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Criminologia Dialética - Roberto Lyra Filho

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;-q 4 
- 
Série "Arquivos do Ministério da Justi~a" 
APRESENTAÇÃO 
-- 
Verdadeiro tormento para aqueles que seTnteres- 
sam pelo estudo de qualquer área do conhecimento é a 
busca de obras que se encontram esgotadas. O problema 
é ainda mais sério num país como o Brasil, de dimensões 
. - - - -- 
territoriais imensas, onde as bibliotecas especializada~ 
- - - -- 
- - 
estão gerãlmenteZiKa-bas nas~c@iEisOu naSCiades de--- 
maior porte. 
É de ser registrado que o desenvolvimento da In- 
formática, viabilizando a organização de. bancos de 
dados, tomou possível a integração de acervos biblio- 
gráficos. A tecnologia atenuou os percalços da procura, 
possibilitando a localização dos livros existentes em 
qualquer das entidades pertencentes a rede. Porém nem 
sempre permite o acesso, devido as grandes distâncias, 
- ~ s s t r i n g i n d o - s e a a p o n t a r - o n d e seencontra-~exemplar~ - 
Lyra Filho, Roberto, 1926 -. A remessa de cópias encontra óbices algumas vezes 
Criminologia Dialética 1 Roberto Lyra Filho. - Bra- incontorn~vek. 
síiia<hlini~-térioda3usti~a, 1997- -A - -,T -- - -. - - - .- -- 
-- A E impossivel uma pesquisa completa quando não 
1%. - (Série Arquivos do Ministério da Justiça). está disponível o material que se considera indispensá- 
Apresentação de Nelson A. Jobim. introdução de Ino- 
cêncio Mártires Coelho. vel. Toma-se difícil viver o presente, que se projeta no futuro, quando se ignora o passado. Já afirmava Vieira, 
Reimpressão fac-similar. há mais de três séculos, no Semião de Quarta-Feira de 
1. Criminologia - Brasil. Cinzas, pronunciado em 1672: 
"Se quereis ver o futuro, lede as histórias e olhai para o 
passado, se quereis ver o passado, lede as profecias, e olhai 
para o futuro. E quex q:iiser ver o presente para onde há de 
olhar? Não o disse S. :ornZo, mas eu o direi. Digo que olhe 
juntamente para um e para outro espelho. Olhai para o passado 
e para o futuro, e vereis o presente. A razão ou consequência 
é manifesta. Se no passado se vê o futuro e no futuro se vê o 
passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente 
porque o presente é o futuro do passado e o mesmo presente 
é o passado do futuro." 
Considero que se insere no âmbito da competência 
do Ministério da Justiça favorecer os estudiosos de 
temas jurídicos, mediante reimpressão e fornecimento 
às bibliotecas de instituições brasileiras, de ~ d u m e s de 
obras selecionadas que se tornaram raras ou estão esgo- 
tadas. Isto desde que se tratem de trabalhos que já 
caíram no domínio público ou exista anuência dos de- 
tentores dos direitos autorais, de forma a que não cons- 
tituam maiores Ônus para a Administração. 
Tal se consumará mediante sugestões oferecidas 
por eminentes figuras do Direito pátrio, nos diferentes 
setores de atuação. Essas obras constituirão a série 
"Arquivos do Ministério da Justiça", contribuindo para 
o aprimoramento e aperfeiçoamento da cultura jurídica 
brasileira. 
Confio em que a iniciativa adotada por esta Secre- 
taria de Estado possa corresponder aos propósitos que 
a inspiram, ampliando-se na medida da receptividade 
que venha a encontrar. 
Brasília, março de 1997. 
Ministro de Estado da Justiça 
Contemporâneo do livro a que, agora, está servindo 
de prólogo, o trabalho transcrito a seguir foi redigido, 
em sua primeira versão, há mais de vinte anos. 
Originariamente um voto-vista, que apresentamos 
perante o Conselho de Ensino e Pesquisa da Universi- 
dade de Brasília, no calor de uma reunião em que se 
deliberava sobre o enquadrarnento de professores nos 
diversos níveis da carreira docente, aquele primitivo 
arrazoado, rehndido e transformado em artigo, veio a 
público em 1971, no terceiro volume da Revista de 
Direito Penal, graças à generosidade do saudoso Hele- 
no Fragoso, para quem Roberto Lyra Filho, seu colega 
e amigo, era simplesmente o mais notável professor 
universitário da sua geração. 
Tal como registramos em suas primeiras linhas, 
esse texto de circunstância destinava-se a transmitir o 
juízo de um discípulo sobre a importância da obra 
filosófico-jurídica do professor Roberto Lyra Filho, 
num momento particularmente atormentado da vida 
profissional do mais critico dos nossos jurístas críticos, 
quando patrulheiros ideológicos, travestidos de cientis- 
tas isentos, pretenderam, sem sucesso, impedir que o já 
incômodo adversário da ordem estabelecida ascendesse 
ao topo da hierarquia universitária. Imaginavam, aque- 
les novos inquisidores, que a "reprovação" da obra de 
Roberto Lyra Filho acabaria impondo uma espécie de 
silêncio obsequioso ao pregador irrequieto ou ao jurista 
"marginal", como ele próprio se qualificou antes. mes- 
mo que transitasse em julgado a sua condenação oficial. 
A republicação, sob os auspícios do Ministério da 
Justiça, de Crinzinologia Dialética, uma das mais im- 
portantes obras do saudoso Roberto Lyra Filho, prece- 
dida deste depoimento, que fomos obrigados a prestar 
- e m ~ o n d i ~ õ e s adversas, só agora reveladasyessa repu- - 
blicação reveste-se de singular importância para urna 
reflexão sobre a necessidade de que o pluralismo polí- 
tico, que todos dizem praticar, deixe de ser qenas um 
enunciado em nosso texto constitucional para se con- 
- - -- 
verter numa-~~&as-1-ib-ei-tadora. - - - - - - -- - - 
Quando tivernaos atingido esse nível de maturidade 
politica, quando os nossos adversários já hão forem 
tratados como inimigos, quando as nossas discordâncias 
de opinião não mais se reputarem declarações de guerra, 
homens de pensamento engajado como Roberto Lyra 
Filho não precisarão da solidariedade dos amigos, nem 
do fervor dos discipuIos para serem ouvidos ou tolera- 
dos. Afinal de contas, como ele mesmo dizia, não existe 
modelo fixo para o "reino da liberdade". 
-- -- - -- - *-*- * -- -- - . 
- 
A OBM CIENT~FICA E F X O S ~ F I C A DE 
ROBERTO LYRA FILHO 
- Este ensaiovisa a-expor,-sistematicamente, as-c-era- -- -- 
tribuições do Prof ROBERTO LYM FILHO ao Direito 
Penal e Processual Penal, à Criminologia e à Filosofia 
Jurídica, na ocasião em que ele completa o primeiro 
vintênio (1 950- 1970) de ensino superior e pesquisa 
-avançada. -Redi-gido-yor -um d-iseip~lo~ que-lhe. deve- - -- - - 
grande parte de sua formação, sobretudo pós-graduada, 
representa a homenagem do reconhecimento, o eco das 
vozes de tantos, que têm recebido encaminhamento, 
apoio e orientação segura do Prof. L Y M . 
A primeira observação a fazer sobre a perssnalida- 
de científica em estudo é a extraordinária amplitude do 
seu campo de formaçâo e atividade, com investigações 
que se expandem horizontal e, mais, verticalmente, 
dentro de -uma -- polarização de notável constância de 
------ 
- 
interesses e habilitações. 
Fundamentalmente, aqui se trata do problema do 
c r i w f o cads, oranõ 2ngu1o ~ c e s suzkp enzl; - 
meira &se; depois, aprofbndado, na visão científica da 
~ri ininolo~ia,-que lhe desvenda outras dimensões, e 
exploraçãi, em toda a gama micro e macrocriminológi- 
ca, desde as investigações bispsáquicas às sociológicas. 
Enfim, a preocupação de ordenar uma teoria criminoló- 
gica integrada leva a questionamentos radicais, pondo 
o autor em campo filosófico, sobretudo no que conceme 
a metodologia das ciências, notadamente as humanas, e 
ao "esquema de base", reclamado, aliás, pelo criminó- 
logo PINATEL, quanto a Antropologia Filosófica. E isto 
vem trazer a consideração todos os problemas gnosio- 
lógicos e epistemológicos, os problemas dos valores e 
das normas e o caminho da Filosofia Geral a Filosofia 
do Direito. A revisão desses roteiros leva o Prof. ROBER- 
TO LYRA FILHO a marcar planos originais de comuni- 
cação entre a problemática de formalização, eficácia e 
legitimidade das normas e os trabalhos jurídicos, em 
sentido estrito, rompendo os diquesdo tecnicismo, 
para o livre trânsito da especulação, e enriquecendo-os 
com as perspectivas científicas da Criminologia, que, 
já em si, forma uma prodigiosa encruzilhada. 
Nesta primeira abordagem, visamos a manifestar a 
co-implicação de toda a obra, naquele duplo sentido de 
abordagem interdisciplinar e peculiar "especialização", 
assinalado por GIBERTO FREYRE, em comentário ao 
livro do Prof. ROBERTO LYRA FILHO, Perspecfivas 
Atuais da Criminologia. É aqui, nesse perfil de scholar, 
que reside a coerência capaz de movimentar a rede, onde 
se entretecem os elementos de uma erudição realmente 
incomum, sempre manejada com agilidade. 
Substancialmente, defrontamo-nos com imenso 
painel, em que o tema é o crime, o criminoso, a pena, 
considerados sob todos os ângulos e com incursões na 
Biologia, na Psicologia, na Psiquiatria, na Psicanálise, 
na Sociologia, na litigiosa "Ciência do Direito" Penal 
e Processual Penal, na Criminologia, na Filosofia Geral 
e, especialmente, na Filosofia do Direito. 
A passagem por todos esses terrenos, todavia, além 
de regida, digamos, por mola mestra de preocupações 
criminológicas, faz-se com tal aprumo, tão rigorosa 
informação e formação científica e filosófica, que mui- 
tos setores, não especialmente visados, recebem ilumi- 
nações incidentes que, em si, representam marcos , I 
significativos e contribuições valiosas, sob o prisma de 
qualquer das disciplinas fi-eqiientadas, quando as consi- 
deramos em si mesmas. 
Para destacar essas características, RECASÉNS SI- 
CHES - a cuja obra filosófico-jurídica dedicamos 
exaustiva análise crítica que constituiu nossa tese de 
doutoramento - desenterrou e repristinou um velho 
adjetivo - "exímio" - aplicando-o ao mestre ~ da 
Universidade de Brasília. É aquele perfeito rigor e aca- 
bamento, ali expresso, que se torna admirável. Esse 
itinerário, no seu delineamento geral, será seguido, aqui, 
com a miniicia que estiver a nosso alcance. 
