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APS - A Psicose Puerperal Como Causa do Infanticídio

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FACULDADE DE ENSINO E CULTURA DO CEARÁ
CURSO DE DIREITO
A PSICOSE PUERPERAL COMO CAUSA DO INFANTICÍDIO
FORTALEZA-CEARÁ
Abril/2015
A PSICOSE PUERPERAL COMO CAUSA DO INFANTICÍDIO
COLABORADORES
Amonay Marresa Arrais Alves de Souza R.A. 22010003079
Breno Oto R.A. 22010003062
Cristiane Guimarães Gurgel Barreto R.A. 22010003060
Francisco Gonçalves Mourão R.A. 22010003063
Jeovângela da Silva Freire R.A. 22010002657
José Flaviano Gomes da Silva R.A. 22010002687
Atividades Práticas Supervisionadas, trabalho apresentado como exigência para a avaliação do segundo bimestre em disciplina do 5º semestre do Curso de Direito da Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará, sob a orientação da Professora Juliana Oliveira.
Fortaleza-Ceará
Abril/2015
SUMÁRIO:
Resumo
1. Considerações iniciais...........................................................................04
2. Fase puerperal e depressão pós-parto.................................................05
3. Psicose puerperal.................................................................................08
3.1. Diferença entre depressão pós-parto e psicose puerperal................09
4. Posicionamento da doutrina e da legislação brasileira.........................10
4.1. Configuração do Infanticídio...............................................................11
5. Considerações finais..............................................................................15
6. Referências bibliográficas
RESUMO
O presente trabalho analisa o transtorno psicótico que acomete mulheres no período do puerpério chamado Psicose Puerperal, expondo seu conceito e os principais sintomas, sob o ponto de vista científico para compreendermos o estado psíquico em que se encontra a puérpera (mulher em fase puerperal). Faremos uma explanação sobre o tema à luz da legislação brasileira, buscando reforço na doutrina, para tentarmos captar a compreensão dos nossos legisladores em relação ao crime de infanticídio durante o estado puerperal.
Palavras-chave: Puerpério. Psicose Puerperal. Transtorno Depressivo. Direito Penal. Infanticídio.
ABSTRACT
This paper analyzes the psychotic disorder that affects women in the puerperal period called puerperal psychosis, exposing his concept and the main symptoms, from the scientific point of view to understand the mental state in which is found the postpartum (puerperal woman in phase). We will make an explanation on the subject in the light of the Brazilian legislation, seeking to strengthen the doctrine, to try to capture the understanding of our legislators regarding the crime of infanticide during the puerperal state.
Keywords: Puerperium. Puerperal psychosis. Depressive Disorder. Penal Law. Infanticide.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Não haveria muito a se discutir sobre esse momento tão especial na vida de uma mulher que é a gestação, embora sendo uma dádiva de Deus, se não discutíssemos a respeito das várias condições emocionais a que ela se expõe a partir dessa concepção.
 Torna-se inegável relatar os fatores como planejamento, condição financeira e com muita ênfase ao estado emocional a que se condiciona a mulher, pois trata cientificamente de alterações físicas e psicológicas de sua estrutura, causando após o nascimento a chamada fase puerperal e, na maioria dos casos, desenvolvem-se na mulher quadros de transtornos psicológicos.
Faremos uma abordagem de modo globalizado, trazendo algumas considerações sobre o assunto, mostrando a diferença entre depressão pós-parto e psicose puerperal e esclarecendo sobre o posicionamento da doutrina a respeito da configuração do infanticídio.
Desse modo, esperamos alcançar com devida clareza, mas de maneira concisa, o objetivo desta atividade.
FASE PUERPERAL E DEPRESSÃO PÓS-PARTO
É chamada de puerpério a fase pós-parto, em que a mulher passa por modificações físicas e psíquicas até que os seus órgãos reprodutores retornem ao estado anterior à gravidez. Esse período inicia-se após o desligamento da placenta com o organismo materno, logo após o nascimento do bebê, pois é nesse momento que cessa a interação hormonal. Nos casos de óbitos fetais intrauterinos, o puerpério também pode ocorrer com a placenta ainda inserida na gestante.
Segundo o Dr. Eduardo Roberto Alcântara Del-Campo (2005, p. 208), o puerpério é comum a todas as mulheres que dão à luz:
O parto, ainda que possa produzir pequenos transtornos psicológicos, como emotividade exacerbada e depressão pós-parto, não deve induzir transtornos de gravidade. O puerpério é um quadro fisiológico que atinge as mulheres que dão à luz, sendo raras as alterações de cunho psicológico graves como a psicose puerperal.
