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Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO COLEGIADO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO AUTOR: Prof. Dr. FRANCISCO ALVES PINHEIRO Juazeiro/BA, 2015 ENGENHARIA DE P rodução Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 2 | P á g i n a CAPÍTULO I INTRODUÇÃO À HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO 1.1. HISTÓRICO Não obstante o trabalho ter surgido na terra juntamente com o primeiro homem, as relações entre as atividades laborativas e a doença permaneceram praticamente ignoradas até há cerca de 250 anos atrás. Pelo que se tem notícia, a preocupação com o estudo das relações entre trabalho e saúde surgiu na Grécia Antiga, quando Hipócrates fez algumas referências aos efeitos do chumbo na saúde humana. Com o declínio da civilização grega, e a conseqüente ascensão de outras formações sociais, reduz-se o interesse pelo estudo deste tema. Este campo de conhecimentos só volta a progredir após a Revolução Mercantil (séc. XIV), graças às pesquisas de médicos como Ulrich Ellenbog (que detecta a ação tóxica do monóxido de carbono, do mercúrio e do ácido nítrico), Paracelso (que estuda as moléstias dos mineiros), George Bauer e outros. No ano de 1700, o médico italiano Bernardino Ramazzini publica seu livro “De Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos Artesãos), com a descrição de 53 tipos de enfermidades profissionais. Por esta obra, Ramazzini passou a ser considerado o Pai da Medicina do Trabalho. Com o advento da Revolução Industrial, entre 1760 e 1830, e a expansão do capitalismo industrial, o número de acidentes do trabalho cresceu vertiginosamente, como conseqüência das péssimas condições de trabalho existentes nas fábricas daquela época. A situação se agravou a tal ponto que até mesmo a continuidade do processo de industrialização ficou ameaçado. Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 3 | P á g i n a Neste contexto, o saber acumulado na área de Medicina começou a ser empregado na redação de leis de proteção da saúde dos trabalhadores. Foram criadas algumas leis de proteção à saúde dos trabalhadores, como a Lei da saúde e Moral dos Aprendizes (1802) e a Lei das Fábricas (1833), ambas inglesas, que estabeleciam como restrição a jornada diária máxima de 12 horas e a idade mínima de 9 anos para os trabalhadores industriais. Posteriormente, já no século XX, verifica-se o desenvolvimento da chamada “Administração Científica”, de Taylor e outros estudiosos. Nesta nova forma de administrar, a preocupação com os acidentes do trabalho passou a ser incorporada também pelos gerentes industriais, por serem eventos que comprometiam a previsibilidade do sistema produtivo. Assim sendo, passou-se a lançar mão das técnicas de engenharia para a criação de sistemas de prevenção ou controle dos acidentes, tais como equipamentos de proteção individual, sistemas de ventilação industrial, etc. Este processo acabou por gerar uma habilitação específica dentro da engenharia, a qual é aqui designada por Engenharia de Segurança do Trabalho. 1.2. OBJETIVOS E CAMPO DE ATUAÇÃO Define-se segurança do trabalho como “um conjunto de medidas técnicas, organizacionais, psicológicas, sociais e ecológicas destinadas à preservação da saúde dos trabalhadores e da natureza” (GUALBERTO, 1996). Para atender a esta definição, o engenheiro de segurança do trabalho deve desenvolver a sua competência através das várias possibilidades de ação que a profissão lhe permite, atuando como: engenheiro de organizações, projetista de sistemas produtivos, projetista de produtos de segurança, instrutor, assistente técnico de sindicatos e perito judicial. E o que terá que fazer é antecipar-se aos riscos, ou seja, chegar antes que ocorra a interação entre o indivíduo e o agente ambiental evitando assim, o desencadeamento do processo gerador do acidente. E o resultado esperado do seu trabalho é: Pelo Trabalhador: preservação da sua saúde, boas condições de trabalho, incremento na sua produtividade e o conseqüente ganho financeiro; Pela Empresa: lucratividade decorrente do controle de perdas; Pela Sociedade e pelo Estado: preservação da saúde dos trabalhadores, e da natureza, bem como a redução dos custos sociais e financeiros decorrentes dos infortúnios laborais. Como visto acima, o campo da Engenharia de Segurança do Trabalho abriga uma série de conflitos de interesses de diferentes grupos sociais. Se esses conflitos de interesses já são uma fonte razoável de dificuldades para a EST, a nossa legislação contribui com essas Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 4 | P á g i n a dificuldades quando prevê que as empresas devam pagar adicionais (de insalubridade ou periculosidade) aos seus empregados, se os ambientes por elas oferecidos contiverem agentes patogênicos em concentração superior à permitida. O resultado dessa adição remuneratória, é que, não raro, os trabalhadores têm uma clara opção pela venda de sua saúde, preferindo receber os adicionais, mesmo que para isso eleve a probabilidade de se acidentarem ou de adoecerem. Outra dificuldade decorre da forma de inserção do engenheiro no problema. Segundo a Portaria 3.214/78, em sua Norma Regulamentadora 4, o engenheiro irá atuar, principalmente, nos SESMT’s, na qualidade de um empregado alocado à cúpula administrativa, que no geral, representa os interesses do empregador. Nessa conjuntura, o profissional de engenharia e segurança do trabalho deve se posicionar como um “gerente organizacional” e, ao mesmo tempo, um “gerente funcional”, visando atender aos objetivos tanto da organização quanto dos trabalhadores, não somente para obter conformidades à área de SMT, mas também integrando-a às ações e aos sistemas estratégicos e operacionais da organização. Isso significa que o profissional da SMT deve evoluir e adquirir competência organizacional. 1.3. ENTIDADES ENVOLVIDAS COM A HST No esquema brasileiro de prevenção de acidentes, ou seja, a forma pela qual a sociedade brasileira se organiza e distribui encargos e responsabilidades, a responsabilidade pelo combate aos acidentes de trabalho, está distribuída entre três grupos sociais: os empregadores, os trabalhadores e o governo, embora se procurem mobilizar a coletividade em torno deste problema. Em outras palavras, o combate fica a cargo, de organismos internos, tais como, os SESMT’s e as CIPA’s. Estes combatentes são municiados por organismos externos que podem ou não ser representativos de classes, como os sindicatos (patronais ou trabalhistas). Além destas, existem outros organismos, não formalmente ligados a trabalhadores ou empregadores que auxiliam no combate aos acidentes,através do exercício de diferentes funções, a saber: Normativa: o Congresso Nacional, a Presidência da República e os Ministérios Públicos; Fiscalizadora: as Delegacias Regionais do Trabalho, como representação do Ministério do Trabalho nos Estados, encarregada de verificar o cumprimento das normas estabelecidas pelos órgãos acima citados; Judicial: função monopolizada pelo Estado, através da Justiça do Trabalho, encarregada de dirimir as dúvidas em torno do assunto; Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 5 | P á g i n a Assistencial: através do SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – dando apoio médico ou pecuniário àqueles que se vejam impossibilitados de continuar trabalhando em decorrência de acidente de trabalho; Educativa: entidades como a Fundacentro, as Universidades, os centros de treinamento de mão- de-obra (Senai/Senac), etc. com a função de pesquisa e disseminação dos conhecimentos prevencionistas. ENTIDADES ENVOLVIDAS COM A HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO AGENTES MEDIADORES Normativo Fiscalizador Judicial Assistencial Educativo Congresso Presidência da República Ministérios Delegacias Regionais Do Trabalho Justiça do Trabalho SINPAS Universidades Senai Senac EMPRESAS Empresários e Trabalhadores CIPA SESMT Sindicatos Trabalhistas Sindicatos Patronais Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 6 | P á g i n a 1.4. ASPECTOS LEGAIS DA HST 1.4.1. Consolidação das Leis do Trabalho Aprovada pelo Decreto-lei 5.452 de 01/05/1943, a CLT afirma no seu art. 1º que a consolidação estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas. Dividida em 10 títulos, precedida de uma introdução, que se subdividem em capítulos e seções, trata das seguintes matérias: 1. Normas Gerais de Tutela e Trabalho; 2. Normas Especiais de Tutela e trabalho; 3. Contrato Individual de Trabalho; 4. Organização Sindical; 5. Contrato Coletivo de Trabalho; 6. Processo de Multas Administrativas; 7. Justiça do trabalho; 8. Ministério público do Trabalho; 9. Processo judiciário do trabalho; e 10. Disposições Finais e transitórias. O Capítulo V do Título II trata da Segurança e Medicina do Trabalho, abrangendo os Art. 154 a 201 da CLT. Este capítulo trata das disposições gerais, inspeção prévia, embargo, interdição, serviços especializados em segurança e medicina, comissão de prevenção de acidentes de trabalho, equipamento de proteção individual, exames médicos, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, movimentação e armazenagem de materiais, máquinas e equipamentos, caldeiras, fornos, vasos de pressão, atividades insalubres e perigosas, prevenção da fadiga, outras medidas especiais de proteção e penalidades. 