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Didatismo e Conhecimento C a rg o E s c r i t u r á r i o BANCO DO BRASIL Didatismo e Conhecimento Índice CONHECIMENTOS BÁSICOS LÍNGUA PORTUGUESA Compreensão e interpretação de textos. .................................................................................................................................................. 01 Tipologia textual. ....................................................................................................................................................................................... 10 Ortografia oficial........................................................................................................................................................................................ 17 Acentuação gráfica. ................................................................................................................................................................................... 29 Emprego das classes de palavras.............................................................................................................................................................. 33 Emprego do sinal indicativo de crase. ..................................................................................................................................................... 65 Sintaxe da oração e do período. ............................................................................................................................................................... 69 Pontuação. .................................................................................................................................................................................................. 91 Concordância nominal e verbal. .............................................................................................................................................................. 94 Regência nominal e verbal. .....................................................................................................................................................................110 Significação das palavras. .......................................................................................................................................................................116 Redação de correspondências oficiais. ....................................................................................................................................................118 ATUALIDADES Tópicos relevantes e atuais de diversas áreas, tais como política, economia, sociedade, educação, tecnologia, energia, relações internacionais, desenvolvimento sustentável, responsabilidade sócio-ambiental, segurança e ecologia, e suas vinculações históricas. ...................................................................................................................................................................................................... 01/38 MATEMÁTICA Números inteiros ........................................................................................................................................................................................ 01 Racionais .................................................................................................................................................................................................... 06 Reais ............................................................................................................................................................................................................ 09 Problemas de contagem ............................................................................................................................................................................ 01 Sistema legal de medidas ...........................................................................................................................................................................11 Razões e proporções .................................................................................................................................................................................. 15 Divisão proporcional ................................................................................................................................................................................. 24 Regras de três simples e compostas ......................................................................................................................................................... 21 Porcentagens .............................................................................................................................................................................................. 19 Equações e inequações de 1.º e 2.º graus ................................................................................................................................................. 29 Sistemas lineares ........................................................................................................................................................................................ 29 Funções; gráficos ....................................................................................................................................................................................... 44 Seqüências numéricas ............................................................................................................................................................................... 55 Funções exponenciais e logarítmicas ....................................................................................................................................................... 44 Noções de probabilidade e estatística. ..................................................................................................................................................... 55 Juros simples e compostos: capitalização e descontos............................................................................................................................ 64 C a rg o E s c r i t u r á r i o BANCO DO BRASIL Didatismo e Conhecimento Índice Taxas de juros: nominal, efetiva, equivalentes, proporcionais, real e aparente................................................................................... 64 Rendas uniformes e variáveis ................................................................................................................................................................... 64 Planos de amortização de empréstimos e financiamentos ..................................................................................................................... 64 Cálculo financeiro: custo real efetivo de operações de financiamento, empréstimo e investimento. ................................................. 64 Avaliação de alternativas de investimento. ............................................................................................................................................. 64 Taxas de retorno. ....................................................................................................................................................................................... 64 RACIOCÍNIO LÓGICO Lógica sentencial e de primeira ordem. Enumeração por recurso. Contagem: princípio aditivo e multiplicativo. Arranjo. Permutação. Combinação simples e com repetição.. ............................................................................................................................... 01/40 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS INFORMÁTICA Conceitos de informática, hardware e software. .................................................................................................................................... 01 Ambientes operacionais Windows eLinux. ............................................................................................................................................ 09 Processador de texto (Word) .................................................................................................................................................................... 20 BrOffice.org Writer. .................................................................................................................................................................................. 