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TEORIA GERAL DOS RECURSOS

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TEORIA GERAL DOS RECURSOS
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Considerações: O sistema de impugnação da decisão judicial é composto dos seguintes instrumentos:
 
I) Recursos: meio de impugnação voluntário da decisão judicial, dentro do mesmo processo em que é proferida. Ex: apelação
II) Sucedâneos recursais externos/Ações autônomas de impugnação: instrumento de impugnação da decisão judicial, pelo qual se dá origem a um novo processo, cujo objetivo é o de atacar a decisão judicial. Ex: Ação rescisória, embargos de terceiro, MS, HC e querela nullitatis.
III) Sucedâneos recursais internos: categoria que engloba todas as demais formas de impugnação da decisão. Ex: Reexame necessário, pedido de reconsideração, impugnação e embargos à execução, pedido de suspensão da segurança.
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Recurso 
 
Conceito
 
É o meio ou remédio voluntário impugnativo, apto a provocar dentro da relação processual em curso o reexame da decisão pela mesma autoridade que a prolatou ou por órgão hierarquicamente superior com a finalidade de reformar, invalidar ou esclarecer a decisão.
 
José Carlos Barbosa Moreira diz: “é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”
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Características Essenciais dos Recursos:
I) voluntariedade
II) expressa previsão legal (Lei Federal)
III) desenvolvimento no próprio processo no qual a decisão impugnada foi proferida
IV) manejável pelas partes, terceiros prejudicados e MP
V) objetiva reformar, anular, integra ou esclarecer decisão judicial.
 
Objetivos do recorrente
- Reformar: é quando se busca modificar a solução dada à lide devido a um erro de julgamento (erro in judicando), quando o magistrado profere uma declaração errônea da vontade concreta da lei.
- Invalidar: é quando se pretende anular a decisão em decorrência da decisão impugnada ter sido proferida em descumprimento de uma norma processual (erro in procedendo).
- Esclarecer: quando busca afastar a falta de clareza do julgado, a decisão é obscura ou contraditória. Recurso cabível: embargos de declaração.
- Integrar: o recurso é destinado a suprir omissões. Recurso cabível: embargos de declaração.
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Classificação Recursal 
 
Quanto à extensão (abrangência) da matéria
 
A sentença (leia-se decisão) pode ser impugnada no todo ou em parte. (art. 505). Assim, em regra, o objeto do recurso está limitado pela decisão recorrida.
 
- Recursos parcial: somente uma parcela da decisão (conteúdo impugnável) que gerou a sucumbência da parte recorrente é objeto do recursos (ver Capítulos de Sentença – U1:: O Cap. não impugnado fica acobertado pela preclusão, e se tratar de capítulo de mérito, ficará imutável pela coisa julgada material.)
- Recursos total: têm por objeto a integralidade da parcela da decisão (conteúdo impugnável) que tenha gerado sucumbência à parte recorrente. Se o recorrente não especificar a parte em que impugna a decisão, entender-se-á total o recurso.
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Quanto à Fundamentação recursal: causa de pedir
 
Todo recurso devesa ser devidamente fundamentado (princípio da dialeticiadade), devendo o recorrente expor os motivos recursais, justificando seu pedido.
 
- Fundamentação Livre (regra): quando o recorrente pode de forma franqueada (livre) deduzir qualquer tipo de crítica em relação à decisão. Não há limitação legal a priori (há limitação lógica e jurídica). Ex: Apelação, agravo, embargos infringentes.
- Fundamentação Vinculada: a lei vincula o tipo de crítica que pode ser feita contra a decisão, que é a condição de admissibilidade do recurso. Ex: Resp, Rex e embargos de declaração.
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Quanto independência ou subordinação
- Independente ou principal: é aquele oferecido pela parte dentro do prazo recursal.
- Subordinado ou adesivo: é aquele interposto no prazo de contrarrazões de recurso apresentado pela parte contrária. 
Quanto à marcha do processo
- Suspensivo: suspende a marcha do processo, impede o início da execução.
- Não- suspensivo: permite a execução da decisão de forma provisória.
 
Natureza Jurídica
É aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação.
 
