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;-q 4 - Série "Arquivos do Ministério da Justi~a" APRESENTAÇÃO -- Verdadeiro tormento para aqueles que seTnteres- sam pelo estudo de qualquer área do conhecimento é a busca de obras que se encontram esgotadas. O problema é ainda mais sério num país como o Brasil, de dimensões . - - - -- territoriais imensas, onde as bibliotecas especializada~ - - - -- - - estão gerãlmenteZiKa-bas nas~c@iEisOu naSCiades de--- maior porte. É de ser registrado que o desenvolvimento da In- formática, viabilizando a organização de. bancos de dados, tomou possível a integração de acervos biblio- gráficos. A tecnologia atenuou os percalços da procura, possibilitando a localização dos livros existentes em qualquer das entidades pertencentes a rede. Porém nem sempre permite o acesso, devido as grandes distâncias, - ~ s s t r i n g i n d o - s e a a p o n t a r - o n d e seencontra-~exemplar~ - Lyra Filho, Roberto, 1926 -. A remessa de cópias encontra óbices algumas vezes Criminologia Dialética 1 Roberto Lyra Filho. - Bra- incontorn~vek. síiia<hlini~-térioda3usti~a, 1997- -A - -,T -- - -. - - - .- -- -- A E impossivel uma pesquisa completa quando não 1%. - (Série Arquivos do Ministério da Justiça). está disponível o material que se considera indispensá- Apresentação de Nelson A. Jobim. introdução de Ino- cêncio Mártires Coelho. vel. Toma-se difícil viver o presente, que se projeta no futuro, quando se ignora o passado. Já afirmava Vieira, Reimpressão fac-similar. há mais de três séculos, no Semião de Quarta-Feira de 1. Criminologia - Brasil. Cinzas, pronunciado em 1672: "Se quereis ver o futuro, lede as histórias e olhai para o passado, se quereis ver o passado, lede as profecias, e olhai para o futuro. E quex q:iiser ver o presente para onde há de olhar? Não o disse S. :ornZo, mas eu o direi. Digo que olhe juntamente para um e para outro espelho. Olhai para o passado e para o futuro, e vereis o presente. A razão ou consequência é manifesta. Se no passado se vê o futuro e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente porque o presente é o futuro do passado e o mesmo presente é o passado do futuro." Considero que se insere no âmbito da competência do Ministério da Justiça favorecer os estudiosos de temas jurídicos, mediante reimpressão e fornecimento às bibliotecas de instituições brasileiras, de ~ d u m e s de obras selecionadas que se tornaram raras ou estão esgo- tadas. Isto desde que se tratem de trabalhos que já caíram no domínio público ou exista anuência dos de- tentores dos direitos autorais, de forma a que não cons- tituam maiores Ônus para a Administração. Tal se consumará mediante sugestões oferecidas por eminentes figuras do Direito pátrio, nos diferentes setores de atuação. Essas obras constituirão a série "Arquivos do Ministério da Justiça", contribuindo para o aprimoramento e aperfeiçoamento da cultura jurídica brasileira. Confio em que a iniciativa adotada por esta Secre- taria de Estado possa corresponder aos propósitos que a inspiram, ampliando-se na medida da receptividade que venha a encontrar. Brasília, março de 1997. Ministro de Estado da Justiça Contemporâneo do livro a que, agora, está servindo de prólogo, o trabalho transcrito a seguir foi redigido, em sua primeira versão, há mais de vinte anos. Originariamente um voto-vista, que apresentamos perante o Conselho de Ensino e Pesquisa da Universi- dade de Brasília, no calor de uma reunião em que se deliberava sobre o enquadrarnento de professores nos diversos níveis da carreira docente, aquele primitivo arrazoado, rehndido e transformado em artigo, veio a público em 1971, no terceiro volume da Revista de Direito Penal, graças à generosidade do saudoso Hele- no Fragoso, para quem Roberto Lyra Filho, seu colega e amigo, era simplesmente o mais notável professor universitário da sua geração. Tal como registramos em suas primeiras linhas, esse texto de circunstância destinava-se a transmitir o juízo de um discípulo sobre a importância da obra filosófico-jurídica do professor Roberto Lyra Filho, num momento particularmente atormentado da vida profissional do mais critico dos nossos jurístas críticos, quando patrulheiros ideológicos, travestidos de cientis- tas isentos, pretenderam, sem sucesso, impedir que o já incômodo adversário da ordem estabelecida ascendesse ao topo da hierarquia universitária. Imaginavam, aque- les novos inquisidores, que a "reprovação" da obra de Roberto Lyra Filho acabaria impondo uma espécie de silêncio obsequioso ao pregador irrequieto ou ao jurista "marginal", como ele próprio se qualificou antes. mes- mo que transitasse em julgado a sua condenação oficial. A republicação, sob os auspícios do Ministério da Justiça, de Crinzinologia Dialética, uma das mais im- portantes obras do saudoso Roberto Lyra Filho, prece- dida deste depoimento, que fomos obrigados a prestar - e m ~ o n d i ~ õ e s adversas, só agora reveladasyessa repu- - blicação reveste-se de singular importância para urna reflexão sobre a necessidade de que o pluralismo polí- tico, que todos dizem praticar, deixe de ser qenas um enunciado em nosso texto constitucional para se con- - - -- verter numa-~~&as-1-ib-ei-tadora. - - - - - - -- - - Quando tivernaos atingido esse nível de maturidade politica, quando os nossos adversários já hão forem tratados como inimigos, quando as nossas discordâncias de opinião não mais se reputarem declarações de guerra, homens de pensamento engajado como Roberto Lyra Filho não precisarão da solidariedade dos amigos, nem do fervor dos discipuIos para serem ouvidos ou tolera- dos. Afinal de contas, como ele mesmo dizia, não existe modelo fixo para o "reino da liberdade". -- -- - -- - *-*- * -- -- - . - A OBM CIENT~FICA E F X O S ~ F I C A DE ROBERTO LYRA FILHO - Este ensaiovisa a-expor,-sistematicamente, as-c-era- -- -- tribuições do Prof ROBERTO LYM FILHO ao Direito Penal e Processual Penal, à Criminologia e à Filosofia Jurídica, na ocasião em que ele completa o primeiro vintênio (1 950- 1970) de ensino superior e pesquisa -avançada. -Redi-gido-yor -um d-iseip~lo~ que-lhe. deve- - -- - - grande parte de sua formação, sobretudo pós-graduada, representa a homenagem do reconhecimento, o eco das vozes de tantos, que têm recebido encaminhamento, apoio e orientação segura do Prof. L Y M . A primeira observação a fazer sobre a perssnalida- de científica em estudo é a extraordinária amplitude do seu campo de formaçâo e atividade, com investigações que se expandem horizontal e, mais, verticalmente, dentro de -uma -- polarização de notável constância de ------ - interesses e habilitações. Fundamentalmente, aqui se trata do problema do c r i w f o cads, oranõ 2ngu1o ~ c e s suzkp enzl; - meira &se; depois, aprofbndado, na visão científica da ~ri ininolo~ia,-que lhe desvenda outras dimensões, e exploraçãi, em toda a gama micro e macrocriminológi- ca, desde as investigações bispsáquicas às sociológicas. Enfim, a preocupação de ordenar uma teoria criminoló- gica integrada leva a questionamentos radicais, pondo o autor em campo filosófico, sobretudo no que conceme a metodologia das ciências, notadamente as humanas, e ao "esquema de base", reclamado, aliás, pelo criminó- logo PINATEL, quanto a Antropologia Filosófica. E isto vem trazer a consideração todos os problemas gnosio- lógicos e epistemológicos, os problemas dos valores e das normas e o caminho da Filosofia Geral a Filosofia do Direito. A revisão desses roteiros leva o Prof. ROBER- TO LYRA FILHO a marcar planos originais de comuni- cação entre a problemática de formalização, eficácia e legitimidade das normas e os trabalhos jurídicos, em sentido estrito, rompendo os diquesdo tecnicismo, para o livre trânsito da especulação, e enriquecendo-os com as perspectivas científicas da Criminologia, que, já em si, forma uma prodigiosa encruzilhada. Nesta primeira abordagem, visamos a manifestar a co-implicação de toda a obra, naquele duplo sentido de abordagem interdisciplinar e peculiar "especialização", assinalado por GIBERTO FREYRE, em comentário ao livro do Prof. ROBERTO LYRA FILHO, Perspecfivas Atuais da Criminologia. É aqui, nesse perfil de scholar, que reside a coerência capaz de movimentar a rede, onde se entretecem os elementos de uma erudição realmente incomum, sempre manejada com agilidade. Substancialmente, defrontamo-nos com imenso painel, em que o tema é o crime, o criminoso, a pena, considerados sob todos os ângulos e com incursões na Biologia, na Psicologia, na Psiquiatria, na Psicanálise, na Sociologia, na litigiosa "Ciência do Direito" Penal e Processual Penal, na Criminologia, na Filosofia Geral e, especialmente, na Filosofia do Direito. A passagem por todos esses terrenos, todavia, além de regida, digamos, por mola mestra de preocupações criminológicas, faz-se com tal aprumo, tão rigorosa informação e formação científica e filosófica, que mui- tos setores, não especialmente visados, recebem ilumi- nações incidentes que, em si, representam marcos , I significativos e contribuições valiosas, sob o prisma de qualquer das disciplinas fi-eqiientadas, quando as consi- deramos em si mesmas. Para destacar essas características, RECASÉNS SI- CHES - a cuja obra filosófico-jurídica dedicamos exaustiva análise crítica que constituiu nossa tese de doutoramento - desenterrou e repristinou um velho adjetivo - "exímio" - aplicando-o ao mestre ~ da Universidade de Brasília. É aquele perfeito rigor e aca- bamento, ali expresso, que se torna admirável. Esse itinerário, no seu delineamento geral, será seguido, aqui, com a miniicia que estiver a nosso