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Súmulas Criminais STF e STJ 2 EBEJI SÚMULAS CRIMINAIS STF e STJ Comentadas e Organizadas por assunto DIREITO PENAL, EXECUÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL 3 APRESENTAÇÃO Prezadas alunas e alunos, É com grande satisfação que a EBEJI vem apresentar e divulgar o seu mais novo Livro Digital Temático, inteiramente gratuito a ser divulgado e compartilhado através das redes sociais. Esse livro é uma espécie de celebração. No final de 2016 e início de 2017, vários portais divulgavam que, em razão da crise, os concursos se extinguiriam e não haveria mais oportunidades para quem desejava ingressar no serviço público. Conforme antecipamos, nossos alunos não poderiam se deixar contaminar com esses boatos, pois ainda que houvesse alguma dificuldade, as oportunidades continuariam e continuarão aparecendo. O nosso dever é manter o foco, a abnegação e o esforço na preparação para quando a oportunidade aparecer, nós estejamos preparados. Em verdade, 2017 está repleto de oportunidades nas áreas de Defensoria Pública, Advocacia Pública, magistratura e Ministério Público! Além disso, já há sinalizações muito animadoras em relação a 2018. Assim, a ordem por aqui é não esmorecer e redobrar os esforços! Como símbolo desse esforço necessário e visando sempre a manter a nossa missão de auxiliar TODOS os candidatos que mantêm o sonho da aprovação, a EBEJI – que diariamente produz e compartilha nas redes sociais muito conhecimento gratuitamente disponibilizado a quem se interessar – vem divulgar o mais novo livro digital “Súmulas Criminais STF e STJ Comentadas e Organizadas por assunto”. Trata-se de um excelente material para (i) aprender jurisprudência criminal, (ii) revisar para provas objetivas, subjetivas ou oral, (iii) garantir um sem número de acertos nas disciplinas de direito penal, processo penal e execução penal, (iv) além de ser um excepcional material para consulta e auxílio no dia a dia prático de profissionais que atuam na área. Com muito carinho, dedicação e cuidado, a equipe da EBEJI, coordenada pelo professor e Defensor Público Federal Pedro Coelho, produziu esse material que reputamos bastante útil e de grande relevância! É gratuito porque, dentre as missões da EBEJI, está o compartilhamento do conhecimento e a democratização dele! Como “troca” ou “compensação”, a única coisa que esperamos é 4 que esse livro seja bem aproveitado e de muito valor para a preparação de vocês. Além disso, desejamos com toda a sinceridade que se vocês conhecerem alguém que pode também desfrutar do livro digital, por qualquer motivo que seja, compartilhe e/ou marque seu amigo! Afinal, conhecimento compartilhado nada mais é do que SABEDORIA! Bons Estudos. Vamos em frente! EBEJI. 5 Sumário DIREITO PENAL ................................................................................................................................................ 7 Lei nova favorável ......................................................................................................................................... 7 Crime impossível ........................................................................................................................................... 7 Crime continuado ......................................................................................................................................... 8 Ação Penal ..................................................................................................................................................... 9 Dosimetria da pena ....................................................................................................................................... 9 Fixação de regime prisional ....................................................................................................................... 11 Medida de segurança .................................................................................................................................. 12 Pena de multa .............................................................................................................................................. 15 Sursis ............................................................................................................................................................. 15 Perdão Judicial ............................................................................................................................................. 16 Prescrição ..................................................................................................................................................... 16 Contravenções penais ................................................................................................................................. 19 Furto ............................................................................................................................................................. 20 Roubo ........................................................................................................................................................... 22 Extorsão ....................................................................................................................................................... 24 Estelionato ................................................................................................................................................... 24 Violação de direito autoral ......................................................................................................................... 26 Estupro ......................................................................................................................................................... 29 Uso de documento falso ............................................................................................................................ 30 Falsa identidade ........................................................................................................................................... 30 Contrabando e Descaminho ..................................................................................................................... 31 Crimes de responsabilidade de prefeitos ................................................................................................. 32 Corrupção de menores ............................................................................................................................... 32 Crimes contra a ordem tributária ............................................................................................................. 33 Crime de trânsito ......................................................................................................................................... 34 Estatuto do Desarmamento ...................................................................................................................... 35 Lei Maria da Penha ..................................................................................................................................... 36 Lei de Drogas .............................................................................................................................................. 37 Crimes contra a segurança nacional ......................................................................................................... 39 DIREITO PROCESSUAL PENAL ......................................................................................................................39 Inquérito Policial ......................................................................................................................................... 39 Uso de algemas ............................................................................................................................................ 44 Competência da Justiça Estadual.............................................................................................................. 46 Competência da Justiça Comum Federal ................................................................................................ 