Deixamos, propositadamente, de lado a 
que o Prof. ROBERTO LYRA FILHO considera, ele pró- 
prio, "bissexta" - isto é, suas incursões na crítica 
literária, dramática e musical, seus ensaios, poemas e 
obras teatrais - em que, apesar de encontarmos cinti- 
lações peculiares e mais uma dimensão (propriamente 
artística) de sua cultura, o autor prefere situar como 
simples curiosidade intelectual de dilettante. Aliás, ca- 
beria desrespeitar-lhe a auto-crítica, com o registro de 
que o diletantismo é sui generis. A certa altura, vamos 
encontrar o Prof. ROBERTO LYRA FILHO, junto a SER- 
GE KOUSSEVITZKT, ELEAZAR DE CARVALHO, CA- 
MARGO GUARNIERI e outras grandes figuras, julgando 
partituras, num concurso de obras sinfônicas - donde 
Paralelamente, contudo, um espirito tão fecundo e que um processualista do porte de F. M. XAVIER DE 
aberto já se debatia na camisa-de-força duma doutrina. ALBuQUERQUE não hesitou em adotar, nos seus cursos, 
atada à lege lata, proctirando escape Aquela situacáo nos e lhe valeu a homenagem do convite, aceito e brilhan- 
estudos criminoldgicos, mais amplos. Nesse roteiro, é temente executado, para relator de uma parte do An- 
que se traduz o encontro com a obra paterna; mas, como teprojeto Buzaid, em congresso jurídico da maior 
escreveu o prbprio ROBERSO LYM, ídolo de tantas Aliás, aquela contribuição, atraindo a veia 
gerações acadêmicas, ROBERTO LYRA FILHO não pre- de processualista @enal e civil, no sentido unitário, que 
cisa de sua "herança", pois tem capacidade de produção 
e orientação própria. O carinho filial proclama, por 
outro lado, que foi ao contato com a notável obra do 
genitor que se adestrou seu espirito, permitindo-o lan- Esses títulos fizeram lembrado o Prof. ROBERTO 
çar-se a Crirninologfa, em roteiros originais. 
3 . J ~ ~ ~ FILHO, muito recentemente, pelos organizadores 
jo 5" Congresso Internacional de Direito Processual, a Todavia, antes de passar aos campos da Crimino- 
logia e da Filosofia do Direito, em que se abriu 2 fase iealizar-se no México (197 l), sendo ele incluído no rol 
de consagração internacional do Prof. ROBERTO LYM dos que receberam consulta especial, para escolher os 
FILHO, cumpre assinalar que, entre 196 I (Esquemas de nomes dos relatores parciais brasileiros e do relator 
Direito Processual Penal) e 1969 (Postilas de Direito 
Penal), ele fez despedidas áiureas a esses dois ramos do Por outro lado, no que tange ao Direito Penal, as 
Direito, em sua apresentação legitimamente técnica. 
~os t i l as , publicadas em 1969, mas datadas de, pelo 
Esse caráter de despedida está bem marcado no prefácio menos, cinco anos antes, também não são mera eluci- 
ao segundo desses livros, em que o autor demonstra dação e sistematização de conceitos. A originalidade de 
como e por que abandonou a "navegação de cabota- certas colocações é tão flagrante, nesse livro, que ele 
gem", típica do trabalho jurídico em sentido tecni- ultrapassa o objetivo de servir à simples iniciação - 
cista. Mas o importante é assinalar que as duas obras que o titulo sugere - para abrir roteiros próprios, 
representam muito mais do que indicam os títulos, autônomos e harmoniosos. deliberadamente modestos. Eles podem iludir os 
não-especialistas; mas não enganariam, decerto, o Na Criminologia, atualmente, o Prof. ROBERTO 
gosto seguro dos realmente doutos. Assim é que, no LYM FILHO assumiu, como já notava, em 1965, a 
Revista Brasileira de Çriminologia e Direito Penal, em referente ao Direito Processual Penal, além da contri- 
editorial, "uma posição de liderança". Seria buição original sobre classificação das infrações penais, 
já citada, o Prof. ROBERTO LYRA FILHO deixou-nos quase dispensável de comprová-lo, pois o fato é, nos 
meios científicos, notório e pacífico. Demonstraram-no, uma nova sistemática dos ritos, totalmente reelaborada, inclusive além de nossas fronteiras, 0s convites aceitos 
para a tarefa de que se desincumbiu o Prof. LYRA, com 
grande brilho: delinear o panorama da Criminologia 
para auditórios pós-graduados no Instituto le Ciencias 
Penales e na Universidade do Chile, em Santiago e 
Valparaiso (1 968). Essas conferências, traduzidas para 
o castelhano pelo Prof. JAIME VIVANCO, sob o título 
EP? Torno a la Criminologia, foram publicadas, com 
-grande-êxito, n a Revista-de Ciências Pmales e encer- 
ram, junto com a elucidação de conceitos intrincados e 
controvertidos, posições originais, na metodologia e nas 
pesquisas empreendidas pelo Prof. LYRA, com o apro- 
veitamento de amplos estudos, feitos por ele no Brasil 
e-no-estrangeiro,-notadamente em Viegna,O-mesmo alto- 
apreço surge no interesse que demonstrou o Prof. DENIS 
SZABO pelos trabalhos do Prof. LYRA, chegando a 
convidá-lo para visitar o Departamento de Criminologia 
da Universidade de Montreal, Canadá, e o Centro Inter- 
nacional de Criminologia Comparada, que ali funciona 
- estabelecimento que constitui modelo internacio- 
nal de ensino e pesquisa criminológicos, no autoriza- 
do dizer de JEAN PINATEL. Ainda mais vigorosamente 
se marca a importância dos ensinamentos do Prof. 
L~~~ern-Criminologia, pelaacolhida-desuas-obras~ 
na América e na Europa, e os convites para visiting 
professor, como o formulado para outro grande centro, 
- - -- - - -- - - 
a Universidade dnerusalém, pelo Diretor do Instituto 
de Criminologia, Prof. ISRAEL DRAPKIN. No âmbito 
nacional, muitos autores citam os trabalhos crimino- 
DENIS SZABO (Canadá), SEBASTI~N SOLER (Argen- 
tina), LUIZ RECASÉNS SICHES (Espanha-México) e 
EDUARDO NOVOA MONWEAL (Chile). 
Este ano, a Comissão Fullbright, depois da agrova- 
ção do plano de pesquisas do Prof. LYRA por WALTER 
C. RECKLESS, professor emérito da Universidade de 
Ohio, concedeu-lhe um guant para senior advanced 
- 
~ s e a r c h ~ a o qual-ele-renunciou por-excepcional-dedi~ 
cação às suas tarefas na UnB. 
A importância das posições em teoria criminológi- 
ca, do Prof. LYRA,demarca-se bem na combinação de 
----processos das-direções-"naturalista" e-'kulturalistal'; 
na abordagem interdisciplinar, não apenas como "h- 
sãoVde dados de ciências diversas, mas enquanto abor- 
dagem multidimensional, armada ab initio, menos a 
título de protocolo metodológico do que da demolição 
das barreiras, em níveis de análise, com recorte trans- 
versal; na assunção do problema da definição do crime 
enquanto dado do próprio afazer criminológico, diale- 
tizando os impasses lógicos dos formalismos jurídico e 
sociológico, para superá-los, na preocupação de recon- 
dlszir-ao~esque-ma-antropológi~o-de-base~Vimos-q~e- - 
PINATEL reclamou esse esquema, para evitar "as mil 
sinuosidades dos trabalhos de detalhe" e as "pesquisas 
d w c a enVergadura"na CFiminologiã. K e ~ s e p e l o , ~ 
o Prof. LYRA dá uma resposta firme, cremos que mais 
firme do que a do próprio PINATEL, comprometido na 
lógicos do Prof. LYRA, fazendo generalizado coro de adesão à metafisica, tomada de empréstimo a um psi- 
louvores as suas diretrizes originais, de GILBERTO quiatra devoto, embora digno e ilustre, como DE GREEF. 
FREYRE aos Profs.GILBERT0 DE MACEDO e HELENO Na obra do Prof. LYRA o caminho evolutivo, neste 
C. FRAGOSO, ecoando os juízos internacionais de JEAN momento, atinge o clímax, na verdadeira transfiguração 
GRAVEN (Suíça), GERHARD MULLER (Alemanha), em que, por assim dizer, os andaimes dessa obra são 
rompidos, para revelar uma fachada harmoniosa, com 
detalhes arquitetônicos insuspeitos. Ele retoma as gran- 
des correntes do pensamento contemporâneo, visando 
a tecer as abordagens originais, não como simples jus- 
taposição eclética, ao saber dos meros repetidores da 
ciência alheia, porém como integração original. OS 
aspectos biopsíquicos e sociais tornam-se mais agudos 
no seu estudo sobre caminhos e obstruções da teoria 
sociológica e uma verdadeira Aufhebung envolve o seu 
contato, agora rnarcante e explícito, com a problemática 
do homem e dos valores, das estruturas, fissuras e 
contestações, das bases econômico-sociais e dum novo 
engajamento de sua Criminologia viva ou, como diria 
NAGEL, Criminologia Crítica. Neste ponto é que o Prof. 
LYRA enriquece a ciência a que dedicou seu notável 
talento, com os resultados de suas investigações antro- 
pológico-filosóficas e jusfilosóficas. 
Tendo analisado, a fundo, o tridimensionalismo 
jurídico, mediante o qual REALE pôde alcançar reper- 
cussão e mesmo adesões internacionais de vulto para 
uma contribuição brasileira, o Prof. LYRA procurou 
extrair novas conseqüências da dialética de implicação 
e polaridade, para evitar, como ele enfatiza, que o 
tridimensionalismo, dito específico, apresente a feição 
de um caminho mais complexo, matizado e indireto, 
para uma rendição final ao chamado "princípio da 
segurança7', que recobre, com verniz axiológico, algo 
redutível, afinal, a um novo tipo de formalismo. É que 
as posições do Prof. L Y M não se poderiam acomodar 
num arremate, em última instância conservador, tal 
como a dialética hegeliana, que termina com a dissolu- 
ção do indivíduo e uma sernidivinização do Estado 
prussiano. Aqui, mais uma vez, a dialetização, tal como 
a compreende o Prof. LYRA, procura coligar teoria e 
práxis e questionar estruturas, sem compromissos com 
qualquer delas, ao invés de avalizá-las, eruditamente. O 
momento atual da reflexão jusfilosófica do Prof. EYM 
é marcado por uma preocupação, muito enfatizada, de 
uma espécie de "adeus a disponibilidade", fazendo o 
engajamento, não como o de outro célebre adeus, no 
sentido do passado, mas na direção do futuro. Os três 
princípios nucleares combinam-se, para a síntese: en- 
quanto a mera formalização tendia a recobrir as adesões 
do "positivismo"~~ formalismo legal, a pura eficácia 
tendia a formar-se em termos, quer de historicisrno 
clássico, quer do relativismo e do formalismo, que 
obscur.eceu a dialética estrutural, imobilizando os 
parâmetros numa "sociedade global", para cômoda 
referência. É certamente ao terceiro princípio, o da 
legitimidade, que o Prof. LYM vem dedicando maior 
atenção. A formalização detém-se na perfeição geomé- 
trica de KELSEN; a eficácia dissolve-se perante o jogo 
de pluralidades axiológicas e até pluralidades de "orde- 
namentos jurídicos", nas grandes formações dilacera- 
das pela estratificação em conflito. Para integrar a visão 
do Direito, o apelo à legitimidade é o único em que se 
evitam os formalismos sociológicos ou legais. Todavia, 
sua grande reelaboração, que levou o Prof. LYM a falar. 
num tridimensionalisrno, não só específico, mas global, 
coloca-o na vanguarda da construção, na qual ele não 
hesitou em reformular-se, interiormente, para atender 
ao clamor das tensões sociais. Nesse contexto, que sofre 
o acicate da práxis, o Prof. LYM tem procurado subli- 
mar o papel da consciência ética e das reformulações do 
rol capital dos direitos do homem, para que "represen- 
tem mais do que simples declarações internacionais, a 
prática efetiva, em todos os recantos do mundo". 