alcance. Deixamos, propositadamente, de lado a que o Prof. ROBERTO LYRA FILHO considera, ele pró- prio, "bissexta" - isto é, suas incursões na crítica literária, dramática e musical, seus ensaios, poemas e obras teatrais - em que, apesar de encontarmos cinti- lações peculiares e mais uma dimensão (propriamente artística) de sua cultura, o autor prefere situar como simples curiosidade intelectual de dilettante. Aliás, ca- beria desrespeitar-lhe a auto-crítica, com o registro de que o diletantismo é sui generis. A certa altura, vamos encontrar o Prof. ROBERTO LYRA FILHO, junto a SER- GE KOUSSEVITZKT, ELEAZAR DE CARVALHO, CA- MARGO GUARNIERI e outras grandes figuras, julgando partituras, num concurso de obras sinfônicas - donde Paralelamente, contudo, um espirito tão fecundo e que um processualista do porte de F. M. XAVIER DE aberto já se debatia na camisa-de-força duma doutrina. ALBuQUERQUE não hesitou em adotar, nos seus cursos, atada à lege lata, proctirando escape Aquela situacáo nos e lhe valeu a homenagem do convite, aceito e brilhan- estudos criminoldgicos, mais amplos. Nesse roteiro, é temente executado, para relator de uma parte do An- que se traduz o encontro com a obra paterna; mas, como teprojeto Buzaid, em congresso jurídico da maior escreveu o prbprio ROBERSO LYM, ídolo de tantas Aliás, aquela contribuição, atraindo a veia gerações acadêmicas, ROBERTO LYRA FILHO não pre- de processualista @enal e civil, no sentido unitário, que cisa de sua "herança", pois tem capacidade de produção e orientação própria. O carinho filial proclama, por outro lado, que foi ao contato com a notável obra do genitor que se adestrou seu espirito, permitindo-o lan- Esses títulos fizeram lembrado o Prof. ROBERTO çar-se a Crirninologfa, em roteiros originais. 3 . J ~ ~ ~ FILHO, muito recentemente, pelos organizadores jo 5" Congresso Internacional de Direito Processual, a Todavia, antes de passar aos campos da Crimino- logia e da Filosofia do Direito, em que se abriu 2 fase iealizar-se no México (197 l), sendo ele incluído no rol de consagração internacional do Prof. ROBERTO LYM dos que receberam consulta especial, para escolher os FILHO, cumpre assinalar que, entre 196 I (Esquemas de nomes dos relatores parciais brasileiros e do relator Direito Processual Penal) e 1969 (Postilas de Direito Penal), ele fez despedidas áiureas a esses dois ramos do Por outro lado, no que tange ao Direito Penal, as Direito, em sua apresentação legitimamente técnica. ~os t i l as , publicadas em 1969, mas datadas de, pelo Esse caráter de despedida está bem marcado no prefácio menos, cinco anos antes, também não são mera eluci- ao segundo desses livros, em que o autor demonstra dação e sistematização de conceitos. A originalidade de como e por que abandonou a "navegação de cabota- certas colocações é tão flagrante, nesse livro, que ele gem", típica do trabalho jurídico em sentido tecni- ultrapassa o objetivo de servir à simples iniciação - cista. Mas o importante é assinalar que as duas obras que o titulo sugere - para abrir roteiros próprios, representam muito mais do que indicam os títulos, autônomos e harmoniosos. deliberadamente modestos. Eles podem iludir os não-especialistas; mas não enganariam, decerto, o Na Criminologia, atualmente, o Prof. ROBERTO gosto seguro dos realmente doutos. Assim é que, no LYM FILHO assumiu, como já notava, em 1965, a Revista Brasileira de Çriminologia e Direito Penal, em referente ao Direito Processual Penal, além da contri- editorial, "uma posição de liderança". Seria buição original sobre classificação das infrações penais, já citada, o Prof. ROBERTO LYRA FILHO deixou-nos quase dispensável de comprová-lo, pois o fato é, nos meios científicos, notório e pacífico. Demonstraram-no, uma nova sistemática dos ritos, totalmente reelaborada, inclusive além de nossas fronteiras, 0s convites aceitos para a tarefa de que se desincumbiu o Prof. LYRA, com grande brilho: delinear o panorama da Criminologia para auditórios pós-graduados no Instituto le Ciencias Penales e na Universidade do Chile, em Santiago e Valparaiso (1 968). Essas conferências, traduzidas para o castelhano pelo Prof. JAIME VIVANCO, sob o título EP? Torno a la Criminologia, foram publicadas, com -grande-êxito, n a Revista-de Ciências Pmales e encer- ram, junto com a elucidação de conceitos intrincados e controvertidos, posições originais, na metodologia e nas pesquisas empreendidas pelo Prof. LYRA, com o apro- veitamento de amplos estudos, feitos por ele no Brasil e-no-estrangeiro,-notadamente em Viegna,O-mesmo alto- apreço surge no interesse que demonstrou o Prof. DENIS SZABO pelos trabalhos do Prof. LYRA, chegando a convidá-lo para visitar o Departamento de Criminologia da Universidade de Montreal, Canadá, e o Centro Inter- nacional de Criminologia Comparada, que ali funciona - estabelecimento que constitui modelo internacio- nal de ensino e pesquisa criminológicos, no autoriza- do dizer de JEAN PINATEL. Ainda mais vigorosamente se marca a importância dos ensinamentos do Prof. L~~~ern-Criminologia, pelaacolhida-desuas-obras~ na América e na Europa, e os convites para visiting professor, como o formulado para outro grande centro, - - -- - - -- - - a Universidade dnerusalém, pelo Diretor do Instituto de Criminologia, Prof. ISRAEL DRAPKIN. No âmbito nacional, muitos autores citam os trabalhos crimino- DENIS SZABO (Canadá), SEBASTI~N SOLER (Argen- tina), LUIZ RECASÉNS SICHES (Espanha-México) e EDUARDO NOVOA MONWEAL (Chile). Este ano, a Comissão Fullbright, depois da agrova- ção do plano de pesquisas do Prof. LYRA por WALTER C. RECKLESS, professor emérito da Universidade de Ohio, concedeu-lhe um guant para senior advanced - ~ s e a r c h ~ a o qual-ele-renunciou por-excepcional-dedi~ cação às suas tarefas na UnB. A importância das posições em teoria criminológi- ca, do Prof. LYRA,demarca-se bem na combinação de ----processos das-direções-"naturalista" e-'kulturalistal'; na abordagem interdisciplinar, não apenas como "h- sãoVde dados de ciências diversas, mas enquanto abor- dagem multidimensional, armada ab initio, menos a título de protocolo metodológico do que da demolição das barreiras, em níveis de análise, com recorte trans- versal; na assunção do problema da definição do crime enquanto dado do próprio afazer criminológico, diale- tizando os impasses lógicos dos formalismos jurídico e sociológico, para superá-los, na preocupação de recon- dlszir-ao~esque-ma-antropológi~o-de-base~Vimos-q~e- - PINATEL reclamou esse esquema, para evitar "as mil sinuosidades dos trabalhos de detalhe" e as "pesquisas d w c a enVergadura"na CFiminologiã. K e ~ s e p e l o , ~ o Prof. LYRA dá uma resposta firme, cremos que mais firme do que a do próprio PINATEL, comprometido na lógicos do Prof. LYRA, fazendo generalizado coro de adesão à metafisica, tomada de empréstimo a um psi- louvores as suas diretrizes originais, de GILBERTO quiatra devoto, embora digno e ilustre, como DE GREEF. FREYRE aos Profs.GILBERT0 DE MACEDO e HELENO Na obra do Prof. LYRA o caminho evolutivo, neste C. FRAGOSO, ecoando os juízos internacionais de JEAN momento, atinge o clímax, na verdadeira transfiguração GRAVEN (Suíça), GERHARD MULLER (Alemanha), em que, por assim dizer, os andaimes dessa obra são rompidos, para revelar uma fachada harmoniosa, com detalhes arquitetônicos insuspeitos. Ele retoma as gran- des correntes do pensamento contemporâneo, visando a tecer as abordagens originais, não como simples jus- taposição eclética, ao saber dos meros repetidores da ciência alheia, porém como integração original. OS aspectos biopsíquicos e sociais tornam-se mais agudos no seu estudo sobre caminhos e obstruções da teoria sociológica e uma verdadeira Aufhebung envolve o seu contato, agora rnarcante e explícito, com a problemática do homem e dos valores, das estruturas, fissuras e contestações, das bases econômico-sociais e dum novo engajamento de sua Criminologia viva ou, como diria NAGEL, Criminologia Crítica. Neste ponto é que o Prof. LYRA enriquece a ciência a que dedicou seu notável talento, com os resultados de suas investigações antro- pológico-filosóficas e jusfilosóficas. Tendo analisado, a fundo, o tridimensionalismo jurídico, mediante o qual REALE pôde alcançar reper- cussão e mesmo adesões internacionais de vulto para uma contribuição brasileira, o Prof. LYRA procurou extrair novas conseqüências da dialética de implicação e polaridade, para evitar, como ele enfatiza, que o tridimensionalismo, dito específico, apresente a feição de um caminho mais complexo, matizado e indireto, para uma rendição final ao chamado "princípio da segurança7', que recobre, com verniz axiológico, algo redutível, afinal, a um novo tipo de formalismo. É que as posições do Prof. L Y M não se poderiam acomodar num arremate, em última instância conservador, tal como a dialética hegeliana, que termina com a dissolu- ção do indivíduo e uma sernidivinização do Estado prussiano. Aqui, mais uma vez, a dialetização, tal como a compreende o Prof. LYRA, procura coligar teoria e práxis e questionar estruturas, sem compromissos com qualquer delas, ao invés de avalizá-las, eruditamente. O momento atual da reflexão jusfilosófica do Prof. EYM é marcado por uma preocupação, muito enfatizada, de uma espécie de "adeus a disponibilidade", fazendo o engajamento, não como o de outro célebre adeus, no sentido do passado, mas na direção do futuro. Os três princípios nucleares combinam-se, para a síntese: en- quanto a mera formalização tendia a recobrir as adesões do "positivismo"~~ formalismo legal, a pura eficácia tendia a formar-se em termos, quer de