50 6 Competência da Justiça Militar ................................................................................................................. 52 Foro por prerrogativa de função .............................................................................................................. 54 Conflito de Competência ........................................................................................................................... 57 Ação Penal ................................................................................................................................................... 57 Assistente de acusação ............................................................................................................................... 60 Mutatio libelli ............................................................................................................................................... 61 Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos ......................... 62 Citação por edital e suspensão do processo ........................................................................................... 63 Suspensão condicional do processo ......................................................................................................... 66 Transação penal ....................................................................................................................................... 68 Carta precatória ........................................................................................................................................... 69 Meios de prova ............................................................................................................................................ 70 Prisão ............................................................................................................................................................ 71 Liberdade provisória ................................................................................................................................... 74 Tribunal do júri ......................................................................................................................................... 76 Prazos............................................................................................................................................................ 78 Nulidades ...................................................................................................................................................... 79 Recursos ....................................................................................................................................................... 82 Habeas corpus ............................................................................................................................................. 87 Mandado de segurança ............................................................................................................................... 90 Revisão criminal .......................................................................................................................................... 91 Embargos infringentes ............................................................................................................................... 91 Execução penal............................................................................................................................................ 91 7 DIREITO PENAL Lei nova favorável Súmula 611 - STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das Execuções à aplicação de lei mais benigna. O teor da Súmula é suficiente para a sua compreensão. A partir do trânsito em julgado da condenação (sentença definitiva), inaugura-se uma nova fase no processo penal, a da execução. Nela, deverá ser observada a Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/84), inclusive para a aplicação de novatio legis in mellius. É nesse sentido, aliás, a redação do artigo 66, I da LEP (posterior à edição da Súmula), indicando que “compete ao Juiz da execução aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado”. Destarte, deparando-se o juízo das execuções com uma modificação legislativa que venha a favorecer aritmeticamente pena já transitada em julgado e se encontrando na fase de execução, deverá promover a adequação imediata, não sendo necessário encaminhar para outro juízo. Crime impossível Súmula 145 - STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Estamos diante do doutrinariamente conhecido flagrante preparado, provocado, crime de ensaio ou ainda “delito putativo por obra do agente provocador”. Em apertada síntese, há fundamentalmente dois requisitos para sua verificação, quais sejam (i) a preparação e (ii) a não consumação da infração. Isso é importante, pois prevalece a ideia de que se nos depararmos com um caso em que, não obstante reste presente a preparação, mas o agente logre êxito na consumação, haverá crime (possível) e a prisão será considerada legal. Verificando-se, pois, em caso concreto que há a indução à prática delitiva e a adoção de precauções suficientes para impedir o resultado delituoso, estará caracterizada a ausência de eficácia absoluta dos meios empregados (crime impossível). Nesse ponto, vale atentar para a Súmula 567 do STJ, que indica que o “sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”. 8 Crime continuado Súmula 605 - STF: Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida. Superada. A súmula é anterior a Lei nº 7.209/84, que reformou a Parte Geral do Código Penal. A partir de então, de forma expressa através do parágrafo único do art. 71 do CP, passou-se a admitir continuidade delitiva em crimes dolosos: Art. 71. (...) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Para essa continuidade delitiva do parágrafo único do artigo 71 do CPB (chamada por alguns de crime continuado específico), relacionado a crimes contra bens jurídicos personalíssimos, deve haver o preenchimento de 3 requisitos: (i) vítimas diversas, (ii) presença de violência ou grave ameaça e (iii) ter natureza dolosa a conduta. Súmula 711 - STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Atenção! Apesar de a redação da súmula deixara entender que se aplica sempre a lei mais grave aos crimes continuados ou permanentes, o entendimento correto é o de que sempre se aplicará a lei nova, quer seja mais ou menos gravosa. Imagine, pois, que o Tício está cometendo um crime permanente com pena em abstrato de 3 a 10 anos. Contudo, durante a permanência do crime em tela, há uma modificação da lei penal e aquele crime passa a ter uma pena de 1 a 5 anos. Se aplicássemos a literalidade da Súmula, poder-se-ia ter a equivocada impressão de que seria aplicável a pena mais grave! Errado! A interpretação que se deve dar, como dito, é que se deve avaliar qual a lei vigente na cessação da permanência. Será ela que deverá ser aplicada, seja mais ou menos grave. Elucidativo, nesse ponto, o entendimento do STJ, apontando que “dessa forma, deve ser a elas aplicada a lei em vigência no momento em que 9 interrompida a permanência, ainda que mais grave, conforme compreensão consolidada na Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal1. Ação Penal Súmula 601 - STF: Os arts. 3º, II, e 55 da Lei Complementar nº 40/1981 (Lei Orgânica do Ministério Público) não revogaram a legislação anterior que atribui a iniciativa para a ação penal pública, no processo sumário, ao juiz ou à autoridade policial, mediante portaria ou auto de prisão em flagrante. Superada. Não recepcionada pela Ordem Constitucional vigente. Súmula 607 - STF: Na ação penal regida pela Lei nº 4.611/1965, a denúncia, como substitutivo da portaria, não interrompe a prescrição. Superada. Não recepcionada pela Ordem Constitucional vigente. “A Lei 4.611/65 dispõe, em seu artigo 1º, que ‘[o] processo dos crimes previstos nos artigos 121, § 3º, e 129, § 6º, do Código Penal, terá o rito sumário estabelecido nos arts. 531 a 538 do Código de Processo Penal’. É dizer, a Lei estendeu aos crimes de homicídio e lesão corporal culposos o rito reduzido das contravenções penais, prevendo tenha início o processo com o auto de prisão em flagrante ou mediante portaria expedida pela autoridade policial ou pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público. Esses preceitos tornaram-se sabidamente incompatíveis com o disposto no artigo 129, I, da Constituição de 1988, que conferiu ao Ministério Público o monopólio da ação penal pública.” (STF. HC 91581, Relator Ministro Eros Grau, Segunda Turma, julgamento em 14.8.2007, DJe de 22.2.2008). Dosimetria da pena Súmula 171 - STJ: Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso (- proibido -)2 a substituição da prisão por multa. Súmula 231 - STJ3: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. 