Atos processuais sujeitos a recurso
 - sentença, acórdão, decisão interlocutória, despacho (alguns autores afirmam que quando o despacho tiver cunho de decisão cabe recurso – Humberto Teodoro).
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Efeitos dos Recursos 
 
Considerações: Tradicionalmente os efeitos dos recursos são limitados aos efeitos devolutivo e suspensivo. Há porém outros efeitos que merecem análise, que normalmente são abordados pela doutrina junto ao efeito devolutivo, mas que pouca importância têm para praxe jurídica.
 
A)Devolutivo: transferência ao órgão ad quem do conhecimento de matérias que já tenha sido objeto de decisão do juízo a quo. Em verdade não há devolução, e sim transferência do órgão prolator da decisão impugnada para o órgão julgador. Todo recurso gera efeito devolutivo.
 
B)Suspensivo: impossibilidade da decisão impugnada gerar efeitos enquanto não for julgado o recurso interposto. Ex: A interposição de apelação cujo efeito suspensivo seja concedido impede a geração dos efeitos da sentença até seu julgamento final, ao passo que a não interposição da apelação, produz trânsito em julgado, havendo liberação dos efeitos daquela decisão.
 
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B1) Efeito suspensivo próprio: ope legis, no qual a própria lei trás a previsão do efeito suspensivo como regra.
 
B2) Efeito suspensivo impróprio: ope judicis, no qual caberá ao Juiz no caso concreto, preenchidos os requisitos legais, conceder ou não o efeito suspensivo.
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Translativo: possibilidade do Tribunal conhecer matérias de ordem pública de ofício no julgamento de recurso. A doutrina majoritária entende como conseqüência do efeito devolutivo.
 
Efeito expansivo: Haverá sempre que o julgamento do recurso ensejar decisão mais abrangente do que a matéria impugnada (objetivo), ou ainda quando atingir sujeitos que não participaram como partes no recurso (subjetivo).
 
Obstativo: Diz respeito à preclusão temporal e a sua relação com a interposição do recurso. A doutrina majoritária aponta que o ingresso de qualquer recurso impede a geração da preclusão temporal, com o consequente trânsito em julgado, que somente se verificará após o devido julgamento do recurso. Não impede a preclusão, mas suspende a ocorrência até julgamento do recurso.
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Substitutivo: Art. 512: consiste na força do julgamento de qualquer recurso em substituir, para todos os efeitos a decisão recorrida, nos limites da sua impugnação.
 
Regressivo: permite que, por via do recurso, a causa volte ao conhecimento do juízo prolator da decisão originária. Ex: agravo e apelação (contra indeferimento PI – art. 296)
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PRINCÍPIOS RECURSAIS
 
Duplo grau de jurisdição: 
 
A) Considerações: o duplo grau de jurisdição é inconfundível com o recurso, apesar de se tratar de princípio recursal. O simples reexame da decisão da causa será feito, em regra, por meio de recurso, mas somente nas hipóteses em que tal exame for feito por órgão superior, é que verifica-se o duplo grau. Assim, a doutrina majoritária entende ser necessária a diferença hierárquica entre os órgãos jurisdicionais.
 
B) Conceito: possibilidade de revisão (reexame) da solução da causa por órgão hierarquicamente superior (regra), possibilitando uma segunda opinião concernente àquela solução (decisão). Pode ser voluntário (impugnação da decisão judicial pelo sucumbente) ou necessário (obrigatório nos casos de sentença contra fazenda pública).
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C) Conclusão: A doutrina considera que o Duplo Grau de jurisdição é a regra do sistema, mas pode ser afastado por norma infraconstitucional em determinados casos, em respeito a outros princípios constitucionais, em especial os princípios da celeridade e da economia processual. Ex: recurso inominado (art. 41 da Lei 9.099/95 – colégio recursal – juízes de primeiro grau)
e teoria da causa madura (art. 515, § 3º)
 
Princípio da Taxatividade: somente pode ser considerado recurso o instrumento de impugnação que estiver expressamente previsto em lei federal como tal (art. 22, I, da CF). É defeso às partes criar recursos não previstos no ordenamento jurídico processual.
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A) Recursos Previstos - ART. 496: Rol Taxativo (numerus clausus)
- apelação (art. 513);
- agravo (art. 522)
- embargos infringentes* (art. 530) (será extinto pela reforma do CPC)
- embargos de declaração (art. 535)
- recurso ordinário (art. 539)
- recurso especial (art. 541)
- recurso extraordinário (art. 541)
- embargos de divergência (art. 546)
 
