe instrumental nas indústrias que ele próprio administrava, constatou, entre outras coisas, os seguintes resultados: Tendo examinado pormenorizadamente as condições em que vive a classe operária urbana, a altura de tirar destes fatos outras conclusões, e por sua vez compará-las com a realidade. Vejamos, pois em que se transformam os trabalhadores nestas condições, com que tipo de homens nos defrontamos e qual a sua situação física, intelectual e moral. (id ibidem, 1975, p. 76) Trazer o que foi feito em relação a essa situação moral na Inglaterra industrial é o que vai deixar as ideias do autor interessantes para esta discussão. Além delas, as ideias de formação bíblica e moral, de ler, escrever e fazer contas, do jornalista britânico Robert Raikes, que antecedeu Engels e que também se preocupou em olhar a situação dos filhos dos operários é o que vai unir os dois intelectuais daquele período. Assim como Raikes, na história da humanidade, homens tentaram trazer um pouco de educação, fé e esperança aos seus irmãos das classes oprimidas. Os próprios Engels eMarx consideravam a religião como um aspecto da totalidade do homem: Em algumas das mais conhecidas palavras de Marx, a religião é definida como o coração de um mundo sem coração, o ópio – ou lenitivo – das massas sofredoras. O caminho para a felicidade real passa, assim, pela possibilidade de os próprios homens se libertarem do tipo de vida que os levara a ansiar por esse substituto. (BOTTOMORE, 2001, p. 316) Neste ponto, é possível entender que, para o marxismo, a religião oferece uma concepção de mundo diferente da vivida atualmente. Estabelecida esta nova visão como um projeto a ser alcançado, busca-se construir uma nova realidade em cima desse plano. Por outro lado, acreditar que existe um mundo melhor e possível, dá forças às massas sofredoras sofrer menos as angústias do tempo presente, assim como o ópio é utilizado para amenizar os efeitos de algumas doenças. Marx disse em 1843 que a religião: … é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo. A supressão da 4 religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. (MARX, 2010, p. 145,6) Nessa proposta quase messiânica de levar o ―ópio‖ da religião à classe trabalhadora (e promover entre crianças e jovens condições morais e culturais mínimas de sobrevivência no ambiente social), surge em 1780 a Escola Bíblica Dominical. Embora vários protestantes, do século XVIII, entre os quais as igrejas metodistas inglesas, na pessoa de seu organizador John Wesley, tenham desenvolvido a educação no espaço eclesiástico, é o jornalista episcopal britânico Robert Raikes o principal nome da sistematização deste tipo de pedagogia aos domingos e com este público-alvo conhecido como Movimento de Escola Dominical. Este movimento é a maior instituição de ensino enquanto educação fora da escola desde aquela época. Para Gilberto (1985, p. 115), ―o atual sistema de escolas públicas gratuitas inspirou-se no movimento da Escola Dominical.‖. A seguir será apresentada a Escola Dominical em quatro momentos: em sua origem, como foi vista por Engels em suas viagens, como chegou ao Brasil, um estudo de caso com dados estatísticos de uma igreja atual. 2. A origem da Escola Bíblica Dominical A Escola Bíblica Dominical, hoje considerada a maior organização de ensino não- escolar do mundo, surgiu como projeto de um jornalista preocupado com as questões sobre a criminalidade na Inglaterra do final do século XVIII que levava jovens e crianças ao sistema carcerário. O objetivo do redator anglicano era retirar estes adolescentes da rua e dar uma educação em sua casa com conceitos educativos, morais e religiosos. Segundo Gilberto 1 : O movimento religioso que nos deu a Escola Dominical como a temos hoje, começou em 1780, na cidade de Gloucester, no sul da Inglaterra. O fundador foi o jornalista evangélico (episcopal) Robert Raikes, de 44 anos, redator do ―Gloucester Journal‖. Raikes foi inspirado a fundar a Escola Dominical ao sentir compaixão pelas crianças de sua cidade, perambulando pelas ruas, entregues à delinquência, pilhagem, ociosidade e ao vício, sem qualquer orientação espiritual. Ele, que já há quinze anos trabalhava entre os detentos das prisões da cidade, pensou no futuro daquelas crianças e decidiu fazer algo em seu favor, a fim de que mais tarde não fossem também parar na cadeia. Procurava as crianças em plena rua e em casa dos pais e as conduzia ao local de reunião, fazendo-lhes apelos para que todos os domingos estivessem ali reunidos. Outro grande promotor da Escola Dominical então incipiente foi o batista londrino Willian Fox, trabalhando harmonicamente com Raikes. (GILBERTO, 1985, p. 114) 1 O pastor Antônio Gilberto é consultor doutrinário das Casas Publicadoras das Assembleias de Deus (CPAD), membro da Casa de Letras Emílio Conde, mestre em Teologia, graduado em Psicologia, Pedagogia e Letras, membro da diretoria da Global University nos Estados Unidos. O ―Manual de Escola Dominical‖ é o seu maior best-seller, com mais de 200 mil exemplares vendidos. 