20 Planilhas eletrônicas (Excel) ..................................................................................................................................................................... 45 BrOffice.org Calç ....................................................................................................................................................................................... 71 Editor de Apresentações (PowerPoint) .................................................................................................................................................... 71 BrOffice.org Impress ................................................................................................................................................................................. 71 Conceitos de tecnologias relacionadas à Internet e Intranet, Protocolos Web, World Wide Web, Navegador Internet (Internet Explorer e Mozilla Firefox), busca e pesquisa na Web. ................................................................................................................................. 80 Conceitos de tecnologias e ferramentas de colaboração, correio eletrônico, grupos de discussão, fóruns e wikis........................... 80 Conceitos de proteção e segurança, realização de cópias de segurança (backup), vírus e ataques a computadores. ...................... 98 Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas. ........................................................ 09 Conceitos de educação à distância. ........................................................................................................................................................ 105 Conceitos de acesso à distância a computadores. ................................................................................................................................... 80 Conceitos de tecnologias e ferramentas multimídia, de reprodução de áudio e vídeo. ..................................................................... 105 CONHECIMENTOS BANCÁRIOS Estrutura do Sistema Financeiro Nacional: Conselho Monetário Nacional; COPOM – Comitê de Política Monetária; BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; Bancos Múltiplos; Bancos de Câmbio; Companhias Hipotecárias; Agências de Fomento; CCB – Cédula de Crédito Bancário; Banco Central do Brasil; Comissão de Valores Mobiliários; ................................... 01 Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional; bancos comerciais; caixas econômicas; cooperativas de crédito; bancos comerciais cooperativos; bancos de investimento; bancos de desenvolvimento; sociedades de crédito, financiamento e investimento; sociedades de arrendamento mercantil; sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários; sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários; bolsas de valores; bolsas de mercadorias e de futuros; Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC); Central de Liquidação Financeira e de Custódia de Títulos (CETIP); sociedades de crédito imobiliário; associações de poupança e empréstimo. ....................................................................................................................................................................................................... 03 Sistema de Seguros Privados e Previdência Complementar: Conselho Nacional de Seguros Privados; Superintendência de Seguros Privados; Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC; Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC; Resseguradores; sociedades seguradoras; sociedades de capitalização; entidades abertas e entidades fechadas de previdência privada; corretoras de seguros; sociedades administradoras de seguro-saúde. ......................................................................................... 08 Sociedades de fomento mercantil (factoring); sociedades administradoras de cartões de crédito. .................................................. 12 Didatismo e Conhecimento Índice Produtos e serviços financeiros: depósitos à vista; depósitos a prazo (CDB e RDB); letras de câmbio; cobrança e pagamento de títulos e carnês; transferências automáticas de fundos; commercial papers; arrecadação de tributos e tarifas públicas; home/office banking, remote banking, banco virtual, dinheiro de plástico; conceitos de corporate finance; Fundos de Investimento; hot money; contas garantidas; crédito rotativo; descontos de títulos; financiamento de capital de giro; vendor finance/compror finance; leasing (tipos, funcionamento, bens); financiamento de capital fixo; crédito direto ao consumidor; crédito rural; cadernetas de poupança; financiamento à importação e à exportação – repasses de recursos do BNDES; cartões de crédito; títulos de capitalização; planos de aposentadoria e pensão privados; planos de seguros. ................................................................................................................................... 13 Mercado de capitais: ações – características e direitos; debêntures; diferenças entre companhias abertas e companhias fechadas; operações de underwriting; funcionamento do mercado à vista de ações; mercado de balcão; operações com ouro. Mercado de câmbio: instituições autorizadas a operar; operações básicas; contratos de câmbio – características; taxas de câmbio; remessas; SISCOMEX. ...................................................................................................................................................................................................... 30 Operações com derivativos: características básicas do funcionamento do mercado a termo, do mercado de opções, do mercado futuro e das operações de swap. ........................................................................................................................................................................... Garantias do Sistema Financeiro Nacional: aval; fiança; penhor mercantil; alienação fiduciária; hipoteca; fianças bancárias; Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Crime de lavagem de dinheiro: conceito e etapas. ....................................................................... 38 Prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro: Lei nº 9.613/98 e suas alterações, Circular Bacen 3.461/2009 e suas alterações e Carta-Circular Bacen 2.826/98. Autorregulação Bancária ...................................................................................................... 66 HABILIDADES NO ATENDIMENTO Legislação: Lei n.º 8.078/90; Código de Defesa do Consumidor; Resolução CMN n.º 3.694; Código de Defesa do Consumidor Bancário; Lei nº 10.048/00; Lei nº 10.098/00; Decreto nº 5.296/04. ............................................................................................................. 01 Marketing em empresas de serviços. Satisfação, valor e retenção de clientes. Como lidar com a concorrência. Propaganda e promoção. Venda. Telemarketing. Etiqueta empresarial: comportamento, aparência, cuidados no atendimento pessoal e telefônico. 28 Decreto Lei nº 6523 - Regulamenta a Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, para fixar normas gerais sobre o Serviço de Atendimento ao Consumidor - SAC. ..............................................................................................................................................................37 Resolução CMN nº 3849 de 25/03/10 - Dispõe sobre a instituição de componente organizacional de ouvidoria pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil .......................................................................... 