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Coleção de Direito Penal - Ney Moura - 15. Penas restritivas de direito

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15 
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
___________________________ 
 
15.1 NOTAS INTRODUTÓRIAS 
A falência da pena de prisão – sua incapacidade de alcançar quaisquer de seus 
objetivos –, aliada às conseqüências danosas de sua execução, ainda que com rigorosa 
obediência aos princípios do sistema progressivo, impôs, desde há tempos, aos 
operadores do direito, a necessidade de encontrar outras soluções alternativas, mais 
humanas e, pelo menos em tese, mais eficazes para o alcance do único aceitável fim da 
pena: a recuperação ou reinserção social do condenado. 
Como já se disse, a história da pena é a história de sua humanização, de sua 
limitação. 
A verificação de que a pena privativa de liberdade, longe de recuperar e reinserir 
o condenado no meio social, traz profundos males, ensejando a reincidência, levou os 
cientistas à procura e ao encontro de alternativas à pena de prisão. 
“No (...) relatório da Secretaria da ONU para o VII Congresso de 1980, noticiava-
se que muitos países haviam realizado mudanças legislativas importantes e 
inovadoras, com o propósito de humanizarem a execução penal. Na maioria dos 
casos, a nova legislação destinava-se às medidas alternativas (...). As exigências 
dos vários países, quanto ao aumento da adoção das medidas dos substitutivos e à 
diminuição do emprego da prisão, baseavam-se em critérios de humanidade, 
justiça e tolerância, bem como na interpretação racional e objetiva de dados da 
justiça criminal e achados da pesquisa penal e sociológica. Não havia 
concordância entre a instituição penitenciária e a ressocialização do condenado. 
Em termos de análise custo-benefício, a prisão é altamente dispendiosa, com 
prejuízo para os recursos humanos e societários. O custo com a prisão é mais alto 
do que o da educação universitária.”1 
 
 
1 ALBERGARIA, Jason. Comentários à lei de execução penal. Rio de Janeiro: Aide, 1987. p. 259. 
2 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
Entre nós, a Constituição de 1988, no inciso XLVI do art. 5º, orientou o legislador 
para adotar, entre outras, penas de “restrição da liberdade”, “perda de bens”, 
“prestação social alternativa” e “suspensão ou interdição de direitos”. 
As penas restritivas de direitos – chamadas alternativas – adotadas pelo Código 
Penal são: a prestação pecuniária, a perda de bens e valores, a prestação de serviço à 
comunidade ou a entidades públicas, a interdição temporária de direitos e a limitação 
de fim de semana (art. 43, CP, com a redação da Lei nº 9.714/98). 
Como se verá, são penas que vão ser executadas sem privação da liberdade, de 
modo descontínuo e apenas em substituição a penas privativas de liberdade. Nada 
impede, todavia, que o legislador venha a cominá-las diretamente para certos crimes, 
como penas principais. De qualquer modo, as penas restritivas de direitos, como é 
possível concluir pela experiência, só serão eficazes se contarem, em sua execução, com 
a colaboração dos organismos vivos da sociedade. 
 
15.2 CONDIÇÕES DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE 
 LIBERDADE 
As penas restritivas de direitos, pela regra geral do Código Penal, serão 
aplicadas em substituição às penas privativas de liberdade. O juiz, após condenar o 
acusado a uma pena privativa de liberdade, poderá substituí-la por uma pena restritiva 
de direitos, desde que observe algumas condições. 
A Lei nº 9.714, de 25-11-1998, alterou o sistema da reforma de 1984, ampliando a 
possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade. 
Nas condenações por crimes dolosos, as penas restritivas de direitos poderão 
substituir as penas privativas de liberdade, se estas tiverem sido aplicadas em 
quantidade não superior a quatro anos e se o crime não tiver sido cometido com violência 
ou grave ameaça à pessoa. Ou seja, o condenado por crime doloso à pena de detenção 
ou reclusão de até quatro anos, por crime doloso cometido sem violência ou grave 
ameaça à pessoa, terá direito à substituição por uma pena restritiva de direito, se 
estiverem presentes os demais requisitos adiante explicitados. Condenado à pena 
privativa de liberdade superior a quatro anos não terá direito à substituição. Com o 
novo sistema, até mesmo o condenado por crime de tráfico ilícito de entorpecentes – 
desde que atendidos os demais requisitos legais – poderá merecer a substituição por 
pena alternativa. 
 