5 Raikes definiu as diretrizes de seu programa da seguinte forma, definindo como currículo para aquelas crianças rudimentos de linguagem, aritmética e instrução moral e cívica, além, é claro, da Bíblia, acompanhada de leitura, recitação e interpretação de versículos lidos. Gilberto explica que ―muito depois é que surgiu a revista da Escola Dominical, com lições seguidas e apropriadas.‖ (id) O jornalista consegue a aderência de sete famílias em Gloucester para que em suas casas funcionassem as escolas dominicais. Na mesma cidade, nos três primeiros anos de experimento, contava com trinta alunos em cada casa. Não tinha sido fácil para ele: as igrejas haviam reprovado sua ideia, considerando-o profanador de domingo e que estava conduzindo crianças mal comportadas para o templo. No final do triênio, publica um artigo em seu jornal sobre a experiência. Consegue se popularizar no ano seguinte e organiza em 1785 a União de Escolas Dominicais. As igrejas passam a reconhecer e valorizar o programa e abrem as portas para receber a escola de Raikes. Gilberto (id ibidem, p. 115) comenta também que ―a Escola Dominical passou das casas particulares para os templos, os quais passaram a encher-se de crianças‖. Raikes se tornara o homem mais popular da Inglaterra em 1784, vindo a falecer em 1811. Engels nasceu em 1820 e em 1842, muda-se para Manchester, maior centro industrial da época para dirigir uma das filiais das fábricas têxteis do pai. Em 1844, escreve A Situação da Classe Operária na Inglaterra, publicada em 1845. Ao empreender uma expedição pelas cidades inglesas para entender como é a vida de seus operários, descobriu que sessenta e quatro anos após o início do Movimento de Escolas Dominicais, este tipo de ensino continuou bem presente na classe subalterna. O problema é que ele estava apresentando muitas falhas. Ao lado da dificuldade em realizar uma boa formação moral, havia ainda a falta de preparo e formação de professores, o cansaço físico e mental dos alunos e até a pregação ideológica contra os industriais, o que repercutia negativamente na visão do jovem sobre seu empregador. Quem lecionava eram homens leigos, geralmente trabalhadores aposentados, que geravam mais distorções do que instrumentos para uma transformação social. Segundo Engels, sem saber ler e escrever, os alunos entravam e saiam da mesma forma, e ainda criando um ódio do sistema. Entretanto, não era essa a intenção de Raikes. 3. As viagens de Engels pelas cidades inglesas Sessenta e cinco anos se passaram desde o início da Escola Dominical promovida por Raikes na Inglaterra até a publicação do livro de Friedrich Engels. Com certeza, quando em 6 1780 o jornalista britânico iniciou seu projeto, não imaginava que iria tomar a proporção que encontrou nas cidades de todo o país. Apesar do crescimento deste tipo de instituição, os resultados do capitalismo eram devastadores e não eram os resultados esperados por Raikes. Assim sendo, Engels, em determinado momento do capítulo Resultados, passará da situação material para a condição moral dos trabalhadores, ou seja, das condições econômicas para as questões de comportamento dessas pessoas. Para o filósofo industrial, há uma diferença gritante entre as condições da população e as formas de instrução minimizadas por estas condições. Os professores eram, segundo a pesquisa,―operários reformados e outras pessoas incapazes de trabalhar que só se dedicam ao ensino para poderem sobreviver‖ e estes ensinadores, segundo Engels (1975, p. 152) ―não possuíam os mais rudimentares conhecimentos e são desprovidos da formação moral tão necessária ao mestre‖. Quando o governo quis, no decurso da sessão de 1843, fazer entrar em vigor esta aparência de escolaridade obrigatória, a burguesia industrial opôs-se-lhe com todas as forças, se bem que os trabalhadores se tivessem pronunciado categoricamente a favor desta medida. De resto, numerosas crianças trabalham durante toda a semana em casa ou nas fábricas e por isso não podem frequentar a escola. Porque as escolas noturnas, onde devem ir os que trabalham de dia, quase não têm alunos e estes não tiram delas proveito algum. Na verdade, seria pedir demasiado aos jovens operários que se estafaram durante doze horas, que ainda fossem a escola das 8 as 10 da noite. Os que lá vão aí adormecem a maior parte das vezes, como constataram centenas de testemunhos no Children's Employment Report. É verdade que se organizariam cursos aos Domingos, mas tem falta de professores e só podem ser úteis aos que já frequentaram a escola durante a semana. O intervalo que separa um Domingo do seguinte é demasiado longo para que uma criança inculta não tenha esquecido na segunda lição o que