historicisrno clássico, quer do relativismo e do formalismo, que obscur.eceu a dialética estrutural, imobilizando os parâmetros numa "sociedade global", para cômoda referência. É certamente ao terceiro princípio, o da legitimidade, que o Prof. LYM vem dedicando maior atenção. A formalização detém-se na perfeição geomé- trica de KELSEN; a eficácia dissolve-se perante o jogo de pluralidades axiológicas e até pluralidades de "orde- namentos jurídicos", nas grandes formações dilacera- das pela estratificação em conflito. Para integrar a visão do Direito, o apelo à legitimidade é o único em que se evitam os formalismos sociológicos ou legais. Todavia, sua grande reelaboração, que levou o Prof. LYM a falar. num tridimensionalisrno, não só específico, mas global, coloca-o na vanguarda da construção, na qual ele não hesitou em reformular-se, interiormente, para atender ao clamor das tensões sociais. Nesse contexto, que sofre o acicate da práxis, o Prof. LYM tem procurado subli- mar o papel da consciência ética e das reformulações do rol capital dos direitos do homem, para que "represen- tem mais do que simples declarações internacionais, a prática efetiva, em todos os recantos do mundo". Como intelectual livre, mostra-se infenso as exas- perações sectárias, ao mesmo tempo em que, com pro- gressivo aumento de força e clareza, também denuncia o isolamento teórico, surdo às conjunturas e perdido nas nuvens duma teoria que não corresponde ao nível de atuação num momento histórico. A dialética, atingindo simultaneamente os terrenos do concreto histórico e dos percalços dum princípio imanente de liberdade e liber- tação, une o homem enquanto cognoscente, enquanto agente puro e enquanto agente conscientizado das dire- ções possíveis, na "ação recíproca" entre reorientação - teórica e atuação prática. Atuação intelectual; bem en- tendido - que nâo é o menos importante. No passado, o terreno da legitimidade das normas formalizadas e eficazes ficou relegado a um jusnatu- ralismo, em última análise conservador, pela sua vin- culação a padrões axiológicos fixistas. A queda do jusnaturalismo clássico provocou a relativação histo- ricista, em que o formalismo floresce, pela falta dum terreno onde se resolva o confronto permanente entre Q e o n t m n t í g x a . - -- - A grande fecundidade das colocações da obra do Prof. L Y M está em levar, para o interior da jusfilosofia, aquele confronto, enquanto tal, e fazE dele m e ~ ~ ~ o ingrediente nuclear da linha de absorção e superação. O problema da norma jurídica, tal como o problema do crime, formalizado em norma, são, enfim, substancial- mente idênticos, pois a norma jurídico-penal, com sua exacerbação sancionatória, denuncia, mais agudamen- te, as tensões de que nasce. A unidade substancial da obra do Prof. L Y M está nesse empenho, que podería- e mos classificar como de superaçâo das antinomiâs de MDBRUCH, conferindo-lhes um tonus dialético e não meramente lógico. Neste sentido, a anomia "integra" o sistema de normas -mas não coino o ilícito se integra no ordenamento jurídico à KELSEN -e O perfil global do Direitofunde as juridicidades substanciais e as for- mais: a afirmação normativa e a contestação anbmica indicam, nesta última, a portadora de outros projeios - normativos e quadros referenciais de valor, cujo sucesso ou malogro representarâ-, em cada momento, a resultan- te do choque entre estrutura e controle, dum lado, e desafio e mudança, de outro. É claro que se distinguirão, - nesse contexto, a mera infração de normas e-a anomia, pois a primeira representa, de certa forma, uma "acei- tação" da norma e uma expectativa "normal" de san- ção, tudo em conformidade com as "regras do jogomde determinada estrutura e organização sociais, enquanto a segunda representa uma presença de grupos mais ou menos amplos de questionarnento de normas, em fim- ção de outros projetos vitais. O amadurecimento destes, quando situados na linha objetiva da atualização histó- rica, desencadeiamudança, pondo o "direito" formali- zado,-não em-conflitoc-om merm fatos*, sirn;cxm 0s- elementos da dialética do Direito mesmo e reativando o processo de formação jurídica. Com essa colocação, o eiquema do Prof. LYRA dissolve a Elha teoria das - fontes e, ao mesmo tempo, destrói as barreiras teóricas i e, em certos formalismos, até mesmo práticas, entre fonte, norma, interpretação e aplicação- do direito. A criação de novos modelos representará, assim, naais do que simples renovo de sistemas peremptos, como naE- p m a s tentativas, uma assunção das diretrizes históri- I ( Servir-te-ão de guia, "0 teu caminho; velarão por ti, quando repousares ; e, quando desperta- res, falarão contigo". 10 ROBERTO LYRA FILHO I O padrão básico do livro provém do diálogo - - com a mocidade brasileira, à qual não dedico êste volume, porque ela o inspirou e êle já lhe pertence, desta maneira, em linha de princípio. Sinto, cada vez mais imperiosamente, que cum- pre à minha geração enfrentar a teoria científica e filosófica, no sentido de uma resposta séria ao incon- formismo dos jovens, evitando, sob qualquer aspecto, I." PARTE a "capta$o infradialética da realidade". A alie- nação pode ocorrer, tanto na teoria, desligada de suas projeções sociais, quanto nos "dogmatismos brutos" A CRIMINOLOGIA E A IMAGEM DO duma praxis acrítica. Os dois polos equivalem-se: HOMEM basta trocar o sinal. De qualquer modo, êles renegam o humanismo realista e entronizam estruturas, diver- sas na organização e endereço, mas igualmente in- fensas à liberdade criadora. A parte comum está na abordagem ãhistórica e reificada. 1 i Tenho plena consciencia das dificuldades da ta- refa, mas também da necessidade íntima e do dever 1 social de empreendê-la; e prefiro, de todo modo, o I risco das imperfeições, na execução dum projeto ar- ! rojado, ao perfeito acabamento, no jogo fútil de .empirismos rasteiros, bem comportados e medíocres. I ROBERTO LYRA FILHO I I Brasília, janeiro-março de 19 7 1. Caixa Postal 07-0063 - 70.000 - Brasília ~ ~ 2. JOSEPH GABEL - Lu Fausse Conscienre. Paris, Les I I i Éditions de Minuit, 1962, p. 42. 3 . HENRI LEFEBVRE - Pour Connaitre lu Pensée de I ,%farx. Paris, Bordas, 1966, p. 10. 4. GABEL - Obra citada, p. 242. I ! - - -- A or ien tasão G u a l , n o sent ido -duma teoria criminológica integrada e ec~rrmênica,~ parece refletir tendências, já presentes no primeiro impulso da cri- minologia e que, agora, depois de longo banimento, voltar-iam a gozar de seus direitos- de cidadania. No entan to , examinadas mais d e per to , as novas dire- trizes não permi tem q u e se fale num re tô rco a o espír i to d a s construções iniciais. Estas, embora cons- tituindo um sistema coerente d e pensamento crimi- 5. RIOBERTO LYRA FILHO - En Torno a la Criminologh, separata da Revista de Cienck Penales, Santiago (Chile), tomo XVIII, n.O 1, ps. 3-45 (1969) ; ROBERTO LYRA, Crimi- nologia, Rio, Forense, 1964, passillz; PIERRE BOUZAT & JEAN PJNATEL, TraitÉ de Droit Pénuld t de Criminologie,-Paris, - Dalloz, 1970, tomo 111, ps. IX-X; DENIS SZABO, org., Crinzi- vzologie em Actio,n, Montréal, Les Presses de 1'Université de Montréal, 1968 (aí, sobretudo JEAN PINATELX-ps. 135-169, e ----- - - - - - -- - -- LLOYD OHLIN, ps.418-428) ; DENIS SZABO, Crinzinologie, Mon- tréal, Les Presses de 1'Université de Montréal, 1967, ps. 17 e segs. ; JEAN PINATEL, Scientific Research as a Basis for Cri- minal Policy, in International Review of Criminal Policy, New York (Nações Unidas), n.O 28, ps. 11-17 (1970) ; MARVIN E. WOLFGANG & FRANCO FERRACUTI, The Subcultwe of V ~ O - lente, London, Tavistock Publications, 1967, passim; WOLF MIDDENDORF, Die Kriminologkche Prognose, Neuwied, Luch- terhand, 1967, p. 103; WALTER C. RECKLESS, The Crime Pro- blem, New York, Appleton-Century-Crofts, 1%7, ps. 2-3 ; S. C. VERSELE, in Autour de POeuvve du Dr. E. de Greef, Louvain, Nauwelaerts, 1965, vol. I, p. 208; G. TH. G M P E , in La Nou- 14 ROBERTO LFRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 15 nológico,6 surgiram, enformadas e informadas po r social, apareceram diversos ensaios de s i s t ema t i zação um clima filosófico m u i t o diferente. Refiro-me ao filosófica, desencadeando, ma i s tarde, com a síntese I naturalismo, q u e remonta às origens da burguesia de LUDWIG FEUERBACH, as famosas teses críticas d e ascendente e a c u j o arsenal ideológico pertence. MARX? N a s iniámeras vertentes do positivismo, c o m o Quando esta classe passou a d i ta r as regras d o jogo as q u e vêm de CQMTE o u SPENCER - natura l i smo e - posi t ivismo coligam-se - o mesmo estilo de refle- v c ~ ~ e École de Science Criminelle: L'Éco~e d'Utrecht, Paris, x ã o subdivide-se e m tentat ivas de reduz i r os f a to s d a Cujas, 1959, ps. 81 e segs.; MARC ANCEL, La Difense Sociale v ida h u m a n a - ind iv idua l e social - a epifenôme- No,uvelle, Paris, Cujas, 1966, p. 349 ; LEON RADZINOWICZ. O?) en est la Cri~ninologie?, Paris, Cujas, 1965, p. 155 ; G. STÉFANI, nos, derivados de realidades básicas, de o rdem soma- G. LEVASSEUR & R. JAMBU-MERLIN, Cri~ainologic et Sciencc I Pénitencini+e, Paris, Dalloz, 1970, m. 34; FRANCO FERRACUTI, to-psíquica o u sociológica. Al i , o investigador se I I T,endencia$ y Necesidades de la Investigación Cri~.tzinológica en def ronta c o m mui t a s versões d u m só determinismu I A~ncrinz Latina, Roma, Instituto de Investigación de las Na- rnscanicista. I I ciones Unidas para la Defensa Social, 1969, págs. 10-11 ; HERMANN MANNHEIM, Cowzparative Criwzinology, London, Assim é que, nas distorções d o it inerário de t an - : Routledge & Kegan Paul, 1966, 1101. I, pág. 21 ; H. P. RICKMAN, tos pioneiros, estava, sempre, a mesma pressão, direta Understanding and the H.u~.nan Studies, London, Heineinann, OU indireta, d o na tura l i smo e do positivismo, c o m 1967, pág. 136 ; JOI-IN BARRON MAYS, Crime and the Sociat .Ctructure, London, Faber & Faber. 