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A teoria dos custos de produção José Tadeu de Almeida Introdução Nesta aula, trataremos dos custos de produção de uma empresa, ou seja, verificaremos os diferentes tipos de encargos que envolvem o processo produtivo e como eles, em conjunto, deter- minam as atividades da empresa. Você terá bastantes ferramentas para refletir sobre as estratégias da empresa no sentido de minimizar os custos de produção. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer as definições dos lucros econômicos e contábeis; • compreender os custos de oportunidade e conjunto dos custos de produção: fixo médio, variável médio, médio e marginal. 1 Custos contábeis Em nosso cotidiano, sempre que levamos em conta algum valor monetário que represente o consumo de um determinado bem ou serviço, pensamos no custo desses produtos, não é mesmo? Você, em seu dia a dia, geralmente deve pensar no custo da conta de luz, no custo do tomate, dentre outras dinâmicas semelhantes. Em termos gerais, a definição de custo pode ser diferente de acordo com o ramo de conhe- cimento a que se dedica ao assunto. Veja que em Economia, dentro da Teoria da Produção, um conceito plausível para os custos é dado como o valor monetário que se utiliza para o consumo de um determinado fator de produção ou de outras atividades relacionadas à produção. Você pode perceber que o lucro de uma empresa é obtido, portanto, quando o preço de um bem é maior que a soma de todos os seus custos. FIQUE ATENTO! Na área da Microeconomia, o uso de recursos monetários para o consumo é lança- do como custo. Já na Macroeconomia, que investiga a ação do Estado, tais opera- ções podem ser enquadradas como “despesa” ou “gasto”. Em termos contábeis, porém, essa definição é um pouco diferente. Um contador leva em consideração as estruturas de ativo e passivo da empresa e a depreciação desses ativos, princi- palmente seus bens de capital. Deste modo, a definição de custo e lucro contábil poderá abranger os gastos reais da empresa, juntamente com a depreciação estimada dos bens de capital que compõem a estrutura de ativos dessa firma. 2 Custos de oportunidade O custo de oportunidade, também chamado de custo econômico, é definido pelo custo que a firma deve arcar por abrir mão de alguma atividade que lhe seria potencialmente mais lucrativa. EXEMPLO Suponha que você venda coco verde na praia e que, em média, consiga ganhar cerca de mil reais por mês nessa atividade. Você tem uma qualificação profissional que te permitiria ganhar dois mil reais ao mês, mas, por gostar do mar e da paisa- gem, prefere vender coco. Sendo assim, você precisa levar em conta que está per- dendo dois mil reais de um salário que poderia estar recebendo ao invés de manter seu negócio na praia. Se, por exemplo, a empresa usa um imóvel próprio, poderia alugar este prédio ao invés de usá-lo. O valor perdido pelo aluguel que não é recebido, portanto, é um custo de oportunidade que, ainda que “invisível” (pois não importou em uma perda de receita real da firma, que está usando aquele ativo), precisa ser considerado no cálculo de custos da empresa. Outra situação, na qual o custo de oportunidade pode ser visualizado, ocorre dentro da curva de possibilidades de produção de uma firma que fabrique dois produtos diferentes, ou que possa utilizar seus recursos de maneira diferente. Figura 1 – Produção e custos de oportunidade Qa Qa1 Qa2 Qb1 Qb2 Qb Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Você pode visualizar diferentes alocações de recursos de uma firma, alocações estas que estão sujeitas a custos de oportunidade. Se a firma decide produzir uma quantidade Qa1 do bem A, poderá produzir apenas a quantidade Qb1 do produto B. Ao mesmo tempo, poderá produzir a quantidade Qb2 do produto B e Qa2 do produto A. O custo de oportunidade associado ao produto A, nessa curva de possibilidades de produção, quando a produção do produto B é de Qb2, é dada por (Qa1 - Qa2) * Pa. Ou seja, a firma deixa de obter um valor referente às unidades do bem A que ela deixou de produzir quando optou por produzir o bem B em maior