aprendera oito dias antes no decurso da primeira. No relatório da Children's Employment Commission, milhares de provas atestam, e a própria comissão apoia, esta opinião categoricamente: que nem os cursos da semana nem os do Domingo correspondem, nem de longe, as necessidades da nação. Este relatório fornece provas da ignorância que reina na classe operária inglesa e que não seriam de esperar mesmo dum país como a Espanha ou a Itália. Mas não poderia ser doutro modo; a burguesia tem pouco a esperar, mas muito a temer da formação intelectual do operário. (ENGELS, 1975, p. 153) Aqui Engels observa como a religião era ativa nesta sociedade, quais são os programas que sugeriram para a educação inglesa e onde estavam as falhas nestes programas religiosos. Estas falhas fizeram com que os trabalhadores solicitassem do governo uma educação laica. A educação, então a cargo das igrejas, precisaria de uma reforma curricular teológica urgente: Assim, a Igreja anglicana funda as suas National Schools [escolas nacionais] e cada seita tem as suas escolas, com a única intenção de conservar no seu seio os filhos dos seus fiéis e se possível de arrebatar aqui e ali uma pobre alma infantil das outras seitas. A consequência disso é que a religião, e precisamente o aspecto mais estéril da religião, a polêmica, se torna o ponto fundamental da instrução, e que a memória das crianças é saturada de dogmas incompreensíveis e distinções teológicas: logo que isso é possível, desperta-se a criança para o ódio sectário e para a beatice 7 fanática, enquanto que toda formação racional, intelectual e moral é vergonhosamente negligenciada. Os operários já exigiram muitas vezes do parlamento uma instrução pública puramente laica, deixando a religião para os padres das diferentes seitas, mas ainda não encontraram um ministério que lhes tivesse concedido semelhante coisa. (id ibidem, p. 154). Esta solicitação aconteceu porque naquele momento a Igreja era, como Gramsci chamaria, de intelectual tradicional na Itália: O Sul caracterizava-se por ser, sob o ponto de vista socioeconômico, agrário e camponês e, culturalmente, tradicionalista e religioso. Nele, o modelo econômico capitalista em expansão não tinha a mesma força que adquiriu no Norte do país, pois encontrava fortes resistências culturais e ideológicas, sobretudo articuladas pela Igreja Católica e pelos intelectuais vinculados a ela. Gramsci identificou esses intelectuais comprometidos com a estrutura social "atrasada" do Sul como intelectuais tradicionais (Gramsci, 2000a, p. 22 e 23). Entre os mais típicos intelectuais tradicionais estavam os eclesiásticos, que detinham o monopólio ideológico e cultural e ligavam "o camponês meridional [...] ao grande proprietário rural" (Gramsci, 2004, p. 426). Eles não se comprometiam nem com a superação da condição de vida do povo nem com a atualização capitalista do padrão civilizatório e produtivo da nação emergente; estavam ligados a uma estrutura social preexistente - medievalesca – que se encontrava em franca decadência (MARTINS, 2014). O industrial alemão dizia que a religião brigava entre si e a sociedade continuava sem a cultura que deveria ser o compromisso de seu programa educativo. Enquanto isto, os industriais letravam, mas não alfabetizavam e usavam o mínimo para divulgar suas imagens: E hoje, enquanto estas seitas continuam a disputar a supremacia, a classe operária permanece inculta. É verdade que os industriais se gabam de ter ensinado a ler a grande maioria do povo, mas ―ler‖ é uma maneira de dizer, como mostra o relatório da Children's Employment Commission. Quem conhece o alfabeto já diz que sabe ler e o industrial satisfaz-se com esta piedosa afirmação. E quando pensamos na complexidade da ortografia inglesa, que transforma a leitura numa verdadeira arte que só pode ser praticada depois de um longo estudo, achamos esta ignorância compreensível. Muito poucos operários sabem escrever corretamente e, quanto à ortografia, mesmo grande número das próprias pessoas cultas a desconhecem. (ENGELS, op. cit., p. 154). Uma crítica a esta educação fora da escola nas igrejas da época é: Não se ensina a escrever nos cursos de Domingo da igreja anglicana, dos Quaker, e creio que de várias outras seitas, ―porque essa é uma ocupação demasiado profana para um Domingo‖. Alguns exemplos mostrarão que gênero de instrução é oferecido aos trabalhadores. (id). Esta crítica vem do filósofo comunista tanto sobre as falhas nas questões laicas quanto nas religiosas. Desconhecendo a própria geografia local, seus representantes, as personagens bíblicas e a matemática, os alunos das escolas de domingo tinham mais informações e sabiam discursar melhor sobre os infratores da lei. 8 Em Birmingham, diz o comissário Grainger, as crianças que interroguei são completamente desprovidas daquilo que só muito dificilmente poderia merecer o nome