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Avaliação Modular Escola Sem Partido (Final)

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
AVALIAÇÃO MODULAR
PROGRAMA ESCOLA SEM PARTIDO
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2016
O projeto de lei do senado N°193, de 2016 intitulado “Programa escola sem partido” que tem como objetivo incluir mudanças na LDB (Lei de diretrizes e bases da educação nacional). Tal projeto traz à tona a necessidade de olharmos para nosso atual cenário educacional, para podermos mensurar se é possível ter ou não uma educação escolar sem a interferência de ideologias. Nosso intuito neste artigo/avaliação é levantar uma reflexão crítica filosófica social, no que tange os impactos positivos e negativos de uma escola com partido e também de uma escola sem partido, visto que, com e sem partido neste contexto representa a ideia de com ou sem ideologia. 
Entendemos que seja de suma importância apresentarmos aqui antes de darmos início nossa reflexão referente ao “Programa escola sem partido”, uma breve introdução acerca da ideia e da concepção de ideologia, para que, ao decorrer do nosso estudo tenhamos uma clara noção de qual seria o real impacto de se ter ou não uma ideologia dentro dos ambientes educacionais. Sendo assim, segundo o dicionário de filosofia Japiassu:
Ideologia (fr. idéologie) 1. Termo que se origina dos filósofos franceses do final do século XVIII, conhecidos como "ideólogos" (*Destutt de Tracy, *Cabanis, dentre outros), para os quais significava o estudo da origem e da formação das idéias. Posteriormente, em um sentido mais amplo, passou a significar um conjunto de idéias, princípios e valores que refletem uma determinada visão de mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política. (2001, p.99)
Para complementar essa abordagem referente ao termo ideologia, tomaremos como referência um pensamento de J. L. Fiorin, no livro Linguagem e Ideologia que diz: 
“Uma formação ideológica deve ser entendida como a visão de mundo de uma determinada classe social, isto é, um conjunto de representações, de ideias que revelam a compreensão que uma dada classe tem do mundo. Como não existem ideias fora dos quadros da linguagem, entendida no seu sentido amplo de instrumento de comunicação verbal ou não verbal, essa visão de mundo não existe desvinculada da linguagem. Por isso, a cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva, que é um conjunto de temas e de figuras que materializa uma dada visão de mundo. Essa formação discursiva é ensinada a cada um dos membros de uma sociedade ao longo do processo de aprendizagem linguística. É com essa formação discursiva assimilada que o homem constrói seus discursos, que ele reage linguisticamente aos acontecimentos.
Por isso, o discurso é mais o lugar da reprodução que o da criação. Assim como uma formação ideológica impõe o que pensar, uma formação discursiva determina o que dizer. Há, numa formação social, tantas formações discursivas quantas forem as formações ideológicas. Não devemos esquecer-nos de que assim como a ideologia dominante é a da classe dominante, o discurso dominante é o da classe dominante.” (2011, p.22)
Pelo fato de o ser humano ter necessidade de viver no meio social, ele necessita de um acordo de paz para sair da condição natural de guerra de todos contra todos, como denomina Hobbes. Este tratado de paz traz consigo um esboço do que seria um primeiro impulso a “verdade”, e consequentemente se conhece o que se chamaria de “mentira”, porque no dano causado pela mentira e pelo exclusivo benefício ao mentiroso, nele, a sociedade vê uma ameaça para sua manutenção e propagação. Este impulso à verdade é na realidade um impulso a conservação da vida social e do pacto de paz. Mas, a verdade e a mentira, são construções arbitrárias da linguagem, que também é uma construção arbitrária para designação de coisas e experiências. 
A palavra (Logos) é o principal recurso de dominação e o mais eficaz, através dela, se criam e destroem reputações, dá-se e tira esperança, encoraja ou acovarda um povo, e tudo isto sem derramar uma gota de sangue ou suor. Através do discurso, uma pessoa que nunca esteve no topo do monte Evereste pode imaginar o lugar mais alto do planeta terra, todo esbranquiçado pela neve, um forte e gélido vento rasgando seu rosto e uma visão deturpadora da paisagem, onde até as mais altas montanhas ao redor parecem pequenas. A palavra e o discurso podem recriar na mente de quem será seu receptor, imagens e sensações que ele próprio não experimentou. Utilizam-se deste recurso da razão humana como forma de dominação as igrejas, as empresas de marketing, e na democracia, os partidos políticos.