1.4.2. Conceitos e institutos Trabalhistas As relações de trabalho reguladas pela CLT são as relações de trabalho subordinado ou por conta alheia, portanto relações de emprego, que entrelaça um empregado e seu empregador através de direitos e obrigações recíprocas. a. Empregador O art. 2º da CLT define empregador como sendo a pessoa individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. O § 1º do mesmo artigo diz que equiparam-se ao empregador, para Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 7 | P á g i n a efeitos de relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficiários, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitem trabalhadores como empregados. b. Empregado O art. 3º da CLT define empregado como sendo toda pessoa física que presta serviço de natureza não eventual a empregador sob dependência deste e mediante salário. 1.4.3. Responsabilidade Civil, Penal, Acidentária, Trabalhista e Profissional A culpa no tocante aos acidentes de trabalho pode ser de responsabilidade exclusiva do empregador, exclusiva do empregado e concorrente, quando empregado, empregador e prepostos agem, cada qual, com parcela de culpa. Saliente-se que as responsabilidades civil, penal, acidentária e trabalhista são independentes. 1.4.3.1. Responsabilidade Civil A CF-1988 afirma como direito dos trabalhadores o seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Já o art. 121 da Lei 8.213/91 diz que o pagamento, pela previdência social, das prestações por acidente do trabalho, não exclui a responsabilidade civil da empresa ou outrem. Antes da atual constituição, exigia-se que o empregador agisse de forma dolosa ou com culpa grave. Com a CF-1988 não há a necessidade de culpa grave. A responsabilidade do empregador e prepostos é subjetiva, e basta a culpa simples para que os mesmos tenham que arcar com o ressarcimento dos danos provocados ao seu empregado. A responsabilidade civil tem natureza indenizatória (visa reparar o dano provocado). 1.4.3.2. Responsabilidade Penal A responsabilidade penal se fundamenta no art. 132 do código penal que afirma “Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente” – pena – detenção de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. São passíveis de serem responsabilizados penalmente por acidentes do trabalho, empregadores e prepostos que expuserem seus empregados a perigo direto e iminente. Higiene e Segurança do Trabalho Introdução Francisco Alves Pinheiro 8 | P á g i n a 1.4.3.3. Responsabilidade Acidentária A responsabilidade de pagamento de benefícios acidentários é do INSS, porém podendo propor ação regressiva contra aqueles que por culpa ou dolo provocaram ou contribuíram para a ocorrência do acidente do trabalho ou doença profissional. Ela é objetiva e independe de dolo ou culpa do empregador. A ação acidentária tem natureza alimentar e é compensatória, ou seja, compensa o salário recebido pelo acidentado. 1.4.3.4. Responsabilidade Trabalhista Independente de outras responsabilidades, o empregador se obriga a cumprir os preceitos trabalhistas e, em particular, as medidas de proteção à saúde e segurança do trabalhador. O descumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho sujeita à empresa as sanções legais, tais como multas, embargos e/ou interdições. 1.4.3.5. Responsabilidade Profissional O descumprimento das obrigações legais decorrentes do exercício profissionalpoderá sujeitar ao responsável as sanções aplicáveis pelos órgãos responsáveis pela fiscalização do exercício profissional (CREA, CRM). As punições poderão ir da advertência até a cassação do registro profissional. 1.4.3.6. Responsabilidade Solidária A jurisprudência tem reconhecido a responsabilidade solidária da empresa contratante baseada no direito comum, pela indenização do acidente de trabalho sofrido pelo trabalhador da empresa contratada, nos casos em que seja também responsável pela segurança da obra ou se contratou empresa inidônea ou insolvente. REFERÊNCIAS CARDELLA, B. Segurança do Trabalho e Prevenção de Acidentes; Uma abordagem holística. São Paulo, Atlas, 1999. GUALBERTO FILHO, A. Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho. In: Apostila da disciplina Gerência de Riscos do X Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. João Pessoa: DEP/UFPB, 2004. RODRIGUES, Celso Luiz Pereira. Um estudo do esquema brasileiro de atuação em Segurança Industrial. (Dissertação de mestrado, Engenharia de Produção). Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1982. Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho CAPÍTULO 2 ACIDENTES DE TRABALHO 2.1. DEFINIÇÕES a. DEFINIÇÃO GERAL Segundo a legislação trabalhista brasileira, o acidente de trabalho é o que decorre do exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou a perda, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. b. Definição Prevencionista Acidente de trabalho é todo evento inesperado e indesejável que interrompe a rotina normal de trabalho, podendo gerar perdas pessoais, de materiais, ou pelo menos de tempo. 2.2. TEORIAS JURÍDICAS SOBRE O ACIDENTE DE TRABALHO As leis de proteção ao trabalhador seguiram três teorias jurídicas, a saber: a) Teoria da Culpa – entende o acidente do trabalho como um crime qualquer, assim, ela preconiza a existência de dois grupos de causas de acidentes: (i) os atos culposos cometidos pelo próprio empregado acidentado ou algum de seus colegas (atos inseguros); Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 2 | P á g i n a (ii) os atos culposos cometidos pelo empregador, sejam por ação ou omissão (condições inseguras). b) Teoria do Risco Profissional – Esta teoria encara o acidente de trabalho não como um crime, mas como fruto do exercício de uma determinada atividade produtiva. Como esta atividade é explorada por um empresário, este deve arcar com os possíveis AT que venham a ocorrer. Nesta concepção, todos os AT passaram a ser indenizáveis, independente de ações jurídicas e/ou da identificação de culpados. c) Teoria do Risco Social – introduz uma mudança sutil, na qual os AT passaram a ser encarados como decorrências de processos produtivos necessários à reprodução/bem estar de toda a coletividade, e não apenas de interesse para algum grupo empresarial. Assim sendo, as indenizações continuaram a ser independentes de ações judiciais, mas o pagamento destas indenizações passou a ser encargo de um sistema previdenciário que reúne três grupos contribuintes compulsórios: os empregadores, os empregados e o Estado. Esta teoria é a base da atual legislação brasileira sobre acidentes do trabalho. 2.3. TIPOS DE ACIDENTES Acidentes típicos – São os que provocam lesões imediatas, tais como, cortes, fraturas, queimaduras, etc., reduzindo a capacidade para o trabalho logo após o acidente. Doenças Profissionais – São doenças como a Silicose e o Saturnismo, inerentes a determinado ramo de atividade, paulatinamente contraídas em função da exposição continuada a algum agente agressor presente no local do trabalho. Acidente de trajeto – São os acidentes sofridos pelo empregado ainda que fora do local e horário de trabalho, como os ocorridos no percurso da residência para o trabalho ou deste para aquele. Tal classificação é questionável por exigir que haja uma lesão para que se caracterize a AT, quando se sabe, através de vários estudos, que existe um número muito maior de acidentes que ocorrem gerando apenas perda de tempo e de materiais. Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 3 | P á g i n a 2.4. CAUSAS DO ACIDENTE DE TRABALHO A concepção de AT apresentada pela teoria da confiabilidade de sistemas requer o surgimento de disfunções como agente disparador do AT. A princípio, todo e qualquer elemento que participe do processo de trabalho é, potencialmente, gerador de disfunções, o que nos permite listar as seguintes causas de acidentes: (i) o fator pessoal de insegurança; (ii) a condição ambiental de insegurança, devido aos materiais, equipamentos, instalações, edificações, métodos e organização do trabalho, tecnologia e macroclima. 2.5. A IMPORTÂNCIA DO ACIDENTE DE TRABALHO Para se avaliar a importância do AT no Brasil, pode-se recorrer às estatísticas oficiais sobre o assunto. Em 1982, o Brasil recebeu o título de “campeão Mundial” de AT, já que para cada grupo de 1000 trabalhadores, quase 218 morreram em AT. As estatísticas brasileiras são subdimensionadas, uma vez que contemplam apenas; a) os casos legalmente reconhecidos, ou seja, os acidentes com vítimas; b) os acidentes urbanos (não mostrando os ocorridos em áreas rurais); 0s acidentes registrados (ignorando aqueles que não são notificados ao INSS). 2.6. LEGISLAÇÃO ACIDENTÁRIA PREVIDENCIÁRIA As primeiras idéias da criação de um direito previdenciário surgiram no final do século XIX na Alemanha, de onde surgiram as primeiras leis que protegiam aqueles que sofriam enfermidades, acidentes de trabalho, ficavam inválida, etc. No Brasil, só em 1919 surge a primeira lei que tratava dos acidentes de trabalho. Em 1923 é sancionada a Lei Eloy Chaves, criando as Caixas de Aposentadorias e Pensões nas ferrovias, e implantando o Sistema de Previdência Social. Apenas em 1946 é que surge na nossa constituição o termo previdência social. A Constituição de 1988 instituiu as bases da Seguridade Social, que contempla a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social. A organização da seguridade social deve observar os seguintes objetivos (Art. 194, da CF): I. Universalidade de cobertura e do atendimento; II. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III. Seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços; IV. Irredutibilidade do valor dos benefícios; Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 4 | P á g i n a V. Equidade na forma de participação no custeio; VI. Diversidade da base de financiamento; e, VII. Caráter democrático e descentralizado da administração mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nosórgãos colegiados. A previdência Social é um sistema de seguro social que visa possibilitar meios de manutenção para aqueles que possam obtê-lo em virtude de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares, reclusão e morte. A Seguridade Social está regida pela Lei 8.212/99 (a organização da seguridade e o plano custeio) e 8.213/99 (plano de benefícios). A elaboração destas Leis tomou por base os objetivos da Seguridade Social. Os benefícios são atribuídos àqueles que contribuem e aos seus dependentes. 2.6.1. Beneficiários Os beneficiários da previdência social são as pessoas físicas, segurados e dependentes. São segurados obrigatórios: 1. O cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado de qualquer condição menor de vinte e um anos ou inválido; 2. Os Pais; 3. O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido. Os dependentes elencados no item 1 são dependentes por presunção, não havendo necessidade de provarem dependência econômica. Os servidores civis e militares estão excluídos do regime geral da previdência social, desde que estejam submetidos a regime próprio de previdência social. É regime próprio aquele que assegura pelo menos as aposentadorias e pensão por morte. 2.6.2. Custeio O Art. 195 da CF estabelece que: a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos, provenientes dos orçamentos da União e dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municípios e das seguintes contribuições sociais: I. Do empregador, da empresa e da entidade e ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 5 | P á g i n a a. A folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, á pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b. A receita ou o faturamento; c. O lucro; II. do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidos pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III. sobre a receita do concurso de prognósticos; A Lei 8.212/91 relaciona outras fontes de receita da seguridade social (Ex. multas, doações, etc) 2.6.3. Prestações Previdenciárias e Acidentárias As prestações se constituem em benefícios e serviços prestados aos beneficiários da previdência social. Os benefícios tratam de prestação pecuniária e os serviços tratam de “serviço social” e “habilitação e reabilitação profissional”. A causa do benefício previdenciário é a incapacidade para o trabalho por motivos alheios às atividades realizadas no trabalho. A causa do benefício acidentário está vinculada diretamente ao exercício do trabalho. O benefício acidentário decorre, logicamente, do acidente ou doença do trabalho. De modo geral, os benefícios acidentários dispensam a carência. 2.6.4. Benefícios Acidentários a) Auxílio-Doença: o auxilio doença acidentário será devido ao acidentado que ficar incapacitado para seu trabalho por período superior a 30 dias consecutivos. O auxílio-doença será devido a partir do 16º dia seguinte ao afastamento, sendo os primeiros 30 dias pagos pela empresa. Regra Anterior Regra MP 664 Valor calculado com base na média dos 80% maiores salários de contribuição Valor do benefício não poderá exceder a média das últimas 12 contribuições A empresa paga ao empregado o salário integral durante os primeiros 15 dias de afastamento A empresa paga ao empregado o salário integral durante os primeiros 30 dias de afastamento Perícia realizada exclusivamente por médicos do INSS Previsão de convênios, sob supervisão do INSS, com empresas que possuem serviço médico, órgãos e entidades públicas Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 6 | P á g i n a b) Auxílio-Acidente: o auxilio-acidente será devido quando, após consolidada as lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultar seqüela que implique: I. Redução da capacidade para o trabalho exercido; II. Redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia e exija maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exercia à época do acidente; ou III. Impossibilidade de desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém permita o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional. c) Aposentadoria por invalidez: a aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho será devida ao acidentado que for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação profissional para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência. O benefício consiste numa renda mensal correspondente a cem por cento do salário-de- benefício. d) Pensão: devida aos dependentes por morte do segurado, no valor de cem por cento do salário-de-benefício. Regra Anterior Regra MP 664 Não há tempo mínimo de contribuição, nem prazo mínimo de casamento Tempo mínimo de 2 anos de contribuição para acesso à pensão previdenciária por morte • Exceção para casos de acidente de trabalho e doença profissional ou do trabalho Tempo mínimo de 2 anos de casamento ou união estável • Exceção para casos de acidentes de trabalho depois do casamento ou para cônjuge/companheiro incapaz/inválido A pensão é vitalícia independentemente da idade do beneficiário Concessão do benefício vitalício para cônjuges a partir de 44 anos Fim do benefício vitalício para cônjuges jovens. O critério será a expectativa de sobrevida em anos (projeção do IBGE) • Exceção para cônjuge inválido, que terá direito à pensão vitalícia independentemente da sua expectativa de vida O menor valor pago é de um salário mínimo O menor valor pago continua