 
Penas Restritivas de Direito - 3 
 
Se a condenação for por crime culposo, a substituição se dará qualquer que seja 
a quantidade da pena. 
Os demais requisitos, tanto para o crime doloso quanto para o crime culposo, são: 
a) o acusado não pode ser reincidente em crime doloso, salvo se, não sendo específica a 
reincidência – por crime de mesma espécie –, o juiz verificar que a substituição é, ainda 
assim, recomendável para os fins a que se destina a sanção penal, isto é, necessária e 
suficiente para a reprovação ao crime. Nesse caso, o juiz levará em conta, 
preponderantemente, o interesse social; 
b) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, e 
os motivos e as circunstâncias do crime devem ser razoavelmente favoráveis. Em outras 
palavras, esses dados, que gravitam em torno do fato e do réu, devem ser de molde a 
demonstrar a desnecessidade da aplicação de pena privativa de liberdade, impondo sua 
substituição pela pena restritiva de direitos. 
Em qualquer caso, o Juiz deverá atentar, ainda, para a seguinte regra: se a 
condenação à pena privativa de liberdade for igual ou inferior a um ano, a substituição 
poderá ser por uma pena de multa; se superior a um ano, então deverá ser substituída 
por uma pena restritiva de direito e uma pena de multa, ou por duas penas restritivas 
de direitos. 
 
15.3 CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM 
 PENA RESTRITIVA DE DIREITOS 
Outra hipótese de imposição da pena restritiva de direitos é a da conversão da 
pena privativa de liberdade. 
Em vez da substituição, é possível a transformação da pena de prisão em restrição 
de direito, mediante o instituto da conversão, segundo o qual a pena privativa de 
liberdade em curso poderá ser convertida em restritiva de direitos. 
O condenado por crime doloso a pena privativa de liberdade igual ou superior a um 
ano, que não exceda a dois anos, poderá obter a conversão em pena restritiva de 
direitos, desde que a esteja cumprindo em regime aberto, já tenha cumprido pelo 
menos um quarto de seu tempo e possua antecedentes e personalidade que 
recomendem a conversão. 
Esta é a regra do art. 180 da Lei de Execução Penal: 
“A pena privativa de liberdade, não superior a dois anos, poderá ser convertida 
4 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
em restritiva de direitos, desde que: I – o condenado a esteja cumprindo em 
regime aberto; II – tenha sido cumprido pelo menos um quarto da pena; III – os 
antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão 
recomendável.” 
De notar que, entre as circunstâncias judiciais, a lei refere-se apenas aos 
antecedentes e à personalidade do condenado, não podendo, por isso, ser recusada a 
conversão com base em conduta social, personalidade, motivos do crime, 
circunstâncias outras, desfavoráveis ao agente, que não as expressamente referidas no 
art. 180 da Lei de Execução Penal. 
 
15.4 TRANSAÇÃO NOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL 
 OFENSIVO 
Inovação da Lei nº 9.099, de 26-9-1995, o instituto da transação alcança os 
chamados crimes de menor potencial ofensivo – aqueles cuja pena máxima é igual ou 
inferior a dois anos, excetuadosos casos em que a lei preveja procedimento especial – 
e as contravenções penais, e permite a aplicação imediata de pena não privativa de 
liberdade, restritiva de direitos ou multa. 
Assim, as penas restritivas de direitos podem ser aplicadas imediatamente, no 
procedimento do juizado especial criminal, consoante determinam os arts. 72 e 
seguintes da Lei nº 9.099. 
A transação no direito penal tem sua origem no direito norte-americano, no 
instituto da plea bargaining, que significa a realização da justiça mediante negociação 
entre acusador e acusado, por meio da qual este se considera culpado em troca do 
benefício de receber pena por crime menos grave, ou por menor número de crimes. No 
direito italiano, o instituto que mais se aproxima do nosso é o chamado 
patteggiamento, um acordo por meio do qual acusador e acusado propõem ao juiz a 
aplicação de sanções substitutivas das originalmente previstas na lei. 
A transação da Lei nº 9.099, além de aplicar-se apenas aos crimes de menor 
potencial ofensivo e às contravenções penais, é da iniciativa do Ministério Público, que 
a proporá ao agente do fato. Se este aceitar, a proposta será levada ao juiz, para 
homologá-la. 
Discute-se se essa iniciativa é exclusiva do órgão da acusação, ou se, preenchidos 
seus requisitos, a transação seria um direito do agente do crime. 
Correta é a opinião de MAURÍCIO ANTONIO RIBEIRO LOPES, para quem 
Penas Restritivas de Direito - 5 
 