Como intelectual livre, mostra-se infenso as exas- 
perações sectárias, ao mesmo tempo em que, com pro- 
gressivo aumento de força e clareza, também denuncia 
o isolamento teórico, surdo às conjunturas e perdido nas 
nuvens duma teoria que não corresponde ao nível de 
atuação num momento histórico. A dialética, atingindo 
simultaneamente os terrenos do concreto histórico e dos 
percalços dum princípio imanente de liberdade e liber- 
tação, une o homem enquanto cognoscente, enquanto 
agente puro e enquanto agente conscientizado das dire- 
ções possíveis, na "ação recíproca" entre reorientação 
- teórica e atuação prática. Atuação intelectual; bem en- 
tendido - que nâo é o menos importante. 
No passado, o terreno da legitimidade das normas 
formalizadas e eficazes ficou relegado a um jusnatu- 
ralismo, em última análise conservador, pela sua vin- 
culação a padrões axiológicos fixistas. A queda do 
jusnaturalismo clássico provocou a relativação histo- 
ricista, em que o formalismo floresce, pela falta dum 
terreno onde se resolva o confronto permanente entre 
Q e o n t m n t í g x a . - -- - 
A grande fecundidade das colocações da obra do 
Prof. L Y M está em levar, para o interior da jusfilosofia, 
aquele confronto, enquanto tal, e fazE dele m e ~ ~ ~ o 
ingrediente nuclear da linha de absorção e superação. O 
problema da norma jurídica, tal como o problema do 
crime, formalizado em norma, são, enfim, substancial- 
mente idênticos, pois a norma jurídico-penal, com sua 
exacerbação sancionatória, denuncia, mais agudamen- 
te, as tensões de que nasce. A unidade substancial da 
obra do Prof. L Y M está nesse empenho, que podería- e 
mos classificar como de superaçâo das antinomiâs de 
MDBRUCH, conferindo-lhes um tonus dialético e não 
meramente lógico. Neste sentido, a anomia "integra" o 
sistema de normas -mas não coino o ilícito se integra 
no ordenamento jurídico à KELSEN -e O perfil global 
do Direitofunde as juridicidades substanciais e as for- 
mais: a afirmação normativa e a contestação anbmica 
indicam, nesta última, a portadora de outros projeios - 
normativos e quadros referenciais de valor, cujo sucesso 
ou malogro representarâ-, em cada momento, a resultan- 
te do choque entre estrutura e controle, dum lado, e 
desafio e mudança, de outro. É claro que se distinguirão, 
- nesse contexto, a mera infração de normas e-a anomia, 
pois a primeira representa, de certa forma, uma "acei- 
tação" da norma e uma expectativa "normal" de san- 
ção, tudo em conformidade com as "regras do jogomde 
determinada estrutura e organização sociais, enquanto 
a segunda representa uma presença de grupos mais ou 
menos amplos de questionarnento de normas, em fim- 
ção de outros projetos vitais. O amadurecimento destes, 
quando situados na linha objetiva da atualização histó- 
rica, desencadeiamudança, pondo o "direito" formali- 
zado,-não em-conflitoc-om merm fatos*, sirn;cxm 0s- 
elementos da dialética do Direito mesmo e reativando 
o processo de formação jurídica. Com essa colocação, 
o eiquema do Prof. LYRA dissolve a Elha teoria das - 
fontes e, ao mesmo tempo, destrói as barreiras teóricas 
i e, em certos formalismos, até mesmo práticas, entre 
fonte, norma, interpretação e aplicação- do direito. A 
criação de novos modelos representará, assim, naais do 
que simples renovo de sistemas peremptos, como naE- 
p m a s tentativas, uma assunção das diretrizes históri- 
I ( Servir-te-ão de guia, 
"0 teu 
caminho; velarão por ti, quando 
repousares ; e, quando desperta- 
res, falarão contigo". 
10 ROBERTO LYRA FILHO 
I O padrão básico do livro provém do diálogo - - 
com a mocidade brasileira, à qual não dedico êste 
volume, porque ela o inspirou e êle já lhe pertence, 
desta maneira, em linha de princípio. 
Sinto, cada vez mais imperiosamente, que cum- 
pre à minha geração enfrentar a teoria científica e 
filosófica, no sentido de uma resposta séria ao incon- 
formismo dos jovens, evitando, sob qualquer aspecto, I." PARTE 
a "capta$o infradialética da realidade". A alie- 
nação pode ocorrer, tanto na teoria, desligada de suas 
projeções sociais, quanto nos "dogmatismos brutos" A CRIMINOLOGIA E A IMAGEM DO 
duma praxis acrítica. Os dois polos equivalem-se: HOMEM 
basta trocar o sinal. De qualquer modo, êles renegam 
o humanismo realista e entronizam estruturas, diver- 
sas na organização e endereço, mas igualmente in- 
fensas à liberdade criadora. A parte comum está na 
abordagem ãhistórica e reificada. 1 i 
Tenho plena consciencia das dificuldades da ta- 
refa, mas também da necessidade íntima e do dever 
1 
social de empreendê-la; e prefiro, de todo modo, o I 
risco das imperfeições, na execução dum projeto ar- ! 
rojado, ao perfeito acabamento, no jogo fútil de 
.empirismos rasteiros, bem comportados e medíocres. I 
ROBERTO LYRA FILHO I 
I Brasília, janeiro-março de 19 7 1. 
Caixa Postal 07-0063 - 70.000 - Brasília 
~ 
~ 
2. JOSEPH GABEL - Lu Fausse Conscienre. Paris, Les 
I 
I i Éditions de Minuit, 1962, p. 42. 3 . HENRI LEFEBVRE - Pour Connaitre lu Pensée de 
I ,%farx. Paris, Bordas, 1966, p. 10. 
4. GABEL - Obra citada, p. 242. I 
! 
- - 
-- 
A or ien tasão G u a l , n o sent ido -duma teoria 
criminológica integrada e ec~rrmênica,~ parece refletir 
tendências, já presentes no primeiro impulso da cri- 
minologia e que, agora, depois de longo banimento, 
voltar-iam a gozar de seus direitos- de cidadania. No 
entan to , examinadas mais d e per to , as novas dire- 
trizes não permi tem q u e se fale num re tô rco a o 
espír i to d a s construções iniciais. Estas, embora cons- 
tituindo um sistema coerente d e pensamento crimi- 
5. RIOBERTO LYRA FILHO - En Torno a la Criminologh, 
separata da Revista de Cienck Penales, Santiago (Chile), 
tomo XVIII, n.O 1, ps. 3-45 (1969) ; ROBERTO LYRA, Crimi- 
nologia, Rio, Forense, 1964, passillz; PIERRE BOUZAT & JEAN 
PJNATEL, TraitÉ de Droit Pénuld t de Criminologie,-Paris, - 
Dalloz, 1970, tomo 111, ps. IX-X; DENIS SZABO, org., Crinzi- 
vzologie em Actio,n, Montréal, Les Presses de 1'Université de 
Montréal, 1968 (aí, sobretudo JEAN PINATELX-ps. 135-169, e 
----- 
- - - - - -- - -- 
LLOYD OHLIN, ps.418-428) ; DENIS SZABO, Crinzinologie, Mon- 
tréal, Les Presses de 1'Université de Montréal, 1967, ps. 17 
e segs. ; JEAN PINATEL, Scientific Research as a Basis for Cri- 
minal Policy, in International Review of Criminal Policy, New 
York (Nações Unidas), n.O 28, ps. 11-17 (1970) ; MARVIN 
E. WOLFGANG & FRANCO FERRACUTI, The Subcultwe of V ~ O - 
lente, London, Tavistock Publications, 1967, passim; WOLF 
MIDDENDORF, Die Kriminologkche Prognose, Neuwied, Luch- 
terhand, 1967, p. 103; WALTER C. RECKLESS, The Crime Pro- 
blem, New York, Appleton-Century-Crofts, 1%7, ps. 2-3 ; S. C. 
VERSELE, in Autour de POeuvve du Dr. E. de Greef, Louvain, 
Nauwelaerts, 1965, vol. I, p. 208; G. TH. G M P E , in La Nou- 
14 ROBERTO LFRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 15 
nológico,6 surgiram, enformadas e informadas po r social, apareceram diversos ensaios de s i s t ema t i zação 
um clima filosófico m u i t o diferente. Refiro-me ao filosófica, desencadeando, ma i s tarde, com a síntese 
I naturalismo, q u e remonta às origens da burguesia de LUDWIG FEUERBACH, as famosas teses críticas d e 
ascendente e a c u j o arsenal ideológico pertence. MARX? N a s iniámeras vertentes do positivismo, c o m o 
Quando esta classe passou a d i ta r as regras d o jogo as q u e vêm de CQMTE o u SPENCER - natura l i smo e 
- posi t ivismo coligam-se - o mesmo estilo de refle- 
v c ~ ~ e École de Science Criminelle: L'Éco~e d'Utrecht, Paris, x ã o subdivide-se e m tentat ivas de reduz i r os f a to s d a 
Cujas, 1959, ps. 81 e segs.; MARC ANCEL, La Difense Sociale v ida h u m a n a - ind iv idua l e social - a epifenôme- No,uvelle, Paris, Cujas, 1966, p. 349 ; LEON RADZINOWICZ. O?) 
en est la Cri~ninologie?, Paris, Cujas, 1965, p. 155 ; G. STÉFANI, nos, derivados de realidades básicas, de o rdem soma- 
G. LEVASSEUR & R. JAMBU-MERLIN, Cri~ainologic et Sciencc 
I Pénitencini+e, Paris, Dalloz, 1970, m. 34; FRANCO FERRACUTI, to-psíquica o u sociológica. Al i , o investigador se 
I 
I T,endencia$ y Necesidades de la Investigación Cri~.tzinológica en def ronta c o m mui t a s versões d u m só determinismu 
I A~ncrinz Latina, Roma, Instituto de Investigación de las Na- rnscanicista. 
I 
I ciones Unidas para la Defensa Social, 1969, págs. 10-11 ; HERMANN MANNHEIM, Cowzparative Criwzinology, London, Assim é que, nas distorções d o it inerário de t an - : Routledge & Kegan Paul, 1966, 1101. I, pág. 21 ; H. P. RICKMAN, tos pioneiros, estava, sempre, a mesma pressão, direta Understanding and the H.u~.nan Studies, London, Heineinann, OU indireta, d o na tura l i smo e do positivismo, c o m 1967, pág. 136 ; JOI-IN BARRON MAYS, Crime and the Sociat 
.Ctructure, London, Faber & Faber. 1963, passinz; DENIS SZABO, u m a antropologia subjacente, de índole biologista, I in Actn Crinzinologica, Montréal, Les Presses de 1'Université psicologista o u sociologista. Obliteravam-se matizes, I 
I de Montréal, 1968, n.O I, pág. 6 ; FRANK E. HARTUNG, Crime, i I.aw and Society, Detroit, Wayne State University Press, 1965, interferências e associações de fatores, sobre tudo co- pág. 217; ISRAEL DRAPKIN, La Crirninologúz en Hispanoamkrica, implicações dialéticas, de acordo com a preocupação 
in Revista de Derecho EspaGol, Madrid, 1966, n.O 11, pág. 7 ; causal, mais o u menos rígida, po rém inevitàvelmente 
BENIGNO DI TULLIO, Principias de Crivninologia Clinica y Psi- 
qztWltrk Forense, Madrid, Aguiar, 1966, pág. 160; PAUL polar izada e m t o r n o de explicações, af inal exclusi- 
W. TAPPAN, Crime, Justice and Correction, New York, Mac- vistas e unilaterais. 
I Graw-Hilk 1960, pág. 169; WOLF MIDDENDORF, Sociologia de1 I O s mesmos encaminhamentos p o d e m ser obser- Delito, Madrid, Revista de Occidente, 1961, pág. 247: H. VEIGA 
I DE CARVALI-IO, Os Cri~minosos e swrs Classes, São Paulo, Ser- vados, desde LOMBRIOSO, p a r a citar u m marco do 
I viços Gráficos da S. S. P., 1964, passirn; MANUEL LÓPEZ~REY, biologismo, o u DURKHEIM, pa ra mencionar a opo- Considérations Critiques su-r LU Criminologie Contemporaine, in 
Annales de Ia Faculté de Droit de Liège, 1966, pág. 344; GIL- siçzo sociologista, n ã o menos desvirtuadora. O socio- 
FERTO DE MACEDO, AS Novas Direfrizes da Crintinologk, São - 
~ Paulo, Leia, 1957, mág. 26. 