B) Recursos Previstos na Legislação Extravagante:
- embargos infringentes contra sentença (art. 34 da Lei 6.830/80)
- recurso inominado contra sentença (art. 41 da Lei 9.099/95)
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OBS: NÃO SÃO RECURSOS: o recurso adesivo, o reexame necessário, o pedido de reconsideração, o incidente de suspeição, a correição parcial, a reclamação constitucional, o mandado de segurança, a cautelar originária, a uniformização de jurisprudência, o incidente de inconstitucionalidade, a homologação de sentença estrangeira, a carta rogatória e a ação rescisória.
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Princípio da singularidade: Em regra, só é permitido uma espécie recursal como meio de impugnação de cada decisão judicial. Em casos de litisconsórcio ou sucumbência recíproca, será permitido a interposição concomitante de mais de um recurso contra a mesma decisão, considerando que esse terá a mesma natureza jurídica.
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Exceções:
Possibilidade de opor embargos declaratórios e outro recurso contra a mesma decisão;
Possibilidade de interposição simultânea de recurso especial e extraordinário (Súmula 126 STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário).
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Tratando-se de acórdão com capítulos denegatório e concessivo em mandado de segurança originário de tribunal regional ou local, são cabíveis recursos ordinário, extraordinário e especial.
Fora estas exceções, caso sejam interpostos mais de um recurso contra uma mesma decisão, o recurso interposto por último sofrerá juízo de admissibilidade negativo, diante da preclusão consumativa ocorrida com a interposição do primeiro recurso.
 
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OBS: Decisão como um todo indivisível: a singularidade somente poderá sobreviver como princípio recursal sendo desconsiderados os capítulos da decisão para fins de recorribilidade, sendo levado em conta a decisão como um todo indivisível, conforme entendimento do STJ (Info. 403 – Resp 1.035.169-BA)
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Princípio da Voluntariedade: vincula a existência de recurso à vontade da parte sucumbente, que demonstra sua vontade de recorrer interpondo o recurso cabível. Não pode o juiz, em qualquer hipótese, interpor recurso de ofício, mesmo percebendo equívoco em sua decisão.
OBS: A parte pode expressar sua vontade de não recorrer de três formas: a) não interpondo o recurso; b) praticando ato que demonstra concordância (aquiescência) com a decisão proferida; ou c) renunciando o direito de recorrer (desistência do prazo recursal).
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Princípio da Dialeticidade: Somente diante dos argumentos do recorrente o recorrido poderá rebatê-los, o que fará nas contrarrazões recursais (característica dialética do recurso). Diz respeito ao elemento descritivo dos recursos, ou seja, aquele consubstanciado nos fundamentos (causa de pedir: error in judicando e error in procedendo) e no pedido (anulação, reforma, esclarecimento, integração) constantes do recurso.
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Motivações: permitir ao recorrido a elaboração das contrarrazões e fixar os limites da atuação do Tribunal no julgamento do recurso (fundamentação da pretensão recursal).
Princípio da Fungibilidade: Significa troca ou substituição e, no âmbito recursal, significa receber um recurso pelo outro. É a flexibilização do pressuposto de admissibilidade recursal do cabimento, sendo aplicada excepcionalmente. A fungibilidade se funda no princípio da instrumentabilidade das formas, amparando-se na idéia de que o desvio da forma legal sem a geração de prejuízo não deve gerar nulidade do ato processual.
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Requisitos formais:
I) Dúvida objetiva: Dúvida fundada a respeito do recurso cabível:
A ocorrência da dúvida objetiva se verifica diante de diversas situações em que tanto a doutrina, quanto a jurisprudência e, por vezes, a própria lei divergem em relação ao recurso cabível no caso concreto.
II) Inexistência de erro grosseiro: erros justificáveis. Não cabe por imperícia do patrono.
 
III) Inexistência de má-fé: teoria do prazo menor (STJ)*
Mesmo no caso de fungibilidade, ainda que passível de críticas é dominante o entendimento de que o recurso impróprio deve ser manejado no prazo do recurso cabível.
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Hipóteses de ocorrência da fungibilidade
Embargos de declaração contra decisão monocrática; entretanto, no STF, a jurisprudência desta corte é pacífica em entender que não cabem embargos de declaração contra decisão monocrática de relator;
Apelação e agravo na arguição de falsidade (art. 395 CPC);
Apelação contra o deferimento liminar da petição de reconvenção;
Apelação em execução fiscal (diante da inexatidão do valor da alçada – art. 34 da Lei 6.830/80);
Apelação e agravo em assistência judiciária;
Apelação e agravo na verificação dos créditos na insolvência civil;
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Princípio da proibição do reformatio in pejus: Proibição do Reformar para pior. A decisão, na pior das hipóteses para o recorrente, será mantida. Não há previsão legal.
 