38 Didatismo e Conhecimento Índice ATENÇÃO SAC DÚVIDAS DE MATÉRIA A NOVA APOSTILA oferece aos candidatos um serviço diferenciado - SAC (Serviço de Apoio ao Candidato). O SAC possui o objetivo de auxiliar os candidatos que possuem dúvidas relacionadas ao conteúdo do edital. O candidato que desejar fazer uso do serviço deverá enviar sua dúvida somente através do e-mail: professores@ novaapostila.com.br. Todas as dúvidas serão respondidas pela equipe de professores da Editora Nova, conforme a especialidade da matéria em questão. Para melhor funcionamento do serviço, solicitamos a especificação da apostila (apostila/concurso/cargo/Estado/ matéria/página). Por exemplo: Apostila do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - Cargo Escrevente. Português - paginas 82,86,90. Havendo dúvidas em diversas matérias, deverá ser encaminhado um e-mail para cada especialidade, podendo demorar em média 05 (cinco) dias para retornar. Não retornando nesse prazo, solicitamos o re-envio do mesmo. ERROS DE IMPRESSÃO Alguns erros de edição ou impressão podem ocorrer durante o processo de fabricação deste volume, caso encontre algo, por favor, entre em contato conosco, pelo nosso e-mail, nova@novaapostila.com.br. Alertamos aos candidatos que para ingressar na carreira pública é necessário dedicação, portanto a NOVA APOSTILA auxilia no estudo, mas não garante a sua aprovação. Como também não temos vínculos com a organizadora dos concursos, de forma que inscrições, data de provas, lista de aprovados entre outros independe de nossa equipe. Havendo a retificação no edital, por favor, entre em contato pelo nosso e-mail, pois a apostila é elaborada com base no primeiro edital do concurso, teremos o COMPROMISSO de enviar gratuitamente a retificação APENAS por e-mail e também disponibilizaremos em nosso site, www.novaapostila.com.br, na opção ERRATAS. Lembramos que nosso maior objetivo é auxiliá-los, portanto nossa equipe está igualmente à disposição para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos. RESSALTAMOS QUE DÚVIDAS E ESCLARECIMENTOS SERÃO RESPONDIDOS APENAS POR E-MAIL, nossos atendentes telefônicos são treinados apenas para vendas e follow-up de pedidos. Atenciosamente, NOVA APOSTILA Equipe Nova Apostila 1 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS A maioria das pessoas fala enquanto faz alguma coisa. Numa partida de futebol, os jogadores não só correm e chutam, mas gritam, advertem, perguntam. Difícil é ler e ao mesmo tempo fazer outra coisa. Ao lermos, a realidade em torno de nós tende a sumir de nossa atenção, porque ficamos concentrados naquilo que o texto nos diz. “Na leitura, é importante descobrir o que é relevante em cada texto e conseguir situar-se convenientemente no ponto de observação escolhido pelo autor, compreendendo suas intenções e propósitos”. A importância dada a questões de interpretação de textos deve-se ao caráter interdisciplinar, o que equivale dizer que a competência de ler texto interfere decididamente no aprendizado em geral, já que boa parte do conhecimento mais importante nos chega por meio da linguagem escrita. A maior herança que a escola pode legar aos seus alunos é a competência de ler com autonomia, isto é, de extrair de um texto os seus significados. Num texto, cada uma das partes está combinada com as outras, criando um todo que não é mero resultado da soma das partes, mas da sua articulação. Assim, a apreensão do significado global resulta de várias leituras acompanhadas de várias hipóteses interpretativas, levantadas a partir da compreensão de dados e informações inscritos no texto lido e do nosso conhecimento do mundo. Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que o texto apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado. “Aquela senhora tem um piano. Que é agradável, mas não é o correr dos rios. Nem o murmúrio que as árvores fazem... Por que é preciso ter um piano? O melhor é ter ouvidos E amar a Natureza.” Que simboliza o piano no poema? Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se percebe pela oposição que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio das árvores (bens naturais). O poema descarta a necessidade do piano, dando preferência à fruição dos sons da Natureza. Para que serve a linguagem? (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam... (...) Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. Esses versos foram extraídos do poema “Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que Cecília Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser constituída de sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu significado, derruba reis e impérios; serve para construir a liberdade do ser humano e também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar declarações de amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas também para caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos animais. O provérbio popular “Palavra não quebra osso”, contrapondo a palavra à ação, insinua que a linguagem não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora podemos desfazer facilmente essa visão simplista das coisas, analisando para que serve a linguagem. A linguagem é uma maneira de perceber o mundo “Este deve ser o bosque”, murmurou pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm nomes”. (...) Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse enquanto avançava em meio às árvores, “depois de tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a mão no tronco da árvore. “Como é que essa coisa se chama? É bem capaz de não TR nome nenhum... ora, com certeza não tem mesmo!” Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso terminou acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. Lewis Carroll. Aventuras de Alice. Trad. Sebastião Uchôa Leite. 3ª Ed. São Paulo, Summus, p 165-166 Esse texto, reproduzido do livro Através do espelho e o que Alice encontrou lá, mostra que a protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de apreender a realidade em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as coisas do mundo exterior só têm existência para os homens quando são nomeadas. A linguagem é uma forma de apreender a realidade: só percebemos aquilo a que a língua dá nome. Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 de junho de 2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”, usada para traduzir o grau de confiabilidadede um país entre credores ou investidores internacionais: 2 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 (...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa não se conhece. Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez identificado, batizado e devidamente etiquetado, o “risco país” passou a existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é possível dormir em paz num país submetido à medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade com que a um paciente se tira a pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso placar luminoso, sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o “risco naufrágio”. A linguagem é uma forma de interpretar a realidade O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as palavras, fossem elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras apenas nomes para as coisas, seria mais conveniente que todos os homens trouxessem consigo as coisas de que precisassem falar ao discorrer sobre determinado assunto (...). ...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano de se expressarem por meio de coisas, cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que falar sobre longos assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas um grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para acompanhá-lo (...). Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua universal, compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são geralmente da mesma espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente percebido. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. Esse trecho do livro Viagens de Gulliver narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para língua – pelas coisas. Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse discorrer sobre uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vulgares de que a compreensão da realidade independe da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas aplicadas a coisas classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo. O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas não podem substituir as palavras, porque a língua é bem mais que um sistema de mostração de objetos ou mera cópia do mundo natural. As coisas não designam tudo que uma língua pode expressar. Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua, agrupamos os nomes em classes. Maçã, pêra, banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a idéia da classe fruta; não posso, então, expressar idéias mais gerais. Não produzimos palavras somente para designar as coisas, mas para estabelecer relações entre elas e para comentá-las. Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de gênero (masculino e feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de mostração de objetos, pois permite falar do que está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até criar novas realidades, mundos não existentes. A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam conceitos, e eles ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”, uma vez que é a Terra que gira em torno dele. Contudo esse conceito, criado pela linguagem, determina uma realidade que nos encanta a todos. Outro exemplo: apagar uma coisa escrita no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito a lápis, a caneta ou mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova realidade, deletar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma nova invenção, uma nova idéia exigem novas palavras, e estas é que lhes conferem existência para toda a comunidade de falantes. As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada língua pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de ver a realidade. O inglês, por exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep, que designa o animal, e mutton, que significa a carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas coisas numa palavra só: Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado – ou seja, não aplicamos a distinção que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso mostra que a linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa maneira de perceber e de ordenar a realidade. A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você derrubou o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe-se que, na primeira formulação, não existe um responsável pela queda e pela quebra do objeto. É como se isso se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se a responsabilidade pelo acontecimento a um agente. A linguagem é uma forma de ação Existem certas fórmulas lingüísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre diz aos noivos Eu vos declaro marido e mulher, quando alguém diz Prometo estar aqui amanhã, quando um leiloeiro proclama Arrematado por mil reais, quando o presidente de alguma câmara municipal afirma Declaro aberta a sessão, eles não estão constatando alguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato de abrir uma sessão realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se quando se diz Prometo. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para demonstrar que a linguagem não é algo sem conseqüência, porque ela também é ação. As funções da linguagem Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é que ela serve para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? 3 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 A linguagem serve para informar (função referencial) ESTADOS UNIDOS INVADEM O IRAQUE Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um acontecimento do mundo. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, transmitimos esses conhecimentos na memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pessoas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, somos prevenidos contra as tentativas malsucedidas de fazer alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite- os. Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como aprendemos desde as mais banais informações do dia-a-dia até as teorias científicas,as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais avançados. A função informativa da linguagem tem importância central na vida das pessoas, consideradas individualmente ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite conhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos e a transferência de experiências. Por meio dessa função, a linguagem modela o intelecto. É a função informativa que permite a realização do trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender. A função informativa costuma ser chamada também de função referencial, pois seu principal propósito é fazer com que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas ou os eventos a que fazem referência. A linguagem serve para influenciar e ser influenciado (função conativa) Vem pra Caixa você também. Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse comportamento, formulou-se um convite com uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer determinadas coisas, a crer em determinadas idéias, a sentir determinadas emoções, a ter determinados estados de alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, Isso é coisa de mulher, aprendemos os preconceitos contra a mulher. Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expressas pela linguagem também servem para fazer fazer. Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar. Emprega-se a expressão função conativa da linguagem quando esta é usada para interferir no comportamento das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). A linguagem serve para expressar a subjetividade (função emotiva) Eu fico possesso com isso! Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem A intenção do Fernando é levar o país à prosperidade ou O Fernando tem mudado o país. Essa maneira informal de se referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela proximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou nossa competência na conquista amorosa. Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro inconscientemente. Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utilização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, daquele que fala. A linguagem serve para criar e manter laços sociais (função fática) __Que calorão, hein? __Também, tem chovido tão pouco. __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil. Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais. Quando encontramos alguém e lhe perguntamos Tudo bem?, em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se está doente, se está com problemas. A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. 4 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros. Na nomenclatura da lingüística, usa-se a expressão função fática para indicar a utilização da linguagem para estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor. A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem (função metalingüística) Quando dizemos frases como A palavra “cão” é um substantivo; É errado dizer “a gente viemos”; Estou usando o termo “direção” em dois sentidos; Não é muito elegante usar palavrões, não estamos falando de acontecimentos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É o que chama função metalingüística. A atividade metalingüística é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos outros. Quando afirmamos Como diz o outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica, vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. A linguagem serve para criar outros universos A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem existir. O filme de Woody Allen A rosa púrpura do Cairo (1985) mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus- tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o amor nunca diminui e assim por diante. A linguagem serve como fonte de prazer (função poética) Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons são formasde tornar a linguagem um lugar de prazer. Divertimo- nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrair satisfação. Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz Tupi or not tupi; trata-se de um jogo com a frase shakespeariana To be or not to be. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gorda se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos. A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel comprido para sentar- se” e “casa bancária”. Também está empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG): ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de consciência e bata em retirada. (Folha de S. Paulo) Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para informar, para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc. Na estrofe abaixo, retirada do poema “A cavalgada”, de Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: E o bosque estala, move-se, estremece... Da cavalgada o estrépito que aumenta Perde-se após no centro da montanha... Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª Ed. Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o barulho dos cavalos aumenta. Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua função poética. Potencialidades da linguagem Depois de analisar as funções da linguagem, conclui-se que ela é onipresente na vida de todos nós. Cerca-nos desde o despertar da consciência, ainda no berço, segue-nos durante toda a vida e acompanha-nos até a hora da morte. Sem a linguagem, não se pode estruturar o mundo do trabalho, pois é ela que permite a troca de informações e de experiências e a cooperação entre os homens. Sem ela, o homem não pode conhecer-se nem conhecer o mundo. Sem ela, não se exerce a cidadania, porque os eleitores não podem influenciar o governo. Sem ela não se pode aprender, expressar os sentimentos, imaginar outras realidades, construir as utopias e os sonhos. No entanto, a linguagem parece-nos uma coisa natural. Não prestamos muita atenção a ela. Nem sempre dedicamos muito tempo ao seu estudo. Conhecer bem a língua materna e línguas estrangeiras é uma necessidade. Que é saber bem uma língua? Evidentemente, não é saber descrevê-la. A descrição gramatical de uma língua é um meio de adquirir sobre ela um domínio crescente. Saber bem uma língua é saber usá-la bem. No entanto, o emprego de palavras raras e a correção gramatical não são sinônimos do uso adequado da língua. Falar bem é atingir os propósitos de comunicação. Para isso, é preciso usar um nível de língua adequado, é necessário construir textos sem ambigüidades, coerentes, sem repetições que não acrescentam nada ao sentido. O texto que segue foi dito por um locutor esportivo: Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre, mola propulsora do eleven periquito. (Álvaro da Costa e Silva. In: Bundas, p.33.) O que o locutor quis dizer foi: Entra em campo o médico do Palmeiras a fim de cuidar da contusão de Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia), jogador de meio de campo do time do Parque Antártica. Certamente, aquele texto não seria entendido pela maioria dos ouvintes. Portanto não é um bom texto, porque não usa um nível de língua adequado à situação de comunicação. 5 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 Outros exemplos: As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais. (Jornal Folha do Sudoeste) Certamente a portaria não deveria obrigar os pais a acompanhar os filhos aos motéis nem a dar-lhes uma autorização por escrito para ser exibida na entrada desse tipo de estabelecimento. O jornal da USP publicou uma série de textos encontrados em comunicados de paróquias e templos. Todos são mal escritos, embora neles não se encontrem erros de ortografia, concordância, etc.: - Não deixe a preocupação acabar com você. Deixe que a Igreja ajude. - Terça-feira à noite: sopão dos pobres, depois oração e medicação. - (...) lembre-se de todos que estão tristes e cansados de nossa igreja e de nossa comunidade. - Para aqueles que têm filhos e não sabem, nós temos uma creche no segundo andar. - Quinta-feira às 5:00 haverá reunião do Clube das Jovens Mamães. Todos aqueles que quiserem se tornar uma Jovem Mamãe, devem contatar padre Cavalcante em seu escritório. (...) (Jornal da USP, 9, p. 15) Humor à parte, esses exemplos comprovam que aprender não só a norma culta da língua, mas também os mecanismos de estruturação do texto. A palavra texto é bastante usada na escola e também em outras instituições sociais que trabalham com a linguagem. É comum ouvirmos expressões como O texto constitucional desceu a detalhes que deveriam estar em leis ordinárias; Seu texto ficou muito bom; O texto da prova de Português era muito longo e complexo; Os atores de novelas devem decorar textos enormes todos os dias. Apesar de corrente, porém, o termo não é de fácil definição: quando perguntamos qual é o seu significado, percebemos que a maioria das pessoas é incapaz de responder com precisão e clareza. Texto é um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. O texto é um todo organizado de sentido, isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases simplesmente colocadas umas depois das outras, mas um conjunto de frases costuradas entre si. Por isso o sentido de cada parte depende da sua relação com as outras partes, isto é, o sentido de uma palavra ou de uma frase depende das outras palavras ou frases com que mantêm relação. Em síntese, o sentido depende do contexto, entendido como a unidade maior que compreende uma unidade menor, a oração é contexto da palavra, o período é contexto da oração e assim sucessivamente. O contexto pode ser explícito (quando é exposto em palavras) ou implícito (quando é percebido na situação em que o texto é produzido). Observe os três pequenos textos abaixo: I- Todos os dias ele fazia sua fezinha. Na noite de segunda- feira sonhou com um deserto e jogou seco no camelo. II- Nos desertos da Arábia, o camelo é ainda o principal meio de transporte dos beduínos. III- O camelo aqui carrega a família inteira nas costas, porque lá ninguém trabalha. Em cada uma dessas frases a palavra camelo tem um sentido diferente. Na primeira, significa “o oitavo grupo do jogo no bicho, que corresponde ao número 8 e inclui as dezenas 29, 30, 31 e 32”; na segunda, “animal originário das regiões desérticas, de grande porte, quadrúpede, de cor amarelada, de pescoço longo e com duas saliênciasno dorso”; na terceira, “pessoa que trabalha muito”. O que determina essa diferença de sentido da palavra é exatamente o contexto, o todo em que ela está inserida. No texto, portanto, o sentido de cada parte não é independente, tudo são relações. Aliás, a palavra texto significa “tecido”, que não é um amontoado de fios, mas uma trama arranjada de maneira organizada. O sentido não é solitário, é solidário. Vejamos outros dois períodos: I- Marcelinho é um bom atacante, mas é desagregador. II- Marcelinho é desagregador, mas é um bom atacante. Esses períodos relacionam diferentemente as orações. No primeiro, a oração é desagregador é introduzida por mas, enquanto no segundo é a oração é um bom atacante que é iniciada por essa conjunção. O sentido é completamente diferente, pois o mas introduz o argumento mais forte e, por conseguinte, determina a orientação argumentativa da frase. Isso significa que, quando afirmo I, não quero o jogador no meu time; quando digo II, acredito que todos os seus defeitos devem ser desculpados. Observe agora o poema “Canção do Exílio” de Murilo Mendes: Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos de exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Poesias (1925-1953). Rio de Janeiro, José Olympio, 1959, p. 5. Tomando apenas os dois primeiros versos, pode-se pensar que esse poema seja uma apologia do caráter universalista e cosmopolita da brasilidade: macieiras e gaturamos representam a natureza vegetal e animal, respectivamente; Califórnia e Veneza são a imagem do espaço estrangeiro, e minha terra, a do solo pátrio. No Brasil, até a natureza acolhe o que é estrangeiro. 6 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 Pode-se ainda acrescentar, em apoio a essa tese, que esses versos são calcados nos dois primeiros do poema homônimo de Gonçalves Dias, que é uma glorificação da terra pátria: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; Apud: Manuel Bandeira. Gonçalves Dias: Poesia. 7ª Ed. Rio de Janeiro Agir, 1976, p. 18. Coleção Nossos Clássicos. Essa hipótese de leitura, se não é absurda quando isolamos os versos em questão, não encontra amparo quando os confrontamos com o restante do texto. Murilo Mendes mostra, na verdade, que as características da brasilidade não têm valor positivo, não concorrem para a exaltação da pátria: o poeta denuncia que a cultura brasileira é postiça, é uma miscelânea de elementos advindos de vários países. Ele mostra que os poetas são pretos que vivem em torres de ametista, alienados num mundo idealizado, evitando as mazelas do mundo real, sem se preocupar com os negros, que vivem, em geral, em condições muito precárias (trata-se de uma referência irônica ao Simbolismo e, principalmente, a Cruz e Sousa); que os sargentos do exército são monistas, cubistas, ou seja, em vez da preocupação com seu ofício de garantir a segurança do território nacional, têm pretensões de incursionar por teorias filosóficas e estéticas; que os filósofos são polacos vendendo a prestações, são prostituídos (polaca é termo designativo de prostituta) pela venalidade barata; que os oradores se identificam com os pernilongos em sua oratória repetitiva; que o romantismo gonçalvino estava certo ao afirmar que a natureza brasileira é pródiga, só que essa prodigalidade não é acessível à maioria da população. A exclamação do final é, ao mesmo tempo, a manifestação do desejo de ter contato com coisas genuinamente brasileiras e um lamento, pois o poeta sabe que não se tornará realidade. O texto de Murilo faz referência ao de Gonçalves Dias, mas, diferentemente do poema gonçalvino, não celebra ufanisticamente a pátria. Ao contrário, ironiza-a, lamenta a invasão