1 HC 298.927/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe 26/11/2015. 2 O termo “proibido” claramente não está no teor do verbete sumulado. Contudo, diversos candidatos têm dificuldade de assimilar o significado de defeso, razão pela qual optamos por inserir a expressão sinônima. 3 No mesmo sentido encontra-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Sobre o tema, vale conferir o RE 597270 QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 26/03/2009, na sistemática de repercussão geral. 10 Súmula 241 - STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. Súmula 444 - STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. Cuidado! Apesar da Súmula apontar a impossibilidade da utilização da persecução penal sem decisão definitiva como instrumento para agravamento da pena base, o mesmo STJ decidiu, através de sua 3ª Seção (2017) ser “possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da convicção de que o Réu se dedica à atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no artigo 33, §4º, da Lei 11.343/06”4. Súmula 545 - STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal. Sobre o tema e a confissão parcial, Informativo 569 STJ: DIREITO PENAL. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. O fato de o denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo ter confessado a subtração do bem, apesar de ter negado o arrombamento, é circunstância suficiente para a incidência da atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP). Isso porque, consoante entendimento sufragado no âmbito do STJ, mesmo que o agente tenha confessado parcialmente os fatos narrados na exordial acusatória, deve ser beneficiado com a atenuante genérica da confissão espontânea (HC 322.077-SP, Quinta Turma, DJe 3/8/2015; e HC 229.478-RJ, Sexta Turma, DJe 2/6/2015). HC 328.021-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ-PE), julgado em 3/9/2015, DJe 15/9/2015. Nesse raciocínio, devemos atentar para a situação da chamada confissão qualificada. Ela nada mais é do que a situação em que o agente reconhece espontaneamente (sem ser constrangido) a prática de um fato típico perante autoridade, porém, concomitantemente, alega motivo etiquetado como (i) excludente da ilicitude ou de (ii) culpabilidade em sua defesa. Ora, de acordo com a Súmula 545 do STJ, caso a confissão (mesmo qualificada) seja utilizada no convencimento do julgador, ela será idônea a gerar a redução! Afirma-se, pois, que o STJ admite a confissão qualificada. 4 EREsp 1431091/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/12/2016, DJe 01/02/2017. 11 Isso é bastante relevante, pois há julgados do Supremo Tribunal Federal (antes da Súmula do STJ) asseverando posição em sentido contrário, ou seja, que “a confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (Precedentes: HC 74.148/GO, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 17/12/1996 e HC 103.172/MT, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 24/09/2013)”5. Fixação de regime prisional Súmula 269 - STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. A importância desse entendimento é gigante, pois a partir de uma leitura rápida do artigo 33, parágrafo 2º do CPB, pode-se ter a impressão de que a vontade do legislador é determinar que o regime inicial de cumprimento da pena de todo reincidente seja o fechado. Todavia, de acordo com a Súmula ora analisada, temos que: (i) se se tratar de reincidente com pena de reclusão superior a 4 anos, o regime inicial será o fechado; de outra sorte, (ii) caso se trate de pena de reclusão igual ou inferior a 4 anos, tratando-se de reincidente, o regime inicial poderá ser o fechado ou aberto, a depender das circunstâncias do artigo 59 do CPB6. Súmula 440 - STJ: É vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade do delito. Em conformidade com o entendimento sumulado do STJ, decisão da Segunda Turma do STF veiculada no Informativo 844: Roubo: pena-base no mínimo legal e regime inicial fechado – 2 A Segunda Turma, em conclusão e por maioria, deu provimento a recurso ordinário em “habeas corpus” em que o recorrente pleiteava a fixação do regime semiaberto para o início do cumprimento da pena. No caso, ele foi condenado pela prática de roubo duplamentecircunstanciado, em razão do concurso de agentes e do uso de arma de fogo. Na sentença, o juízo fixou a pena-base no mínimo legal, mas estabeleceu o regime inicial fechado — v. Informativo 841. O Colegiado entendeu, de acordo com precedentes da Turma, que o juízo, ao analisar os requisitos do art. 59 do Código 5 HC 119671, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 05/11/2013. 6 No sentido de que é inviável o regime inicial aberto para o réu reincidente condenado a pena inferior a 4 anos, conferir o STJ, HC 285.428/RS, 5ª Turma (2015). 12 Penal, havia considerado todas as circunstâncias favoráveis. Concluiu que, fixada a pena no mínimo legal, não cabe determinar regime inicial fechado. Lembrou, também, orientação do Enunciado 440 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça nesse mesmo sentido (“Fixada a pena- base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”). Vencido o ministro Ricardo Lewandowski (relator), que desprovia o recurso. RHC 135298/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, 18.10.2016. (RHC-135298) Súmula 718 - STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. Súmula 719 - STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. Medida de segurança Súmula 422 - STF: A absolvição criminal não prejudica a medida de segurança, quando couber, ainda que importe privação da liberdade. Esse entendimento deve ser compreendido com temperamento, mormente para verificação de sua validade. Em verdade, ela está correta e válida quando se entende/interpreta essa “absolvição criminal” como absolvição imprópria. Para que haja essa absolvição imprópria, com fixação de medida de segurança, é imprescindível que estejamos diante de situação em que o agente imputável, em hipótese similar, seria condenado à pena. Deve-se tratar de fato típico, punível, mas em razão da periculosidade e inexistência de imputabilidade integral (inimputável ou semi-imputável), opta-se pela fixação de medida de segurança (absolvição imprópria). Súmula 520 - STF: Não exige a lei que, para requerer o exame a que se refere o art. 7777 do Código de Processo Penal, tenha o sentenciado cumprido mais de metade do prazo da medida de segurança imposta. No mesmo sentido, a Lei de Execução Penal dispõe: 7 Art. 777. Em qualquer tempo, ainda durante o prazo mínimo de duração da medida de segurança, poderá o tribunal, câmara ou turma, a requerimento do Ministério Público ou do interessado, seu defensor ou curador, ordenar o exame, para a verificação da cessação da periculosidade. 