“a formulação de proposta de aplicação imediata de pena não privativa de 
liberdade não está ao talante exclusivo do Promotor de Justiça, como se fosse 
soberano da discricionariedade. Em matéria de atos que importem no 
reconhecimento de direito à liberdade, num Estado Democrático de Direito 
Material, há de se entender como eleição ao nível de direito subjetivo o que 
adquire, por vezes, na lei, caráter meramente facultativo. (...) Preenchidos os 
requisitos legais objetivos e subjetivos o argüido torna-se titular de um direito 
subjetivo à obtenção da transação”2. 
Os pressupostos para a obtenção da transação são: 
a) não ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena 
privativa de liberdade, por sentença definitiva; 
b) não ter sido ele beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela 
aplicação de pena nos termos de outra transação; 
c) indicarem os antecedentes, conduta social e personalidade do agente, e os 
motivos e circunstâncias do fato, ser a transação necessária e suficiente, para prevenção 
e reprovação do crime. 
Aceita a transação pelo agente do fato, o juiz aplicará pena restritiva de direitos ou 
multa. 
 
15.5 ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
Com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.714/98, são cinco as penas restritivas 
de direitos, segundo estabelece o novo art. 43 do Código Penal. Nada impede venham 
outras espécies ser criadas pelo legislador ordinário. Aliás, é preciso, urgentemente e 
com criatividade, construir outras modalidades dessas penas. O avanço da Lei nº 
9.714/98, nesse particular, foi positivo, mas acanhado. 
 
15.5.1 Prestação pecuniária 
Inovação do legislador de 1998, a prestação pecuniária é o pagamento, em 
dinheiro, de um valor fixado pelo juiz, entre um e 360 salários mínimos, a ser feito à 
própria vítima ou a seus dependentes, ou, quando o crime não tiver atingido interesse 
 
2 Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 
345. 
 
 
6 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
jurídico de particular, à entidade pública ou privada com destinação social. A estas será 
feito o pagamento quando a vítima tiver falecido sem dependentes. A lei fala em 
dependentes e não em sucessores, daí que se, por ocasião da sentença, a vítima tiver 
morrido sem deixar dependentes, a prestação pecuniária será paga à entidade, pública 
ou privada. 
Se a vítima ou a entidade beneficiária da prestação concordar, o pagamento em 
dinheiro poderá ser substituído por prestação de outra natureza, como serviços, bens e 
outros valores. É evidente que a substituição será objeto de deliberação pelo Juiz da 
Execução Penal, a fim de que seja preservada a natureza penal da condenação e 
evitadas transações lesivas do interesse público. O interesse primordial continua sendo 
a sanção penal, e, secundariamente, a reparação do dano. 
A prestação pecuniária paga à vítima ou dependentes é uma antecipação, na esfera 
da jurisdição penal, da indenização reparatória a que tiver direito o ofendido, daí por 
que seu valor será deduzido do montante de eventual condenação civil, desde que os 
beneficiários sejam os mesmos. 
 