I 8. C. I. GOULIANE - Le Marx.M.me Devant PHornme: 
I 
I 6. MANNBEIM, Obra citada, vol. I," pág. 221 
I 
Essai d'Anthropologie Philosophique, Paris, Payot, 1968, pág. 28. 7. JEANPAUL SARTRE, Questão de Método, São Paulo, 
I 9. MIGUEL BUENO - Las Grandes Direcciones de I,a Fi- Difusora Européia do Livro, 1966, págs. 9-11. 
I ! losofia, Mexico, Pondo de Cdltura Económica, 1957, pág. 36. 
16 ROBERTO LPBA FILHO 
lagismo t a m b é m é, e m sí, a n t i d i a l é t i ~ o , ' ~ cedendo à 
l i n h a posi t ivis ta e na tura l i s ta de redesçiio causal, q u e 
tende a exprimir-se e m tê rmos m e c a n i ~ i s t a s . ~ ~ 
Aque la a t i t ude intelectual era t5o d i fund ida que 
a ela n á o escaparam, sequer, os q u e se a t r i bu i am o 
r ó t u l o socialista. É o caso típico de FERRI, preparan- - -- 
do um coctztail d e DARWIN, SPENCER e M A R ~ , c o m o 
se fossem complementares, e ex t r a indo dessa mis tura 
uma espécie de progressismo idílico.12 T a m b é m é a 
situa+ d e BQNGER, segundo o q u a l a criminalidade 
. - emergir-ia, à maneira dum corolár io do sistema capi- - 
talista. Essa leitura mecanicista do m a r x i s m o é, hoje , 
repelida, a t é pe lo cr iminólogo soviético, SAKHAROV, 
q u e a considera vaga e Bnsatisfatória,13 p a r a náo dizer, 
francamente, s implis ta e visceralmente anti-dialética. 
A analogia forçada c o m os esquemas d e inteli- 
gibil idade dos fen6rnenos, peculiares à s ciências na- 
10. LEFEBVRE, Obra Citada, pág. 12; GOULIANE, Obra 
citada, pág. 17-22. 
11. LEON RADZINOWICZ, Ideology and Crime, London, 
Heinemann, 1966, passim. Éste autor, numa douta resenha, 
equivoca-se, todavia, ao considerar -o marxismo uma -filosofia - -- - - 
economicista, pois esta versão subsiste, apenas, em deformações 
criadas, para fins polêmicos (GEORGE SAROTTE, Le Matérialissme 1 
Hisforique duns Z'gtude dfc Droit, Paris, Les Éditions du Pavillon. 
1969, pág. 13; LUCIEN GOLDMANN, S&mces Humaifies et 
Bhilosophie, Paris, Presses Universitaires de France, 1952, 
págs. 82 e segs.; ARMAND CUVILLIER, Piartis-Pris, Paris, 
Armand êolin, 1956, págs. 322 e segs.). I 
12. RADZINOWICZ, Ideology, cit., pág. 55; DENIS SZABO, I 
Déviance et Criminalité, Paris, Armand Colin, 1970, pág. 12. # 
13. Ajud, ROBERTO LYRA, NOVO Direito Penal, Rio, E 
Borsoi, 1971, pág. 209. L 
t u ~ a i s , inclusive segundo o modêlo fisico - mesmo 
O R ~ E G A vincula esta caracioriqtica a o espírito d a 
burguesia ascendente " - des:ricamir,l?ou a crimino- 
logici, n o p róp r io berço e sob a influência dos mesmos 
fatores q u e t r aba lha ram as ciências humanas , em seu 
conjunto . 
-- --- 
I-IÕjc o biologisrno já não verá 6%%msito I i ~ r e , 
pelo menos e m suas pretensões de hegemonia micro- 
criminológica - apesar dos molombrosianismss 
retardatários, como a diencefalose criminógena de Dr 
TULLIO o u a explicacão com ayêlo a disfunções 
endócrinas, hipoglicemias e descalcificações; o u , a inda, 
a mais recente procura d a causa d a criminalidade em 
aberraçóes dos crornossornos.16 
É claro q u e as investigações microcriminológicas 
n ã o são infeceindas, e m si. E las cont inuam a desen- 
volver-se, com mais v igor d o q u e se d e p e n d e da 
14. JosÉ ORTEGA Y GASSET - Obras Col~lpletas, Madrid, 
Revistã de Occidente-964, vol. VII, fa i295 . 
15. DI TULLIO, Obra Citada, págs. 139 e segs. 
16. EDWARD PODOLSKY, T h e Clze'~~~.zical Brcw of Crit~zinal 
Bclzavior in Jounzal of Cr i~~i ina l Law, C.r.iininology ,and Potice- - 
S C ~ P ~ C , '1'01. 45, &S. 675 e segs. (1955) ; C h r o ~ ~ z o s o i ~ ~ e abnor- 
malzty nnd Cril~linal Rrspoxsability (Siinpósio) , Jerusalém, Pu- 
blication of the Iilstitute o€ Criminology, n.O 6 (1969) ; ELMER 
H. JOHNSON. C ~ ~ I I Z C , Cowcction und Socicty, Hommewood (11- 
iinois) The Dorsey Press, 1964, pág. 97 e segs.; BOUZAT & 
PINATEL, Obra Citada, vol. 111, págs. 297 e segs.; PAUL TAP- 
PAN, Obra Citada, pags. 98 e segs. ; VEIGA DE CARVALIIO, Obra 
Citada, pág. 1s; GILBERTO DE MACEDO, Horm6nios e Conduta 
Criminal i n Cadernos: Curso d e Doutorado, Maceió, Faculdade 
de Direito da Universidade Federal de Alagoas, 1965, págs. 1-13. 
18 ROBERTO LYRA FILHO 
resenha algo melancólica de ELLENBERGER,'~ inclu- 
sive nas pesquisas ditas "infractiológicas" da crimi- 
nologia japonêsa l \ em muitas outras iniciativas 
florescentes. O que se aponta é o insucesso das ten- 
tativas, no sentido de procurar acesso à macromino- 
logia, através de explicações microminológicas, mes- 
I I mo quando estas admitem o concurso" de fatores 
sociais. O êrro, na perspectiva básica, impede o entro- 
samento dos dados, em virtude das distorções, man- 
tidas em todo o itinerário. 
Por outro lado, os estudos psicológicos e psi- 
quiátricos enriquecem o elenco de visões parciais, sem 
esquecer os caminhos da psicanálise, mas, revelam, 
todos, a mesma incapacidade para cingir o fenômeno 
delituoso. do seu exclusivo ponto de vista espcciali- 
zado. Neste setor, fracassaram os esforços dum con- 
cordismo macro e microcriminológico, apesar de todo 
o talento e habilidade de cientistas como DOLLARD 
ou JEPFERY." Não está aí o caminho da almejada 
compreensão do crime, faltando a envergadura, para 
armar as "mil sinuosidades dos trabalhos de porme- 
nor"."O A microcriminologia revela-se deficiente, e ate 
17. HENRI F. ELLENBEOGER in Crivtzinologie en Action, 
cit., págs. 46 e segs. 
18. SHUFU YOSHIMAZU e SADAKATA KOGI, i n Acta Cri- 
wzinologicn. c k , vol. 11, jaxeiro 1969, págs. 147-160. O método 
infractiológico refere-se à pesquisa das relações entre os crimes, 
ii? vicia livrc. e as infra~ões penitenciárias, no interior das pri- 
sóes (pág. 159). 
10. DENIS SZARO, DEeiiiinre, cit., págs. 18-19. 
20. PIXATEL, in Criiizinoloyir e>t Action, cit. pá- 
gina 136. 
CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 
nociva, quando pretende descobrir, em seu próprio 
nível, a "causa" da delinquência, baseada em elemen- 
tos somato-psíquicos, adquiridos ou hereditários. 
Entretanto, a macrocriminologia não se pode 
pagar com arrogância o serviço de apontar as falhas 
da redução microcriminológica. A êsse propósito, 
convém recordar que o mestre da Universidade de 
Montreal, DENIS SZABIO, termina a resenha das mo- 
dernas doutrinas sociológícas da aberração (deviant 
beihaviour) com um apêlo à ética.'l 
Em síntese, todas as explicações no antigo sen 
tido causal - ainda muito atraente para certos cien 
tistas, pouco informados sobre a evolução dêsse co 
ceito, na lógica "- e, inclusive, na lógica dialética 23 
- esbarram num paradoxo fundamental. 
De um lado, é a predominância dos fatores ín- 
ternos, às vêzes com o recurso tático de admitir a 
interferência dos fatores mesológicos. Porém - como 
I ' 
extrair da órbita bio-psíquica, ao nível do crimí- 
noso", geralmente estudado a posteriori e nas pri- 
sões," a própria razão de ser dum fenômeno, delimi- 
tado ao nível da "criminalidade", segundo parâmetros 
sociológicos? 
21. SZABO, Dévinnce, cit., pág. 32. 
22. MICHELANGELO PELAEZ, Introduzione allo Studio 
delln Criminologin, Milano, Giuffrè, págs. 100 e segs.; MAN- 
NIIEIM, Obra Citada, vol. I, págs. 5 e segs. 
l 
i 23. ATH. JOJA, A Lógica Dialética, São Paulo, Fulgor, 
i 1965, p a s i ~ ~ z . 24. SZABO, Déviuwe, cit., págs. 21-23; ELLENBERGER, in, 
I Criminologie en Action, cit., pág. 45. 
l 
1 
2 O ROBERTO LYRA FILHO 
De outro lado, é a predon-rinância da análise das 
normas sociais e da aberraçáo ou desvio, que a delin- 
qG6ccia manifesta. Mas, nessas normas, essencial- 
mente rnutáveis, não se encontra alguma espécie de 
estabilidade, que admita as generalizaçõc.; científicas. 