13 Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mínimo de duração da medida de segurança, poderá o Juiz da execução, diante de requerimento fundamentado do Ministério Público ou do interessado, seu procurador ou defensor, ordenar o exame para que se verifique a cessação da periculosidade, procedendo-se nos termos do artigo anterior. Súmula 525 - STF: A medida de segurança não será aplicada em segunda instância, quando só o réu tenha recorrido. Cuidado! Durante muito tempo, o legislador brasileiro agasalhou o chamado sistema do duplo binário (duplo trilho ou dupla via), pelo qual o semi-imputável cumpriria inicialmente a pena privativa de liberdade e, ao seu final, se mantida a presença da periculosidade, seria submetido a uma medida de segurança! Contudo, com a Reforma da Parte Geral do Código Penal Brasileiro efetivada em 1984, mormente com a nova redação do artigo 98 do CPB8, podemos afirmar que o legislador pátrio passou a adotar expressamente o Sistema Vicariante ou Unitário, superando o sistema do duplo binário. Assim, ao semi-imputável será aplicada a pena reduzida de 1/3 a 2/3 OU a medida de segurança, conforme seja mais adequado ao caso. Não mais é admitida a pena privativa de liberdade E medida de segurança, ainda que em sequência, pelo mesmo fato típico9. Por essa razão, a doutrina majoritária sustentava a superação da Súmula 525. Entretanto, em 2012, houve aplicação da referida súmula pelo STF: EMENTA: AÇÃO PENAL. Condenação. Sentença condenatória. Pena restritiva de liberdade. Substituição por medida de segurança. Determinação de exame de sanidade mental, determinada de ofício em recurso exclusivo do réu, que a não requereu. Inadmissibilidade. Coisa julgada sobre aplicação da pena. Decisão, ademais, viciada por disposição ultra petita e reformatio in peius. HC concedido. Aplicação da súmula 525 do Supremo. Votos vencidos. Não é lícito aplicar medida de segurança em grau de recurso, quando só o réu tenha recorrido sem requerê-la. (HC 111769, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 26/06/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 25-02-2013 PUBLIC 26-02-2013). 8 Art. 98 – Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º. 9 Para mais informações, ver artigo do professor Pedro Coelho publicado em: https://blog.ebeji.com.br/o-cp- brasileiro-adota-o-sistema-vicariante-ou-duplo-binario/. 14 Há julgados do Superior Tribunal de Justiça advogando a superação da Súmula 525 do STF, afirmando peremptoriamente que “não constitui reformatio in pejus o fato de o Tribunal substituir a pena privativa de liberdade por medida de segurança, com base em laudo psiquiátrico que considerou o acusado inimputável, vez que a medida de segurança é mais benéfica do que a pena, vez que objetiva a proteção da saúde do acusado. Não se aplica a Súmula 525/STF ao caso, vez que a referida súmula foi editada quando vigia o sistema duplo binário, isto é, quando havia possibilidade de aplicação simultânea de pena privativa de liberdade e de medida de segurança. A reforma penal de 1984, autoriza a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança ao condenado semi-imputável que necessitar de especial tratamento curativo, aplicando-se o mesmo regramento da medida de segurança para inimputáveis (art. 97 e 98)”10. Redobre os cuidados com a aparente divergência entre STF e STJ quanto ao presente verbete. Súmula 527 - STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. Cuidado! Os Tribunais divergem nesse assunto. Enquanto o STJ entende que o prazo máximo de duração da medida de segurança é o máximo da pena abstratamente cominada ao delito, o STF possui entendimento diverso, no sentido de que a duração máxima da medida de segurança é o previsto no art. 75 do CP, trinta anos: EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. RÉU INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PERICULOSIDADE DO PACIENTE SUBSISTENTE. TRANSFERÊNCIA PARA HOSPITAL PSIQUIÁTRICO, NOS TERMOS DA LEI 10.261/2001. WRIT CONCEDIDO EM PARTE. I – Esta Corte já firmou entendimento no sentido de que o prazo máximo de duração da medida de segurança é o previsto no art. 75 do CP, ou seja, trinta anos. Na espécie, entretanto, tal prazo não foi alcançado. II- Não há falar em extinção da punibilidade pela prescrição da medida de segurança uma vez que a internação do paciente interrompeu o curso do prazo prescricional (art. 117, V, do Código Penal). III – Laudo psicológico que reconheceu a permanência da periculosidade do paciente, embora atenuada, o que torna cabível, no caso, a imposição de medida terapêutica em hospital psiquiátrico próprio. IV – (...). (HC 107432, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 24/05/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 08-06-2011 PUBLIC 09-06-2011 RMDPPP v. 7, n. 42, 2011, p. 108-115 RSJADV set., 2011, p. 46-50). 10 HC 187.051/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe 14/10/2011. 15 Pena de multa Súmula 521 - STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. Após a Lei nº 9.268/96, que alterou o art. 51 do Código Penal, não há que se falar em legitimidade do Ministério Público para executar pena de multa: Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) A execução também não deverá ser manejada pela Procuradoria da Fazenda respectiva no âmbito da Vara de Execuções Penais. Havendo vara especializada para a cobrança de dívidas, será sua a competência para a referida cobrança. Sursis Súmula 499 - STF: Não obsta à concessão do sursis condenação anterior à pena de multa. Art. 77, §1º do Código Penal: Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) §1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 16 §2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) Perdão Judicial Súmula 18 - STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Arts. 107, IX e 120, ambos do Código Penal: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Deve-se compreender que quando o agente é beneficiado pelo perdão judicial, não se está realizado um juízo absolutório de mérito (autoria ou materialidade), tampouco havendo condenação, vez que ausente fixação da pena. Daí ser imperiosa e pragmática a conclusão do STJ no sentido de qualificar essa decisão como “sentença declaratória de extinção da punibilidade”. Prescrição Súmula 146 - STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há recurso da acusação. Súmula 147 - STF: A prescrição de crime falimentar começa a correr da data em que deveria estar encerrada a falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou que julgar cumprida a concordata. Superada pela Lei de Falências (Lei nº 11.101/2005): Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial. Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano de recuperação extrajudicial. 17 Súmula 592 - STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas interruptivas da prescrição, previstas no Código Penal. Súmula 497 - STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação. Art. 119 do Código Penal: Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Esse entendimento normativo e sumulado é bastante relevante, mormente em provas discursivas! Para o cálculo da prescrição, será considerada a pena isolada de cada delito. É dizer, portanto, que ainda que estejamos em concurso material, formal, continuidade delitiva (tratando-se do sistema de cúmulo material ou exasperação da pena) o juiz não deverá considerar o acréscimo deles advindos para analisar a prescrição respectiva. Súmula 604 - STF: A prescrição pela pena em concreto é somente da pretensão executória da pena privativa de liberdade. Superada, pois além da prescrição da pretensão executória, também se calcula pela pena em concreto tanto a prescrição retroativa, quanto a prescrição intercorrente. Súmula 191 - STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime. Assim, o fato de ter havido desclassificação por parte do Tribunal do Júri para crime diverso dos dolosos contra a vida, por exemplo, não tem o condão de afastar a incidência do artigo 117, II do Código Penal, o qual indica que “o curso da prescrição interrompe-se pela pronúncia”, sem fazer qualquer ressalva. Súmula 220 - STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva. Atenção! De acordo com o art. 110 do Código Penal, a reincidência influi no prazo da prescrição da pretensão executória, entretanto, conforme se depreende da súmula, não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva: 18 Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Súmula 438 - STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal. A súmula trata da prescrição virtual, conhecida também por prescrição em perspectiva, hipotética, por prognose, projetada ou, ainda, antecipada. Ela caracteriza-se “no reconhecimento da prescrição retroativa com base em hipotética pena, sob o argumento de que eventual pena a ser aplicada em caso de condenação ensejaria, inevitavelmente, ou com grande margem de probabilidade, a prescrição retroativa da pretensão punitiva”11. Esse entendimento possui apoio da parcela relevante da doutrina processual penal especializada. Consoante nos ensina Paulo Queiroz, devemos