15.5.2 Perda de bens e valores 
A pena de perda de bens e valores consiste na transmissão, para o patrimônio 
do Fundo Penitenciário Nacional, de bens e valores pertencentes ao condenado, 
equivalentes ao montante do prejuízo causado ou do proveito obtido em conseqüência 
do crime. 
Essa pena não se confunde com a perda do produto do crime ou bem auferido 
com o crime – efeito da condenação definido no art. 91, II, b. Aqui, trata-se de perda de 
bem ou valor que pertence ao condenado e que não foi adquirido com o crime ou por 
meio dele. O valor do proveito do crime é apenas o parâmetro para a fixação da pena, 
que terá como teto máximo o maior valor – o do prejuízo causado ou do proveito 
auferido. 
A sentença substituirá a pena privativa de liberdade pela decretação da perda 
dos bens ou dos valores que o condenado possuir, tendo como valor máximo o do 
prejuízo ou o do auferido com a prática do crime. 
Tratando-se de pena alternativa, o condenado poderá recusá-la, preferindo a privação 
da liberdade, se lhe convier. 
Melhor teria sido que a pena de perda de bens tivesse sido instituída para certos 
tipos de crimes de natureza econômica – os chamados crimes do colarinho branco – e 
Penas Restritivas de Direito - 7 
 
não como alternativa à prisão. 
 
15.5.3 Prestação de serviços à comunidade ou a entidades 
públicas 
Há quem veja a origem da pena de prestação de serviços nas penas de trabalhos 
forçados conhecidas nos primórdios do Direito Penal, mais tarde conhecidas como 
“galés”, o que não se pode admitir, pois não se confundem os institutos. 
Melhor concordar com os que ensinam que a pena de prestação de serviços 
surgiu na Suécia, na legislação marítima, no século XVII, como substituição da pena de 
prisão, sendo certo que, na Itália, o Código Zannardeli, de 1989, incluía a prestação de 
serviço ao Estado. 
É na União Soviética e nos países socialistas do Leste Europeu que ela foi mais 
adotada, inclusive entre as penas principais, em alguns países. 
 
15.5.3.1 Conceitos e regras 
Essa espécie de pena consiste na realização gratuita, pelo condenado, de tarefas 
junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos 
congêneres, ou, ainda, em programas comunitários ou desenvolvidos por organismos da 
sociedade ou dos poderes públicos federal, estaduais ou municipais. 
Trata-se, pois, da imposição de trabalho gratuito em benefício de entidades cujo 
objetivo é a promoção do bem-estar social. O art. 46 do Código Penal refere-se a essas 
entidades, mas é óbvio que a referência é apenas exemplificativa, podendo ser incluídas 
outras que se destinem, igualmente, à realização de atividades voltadas para o alcance 
de melhores condições de vida para parcelas carentes da população ou marginalizadas. 
O trabalho do condenado será realizado na proporção de uma hora por dia da 
condenação, fixado de maneira a não prejudicar sua jornada de trabalho. Se a 
substituição for de uma pena de detenção de um ano, o juiz determinaráa prestação de 
365 horas de serviços à comunidade. Se for de um ano e seis meses, serão 365 + 180 = 
545 horas, que deverão ser distribuídas de modo a não prejudicar a atividade laboral do 
condenado, podendo ser prestadas nos períodos noturnos dos dias de semana ou nos 
sábados e domingos. 
A pena de prestação de serviços pode ser cumprida de modo descontínuo, por 
exemplo, durante uma hora por dia, de segunda a sexta, e três horas no sábado e/ou 
8 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
domingo, de modo a perfazer o montante fixado na sentença. 
Não se pode confundir a prestação de serviços à comunidade com o trabalho 
forçado, nem com o trabalho escravo, terminantemente proibidos. A gratuidade do 
trabalho constitui a pena, a retribuição jurídica, e tem como fim a recuperação do 
condenado, que, aliás, não está obrigado a aceitá-la. Basta lembrar que, recusando-se a 
cumprir a pena alternativa, será ela convertida em pena privativa de liberdade. 
Importante, ainda, que as tarefas atribuídas ao condenado sejam compatíveis 
com suas aptidões. Sempre que possível, os serviços atribuídos devem guardar relação 
com as atividades habituais do condenado, e não prejudicar suas atividades laborais, 
das quais aufere os meios para o sustento próprio e de seus familiares. 
Por exemplo, o motorista profissional condenado por homicídio culposo 
cometido em acidente de trânsito poderá ver sua pena privativa de liberdade 
substituída pela prestação de serviços de condutor de uma ambulância de um hospital 
público ou beneficente, durante oito horas do sábado ou do domingo. 
Cabe ao Juiz da Execução Penal designar a entidade, o estabelecimento ou o 
programa comunitário ou estatal no qual o condenado prestará serviços. Para tanto, em 
cada cidade deverão ser credenciadas as diversas entidades e estabelecimentos nos 
quais serão prestados tais serviços. As entidades, em contrapartida, deverão colaborar 
com o Poder Judiciário, encaminhando, periodicamente, ao Juiz da Execução Penal, 
relatório pormenorizado, dando conta das atividades dos condenados, comunicando 
faltas, irregularidades e outros fatos que sejam do interesse da sociedade. 
Por essa razão, como afirmado anteriormente, é essencial a participação da 
comunidade. Mormente nas cidades do interior, é de todo recomendável que os juízes 
selecionem entidades filantrópicas e assistenciais sérias, a fim de que não se frustrem 
os objetivos da pena alternativa. Sem que haja controle sobre as atividades do 
condenado, a pena pode tornar-se uma benesse indevida e, por isso, injusta. Não se 
pode aceitar, por exemplo, que aquele condenado a trabalhar como motorista de 
ambulância contrate uma pessoa para trabalhar em seu lugar. 
Se o diretor do hospital for conivente com o condenado, aceitando a troca e 
ocultando-a do Juiz da Execução, os fins da pena jamais serão alcançados. Por isso, os 
juízes devem evitar credenciar entidades públicas dirigidas por políticos 
inescrupulosos, privilegiando as particulares e as dirigidas por homens e mulheres 
sérios. O prefeito e o vereador estão, inevitavelmente, sujeitos às pressões do 
condenado e, principalmente, de seus familiares, e têm menos condições de colaborar, 
com a seriedade exigida, para a execução penal, nos limites precisos da lei. 
Penas Restritivas de Direito - 9 
 