sendo de um salário mínimo Atualmente, 57,4% das pensões correspondem a um salário mínimo e não sofrerão alteração O(s) dependente(s) recebe(m) o valor integral do vencimento do segurado O valor mínimo recebido será de 60% da aposentadoria no caso de um dependente • 50% = cota familiar fixa • 10% por dependente (cônjuge, filhos etc.) até o limite de 100% Quem comete crime doloso que resulte na morte do segurado pode ter acesso à pensão por morte Exclusão do direito à pensão para dependente condenado pela prática de crime doloso que tenha resultado na morte do segurado O benefício é distribuído igualmente entre todos os dependentes Estabelecer cota fixa familiar de 50% e individual de 10% por dependente (garante benefício mínimo de 60%) Com o fim da dependência de um pensionista, seu benefício é redistribuído entre os demais A cota individual de 10% não será redistribuída com o fim da dependência • Exceção para órfãos de pai e mãe Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 7 | P á g i n a 2.6.5. Comunicação de Acidentedo Trabalho (CAT) Todo acidente deve ser comunicado pela empresa à previdência social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, havendo morte, de imediato, à autoridade, sob pena de multa. O acidentado e seus dependentes receberão cópia da CAT, bem como o sindicato da categoria profissional. Não ocorrendo comunicação por parte da empresa, podem formalizá- la, o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical, o médico que o atendeu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo, neste caso, o prazo mencionado acima. 2.7. ESTATÍSTICAS DE ACIDENTES DO TRABLHO QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO POR CONSEQUÊNCIA Consequência Incapacidade Temporária Incapacidade Permanente Óbito REGIÕES Ano 2002 Total Assistência Médica Total Menos de 15 dias Mais de 15 dias Brasil 410.502 61.177 331.398 175.640 155.758 15.029 2.898 NORTE 13.797 2.126 10.797 5.389 5.408 685 189 NORDESTE 35.806 6.517 26.844 13.030 13.814 2.030 415 SUDESTE 237.917 38.742 189.694 107.832 81.862 8.050 1.431 SUL 98.604 11.367 85.598 39.699 43.899 3.115 524 CENTRO- OESTE 24.378 2.425 20.465 9.690 10.775 1.149 339 FONTE: DATAPREV, CAT. QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHOS REGISTRADOS PELO MOTIVO GRANDES REGIÕES E UNIDADES DA FEDERAÇÃO Ano 2002 Total Típico Trajeto Doença do Trabalho Brasil 387.905 320.398 46.621 20.886 NORTE 12.829 10.496 1.510 823 NORDESTE 33.098 25.746 4.441 2.911 SUDESTE 225.078 184.619 27.923 12.536 SUL 94.015 80.855 9.399 3.761 CENTRO-OESTE 22.885 18.682 3.348 855 Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 8 | P á g i n a 2.8. CUSTOS DE ACIDENTES DO TRABALHO Geralmente os dirigentes das empresas desconhecem os prejuízos que têm com os acidentes e, às vezes, nem imaginam em quanto os acidentes oneram seus empreendimentos. O custo total de um acidente é dado pela soma de duas parcelas, quais sejam: 1ª parcela – referente ao custo direto ou custo segurado; 2ª parcela – referente ao custo indireto ou não segurado. 2.8.1. Custo direto ou segurado A Lei n.º 6.367 de outubro de 1976, regulamentada pelo n.º 79.037/76, dispõe sobre o seguro de acidentes do trabalho, a cargo do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), estabelece que esse seguro corresponde a uma contribuição, a cargo exclusivo da empresa, igual às percentagens listadas a seguir, da folha de salários-de-contribuição dos empregados: 0,4% - para a empresa em cuja atividade o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; 1,2% - para a empresa em cuja atividade o risco de acidentes do trabalho seja considerado médio; 2,5% - para a empresa em cuja atividade o risco de acidentes do trabalho seja considerado grave. Outros seguros que são considerados como custos diretos referem-se, genericamente, a: seguro incêndio, seguro transporte, seguro de responsabilidade civil, seguros de riscos de engenharia, etc. 2.8.2. Custo indireto ou não segurado Engloba todas as despesas, geralmente não atribuíveis aos acidentes, mas que se manifestam como conseqüência indireta dos mesmos. Para a Fundacentro (1980), os principais itens dos custos indiretos são: Salário pago ao trabalhador acidentado, não coberto pelo INSS, o salário correspondente ao dia do acidente e aos 15 dias seguintes é pago, por imposição legal, integralmente pelo empregador; Salários pagos durante o tempo perdido por outros trabalhadores que não o acidentado (em geral, após o acidente, por menor que seja, os companheiros do acidentado deixam de produzir durante certo tempo, seja para socorrê-lo, seja para comentar o ocorrido, seja por Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 9 | P á g i n a curiosidade, ou porque necessitam da ajuda do acidentado para a execução de sua tarefa, ou a máquina em que operavam ficou danificada no acidente); Salários adicionais pagos aos trabalhadores em horas extras (em virtude do acidente, atrasos na execução dos serviços podem exigir trabalhos em horas extraordinárias), representando um adicional sobre o salário correspondente ao horário normal de trabalho; Salários pagos a funcionários durante o tempo gasto na investigação do acidente; Diminuição da eficiência do acidentado ao retornar ao trabalho (geralmente o acidentado de volta ao trabalho produz menos por receio de sofrer novo acidente, ou por desambientação, por falta de treinamento muscular, etc.); Custo de material ou equipamento danificado no acidente; Perda de material por parte de novos empregados, etc. 2.8.3. Estimativa do custo de acidentes Pesquisa realizada pela Fundacentro entre 1982 – 1983 revelou a necessidade de modificar os conceitos tradicionais de custos de acidentes e propôs nova sistemática para apuração dos mesmos, com enfoque prático, denominada custo efetivo de acidentes. Esse custo é dado por: Ce = C – i Onde: Ce = custo efetivo do acidente; C = custo do acidente i = indenizações e ressarcimentos recebidos através de seguro ou de terceiros (valor líquido), e: C = C1 + C2 + C3 Onde: C1 = custo correspondente ao tempo de afastamento (15 primeiros dias) em decorrência de acidente com lesão; C2 = custo referente aos reparos e reposições de máquinas, equipamentos e materiais danificados (acidentes com danos à propriedade); C3 = custos complementares relativos á lesão (assistência médica e primeiros socorros) e aos danos à propriedade (outros custos operacionais, como os resultados de paralisações, manutenção e lucros interrompidos). Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 10 | P á g i n a O cálculo de C3 é fácil, já o de C2 e C3 depende da organização interna da empresa para o seu levantamento. Para facilitar o levantamento desses custos, a fundacentro propôs a adoção de duas fichas sistematizadas, uma para a comunicação do acidente e outra para o cálculo de seu custo, como mostram as figuras 1 e 2. Figura 1. Ficha de comunicação de acidentes. FICHA DE COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE ACIDENTE COM LESÃO ACIDENTE COM DANO À PROPRIEDADE 1 UNIDADE 2 SETOR 3 LOCAL DO ACIDENTE 4 TIPO DE ATIVIDADE 5 HORA DO ACIDENTE _______h _________ min 6 DATA DO ACIDENTE ______/_______/________ 7 DESCRIÇÃO DO ACIDENTE 8 EMPREGADOS ENVOLVIDOS NO ACIDENTE NOME ___________________________ MATRÍCULA ___________________________ FUNÇÃO __________________________ 9 MÁQ., EQUIP., E MATERIAIS ABRANGIDOS ________________________________________________________ 10 EXTENSÃO DOS DANOS __________________________ 11 PRINCIPAIS CAUSAS DO ACIDENTE 12 INFORMANTES NOME ___________________________ MATRÍCULA _________________________ FUNÇÃO __________________________ 13 data do envio da ficha para o Setor de Segurança do Trabalho _________/ ____________/ ___________ 14 Responsável pelo preenchimento Nome: _______________________ Função: ______________________ Assinatura: ____________________ Fonte: Tavares (1995). Higiene e Segurança do Trabalho Acidentes de Trabalho Francisco Alves Pinheiro 11 | P á g i n a Figura 2. Ficha de cálculo do custo efetivo de acidentes. FICHA PARA O CÁLCULO DO CUSTO EFETIVO DE ACIDENTE 1 FICHA Nº ______/______ ACIDENTE COM LESÃO ACIDENTE COM DANO À PROPRIEDADE 2 FICHA DE COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE a) Recebida em: ______/ _______/ _________ b) Unidade: ____________________________ c) Setor: _______________________________ 3 LOCAL DO ACIDENTE ______________________ 4 HORA DO ACIDENTE _______ H ______ MIN 5 DATA DO ACIDENTE ________/ ________/ ________ 6 ACIDENTE COM LESÃO a) Nome do acidentado: __________________________________________________________ b) Matrícula: ___________ c) Função: ______________________________________________ d) Principais causas do acidente: ___________________________________________________ e) Conseqüências do acidente: _____________________________________________________ f) Tempo de afastamento: __________ g) Salário por Hora (R$): __________________________ h) Custo relativo ao tempo de afastamento (15 primeiros dias): Salário (R$): ________________ Encargos sociais (R$): _________ Outros (R$): _________________ i) Observações: ___________________________________ Total 1 (R$): ________________ 7 ACIDENTE COM DANO À PROPRIEDADE a) Máquina(s)/equipamento(s) danificados: ___________________________________________ b) Material(s) danificado(s): _______________________________________________________ c) Principais causas do acidente: ___________________________________________________ d) Custo dos reparos ou reposições: Máquina(s) e equipamento(s) (R$): ____________________ Material(s) (R$): ___________________________________ e) Observações: ________________ Total 2 (R$): ___________________________________ 8 CUSTOS COMPLEMENTARES a) Acidentes com lesão: Assistência médica (r$): ______________________________________ Primeiros socorros (R$): ______________________________________ Outros (R$): ________________________________________________ b) Acidentes com danos à propriedade: Outros custos operacionais (R$): ___________________ c) Observações: _________________ Total 3 (R$): ___________________________________ 9 CUSTO DO ACIDENTE R$ ____________________ c = c1 + c2 + c3 10 INFORMANTES 11 RESPONSÁVEIS PELO PREENCHIMENTO NOME FUNÇÃO DATA ASSINAT. NOME FUNÇÃO DATA ASSINAT. _________ ________ ______ __________ __________ ________ ________ _________ Fonte: Tavares (1995). REFERÊNCIAS CAMPOS, M. F. Legislação e Normas Técnicas. In: Apostila da disciplina Gerência de Riscos do X Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. João Pessoa: DEP/UFPB, 2003. RODRIGUES, Celso Luiz Pereira. Um estudo do esquema brasileiro de atuação em Segurança Industrial. (Dissertação de mestrado, Engenharia de Produção). Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1982. Higiene e Segurança do Trabalho Metodologia da Ação Prevencionista CAPÍTULO 3 AGENTES DE RISCOS PROFISSIONAIS 3. AGENTES QUÍMICOS DE RISCOS Nas últimas décadas, o desenvolvimento industrial vem experimentando ritmos cada vez mais elevados, no que se referem às inovações tecnológicas, novos materiais, novos processos e novas formas de organização do trabalho. Estes avanços são guiados, de um lado pelos interesses das empresas e, do outro, pela aceitação da sociedade que, na maioria das situações são movidas por visões de curto prazo: lucro e desfrute da vida. Nesse casamento desigual entre empresas e sociedade, a ciência nem sempre é chamada a opinar sob o princípio da precaução, onde tudo que é disponibilizado à sociedade teria seus impactos previamente analisados: impactos sobre a saúde das pessoas, sobre a sociedade como um todo e sobre o ambiente. Os estudos dos impactos de um determinado produto, quase sempre são apontados após a aceitação do mercado, após serem introduzidos no ambiente global, na vida das pessoas e por vezes, em seus próprios corpos. A produção de sintéticos químicos é um exemplo desse quadro de irresponsabilidade científica em que estamos inseridos. Na maioria das vezes, os compostos químicos são inseridos no mercado sem os conhecimentos mínimos dos impactos que aquele composto pode causar aos seres humanos e ao meio ambiente. Nos últimos anos vêm surgindo Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 2 | P á g i n a organizações de consumidores, de vítimas de determinadas tecnologias e de defesa ambiental que vêm produzindo, organizando e divulgando conhecimentos sobre impactos tecnológicos nocivos. Esse tópico da disciplina Higiene e Segurança do Trabalho visa incutir no estudante de Engenharia de Produção conhecimentos acerca dos agentes de riscos químicos presentes no seu ambiente de trabalho, conscientizando-o de que ele pode ser um elemento gerador de riscos de acidentes de trabalho, e repassar conhecimentos para que ele possa evitá-los. 3.1.1. Conceitos Básicos A. Risco químico Risco foi definido pela Comisión Preparatória de la Conferencia de Las Naciones Unidas sobre medio humano, como uma freqüência esperada de efeitos indesejáveis derivados da exposição a um contaminante. O risco que uma substância possa oferecer está diretamente relacionado com a toxicidade da referida substância e com a taxa de exposição à mesma. RISCO = TOXICIDADE x EXPOSIÇÃO RISCO TOXICIDADE EXPOSIÇÃO ALTO ALTA ALTA ALTO BAIXA ALTA BAIXO ALTA BAIXA BAIXO BAIXA BAIXA Os riscos químicos são avaliados em relação à toxicidade da substância, ou seja, a capacidade inerente de se produzir um efeito deletério sobre um organismo vivo. B. Agente químico Segundo a NR-9 (PPRA), agentes químicos são as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão. Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 3 | P á g i n a C. Toxicidade É a capacidade de um agente químico causar uma lesão num organismo vivo, representa a medida de incompatibilidade entre uma dada substância com o organismo vivo. D. Agente tóxicoAgentes tóxicos são substâncias quimicamente definidas que ao entrar em contato com o sistema biológico acarretam desde distúrbios leves, moderados, lesões graves ou a morte. Ex: a estricnina, o ácido cianídrico e o cloreto de sódio, enquanto se encontram em seus recipientes, armazenados, nada mais são do que porções dessas substâncias. Para que se caracterize o agente tóxico se faz necessário a interação agente-organismo, dando como resultado uma intoxicação (DIAS, 2003). E. Bioacumulação A bioacumulação ou fator de acumulação é o fenômeno da acumulação de uma substância química num organismo. Quando o fenômeno da concentração de um agente tóxico acontece numa cadeia alimentar em quantidades distintas e crescentes denomina-se biomagnificação. F. Meia vida A persistência ou longevidade que uma substância apresenta depende da relativa susceptibilidade e acessibilidade à degradação biológica, química ou fotoquímica. Geralmente é expressa em valores de meia vida, que significa o tempo para que a concentração do agente químico na matriz considerada se reduza á metade. 3.1.2. Características dos riscos químicos A. Invisibilidade A presença dos agentes químicos nos ambientes nem sempre é, imediatamente percebida pelas pessoas. Os sinais percebidos são os visuais e olfativos que criam padrões próprios e pessoais sobre o que pode ser danoso à saúde, nem sempre condizente com a realidade toxicológica. B. Transportabilidade As ações dos agentes químicos não se limitam aos espaços imediatos de sua utilização. Seus efeitos podem ocorrer em ambientes distantes de sua primeira utilização. Ex: agrotóxicos Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 4 | P á g i n a C. Instabilidade Os agentes químicos reagem com o meio e se transformam em outros agentes, que, em geral, apresentam toxicidade distinta do agente inicial. D. Iteratividade Não só os agentes químicos reagem com o meio, mas o meio também reage aos agentes químicos e se alteram. Como o meio possui elementos minerais e vivos, as alterações são de natureza química, biológica e física. E. Acumulatividade Ocorrem casos, como dos metais pesados e dos agrotóxicos organoclorados, dos organismos vivos acumularem as moléculas dos agentes tóxicos. Porém, ocorrem casos de acumulação dos efeitos das sucessivas exposições a agentes tóxicos sobre os organismos, mesmo sem haver constatação da acumulação molecular. 3.1.3. Classificação dos agentes tóxicos A classificação clássica dos agentes químicos baseia-se na sua forma de apresentação (figura 1), ou em seus efeitos sobre a saúde humana. Fonte: ADISSI, P. J. (2001) Um particulado tóxico é todo aquele aerosol constituído por partículas de tamanho microscópico, diluídos no ar (aerodispersóides), podendo se encontrar no estado líquido (neblinas e névoas), e no estado sólido (poeiras e fumos). 