analisar a decretação da prescrição, em casos tais, antes mesmo de sua consumação, em virtude das múltiplas circunstâncias do caso, entre as quais (i) o tempo decorrido, (ii) ausência de antecedentes do réu e, sobretudo, (iii) a consequente provável pena a ser aplicada12. Apesar de bastante defendida e de utilidade prática (em um viés pragmático salutar do processo penal), não possui previsão legal e, por essa razão, não é admitida pelos Tribunais Superiores. A ideia da prescrição em perspectiva envolve, de maneira bastante sintética, do vislumbrar da prescrição pela pena em concreto “imaginada”, hipotética – como menciona a súmula -, para o caso. Em outras palavras, imagina-se, considerando as circunstâncias do fato delituoso, a possível pena que será aplicada, e, com base nesta suposição, tem-se que, provavelmente, ocorrerá prescrição retroativa. Na verdade, se constatada a prescrição virtual, não se trataria de um arquivamento por causa extintiva de punibilidade, mas sim por falta de interesse de agir. Se ao “imaginar” qual seria a provável pena aplicável numa futura sentença condenatória, concluir-se que pela pena concreta ocorreria a prescrição retroativa, é sinal de que a ação seria inútil, faltando interesse de agir. 11 Lozano Jr. Prescrição penal. São Paulo: Saraiva, 2002, p.181. 12 Queiroz, Paulo. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Editora JusPodivm: 2014, pág. 571. 19 Além dos argumentos de falta de previsão legal, violação da presunção de inocência, fundamentação em dado aleatório, possibilidade de mutatio libelli e da própria Súmula 438 do STJ, deve-se registrar que esse entendimento também resta consolidado em âmbito do Supremo Tribunal Federal, conforme se afere do precedente a seguir colacionado, reproduzido no Informativo 788 daquela Corte: COMPETÊNCIA – PRERROGATIVA DE FORO – CESSAÇÃO DE MANDATO – AGRAVO REGIMENTAL. Estando o agravo regimental voltado a infirmar ato de integrante do Supremo, a este incumbe o julgamento, mostrando-se neutra a cessação do mandato gerador da prerrogativa de foro. RECURSO – ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO – PRESCRIÇÃO VIRTUAL – DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA – JULGAMENTO. Surgindo a prerrogativa de o investigado ter o inquérito em curso no Supremo, cumpre ao Juízo, defrontando-se com recurso em sentido estrito, remeter os autos ao Tribunal competente, atuando este sob o ângulo da revisão do que decidido. PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA. Inexiste norma legal que, interpretada e aplicada, viabilize assentar a prescrição da pretensão punitiva considerada possível sentença condenatória. (Inq 3574 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 02/06/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 15-06-2015 PUBLIC 16-06-2015). Contravenções penais Súmula 51 - STJ: A punição do intermediador, no jogo do bicho, independe da identificação do “apostador” ou do “banqueiro”. Súmula 720 - STF: O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres. O STF assentou a derrogação do art. 3213 da Lei de Contravenções Penais, no âmbito das vias terrestres, pelo art. 30914 do Código de Trânsito, precisamente porque o último, além de converter em crime a infração, para a sua configuração passou a reclamar a ocorrência de perigo concreto. 13 Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em aguas públicas: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. 14 Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. 20 Furto Súmula 442 - STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. Importante! Essa Súmula deve ser entendida, mas analisada com muito cuidado para os que estiverem prestando provas de etapas mais avançadas em concurso de Defensoria Pública. O raciocínio que não prevaleceu no STJ, mas se revela interessante no dia a dia criminal prático, era no sentido de que o crime de furto qualificado pelo concurso de agentes (art. 155 § 4º IV do CPB) tem a pena duplicada em relação ao furto simples. Todavia, alguns passaram a advogar a tese de que esse incremento seria irrazoável e desproporcional. Para comprovar a tese ventilada, apontavam como parâmetro comparativo situação semelhante prevista pelo legislador para o roubo praticado em concurso de agentes. Diferentemente da duplicação da pena, no roubo haveria “simples” aumento de pena entre 1/3 e ½. O STJ admitiu a utilização do parâmetro do artigo 157, parágrafo 2º (roubo) para os casos de furto qualificado? Não! A utilização da analogia no caso em tela foi refutada, pois não se trata de uma omissão do legislador e a utilização por parte do juízo de parâmetro legal diverso daquele pretendido pelo Poder Legislativo culminaria em ofensa ao postulado da separação de poderes. Daí ter prevalecido o entendimento consubstanciado no Súmula 442 do STJ. Súmula 511 - STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. Trata-se do furto privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), reconhecido não só pelo STJ - vide súmula -, como também pelo STF: DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. RÉU PRIMÁRIO. RES FURTIVA DE PEQUENO VALOR. POSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DO PRIVILÉGIO PREVISTO NO PARÁGRAFO 2º DO ART. 155 DO CP. ORDEM CONCEDIDA. 1. A questão tratada no presente writ diz respeito à possibilidade de aplicação do privilégio previsto no parágrafo 2º do art. 155 do Código Penal ao crime de furto qualificado. 2. Considero que o critério norteador, deve ser o da verificação da compatibilidade entre as qualificadoras (CP, art. 155, § 4°) e o privilégio (CP, art. 155, § 2°). E, a esse respeito, no segmento do crime de furto, não há incompatibilidade entre as regras constantes dos dois parágrafos referidos. 3. No caso em tela, entendo possível a incidência do privilégio previsto no parágrafo 2º do art. 155 do Código Penal, visto que, apesar do crime ter sido cometido em concurso de pessoas, o paciente é primário e a coisa furtada 21 de pequeno valor. 4. Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus. (HC 96843, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 24/03/2009, DJe-075 DIVULG 23-04-2009 PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-04 PP-00719 LEXSTF v. 31, n. 364, 2009, p. 490-495). Percebe-se então que a jurisprudência dos Tribunais Superiores admite sim o furto privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), desde que estejamos diante de qualificadoras objetivas! Mas o que são qualificadoras objetivas e subjetivas? Qualificadora objetiva é aquela que está relacionada intimamente com o fato delituoso praticado, circunstâncias em que o crime fora praticado, modo, lugar, tempo, instrumentos utilizados, ao passo que a qualificadora subjetiva se verifica com vinculação à pessoa do agente criminoso. Podemos dividir as qualificadoras do parágrafo 4º do artigo 155 do CPB na seguinte classificação: Qualificadoras Objetivas Qualificadoras Subjetivas(a) com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; (b) com emprego de chave falsa; (c) mediante concurso de duas ou mais pessoas. (a) com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; Prevalece, apesar de alguma divergência, que a única qualificadora subjetiva e incompatível com o privilégio do artigo 155, parágrafo 2º do CPB é quando a prática do delito envolver abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza. Súmula 567 - STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. Conforme preconiza o art. 17 do Código Penal, para configurar crime impossível (tentativa inidônea ou quase-crime) se faz necessário a ineficácia absoluta do meio ou a impropriedade absoluta do objeto. Portanto, o CP adota, quanto ao crime impossível, a teoria objetiva temperada - aquela que considera haver crime tentado se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto for relativa: 22 Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) No caso de monitoramento eletrônico em estabelecimentos comerciais, o Tribunal entende que não há, necessariamente, absoluta ineficácia do meio. Em verdade, há uma ineficácia ou impropriedade relativa - pois não evita a ocorrência de furto de maneira absoluta -, razão pela qual se configuraria crime na modalidade tentada, salvo