de instrução útil. Se bem que na maioria das escolas só se ensine religião, também neste domínio demonstraram a mais completa ignorância. (ENGELS, op. cit., p. 153) Passando por Wolverhampton, Engels constatou: […] uma rapariguinha de onze anos tinha frequentado o curso semanal e o de Domingo, e nunca tinha ouvido falar do outro mundo, do céu, ou doutra vida. Um rapaz de dezessete anos não sabia quantos eram 2 vezes 2, quantos farthings (1/4 de penny) há em 2 pence, mesmo depois de lho terem metido as moedas na mão. Alguns rapazes nunca tinham ouvido falar de Londres nem sequer de Willenhall, se bem que esta cidade ficasse a uma hora de caminho do seu domicílio e em constante comunicação com Wolverhampton. Alguns nunca tinham ouvido o nome da Rainha, nem nomes como Nelson, Wellington, Bonaparte. Mas é notável que aqueles que nunca tinham ouvido falar de São Paulo, Moisés ou Salomão, estivessem muito bem informados sobre a vida, os feitos e o caráter de Dick Turpin, o bandido das estradas, e principalmente de Jack Sheppard, esse ladrão é especialista em evasões. (id ibidem, p. 155). Engels continua tecendo críticas ao que era ensinado nas escolas dominicais, ou melhor, ao que não era ali ensinado. Estas crianças, a quem aborrecem com dogmas religiosos durante 4 ou 5 anos, no fim ficam tão sábias como dantes. Uma criança ―frequentouregularmente durante cinco anos o curso de Domingo; ignorava quem era Jesus Cristo, mas já tinha ouvido esse nome; nunca tinha ouvido falar dos doze apóstolos, de Sansão, Moisés, Abraão, etc.‖ Outro ―frequentou regularmente o curso de Domingo durante seis anos. Sabia quem era Jesus Cristo, que tinha morrido na Cruz, para verter o seu sangue a fim de salvar o nosso Salvador; nunca tinha ouvido falar de S. Pedro nem de S. Paulo‖ Um terceiro, ―frequentou sete anos várias escolas de Domingo, só sabe ler em livros pouco espessos, palavras fáceis, de uma só silaba; já ouviu falar dos apóstolos, não sabe se S. Pedro ou S. João eram um deles, mas sem dúvida que o era S. João Wesley (fundador dos Metodistas) etc.‖; a pergunta: quem era Jesus Cristo? Home obteve as seguintes respostas: era Adão; era um apóstolo; era o filho do Senhor do Salvador, e da boca de um jovem de dezessete anos: ―Era um rei de Londres, há muito, muito tempo‖. (id ibidem, p. 155,6). Em outra cidade inglesa, Sheffield, a situação era praticamente a mesma: Em Sheffield, o comissário Symons mandou ler os alunos das escolas de Domingo; eram incapazes de contar o que tinham lido, ou de dizer quem eram os apóstolos de que falava o texto que tinham acabado de ler. Depois de os ter interrogado a todos, um após outro, sobre os apóstolos, sem obter uma resposta correta, ouviu um gaiato com ar esperto exclamar com segurança: — Eu sei, Senhor, eram os leprosos. (id ibidem, p. 156). Como Friedrich não atentou apenas para os funcionários de suas indústrias têxteis, percebeu que o mesmo ocorria nas fábricas de tijolo e em outra cidade, Lancashire. A crítica continua sobre os burgueses e o Estado. Suas condições levam seus trabalhadores a terem uma instrução melhor, mas prejudicadas pelos dogmas religiosos: 9 Vemos o que a burguesia e o Estado fizeram pela educação e instrução da classe trabalhadora. Felizmente as condições em que esta classe vive dão-lhe uma cultura prática, que não só substitui o amontoado escolar, mas destrói igualmente o efeito pernicioso das confusas ideias religiosas em que está mergulhada, que coloca os trabalhadores, a cabeça do movimento nacional em Inglaterra. A necessidade leva o homem à descoberta e, o que é mais importante, fá-lo pensar e agir. (id). Os trabalhadores que estão sob estas condições (semianalfabetos e leigos religiosamente), desenvolvem uma critica econômica, conhecendo bem o sistema capitalista: O trabalhador inglês que mal sabe ler e ainda pior escrever, sabe, no entanto, muito bem qual é o seu próprio interesse e o da nação; sabe qual é o interesse específico da burguesia, e o que tem a esperar desta burguesia. Se não sabe escrever, sabe falar e falar em público; se não sabe contar, sabe, no entanto, o suficiente para fazer, com base em noções de economia política, os cálculos para desmascarar e refutar um burguês partidário da abolição da lei dos cereais; se, apesar do esforço a que se entregam os padres, as questões celestiais permanecem bastante obscuras para ele, não podia estar mais esclarecido sobre as questões terrenas, políticas e sociais. (id). Para Engels, esta é a melhor instrução: a política, que se faz ligada à instrução moral e religiosa, isso quando esta última não se revela obscura, arbitrária e aleatória: É óbvio que a instrução moral integrada na instrução religiosa em todas as escolas inglesas, não poderia ser mais eficaz do que esta. Os princípios elementares que, para o ser humano, regulam as relações entre os homens, estão voltados às