O mais importante na execução da pena de prestação de serviços à comunidade 
e a entidades públicas é a convivência que se estabelece entre o condenado e aqueles 
para os quais vai prestar seus serviços, sejam os dirigentes da entidade, 
estabelecimento ou programa comunitário ou estatal, sejam os cidadãos que se 
beneficiam de seu trabalho. Os primeiros são, geralmente, pessoas identificadas com as 
necessidades dos cidadãos mais carentes de assistência, e os segundos são os próprios 
necessitados. 
A um só tempo, o condenado vai conhecer o homem que cultiva os valores da 
solidariedade e do respeito, e o que necessita do amor, do apoio. Participar dessa 
relação humana é a melhor terapia para que alguém que violou a norma penal possa 
compreender a importância de valorizar os bens importantes da sociedade. 
 
15.5.3.2 Conversão em pena privativa de liberdade 
A pena de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas será 
convertida em pena privativa de liberdade nas seguintes situações. 
Se o sentenciado vier a ser condenado, por outro crime, a uma pena privativa de 
liberdade, deverá o Juiz da Execução Penal decidir sobre a conversão da pena restritiva 
de direitos em privativa de liberdade, mas não estará obrigado a fazê-lo, desde que seja 
possível o cumprimento da pena anterior. Por exemplo, se vier a ser condenado a uma 
pena de multa, ou a uma limitação de fim de semana ou a uma interdição de direito, é 
perfeitamente possível continuar cumprindo a pena de prestação de serviços. E até 
mesmo quando a pena pelo segundo crime seja também de prestação de serviços, pode 
ser possível compatibilizar o cumprimento de ambas. Se a condenação sobrevinda for 
uma pena privativa de liberdade cuja execução tenha sido suspensa, pelo instituto do 
sursis – suspensão condicional da pena, regulada pelos arts. 77 a 82 do Código Penal – 
também poderá continuar o cumprimento da pena de prestação de serviços. 
A pena também será convertida em privação de liberdade se o condenado 
descumprir, sem justificativa, qualquer restrição imposta pelo juiz. 
O § 1º do art. 181 da Lei de Execução Penal estabelece ainda: 
“A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o 
condenado: a. não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido; b. não 
comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que devia prestar 
serviço; c. recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto; 
d. praticar falta grave.” 
10 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
Ocorrendo a conversão, o condenado deverá cumprir a pena privativa de 
liberdade substituída pela restritiva de direitos, deduzido o tempo cumprido da pena 
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de prisão. Por exemplo, 
condenado a dois anos de reclusão teve sua pena substituída pela prestação de serviços à 
comunidade equivalente a 365 x 2 = 730 horas. Se tiver cumprido 600 horas de 
serviços, e for o caso de conversão, por qualquer das causas que a autorizam, deverá 
cumprir 130 dias de reclusão. Se tiver cumprido 720 horas de trabalho, a conversão se 
dará para o cumprimento de 30 dias de reclusão, no mínimo. 
 