1963, passinz; DENIS SZABO, u m a antropologia subjacente, de índole biologista, I in Actn Crinzinologica, Montréal, Les Presses de 1'Université psicologista o u sociologista. Obliteravam-se matizes, I I de Montréal, 1968, n.O I, pág. 6 ; FRANK E. HARTUNG, Crime, i I.aw and Society, Detroit, Wayne State University Press, 1965, interferências e associações de fatores, sobre tudo co- pág. 217; ISRAEL DRAPKIN, La Crirninologúz en Hispanoamkrica, implicações dialéticas, de acordo com a preocupação in Revista de Derecho EspaGol, Madrid, 1966, n.O 11, pág. 7 ; causal, mais o u menos rígida, po rém inevitàvelmente BENIGNO DI TULLIO, Principias de Crivninologia Clinica y Psi- qztWltrk Forense, Madrid, Aguiar, 1966, pág. 160; PAUL polar izada e m t o r n o de explicações, af inal exclusi- W. TAPPAN, Crime, Justice and Correction, New York, Mac- vistas e unilaterais. I Graw-Hilk 1960, pág. 169; WOLF MIDDENDORF, Sociologia de1 I O s mesmos encaminhamentos p o d e m ser obser- Delito, Madrid, Revista de Occidente, 1961, pág. 247: H. VEIGA I DE CARVALI-IO, Os Cri~minosos e swrs Classes, São Paulo, Ser- vados, desde LOMBRIOSO, p a r a citar u m marco do I viços Gráficos da S. S. P., 1964, passirn; MANUEL LÓPEZ~REY, biologismo, o u DURKHEIM, pa ra mencionar a opo- Considérations Critiques su-r LU Criminologie Contemporaine, in Annales de Ia Faculté de Droit de Liège, 1966, pág. 344; GIL- siçzo sociologista, n ã o menos desvirtuadora. O socio- FERTO DE MACEDO, AS Novas Direfrizes da Crintinologk, São - ~ Paulo, Leia, 1957, mág. 26. I 8. C. I. GOULIANE - Le Marx.M.me Devant PHornme: I I 6. MANNBEIM, Obra citada, vol. I," pág. 221 I Essai d'Anthropologie Philosophique, Paris, Payot, 1968, pág. 28. 7. JEANPAUL SARTRE, Questão de Método, São Paulo, I 9. MIGUEL BUENO - Las Grandes Direcciones de I,a Fi- Difusora Européia do Livro, 1966, págs. 9-11. I ! losofia, Mexico, Pondo de Cdltura Económica, 1957, pág. 36. 16 ROBERTO LPBA FILHO lagismo t a m b é m é, e m sí, a n t i d i a l é t i ~ o , ' ~ cedendo à l i n h a posi t ivis ta e na tura l i s ta de redesçiio causal, q u e tende a exprimir-se e m tê rmos m e c a n i ~ i s t a s . ~ ~ Aque la a t i t ude intelectual era t5o d i fund ida que a ela n á o escaparam, sequer, os q u e se a t r i bu i am o r ó t u l o socialista. É o caso típico de FERRI, preparan- - -- do um coctztail d e DARWIN, SPENCER e M A R ~ , c o m o se fossem complementares, e ex t r a indo dessa mis tura uma espécie de progressismo idílico.12 T a m b é m é a situa+ d e BQNGER, segundo o q u a l a criminalidade . - emergir-ia, à maneira dum corolár io do sistema capi- - talista. Essa leitura mecanicista do m a r x i s m o é, hoje , repelida, a t é pe lo cr iminólogo soviético, SAKHAROV, q u e a considera vaga e Bnsatisfatória,13 p a r a náo dizer, francamente, s implis ta e visceralmente anti-dialética. A analogia forçada c o m os esquemas d e inteli- gibil idade dos fen6rnenos, peculiares à s ciências na- 10. LEFEBVRE, Obra Citada, pág. 12; GOULIANE, Obra citada, pág. 17-22. 11. LEON RADZINOWICZ, Ideology and Crime, London, Heinemann, 1966, passim. Éste autor, numa douta resenha, equivoca-se, todavia, ao considerar -o marxismo uma -filosofia - -- - - economicista, pois esta versão subsiste, apenas, em deformações criadas, para fins polêmicos (GEORGE SAROTTE, Le Matérialissme 1 Hisforique duns Z'gtude dfc Droit, Paris, Les Éditions du Pavillon. 1969, pág. 13; LUCIEN GOLDMANN, S&mces Humaifies et Bhilosophie, Paris, Presses Universitaires de France, 1952, págs. 82 e segs.; ARMAND CUVILLIER, Piartis-Pris, Paris, Armand êolin, 1956, págs. 322 e segs.). I 12. RADZINOWICZ, Ideology, cit., pág. 55; DENIS SZABO, I Déviance et Criminalité, Paris, Armand Colin, 1970, pág. 12. # 13. Ajud, ROBERTO LYRA, NOVO Direito Penal, Rio, E Borsoi, 1971, pág. 209. L t u ~ a i s , inclusive segundo o modêlo fisico - mesmo O R ~ E G A vincula esta caracioriqtica a o espírito d a burguesia ascendente " - des:ricamir,l?ou a crimino- logici, n o p róp r io berço e sob a influência dos mesmos fatores q u e t r aba lha ram as ciências humanas , em seu conjunto . -- --- I-IÕjc o biologisrno já não verá 6%%msito I i ~ r e , pelo menos e m suas pretensões de hegemonia micro- criminológica - apesar dos molombrosianismss retardatários, como a diencefalose criminógena de Dr TULLIO o u a explicacão com ayêlo a disfunções endócrinas, hipoglicemias e descalcificações; o u , a inda, a mais recente procura d a causa d a criminalidade em aberraçóes dos crornossornos.16 É claro q u e as investigações microcriminológicas n ã o são infeceindas, e m si. E las cont inuam a desen- volver-se, com mais v igor d o q u e se d e p e n d e da 14. JosÉ ORTEGA Y GASSET - Obras Col~lpletas, Madrid, Revistã de Occidente-964, vol. VII, fa i295 . 15. DI TULLIO, Obra Citada, págs. 139 e segs. 16. EDWARD PODOLSKY, T h e Clze'~~~.zical Brcw of Crit~zinal Bclzavior in Jounzal of Cr i~~i ina l Law, C.r.iininology ,and Potice- - S C ~ P ~ C , '1'01. 45, &S. 675 e segs. (1955) ; C h r o ~ ~ z o s o i ~ ~ e abnor- malzty nnd Cril~linal Rrspoxsability (Siinpósio) , Jerusalém, Pu- blication of the Iilstitute o€ Criminology, n.O 6 (1969) ; ELMER H. JOHNSON. C ~ ~ I I Z C , Cowcction und Socicty, Hommewood (11- iinois) The Dorsey Press, 1964, pág. 97 e segs.; BOUZAT & PINATEL, Obra Citada, vol. 111, págs. 297 e segs.; PAUL TAP- PAN, Obra Citada, pags. 98 e segs. ; VEIGA DE CARVALIIO, Obra Citada, pág. 1s; GILBERTO DE MACEDO, Horm6nios e Conduta Criminal i n Cadernos: Curso d e Doutorado, Maceió, Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas, 1965, págs. 1-13. 18 ROBERTO LYRA FILHO resenha algo melancólica de ELLENBERGER,'~ inclu- sive nas pesquisas ditas "infractiológicas" da crimi- nologia japonêsa l \ em muitas outras iniciativas florescentes. O que se aponta é o insucesso das ten- tativas, no sentido de procurar acesso à macromino- logia, através de explicações microminológicas, mes- I I mo quando estas admitem o concurso" de fatores sociais. O êrro, na perspectiva básica, impede o entro- samento dos dados, em virtude das distorções, man- tidas em todo o itinerário. Por outro lado, os estudos psicológicos e psi- quiátricos enriquecem o elenco de visões parciais, sem esquecer os caminhos da psicanálise, mas, revelam, todos, a mesma incapacidade para cingir o fenômeno delituoso. do seu exclusivo ponto de vista espcciali- zado. Neste setor, fracassaram os esforços dum con- cordismo macro e microcriminológico, apesar de todo o talento e habilidade de cientistas como DOLLARD ou JEPFERY." Não está aí o caminho da almejada compreensão do crime, faltando a envergadura, para armar as "mil sinuosidades dos trabalhos de porme- nor"."O A microcriminologia revela-se deficiente, e ate 17. HENRI F. ELLENBEOGER in Crivtzinologie en Action, cit., págs. 46 e segs. 18. SHUFU YOSHIMAZU e SADAKATA KOGI, i n Acta Cri- wzinologicn. c k , vol. 11, jaxeiro 1969, págs. 147-160. O método infractiológico refere-se à pesquisa das relações entre os crimes, ii? vicia livrc. e as infra~ões penitenciárias, no interior das pri- sóes (pág. 159). 10. DENIS SZARO, DEeiiiinre, cit., págs. 18-19. 20. PIXATEL, in Criiizinoloyir e>t Action, cit. pá- gina 136. CRIMINOLOGIA DIALÉTICA nociva, quando pretende descobrir, em seu próprio nível, a "causa" da delinquência, baseada em elemen- tos somato-psíquicos, adquiridos ou hereditários. Entretanto, a macrocriminologia não se pode pagar com arrogância o serviço de apontar as falhas da redução microcriminológica. A êsse propósito, convém recordar que o mestre da Universidade de Montreal, DENIS SZABIO, termina a resenha das mo- dernas doutrinas sociológícas da aberração (deviant beihaviour) com um apêlo à ética.'l Em síntese, todas as explicações no antigo sen tido causal - ainda muito atraente para certos cien tistas, pouco informados sobre a evolução dêsse co ceito, na lógica "- e, inclusive, na lógica dialética 23 - esbarram num paradoxo fundamental. De um lado, é a predominância dos fatores ín- ternos, às vêzes com o recurso tático de admitir a interferência dos fatores mesológicos. Porém - como I ' extrair da órbita bio-psíquica, ao nível do crimí- noso", geralmente estudado a posteriori e nas pri- sões," a própria razão de ser dum fenômeno, delimi- tado ao nível da "criminalidade", segundo parâmetros sociológicos? 21. SZABO, Dévinnce, cit., pág. 32. 22. MICHELANGELO PELAEZ, Introduzione allo Studio delln Criminologin, Milano, Giuffrè, págs. 100 e segs.; MAN- NIIEIM, Obra Citada, vol. I, págs. 5 e segs. l i 23. ATH. JOJA, A Lógica Dialética, São Paulo, Fulgor, i 1965, p a s i ~ ~ z . 