Esse período geralmente termina quando a puérpera (mulher em fase puerperal) retorna a sua função reprodutiva, ou seja, a ovulação. O término é impreciso, podendo a primeira ovulação ocorrer após seis a oito semanas do parto, nas puérperas que não amamentam. Nas que amamentam, é praticamente imprevisível o retorno da ovulação, sendo de seis a oito meses, dependendo da frequência das mamadas.
O médico psiquiatra Dr. Frederico Navas Demetrio, supervisor do Ambulatório de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, explana cientificamente as transformações pela qual passa a puérpera, e nos traz a explicação mais aceitável pela comunidade médica para o acontecimento desse transtorno, nas seguintes palavras:
 O pós-parto é um período de deficiência hormonal. Durante a gestação, o organismo da mulher esteve submetido a altas doses de hormônios e tanto o estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios. De repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai vertiginosamente, o que pode ser um fator importante no desencadeamento dos transtornos pós-parto. Mas esse não é o único fator. Todos os sintomas associados ao humor e às emoções são multideterminados, ou seja, não têm uma causa única. Portanto, não é só a deficiência hormonal que está envolvida tanto na tristeza pós-parto, quanto no quadro mais grave que é a depressão pós-parto.
Na fase puerperal, o organismo está retornando ao seu estado natural, pré-gravídico. É possível que as mudanças hormonais desencadeiem a depressão pós-parto (DPP), que tem relação direta com o tema proposto neste artigo, mas devemos alertar que são dois quadros totalmente diferentes. A depressão pós-parto é mais séria do que a conhecida “baby blues”, ou “blues puerperal”, que consiste em uma melancolia passageira nos primeiros dias que se seguem do parto e tende a desaparecer em questão de dias. Segundo o Doutor Drauzio Varella, 50 a 80 por cento das mulheres apresentam certa tristeza nesse período que dura uma semana, dez, quinze dias no máximo, e desaparece espontaneamente. 
“Se esse sentimento for passageiro e desaparecer em alguns dias, não há motivo para preocupação. Seu organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais nos últimos tempos que podem ter mexido com o sistema nervoso central.”, afirma o Dr. Dráuzio Varella sobre a mulher em estado puerperal.
A maioria das mães consegue superar a tristeza inicial, porém, uma mulher com DPP tende a ficar cada vez mais ansiosa e arroubada de sentimentos ruins. Pode, também, acontecer da mulher já estar deprimida antes do nascimento do bebê e continuar a nutrir os mesmos sentimentos.
É importante assinalar que para distinguir a tristeza da depressão pós-parto é preciso determinar se o transtorno é disfuncional, isto é, se interfere no cotidiano.
O critério usado para diagnóstico da DPP é o mesmo usado para a depressão clássica, podendo ser incluídos outros sintomas,como culpa por ser uma má mãe ou sensação de que algo ruim acontecerá ao bebê. Esses pensamentos ajudam a distinguir a depressão puerperal dos demais tipos de depressão (Maria Gonçalves. Psiquiatria na prática médica. Vol. 15. 2010).
Alguns sinais e sintomas da depressão pós-parto são: irritabilidade; apatia; impaciência com os filhos e com o parceiro; choro constante; exaustão contínua acompanhada de insônia; visão de mundo distorcida, sensação de que nada vale à pena; incapacidade de se aprazer pelas atividades; ansiedade em relação ao bebê e busca constante por garantias de profissionais da saúde de que ele está bem; preocupação com a própria saúde, acompanhada pelo temor de ter alguma doença grave; sensação de que o bebê não é o seu próprio filho.
Não há entre os especialistas um consenso sobre o porquê de algumas mulheres ficarem deprimidas e outras não. Entretanto, existem algumas situações que podem contribuir para que umas estejam mais propensas do que outras, como, por exemplo: já ter passado por uma depressão; parto difícil; perda de um ente querido ou da própria mãe na infância; problemas financeiros, de moradia; o nascimento de um filho prematuro ou com a saúde comprometida. É possível que a mãe em estado de transtorno depressivo, experimente outros sentimentos além dos mencionados anteriormente, como: perda de libido; falta ou excesso de apetite; problemas de memória, entre outros.