se, por outros aspectos envolvidos no caso concreto, se perceber que o crime seria impossível, a partir dos requisitos e condições do CPB. Roubo Súmula 174 – STJ (cancelada): No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena. Informativo 114 STJ: CANCELAMENTO. SÚMULA N. 174-STJ. A Seção decidiu cancelar a Súmula n. 174-STJ, entendendo que a utilização de arma de brinquedo não descaracteriza o tipo do art. 157, caput do CP, apenas afasta a causa de aumento inserta no § 2º, I, do aludido dispositivo. REsp 213.054-SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, julgado em 24/10/2001. Súmula 443 - STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes. O roubo circunstanciado é o “majorado”, previsto no parágrafo 2º do artigo 157 do CPB. Ali, o legislador arrolou cinco situações que teriam o condão de aumentar a pena, na 3ª fase do caminho da dosimetria penal, no patamar entre 1/3 e ½. A dúvida que foi sanada pelo STJ no verbete ora analisado era se seria ou não possível elevar acima do mínimo a pena com base exclusivamente no número de causas de aumento em um caso concreto. O mero fato de um roubo ter se dado através de uso de arma de fogo e concurso de agentes, por si só, justifica aumento superior a 1/3 (patamar mínimo)? O STJ afirma claramente que não! Esse aumento pressupõe uma análise e fundamentação a partir do caso concreto, a fim de aferir a maior ou menor reprovabilidade da conduta e a necessidade de recrudescimento concreto da pena. O Súmula 443 do STJ materializa, na 23 prática, os postulados da individualização da pena e da necessária fundamentação das decisões judiciais, ambos de estatura constitucional. Súmula 582 - STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. Após alguma vacilação da jurisprudência nacional, pode-se afirmar peremptoriamente que o Brasil adota a teoria da apprehensio (amotio), também conhecida por teoria da inversão da posse, quanto ao momento de consumação do crime de roubo. Segundo esta teoria, a consumação se dará quando a coisa subtraída passar para o poder do agente, ou seja, quando houver a inversão da posse, ainda que por pouco tempo e na esfera de vigilância da vítima. É o que nos diz a súmula em sua parte final, “sendo prescindível – dispensável, desnecessário - a posse mansa e pacífica ou desvigiada”15. Súmula 610 - STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima. O evento morte é essencial para poder-se falar em consumação do latrocínio. Ele somente existirá, pois, quando houver morte causada no curso da prática de roubo, seja próprio ou impróprio. Não estamos diante de um crime preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no consequente), já que, independentemente de se tratar de morte produzida dolosa ou culposamente, estar-se-á diante de latrocínio. Trata-se de um crime qualificado pelo resultado. Acerca do momento consumativo do latrocínio, convém esquematizar algumas situações e o respectivo entendimento prevalente: Situação Latrocínio Subtração e Morte consumadas. Latrocínio Consumado. Subtração e Morte tentadas. Latrocínio Tentado. Subtração Tentada e Morte Consumada. Latrocínio Consumado16. 15 Para conferir um maior aprofundamento sobre o tema e sobre todas as teorias envolvendo o momento consumativo dos crimes de roubo e furto, conferir o artigo “COELHO, Pedro. Teorias da contrectatio, amotio, ablatio ou illatio, em: https://blog.ebeji.com.br/teorias-da-contrectatio-amotio-ablatio-ou-illatio/. 16 Vide Súmula 610 do STF. 24 Subtração Consumada e Morte Tentada. Latrocínio Tentado17. Extorsão Súmula 96 - STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. A extorsão é um crime formal. Em outras palavras, não obstante haver previsão de resultado natural, ele não é imprescindível para a consumação do delito, revelando-se como mero exaurimento da conduta. Independentemente da vantagem econômica, caracterizado constrangimento ilegal com tal finalidade (art. 158 CPB), restará consumado o crime. Como já salientou o STJ, “o delito tipificado no artigo 158 do Código Penal se consuma independentemente da obtenção da vantagem indevida, bastando que a vítima faça, deixe de fazer ou tolere que o agente faça alguma coisa mediante violência ou grave ameaça.(...) É impossível o reconhecimento da tentativa na segunda conduta, já que a ação policial não impediu que as vítimas agissem de modo a entregar a quantia exigida pelos réus, tendo obstado apenas que estes efetivamente recebessem o dinheiro, fase que caracteriza mero exaurimento do delito (HC 232.062/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 25/03/2014). Estelionato Súmula 17 - STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. A súmula decorre da aplicação do princípio da consunção, no qual o crime-meio é absorvido pelo crime-fim. Trata-se de uma das modalidades de solução do chamado “conflito aparente de normas”. E, apesar dos questionamentos, em especial quanto à gravidade do crime de falsificação ser maior quando comparada ao estelionato tendo em vista as penas aplicadas, a súmula continua válida e aplicável. 17 Apesar de haver alguma resistência a essa posição e precedentes em sentido diverso, prevalece no STF a posição de que havendo subtração efetivada, mas a morte não se materializado, estaríamos diante de um latrocínio tentado. Nesse sentido, em recentejulgado, afirmou-se que “esse entendimento converge com a jurisprudência da Corte, segundo a qual “o crime latrocínio, na modalidade tentada, para a sua configuração, prescinde da aferição da gravidade das lesões experimentadas pela vítima, sendo suficiente a comprovação de que o agente tenha atentado contra a sua vida com animus necandi, não atingindo o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade” (HC nº 113.049/SC, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 10/9/13)”. (RHC 133486, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 02/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-177 DIVULG 19-08-2016 PUBLIC 22-08-2016). 25 Perceba que parcela da doutrina advoga a tese de que somente haveria de se falar em consunção quando o crime meio se revelar de menor ou igual gravidade em relação ao crime fim. Do contrário, haveria um concurso material. Atenção! Esse entendimento não prevalece no STJ, pois em recentes e sucessivas decisões a Corte admite a aplicação da consunção entre o estelionato (crime fim com pena abstrata menor) e o uso de documento falso (crime meio com pena abstrata maior). Nesse ponto, destaca-se o precedente em que se asseverou literalmente que “conforme o enunciado da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Se o Tribunal de origem, soberano na análise das provas dos autos, concluiu que, no caso, o crime de uso de documento falso foi praticado com a finalidade de possibilitar um único crime de estelionato, bem como que não há indícios de que o agente tenha utilizado ou pretendia utilizar o documento falso em outras oportunidades, o exame da pretensão em sentido contrário encontra óbice na Súmula 7/STJ (AgInt no AREsp 738.842/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe 19/12/2016)”. Súmula 24 - STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do §3º, do art. 17118 do Código Penal. Trata-se do chamado estelionato previdenciário, de competência da Justiça Federal. Súmula 48 - STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. O raciocínio reinante aqui foi o de que a competência em razão do lugar (territorial) é definida, na forma do artigo 70 do CPP, a partir do local da consumação do delito, como regra. Nesse ponto, aplicando-se a teoria da consumação ou do resultado, tem-se que o estelionato cometido através de falsificação de cheque é consumado no lugar em que a vantagem foi efetivamente obtida19. Súmula 73 - STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual. 18 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. 