mais terríveis das confusões, quanto mais não seja devido a situação social, a guerra de todos contra todos. Tem necessariamente que permanecer totalmente obscuros e estranhos ao operário inculto, quando lhe são expostos à mistura com incompreensíveis dogmas religiosos e sob a forma religiosa dum mandamento arbitrário e sem fundamento. (ENGELS, op cit, p. 156,7). No entanto, nos comentários de Engels, a Escola Dominical oferecia uma certa melhoria na vida dos adolescentes: Para compreender com que descaramento o nosso amigo Ure quer fazer acreditar ao público inglês as mais grosseiras mentiras, é preciso notar que o relatório compreende três grossos volumes in-folio que nenhum burguês inglês bem alimentado terá a ideia de estudar a fundo. Escutemo-lo ainda falar da lei de 1833/61 sobre as fábricas, votada pela burguesia liberal e que impõe a indústria apenas às limitações mais elementares, como veremos. Esta lei, em particular a obrigação escolar, (segundo ele, uma medida absurda e despótica tomada coletivamente aos industriais). Por causa dela, diz ele, todas as crianças abaixo dos doze anos ficaram privadas de trabalho, e qual foi a consequência disso? As crianças assim privadas do seu trabalho útil e fácil, deixam de receber dai em diante a menor educação: expulsas da oficina de fiação bem quente para o mundo glacial, só subsistem pela mendicidade e pelo roubo. Existência que apresenta um triste contraste com a situação constantemente melhorada que tinham na fábrica e na escola de domingo. Esta lei, diz ainda, agrava, sob a máscara da filantropia, os sofrimentos dos pobres e não pode deixar de constranger ao extremo, ou mesmo paralisar completamente o industrial consciencioso no seu trabalho. (id ibidem, p. 216,7) 10 Esta lei que Engels cita estipulava uma idade para começar a trabalhar (nove anos), o período de trabalho (trabalho noturno proibido para as crianças de nove a dezesseis anos). Se eram respeitadas pelos empregadores industriais, isso é outra história. Engels comenta que em Willenhail meninos e meninas trabalham juntos desde os dez anos em indústrias de forjar pregos, dormem, se alimentam e trabalham em precárias condições. Isso prejudica sua estrutura física e psicológica: Nesta região, o grau de instrução é incrivelmente baixo, metade das crianças nem sequer frequentam a escola ao domingo e a outra metade fá-lo com muita irregularidade; em comparação com outros distritos, muito poucos sabem ler e, quanto à escrita, pior ainda. Nada de mais natural, visto que entre o sétimo e o décimo ano que as crianças começam a trabalhar, precisamente no momento em que seriam capazes de frequentar a escola com rendimento, e os professores da escola de domingo – fogueiros ou mineiros – muitas vezes mal sabem ler, não sendo capazes de escrever o próprio nome. A moralidade corresponde perfeitamente a estes meios de instrução. (id ibidem, p. 254) O alto índice de poeira nas fábricas, a dificuldade de dormir com tranquilidade, a morte precoce por tuberculose, gera empecilhos para a escola: Nos distritos de cerâmica, asseguram-me que há um número importante de escolas que permitem que as crianças se instruam, mas como estas crianças vão desde muito cedo para a fábrica e aí tem de trabalhar muito tempo (frequentemente doze horas ou mais), estão impossibilitadas de aproveitar estas escolas. É por isso que três quartos das crianças examinadas pelo comissário não sabiam ler nem escrever; em todo o distrito reinava o maior analfabetismo. Crianças que, durante anos, tinham frequentado as escolas de domingo, eram incapazes de distinguir as letras e, em todo o distrito, não só a formação intelectual, mas também a formação moral e religiosa estavam a um nível muito baixo. (id ibidem, p. 254) As crianças e jovens que trabalhavam com ferro e carvão não tinham condições de assistir às aulas das escolas dominicais com total atenção. Estas crianças eram pegas por seus pais dormindo e estes as conduziam para casa tendo o cuidado de não acordá-las. Para Engels: Parece que estas crianças passam vulgarmente a maiorparte do domingo na cama para se recomporem um pouco das fadigas da semana; um número muito pequeno frequenta a igreja e a escola e os mestres queixam-se da sua sonolência e do seu embrutecimento apesar do seu desejo de se instruir. Acontece o mesmo aos adolescentes mais velhos e as mulheres. (id ibidem, p. 304) Quanto às que trabalhavam nas minas, Engels diz: No que diz respeito à instrução e a moralidade da população mineira, elas são segundo o Children's Employment Report, bastante boas na Cornualha e mesmo excelentes em Alston Moor; pelo contrario estão geralmente a um nível muito baixo nos distritos carboníferos. Estas pessoas vivem no campo em regiões deixadas ao abandono e, quando efetuam o seu duro trabalho, ninguém a não ser a policia se ocupa deles. Por esta razão, e também porque