quantidade (Qb2). Vale dizer, como enfatizamos, que o custo de oportunidade não se associa apenas à produ- ção. Supondo que uma firma opere em um grande galpão, ela poderia reformá-lo e fazer módulos para aluguel, deixando apenas a metade do galpão para si. Há, portanto, um custo de oportunidade que a firma deve incorporar ao não proceder dessa forma. SAIBA MAIS! Um excelente estudo a respeito dos custos de oportunidade pode ser encontrado no artigo de Anísio Cândido Pereira et al., “Custo de oportunidade: conceitos e contabilização”, disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/cest/n2/n2a02.pdf>. Figura 2 – Consumo ou poupança geram custos de oportunidade Fonte: pathdoc/Shutterstock.com 3 Custos irreversíveis Os custos que tratamos por irreversíveis, por sua vez, são totalmente visíveis. São entendidos como despesas efetuadas pela firma com fatores de produção cuja finalidade é única, não se des- tinando a qualquer outra atividade. Portanto, como não há possibilidade alternativa de uso desse insumo, seu custo de oportunidade será igual a zero. EXEMPLO Considere agora que você é um fotógrafo que vende fotos dos turistas em clubes e festas do litoral. Você precisa de uma câmera nova. Esta câmera, por ser um equipamento especializado, não tem outra finalidade a não ser tirar fotos (suponha que você não possa vendê-la ou reciclá-la). A despesa efetuada na aquisição desta câmera, portanto, pode ser entendida como um custo irreversível. Um custo irreversível trata-se de um gasto que, uma vez feito, não pode ser recuperado de maneira alternativa, devendo fazer parte da estrutura de custos de produção de uma empresa que opera esses insumos. Esse custo pode, ao máximo, ser amortizado ao longo do tempo e, vale dizer, deve ser identificado antes que ocorra, pois, como ele não pode ser recuperado, não deverá interferir nas decisões do agente. 4 Custo fixo, variável e total Você verá agora a estrutura principal dos custos relacionados à produção na firma. São estes custos que ela leva especialmente em conta no momento de efetuar sua decisão entre iniciar a produção, continuá-la ou encerrá-la. Vamos começar nossa discussão com a seguinte equação: CT = CF + CV Note que o custo total de produção, representado por CT, é dado pela soma dos seus custos fixos (CF) e variáveis (CV). Os custos fixos são representados pelas despesas que a empresa é obrigada a realizar ainda que não esteja produzindo sequer uma unidade do bem que resume sua atividade. Eles não depen- dem do nível de produção. Podemos dar como exemplos de custos fixos as despesas com segurança e vigilância, tarifas mínimas de consumo de energia, taxas de localização, dentre outros. Podemos avaliar, neste sentido, que não há alternativa à firma para evitar esses custos, a não ser o encerra- mento de suas atividades. Geralmente, os custos fixos são aplicados em curto prazo. FIQUE ATENTO! A discussão de “curto prazo” e “longo prazo” é aplicada em nosso estudo sobre cus- tos de forma semelhante à usada em outras áreas da Teoria da Produção. Custos de curto prazo envolvem as atividades corriqueiras da firma, como pagamentos e manutenção. Já no longo prazo, citamos os custos de aquisição de bens de capital, pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Por sua vez, os custos variáveis (CV) são aqueles que variam de maneira proporcional aos volumes de bens produzidos. Não necessariamente eles devem variar conforme a quantidade pro- duzida; eles estão presentes quando há produção. Por exemplo, podemos incluir aqui como custos variáveis o pagamento pelo uso das maté- rias-primas, os salários dos funcionários e impostos sobre a produção como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). FIQUE ATENTO!O pagamento de impostos também é considerado um custo de produção. Logo, ele é incorporado ao custo total. Impostos podem ser “fi xos” (como o FGTS por funcio- nário, por exemplo) ou incidir conforme o volume de produção (como o ICMS e o IPI) 5 Custo médio O cálculo do custo médio (que podemos denominar por custo total médio) segue a mesma dinâmica do custo total e pode ser defi nido pela