Elas oscilam, no tempo e no espaço e até. mesmo, 
num tempo e espaço, por assim dizer, comuns, do 
ponto de vista horizontal. É que as estratificações 
sociais, desde a divisão estamental a estritamente clas- 
sística, determinam pluralismos éticos e oposições, na 
avaliaçio da legitimidade enormalidade das condu- 
tas. O sociologismo, como projeção ideológica, en- 
- 
trega à sociedade, dita global, o controle do parâme- 
tro, que utiliza, reservando a desvios e aberrações o 
conceito de subcultura. Ora, a sociedade global é 
mero arranjo, que depende de interêsse e forças gre- 
dominantes; e as crises sociais, desvendando contra- 
dições intrínsecas da estrutura e despertando contes- 
tações radicais, mostran-r a ambigüidade da noção 
sociológica - ou - psicológica da anomia, - expressivamente - - 
tomada de empréstimo a DURKHEIM e reelaborada 
a partir AS subculturas também possuem suas 
-- - - - - - - - - -- 
normas. - - 
Certas explicações, construidas nêsse plano, já 
tentaram garantir a admissão da criminologia, na 
comunidade das ciências; mas, nisto, logo se mani- 
festou a inadmissibilidade das suas conclusões. Não 
basta referir, como o ilustre PINATEL, o fato básico 
do crime, exprimindo-o em têrmos de conflito e 
25. SZABO, Dhiance, cit., pág. 26. 
CRIMINGLOGIA DIALÉTICA 21 
' L 
agressão contra os valores do grupo"." A palavra 
grupo torna-se muito imprecisa, para facilitar as 
transações, ao gosto da teoria de MERTON,~' e, de 
forma geral, das análises da criminalidade, com apoio 
nas idéias de associação difereaa~ial,'~ anomia e aber- 
ração,"' - - desorganizaçáo - - social3' -- - e quejandas. - 
Evidencia-se, ai, não só um impusse teórico, 
através da relativização do conceito de crime; a tal 
ponto que se dissolve o próprio objeto da ciência cri- 
minológica, mas, inclusive, uma vocação eininente- 
mente conservadora. -Todo "fracasso, quebra ou 
desintegração" de estruturas será, nessas concepções 
de "vellao" (old man) , equivalente a "doença".31 
E a tendência é., portanto, identificar o desvio como I, 
algo "patoTógico" - metáfora que propicia as liga- 
ções com o biologismo e o psicologismo, apontando 
L I 
causas ou concausas em anomalias" somáticas ou 
26. PINATEL, in Cri??zinologie @tt Action, c&., pág. 140. 
2 7 . ROBERTK, MERTON,&C~U~ Theofr31 - @nnd Social Struc- - - 
twe, New York, Free Press, 1949, pussim 
28. EDWIN H. SUTHERLAND & DONALD CRESSEY, Prin- 
cipes Criw~inolo~ie, Paris, Cujas. 1966. págs. 85 e segs.; 
MA%-NHEIM. Obraci tada , võl. 11, pá@. 599 FTegs. -- - 
29. anomi mia é, em MERTON, Õ próprio fêcho da abóbada 
(clef de voute) dos estudos da aberração (SZABO, Criminologie, 
cit., pág. 167). 
30. HARTUNG, Crime.. ., cit., págs. 19 e segs. Ver 
W. I. THOMAÇ & F. ZNANIECKI, no estudo clássico: Tlze Polish 
Peasant in Europe and A~wmba, New York, Knopf, 1918, 
pág. 1.128. 
31. HARTUNG, Crinze.. ., cit., pág. 23. Sôbre a índole 
conservadora do clurkheiinisn~o em reaparição: SZABO, Dé- 
aiance, cit., pág. 31 ; GOLDMANN, Sciences. . . , cit., págs. 21 
e seguintes. 
22 ROBEBTO LYRA FILHO 
psíquicas, reputadas correspondentes, Nêste sentido, 
a posição de QEFFERY é sintomática. 
A organização social dominante é fixada, como 
parâmetro, para a análise da aberração, idéia que 
envolve a aceitação dos valores pelos qanais é deter- 
minada e acaba avalisando a estrutura, numa inves- 
tigaçáo muito amena da sociedade criminógena. 
A "explicação" desloca-se para um terreno securadá- 
rio. Já ADORNO denunciava a escamoteação, implícita 
nessas atitudes, lembrando que "a comunidade da 
reação social é, essencialmente, a da opr?ssão so~ial".~' 
O núcleo estratificado defende-se, por êsse meio, 
de todo questionamento básico e movimenta o velho 
espantalho da defesa social. Aliás, a crise de consciên- 
cia dos mècanismos de controle deixou de apelar, 
doutriiaàriamente, para a punição do aberrante, pre- 
ferindo sugerir, com hipocrisia, a reeducação, o re- 
ajustamento, a cura de sua "doen<a". Todavia, ao 
menor abalo, as tensões sociais provocam aquêle pa- 
vor, que logo tende a lançar mão dos recursos mais 
violentos. regredindo, na ordem de evolução das ins- 
tituições. jurídicas, até as etapas ditas primitivas. 
O liberalismo, como projeçáo ideológica, só funciona 
desimpedido, na euforia das estruturas ainda não de- 
safiadas bàsicamente. 
Sem dúvida, como nota ROBERTO LYRA, até 
numa sociedade dividida em classes e com o domínio 
32. TH. ADORNO & MAX HORKHEIMER, Sociologica, Ma- 
drid, Taurus, 1956, pág. 285. Ver Luís GARCÍA SAN MIGUEL, 
Notas para una Critica de la Razón Jztrldiuz, Madrid, Technos, 
1969, págs 103-105. 
CBIMINOLOGIA DIALBTICA 23 
de minorias privilegiadas, há crimes de perig0.e dano 
~crnuns.~%as essa distinção válida tornou-se neces- 
sária, justamente porque a invocação, em abstrato, 
< 1 da defesa social dissimula a existência de crimes" 
que resguardam privilégios, bem como o afeiçoamen- 
~o de todo o sistema normativo aos interêsses funda- 
mentais dos melhor aquinhoados. DENIS SZABO acen- 
tua a índole das preceituações legislativas, traduzidas 
12 defesa de bens e pessoa dos possédants." Ora, nem 
~ ô d a definição formal de ilicitude penal apresenta 
eo ipso a chancela de legitimidade. E, além disso, no 
âmbito processual, as garantias judiciárias do fair 
trial só amparam, a bem dizer, aquêles que podem 
movimentá-las, em seu proveito. O ex-chefe do Mi- ' 
nistério Público, nos Estados Unidos, RAMSAY 
CLARK, em libelo, de publicação recente, coloca nessa 
perspectiva a organização judiciária do seu país.3" 
SZABO já lembrava que, no século XIX, as clas- 
ses laboriosas eram sinônimo de classes perigosas; e 
I ' os pobres, como os criminosos natos", foram con- 
siderados "inimigos da sociedade", aos quais se apli- 
cavam os rigores da lei, a título de " e ~ g e n i a " . ~ ~ Ainda 
hoje, a criminologia, realmente científica, precisa lutar 
contra o "estereótipo do criminoso", que, na expres- 
são de DENIS CHAPMAN, é "simples artefato social 
- 
33. ROBERTO LYRA, E712 D ~ f e s a da Analogia, in Revista 
Erasilcira dc Crinlinologin, Rio, n.O 2, janeiro-iuarço de 1948, 
página 15. 
31. S ~ A E O , DL:zfionce, cit., pág. 11. 
35. RAAISAY CLARR, C ~ i l ~ l e in Americirt, New York, Sirnon 
& Schuster, 1970, passinz. 
36. SZABO, Uéviance, cit., pág. 27. 
24 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 25 
e legal",3i para a criação de "bodes expiatórios" (sca- tes da estrutura; a intimidação revela, mais uma vez, 
pegoats). Daí a importância, atribuída por N A G E L , ~ ~ a sua ineficácia; e a repressão exasperada continua a 
em sua criminologia crítica, não sb à maneira por avolumar aquêle mesmo potencial, cujo transborda- 
que o delinquente chegou a conduta formalmente pu- mento queria evitar. I 
nível, mas, com ênfase peculiar, a outra questão, em Mesmo fora dêsse clima, as verificações mais-- - - ~ 
- 
I 
geral obscurecida ou abandonada: essa incriminaçáo -- lúcidds e serenas da ciência já tinham demonstrado 
deve ser mantida? E isto, diz o criminólogo de Lei- que o combate a delinquência envolve operações de 
den, é apenas um modesto comêço. mudança, ao nível da estrutura e organização sociais. 
Enquanto as tensões sociais iam crescendo, a in- Em seu livro, justamente famoso, os criminólo- 
vestigação científica, furtivamente engajada, tranqui- gos americanos, CLOWARD e OHLIN, recolheram da- 
liza-va-se-com as idéias de -r-eeducação, -em q-ue-.o rigor dos, na in-v-e-stlgaç-ão- de campo, a -fim de robustecer - - 
opressivo ganhou o aspecto de técnica pedagógica; conclusões pertencentes ao mais moderno estilo de 
mas as fissuras no sistema social, conscientizadas por pensamento social e criminológico: a deIinqiiência 
grupos cada vez mais numerosos, traduziram-se em não é propriedade de indivíduos ou grupos subcultu- I 
contestação de normas e valores; e o poder social, rais e, sim, do próprio sistema estratificado, em que 
mais inquieto e mais franco, veio a adotar a linha êles se acham entrosados. Macrocriminològicamente, 
definida pelo eminente autor americano, LLIOY~> os grandes surtos delinqiienciaisdecorrem da ruina de 
OHLIN: "os grupos dominantes, politicamente, ten- velhas estrutura^.^^ 
tam impor uma definição de criminalidade aos que De qualquer forma, dissolvido o padrão da re- ' 
está~~desafiando~a~q~êle~poder".~~Ap~ir dêste enri- -feSência a-normas ecvalôres sociais,-formalisticamente- 
jecimento, a escalada de radicalização impulsiona o considerados, o terreno parece entregue à babélica e 
jogo de violências opostas, conduzindo grupos sociais irremediável confusão. 
- - - -- - - - 
-- - -- - -- - -- -- 
-- 
contestantes a formas de auto-expressáCãGé em pa- Sem dúvida, é preciso chegar a posições integra- 
dróes da criminalidade chamada comum. Tumul- das, em teoria criminológica. Eu, mesmo, procurei. 
tuam-se as fronteiras, sempre litigiosas, entre defesa acompanhar êsse trend, em vários trabalhos;*' mas 
e opressão sociais, de acordo com as visões conflitan- 
- 
37. DENIS CHAPMAN. Sociology and tlze Stereotype of 
fhe Criminnl, London, Tavistoclc Publications. 1970, pussim. 
35. NAGEL, Obra Citada, pág. 7. 
39. LLOYD OHLIN in SZABO. org., Criminologie en Action, 
cit., págs. 436-437. 
40. RICHARD A. CLOWARD & LLOYD E. OHLIN, Delin- 
quency and Oppo)*tunity, New York, Free Press of Glencoe, 
1961, pág. 211. 
41. Pa~toramm Atual da Crivninologia e Liv.~alizento Con- 
dicional e Intelífcrncigz Interdisciplir,ares in Revista Brasileira 
de Cri.ininologia e Direito Penal, n.cs 15 (outubro-dezembro. 
creio que , neles, ainda sofria a influência d e cer tas 
correntes formal is tas , de q 3 e m e p r o c u r o l ibertar , nu- 
ma perspectiva mais a m p l a , matizada e profunda. 
O i m p o r t a n t e é refletir à altura do nosso t e m p o ; isto 
q u e r d izer , a p r o p r i a n d o - n o s da "circunstância" e m 
que estamos imersos, para reenquadrá- la , num plano 
superior,que nos liberte da sua prisão lógica.42 A abor- 
d a g e m correta reclama uma espécie d e Aufhebung, no 
sen t ido h e g e l i a n ~ , ~ ~ d ia le t i zando os impasses, para 
absorvê-los e superá-los. 
- 
de 1966 págs. 37-52) e 16 (janeiro-março de 1967 págs. 87-102) ; 
Perspectivas Atuais da Crinzinologia, Recife, Imprensa Oficial 
de Pernambuco, 1967, passinz; En Torno a la Criminologia, cit.. 
passim. J á voltado para a atual linha de pensamento, o prefácio 
.de minhas Postilas de Direito Penal, Brasília, Coordenada Edi- 
tora, 1969, págs. 11-13. 
42. JULIAN MARÍAS, Ortega, I Circunstancia y Vocación. 
Madrid, Revista de Occidente, 1960, págs. 187 e 229. ORTEGA. I 
Obras Counplctas, cits., tomo IV (1966), págs 156 e segs. 