24. SZABO, Déviuwe, cit., págs. 21-23; ELLENBERGER, in, I Criminologie en Action, cit., pág. 45. l 1 2 O ROBERTO LYRA FILHO De outro lado, é a predon-rinância da análise das normas sociais e da aberraçáo ou desvio, que a delin- qG6ccia manifesta. Mas, nessas normas, essencial- mente rnutáveis, não se encontra alguma espécie de estabilidade, que admita as generalizaçõc.; científicas. Elas oscilam, no tempo e no espaço e até. mesmo, num tempo e espaço, por assim dizer, comuns, do ponto de vista horizontal. É que as estratificações sociais, desde a divisão estamental a estritamente clas- sística, determinam pluralismos éticos e oposições, na avaliaçio da legitimidade enormalidade das condu- tas. O sociologismo, como projeção ideológica, en- - trega à sociedade, dita global, o controle do parâme- tro, que utiliza, reservando a desvios e aberrações o conceito de subcultura. Ora, a sociedade global é mero arranjo, que depende de interêsse e forças gre- dominantes; e as crises sociais, desvendando contra- dições intrínsecas da estrutura e despertando contes- tações radicais, mostran-r a ambigüidade da noção sociológica - ou - psicológica da anomia, - expressivamente - - tomada de empréstimo a DURKHEIM e reelaborada a partir AS subculturas também possuem suas -- - - - - - - - - -- normas. - - Certas explicações, construidas nêsse plano, já tentaram garantir a admissão da criminologia, na comunidade das ciências; mas, nisto, logo se mani- festou a inadmissibilidade das suas conclusões. Não basta referir, como o ilustre PINATEL, o fato básico do crime, exprimindo-o em têrmos de conflito e 25. SZABO, Dhiance, cit., pág. 26. CRIMINGLOGIA DIALÉTICA 21 ' L agressão contra os valores do grupo"." A palavra grupo torna-se muito imprecisa, para facilitar as transações, ao gosto da teoria de MERTON,~' e, de forma geral, das análises da criminalidade, com apoio nas idéias de associação difereaa~ial,'~ anomia e aber- ração,"' - - desorganizaçáo - - social3' -- - e quejandas. - Evidencia-se, ai, não só um impusse teórico, através da relativização do conceito de crime; a tal ponto que se dissolve o próprio objeto da ciência cri- minológica, mas, inclusive, uma vocação eininente- mente conservadora. -Todo "fracasso, quebra ou desintegração" de estruturas será, nessas concepções de "vellao" (old man) , equivalente a "doença".31 E a tendência é., portanto, identificar o desvio como I, algo "patoTógico" - metáfora que propicia as liga- ções com o biologismo e o psicologismo, apontando L I causas ou concausas em anomalias" somáticas ou 26. PINATEL, in Cri??zinologie @tt Action, c&., pág. 140. 2 7 . ROBERTK, MERTON,&C~U~ Theofr31 - @nnd Social Struc- - - twe, New York, Free Press, 1949, pussim 28. EDWIN H. SUTHERLAND & DONALD CRESSEY, Prin- cipes Criw~inolo~ie, Paris, Cujas. 1966. págs. 85 e segs.; MA%-NHEIM. Obraci tada , võl. 11, pá@. 599 FTegs. -- - 29. anomi mia é, em MERTON, Õ próprio fêcho da abóbada (clef de voute) dos estudos da aberração (SZABO, Criminologie, cit., pág. 167). 30. HARTUNG, Crime.. ., cit., págs. 19 e segs. Ver W. I. THOMAÇ & F. ZNANIECKI, no estudo clássico: Tlze Polish Peasant in Europe and A~wmba, New York, Knopf, 1918, pág. 1.128. 31. HARTUNG, Crinze.. ., cit., pág. 23. Sôbre a índole conservadora do clurkheiinisn~o em reaparição: SZABO, Dé- aiance, cit., pág. 31 ; GOLDMANN, Sciences. . . , cit., págs. 21 e seguintes. 22 ROBEBTO LYRA FILHO psíquicas, reputadas correspondentes, Nêste sentido, a posição de QEFFERY é sintomática. A organização social dominante é fixada, como parâmetro, para a análise da aberração, idéia que envolve a aceitação dos valores pelos qanais é deter- minada e acaba avalisando a estrutura, numa inves- tigaçáo muito amena da sociedade criminógena. A "explicação" desloca-se para um terreno securadá- rio. Já ADORNO denunciava a escamoteação, implícita nessas atitudes, lembrando que "a comunidade da reação social é, essencialmente, a da opr?ssão so~ial".~' O núcleo estratificado defende-se, por êsse meio, de todo questionamento básico e movimenta o velho espantalho da defesa social. Aliás, a crise de consciên- cia dos mècanismos de controle deixou de apelar, doutriiaàriamente, para a punição do aberrante, pre- ferindo sugerir, com hipocrisia, a reeducação, o re- ajustamento, a cura de sua "doen<a". Todavia, ao menor abalo, as tensões sociais provocam aquêle pa- vor, que logo tende a lançar mão dos recursos mais violentos. regredindo, na ordem de evolução das ins- tituições. jurídicas, até as etapas ditas primitivas. O liberalismo, como projeçáo ideológica, só funciona desimpedido, na euforia das estruturas ainda não de- safiadas bàsicamente. Sem dúvida, como nota ROBERTO LYRA, até numa sociedade dividida em classes e com o domínio 32. TH. ADORNO & MAX HORKHEIMER, Sociologica, Ma- drid, Taurus, 1956, pág. 285. Ver Luís GARCÍA SAN MIGUEL, Notas para una Critica de la Razón Jztrldiuz, Madrid, Technos, 1969, págs 103-105. CBIMINOLOGIA DIALBTICA 23 de minorias privilegiadas, há crimes de perig0.e dano ~crnuns.~%as essa distinção válida tornou-se neces- sária, justamente porque a invocação, em abstrato, < 1 da defesa social dissimula a existência de crimes" que resguardam privilégios, bem como o afeiçoamen- ~o de todo o sistema normativo aos interêsses funda- mentais dos melhor aquinhoados. DENIS SZABO acen- tua a índole das preceituações legislativas, traduzidas 12 defesa de bens e pessoa dos possédants." Ora, nem ~ ô d a definição formal de ilicitude penal apresenta eo ipso a chancela de legitimidade. E, além disso, no âmbito processual, as garantias judiciárias do fair trial só amparam, a bem dizer, aquêles que podem movimentá-las, em seu proveito. O ex-chefe do Mi- ' nistério Público, nos Estados Unidos, RAMSAY CLARK, em libelo, de publicação recente, coloca nessa perspectiva a organização judiciária do seu país.3" SZABO já lembrava que, no século XIX, as clas- ses laboriosas eram sinônimo de classes perigosas; e I ' os pobres, como os criminosos natos", foram con- siderados "inimigos da sociedade", aos quais se apli- cavam os rigores da lei, a título de " e ~ g e n i a " . ~ ~ Ainda hoje, a criminologia, realmente científica, precisa lutar contra o "estereótipo do criminoso", que, na expres- são de DENIS CHAPMAN, é "simples artefato social - 33. ROBERTO LYRA, E712 D ~ f e s a da Analogia, in Revista Erasilcira dc Crinlinologin, Rio, n.O 2, janeiro-iuarço de 1948, página 15. 31. S ~ A E O , DL:zfionce, cit., pág. 11. 35. RAAISAY CLARR, C ~ i l ~ l e in Americirt, New York, Sirnon & Schuster, 1970, passinz. 36. SZABO, Uéviance, cit., pág. 27. 24 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 25 e legal",3i para a criação de "bodes expiatórios" (sca- tes da estrutura; a intimidação revela, mais uma vez, pegoats). Daí a importância, atribuída por N A G E L , ~ ~ a sua ineficácia; e a repressão exasperada continua a em sua criminologia crítica, não sb à maneira por avolumar aquêle mesmo potencial, cujo transborda- que o delinquente chegou a conduta formalmente pu- mento queria evitar. I nível, mas, com ênfase peculiar, a outra questão, em Mesmo fora dêsse clima, as verificações mais-- - - ~ - I geral obscurecida ou abandonada: essa incriminaçáo -- lúcidds e serenas da ciência já tinham demonstrado deve ser mantida? E isto, diz o criminólogo de Lei- que o combate a delinquência envolve operações de den, é apenas um modesto comêço. mudança, ao nível da estrutura e organização sociais. Enquanto as tensões sociais iam crescendo, a in- Em seu livro, justamente famoso, os criminólo- vestigação científica, furtivamente engajada, tranqui- gos americanos, CLOWARD e OHLIN, recolheram da- liza-va-se-com as idéias de -r-eeducação, -em q-ue-.o rigor dos, na in-v-e-stlgaç-ão- de campo, a -fim de robustecer - - opressivo ganhou o aspecto de técnica pedagógica; conclusões pertencentes ao mais moderno estilo de mas as fissuras no sistema social, conscientizadas por pensamento social e criminológico: a deIinqiiência grupos cada vez mais numerosos, traduziram-se em não é propriedade de indivíduos ou grupos subcultu- I contestação de normas e valores; e o poder social, rais e, sim, do próprio sistema estratificado, em que mais inquieto e mais franco, veio a adotar a linha êles se acham entrosados. Macrocriminològicamente, definida pelo eminente autor americano, LLIOY~> os grandes surtos delinqiienciaisdecorrem da ruina de OHLIN: "os grupos dominantes, politicamente, ten- velhas estrutura^.^^ tam impor uma definição de criminalidade aos que De qualquer forma, dissolvido o padrão da re- ' está~~desafiando~a~q~êle~poder".~~Ap~ir dêste enri- -feSência a-normas ecvalôres sociais,-formalisticamente- jecimento, a escalada de radicalização impulsiona o considerados, o terreno parece entregue à babélica e jogo de violências opostas, conduzindo grupos sociais irremediável confusão. - - - -- - - - -- - -- - -- - -- -- -- contestantes a formas de auto-expressáCãGé em pa- Sem dúvida, é preciso chegar a posições integra- dróes da criminalidade chamada comum. Tumul- das, em teoria criminológica. Eu, mesmo, procurei. tuam-se as fronteiras, sempre litigiosas, entre defesa acompanhar êsse trend, em vários trabalhos;*' mas e opressão sociais, de acordo com as visões conflitan- - 37. DENIS CHAPMAN. Sociology and tlze Stereotype of fhe Criminnl, London, Tavistoclc Publications. 1970, pussim. 35. NAGEL, Obra Citada, pág. 7. 39. LLOYD OHLIN in SZABO. org., Criminologie en Action, cit., págs. 436-437. 40. RICHARD A. CLOWARD & LLOYD E. OHLIN, Delin- quency and Oppo)*tunity, New York, Free Press of Glencoe, 1961, pág. 211. 41. Pa~toramm Atual da Crivninologia e Liv.~alizento Con- dicional e Intelífcrncigz Interdisciplir,ares in Revista Brasileira de Cri.ininologia e Direito Penal, n.cs 15 (outubro-dezembro. creio que , neles, ainda sofria a influência d e cer tas correntes formal is tas , de q 3 e m e p r o c u r o l ibertar , nu- ma perspectiva mais a m p l a , matizada e profunda. O i m p o r t a n t e é refletir à altura do nosso t e m p o ; isto q u e r d izer , a p r o p r i a n d o - n o s da "circunstância" e m que estamos imersos, para reenquadrá- la , num plano superior,que nos liberte da sua prisão lógica.42 A abor- d a g e m correta reclama uma espécie d e Aufhebung, no sen t ido h e g e l i a n ~ , ~ ~ d ia le t i zando os impasses, para absorvê-los e superá-los. - de 1966 págs. 37-52) e 16 (janeiro-março de 1967 págs. 87-102) ; Perspectivas Atuais da Crinzinologia, Recife, Imprensa Oficial de Pernambuco, 1967, passinz; En Torno a la Criminologia, cit.. passim. J á voltado para a atual linha de pensamento, o prefácio .de minhas Postilas de Direito Penal, Brasília, Coordenada Edi- tora, 1969, págs. 11-13. 