Para obter o diagnóstico correto é necessário que se faça o acompanhamento com profissional adequado, pois, segundo o Dr. Frederico Navas, em psiquiatria não existem exames complementares para respaldar o diagnóstico, que depende basicamente dos sintomas e sinais que a pessoa apresenta, de como eles se manifestam ao longo do tempo e de sua intensidade; diferentemente de um diagnóstico em que o paciente apresenta queixa de fraqueza e palidez cutânea e o médico pede um hemograma que confirma a suspeita de anemia.
Sem mais delongas, passaremos a tratar no capítulo a seguir, o instituto da psicose puerperal e, posteriormente, faremos uma análise sobre as implicações jurídicas desse transtorno adentrando a ceara criminal.
PSICOSE PUERPERAL
A psicose puerperal é o transtorno pós-parto mais grave, que atinge apenas quarto entre mil mulheres. Esse transtorno consiste em um episódio grave de doença mental que começa de repente. Os sintomas variam e podem mudar rapidamente. Podem ser estreitos os limites entre o fisiológico e o patológico, o que gera dúvida entre os estudiosos da área.
Essa psicose geralmente começa nas primeiras duas semanas após o nascimento e, em regra, os sintomas aparecem nos primeiros dias, sendo raros os casos em que a doença se apresenta mais tarde.
De maneira precoce, os sintomas incluem: dificuldade para dormir, sentimento de inquietude, irritação, ter crenças estranhas (por exemplo, acreditar que as pessoas estão tentando prejudicar o bebê). 
Os sintomas mais tardios incluem dois tipos: os sintomas maníacos (por exemplo: alucinações, como ouvir vozes ou ver coisas que não existem; delírios; acreditar em coisas que não são baseadas na realidade e falar de maneira acelerada) e os sintomas depressivos (por exemplo: energia baixa; não dormir ou comer; ter pensamentos de machucar a si mesma ou ao bebê; sentimento de desesperança ou desamparo).
As mulheres afetadas podem ter alteração de humor em um curto espaço de tempo e dificuldade de concentração. Pacientes com sintomas de psicose puerperal correm alto risco de ferirem a si mesmas e aos outros (incluindo o bebê).
Existe tratamento específico para psicose puerperal, tanto medicamentoso, quanto psicológico. Segundo a psiquiatra Escosteguy, é grande a importância de fornecer à mãe, durante a internação, um vínculo com a equipe, que a forneça segurança e acolhimento.Os sintomas mais graves tendem a sair de 2 a 12 semanas, enquanto a recuperação total pode levar de 6 a 12 meses, sendo importante a presença e o acompanhamento da família, de psicólogos e de psiquiatras durante o tratamento. A maioria das mulheres se recupera totalmente, os resultados são bons e satisfatórios.
Observa-se que se tem dado cada vez mais importância ao tema. Os estudos atuais têm visado demarcar os fatores de risco, a fim de se poder realizar diagnóstico e tratamento o mais precoce possível. Todavia, mesmo que o assunto venha sendo bastante pesquisado nas últimas décadas, ainda não há especificação para essa patologia na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). O Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais (DSM-IV-TR), e sua quarta edição, não distingue os transtorno de humor do período pós-parto dos que ocorrem em outros períodos.
3.1. Diferença entre depressão pós-parto e psicose puerperal
A depressão pós-parto é comumente confundida com a psicose puerperal, todavia, como já mencionado, são modalidades de transtornos bem diferentes. A relação que há entre ambos é o fato de a depressão no momento do puerpério ser um sintoma fundamental para compor o fenômeno da psicose. Segundo o Dr. Navas, os casos de psicose puerperal são, felizmente, muito raros, com estimativa de um caso para cem mil nascimentos.
Essa doença é muito grave e tem o seu início precoce. Logo na primeira semana depois do parto, a mulher perde o contato com a realidade e começa a creditar em coisas que não existem, a ouvir vozes, ter delírios e crenças irracionais. Já a DPP, como exposto anteriormente, pode vir a começar antes mesmo do parto ou até semanas depois e evolui gradativamente.
Sobre os transtornos do período pós-parto existem estudos e publicações desde o século passado, mas o assunto ainda gera muitas controvérsias. É importante realizar o diagnóstico precoce para ajudar as mulheres a construírem um vínculo saudável com os seus filhos.
POSICIONAMENTO DA DOUTRINA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
É importante para a compreensão a cerca do posicionamento da legislação brasileira sobre o tema, destacar o entendimento dos nossos ilustres doutrinadores.