Está visto que tal afinidade com o pensador espanhol não 
importa em adocáo de todas as diretrizes que êle esposa. Sua 
posição é visceralinente aristocrática e reacionária: mas não , , 
pode escapar, é evidente, ao movimento geral da reflexão con- 
temporânea. Neste sentido, veja-se a aguda aproxinlação do 
sistema da relações entre theoria e praxis, na obra de ORTEGA e I 
.a ação recíproca Wechselwirkung marxista (ALAIN GUY, Ortega I 
y Gasset, Paris, Seghers, 1969, págs. 36-37). 
43. A difícil tradução do têrmo - Aufhebung - que I 
I KAUFMAN chamou de sublimação (Hegel, Madrid, Alianza I 
Editorial, 1968, pág. 212) foi bem contornada, nos textos de I 
I ORTEGA (Obras Cofnpl@tns, cits., vol. IV, 1966, pág. 25). Trata- 
se duma superação, que incorpora e absorve as contradições, de I 
! certa maneira conserva~~clo o que é absorvido. com^ diz 
-- KAUFMAN, esta conservação importa na passagem a outro nível 
(Obra e pág. cits.). 
Nos caminhos atuais da teoria criminológica, f i cou 
p a t e n t e a obs t rução , m a n i f e s t a d a e m diferentes níveis 
de análise; e essa obstrução arrisca o des t ino da pró- 
pria ciência, pois as const ruçóes interdisciplinares, q u e 
se esbosam, carregam, e m si, uma pet ição d e pr incí - 
I I pio. As "ciências" penais não-normat ivas" , q u e a 
c r imino log ia f u n d e e i n c o r p o r a no seu f o c o o b j e - 
tual ," não têm, evidentemente , uma noção d e crime, 
I I 
s e n ã o arrancada à "ciência", dita normat iva" , do 
direito. E elas se d i s t inguem, apenas , p o r q u e , nes ta 
ú l t i m a , ainda p r e d o m i n a a exegese e c o n s t r u ç ã o d e 
normas jur íd ico-penais , para o e n q u a d r a m e n t o de 
condutas, e n q u a n t o , nas pr imeiras , a t a re fa p r inc ipa l 
~ .. 
4 a análise dessas c o n d u t a s , reputadas del i tuosas , para 
- 
compreendê- las e explicá-las, e m sua génese, mani- 
festações t íp icas e possíveis sequelas. Na realidade, as 
relações a p r o f u n d a m - s e , cada v e z mais, pois a crimi- 
nologia se reserva o e s t u d o d e c o n d u t a s , q u e não es tão 
de f in idas c o m o cr ime, tanto quanto abandona os 
tipos pena i s m e n o r e s e c o n v e n ~ i o n a i s , ~ ~ in f luenc iando 
o direito pena l , p r i n c i p a l m e n t e na elucidação dos ins- 
titutos m i ~ t o s . ~ T o r outro lado, até o direito p e n a l 
formalizado e v o l u i u , do tecnic ismo a n t i g o , nara in- 
44. PINATEL, in cri.zlninologie en Action, cit., pá@. 432-34 
45. ROBERTO LYRA FILHO, En Torno a . . ., cit., pági- 
nas 12 e seguintes. 
46. Refiro-me, com MEZGER, àquêles institutos porosos, 
como OS relativos à imputabilidade, à periculosidade etc., que 
ALTAVILLA chamava órgãos respiratórios da lei e MESSINA 
estudou, medindo a do ordenamento em sentido 
formal. -_,.+A~ e 
28 ROBERTO LYRA FILHO 
tegrar, na trama legislativa, dados criminológicos em 
sentido estrito." 
Em todo caso, a criminologia, ganhando perfil 
autonomo, continua a oscilar, entre a porta estreita 
das formulações legislativas, quanto à noção de cri- 
me, -- e as - areias movediças - das normas -- sociais, f ~ m a l - 
mente consideradas; com o que tende a consagrar, 
após um rodeio sociológico, o outro formalisimo, da 
aberração, de alguma sorte redutível à sua contraparte 
A distância é muito pequena entre o for- 
mal confinamento às normas sociais ou, particular- 
mente, às jurídicas: elas funcionam como gênero e 
espécie. E, no final, ainda surge a ética, enquanto 
instância mediadora, entre o relativismo de certas 
sociologias e aquêle esquema antropológico de base, 
que, como intuiu PINATEL, está sendo reclamado por 
todas as ciências humanas.49 Pena é que o grande cri- 
minólogo francês tenha, logo, desviado o foco, para 
o terreno me ta f í s i~o ,~~ prejudicando a sua construção. 
I? marcada, ~ ~ I N A T E L , ainfluência doqsiquiatra - 
DE GREEF, num apêlo a "valores tradicionais" e na 
procura dum "aspecto metafísico do conceito de per- 
- -- 
sonalidade cFímiiGsa" .E' ISEzvidentement! não -se - - -- 
- 
47. ROBERTO LYRA FILHO, En Torno a . . ., cit., pági- 
nas 9 e segs. ; o meu trabalho, cit., sobre livramento condicional, 
é um exemplo de estudo integrante das perspectivas criminoló- 
gica e jurídico-penal, no sentido tradicional. 
48. Ver a 2.a parte dêste ensaio. 
49. PINATEL, Criwzizinologia en Action, cit., págs. 141-142, 
50. Ibidem, pág. 48. 
51. JEAN PINATEL in A U ~ O U Y de 1'Euvre d u Dr. E. de 
Greef, cit., vd. I, págs. 11 e segs. 
CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 29 
ajusta à direção do pensamento contemporâneo. A an- 
tropologia filosófica de nosso tempo há de ser dialé- 
tica e, não, metafísica, no sentido clássico. Mas é 
fundamental, de qualquer maneira, estabelecer a ne- 
cessidade de explicitar essa antropologia, como exi- 
- gência do próprio trabalho--cientifico; econsiderar, - --- 
por outro lado, as condições de sua inserção, de tal 
sorte que não pareça uma intromissáo gratuita da 
filosofia. 
Aliás, é comum objetar-se, contra ela, a extrema 
dificuldade da tarefa ou a iraexistência de bons e só- 
lidos critérios universais e firmes, em filosofia ( o quejá constitui, aliás, uma opção filosófica). Desde logo, 
cumpre assinalar, portanto, que o problema não está 
na dificuldade do empreendimento, nem na sua re- I , 
matada e definitiva certeza absoluta (a pressupor que 
as ciências humanas, entregues a si mesmas, apresen- 
tassem tão invejável caracteristica - o que está longe 
da verdade). O essencial é a inevitabilidade da refle- 
- L 
xáo sÔbTFó tema. E aqui se torna muito oportuhla 
observação de CHESTERTON:~~ segundo êle, num li- 
vro que-iniciava, podexia-escrever de-outras maneiras,- . - -- -- 
certamente mais fáceis e, nada obstante, selecionara a 
mais difícil, pela simples razão de que as outras, mu- 
tilando o assunto, eram honestamente inexeqiiíveis. 
Poderia limitar-me à verificação de que o tema 
antropológico-filosófico já se apresenta como inadiá- 
52. GILBERT K. CHESTERTON, Sf. Francis of Assissi, 
New York, Image Books, 1957, pág. 9. 
30 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA ' 
vel, na metodologia das ciências humanas.53 CHES- não falava a sério, embora tenha, entre outros, um 
eco brasileiro, no estimável DOURADO DE GUSMÁJ~: TERTON~* assinalou, com muita agudeza, que, nas êste receita uma "teoria geral do direito ocidental",, 
ciências, dotadas de um parâmetro físico, é possível 
convir no diagnóstico e na terapêutica; geralmente, com a mesma impávida ~erenidade.~" obbjeção evi- dente a tais teorias é, decerto, que são muito pouco 
não há dúvida, quanto ao objeto da reconstrução, 
que é obedecer ao modêlo natural. J á nas ciências so- gerais, para servir aos objetivos da universalidade 
ciais o problema básico é o parâmetro mesmo, de ma- científica. O homem "oriental" é diferente, em subs- 
neira que, com frequência, aderimos ao diagnóstico tância, do "ocidental"? Forte embaraço para o orien- 
talismo bíblico da "civilização cristã" e, ademais, ve- 
e nos separamos na terapêutica. As ciências sociais, 
por sua índole e objeto, recebem, mais diretamente, xame grave, para o grupo oposto, que se alimenta 
o impacto da praxis, devido à interferência das cria- com o produto intelectual dum filósofo alemão, 
ções culturais e, em especial, do arranjo fundamental sepultado no cemitério de Highgate, Inglaterra. 
de estruturas e superestruturas sociais. Dentro destas, O essencial no homem, como no direito, a que se - 
o homem é, na proporçao mais destacada, não só ente inclina, não fica- subordinado a barreiras convencio- 
e cognoscente, como agente. A disputa, escreve CHES- nais, hoje carentes, até, de precisa demarcação geográ- 
fica e cultural. Aliás, a noção de "bloco monolitico" ti 1 TERTON, não é só a respeito das dificuldades, mas I 
da teleologia. E isto é muito significativo, porque o está muito de~prestigiada,"~ por ambos os lados, e, 
escritor inglês, em seguida a esta verificação de sinto- antes, em toda parte, se revelam afinidades do ho- 
mas, passa a advogar teses e sustentar valôres dum mem, que serão, devidamente, assinaladas mais adian- 
tradicionalismo obsoleto. te. Durante certo tempo, a filosofia marxista - cuja 
O terreno está minado pela ideologia. DUVER- vitalidade é sublinhada por um adversário do porte 
GER, por exemplo, chega a preconizar uma teoria de RAYMOND ARON~* - perdeu o gume dialético e 
geral para os cientistas "ocidentais", que utilizariam crítico, numa crise de dogmatismos brutos, para usar 
tal quadro de referência, como os seus colegas do .i expressão, já citada, de HENRI LEFEBVRE.~~ Mas 
oriente se forjaram a relativa paz duma filosofia, de o fato decorreu de razões exclusivamente pragmáti- 
I 
I certò modo ~ficial .~ ' Suspeito de que o autor francês 56. PAULO DOURA^ DE GUSMÃO, Introd~çi?~ à Ciência 
- 
do Direito, Rio, Forense, s/data, (3." edição), pág. 27. 
57. BERNARD JEU, La Pkilosophie Soztiktique et Z'Occideutt 53. MAURICE DUVERGER, Méthodes des Sciences Sociales, 
Paris, Presses Universitaires de France, 1964, págs. 16-17. (1959-1%9), Paris, Mercure de France, 1969, passim. - 
i 
58. RAYMOND ARON, p u n e Sainte Famille à Z'Autre, 54. GILBERT K. CHESTERTON, Wlzat's Wrong With the Paris, Gallimard, 1969, pág. 284. Wodd. Leipzig. Tauchnitz, 1910, págs. 11-1 3. 59. Ver nota 3. 55. Ver nota 53. 
! 
I 
i 
ROBERTO LYRA FILHO 
32 
N O w I ~ ~ , que na0 prima pela simpatia a tal enderêco, 
registra, insuspeitamente, a procura de formas abct- 
tas, mais consentâneas com o espírito originário do 
o, não só em vários setores do mundo socia- 
marxism 
lista, -m as, inclusive, na matriz soviética. A crimino- - -- ---- - --- - loeia russa, diz êle, vem-se tornando mais objetiva." 