42. JULIAN MARÍAS, Ortega, I Circunstancia y Vocación. Madrid, Revista de Occidente, 1960, págs. 187 e 229. ORTEGA. I Obras Counplctas, cits., tomo IV (1966), págs 156 e segs. Está visto que tal afinidade com o pensador espanhol não importa em adocáo de todas as diretrizes que êle esposa. Sua posição é visceralinente aristocrática e reacionária: mas não , , pode escapar, é evidente, ao movimento geral da reflexão con- temporânea. Neste sentido, veja-se a aguda aproxinlação do sistema da relações entre theoria e praxis, na obra de ORTEGA e I .a ação recíproca Wechselwirkung marxista (ALAIN GUY, Ortega I y Gasset, Paris, Seghers, 1969, págs. 36-37). 43. A difícil tradução do têrmo - Aufhebung - que I I KAUFMAN chamou de sublimação (Hegel, Madrid, Alianza I Editorial, 1968, pág. 212) foi bem contornada, nos textos de I I ORTEGA (Obras Cofnpl@tns, cits., vol. IV, 1966, pág. 25). Trata- se duma superação, que incorpora e absorve as contradições, de I ! certa maneira conserva~~clo o que é absorvido. com^ diz -- KAUFMAN, esta conservação importa na passagem a outro nível (Obra e pág. cits.). Nos caminhos atuais da teoria criminológica, f i cou p a t e n t e a obs t rução , m a n i f e s t a d a e m diferentes níveis de análise; e essa obstrução arrisca o des t ino da pró- pria ciência, pois as const ruçóes interdisciplinares, q u e se esbosam, carregam, e m si, uma pet ição d e pr incí - I I pio. As "ciências" penais não-normat ivas" , q u e a c r imino log ia f u n d e e i n c o r p o r a no seu f o c o o b j e - tual ," não têm, evidentemente , uma noção d e crime, I I s e n ã o arrancada à "ciência", dita normat iva" , do direito. E elas se d i s t inguem, apenas , p o r q u e , nes ta ú l t i m a , ainda p r e d o m i n a a exegese e c o n s t r u ç ã o d e normas jur íd ico-penais , para o e n q u a d r a m e n t o de condutas, e n q u a n t o , nas pr imeiras , a t a re fa p r inc ipa l ~ .. 4 a análise dessas c o n d u t a s , reputadas del i tuosas , para - compreendê- las e explicá-las, e m sua génese, mani- festações t íp icas e possíveis sequelas. Na realidade, as relações a p r o f u n d a m - s e , cada v e z mais, pois a crimi- nologia se reserva o e s t u d o d e c o n d u t a s , q u e não es tão de f in idas c o m o cr ime, tanto quanto abandona os tipos pena i s m e n o r e s e c o n v e n ~ i o n a i s , ~ ~ in f luenc iando o direito pena l , p r i n c i p a l m e n t e na elucidação dos ins- titutos m i ~ t o s . ~ T o r outro lado, até o direito p e n a l formalizado e v o l u i u , do tecnic ismo a n t i g o , nara in- 44. PINATEL, in cri.zlninologie en Action, cit., pá@. 432-34 45. ROBERTO LYRA FILHO, En Torno a . . ., cit., pági- nas 12 e seguintes. 46. Refiro-me, com MEZGER, àquêles institutos porosos, como OS relativos à imputabilidade, à periculosidade etc., que ALTAVILLA chamava órgãos respiratórios da lei e MESSINA estudou, medindo a do ordenamento em sentido formal. -_,.+A~ e 28 ROBERTO LYRA FILHO tegrar, na trama legislativa, dados criminológicos em sentido estrito." Em todo caso, a criminologia, ganhando perfil autonomo, continua a oscilar, entre a porta estreita das formulações legislativas, quanto à noção de cri- me, -- e as - areias movediças - das normas -- sociais, f ~ m a l - mente consideradas; com o que tende a consagrar, após um rodeio sociológico, o outro formalisimo, da aberração, de alguma sorte redutível à sua contraparte A distância é muito pequena entre o for- mal confinamento às normas sociais ou, particular- mente, às jurídicas: elas funcionam como gênero e espécie. E, no final, ainda surge a ética, enquanto instância mediadora, entre o relativismo de certas sociologias e aquêle esquema antropológico de base, que, como intuiu PINATEL, está sendo reclamado por todas as ciências humanas.49 Pena é que o grande cri- minólogo francês tenha, logo, desviado o foco, para o terreno me ta f í s i~o ,~~ prejudicando a sua construção. I? marcada, ~ ~ I N A T E L , ainfluência doqsiquiatra - DE GREEF, num apêlo a "valores tradicionais" e na procura dum "aspecto metafísico do conceito de per- - -- sonalidade cFímiiGsa" .E' ISEzvidentement! não -se - - -- - 47. ROBERTO LYRA FILHO, En Torno a . . ., cit., pági- nas 9 e segs. ; o meu trabalho, cit., sobre livramento condicional, é um exemplo de estudo integrante das perspectivas criminoló- gica e jurídico-penal, no sentido tradicional. 48. Ver a 2.a parte dêste ensaio. 49. PINATEL, Criwzizinologia en Action, cit., págs. 141-142, 50. Ibidem, pág. 48. 51. JEAN PINATEL in A U ~ O U Y de 1'Euvre d u Dr. E. de Greef, cit., vd. I, págs. 11 e segs. CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 29 ajusta à direção do pensamento contemporâneo. A an- tropologia filosófica de nosso tempo há de ser dialé- tica e, não, metafísica, no sentido clássico. Mas é fundamental, de qualquer maneira, estabelecer a ne- cessidade de explicitar essa antropologia, como exi- - gência do próprio trabalho--cientifico; econsiderar, - --- por outro lado, as condições de sua inserção, de tal sorte que não pareça uma intromissáo gratuita da filosofia. Aliás, é comum objetar-se, contra ela, a extrema dificuldade da tarefa ou a iraexistência de bons e só- lidos critérios universais e firmes, em filosofia ( o quejá constitui, aliás, uma opção filosófica). Desde logo, cumpre assinalar, portanto, que o problema não está na dificuldade do empreendimento, nem na sua re- I , matada e definitiva certeza absoluta (a pressupor que as ciências humanas, entregues a si mesmas, apresen- tassem tão invejável caracteristica - o que está longe da verdade). O essencial é a inevitabilidade da refle- - L xáo sÔbTFó tema. E aqui se torna muito oportuhla observação de CHESTERTON:~~ segundo êle, num li- vro que-iniciava, podexia-escrever de-outras maneiras,- . - -- -- certamente mais fáceis e, nada obstante, selecionara a mais difícil, pela simples razão de que as outras, mu- tilando o assunto, eram honestamente inexeqiiíveis. Poderia limitar-me à verificação de que o tema antropológico-filosófico já se apresenta como inadiá- 52. GILBERT K. CHESTERTON, Sf. Francis of Assissi, New York, Image Books, 1957, pág. 9. 30 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA ' vel, na metodologia das ciências humanas.53 CHES- não falava a sério, embora tenha, entre outros, um eco brasileiro, no estimável DOURADO DE GUSMÁJ~: TERTON~* assinalou, com muita agudeza, que, nas êste receita uma "teoria geral do direito ocidental",, ciências, dotadas de um parâmetro físico, é possível convir no diagnóstico e na terapêutica; geralmente, com a mesma impávida ~erenidade.~" obbjeção evi- dente a tais teorias é, decerto, que são muito pouco não há dúvida, quanto ao objeto da reconstrução, que é obedecer ao modêlo natural. J á nas ciências so- gerais, para servir aos objetivos da universalidade ciais o problema básico é o parâmetro mesmo, de ma- científica. O homem "oriental" é diferente, em subs- neira que, com frequência, aderimos ao diagnóstico tância, do "ocidental"? Forte embaraço para o orien- talismo bíblico da "civilização cristã" e, ademais, ve- e nos separamos na terapêutica. As ciências sociais, por sua índole e objeto, recebem, mais diretamente, xame grave, para o grupo oposto, que se alimenta o impacto da praxis, devido à interferência das cria- com o produto intelectual dum filósofo alemão, ções culturais e, em especial, do arranjo fundamental sepultado no cemitério de Highgate, Inglaterra. de estruturas e superestruturas sociais. Dentro destas, O essencial no homem, como no direito, a que se - o homem é, na proporçao mais destacada, não só ente inclina, não fica- subordinado a barreiras convencio- e cognoscente, como agente. A disputa, escreve CHES- nais, hoje carentes, até, de precisa demarcação geográ- fica e cultural. Aliás, a noção de "bloco monolitico" ti 1 TERTON, não é só a respeito das dificuldades, mas I da teleologia. E isto é muito significativo, porque o está muito de~prestigiada,"~ por ambos os lados, e, escritor inglês, em seguida a esta verificação de sinto- antes, em toda parte, se revelam afinidades do ho- mas, passa a advogar teses e sustentar valôres dum mem, que serão, devidamente, assinaladas mais adian- tradicionalismo obsoleto. te. Durante certo tempo, a filosofia marxista - cuja O terreno está minado pela ideologia. DUVER- vitalidade é sublinhada por um adversário do porte GER, por exemplo, chega a preconizar uma teoria de RAYMOND ARON~* - perdeu o gume dialético e geral para os cientistas "ocidentais", que utilizariam crítico, numa crise de dogmatismos brutos, para usar tal quadro de referência, como os seus colegas do .i expressão, já citada, de HENRI LEFEBVRE.~~ Mas oriente se forjaram a relativa paz duma filosofia, de o fato decorreu de razões exclusivamente pragmáti- I I certò modo ~ficial .~ ' Suspeito de que o autor francês 56. PAULO DOURA^ DE GUSMÃO, Introd~çi?~ à Ciência - do Direito, Rio, Forense, s/data, (3." edição), pág. 27. 57. BERNARD JEU, La Pkilosophie Soztiktique et Z'Occideutt 53. MAURICE DUVERGER, Méthodes des Sciences Sociales, Paris, Presses Universitaires de France, 1964, págs. 16-17. (1959-1%9), Paris, Mercure de France, 1969, passim. - i 58. RAYMOND ARON, p u n e Sainte Famille à Z'Autre, 54. GILBERT K. CHESTERTON, Wlzat's Wrong With the Paris, Gallimard, 1969, pág. 284. Wodd. Leipzig. Tauchnitz, 1910, págs. 11-1 3. 