Segundo Fernando Capez (2007, p. 103), o estado puerperal se confere como: “[...] perturbações que acometem as mulheres, de ordem física e psíquica advindas do parto. Ocorre por vezes, que a ação física deste pode vir a acarretar sintomas de ordem mental na mulher. Produzindo sentimento de angústia, ódio, desespero, levando ela a eliminar a vida do seu próprio filho”.
No mesmo sentido, explica Damásio de Jesus (1999, p. 107):
A mulher, em conseqüência das circunstâncias do parto, referentes à convulsão, emoção causada pelo choque físico e etc., pode sofrer perturbação de sua saúde mental. O código fala em estado puerperal. Este é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto.
Sobre o assunto, explica Mirabete (2006, p. 60):
Não fixa a lei o limite de prazo em que ocorre infanticídio e não homicídio. Almeida Jr., que se referia a um prazo preciso, de até sete dias, passou a admitir que se deve deixar a interpretação ao julgador. Bento de Faria refere-se ao prazo de 8 dias, em que ocorre a queda do cordão umbilical. Flamínio Fávero também se inclina para a orientação de deixar ao julgador a apreciação. Costa e Silva afirma que ‘logo após’ quer dizer ‘enquanto perdura o estado emocional’. Damásio estende o prazo até enquanto perdurar a influência do estado puerperal. Na jurisprudência, têm-se entendido que, se apresentando de relativo valor probante a conclusão para a verificação do estado puerperal e assumindo relevo as demais circunstâncias que fazem gerar a forte presunção do delictum exceptum (RT 506/362, RJTJESP 14/391), o prazo se estende durante o estado transitório de desnormalização psíquica (RT 442/409).
4.1. Configuração do Infanticídio
Para a confirmação desse delito é essencial a realização de uma perícia médico legal, para se determinar o crime de infanticídio, conforme prevê o artigo 123 do Código Penal Brasileiro de 1940 (CPB):
“Art. 123 – Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, duranteo parto ou logo após: Pena – detenção, de dois a seis anos.”
Entende-se pelo artigo 123 do CPB, que o infanticídio é o delito onde a mãe tira a vida do próprio filho durante o puerpério ou estado puerperal, estando com as suas faculdades mentais alteradas devido ao parto.
Vários exames periciais devem ser elaborados a fim de detectar a prática do crime, se há caracterização de infanticídio ou não. Uma das formas de detecção é definir o tempo de vida do filho no momento em que é morto pela mãe. É importante, também, se apurar a possibilidade de que o ocorrido no caso concreto trate, na verdade, de aborto (até mesmo acidental), por exemplo, porque o crime de infanticídio não se configura apenas pelo fato de a vítima do homicídio ser uma criança e o seu algoz ser a própria mãe, mas obedece a características próprias.
Os dados necessários para a avaliação do caso em questão são: estado de natimorto, do ser nascente, de infante nascido ou de recém-nascido.
Além do risco de infanticídio, há também casos em que a puérpera tira a própria vida, apesar de a incidência de suicídio ser rara, necessitando muitas vezes de intervenção hospitalar por esse motivo. “Sintomas depressivos, mais do que maníacos, em geral estão associados aos quadros em que ocorrem infanticídio ou suicídio (Chaudron e Pies, 2003).”
Atualmente, alguns países defendem a tese dos mais recentes estudiosos neurocientíficos: a mulher portadora desse transtorno psicótico que comete infanticídio necessita mais de reabilitação e tratamento do que a imposição de uma sanção penal, a fim de se evitar outras fatalidades decorrentes do mesmo quadro. O que não é o caso do Brasil.
A doutrina brasileira diverge quanto à influência do estado puerperal como justificativa para o crime de infanticídio, se o estado puerperal é por si, uma alteração psíquica capaz de levar à prática do crime, ou se a alteração psicológica constatada no momento do ato ilícito é proveniente de uma depressão já existente. 
Podemos observar que o legislador, nos termos do artigo 123 do CPB, não entende o estado da puérpera como causa de excludente de ilicitude, mas dá ao magistrado a liberdade de aplicar uma pena branda, de acordo com o caso concreto, ao estipular a pena base de detenção de 2 a 6 anos. 
 O crime de infanticídio previsto no art. 123 do CP tem particularidades que o torna o foco de discussões em diversos aspectos. Para melhor compreendermos o entendimento da legislação brasileira, classificaremos da seguinte forma:
Quando não há alteração na mulher (emocionalmente): crime de homicídio;
Quando a perturbação psicossomática causa violência contra o próprio filho: crime de infanticídio;
Quando diagnosticada doença mental: inimputabilidade penal (art. 26 do CP, caput);
Quando houver perturbação de saúde mental (diminuição da capacidade de entendimento e autodeterminação): semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único, do CP).