- 
~~~á claro que. noutra época, o marxismo, transfor- 
mado em "teologia", teve a sua "escolástica", inclu- 
4 I * 
sive com "papa", "index" e inquisiçáo" - o que 
náo escapou à crítica de muitos dos seus próprios 
adeptos e simpatizantes. Ainda recentemente. Gou- 
LIANE um dicionário da Alemanha orien- 
tal, se que a antropologia filosófica é um 
ramo 
da "filosofia imperialista" ...62 Como se sabe, 
o filósofo de Bucareste não é, pròpriamente, um "oci- 
dental". RUMIANTZEV pôde escrever, na Rússia que 
não está definitivamente elaborado em 
M A ~ X e ENGELS" e que "todos os pontos da teoria 
- - 
de uma construção profunda e convin- 
-estáo longe-- -- 
9 , 63 É O livre exame nascente e convicto de que 
cente 
a há de ser a mesma, em todos os quadrantes, 
- - - - -- - 
mas dzda-apriori-nos-"llivros sagradosY'~"A his--- - 
rória náo termino^".'^ 
Por outro lado, há interfercncias ideológicas, 
- 
no sentido de perturbar aquela mesma obje- 
amando 
CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 33 
tividade, quando os opositores apaixonados polemi- 
zam contra MARX e EWGELS. Um fato é certo, en- 
tretanto: algumas teses dêsses autores (não, é claro, 
a sua filosofia, engulida como uma pílula, contra as 
virtualidades do seu próprio impulso interno) já 
constituem ingredientes irreversíveis do pensamento 
- - - -- -- - 
ãtual. ~u lG&aram-se a tal ponto que há o risco do 
- 
esquecimento de sua origem, incorporando-se o 
"diabo" às oracões. O mesmo se dirá de FREUD, como 
nota OSBORN, em paralelo dos fundadores da psica- 
nálise e do materialismo históri~o.~VAliás, a aliança 
tentada por êsse autor inglês, do ponto de vista da 
ciência psicológica, aproxima-se do esforço de SAR- 
TRE, no plano E essas preacupações ecoam 
no Simpósio da Unesco, onde se pretende fazer o 
balanço do marxismo, diante da ciência e da filosofia 
atuais.'j7 
Procurando as raizes da antropologia filosófica, 
indispensável ao trabalho das ciências humanas, pa- 
rece-melítil r e t o m a r ~ f i o do assunto, no mominto 
em que o natu-alismo positivista foi mais duramente 
- _ _ atacado. _Veremos surgir, então,-alguns elementos, - -- 
ainda passíveis de assimilação, desde que corrigidas 
as distorções ideológicas a que andaram vinculados e 
feita a absorção, num plano superador. 
~ R T R E , @estão de Método, cit., pág. 23. 60. 
61. LEON RADIZIN~WICZ, Ozi en est.. ., cit., p. 149. 
62. C. I. ( ~ J L I A N E , Le Marrirme, cit., p. 13. 
63. ~ p u d B E R ~ R D JEU, Obra Citada, p. 437. 
@. JEU, Obra Citada, p. 438. 
65. REUBEN OSBORN, Ma~.2-isltle ct Psyclznnnlyse, Paris, 
Payot, iO65, pnssi:?~. 
66. SARTRE, Qztestáo dc Método, cit., p. 53. 
6 ~\IAIIX A N D C~OXTEMPORANY SCIENTIFIC TIIOUGHT 
(Uriesco), The Hague, Mouton. 1969, pnssii~z. 
34 ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 
As grandes impugnações do positivismo e de A segunda corrente mencionada, predominando 
suas teorias explicativás podem ser condensadas em nos Estados Unidos da América, trocou em miúdos 
duas correntes: a primeira, golpeando a própria ima- a direçáo pragmática e instrumentalista, perdendo-se 
gem do homem, a que êle estava ligado, numa es- num "turbilhão de .fatosf', para usar a expressão do 
pécie de rewanche, que vingasse a humilhação impostasociólogo inglês, E. T. MARSHALL.'~ É verdade que 
pelos determinismos rnecanicistas (esta direção opôs êste último tende para a chamada "teoria de alcance 
a um determinismo crú o idealismo subjetivista e ne- médio" - (middle range theory) , que constitui uma 
buloso) ; a segunda embora mantendo certa direçáo transação p~si lânime, '~ de origem, também, ameri- 
metodolóaica naturalista, revelava um decidido fas- cana. T a l espécie de teoria - embora legítima, como 
- 
tio, diante das grandes construções teóricas, trocando 
as hipóteses explicativas gerais pelo frenesí descritivo 
- aliás mal apoiado num repertório de conceitos 
operacionais, resvaladio e enganad~r.~ ' 
Aquela primeira corrente floresceu na Alema- 
nha, irradiando-se, a partir das "ciências do espírito", 
opostas às da natureza, como dois mundos inconci- 
liáveis, entre os qixais se cavou o abismo idealista. 
hipótese mediadora de trabalho - constitui um ver- 
dadeiro desastre, quando absolutizada pela miopia 
filosófica de certos cientistas. Por seu intermédio, a 
. teoria global passa a funcionar, implicitamente, como 
uma filosofia da pior espécie, ademais sobrecarregada . 
deuinterferências ideológicas, nos partis pris, que go- 
vernam a seleçáo dos fatores e dos critérios, mediante 
os quais são postos em ~o r r e l ação .~~ Depois, a esta- 
- 
E, nêle, sumiram as primeiras intuições de DILTHEY, 
- 
ainda movidas pelo subjetivismo da compreensão Court Trni té de PlziZosophie : Logique, Paris, Fernand Nathan, 
pura, mediante processos que procuram transferir, 1960, ps. 137-130; ARMAND CUVILLIER, Où va La Sociologie 
reproduzir e reviver (hineinversetzen, nac,hbilden e Française, Paris, Marcel Revière & Cie., 1953, ps. 57 e segs.; ROBERT K. MERTON, Social T h e o r y . . ., cit., p. 205; JOHN F. 
nachleben) os conteúdos significativos da conduta CUBER, Sociology : a Synops i s of Principies, New York, Apple- 
humana. As limitações eram óbvias e foram, logo, ton-~entury-~roits, 1963, ps. 38 e segs. 
70. ROBERTO LYRA FILHO, prefácio do livr; de GILBERTO 
apontadas, proscrevendo-se o enderêço, da côterie dos FREYRE. c o m o e Porque SOU e ~ ã o SOU Sociólogo, Brasília, 
~ sociólogos profissionais - isto, apesar de alguns 
I 
votos vencidos, de certo r e l ê . ~ o . ~ ~ 
68. Ver ADORNO, i n Obra Citada, capítulo: Sociologia y 
lnvestigación E m p i r k a , ps. 273-294. 
69. DUVERGER, Obra Citada. ps. 26-28; RAYMOND BOU- 
WN, L e s Méflzodes e n Sociologie, Paris, Presses Universitaires 
de France, 1969, ps. 17-21 ; DENIS HUISMAN & ANDRÉ VERGEZ, 
Editôra Universidade de Brasília, 1968, ps. 11-24; nesse escrito, 
vêm relacionados os grandes nomes da direção culturalista, com 
exame do estado atual dessa polêmica metodológica. Sóbre o 
assunto, R. P. RICKMAN, Unders tand ing . . ., cit., pnssim. 
71. E. T. MARSHALL, Cidadania, Classe Social e Sta tus , 
Rio, Zahar, 1967, p. 32. 
72. MARSHALL, Obra Citada, p. 44. 
73. ROBERTQ LYRA FILHO, Perspectivas A t w i s . . , cit, 
p. 153. 
ROBERTO LYRA FILHO CRIMINOLOGIA DIALBTICA 37 
'tística, matemàticamente perfeita, acaba avalisando 
- 
A indigência teórica daquela ciência social ames- 
aquelas distorções. A middle range theory tem o du- ,quinhada tratou, em seguida, de organizar o próprio 
PIO ~ ~ n v e n i e n t e do empirismo que só deixa de ser 0 caos, nos dum quantificacionismo, que lhe 6 
bruto, pelo corretivo duma teoria falsificada; e, além dá a de rigor. SOROKIN criticou-o. com via- 
disso, 0 da-antropologia filosófica, transformada enl - b lência,'8 falando n u m a doença: a "quantofrenia"- 
- 
-- 
dado implícito e introduzida sem maior exame. O libelo é, não só documentado e convincentef mas 
-- 
O W 6 l e r n a s voltam à tona, em travesii de pequenas tambémSigrificativo, porque-náo p r o v i L m - d ~ m - ~ i e ~ - 
verificações. em geral teleguiadas pela ideologia qui tista infenso a quantificaçáo OU a aplicação das ma- 
s'ignot-e. temáticas à sociologia. O que êle combate é o exclu- 
Em crhinologia, o pragmatismo anti-teórico sivismo, levando esta última ciência, nos Estados 
i 
. e n ~ n t r o u um advogado veern-ent-e-_no pr-of essor d - Unidos, - - a "testomanias", "testocracias", e, como já i Cambridge. LEICN RADZINOWICZ. O criminólogo pede 
, I foi citado, geral "quantofrenia". N O prefácio - * 
fatos, fatos. fatos. ..74 Arremetendo contra esses "par- da edição francesas, GURVITCH a v a h o ataques7' 
tidários de insignificâncias"'- 0 pior é que elas Se quiséssemos discernir o que se oculta, Por trás 
4' l se apresentam como bastante significativas - Lu- 
* I dessa cortina de fumaça, emergiria a índole Cmserva- 
:i ' I CIEN FEBVRE intitulava-se historiador e, não tra- dera duma sociologia da integração", amável ró- 
peiro, que vai enfiando tudo no mesmo surráo pro- l i tulo de DAHRENDORF,'~ para definir a polarização miscuo.'"utatis mutandis, a farpa atinge o empi- segundo o arranjo dominante; isto, inclusive, na ex-- 
rismo puro, em todas as ciências, particularmente as !I plicação de alcance médio, com variantes rdacionaih f 
h m a n a s . Aliás. o simples recorte dos fatos já mo- I I estruturais, de interaçáo simbólica, de imperativism~ 
vimenta esquemas de relevância e inteligibilidade, que 3 funcionãl e quantoniãmorraalm-a-ginaçáo-des~is- 
~òmente a açáo reciproca entre teoria o praxis pode I tadora." 
salvar-da empirismD-cezo-e-dõap~orismB idealistã. - '-p- - p - ~ o - c o n t ~ x t o f o r m a l i s t a ~ o ~ ~ i d a l i s t a e junto 5 j ' 
MAX HORKHEJMER enfatiza que, para a sociologia, 4 ! cisão entre o homem natural e o homem social, nutri- 
a relação com a filosofia "é algo de c ~ n ~ t i t ~ t i ~ ~ " , ~ ~ 1 - 
- 
i " 78. PIRITIM SOROKIN, Tendances et Déboires de la So- 4 . RADIZINOWICZ, Ideology.. ., cit., p. 127. i i ciologir A7iz&icaine, Paris, Aubier, 1959, p. 130 e %$S. 75. 
~ J A R S I I A L L , Obra Citada, p. 27. i j 79. Ióidei~, p. 4. 76. LUCIEN FEBVRE, CO??I~CI~S P o ~ I ~ L'Histoire, Paris, Ar . i 80. K. DAHRENDORE, Lns Clnscs Socialcs y su Conflito 
mand Colin, E954, 17s. 7-8. NO nlesino sentido: E. H. 
. I la Soricdod, Madrid, Rialp, 1962, p. 207; Luís G A R C ~ A SAN W h ~ t is Hi~tol.~?, Harmondsworth, Penguin Books, 1964, p. 9 ~IIGUEL, Obra Citada, p. 105. 
e segs. 81. ver a resenha de WALTER L. WALLACE, Soci010gicd 77. M*x HQRKEIMER, in Sociologica, cit., p. 21. Thcory, Loridon, Heinemann, 1969, pussim. 