19 Vide Súmula 521 do STF. 26 Aqui, diferem-se dois tipos penais. O crime de moeda falsa, previsto no art. 289 do CP, pressupõe, para a sua configuração, que a falsificação, de fato, seja apta a iludir e enganar terceiros – homem médio. Se assim o for, a competência para julgar é da Justiça Federal, já que por mandamento constitucional é da competência da União a emissão de moeda (art. 21, VII). Por outro lado, caso a falsificação seja grosseira, não possuindo a mesma capacidade para ludibriar terceiros, tratar-se-á de fraude, configurando estelionato, previsto no art. 171 do CP, de competência da Justiça Estadual. Súmula 244 - STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos20. Súmula 246 - STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos. Súmula 521 - STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. Súmula 554 - STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. No sentido da súmula, depreende-se que o pagamento de cheques sem fundos antes do oferecimento da denúncia impedirá a instauração de ação penal por falta de justa causa. Caso ocorra o recebimento, futuro pagamento não impedirá o prosseguimento da ação. Importante mencionar que esta súmula só se aplica a modalidade do art. 171, §2º, VI – fraude no pagamento por meio de cheque. Em outras palavras, segundo o entendimento do STF e do STJ, a reparação do dano, ainda que antes do recebimento da denúncia, não exclui o crime de estelionato praticado em sua forma fundamental (caput) ou qualquer outra, ressalvada a do art. 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal. Violação de direito autoral Súmula 502 - STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, §2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas. 20 Mais uma aplicação da teoria da consumação ou do resultado para firmar a competência territorial. 27 De acordo com o princípio da adequação social, “não pode ser considerado criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento social de Justiça” 21. Assim, se aplicado, tal princípio afastaria a tipicidade de determinadas condutas que, em que pese serem típicas, são socialmente aceitas e toleradas. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo requereu, com base na adequação social, a declaração de atipicidade da conduta a assistido incurso nas penas do art. 184, §2º do CP. O STF não acolheu a tese (Informativo 583): “Pirataria” e Princípio da Adequação Social A Turma indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo requeria, com base no princípio da adequação social, a declaração de atipicidade da conduta imputada a condenado como incurso nas penas do art. 184, § 2º, do CP (“Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: ... § 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.”). Sustentava-se que a referida conduta seria socialmente adequada, haja vista que a coletividade não recriminaria o vendedor de CD’s e DVD’s reproduzidos sem a autorização do titular do direito autoral, mas, ao contrário, estimularia a sua prática em virtude dos altos preços desses produtos, insuscetíveis de serem adquiridos por grande parte da população. Asseverou-se que o fato de a sociedade tolerar a prática do delito em questão não implicaria dizer que o comportamento do paciente poderia ser considerado lícito. Salientou-se, ademais, que a violação de direito autoral e a comercialização de produtos “piratas” sempre fora objetode fiscalização e repressão. Afirmou-se que a conduta descrita nos autos causaria enormes prejuízos ao Fisco pela burla do pagamento de impostos, à indústria fonográfica e aos comerciantes regularmente estabelecidos. Rejeitou-se, por fim, o pedido formulado na tribuna de que fosse, então, aplicado na espécie o princípio da insignificância — já que o paciente fora surpreendido na posse de 180 CD’s “piratas” — ao fundamento de que o juízo sentenciante também denegara o pleito tendo em conta a reincidência do paciente em relação ao mesmo delito. HC 98898/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.4.2010. (HC-98898) No mesmo sentido, conforme a súmula, entende o STJ: RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PENAL. OFENSA AO ART. 184, § 2°, DO CP. OCORRÊNCIA. VENDA DE CD'S E DVD'S "PIRATAS". ALEGADA 21 Masson, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral – vol. 1. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016. 28 ATIPICIDADE DA CONDUTA. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL. INAPLICABILIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de considerar típica, formal e materialmente, a conduta prevista no artigo 184, § 2º, do Código Penal, afastando, assim, a aplicação do princípio da adequação social, de quem expõe à venda CD'S E DVD'S "piratas". 2. Na hipótese, estando comprovadas a materialidade e a autoria, afigura- se inviável afastar a consequência penal daí resultante com suporte no referido princípio. 3. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1193196/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2012, DJe 04/12/2012) Súmula 574 - STJ: Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externo do material, e é desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem. Informativo 567 STJ: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO DELITO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 926. É suficiente, para a comprovação da materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do CP, a perícia realizada, por amostragem, sobre os aspectos externos do material apreendido, sendo desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem os represente. (REsp 1.456.239-MG e REsp 1.485.832- MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 12/8/2015, DJe 21/8/2015.). Advertiu o Ministro Relator, no caso trazido acima, também que o CPP, nos casos de delitos contra a propriedade imaterial (que desafiam ação penal pública), deve ser observado o procedimento previsto nos arts. 530-B a 530-H, para a comprovação da materialidade dos referidos crimes. Conforme prevê o art. 530-D do Código de Processo Pena, “subsequente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo". De acordo com a doutrina, a finalidade do exame é a demonstração dos elementos sensíveis da prática delitiva. A perícia se torna imprescindível por ser ela o mecanismo legal demonstrador da materialidade da infração típica que deixa rastros22. 22 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao Código de Processo Penal à luz da doutrina e da jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Manole, 2012, p. 1.080 29 Não obstante a literalidade do dispositivo indicar que a perícia deve ser efetivada em todos os bens apreendidos, o STJ definiu posicionamento sobre o tema no sentido de que não se deve acolher tal exigência para fins de comprovação da materialidade do crime previsto no art. 184, § 2º, do Código Penal, mesmo porque a apreensão de um único objeto basta para que, realizada a perícia e identificada a falsidade dos bem periciado, se tenha como configurado o delito em questão. Estupro Súmula 608 - STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. CUIDADO! Tendência de Superação! A súmula foi editada quando o estupro era crime de ação penal privada. A situação muda após a Lei nº 12.015/2009, que alterou a redação do art. 225 do CP: Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II – Dos crimes contra a liberdade sexual e Dos crimes sexuais contra vulnerável - deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) A partir de então, em regra, o crime de estupro, em qualquer de suas formas, desafia ação penal pública condicionada à representação. Apenas em duas hipóteses desafiaria ação penal pública incondicionada: (i) no caos de vítima menor de 18 anos ou (ii) pessoa vulnerável. Apesar de alguns questionamentos a respeito da aplicação da súmula após a alteração do art. 225 do CP, fato é que súmula não se sobrepõe à lei. Portanto, prevalece o entendimento de que resta superada. Consoante salientado, apesar de ser essa a tendência, fato é que em 2014, a 6ª Turma do STJ asseverou que a Súmula 608 do STF seria ainda aplicável. Nos termos do voto do Relator: “A despeito da literalidade do disposto no art. 225 do Código Penal, nos crimes praticados mediante violência real, ainda incide a Súmula n. 608 do STF, como no caso dos autos, em que a violência empregada é incontroversa. Nesse sentido, menciono o HC n. 102.683⁄RS (DJe 7⁄2⁄2011), de relatoria da Ministra Ellen Gracie, em que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao analisar crime de tentativa de estupro, cometido em 27⁄2⁄2006, contra vítima de 14 anos de idade, decidiu, à