OBS: O reformatio in pejus é excepcionalmente admitido na aplicação do efeito translativo dos recursos, por meio do qual se admite que o Tribunal conheça de ofício a matéria de ordem pública.
OBS2: reformatio in pejus e reexame necessário – é proibida a reforma para agravar a situação nos casos de reexame necessário (art. 475 do CPC). Súmula 45 STJ: No reexame necessário, é defeso ao Tribunal agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.
 
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OBS3: reformatio in pejus indireta – acontece quando o Tribunal anula a decisão recorrida e o juiz ao proferir nova decisão agrava a situação do único recorrente. No processo civil é perfeitamente possível, posto que a sentença anulada não era ato jurídico válido. Na verdade, não há reformatio em pejus alguma. No processo penal isso não é permitido.
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Princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias: Art. 522, caput, CPC. Defendido por parte da doutrina, mas foco de grande dissenso doutrinário.
O art. 522 prevê a possibilidade de agravo (retido ou instrumento) na grande maioria das decisões interlocutórias.
 
Nos Juizados Especiais (procedimento sumaríssimo) vigora o princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias, prevalecendo entendimento de não cabimento de agravo contra decisão interlocutória (salvo nos casos de tutela de urgência – art. 5º da Lei 10.259/01)
Assim, entendemos em regra não vigorar tal princípio no Direito Processual Civil Brasileiro, embora haja divergências doutrinárias.
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Princípio da Complementaridade: As razões recursais devem ser apresentadas no ato de interposição do recurso, não se admitindo que o recurso seja interposto num momento procedimental e as razões apresentadas posteriormente, como ocorre no processo penal.
 Princípio da preclusão consumativa: é vedado complementar o recurso com novas razões. Caso nenhuma fundamentação seja apresentada, o recurso será inadmitido.
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Pelo princípio da complementariedade a parte recorrente poderá complementar as razões de recurso já interposto sempre que no julgamento de embargos de declaração interpostos pela parte contrária for criada nova sucumbência (translativo).
Ex: Fulano ingressou contra Ciclano e pediu
A, B e C. Ciclano foi condenado a B e C, omisso o Juízo quanto a A. Ciclano apelou quanto a C. Fulano entrou com embargos diante da omissão de A, obtendo provimento favorável. Assim, Ciclano poderá COMPLEMENTAR seu recurso quanto a A (nova sucumbência) mas não poderá aproveitar para impugnar B.
OBS: O STJ tem exigido a complementação do recurso, com reiteração do pedido no caso de embargos de declaração.
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Princípio da Consumação: interposto recurso, é vedada sua substituição por outro, ainda que dentro do prazo recursal (Princípio da preclusão consumativa). Interposto o recurso, ocorre a consumação do respectivo direito de recorrer. O legitimado não pode, após a interposição, aditar, complementar, ou oferecer, ainda que no prazo, novo recurso contra o mesmo decisum. Ainda, pelo princípio da consumação, o recurso deve estar completo no momento da interposição.
 
O “segundo” recurso será considerado juridicamente inexistente, visto que ao apresentar o primeiro recurso, extinguiu-se o direito recursal.
 
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OBS: Se o advogado ingressar com agravo retido (oral) não poderá, no prazo de 10 dias, ingressar com agravo de instrumento pedindo a substituição daquele por esse. Veremos melhor quando do estudo de agravo.
 
OBS2: Tal princípio incide ainda em relação ao recurso adesivo. Interposto o recurso adesivo, o recorrente consuma seu direito de recorrer e não poderá utilizar a via recursal principal. Do mesmo modo, caso o legitimado, vencido parcialmente, tenha interposto apelação, não poderá posteriormente recorrer pela via adesiva quanto a pedido que fora julgado improcedente e que não fora objeto da apelação.
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Princípio do Esgotamento da Vias Recursais: Exige que o vencido utilize todos os recursos cabíveis perante o juízo a quo, antes de interpor recurso ao juízo ad quem. É que só há julgado proferido em única ou última instância após a utilização do último recurso cabível perante o juízo a quo.

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