seguinte equação: CT CF+ CVCTMe = = = CFMe+ CVMeCTMe = = = CFMe+ CVMeCTMe = = = CFMe+ CVMeCT CF+ CVCTMe = = = CFMe+ CVMeCT CF+ CV Q Q Veja que o custo total médio é a expressão dos custos totais da empresa divididos pelo seu volume de produção, dado por Q.O custo variável médio é dado pela razão entre os custos variáveis (CV) e o volume de produção (Q). Trata-se de uma função direta da quantidade de bens produzidos. Quanto ao custo fi xo médio, como você viu que ele compreende a razão entre o custo fi xo e o volume produzido, poderá deduzir que esse custo possui, em um gráfi co de produção, uma ten- dência decrescente, pois ele tende a ser diluído à medida que a produção aumentar. 6 Custo marginal O custo marginal é calculado pela razão entre a variação do custo total mediante o aumento de produção de mais uma unidade do bem fabricado pela empresa, conforme a seguinte equação: CMg = CT q Perceba que, caso os custos fi xos estejam diluídos na produção tal que sua importância seja muito pequena ou quase nula, temos que o custo marginal corresponderá à razão entre a variação do custo variável e o aumento de produção em um bem. O custo marginal nos indica, portanto, qual o custo de produzir uma unidade a mais de um bem em uma empresa. Observe o comportamento das curvas de custo através dos gráficos que seguem: Figura 3 – Curvas de custo total, variável e fixo Custo de Produção CT CV CF Q Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Figura 4 – Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio Custo por unidade q CMg CFMe Q CTMe CVMe Fonte: elaborada pelo autor, 2016. A partir desses dois gráficos, você pode ter uma visão geral a respeito do comportamento dos custos de produção. Através do gráfico “Curvas de custo total, variável e fixo”, veja que o custo fixo, representado pela reta CF, é constante e não varia com o aumento da produção Q. Da mesma forma, o custo variável é igual a zero quando não há produção – o custo variável se manifesta apenas quando há produção. Assim, a curva CT, que descreve o custo total, é obtida através da soma dos custos variáveis com o custo fixo – a distância entre estas curvas será sempre a mesma. A partir do gráfico “Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio”, observe as curvas correspondentes aos custos unitários de produção, relacionados a cada uni- dade de bens produzidos. Se o custo fixo total mantém-se constante, a tendência é que o custo fixo médio seja diluído à medida que a produção aumenta, assim a curva CFMe tende a zero. Com isso, no limite, as curvas CTMe e CVMe tenderão a encontrar-se. SAIBA MAIS! Mesmo que a curva CFMe tenda a zero, pela diluição dos custos fixos no volume produzido, ela nunca tocará o eixo das abscissas: mesmo que o custo fixo médio de um produto seja de décimos de milésimos de um centésimo de um centavo não será nulo. No gráfico “Curvas de custo total médio, variável médio, marginal e fixo médio”, você verifica o conjunto de curvas correspondentes aos custos médios da produção e ao custo marginal. Como o custo fixo total é constante, a tendência do custo fixo médio CFMe é manter-se decrescente ao nível próximo de zero. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer uma das dinâmicas que as empresas consideram no momento de fixar seus níveis ideais de produção: a minimização de custos, em conjunto com a maximização do emprego dos fatores de produção; • verificar, dentro da teoria da firma, que esta possui determinados custos que são estru- turais, como os custos contábeis, de oportunidade e os custos irrecuperáveis. Eles são próprios da existência da firma. • aprender que a dinâmica dos custos fixos e variáveis, médios e marginais são propor- cionais ao volume de produção. Referências PEREIRA, Anísio Cândido et al. Custo de oportunidade: conceitos e contabilização. In: Cadernos de Estudos. FIPECAFI, n.02. São Paulo: abr. 1990. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cest/n2/ n2a02.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2016. PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.
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