15.5.4 Interdição temporária de direitos 
As penas de interdição temporária de direitos são: 
“I – a proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de 
mandato eletivo; II – a proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que 
dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; III 
– suspensão de autorização para dirigir veículo; IV – proibição de freqüentar 
determinados lugares.” (Art. 47, CP, com a redação da Lei nº 9.714/98.) 
 
15.5.4.1 Conceito e regras 
Interditar não se confunde com suprimir, pelo que se deve entender que essas 
penas atingem certos direitos de modo efetivo, porém, por certo tempo, e não de modo 
a eliminar o direito, mas, tão-somente, a proibir seu exercício por um lapso temporal. 
Seu titular não o perde, porém não o pode exercer. O direito não é subtraído, tirado, 
apenas não pode ser exercido. Seus efeitos não podem ser extraídos. São quatro as 
hipóteses de interdição de direitos, que devem ser explicadas. 
 
15.5.4.1.1 Proibição do exercício de cargo, função, atividade, mandato 
O condenado não perde o cargo, função ou atividade pública e tampouco o 
mandato eletivo. A pena consiste na proibição deexercê-los, o cargo, a função, a 
atividade ou o mandato. Ele não o pode exercer, pelo tempo determinado na sentença. 
Só pode ser condenado a cumprir essa pena aquele que tiver cometido o crime 
no exercício do cargo, da função ou atividade, com violação dos deveres que lhe são 
inerentes (art. 56, CP). Para a substituição da pena privativa de liberdade pela de 
interdição de direitos, é necessária a vinculação entre o efetivo exercício da atividade 
Penas Restritivas de Direito - 11 
 
pública e o crime praticado. 
Terão o direito a essa substituição aqueles que tiverem, por exemplo, praticado 
alguns dos crimes do Título XI da Parte Especial do Código Penal, como peculato 
culposo, prevaricação, condescendência criminosa, advocacia administrativa, 
violência arbitrária, abandono de função, violação de sigilo funcional. 
A execução dessas penas exige a participação das autoridades públicas, para 
quem o Juiz da Execução Penal encaminhará comunicação dando conta da pena 
aplicada, a fim de que seja baixado o ato administrativo pelo qual o condenado terá 
interditado seu direito ao exercício do cargo, função, atividade ou mandato. 
 
15.5.4.1.2 Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício 
Algumas profissões, atividades ou ofícios dependem de licença ou autorização 
do poder público, como a dos médicos, engenheiros, advogados, odontólogos, 
enfermeiros. 
Aqueles que vierem a ser condenados por crimes praticados com violação dos 
deveres inerentes à profissão, à atividade ou ao ofício terão suas penas privativas de 
liberdade substituídas pela interdição temporária do direito de exercê-los, desde que 
atendam aos demais requisitos legais. É a norma do art. 56 do Código Penal. 
Exemplo: o crime do art. 154 do Código Penal: 
“Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a 
outrem: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa”, 
praticado, por exemplo, por médico ou por um advogado. A pena poderá ser substituída 
pela interdição do direito de exercer a medicina ou a advocacia pelo tempo 
correspondente ao da pena privativa de liberdade. 
O Juiz da Execução Penal determinará a apreensão dos documentos que 
autorizam o exercício da profissão, devendo, igualmente, comunicar ao órgão 
fiscalizador da atividade (OAB, CFM, CREA etc.). 
 
15.5.4.1.3 Suspensão da autorização ou habilitação para digirir veículo 
A terceira espécie é a suspensão da autorização ou da habilitação para dirigir 
veículos, que só pode ser aplicada aos crimes culposos de trânsito – homicídio culposo, 
lesão corporal culposa –, como manda o art. 57 do Código Penal. Não se trata de 
12 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
inabilitação nem de cassação da licença ou da habilitação, mas de sua suspensão. 
No caso de motorista de veículo automotor, o Juiz da Execução Penal determinará 
a apreensão do documento que autoriza o exercício do direito, a Carteira Nacional de 
Habilitação. 
 