3.1.3.1. Gases e vapores Os gases são substâncias que, em condições normais de temperatura e pressão (25ºC e 760 mmHg), estão no estado gasoso. Ex: monóxido de carbono, eteno, etc. Os vapores constituem o estado aeriforme de certas substâncias que nas condições normais de temperatura e pressão se encontram no estado líquido. Ex: gasolina, cânfora, naftalina, etc. Agentes Químicos Particulados Gases e Vapores Sólidos Líquidos Poeiras e Fumos Névoas e Neblinas Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 5 | P á g i n a Os gases e vapores podem ser classificados segundo sua ação sobre o organismo humano em irritantes, anestésicos e asfixiantes. a) Gases e vapores irritantes: são substâncias em estado gasoso que produzem irritação nos tecidos em que entram em contato, como a pele, a conjuntiva ocular e as vias respiratórias. Ex: ac. Clorídrico, sulfúrico e muriático, anidrido sulfuroso, cloro, e os gases lacrimogênios. b) Gases e vapores anestésicos: causam efeito narcótico ou depressivo sobre o SNC. Podem ser divididos em: anestésicos primários – hidrocarbonetos alifáticos (butano, propano, etano, etc.), ésteres, aldeídos e cetonas; anestésicos de efeito sobre as vísceras (fígado e rins) – hidrocarbonetos clorados, como o tretacloreto de carbono, tetracloroetano, tricloroetileno e o percloroetileno; anestésicos de ação sobre o SNC – neste grupo se encontram os álcoois metílico e etílico, ésteres de ácidos orgânicos e dissulfeto de carbono; anestésicos de ação sobre o sistema formador do sangue – modificam a hemoglobina em metahemoglobina, como a anilina, nitrito e toluidina, além do benzeno. c) Gases e vapores asfixiantes: a principal característica de um agente tóxico é impedir que o oxigênio atinja os tecidos, ou seja, a interrupção ou redução da respiração celular. Assim sendo, os asfixiantes podem ser classificados em simples e químicos. Os asfixiantes simples têm sua atuação externamente ao organismo, isto é, sua presença na atmosfera provoca o deslocamento do oxigênio, reduzindo sua concentração no ambiente. Isso ocorre com o gás carbônico, o metano, o propano, o nitrogênio e o butano. Os asfixiantes químicos impedem a absorção do oxigênio presente no organismo pelos tecidos. Neste grupo, o mais conhecido é o monóxido de carbono, que por ter afinidade química com a hemoglobina superior ao oxigênio, forma a carboxihemoglobina e impede o transporte de oxigênio. 3.1.3.2. Particulados sólidos a) poeiras – são partículas sólidas produzidas por ruptura mecânica de um sólido, em conseqüência de uma operação mecânica (moagem, trituração, polimento, etc.) ou de limpeza. As poeiras podem ser de origem mineral e orgânica. Exemplos: Poeiras minerais: Sílica: as formas cristalinas, por serem mais compactas (0,05 a 5µm), são as mais nocivas ao homem. A silicose é uma doença causada pela poeira da sílica, podendo se desenvolver Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 6 | P á g i n a de forma rápida ou lenta. Na forma aguda, o surgimento de sintomas pode se dar de 8 a 18 meses após a primeira exposição. Ocorre principalmente em trabalhadores de indústrias de sabão em pó, os expostos a processo de jateamento de areia, e os que trabalham escavando túneis que utilizam furadeiras de rocha de alta potência. Outros minerais utilizados em processos industriais também possuem sílica e podem afetar a saúde dos trabalhadores. É o caso do carvão mineral e da grafita; Asbesto (amianto): é um mineral muito utilizado industrialmente, devido as suas ricas propriedades: alta resistência ao calor, ao fogo e à maioria das substâncias químicas. A asbestose, doença causada pela exposição a poeiras de amianto, leva, em geral, de 15 a 25 anos para se manifestar, causando o endurecimento lento do pulmão. Essa doença, apesar de grave e de não ter cura, não é a doença de maior gravidade, e nem a mais comum, na exposição ocupacional ao amianto, já que este causa também, mesotelioma, câncer de pulmão, doenças pleurais e câncer de faringe e doaparelho digestivo; Outras poeiras minerais: berilo – berilose; ferro – siderose; bário – baritose; estanho – estaniose. Poeiras orgânicas: Algodão: a exposição à poeira do algodão produz uma enfermidade denominada bissinose. A bissinose também é produzida por outros tipos de poeiras vegetais, como as do linho e do cânhamo (SALIBA, 2000); Bagaço de cana: produz uma enfermidade denominada bagaçose. Esta doença inicia-se subitamente, poucas horas após a exposição, provocando falta de ar, tosse e febre. A repetição das afecções pode levar à fibrose pulmonar; Outras poeiras orgânicas: poeiras de feno, esporos de cogumelos, enzimas de detergente e fungos que contaminam ar condicionado de prédios e escritórios, podem causar enfermidades semelhantes á bagaçose. b) Fumos – são partículas sólidas resultantes da condensação de vapores ou reação química, geralmente após a volatilização de metais fundidos. Ex: operações de soldagem, fundições e aciarias, e pintura a pistola. Os principais fumos metálicos são: Chumbo: o chumbo é encontrado nas tintas e nas operações de esmerilhamento. O chumbo orgânico ou chumbo tetraetila era usado até a década de 70, no Brasil, como antidetonante da gasolina e é facilmente absorvido pela pele e pela respiração, tendo sido substituído pelo álcool anidro. A inalação do chumbo pode provocar uma doença Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 7 | P á g i n a denominada saturnismo. Essa doença provoca anemia, cólica intestinal dolorosa e neurite, levando ao comprometimento do cérebro; Cádmio: a intoxicação industrial pode ocorrer quando metais revestidos por cádmio são queimados ou soldados, desprendendo-o em forma de fumos, ou quando está presente como uma impureza em outros metais. Devido a sua elevada toxicidade, os metais que contém cádmio são obrigados a serem rotulados; Cromo: as lesões provocadas pelo cromo atingem a pele, as membranas nasais e, em menor freqüência, a laringe e os pulmões. As fossas nasais são extremamente sensíveis ao ácido crômico e ás nevoas de cromato, podendo ocorrer hemorragias, ulcerações e até perfuração do septo nasal; Mercúrio: o percurso do mercúrio no organismo, que tem poucas condições de eliminá-lo, são os rins, fígado e cérebro. Neste último estágio produz efeitos de alta gravidade. No Brasil, é preocupante a persistente utilização do mercúrio nos garimpos junto aos rios ricos em ouro; Borracha: a fabricação da borracha produz o negro de fumo, que causa efeitos nocivos ao pulmão. 3.1.3.3. Particulados líquidos a) Névoas: são partículas líquidas (gotículas), resultantes da condensação de vapores de substâncias que são líquidas à temperatura ambiente. Ex: névoas de tintas na operação de pintura com pistola e as névoas de agrotóxicos, nas suas distintas formas de aplicação. b) Neblinas: são formadas pela condensação de vapores de substâncias líquidas que volatilizam. Outra classificação bastante utilizada é dada pela DL50, que é a dose letal do agente tóxico (em mg do agente/kg de peso do organismo teste) que causa efeito tóxico a 50% dos organismos em teste, apresentada a seguir: Extremamente tóxico DL50 ≤ 1 mg/kg Altamente tóxicos 1 mg/kg < DL50 ≤50 mg/kg Moderadamente tóxico 50 mg/kg < DL50 ≤500 mg/kg Levemente tóxico 0,5 g/kg < DL50 ≤ 5 g/kg Praticamente não tóxico 5 g/kg < DL50 ≤ 15 g/kg Relativamente inócuos DL50 > 15 g/kg Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 8 | P á g i n a 3.1.4. Tipos de interações entre agentes químicos As interações geralmente ocorrem quando o homem está exposto a dois ou mais agentes químicos, resultando em alterações da toxicocinética e da toxicodinâmica que lhes são características. A. Ação independente: quando os agentes tóxicos têm distintas ações e produzem diferentes efeitos; B. Efeito aditivo: ocorre quando a magnitude do efeito produzido por dois ou mais agentes tóxicos são quantitativamente igual à soma dos efeitos produzidos individualmente. C. Sinergismo: ocorre quando o efeito a dois ou mais agentes tóxicos se produz de forma combinada e é maior que o efeito aditivo. D. potenciação: ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado por agir simultaneamente com um agente não tóxico. E. Antagonismo: ocorre quando o efeito produzido por dois agentes tóxicos é menor que o efeito aditivo, um reduzindo o efeito do outro. Nas exposições ocupacionais a vários agentes químicos, as reações adversas produzidas no organismo são múltiplas, pois os mecanismos de ação são inúmeros. Os mecanismos envolvidos nos processos de interação agente tóxico-sistema biológico não são inteiramente conhecidos; entretanto, a intensidade da ação tóxica depende, entre outros fatores, da concentração do agente no local da ação, da reatividade do agente para com o organismo e da suscetibilidade orgânica aos efeitos adversos. 