59. Ver nota 3. 55. Ver nota 53. ! I i ROBERTO LYRA FILHO 32 N O w I ~ ~ , que na0 prima pela simpatia a tal enderêco, registra, insuspeitamente, a procura de formas abct- tas, mais consentâneas com o espírito originário do o, não só em vários setores do mundo socia- marxism lista, -m as, inclusive, na matriz soviética. A crimino- - -- ---- - --- - loeia russa, diz êle, vem-se tornando mais objetiva." - ~~~á claro que. noutra época, o marxismo, transfor- mado em "teologia", teve a sua "escolástica", inclu- 4 I * sive com "papa", "index" e inquisiçáo" - o que náo escapou à crítica de muitos dos seus próprios adeptos e simpatizantes. Ainda recentemente. Gou- LIANE um dicionário da Alemanha orien- tal, se que a antropologia filosófica é um ramo da "filosofia imperialista" ...62 Como se sabe, o filósofo de Bucareste não é, pròpriamente, um "oci- dental". RUMIANTZEV pôde escrever, na Rússia que não está definitivamente elaborado em M A ~ X e ENGELS" e que "todos os pontos da teoria - - de uma construção profunda e convin- -estáo longe-- -- 9 , 63 É O livre exame nascente e convicto de que cente a há de ser a mesma, em todos os quadrantes, - - - - -- - mas dzda-apriori-nos-"llivros sagradosY'~"A his--- - rória náo termino^".'^ Por outro lado, há interfercncias ideológicas, - no sentido de perturbar aquela mesma obje- amando CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 33 tividade, quando os opositores apaixonados polemi- zam contra MARX e EWGELS. Um fato é certo, en- tretanto: algumas teses dêsses autores (não, é claro, a sua filosofia, engulida como uma pílula, contra as virtualidades do seu próprio impulso interno) já constituem ingredientes irreversíveis do pensamento - - - -- -- - ãtual. ~u lG&aram-se a tal ponto que há o risco do - esquecimento de sua origem, incorporando-se o "diabo" às oracões. O mesmo se dirá de FREUD, como nota OSBORN, em paralelo dos fundadores da psica- nálise e do materialismo históri~o.~VAliás, a aliança tentada por êsse autor inglês, do ponto de vista da ciência psicológica, aproxima-se do esforço de SAR- TRE, no plano E essas preacupações ecoam no Simpósio da Unesco, onde se pretende fazer o balanço do marxismo, diante da ciência e da filosofia atuais.'j7 Procurando as raizes da antropologia filosófica, indispensável ao trabalho das ciências humanas, pa- rece-melítil r e t o m a r ~ f i o do assunto, no mominto em que o natu-alismo positivista foi mais duramente - _ _ atacado. _Veremos surgir, então,-alguns elementos, - -- ainda passíveis de assimilação, desde que corrigidas as distorções ideológicas a que andaram vinculados e feita a absorção, num plano superador. ~ R T R E , @estão de Método, cit., pág. 23. 60. 61. LEON RADIZIN~WICZ, Ozi en est.. ., cit., p. 149. 62. C. I. ( ~ J L I A N E , Le Marrirme, cit., p. 13. 63. ~ p u d B E R ~ R D JEU, Obra Citada, p. 437. @. JEU, Obra Citada, p. 438. 65. REUBEN OSBORN, Ma~.2-isltle ct Psyclznnnlyse, Paris, Payot, iO65, pnssi:?~. 66. SARTRE, Qztestáo dc Método, cit., p. 53. 6 ~\IAIIX A N D C~OXTEMPORANY SCIENTIFIC TIIOUGHT (Uriesco), The Hague, Mouton. 1969, pnssii~z. 34 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA As grandes impugnações do positivismo e de A segunda corrente mencionada, predominando suas teorias explicativás podem ser condensadas em nos Estados Unidos da América, trocou em miúdos duas correntes: a primeira, golpeando a própria ima- a direçáo pragmática e instrumentalista, perdendo-se gem do homem, a que êle estava ligado, numa es- num "turbilhão de .fatosf', para usar a expressão do pécie de rewanche, que vingasse a humilhação impostasociólogo inglês, E. T. MARSHALL.'~ É verdade que pelos determinismos rnecanicistas (esta direção opôs êste último tende para a chamada "teoria de alcance a um determinismo crú o idealismo subjetivista e ne- médio" - (middle range theory) , que constitui uma buloso) ; a segunda embora mantendo certa direçáo transação p~si lânime, '~ de origem, também, ameri- metodolóaica naturalista, revelava um decidido fas- cana. T a l espécie de teoria - embora legítima, como - tio, diante das grandes construções teóricas, trocando as hipóteses explicativas gerais pelo frenesí descritivo - aliás mal apoiado num repertório de conceitos operacionais, resvaladio e enganad~r.~ ' Aquela primeira corrente floresceu na Alema- nha, irradiando-se, a partir das "ciências do espírito", opostas às da natureza, como dois mundos inconci- liáveis, entre os qixais se cavou o abismo idealista. hipótese mediadora de trabalho - constitui um ver- dadeiro desastre, quando absolutizada pela miopia filosófica de certos cientistas. Por seu intermédio, a . teoria global passa a funcionar, implicitamente, como uma filosofia da pior espécie, ademais sobrecarregada . deuinterferências ideológicas, nos partis pris, que go- vernam a seleçáo dos fatores e dos critérios, mediante os quais são postos em ~o r r e l ação .~~ Depois, a esta- - E, nêle, sumiram as primeiras intuições de DILTHEY, - ainda movidas pelo subjetivismo da compreensão Court Trni té de PlziZosophie : Logique, Paris, Fernand Nathan, pura, mediante processos que procuram transferir, 1960, ps. 137-130; ARMAND CUVILLIER, Où va La Sociologie reproduzir e reviver (hineinversetzen, nac,hbilden e Française, Paris, Marcel Revière & Cie., 1953, ps. 57 e segs.; ROBERT K. MERTON, Social T h e o r y . . ., cit., p. 205; JOHN F. nachleben) os conteúdos significativos da conduta CUBER, Sociology : a Synops i s of Principies, New York, Apple- humana. As limitações eram óbvias e foram, logo, ton-~entury-~roits, 1963, ps. 38 e segs. 70. ROBERTO LYRA FILHO, prefácio do livr; de GILBERTO apontadas, proscrevendo-se o enderêço, da côterie dos FREYRE. c o m o e Porque SOU e ~ ã o SOU Sociólogo, Brasília, ~ sociólogos profissionais - isto, apesar de alguns I votos vencidos, de certo r e l ê . ~ o . ~ ~ 68. Ver ADORNO, i n Obra Citada, capítulo: Sociologia y lnvestigación E m p i r k a , ps. 273-294. 69. DUVERGER, Obra Citada. ps. 26-28; RAYMOND BOU- WN, L e s Méflzodes e n Sociologie, Paris, Presses Universitaires de France, 1969, ps. 17-21 ; DENIS HUISMAN & ANDRÉ VERGEZ, Editôra Universidade de Brasília, 1968, ps. 11-24; nesse escrito, vêm relacionados os grandes nomes da direção culturalista, com exame do estado atual dessa polêmica metodológica. Sóbre o assunto, R. P. RICKMAN, Unders tand ing . . ., cit., pnssim. 71. E. T. MARSHALL, Cidadania, Classe Social e Sta tus , Rio, Zahar, 1967, p. 32. 72. MARSHALL, Obra Citada, p. 44. 73. ROBERTQ LYRA FILHO, Perspectivas A t w i s . . , cit, p. 153. ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALBTICA 37 'tística, matemàticamente perfeita, acaba avalisando - A indigência teórica daquela ciência social ames- aquelas distorções. A middle range theory tem o du- ,quinhada tratou, em seguida, de organizar o próprio PIO ~ ~ n v e n i e n t e do empirismo que só deixa de ser 0 caos, nos dum quantificacionismo, que lhe 6 bruto, pelo corretivo duma teoria falsificada; e, além dá a de rigor. SOROKIN criticou-o. com via- disso, 0 da-antropologia filosófica, transformada enl - b lência,'8 falando n u m a doença: a "quantofrenia"- - -- dado implícito e introduzida sem maior exame. O libelo é, não só documentado e convincentef mas -- O W 6 l e r n a s voltam à tona, em travesii de pequenas tambémSigrificativo, porque-náo p r o v i L m - d ~ m - ~ i e ~ - verificações. em geral teleguiadas pela ideologia qui tista infenso a quantificaçáo OU a aplicação das ma- s'ignot-e. temáticas à sociologia. O que êle combate é o exclu- Em crhinologia, o pragmatismo anti-teórico sivismo, levando esta última ciência, nos Estados i . e n ~ n t r o u um advogado veern-ent-e-_no pr-of essor d - Unidos, - - a "testomanias", "testocracias", e, como já i Cambridge. LEICN RADZINOWICZ. O criminólogo pede , I foi citado, geral "quantofrenia". N O prefácio - * fatos, fatos. fatos. ..74 Arremetendo contra esses "par- da edição francesas, GURVITCH a v a h o ataques7' tidários de insignificâncias"'- 0 pior é que elas Se quiséssemos discernir o que se oculta, Por trás 4' l se apresentam como bastante significativas - Lu- * I dessa cortina de fumaça, emergiria a índole Cmserva- :i ' I CIEN FEBVRE intitulava-se historiador e, não tra- dera duma sociologia da integração", amável ró- peiro, que vai enfiando tudo no mesmo surráo pro- l i tulo de DAHRENDORF,'~ para definir a polarização miscuo.'"utatis mutandis, a farpa atinge o empi- segundo o arranjo dominante; isto, inclusive, na ex-- rismo puro, em todas as ciências, particularmente as !I plicação de alcance médio, com variantes rdacionaih f h m a n a s . Aliás. o simples recorte dos fatos já mo- I I estruturais, de interaçáo simbólica, de imperativism~ vimenta esquemas de relevância e inteligibilidade, que 3 funcionãl e quantoniãmorraalm-a-ginaçáo-des~is- ~òmente a açáo reciproca entre teoria o praxis pode I tadora." salvar-da empirismD-cezo-e-dõap~orismB idealistã. - '-p- - p - ~ o - c o n t ~ x t o f o r m a l i s t a ~ o ~ ~ i d a l i s t a e junto 5 j ' MAX HORKHEJMER enfatiza que, para a sociologia, 4 ! cisão entre o homem natural e o homem social, nutri- a relação com a filosofia "é algo de c ~ n ~ t i t ~ t i ~ ~ " , ~ ~ 1 - - i " 78. PIRITIM SOROKIN, Tendances et Déboires de la So- 4 . RADIZINOWICZ, Ideology.. ., cit., p. 127. i i ciologir A7iz&icaine, Paris, Aubier, 1959, p. 130 e %$S. 75. ~ J A R S I I A L L , Obra Citada, p. 27. i j 79. Ióidei~, p. 4. 