Exemplos de opiniões a cerca da aplicabilidade de punição ao fato delituoso no âmbito da psicanálise:
No entendimento de alguns, não há possibilidade da existência de um estado puerperal puro, inexistente antes do puerpério e proveniente deste; atribuindo a conduta criminosa, não ao estado puerperal em si, mas a perturbações psicológicas já existentes antes da gravidez que seguem em consequência do parto.
Há também quem aceite a existência do estado puerperal puro, ocasionado somente pelo puerpério.
Outros defendem ser impossível a concessão do perdão judicial para o “infanticídio culposo”.
Para Mirabete, a mulher que mata o filho culposamente, não estando sob influência do estado puerperal, deve responder por homicídio culposo e não por infanticídio. Já Damásio defende que “o infanticídio só ocorrerá quando a consciência psíquica durante o estado puerperal for reduzida e não eliminada, ou seja, a mulher mata o seu próprio filho porque o estado puerperal lhe causou extrema perturbação psíquica, ou seja, total perda de consciência, ela será inimputável, de acordo com o artigo 26 do CPB”.
Sob esse prisma, faz-se necessário avaliar, também, a gravidade do fato em relação à puérpera, de acordo com cada caso concreto, levando-se em consideração a reprovação e a repercussão social a serem enfrentados por ela; a eterna culpa pelo ato cometido contra uma vida inocente que não pode ser restaurada nem modificada as circunstâncias em que fora ceifada; a necessidade de um tratamento psiquiátrico adequado que, sem ele pode ocorrer o agravamento do quadro psicótico em um ambiente hostil como a prisão. Entende-se, portanto, que a justiça não se faz apenas com o ato de punir, mas também de perdoar. É importante esclarecer que esse ponto de vista é direcionado aos casos em que, comprovadamente, a mulher não age em consonância com a realidade, não tendo ela a intenção ou o controle sobre o ato, devendo ser conduzida ao tratamento adequado, pois as conseqüências expostas acima são punições permanentes, sendo, em alguns casos, atitude severa puni-la mais uma vez.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse estudo, verificamos as divergências a cerca da influência do estado puerperal no infanticídio, esgarçando as suas características e conseqüências, com o fim de se chegar ao conceito que melhor esclareça o posicionamento adotado pela nossa legislação.
Pode-se concluir que o legislador brasileiro admite a existência de um transtorno psiquiátrico ocasionado pelo estado puerperal, mas não deixa de tratar o fato como um delito passível de pena. Assim entende o legislador pela gravidade do fato, principalmente por se tratar de crime contra a vida do próprio filho, indo contrário à natureza de proteger e de cuidar, sendo estas qualidades inerentes à maternidade, indo, também, contra o dispositivo da Constituição Federal Brasileira de 1988, que estabelece em seu artigo 227 a atribuição aos responsáveis (pai, mãe, familiares) de promover e assegurar à criança os meios básicos e necessários de subsistência e qualidade de vida, baseado no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. 
Diante de todas as divergências entre os doutrinadores, operadores do Direito e os demais profissionais e estudiosos da ceara jurídica em relação ao crime de infanticídio sob a influência do estado puerperal, vinculado também ao comportamento psicológico, é de suma importância que o magistrado observe minimamente o fato concreto, para tentar chegar o mais próximo possível da verdade real, para que seja aplicada com verdadeira eficácia a justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Del-Campo, Eduardo Roberto Alcântara. Medicina legal. São Paulo: Saraiva, 2005.
Jesus, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. V. 1.
Varella, Dráuzio. Depressão pós-parto. Entrevista. Disponível em: http://drauziovarella.com.br/mulher-2/depressao-pos-parto-3/.
Fiorelli e Mangini. Psicologia jurídica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012.
Gonçalves, Márcia. Psiquiatria na prática médica. Vol. 15. Julho de 2010. Disponível em: http://www.polbr.med.br/ano10/prat0710.php.
Escosteguy, N et al. Psiquiatria para estudantes de medicina. 626-629, 2003. 
Doucet S, Jones I, Letourneau N et al. Interventions for the prevention and treatment of postpartum psychosis: a systematic review. Archives of Women's Mental Health. 89-98, 2006. 
Jones I and Smith S. Puerperal Psychosis: Identifying and caring for women at risk. Advances in Psychiatric Treatment. 411-418, 2009.

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