mandam as crianças trabalhar desde a mais tenra idade, a sua formação intelectual é totalmente negligenciada. Não podem 11 frequentar as escolas abertas durante a semana, as escolas da noite e de domingo são ilusórias, os professores não tem qualquer valor. Não há, por consequência, senão um pequeno número de mineiros que saibam ler, e menos ainda que saibam escrever. (ENGELS, 1975, p. 309) 4. O eclesiástico orgânico: A contribuição do ensino da Igreja na sociedade Tomando os conceitos de Gramsci sobre os intelectuais (tradicionais e orgânicos) e os eclesiásticos, pretende-se aqui pensar sobre a possibilidade de entender se haveria o eclesiástico orgânico. Para o pensador comunista italiano, os eclesiásticos são intelectuais tradicionais, vinculados à hegemonia, buscando mantê-la, principalmente os católicos. Ao substantivo Intelectuais podem ser atribuídos dois sentidos principais, aparentemente semelhantes, mas substancialmente diferentes. Em primeiro lugar, ele designa uma categoria ou classe social particular, que se distingue pela instrução e competência, científica, técnica ou administrativa, superior à média, e que compreende aqueles que exercem atividades ou profissões especializadas [...] uma segunda acepção, mais vulgar na publicidade de atualidade literária e política, para a qual Intelectuais são os escritores "engajados". Por extensão, o termo se aplica também a artistas, estudiosos, cientistas e, em geral, a quem tem adquirido, com o exercício da cultura, uma autoridade e uma influência nos debates públicos. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1992, p. 637. In: MARTINS, 2014). Gramsci diz que: ―pelo menos na história que se desenrolou até nossos dias – categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam, aliás, como representantes de uma continuidade histórica que não foi interrompida nem mesmo pelas mais complicadas e radicais modificações das formas sociais e políticas.‖ (GRAMSCI, 2001, p. 16). Isso quer dizer que, na opinião do antifascista, a Igreja assumia a função de buscar manter o controle frente às revoluções que transformaram a sociedade. São aqueles que estão desconexos com a realidade, por exemplo, Gramsci aponta os eclesiásticos que continuam a escrever em latim (id ibidem, p. 81). Sobre o segundo tipo de intelectual, Gramsci diz que ―é muito ampla a categoria dos intelectuais orgânicos, isto é, dos intelectuais nascidos no mesmo terreno industrial do grupo econômico‖ (GRAMSCI, p. 28). Isso quer dizer que o orgânico é aquele que nasce dentro do organismo social a ser pensado e transformado. Ao ser questionado que os intelectuais estão muito além das preocupações da classe trabalhadora, o deputado sardo respondia que os intelectuais são os próprios trabalhadores. Então, quem é o eclesiástico orgânico? Para ser orgânico, tinha que emergir da própria sociedade e pensar sobre ela. Foi assim, por exemplo, que se vê Engels, um burguês industrial participar de uma revolução 12 sangrenta e ser expulso da cidade alemã em que se instalara. Ele e Marx são exceção de capitalistas intelectuais orgânicos. Outro critério que define o conceito aqui discutido é o intelectual ser também eclesiástico. Porém, sua visão é social, e para isso relaciona-se com as vítimas das injustiças sociais, do trabalho, da opressão. A Bíblia (1995) é um ótimo campo de exploração para alguém que busca melhorias na sociedade. Lá, são encontradas afirmações como ―Amarás o teu próximo como a ti mesmo.‖ (Marcos 12:31), ―E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos.‖ (Atos 2:44-45), ―Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?‖ (Tiago 2:6) e ―E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?‖ (Tiago 2:15-16) Estes são assuntos que os eclesiásticos orgânicos tratariam na Escola Bíblica Dominical incentivando a igualdade, o respeito, o amor, a ação colaborativa. 5. A Assembleia de Deus e a Escola Dominical: um estudo de caso Dez anos após a publicação da pesquisa de Engels na Inglaterra, um casal de missionários britânicos funda no Brasil a primeira Escola Dominical na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. Em 1855, o médico e pastor escocês Robert Reid Kalley e a missionária Sarah Kalley, vindos da Igreja Presbiteriana, mas aderindo à Igreja Congregacional, contaram a história do profeta Jonas para cinco crianças pobres em sua casa. A ponto de completar cento e cinquenta anos de existência no país, a Escola Dominical está presente em todas as igrejas que se preocupam com a propagação do evangelho e o discipulado (aprofundamento dos cristãos na Bíblia). Mesmo assim: O Brasil defronta-se hoje com problemas espirituais, sociais e morais idênticos aos que precederam a fundação da Escola Dominical na Inglaterra, mormente no que tange a delinquência juvenil e desagregação da família. A solução cabal para esses males que tanto