3.1.5. Vias de penetração As substâncias químicas podem ser absorvidas pelo organismo humano pela pele, pelo nariz e pela boca. A. Via dérmica: a via dérmica (pele) é a mais importante para as exposições a agrotóxicos, representando cerca de 99% do total absorvido. Tem-se que ressaltar que no corpo humano o tecido dermal não é homogêneo, as mucosas (olhos, boca, narinas, ânus e genitálias), por exemplo, são bem mais absorventes que as demais áreas. B. Via respiratória: a via respiratória (nariz) é a principal preocupação da grande maioria dos casos de exposição química industrial. Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 9 | P á g i n a C. Via oral: a via oral (boca) é decorrente de ingestões acidentais ou suicidas e, principalmente, de atos não recomendáveis, como fumar ou se alimentar durante o trabalho sem uma higienização de segurança. 3.1.6. Efeitos dos agentes químicos O agente químico age de forma insidiosa sobre o organismo, acumulando-se e produzindo efeitos de médio e longo prazo. A observação dos efeitos dos agentes químicos sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente se reveste de uma alta complexidade científica, e requer, na maioria das vezes que se disponha de clínicas e laboratórios de alta complexidade, nem sempre disponível nos países em desenvolvimento. Tipos de efeitos tóxicos: A. Teratogênicos: produzem más formações congênitas – gases anestésicos, compostos orgânicos de mercúrio, radiações ionizantes, talidomida. B. Mutagênicos: causam alterações (mutações) no código genético, alterando o DNA – óxido de etileno, radiações ionizantes, peróxido de hidrogênio, benzeno e hidrazina. C. Carcinogênicos: provocam câncer – dibrometo de etileno, sulfato de metila, cloreto de vinila, dioxinas e furanos. O efeito tóxico de uma substância pode afetar diversos órgãos internos do ser humano, agindo nas formas descritas abaixo: Toxicidade hepática – o fígado é sensível ao agente tóxico por dois motivos fundamentais.Em primeiro lugar, os agentes tóxicos quando absorvidos por via oral passam obrigatoriamente pelo fígado antes de chegar à circulação geral. Por outro lado por ser o lugar principal do metabolismo, pode originar produtos intermediários mais reativos e capazes de lesioná-lo; Toxicidade renal – o rim é menos afetado pelos efeitos tóxicos dessas substâncias, já que estes são excretados normalmente na forma de metabólicos inativos. Contanto, existem substâncias químicas nefrotóxicas; Toxicidade neurológica: muitas substâncias que são tóxicas em outras partes do organismo também podem afetar o SNC. O tempo entre a exposição a um determinado agente químico e a manifestação de uma enfermidade em decorrência dessa exposição pode levar alguns minutos ou mais de 30 anos. Essa e outras características dos agentes químicos dificultam sobremaneira o Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 10 | P á g i n a diagnóstico do nexo causal de uma enfermidade ocupacional decorrente da exposição química. Segundo Lauwerys os agentes químicos atuam no organismo através de quatro fases, que ocorrem até o aparecimento de um caso de intoxicação, as quais são: Fase de exposição: é representada pelo período em que o indivíduo fica exposto aos diversos componentes ambientais (ar, solo, água e alimentos), pelas diversas vias possíveis de absorção; Fase toxicocinética: compreende a absorção da substância química através das diversas vias, sua distribuição, transformação, acumulação e eliminação pelo organismo; Fase toxicodinâmica: é a fase correspondente à interação da substância química com moléculas específicas, podendo causar desde leves desequilíbrios até a morte. Esta fase é essencial ao processo de intoxicação, onde ocorre o aparecimento do efeito no organismo; Fase clínica: sendo caracterizada pela exteriorização dos efeitos do agente tóxico, ou seja, o aparecimento de sinais e sintomas da intoxicação. Os efeitos sobre a saúde humana dos principais agentes químicos estão relacionadas no quadro a seguir: AGENTE QUÍMICO EFEITOS SOBRE A SAÚDE INORGÃNICOS Arsênio A intoxicação aguda compromete o SNC, podendo levar ao coma e à morte. O envenenamento crônico caracteriza-se por fraqueza muscular, perda do apetite e náuseas. Cádmio Provoca desordens gastrintestinais graves, bronquite, enfisema, anemia e cálculo renal. Chumbo Provoca cansaço, ligeiros transtornos abdominais, irritabilidade e anemia. Cianetos Pode ser fatal em altas doses. Cromo Baixas doses causam irritação nas mucosas gastrintestinais, úlcera e inflamação da pele. Altas doses provocam doenças no fígado e nos rins, podendo ser fatal. Fluoretos Altas doses provocam doenças como a fluorose dental, alterações ósseas, inflamação no estômago e intestinos. Mercúrio Os principais efeitos da intoxicação por mercúrio são transtornos neurológicos e renais. Também causa efeitos tóxicos nas glândulas sexuais e possui efeitos mutagênicos. Nitratos Em crianças, provocam deficiência de hemoglobina no sangue, podendo ser fatal. Prata Provoca descoloração da pele, dos cabelos e das unhas. ORGÃNICOS Benzeno A exposição aguda provoca depressão do SNC. Existem evidências de anemia e leucopenia por exposição crônica ao benzeno. Clordano Provoca vômitos e convulsões. Foram reportados efeitos teratogênicos, carcinogênicos e mutagênicos em ratos de laboratório. Fonte: FONSECA, J. A. C. da (2003). Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 11 | P á g i n a 3.2. AGENTES FÍSICOS DE RISCO São os riscos gerados pelos agentes que têm capacidade de modificar as características físicas do meio ambiente. Por exemplo, a existência de um tear numa tecelagem introduz no ambiente um risco físico, já que tal máquina gera ruídos, isto é, ondas sonoras que irão alterar a pressão acústica que incide sobre os ouvidos dos operários. Os riscos físicos se caracterizam por: a) Exigirem um meio de transmissão (em geral o ar) para propagarem sua nocividade; b) Agirem mesmo sobre pessoas que não têm contato direto com a fonte do risco; c) Em geral, ocasionarem lesões crônicas, mediatas. Alguns exemplos de agentes físicos: ruído, iluminação, vibrações, calor, radiações ionizantes (raios-X) ou não ionizantes (radiação ultravioleta), pressões anormais, etc. Os agentes físicos estão contemplados na NR-15, que trata de atividades e operações insalubres. Esses agentes são: temperaturas extremas (frio e calor), pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes, vibrações e iluminação, entre outros. 3.2.1. Temperaturas extremas: A. Frio Um ambiente é considerado frio quando as temperaturas são inferiores àquelas que o corpo humano está acostumado a sentir quando em condições de conforto em seu ambiente de trabalho, ou seja, a sensação de frio varia de organismo para organismo. Cabe salientar que a falta de limites de tolerância não significa que qualquer exposição seja insalubre. A intensidade do agente e o tempo de exposição devem ser levados em conta no momento da avaliação. O agente físico frio (NR-15, anexo 9), é avaliado por critério qualitativo e envolve as atividades ou operações executadas no interior de câmaras frigoríficas ou em locais que apresentem condições similares, que exponham o trabalhador ao frio, em temperaturas que chegam a 25 graus negativos. O frio pode causar danos locais nos tecidos bem como inúmeras doenças, como: congelamento, hipotermia, urticária, irritação cutânea, entre outras. Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 12 | P á g i n a B. Calor A transmissão de calor entre o corpo e o ambiente engloba os seguintes processos: Condução - pelo contato direto entre os corpos; Radiação – é a transmissão do calor por meio de ondas. O calor do sol é transmitido por esse processo; Convecção – é a transmissão do calor por meio de correntes circulatórias originadas na fonte. É a forma característica de transmissão de calor nos líquidos e gases. Para que se efetue a transferência total do calor do corpo, o calor metabólico deverá se encontrar balanceado com o ambiente, por meio dos processos de convecção, radiação e evaporação. Na evaporação o ser humano tem a capacidade de transpirar como meio de resfriar o seu corpo. A transpiração aumenta à medida que o corpo necessita aumentar o resfriamento para remover o calor. Para a avaliação da exposição ao calor existem vários índices, sendo que o índice adotado deve levar em conta os fatores ambientais, o metabolismo e o tempo de exposição. A NR-15, anexo 3, diz que a exposição ao calor deve ser avaliada através do Índice de Bulbo Úmido-Termômetro de Globo – IBUTG. Ela também prevê limites de tolerância para exposição ao calor em regime de trabalho intermitente com período de descanso no próprio local de trabalho ou fora dele. Cabe ressaltar que esses períodos de descanso são considerados tempo de serviço para todosos efeitos legais. Outro aspecto a ser considerado é que as medições devem ser realizadas no período mais desfavorável do ciclo de trabalho e no período de 60 minutos (alternância trabalho/descanso). Os efeitos de elevadas temperaturas e do calor ambiental sobre o ser humano são relacionados a doenças devido ao calor e a queimaduras de pele. C. Ruído É denominado ruído todo tipo de som desagradável para as pessoas que a ele são expostos. Constituem-se numa mistura de sons cujas freqüências não seguem nenhuma lei definida. Existem duas análises para se classificar o tipo de ruído a que um trabalhador está exposto: ruído contínuo ou intermitente e ruído de impacto. A NR-15 define como ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a um segundo, a Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 13 | P á g i n a intervalos superiores a um segundo. Já ruído contínuo ou intermitente é o contrário, ou seja, quando ocorrem impactos simultâneos em número superior a sessenta por minuto esse ruído é contínuo. É o caso de várias prensas funcionando simultaneamente. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente, segundo a NR-15, devem ser medidos em decibéis (dB), por medidor de nível de pressão sonora operando no circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta (SLOW). As medidas devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. Analisando o quadro dos limites de tolerância da NR-15, observa-se que para cada nível de ruído há um tempo máximo de exposição diária permitida sem o uso de Equipamento de proteção Individual (EPI), protetor auricular. Segundo esse quadro, a exposição máxima diária permissível para 8 horas de trabalho é de 85 dB (A), e não é permitida uma exposição a níveis de ruído acima de 115 dB (A), fato que ofereceria risco grave e iminente. Como um protetor auricular atenua, em média, 20 dB (A), uma exposição de 8 horas acima de 115 dB (A), mesmo com protetor auricular não protege adequadamente o trabalhador, cabendo à DRT o embargo ou interdição do estabelecimento até regularização desta situação. Os níveis de ruído de impacto devem ser medidos em decibéis (dB), com medidor de nível de pressão sonora operando no circuito linear com circuito de resposta para impacto. O limite de tolerância para ruído de impacto é de 130 dB (LINEAR). Em caso de não se dispor de medidor com resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação “C”. Neste caso, o limite de tolerância será de 120 dB (C). As atividades que exponham os trabalhadores sem proteção adequada, a níveis de ruído de impacto superiores a 140 dB (LINEAR), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superiores a 130 dB (C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST), oferecerão risco grave e iminente. D. Pressões anormais Pressões anormais são aquelas diferentes das existentes ao nível do mar. A pressão abaixo do nível do mar, dependendo da densidade da água, aumenta aproximadamente 1 atm. a cada 32 a 33 pés, respectivamente 9,60 a 9,90 m. O corpo humano pode tolerar mudanças de pressão dentro de uma faixa limitada. A lei de Dalton, ou das pressões parciais, estabelece que a pressão parcial de qualquer gás em Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 14 | P á g i n a uma mistura é igual ao produto da pressão total multiplicado pela percentagem do gás na mistura, ou seja: P = Ptotal x % gás Onde: P = pressão parcial Ptotal = pressão total % = porcentagem norma do oxigênio, em torno de 21%. Os ambientes de trabalho sob altas pressões são os trabalhos sob ar comprimido e os trabalhos submersos, nas atividades de construção submarina e processos de mergulho. As baixas pressões são encontradas em ambientes que possuem pressão menor que a existente ao nível do mar. A pressão parcial do oxigênio afeta a capacidade do sangue de transportá-lo através do corpo. Essa diminuição do transporte de oxigênio afeta o metabolismo das células, levando à hipoxia. Um dos primeiros efeitos a serem percebidos é a perda da visão noturna, começando sua manifestação a partir de 1800 m de altitude. Acima desta começa a perda parcial de memória, julgamento e coordenação, euforia, síncope e morte. E. Radiações Ionizantes A radiação ionizante é uma radiação eletromagnética ou particulada capaz de produzir íons quando interatua com átomos e moléculas. Os principais tipos de radiação ionizante são os raios X, raios gama, partículas alfa, beta e nêutrons, entre outros. As fontes de radiação ionizante são divididas em dois tipos: Radiação natural – é encontrada em terrenos que emitem radiações gama e cósmica; Radiação artificial – é encontrada em aparelhos de televisão, monitores de computador, diais luminosos de relógio e sinais luminosos. Fazem parte desse grupo os raios X, gama e beta, que são usados para diagnósticos de doenças. A avaliação da exposição a radiações ionizantes, para efeitos de insalubridade, deve obedecer aos limites de tolerância estabelecidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Todavia o MTE, através da portaria 3.39/87, passou a considerar como perigosas todas as atividades envolvendo radiações ionizantes, independentes de limites de exposição. Por exemplo, um empregado que opera raios-X, cuja exposição à radiação é inferior ao limite Higiene e Segurança do Trabalho Agentes de Risco Profissional Francisco Alves Pinheiro 15 | P á g i n a de exposição, não terá direito ao adicional de insalubridade. Todavia, terá direito ao adicional de periculosidade. Se o agente gerar direito aos dois adicionais, o trabalhador deverá optar por um deles, não podendo acumulá-los, segundo o art. 193, § 2º da CLT. F. Radiações Não Ionizantes São as derivadas do espectro magnético, que é a distribuição das radiações eletromagnéticas em função do comprimento e longitude de onda. Divide-se em: Radiações não ionizantes naturais, como o fogo e o sol; Radiações não ionizantes artificiais, encontradas nos aparelhos de microondas, de raios laser, etc. A caracterização da insalubridade será por inspeção realizada no local de trabalho, por critérios qualitativos, levando-se em conta o tempo de exposição, a distância do trabalhador à fonte e o tipo de proteção usada. G. Vibrações As vibrações oriundas de máquinas ou equipamentos possuem como meio gerar choque, e a maioria induzem esses fenômenos como subprodutos indesejados. Existem basicamente 3 tipos de exposição a vibrações pelo corpo humano: Vibração transmitida simultaneamente para todo o corpo, vindo da superfície. Ex: alta intensidade sonora no ar ou água excita vibrações do corpo; Vibrações transmitidas para o corpo como um todo, através da superfície dos pés, na vertical ou pela bacia (sentado). Ex: vibrações causadas por veículos, construções e nas proximidades de máquinas de trabalho; Vibrações aplicadas em partes particulares do corpo, tais como cabeça, e membros. Existem várias práticas para controlar
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