estrangeira. O exílio é a própria terra, desnaturada a ponto de parecer estrangeira. Desse modo, os dois primeiros versos não podem ser interpretados como um elogio ao caráter cosmopolita da cultura brasileira. Ao contrário, devem ser lidos como uma crítica ao caráter postiço da nossa cultura. Isso porque só a segunda interpretação se encaixa coerentemente dentro do contexto. Por exemplo, comprova-se que o significado das frases não é autônomo. Num texto, o significado das partes depende do todo. Por isso, cada frase tem um significado distinto, dependendo do contexto em que está inserida. Que é que faz perceber que um conjunto de frases compõe um texto? O primeiro fator é a coerência, ou seja, a compatibilidade de sentido entre elas, de modo que não haja nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. Outro fator é a ligação das frases por certos elementos que recuperam passagens já ditas ou garantem a concatenação entre as partes. Assim, em Não chove há vários meses. Os pastos não poderiam, pois, estar verdes, a palavra pois estabelece uma relação de decorrência lógica entre uma e outra frase. O segundo fator, entretanto, é menos importante que o primeiro, pois mesmo sem esses elementos de conexão, um conjunto de frases pode ser coerente e, portanto, um todo organizado de sentido. Delimitações e Sujeito do Texto O texto é delimitado por dois brancos. Se ele é um todo organizado de sentido, ele pode ser verbal, visual (um quadro), verbal e visual (um filme), sonoro (uma música), etc. Mas em todos esses casos ele será delimitado por dois espaços de não-sentido, dois brancos, um antes de começar o texto e outro depois. É o branco do papel; é o tempo de espera para que um filme comece e o que está depois da palavra FIM; é o silêncio que precede os primeiros acordes de uma melodia e que sucede às notas finais, etc. O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social que vive num dado tempo e num certo espaço, expõe em seus textos as idéias, os anseios, os temores, as expectativas desse grupo. Todo texto, assim, relaciona-se com o contexto histórico e geográfico em que foi produzido, refletindo a realidade apreendida por seu autor, que sobre ela se pronuncia. O poema de Murilo Mendes que comentamos anteriormente mostra o anseio de uma geração, no Brasil, em certa época, de conhecer bem o país e revelar suas mazelas para transformá-lo. Não há texto que não reflita o seu tempo e o seu lugar. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um modo único de analisar os problemas estabelecidos num dado contexto. Como a sociedade é dividida em grupos sociais, que têm interesses muitas vezes antagônicos, ela produz idéias divergentes entre si. A mesma sociedade que gera a idéia de que é preciso pôr abaixo a floresta amazônica para explorar suas riquezas, produz a idéia de que preservá-la é mais rentável. É bem verdade, no entanto, que algumas idéias, em certas épocas, exercem domínio sobre outras. É necessário entender as concepções correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para não correr o risco de entendê-lo de maneira distorcida. Como não há idéias puras, todas as idéias estão materializadas em textos, analisar a relação de um texto com sua época é estudar a sua relação com outros textos. É preciso que fiquem bem claras estas conclusões: I- No texto, o sentido não é solitário, mas solidário. II- O texto está delimitado por dois espaços de não-sentido. III- O texto revela ideais, concepções, anseios, expectativas e temores deum grupo social numa determinada época, em determinado lugar. Apreensão e Compreensão do Sentido Quando Lula disse a Collor no primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989: Eu sabia que você era collorido por fora, mas caiado por dentro. Os brasileiros colocaram essa frase no âmbito dos “discursos da campanha presidencial” e entenderam não “Você tem cores fora, mas é revestido de cal por dentro”, mas “Você apresenta um discurso moderno e de centro-esquerda, mas é um reacionário”. Observe que há duas operações diferentes no entendimento do texto. A primeira é a apreensão, que é a captação das relações que cada parte mantém com as outras no interior do texto. No entanto, ela não é suficiente para entender o sentido integral. Uma pessoa que conhecesse todas as palavras da frase acima, mas não conhecesse o universo dos discursos da campanha presidencial, não entenderia o significado da frase. Por isso, é preciso colocar o texto dentro do universo discursivo a que ele pertence e no interior do qual ganha sentido. Alguns teóricos chamam conhecimento 7 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 de mundo ao universo discursivo. Na frase acima, collorido e caiado não pertencem ao universo da pintura, mas da vida política: a primeira palavra refere-se a Collor e ao modo como ele se apresentava, um político moderno e inovador; a segunda diz respeito a Ronaldo Caiado, político conservador que o apoiava. A essa operação chamamos compreensão. Apreensão + Compreensão = Entendimento do texto Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de leitura: informativa e de reconhecimento. A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto, extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a interpretação grife palavras- chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à idéia- central de cada parágrafo. A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas. Marque palavras como não, exceto, respectivamente, etc., pois fazem diferença na escolha adequada. Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia a frase anterior e posterior para ter idéia do sentido global proposto pelo autor. Um texto para ser compreendido deve apresentar idéias seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela idéia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão do texto. A alusão histórica serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da mudança de linha e um espaçamento da margem esquerda. Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a idéia central extraída de maneira clara e resumida. Atentando-se para a idéia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho que nos levará à compreensão do texto. Produzir um texto é semelhante à arte de produzir um tecido. O fio deve ser trabalhado com muito cuidado para que o trabalho não se perca. O mesmo acontece com o texto. O ato de escrever toma de empréstimo uma série de palavras e expressões amarrando, conectando uma palavra uma oração, uma idéia à outra. O texto precisa ser coeso e coerente. Coesão É a amarração entre as várias partes do texto. Os principais elementos de coesão são os conectivos, vocábulos gramaticais, que estabelecem conexão entre palavras ou partes de uma frase. O texto deve ser organizado por nexos adequados, com seqüência de idéias encadeadas logicamente, evitando frases e períodos desconexos. Para perceber a falta de coesão, a melhor atitude é ler atentamente o seu texto, procurando estabelecer as possíveis relações entre palavras que formam a oração e as orações que formam o período e, finalmente, entre os vários períodos que formam o texto. Um texto bem trabalhado sintática e semanticamente resultam num texto coeso. Coerência A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para quem lê, devendo, portanto, ser entendida, interpretada. Na avaliação da coerência da redação, será levada em conta o tipo de texto. Em um texto dissertativo, será avaliada a capacidade de relacionar os argumentos e de organizá- los de forma a extrair deles conclusões apropriadas; num texto narrativo, será avaliada sua capacidade de construir personagens e de relacionar ações e motivações. Tipos de Composição Descrição: descrever é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a indicação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação cuidadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundível. Não se trata de enumerar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir uma impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pintar, é criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras específicas, exatas. Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais ou imaginários. São seus elementos constitutivos: personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o incidente, o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes, que estão quase sempre em conflito. A Narração envolve: • Quem? Personagem; • Quê? Fatos, enredo; • Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos; • Onde? O lugar da ocorrência; • Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos; • Por quê? A causa dos acontecimentos; Dissertação: dissertar é apresentar idéias, analisá-las, é estabelecer um ponto de vista baseado em argumentos lógicos; é estabelecer relações de causa e efeito. Aqui não basta expor, narrar ou descrever, é necessário explanar e explicar. O raciocínio é que deve imperar neste tipo de composição, e quanto maior a fundamentação argumentativa, mais brilhante será o desempenho. EXERCÍCIOS Nas provas, você terá tempo limitado para responder às questões. Por isso, treine obedecendo fielmente às indicações de tempo máximo. Quando estiver terminando o tempo, chute; não deixe questão sem resposta. Contudo, nos concursos, dependendo da banca, se tiver dúvida, é melhor deixar a questão em branco, pois uma resposta errada anula uma correta. Este é o caminho: leitura, exercício, correção, entendimento dos erros. Quanto mais você entender porque errou, mais estará aprendendo. Esaf: Leia atentamente o texto para responder às questões de 1 a 4. (Tempo máximo: 14 minutos) Parques em chamas Saudados por ecologistas como arcas de Noé para o futuro, por serem repositórios de espécies animais e vegetais em extinção acelerada noutras áreas do país, alguns dos 25 parques nacionais do Brasil tiveram, na semana passada, a sua paisagem mutilada pelo fogo. A rigorosa estiagem que acompanha o inverno no Centro-Sul ressecou a vegetação e abriu caminho para que as chamas tragassem 6 dos 33 quilômetros quadrados do Parque Nacional da Tijuca, pegado à cidade do Rio de Janeiro, e convertessem em carvão 10% dos 300 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Itatiaia, na divisa de Minas Gerais com o Estado do Rio. 8 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 Contido pelos bombeirosjá no fim de semana, na Tijuca, e abafado por uma providencial chuva no ltaXiaia, na quarta-feira o fogo pipocou em outro extremo do país. Naquele dia, o incêndio começou no Parque da Serra da Capivara, no sertão do Piauí, calcinado há seis anos pela seca, e avançou pela caatinga, que esconde as pinturas rupestres inscritas na rocha, há pelo menos 31.500 anos, pelo homem brasileiro pré-histórico. (Isto é, 221811984) 1. O autorjustifica o fato de os ecologistas referirem-seaos parques nacionais como “arcas de Noé para o futuro” da seguinte maneira: a) Porque são áreas preservadas da caça e pesca i ndiscri minadas. b) Porque ocupam espaços administralívamente delimitados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. c) Porque espécies animais e vegetais que estão se extinguindo em outras regiões têm preservada sua sobrevivência nesses parques. d) Porque nesses parques colecionam-se casais de espécies animais e vegetais em extinção noutras áreas. e) Porque há agentes florestais incumbidos de zelar pelos animais e vegetais dos parques. 2. A respeito dos incêndios referidos pelo autor, depreende-se do texto que: a) Embora tivessem ameaçado espécies animais e vegetais raras, apresentaram um lado positivo: aumentaram a produção de carvão. b) Foram provocados pela rigorosa estiagem do inverno, no Centro-Sul, e pela seca prolongada no sertão nordestino. c) Não foram combatidos com presteza e eficiência pelos bombeiros. d) Só foram debelados por providenciais chuvas que eventualmente vieram a cair sobre os parques. e) Destruíram parte da flora e fauna das reservas, desfigurando sua paisagem. 3. Depreende-se que o autor do texto, em relação ao fato descrito, manifesta: a) Descaso b) Hesitação c) Desesperança d) Pesar e) Indiferença 4. Aponte a única conclusão que é estrita e licitamente deduzível do texto: a) As chamas serviram para mostrar a precária situação dos parques brasileiros. b) Devem ser tomadas providências para dotar os parques de meios para se protegerem dos incêndios. c) Devem ser desencadeadas campanhas para conscientizar a população de como evitar incêndio nos parques. d) Parte da culpa dos incêndios cabe às autoridades responsáveis pelas reservas e parques. e) 0 incêndio no Parque da Serra da Capivara ameaçou valioso patrimônio histórico e antropológico. MPU ‑ auxiliar‑ Esaf: Para responder às questões de 5 a 9, leia o texto a seguir. (Tempo máximo: 16 minutos) Procura‑se uma explicação Um mundo de mistérios se esconde por trás dos pequenos anúncios. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas, quais as suas verdadeiras intenções. Fico a imaginar se o desespero de quem vende está na mesma proporção emocional de quem quer comprar. Objetos perdidos, quase sempre de estimação, documentos importantes, cachorrinhos desaparecidos, tudo na base do “gratifica-se bem”. Mas o que é gratificar bem, por exemplo, a uma pessoa que acha uma carteira com pouco dinheiro? Acho que há um pouco de ironia e de deboche da parte de toda pessoa que põe um anúncio - e muito boa vontade da parte de quem acha que ali está a sua oportunidade. Há vários anos que encontro promessas de Iugar de futuro” e acho incompreensível que esse futuro não chegue nunca, e que as vagas continuem sempre disponíveis. Ou as pessoas acabam por descobrir que o seu futuro está fora dali ou são outras firmas que estão se iniciando para oferecer novos futuros a futuros candidatos. Há uma certa ilusão de lado a lado: quem anuncia o futuro dos outros está pensando no seu presente e quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros. Até que ponto é sincero um anúncio que procura moças de “boa aparência”, de 18 a 25 anos, com prática de datilografia e um mínimo de 150 batidas certas por minuto? É tão necessário que sejam todas as batidas certas? E esses que vivem vendendo objetos, um de cada vez, «por motivo de viagem”? Será que o dinheirinho de um aparelho de televisão ou de uma máquina de costura ou de um gravador último tipo lhes pagará a passagem? Talvez a viagem seja conseqüência: depois de vender os objetos, o melhor será mesmo abandonar a cidade. E os técnicos? É impressionante como tem gente especializada anunciando sua especialidade. Mecânicos e eletricistas montam e desmontam qualquer aparelho em menos de cinco minutos, e no fim sempre nos entregam três ou quatro parafusos que não têm a menor utilidade. Penso na economia monstruosa que as fábricas fariam se, ao montarem seus aparelhos, houvessem contratado os técnicos do “atende-se a domicílio”. (Eliachar, Leon. O Homem ao Cubo. Rio deJaneiro: Francisco Alves S.A., 6ª ed., adoptado) 5. Ao falar de “pequenos anúncios”, o autor refere-se a) Essencialmente aos que tratam de empregos. b) Especificamente aos que oferecem serviços. c) Exclusivamente aos que falam de objetos perdidos. d) Genericamente a vários tipos de anúncios. e) Somente aos anúncios de compra e venda. 6. A expressão que não aparece nos anúncios que o autor menciona é: a) “lugar de fututo” b) “gratifica-se bem” c) “procura-se uma explicação” d) “atende-se a domicílio” e) “por motivo de viagem” 9 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 7. Conforme o texto, os técnicos que anunciaram sua especialidade: a) Trabalham com rapidez, mas não conseguem encaixar todas as peças de um aparelho. b) Trabalham melhor que os das fábricas, resultando disto maior economia para as montadoras. c) Entendem mais da montagem dos aparelhos que os técnicos das fábricas de eletrodomésticos. d) Duvidam da competência dos mecânicos e eletricistas das grandes fábricas. e) Pretendem conseguir uma contratação como mecânicos ou eletricistas em firmas conceituadas. 