preocupam o governo e as autoridades em geral está na regeneração espiritual preconizada na Palavra de Deus, através da Escola Dominical. (GILBERTO, 1985, p. 117). Esta parte do artigo trata dos resultados da pesquisa exploratória de um bairro de um município do interior de São Paulo. Bairro relativamente novo, com cerca de vinte anos de formação e desenvolvimento, conta com apenas dez ruas, todas asfaltadas, sendo três delas, sem saída. No bairro, o único templo é o da centenária Igreja Evangélica Assembleia de Deus, ministério Belém. Há, além deste, como centro de comunidade evangélica, um santuário da 13 Igreja do Evangelho Quadrangular e uma residência que serve como célula da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, ministério Madureira. No Brasil (cuja população é de 190.755.799 de habitantes), conforme o IBGE 2010, constou-se que a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, dona da editora Casas Publicadoras das Assembleias de Deus (CPAD), a maior agência brasileira a produzir trimestralmente revistas da Escola Dominical é o terceiro grupo religioso com mais adeptos no Brasil, ficando abaixo apenas da Católica Apostólica Romana (123.280.172 de fiéis) e de vários segmentos sem religião (15.335.510 de adeptos). Os ―assembleianos‖ representam 6% do total da nação. Porém, se unir todos os cristãos (católicos e evangélicos), tem-se 86% e unindo todas as igrejas evangélicas (as de missão e as pentecostais), tem-se 22%. Abaixo são apresentados os resultados da pesquisa exploratória de um bairro de um município do interior de São Paulo. Bairro relativamente novo, com cerca de vinte anos de formação e desenvolvimento, conta com onze ruas, sendo seis delas sem saída.No bairro, o único templo é o da Assembleia de Deus, ministério Belém. Há, além deste, como centro de comunidade evangélica, um santuário da Igreja do Evangelho Quadrangular e uma residência que serve como célula da Igreja Evangélica Assembleia de Deus ministério Madureira: Qtde. de ruas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 TOTAL Nome da rua LM MIC AA PCS WLS JCR AF ABM CAF WKM VAC 11 ruas Qtde. de casas 5 12 6 32 17 7 50 16 17 11 6 179 Casas de crentes 0 1 1 9 16 2 9 3 7 4 5 57 O indicador agora passa a ser um templo da centenária Igreja Evangélica Assembleia de Deus no interior de São Paulo. A igreja pesquisada está em um bairro que, segundo o catálogo telefônico do município, tem 179 famílias. Destas, 57 frequentam as Igrejas Assembleia de Deus (32%). No templo local, frequentam noventa e um membros. Em relação aos grupos que formam a Igreja e os que frequentam a Escola Dominical: Grupos AD Belém Porcentagem Frequentam EBD Porcentagem dentro da classe Membros 91 membros 100% 37 35% Homens 18 20% 6 33% Mulheres 23 25% 6 26% Jovens 24 26% 10 42% Crianças 26 29% 15 58% 14 Os trinta e sete membros, vindos de vinte e cinco famílias (ainda um número restrito em relação ao total de fiéis e de moradores do bairro), são ensinados por sete professores e contam ainda com dois secretários. Será apresentada agora a formação acadêmica e teológica, além do cargo, da idade e do tempo de carreira da fé que cada professor possui: Função EBD Cargo na Igreja Idade (anos) Tempo de Igreja Classe que leciona Formação escolar Formação teológica Pastor/ Professor 1 Pastor 43 25 anos Todas Graduando em História Médio em Teologia Superintendente/ Professor 2 Presbítero 30 30 anos Adultos Mestrando em Educação Pós-graduação em Teologia Secretário 1/ Professor 3 Cooperador 20 03 anos Jovens Ensino Médio Básico em Teologia Secretária 2 Diaconisa 31 31 anos – Ensino Médio – Professora 4 Diaconisa 35 35 anos Jovens Ensino Médio – Professora 5 Cooperadora 20 14 anos Crianças EM (estudando) – Professora 6 Cooperadora 14 14 anos Crianças EF (estudando) – Professora 7 Cooperadora 12 12 anos Crianças EF (estudando) – Observa-se que no quadro acima há pouca formação acadêmica e teológica. Assim como era na Inglaterra oitocentista. No entanto, a igreja acredita que, muito além da formação, está a unção, a graça e outros fatores sobrenaturais que revestiriam o professor. Há versículos usados para pautar este tipo de formação e preparação para a docência na Igreja: Chegando o sábado, principiou a ensinar na sinagoga; e a maioria dos ouvintes ficou assombrada e disseram: ―Onde obteve este homem tais coisas? E por que foi dada tal sabedoria a este homem, e se realizam tais obras poderosas pelas suas mãos?" (Marcos 6:2 in: BÍBLIA, 1995, p. 1302) Ora, quando observaram a ousadia de Pedro e João, e perceberam que eles eram homens indoutos e comuns, ficaram admirados. E começaram a reconhecer a respeito deles que costumavam estar com Jesus. (Atos 4:13). In: id ibidem, p. 1484) Perguntando a alguns moradores do bairro que são frequentadores da referida Igreja sobre o índice de criminalidade e violência existente na