15.5.4.1.4 Proibição de freqüentar determinados lugares 
Modalidade instituída pela Lei nº 9.714/98, a proibição de freqüentar 
determinados lugares é importante medida alternativa, no sentido de evitar a presença 
do condenado em ambientes favoráveis à reincidência, daí por que os lugares proibidos 
devem guardar relação com o crime praticado. Não se proibirá o condenado por 
estelionato de freqüentar estádios de futebol, mas, evidentemente, essa proibição deve 
ser imposta a quem se envolveu, por exemplo, numa rixa. 
 
15.5.4.2 Conversão em pena privativa de liberdade 
As penas de interdição temporária de direitos serão convertidas em penas privativas 
de liberdade originalmente aplicadas nas sentenças, nas seguintes hipóteses. 
A condenação posterior por outro crime implicará a conversão da interdição de 
direitos na pena de reclusão ou detenção se o condenado não cumprir, sem justa causa, 
a restrição imposta, vale dizer, se exercer o direito interditado. 
A conversão se dará, ainda, se o condenado não for encontrado, por estar em lugar 
incerto e não sabido, ou se desatender intimação por edital. 
O condenado cumprirá a pena convertida em privação de liberdade pelo tempo 
que restar. 
 
15.5.5 Limitação de fim de semana 
Na busca de alternativas às penas de prisão, pensou-se, inicialmente, numa forma 
diferente de prisão, descontínua, em que o condenado, em vez de permanecer preso 
continuamente, ficasse recolhido por alguns dias, nos finais de semana e nos feriados. 
A idéia era manter a força intimidativa da prisão, sem, contudo, os males decorrentes 
do excesso de prisão. 
O direito brasileiro aderiu a uma nova modalidade de pena, que não se confunde 
com a privação da liberdade, mas que a restringe. Poderia ser chamada de pena de 
Penas Restritivas de Direito - 13 
 
prisão de fim de semana, mas a lei preferiu utilizar a expressão limitação, como se a 
palavra alterasse sua essência. 
 
15.5.5.1 Conceito e regras 
A limitação de fim de semana consiste na obrigação de o condenado 
“permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado 
ou outro estabelecimento adequado”, tempo em que “poderão ser ministrados” cursos 
e palestras ou desenvolvidas outras atividades educativas. Trata-se da manutenção do 
condenado, pelo tempo de cinco horas no sábado e de cinco horas no domingo, em 
estabelecimento prisional, casa de albergado ou similar, tendo, conseqüentemente, seu 
direito de liberdade restringido, coarctado, suprimido. 
“A sanção punitiva em exame não produz, em verdade, no condenado seqüelas 
profundas: não o obriga a abandonar a família, nem a deixar o trabalho, nem a 
ter um contato carcerário mais prolongado. Mas parece fora de dúvida que as 
duas características fundamentais de qualquer modalidade de prisão de fim de 
semana – a brevidade e a intermitência – tornam esta pena de duvidosa 
eficácia, posto que nenhum trabalho ressocializador realmente sério poderá 
ser realizado.”3 
Infelizmente, a própria lei considera uma simples faculdade a realização dos 
cursos, palestras e atividades educativas, pelo que, mesmo que houvesse, no país, 
estabelecimentos adequados ao cumprimento dessa pena, nenhuma atividade tendente 
à recuperação do condenado seria, necessária e obrigatoriamente, ali executada. 
 
15.5.5.2 Conversão em pena privativa de liberdade 
A pena de limitação de fim de semana se converterá em privativa de liberdade 
se o condenado descumprir, injustificadamente, a restrição imposta, como, por 
exemplo, não comparecer ao estabelecimento designado para cumprir a pena, bem 
assim no caso de praticar falta grave, ou não ser encontrado por estar em lugar incerto 
e não sabido, ou desatender à intimação por edital. 
A superveniência de condenação por outro crime somente implicará a 
conversão se não for possível a continuidade do cumprimento da limitação de fim de 
 
 
3 FRANCO, Alberto Silva. Código penal e sua interpretação jurisprudencial. 5. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1995. p. 616. 
 
14 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
semana.

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