76. LUCIEN FEBVRE, CO??I~CI~S P o ~ I ~ L'Histoire, Paris, Ar . i 80. K. DAHRENDORE, Lns Clnscs Socialcs y su Conflito mand Colin, E954, 17s. 7-8. NO nlesino sentido: E. H. . I la Soricdod, Madrid, Rialp, 1962, p. 207; Luís G A R C ~ A SAN W h ~ t is Hi~tol.~?, Harmondsworth, Penguin Books, 1964, p. 9 ~IIGUEL, Obra Citada, p. 105. e segs. 81. ver a resenha de WALTER L. WALLACE, Soci010gicd 77. M*x HQRKEIMER, in Sociologica, cit., p. 21. Thcory, Loridon, Heinemann, 1969, pussim. 38 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 39 V i e n a e seus satél i tes intelectuais, e m i g r a n d o p a r a os a l g u m a generalidade"65 - e o registro insuspeito do E s t a d o s U n i d o s , o n d e c o n s u m a r a m a vocação da I m a t e m á t i c o FRÉCHET - "as ciências h u m a n a s cor- A u s t r i a : al iás, na v iagem, p a r a o c a s a m e n t o do r e m o risco d e se t o r n a r e m m a i s erroneas, no m o m e n t o empirismo c o m a lógica s imból ica , uma p a r t e dc cor- f I preciso e m q u e se t o r n a m mais exatas"." têjo deixou-se f icar na Ing la te r ra , c o n q u i s t a d a e sub- por o u t r o l ado , não bastar ia , p a r a defender a missa. O uftimo recurso da razão esvaziada era o o apelo desesperado à fenomenologia husser- jogo da ."quantofrenia" ou seu equivalente , no for- ! i l i ana , cr iada e m p a u t a idealista o o b j e t o de apossa- rnalismo da anál ise l ingii íst ica, d e n t r o d e i n s t r u m e n - mente pela f i losof ia existencial, q u e a a d o t o u , en- tos c o m o o nada m e n o s q u e licencioso T o l e r a n z - quanto método, sub t ra indo- lhe o las t ro idealista (no prinzip der S y n t a ~ . ~ O m a t e m a t i c i s m o , por outro sentido gnoseológico es t r i to ) . A aplicação d a Pr r - l a d o , fazia caso omisso dos p ro b l e m a s i n t e r n o s d a s pectiva fenomenológica à epistemologia científica p r ó p r i a s r n a t e r n á t i ~ a s ~ ~ e d e sua inap l i cab i l idade às não conseguiu vencer o impasse dos parênteses ar- 82. Ver JEAN PAUL SARTRE et alii, Kierkegaurd Vivo, b i t r á r i o s de HUSSERL, apesar d e esforços m u i t o Madrid, Alianza Editorial, 1966 (sobretudo - SARTRE, ps. 17-49 b r i lhan tes , c o m o os d e MERLEAU PONTY" ou de e GOLDMAN, ps. 97-122, discutindo as tesse de L u ~ Á c s ) . Tam- bém: GOULIANE, Obra Citada, ps. 21 e 148 e segs.; EMANUEL S T R A ~ S E R . ~ ~ Uma psiquiatria e x i s t e n c i a l i ~ t a . ~ ~ c o m o M~OUNIER, Introductioin aux Exzktentialismes, Paris, Denod, 1947, passim. Por outro lado, quanto à contribuilão do exis- c - há uma dialética do método m;ttemático? Também: MAU- tencialismo às ciências sociais, SARTRE, Questão de Método, cit., R~~~ FRÉCHET, Les M a t h h u t i q ~ f ~ s e t le Con'cret, Paris, Presses passim; DUVERGER, Obra Citada, p. 24; MAURICE MERLEAU t Universitaires de France, 1955, ps. 1 e (sobre uma desa- PQNTY, Les Sciences de l'Homme et la Phénoménologie, Paris, 1 xiomatização da ciência). Centre de Documentation Universitaire, 1965, pussim, e MAU- 85. EMMANUEL MOUN~ER. l'raitk du Caractère, Paris, RICE MERLEAU PONTY, Résumés des Cours: Collège de France Éditions du Seuil, 1946, p. 39. (1952-1960), Paris, Gallimard, 1968, sobretudo ps. 77 e segs. 86. FPÉCHET, Obra Citada, p. 116. 83. A respeito, JOJA, Obra citada, p. 38. 87. MERLEAU PONTY, Les Sciences.. . , cit., passiw. 84. Ver GEORGES BOULIGAND & JEAN DESGRANGES, Ee - 88. STEPHAN STRASÇER, Phénoménologiz ef Sciences de Déclin des Absolus Mathémtico-Logiques, Paris, Smiété d>Édi- 1 IJHomme, Lourain, Publications Universitaires de Louvain, 1967. tion d'Enseignement Supérieur, 1949, passim, sobretudo o en- t 89. No texto, que não se destina a leitores formados em saio de ~ E ~ G R A N G E S (ps. 75 e segs.), respondendo à questão t filosofia, evito, por isso mesmo, as subdistinções sibilinas, entre I 40 ROBERTO LYRA FILHO i i CRIMINOLOGIA DIALfiTICA 41 . r 4 . I I a de FRANKL, mestre da 3." Escola de Viena, interessa, de ferro ideológica separava o mundo russo", o I I nlais, pela sua construçáo, no terreno da logoterapia, europeu continental e o anglo-americano", como h em militança clínica, do que pela fundamentação an- três climas bem distintos de pensamento,: o primeiro, tropológico-filosófica - embora haja, nesta, agudas~ marxista; o ,segundo, lato sensu "metafísico" 0 ter- - intuições e observações de extrema lucidez, sob o ró- ceiro, filiado às posições analíticas e lógico-empi- L U ~ O í'metaclínico".'" ristas.'" - .. H conjuntura f i l õ s Ó T i F t ~ d ~ a r ~ ~ - b - ~ ~ - ~ ô ~ ~ No terreno científico, a repercussão dêsse éstado - - ,-.--- alento da tradição realista e dialética, pois o existen- de coisas prestava-se à satira, f ~ t r ~ m - R ~ v ~ - I h - 4 ~ c i-2-1 i s rn o-s e-eo-n-t-=pua h a - a - k k ~ ~ ~ . , a b u c a do c o n - explicaçóes s i r n p l i s t a ~ ; ~ ~ diante de um homem que creto mti-sistemático, a partir de KIERKEGAARD; e, exprime suas posiç6es-pol-ít-icas-a um amigo, com I I Por outro lado, os hegelianismos de esquerda, longe grande vivacidade, vários espectadores oferecem, logo. das cátedras universitárias, salvo em figuras isoladas a I I expiicagáo" - é uma crise de hipomania (um e POUCO características, tal como a de MONDOLFO, psiquiatra) ; Esse desafio à autoridade trai um ódio estava entregue àquelas formas dogmáticas, inspira- infantil ao pai (um psicanalista freudiano) ; Puro I das em razões táticas e de ocasião.'" efeito duln metabolismo descalcificado (um disc í~u- Completara-se a dissociaçáo antropológica. As lo de RABAUD) ; obedece aos interêsses de classe (um , direções filosóficas, subjacentes à atividade científica, - - - - marxista). Trata-se, é evidente, duma caricatura~ - - - - - - que-só as proscrevia para melhor seguí-las, na tônica --- -- - -- -- - - - - - que visa a desmoralizar psiquiatras. psicanalistas. idealista geral, criaram uma espécie de hsmem frag- - - &&pulos ~ ~ R A B A U D - ~ U - marxistas - por& a ex- - - - - -- .- mentário e fragmentado, reservando-se as partes como primir o "tipo ideal" " da exacerbação sectária de - um todo, Nêsse contexto, apareceram os grandes "im- cada direçáo. Um marxismo pregui~oso, nota SAR- périos", delineados por FERRATER MORA : a cortina -------- - -.- FERRATER TER MORA, La Filosofia en e' Mundo d e H~~ - - - - - - - as -posições c.t-istr~zcial~.~ e exisfcncicllcs, tão gratas ao estilo i,, obros Selectas, Maclrid, Revista dt-Occidente,l-967,-~~1.-=?------ eufuísta de HEIDEGGER (ver ROGER VERNEAUX, Leçons szir ps. 92 e segs. I'E.risfentinlisiizc ct scs F~ril ics P~incipnlrs, Paris, Téclui, s/&ta, 94. A P " ~ HUISMAN & VERGEZ, C O W ~ Traifé. e . , C ~ L 11. 19). ~íCtc7i>lzysique, p. 65. 90. VIKTOR FRXNKL, P s y c h o t l z ~ ~ a p ~ and Exisfentialifi.12, 95. P ~ ~ p ~ f i a RODRIGIJES ( i n ddéfodos Crité&s de New York, Jtrashington Square Press, 1967, passiln; V I K T O ~ ~ o ~ i ~ l o ~ í , ~ Contc?~fordncn, Madrid, Instituto Balmes de Filo- FRANRL, Tlzeorie rwzd Therapie der Neurosen, Wien, Urban 1955, p. 357) mostra como OS tipgs ideais weberianos Te- & Sch\frarzenherg, 1956, principalmente parte B, n . 0 ~ I IV. presentam, eln última análise, úteis "caricaturas", que permiteln 91. Ver R ~ G E R VERNEAUX, Obra Citada, ps. 10 e passit~. c-estacar certas característicsa reais. 92. SARTRE, Questão de Método, p. 23. 96. SARTRE, Questão de Método, cit., P. 48. TRE, desvirtua o próprio enderêço, a que adere,g6 obscurecendo, por exemplo, a contribuição da psi- canálise," que, por outro lado, em FREUD e, sobre- tudo, em JUNG, se faz acompanhar du'a "mitologia perfeitamente inofen~iva" .~~ A integração das ciências humanas, representan- do, no seu quadro geral, tanto quanto no setor cri- minológico, uma insistente preocupação de nosso tempo, arrisca-se, contudo, a terminar num jogo di; cancelamentos recíprocos, mais do que de colaboração fecunda. WQLFGANG e FERRACUTI esbanjaram talento e erudição na sua tentativa de encontrar o caminho.gg Seu livro, associando a investigação empírica à voca- ção teórica, é, sem dúvida, u m dos mais importantes da bibliografia criminológica atual. Eles procuram abandonar aqueles outros tipos de pesquisa interdis- ciplinar, recenceados pela National Education ASSO- ciation; fixam-se no que esta denominou "fusão" e que tornaria indispensável um sistema teórico abran- gedor.laa Entretanto, na construção empreendida pelo sociólogo americano e pelo psicólogo da Itália, fica, mais do que nunca, evidente que falta explorar tôdas as contradições internas das disciplinas, trazidas à colação. É, talvez, êste o motivo das reticências, com que MANNHEIM pesponta seu agudo prefácio:lol e 97. Ibidem, p. 53. 98. Ibideun, p. 54. 5 9 . WOLFGANG FERBACUTI, Tlze Subculture of Via- lente, cit., pussim 100. Ibidew, p. 10. 101. Ibidewz, especialmente p. IX. CRIMINOLOGIA DIALfiTICA ainda se poderia acrescentar o eco de problematizagões radicais, a exemplo de B A E C H L E R , ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ , pura - e simplesmente, a divisão das ciências sociais e prefe- rindo falar em redefinições de tais ciências, conforme os diferentes níveis de análise da realidade social.lV3 Aliás, o sempre bem informado PINATEL já destacara à existência de novas e surpreendentes formações interdisciplinares, mostrando como ruem as barrei- ras de metodologias baseadas no protecionismo de áreas,lo4 Isto atinge, inclusive, o terreno das cigncias da natureza, como não deixou de assinalar o eminente criminólogo francês, A fusão, portanto,
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