vizinhança, comentaram que o lugar é calmo, mesmo com um ponto de tráfico de drogas no local. A presença da Igreja estimula uma paz entre todos os moradores e os não frequentadores têm acesso ao templo em várias ocasiões como festas de pastel, feijoada, brinquedos no dia das Crianças, favorecendo um laço de amizade entre os evangélicos e os demais habitantes. Sobre o papel da Igreja quanto ao resgate social, próprio do Cristianismo, presente em sua origem no primeiro século e no início da Escola Dominical, na Inglaterra do século 15 XVIII, os moradores comentaram que falta um projeto mais condensado de evangelização, pregação da Palavra e discipulado, embora haja algumas ações evangelísticas. Além das referidas aberturas da Igreja para a comunidade em torno de festas e atividades para crianças, há uma ação mais litúrgica, como cultos ao ar livre, saídas da Igreja em massa para entrega de folhetos e convites para assistir aos cultos, o que recebem de três a quatro pessoas por cultos semanais. Muitos vêm com rara frequência, mas sem perder o contato com os assíduos. Uma vez que quase todos os jovens do bairro frequentam a escola formal, a Igreja dá mais ênfase para a doutrina da fé sem descuidar do exercício e prática da conduta, da ética e da moral, promovendo dentro da Igreja, com seus membros e com os jovens, espaço para realização de cultos, ensaios de louvor, banda musical, teatro, coreografia, orações, gincanas, estudos bíblicos (como na Escola Bíblica Dominical) e até momentos de lazer, como chácaras, excursões e visitas a outras congregações, à igreja sede e à casa dos outros jovens, incluindo aqueles que enfraqueceram a relação com os demais componentes do grupo dos jovens. Pode-se dizer que são as professoras do departamento infantil que têm mais dificuldade em trabalhar uma história escrita devido ao desenvolvimento das crianças. As revistas de domingo possuem propostas pedagógicas que ajudam a alfabetizar os pequenos. CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível perceber aqui a fase embrionária de um projeto que exige um aprofundamento prático. O passo inicial, que é a historicidade e alguns elementos teórico- metodológicos e conceituais, foi apresentado, porém, a prática será fundamental sobre como poderia efetivamente formar estes professores, reconhecer a importância da escolarização e a formação continuada. Para esta nova classe de intelectuais, os eclesiásticos orgânicos, fica o desejo de pesquisar sobre sua prática docente e seu papel dentro do movimento social que é a educação que se desenvolve na igreja, mas com interesse na contribuição para a sociedade. A máxima cristã de ―estar no mundo, mas não ser do mundo‖, não pode ser vista como alienação religiosa e como desprezo à realidade da vida. O judaísmo, o cristianismo, Raikes, Kalley, Engels, em diferentes proporções, sempre procuraram uma dialética entre materialismo e espiritualidade, realidade e esperança, ensino e aplicação na prática. Discutir a educação fora da escola é preparar o homem e neste caso o homem religioso para viver em sociedade. Para concluir, o propósito final seria o de provocar entre os eclesiásticos a tomada de postura de sua função social, ao mesmo tempo levar a sociedade e as instituições, entre elas a academia, que se pretendem laicas, a reconhecer como legítimo este movimento social. 16 REFERÊNCIAS Bíblia de Estudo Pentecostal Aplicação Pessoal. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Rio de Janeiro: CPAD, 1995. BOTTOMORE, Tom (editor). Vocabulário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. ENGELS, Friedrich. A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra. Porto: Edições Afrontamento, maio de 1975. GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Pela excelência do ensino da Palavra de Deus. São Paulo: CPAD, 1998. GRAMSCI, Antonio, Cadernos do cárcere, volume 2. Coutinho, Carlos Nelson (edição e tradução). 2a ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Sistema IBGE de Recuperação Eletrônica (SIDRA). 2010. Características Gerais da Religião. Disponível: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Defi ciencia/tab1_4.pdf. Acesso em: 08 jun. 2014. JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. DicionárioBásico de Filosofia. 4ª ed. atualizada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. . MARTINS, Marcos Francisco. Gramsci, os intelectuais e suas funções científico-filosófica, educativo-cultural e política. Pro-Posições vol.22 no. 3 Campinas set./dez. 2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000300010. Acesso em: 07 jun. 2014. MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel, 1843 / Karl Marx; tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus; [supervisão e notas Marcelo Backes]. - [2. ed. revista]. - São Paulo: Boitempo, 2010.
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