8. As “fórmulas” dos anúncios a que se refere o autor dizem respeito: a) À especificação b) À quantidade c) Ao argumento d) Ao conteúdo e) À correção 9. Assinale a opção que expressa o significado da seguinte frase do texto: “... quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros”. a) Quem oferece melhoria de vida aos outros através de anúncios pretende melhorar a própria vida. b) Aquele que pretende encontrar boas oportunidades nos anúncios proporciona lucros ao anunciante. c) O anunciante projeta seus atuais objetivos nas pretensões dos leitores. d) Quem busca o seu futuro no futuro dos outros prejudica irremediavelmente seu presente. e) O anunciante procura melhorar a vida do leitor independentemente de suas intenções. MPU – nível técnico – MF: Leia o trecho abaixo para responder às questões de 10 a 14 (Tempo máximo: 15 minutos) A rigor, se cometêssemos para com a publicidade o ingênuo extremismo de acreditar plenamente no seu discurso, teríamos à nossa frente a mais desvairada das utopias. A sua eficiência, elevada ao absurdo, consistiria em fazer com que o consumidor, ao consumir um produto, incorporasse à sua percepção sensorial um deleite Sublime, um estado nirvânico, um gozo celetial. A se ressalvar e a se ressaltar, porém, a defasagem entre a promessa publicitária e o real preenchimento proporcionado pelos bens de consumo, conclui-se tristemente que o saldo é bastante negativo: a felicidade prometida é muito fugaz e o retorno ao abismo da lacuna primordial – da consciência da finitude – é ainda maior, uma vez que a busca do sublime esteve exacerbada por estímulos fantasiosos. Cada vez que o paraíso é prometido, represema-se (ritualiza-se) o drama do retorno. Cada vez que esse retorno é frustrado, dramatiza-se, outra vez, o mito da queda. A promessa de preenchimento dá lugar ao vazio. Existência e angústia retornam à sua condição de paralelismo. Compreende-se então o quanto a retórica publicitária era irreal, sublimadora. E uma leitura literalizante desse discurso delirante coloca-se de imediato lidando com uma elaboração profundamente onírica. Literalmente, a publicidade é uma fábrica de sonhos. (Extraído de A promessa do paraíso já, Luís Martins, Humanidades, Ano IV, 1987/88, nº15, p. 110/111) 10. O tema central do fragmento acima é: a) A publicidade desequilibra a relação de forças existente entre a demanda e a oferta de bens de consumo.b) Dramatizar o mito da queda é o objetivo perseguido pela retórica publicitária. c) Há uma similaridade estrutural entre a elaboração publicitária e a elaboração onírica. d) Os comerciais veiculados pelos meios de comunicação cumprem o papel de informar o consumidor em potencial sobre as reais qualidades dos produtos. e) Ao adquirir bens de consumo, o consumidor sublima suas carências afetivas num estado de deleite sublime. 11. À leitura literal da retórica publicitária associam-se vários termos no texto, exceto: a) Deleite sublime b) Estado nirvânico c) Gozo celestial d) Consciência da finitude e) Estímulos fantasiosos 12. Uma leitura errada do texto levaria a afirmar que: a) Interpretar literalmente o discurso publicitário é uma atitude ingénua. b) A publicidade elabora um cenário onírico para os objetos da sociedade industrial. c) O discurso publicitário é formulado com mensagens que se sustentam no princípio do prazer. d) A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a consciência de sua finitude. e) Está incorporado à publicidade o componente mítico de retorno ao paraíso. 13. “Drama do retorno” e “mito da queda”, no texto, referem-se a: a) Elaboração da primeira versão da publicidade e sua recusa pelo cliente que a encomendou. b) Retorno dos comerciais aos meios de comunicação devido à queda do faturamento das empresas. c) Promessas fantasiosas contidas nos anúncios e decepção do consumidor por não vê-ias realizadas ao adquirir o produto. d) Estado nirvânico do publicitário no momento de criação da propaganda e posterior decepção ao vê-lo rejeitado pelo diretor de marketing. e) Mitos de povos primitivos a respeito das concepções de Paraíso e Inferno. 14. Assinale a letra que contém o enunciado falso. a) Colocadas em sequência, as expressões “a se ressalvar” e “a se resaltar” são equivalentes quanto ao conteúdo. b) O segmento - da consciência da finitude – explica a expressão lacuna primordial. c) O termo “(ritualiza-se)” especifica o sentido de “representa-se”. d) As expressões “deleite sublime”, “estado nirvânico”, “gozo celestial”, colocadas em sequência, reiteram a mesma idéia. e) Em “sua eficiência”, o possessivo refere-se à eficiência da publicidade. 10 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 RESPOSTAS COMENTADAS “Parque em chamas” 1. c 2. e a) Errado. O texto não fala que a produção de carvão é positiva. b) Errado. Segundo o texto, a estiagem “abriu caminho para que as chamas tragassem...”; de acordo com esta alternativa a estiagem provocou o incêndio. Abrir caminho não é provocar. c) Errado. Se os bombeiros apagaram o fogo, pelo menos foram eficientes. d) Errado. e) Certo. 3. d - “paisagem mutilada pelo fogo”. 4. b - No comando deveria estar escrito “dedutível” (que se deduz) porque não existe a palavra “deduzível”. a) Errado. Não se pode deduzir estrita e licitamente que se “alguns dos 25 parques” (o texto só fala em três deles) estão em situação difícil, todos estarão. Três não são vinte e cinco. b) Certo. O que seria competência, por exemplo, dos legisladores. Os responsáveis pelos parques não são culpados de não terem condições. c) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. d) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. e) Errado. Se as pinturas rupestres existem há pelo menos 31.500 anos, certamente já resitiram a inúmeros incêndios, o que não justifica dizer que um incêndio constitua ameaça a elas. “Procura‑se uma explicação” 5. d - Objetos perdidos, lugar de futuro = emprego, técnicos = serviços (venda). 6. c 7. a 8. c - Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas (=pelo que argumental – “gratifica-se bem”, “lugar de futuro”, “por motivo de viagem”), quais as suas verdadeiras intenções (= o que realmente querem dizer). 9. b - Observe que a frase “... quem procura seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros” pode ser reduzida a “quem procura” ... faz “o futuro dos outros”, em que o sujeito “quem procura” é o leitor e os “outros” são os anunciantes. A única alternativa que põe na ordem certa de importância do texto “leitor – anunciante” é a letra b. Compare: letra a) anunciante – anunciante; c) anunciante – leitor; d) leitor – leitor; e) anunciante – leitor. “A rigor, se cometêssemos...” 10. c - Reler as quatro últimas linhas do texto (onírico = de sonho). 11. d - É a única alternativa de significado negativo. A publicidade, no texto, só busca ressaltar o lado positivo. 12. d - A “consciência de finitude” acontece só depois que a ilusão despertada pela publicidade acaba. A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a ilusão. 13. c - Por exclusão, chega-se a esta resposta, porém, como o comando se refere a “Drama do retorno” e “mito da queda”, a alternativa melhor seria: “decepção do consumidor por não ver realizadas as promessas da propaganda”. 14. a - Ressalvar = corrigir, prevenir com ressalva, excetuar... Ressaltar = destacar, sobressair, dar relevo... TIPOLOGIA TEXTUAL Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor que também é transmitida através de figuras, impregnado de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... Texto Não‑Literário: preocupa-se em transmitir uma mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma notícia de jornal, uma bula de medicamento. Basicamente existem três tipos de texto: Texto Narrativo; Texto Descritivo; Texto Dissertativo. Cada um desses textos possui características próprias de construção. Narração Ao longo de nossa vida, tomamos contato com os mais variados tipos de textos: literários e jornalísticos, em verso e em prosa, políticos, religiosos e muitos outros. Há uma classificação que, por revelarse útil tanto para a produção escrita quanto para a leitura, enraizouse na tradição escolar. Tratase do agrupamento dos textos em narrativos, descritivos e dissertativos. Antes de mais nada, é preciso deixar claro que esses tipos não são encontrados em estado puro. Narração, descrição e dissertação podem alternarse num mesmo texto. Isso não impede que, por razões didáticas, estudemos cada uma delas separadamente. Vamos ocuparnos da narração. Leia o texto que segue: Porquinhodaíndia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinhodaíndía. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... 0 meu porquinhodaíndia foi a minha primeira [namorada. Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110. 11 Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA BANCO DO BRASIL 01/2011 Narrativas são Transformações Observe que, no texto acima, há um conjunto de transformações de situação: ganhar um porquinhodaíndia é passar da situação de não ter o animalzinho para a de têlo; leválo para a sala ou para outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: queria era estar debaixo do fogão implica a volta à situação anterior; não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas dá a entender que o menino passava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de ser; no último verso temse a passagem da situação de não ter namorada para a de ter. Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de estado pela ação de alguma personagem,
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