unanimidade, que "Caracterizada a ocorrência de violência real no crime de estupro, incide, no caso, a Súmula 608⁄STF". Na ocasião, salientou que "a ocorrência de violência real no crime de estupro, por si só, já é 30 suficiente para classificar a respectiva ação penal como pública incondicionada". Ainda, menciono o HC n. 106.224⁄SP (DJe 14⁄2⁄2011), de relatoria do Ministro Jorge Mussi, em que a 5ª Turma deste Superior Tribunal decidiu que "tratando-se de crime de estupro e atentado violento ao pudor praticados com emprego de violência real, a ação penal é de iniciativa pública incondicionada, sendo o Parquet o ente legitimado para a sua promoção, a teor do texto constitucional, incidindo, na espécie, o enunciado da Súmula n. 608⁄STF, que, inclusive, não perdeu a validade com o advento da Lei n. 9.099⁄95"23. Uso de documento falso Súmula 546 - STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor. Imagine-se, então, a situação em que Mévio apresenta um documento de identidade (atribuição de expedição é do respectivo Estado membro) perante um agente da Receita Federal do Brasil (funcionário público federal), em atividade de fiscalização. Apesar de o órgão expedidor ser estadual, entende-se que o delito de uso de documento falso se deu em detrimento de agente da RFB em serviço, ou seja, trata-se de crime de competência da JustiçaFederal. Falsa identidade Súmula 522 - STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. É certo que a ampla defesa é direito fundamental constitucionalmente garantido, e, por sua vez, abrange a defesa técnica e a autodefesa. O direito ao silêncio, como autodefesa e decorrente do direto a não autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, é igualmente assegurado, inclusive previsto pelo Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), de status supralegal. Acontece que não se trata de um direito absoluto, ilimitado. Tanto é que, apesar de a mentira defensiva ser admitida, entendendo esta como decorrente da negação da prática do delito, não há que se dizer o mesmo das chamadas mentiras agressivas – conduta típica -, quando o agente imputa, falsamente, a terceiro inocente a prática do crime. Responderá, portanto, por denunciação caluniosa (art. 339 CP). Nesse contexto, é entendimento do STJ, bem como do STF, que o nemo tenetur se detegere também não abrange a conduta de falsear a identidade. Podendo responder, o agente, a depender do 23 REsp 1485352/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014. 31 contexto fático, tanto pelo crime de falsa identidade (art. 307 CP), quanto pelo de uso de documento falso (art. 304 CP). Nem sempre o STJ se posicionou dessa maneira. Ao contrário, durante um bom tempo houve manifestação de suas duas Câmaras Criminais no sentido de que seria consolidado “nesta Corte o entendimento de que a atribuição de falsa identidade, visando ocultar antecedentes criminais, constitui exercício do direito de autodefesa (HC 151470/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 06/12/2010). Contudo, diante do entendimento contrário sedimentado pelo STF, em sede de repercussão geral, asseverando que “ o princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). (RE 640139 RG, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 22/09/2011, DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-05 PP-00885 RT v. 101, n. 916, 2012, p. 668-674 ), o STJ reviu seu posicionamento e acabou por edital a Súmula 522. Contrabando e Descaminho Súmula 151 - STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens. Súmula 560 - STF: A extinção de punibilidade, pelo pagamento do tributo devido, estende-se ao crime de contrabando ou descaminho, por força do art. 18, § 2º, do Decreto-Lei nº 157/1967. Superada pela Lei nº 6.910/81. “A legislação penal mencionada, no entanto - tal como decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça (Apenso, fls. 231/237) -, não se estende ao crime de descaminho (CP, art. 334, 'caput'), de tal modo que o pagamento do tributo, ainda que efetivado antes do recebimento da denúncia, não tem o condão de extinguir a punibilidade do agente. Cabe assinalar, neste ponto, que o entendimento do Supremo Tribunal Federal consubstanciado na Súmula 560 não mais prevalece desde que sobreveio a Lei nº 6.910/81 (art. 1º), cujo texto deixou de atribuir eficácia extintiva da punibilidade ao pagamento do tributo devido, se e quando se tratasse dos crimes de contrabando ou descaminho, em suas 32 modalidades próprias ou equiparadas (CP, art. 334 e §§ 1º e 2º).” (HC 88875 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Decisão monocrática, julgamento em 29.5.2006, DJ de 2.6.2006) Crimes de responsabilidade de prefeitos Súmula 301 - STF (cancelada): Por crime de responsabilidade, o procedimento penal contra Prefeito Municipal fica condicionado ao seu afastamento do cargo por “impeachment”, ou a cessação do exercício por outro motivo. “Ementa: - Crime de responsabilidade. Prefeito Municipal. Cancelamento da Súmula 301. O procedimento penal contra Prefeito Municipal não está mais condicionado ao seu afastamento do cargo por impeachment, ou à cessação do exercício por outro motivo. Aplicação do Decreto-lei nº 201/67. Recurso desprovido.” (RHC 49038, Relator Ministro Amaral Santos, Tribunal Pleno, julgamento em 25.8.1971, DJ de 19.11.1971). Súmula 703 - STF: A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do Decreto-Lei nº 201/1967. Apesar do referido Decreto falar em crimes de responsabilidade, temos ali modalidades comuns de delito, razão pela qual a mera extinção do mandato não tem o condão de impedir a instauração do investigação e processo a eles relacionados. Seguindo a mesma linha, temos a Súmula 164 do STJ, abaixo colacionada. Súmula 164 - STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67. Corrupção de menores Súmula 500 - STJ: A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal. Um crime é formal quando, para sua consumação, o resultado naturalístico, apesar de previsto no tipo, é desnecessário. É dizer, a mera conduta praticada já é o bastante para a sua consumação. No caso da corrupção de menores, é prescindível a prova de que o menor tenha, de fato, sido corrompido na sua moralidade naquela prática criminosa, bastando a simples participação. 33 Logo, não importa o fato de o menor ter praticado atos infracionais anteriormente, esse argumento não tem condão de afastar o tipo do art. 244-B do ECA, justamente por ser crime formal. O STF compartilha do mesmo entendimento: EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. 1. CORRUPÇÃO DE MENORES. 1. ART. 244-B DA LEI N. 8.069/1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE). NATUREZA FORMAL. 2. ROUBO COM EMPREGO DE ARMA DE FOGO. JULGADO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. DESNECESSIDADE DE APREENSÃO E DE PERÍCIA DA ARMA PARA A COMPROVAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DA PENA. CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE SER EVIDENCIADA POR OUTROS MEIOS DE PROVA. PRECEDENTES. 1. O crime de corrupção de menores é formal, não havendo necessidade de prova efetiva da corrupção ou da idoneidade moral anterior da vítima, bastando indicativos do envolvimento de menor na companhia do agente imputável. Precedentes. 2. A decisão do Superior Tribunal de Justiça está em perfeita consonância com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 3. São desnecessárias a apreensão e a perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar a causa de aumento do art. 157, § 2º, inc. I, do Código Penal, pois o seu potencial lesivo pode ser demonstrado por outros meios de prova. Precedentes. 4. Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 111434, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 03/04/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-074 DIVULG 16-04-2012 PUBLIC 17-04-2012). Crimes contra a ordem tributária Súmula Vinculante 24 - STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. Sobre o tema, elucidativas as lições do STJ, registrando que, de acordo com a dicção da SV 24 do STF, os crimes tributários materiais ou de resultado somente podem ser tidos por consumados após o exaurimento da esfera administrativa,
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