38 ROBERTO LYRA FILHO 
CRIMINOLOGIA DIALÉTICA 39 
V i e n a e seus satél i tes intelectuais, e m i g r a n d o p a r a os 
a l g u m a generalidade"65 - e o registro insuspeito do 
E s t a d o s U n i d o s , o n d e c o n s u m a r a m a vocação da I 
m a t e m á t i c o FRÉCHET - "as ciências h u m a n a s cor- 
A u s t r i a : al iás, na v iagem, p a r a o c a s a m e n t o do 
r e m o risco d e se t o r n a r e m m a i s erroneas, no m o m e n t o 
empirismo c o m a lógica s imból ica , uma p a r t e dc cor- f 
I 
preciso e m q u e se t o r n a m mais exatas"." 
têjo deixou-se f icar na Ing la te r ra , c o n q u i s t a d a e sub- por o u t r o l ado , não bastar ia , p a r a defender a 
missa. O uftimo recurso da razão esvaziada era o 
o apelo desesperado à fenomenologia husser- jogo da ."quantofrenia" ou seu equivalente , no for- ! i l i ana , cr iada e m p a u t a idealista o o b j e t o de apossa- 
rnalismo da anál ise l ingii íst ica, d e n t r o d e i n s t r u m e n - 
mente pela f i losof ia existencial, q u e a a d o t o u , en- 
tos c o m o o nada m e n o s q u e licencioso T o l e r a n z - quanto método, sub t ra indo- lhe o las t ro idealista (no 
prinzip der S y n t a ~ . ~ O m a t e m a t i c i s m o , por outro 
sentido gnoseológico es t r i to ) . A aplicação d a Pr r - 
l a d o , fazia caso omisso dos p ro b l e m a s i n t e r n o s d a s pectiva fenomenológica à epistemologia científica p r ó p r i a s r n a t e r n á t i ~ a s ~ ~ e d e sua inap l i cab i l idade às 
não conseguiu vencer o impasse dos parênteses ar- 
82. Ver JEAN PAUL SARTRE et alii, Kierkegaurd Vivo, b i t r á r i o s de HUSSERL, apesar d e esforços m u i t o 
Madrid, Alianza Editorial, 1966 (sobretudo - SARTRE, ps. 17-49 b r i lhan tes , c o m o os d e MERLEAU PONTY" ou de 
e GOLDMAN, ps. 97-122, discutindo as tesse de L u ~ Á c s ) . Tam- 
bém: GOULIANE, Obra Citada, ps. 21 e 148 e segs.; EMANUEL S T R A ~ S E R . ~ ~ Uma psiquiatria e x i s t e n c i a l i ~ t a . ~ ~ c o m o 
M~OUNIER, Introductioin aux Exzktentialismes, Paris, Denod, 
1947, passim. Por outro lado, quanto à contribuilão do exis- c 
- há uma dialética do método m;ttemático? Também: MAU- 
tencialismo às ciências sociais, SARTRE, Questão de Método, cit., R~~~ FRÉCHET, Les M a t h h u t i q ~ f ~ s e t le Con'cret, Paris, Presses 
passim; DUVERGER, Obra Citada, p. 24; MAURICE MERLEAU t Universitaires de France, 1955, ps. 1 e (sobre uma desa- PQNTY, Les Sciences de l'Homme et la Phénoménologie, Paris, 
1 xiomatização da ciência). Centre de Documentation Universitaire, 1965, pussim, e MAU- 85. EMMANUEL MOUN~ER. l'raitk du Caractère, Paris, 
RICE MERLEAU PONTY, Résumés des Cours: Collège de France Éditions du Seuil, 1946, p. 39. 
(1952-1960), Paris, Gallimard, 1968, sobretudo ps. 77 e segs. 86. FPÉCHET, Obra Citada, p. 116. 83. A respeito, JOJA, Obra citada, p. 38. 87. MERLEAU PONTY, Les Sciences.. . , cit., passiw. 84. Ver GEORGES BOULIGAND & JEAN DESGRANGES, Ee 
- 88. STEPHAN STRASÇER, Phénoménologiz ef Sciences de Déclin des Absolus Mathémtico-Logiques, Paris, Smiété d>Édi- 1 IJHomme, Lourain, Publications Universitaires de Louvain, 1967. tion d'Enseignement Supérieur, 1949, passim, sobretudo o en- t 89. No texto, que não se destina a leitores formados em saio de ~ E ~ G R A N G E S (ps. 75 e segs.), respondendo à questão 
t filosofia, evito, por isso mesmo, as subdistinções sibilinas, entre 
I 
40 ROBERTO LYRA FILHO i i CRIMINOLOGIA DIALfiTICA 41 
. r 
4 . I I 
a de FRANKL, mestre da 3." Escola de Viena, interessa, de ferro ideológica separava o mundo russo", o 
I I 
nlais, pela sua construçáo, no terreno da logoterapia, europeu continental e o anglo-americano", como 
h 
em militança clínica, do que pela fundamentação an- três climas bem distintos de pensamento,: o primeiro, 
tropológico-filosófica - embora haja, nesta, agudas~ marxista; o ,segundo, lato sensu "metafísico" 0 ter- 
- intuições e observações de extrema lucidez, sob o ró- ceiro, filiado às posições analíticas e lógico-empi- 
L U ~ O í'metaclínico".'" ristas.'" 
- .. H conjuntura f i l õ s Ó T i F t ~ d ~ a r ~ ~ - b - ~ ~ - ~ ô ~ ~ No terreno científico, a repercussão dêsse éstado 
- - ,-.--- alento da tradição realista e dialética, pois o existen- de coisas prestava-se à satira, f ~ t r ~ m - R ~ v ~ - I h - 4 ~ 
c i-2-1 i s rn o-s e-eo-n-t-=pua h a - a - k k ~ ~ ~ . , a b u c a do c o n - explicaçóes s i r n p l i s t a ~ ; ~ ~ diante de um homem que 
creto mti-sistemático, a partir de KIERKEGAARD; e, exprime suas posiç6es-pol-ít-icas-a um amigo, com 
I 
I Por outro lado, os hegelianismos de esquerda, longe grande vivacidade, vários espectadores oferecem, logo. 
das cátedras universitárias, salvo em figuras isoladas a I I expiicagáo" - é uma crise de hipomania (um 
e POUCO características, tal como a de MONDOLFO, psiquiatra) ; Esse desafio à autoridade trai um ódio 
estava entregue àquelas formas dogmáticas, inspira- infantil ao pai (um psicanalista freudiano) ; Puro 
I das em razões táticas e de ocasião.'" efeito duln metabolismo descalcificado (um disc í~u- 
Completara-se a dissociaçáo antropológica. As lo de RABAUD) ; obedece aos interêsses de classe (um 
, direções filosóficas, subjacentes à atividade científica, 
- - - - 
marxista). Trata-se, é evidente, duma caricatura~ 
- 
- - - - - que-só as proscrevia para melhor seguí-las, na tônica 
--- -- - 
-- -- - 
- - - - que visa a desmoralizar psiquiatras. psicanalistas. idealista geral, criaram uma espécie de hsmem frag- - - &&pulos ~ ~ R A B A U D - ~ U - marxistas - por& a ex- 
- - 
- - -- .- 
mentário e fragmentado, reservando-se as partes como primir o "tipo ideal" " da exacerbação sectária de 
- 
um todo, Nêsse contexto, apareceram os grandes "im- 
cada direçáo. Um marxismo pregui~oso, nota SAR- 
périos", delineados por FERRATER MORA : a cortina 
-------- 
- 
-.- 
 FERRATER TER MORA, La Filosofia en e' Mundo d e H~~ 
- - - - - - - as -posições c.t-istr~zcial~.~ e exisfcncicllcs, tão gratas ao estilo i,, obros Selectas, Maclrid, Revista dt-Occidente,l-967,-~~1.-=?------ 
eufuísta de HEIDEGGER (ver ROGER VERNEAUX, Leçons szir ps. 92 e segs. 
I'E.risfentinlisiizc ct scs F~ril ics P~incipnlrs, Paris, Téclui, s/&ta, 94. A P " ~ HUISMAN & VERGEZ, C O W ~ Traifé. e . , C ~ L 
11. 19). ~íCtc7i>lzysique, p. 65. 
90. VIKTOR FRXNKL, P s y c h o t l z ~ ~ a p ~ and Exisfentialifi.12, 95. P ~ ~ p ~ f i a RODRIGIJES ( i n ddéfodos Crité&s de 
New York, Jtrashington Square Press, 1967, passiln; V I K T O ~ ~ o ~ i ~ l o ~ í , ~ Contc?~fordncn, Madrid, Instituto Balmes de Filo- 
FRANRL, Tlzeorie rwzd Therapie der Neurosen, Wien, Urban 1955, p. 357) mostra como OS tipgs ideais weberianos Te- 
& Sch\frarzenherg, 1956, principalmente parte B, n . 0 ~ I IV. presentam, eln última análise, úteis "caricaturas", que permiteln 
91. Ver R ~ G E R VERNEAUX, Obra Citada, ps. 10 e passit~. c-estacar certas característicsa reais. 
92. SARTRE, Questão de Método, p. 23. 96. SARTRE, Questão de Método, cit., P. 48. 
TRE, desvirtua o próprio enderêço, a que adere,g6 
obscurecendo, por exemplo, a contribuição da psi- 
canálise," que, por outro lado, em FREUD e, sobre- 
tudo, em JUNG, se faz acompanhar du'a "mitologia 
perfeitamente inofen~iva" .~~ 
A integração das ciências humanas, representan- 
do, no seu quadro geral, tanto quanto no setor cri- 
minológico, uma insistente preocupação de nosso 
tempo, arrisca-se, contudo, a terminar num jogo di; 
cancelamentos recíprocos, mais do que de colaboração 
fecunda. 
WQLFGANG e FERRACUTI esbanjaram talento e 
erudição na sua tentativa de encontrar o caminho.gg 
Seu livro, associando a investigação empírica à voca- 
ção teórica, é, sem dúvida, u m dos mais importantes 
da bibliografia criminológica atual. Eles procuram 
abandonar aqueles outros tipos de pesquisa interdis- 
ciplinar, recenceados pela National Education ASSO- 
ciation; fixam-se no que esta denominou "fusão" e 
que tornaria indispensável um sistema teórico abran- 
gedor.laa Entretanto, na construção empreendida pelo 
sociólogo americano e pelo psicólogo da Itália, fica, 
mais do que nunca, evidente que falta explorar tôdas 
as contradições internas das disciplinas, trazidas à 
colação. É, talvez, êste o motivo das reticências, com 
que MANNHEIM pesponta seu agudo prefácio:lol e 
97. Ibidem, p. 53. 
98. Ibideun, p. 54. 
5 9 . WOLFGANG FERBACUTI, Tlze Subculture of Via- 
lente, cit., pussim 
100. Ibidew, p. 10. 
101. Ibidewz, especialmente p. IX. 
CRIMINOLOGIA DIALfiTICA 
ainda se poderia acrescentar o eco de problematizagões 
radicais, a exemplo de B A E C H L E R , ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ , pura 
- 
e simplesmente, a divisão das ciências sociais e prefe- 
rindo falar em redefinições de tais ciências, conforme 
os diferentes níveis de análise da realidade social.lV3 
Aliás, o sempre bem informado PINATEL já destacara 
à existência de novas e surpreendentes formações 
interdisciplinares, mostrando como ruem as barrei- 
ras de metodologias baseadas no protecionismo de 
áreas,lo4 Isto atinge, inclusive, o terreno das cigncias 
da natureza, como não deixou de assinalar o eminente 
criminólogo francês, 
A fusão, portanto,

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