Segundo Friedrich Nietzsche, a linguagem é convencional, ou seja, um “acordo” entre todos os participantes de determinada sociedade, que designam certos símbolos e sons como correspondentes a algo. Linguagem é a tentativa de exprimir uma faceta da realidade, e pode configurar-se em palavras que, como as chama o autor, são nada mais que “a figuração de um estímulo nervoso em sons”. Essas facetas da realidade são captadas e exprimidas por todos os seres humanos com limitações históricas, sociais e biológicas, tornando impossível uma realidade percebida e vivida de maneira homogênea. Sendo assim, para poder viver em sociedade o homem escolheu arbitrariamente algumas designações de sua linguagem como sendo “verdades” e outras como sendo “mentiras”; Na obra Sobre a Verdade e a Mentira no Sentido Extra-Moral Nietzsche nos explica que:
 
“Verdade, isto é, é descoberta uma designação uniformemente válida e obrigatória das coisas, e a legislação da linguagem da também as primeiras leis da verdade: pois surge aqui a primeira vez o contraste entre verdade e mentira. O mentiroso usa as designações válidas, as palavras, para fazer aparecer o não-efetivo como efetivo; ele diz, por exemplo, “sou rico”, quando para seu estado seria precisamente “pobre” a designação correta.” (1999, p.54) 
“O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu o que são.” (1999, p.57) 
Para Nietzsche então, a verdade nada mais é que uma convenção da linguagem que atribui sentido a algo, mas que para ser “verdade” depende dos hábitos das pessoas que convencionam determinada língua, depende do habito de dizerem que determinado signo representa verdadeiramente determinada faceta da realidade. Sendo assim, como o discurso é utilizado dentro de um sentido histórico e cultural que traz consigo, é construído um sentido moral que o acompanha juntamente com a noção do mesmo ser “verdadeiro” ou “falso”. Ou seja, dependendo do discurso utilizado a mesma coisa pode ser entendida como positiva ou negativa, ser aceita ou rejeitada, pois as palavras trazem consigo determinado sentido que são praticamente intrínsecos a ela. Um projeto de lei, dependendo como é escrito, pode agradar ou não o gosto da população. 
Sobre o projeto de lei “Escola sem Partido”, que foi apresentado pelo Senador Magno Malta (PR) ao parlamento brasileiro, fica a indagação: Da maneira que foi escrito e apresentado, não terá o próprio projeto um “partido”? Não será incapaz o Senador (ou qualquer outra pessoa) de apresentar um pensamento ou proposta livre de ideologia? Ele que, além de Senador desde 2013, também é pastor evangélico, o que queremos dizer é, por mais cuidadoso que tente ser, na hora de escrever o projeto, não terá o Senador sua própria direção ideológico-partidária, moral e religiosa com respaldo em sua limitação histórica, social e biológica? Sendo está uma condição de todos os humanos quando captam e exprimem as facetas percebidas da realidade, por mais que o projeto proponha a maior neutralidade possível dentro das salas de aula, qual conceito de neutralidade ideológica para uma pessoa que já está inseridaem um meio ideológico? Será o mesmo que o meu? O seu?
Quando o próprio Senador afirma em defesa do projeto que ele dá precedência aos “valores de ordem familiar”, de quais famílias são estes valores? Ou mesmo, qual o conceito de família para o deputado? Será que realmente envolve todos os conceitos de família considerados pela população? Como é praticamente impossível toda esta abrangência, fica atenção ao termo “sem partido”, que devido a sua impossibilidade, pode até ser atribuído como um termo de má-fé e populista, já que não há ressalvas sobre isso no projeto. Sobre a conceptualização de algo, Nietzsche diz em sua obra supracitada:
“Pensemos ainda, em particular, na formação dos conceitos. Toda palavra torna-se logo conceito justamente quando não deve servir, como recordação (...). Todo conceito nasce por igualação do não-igual. Assim como é certo que nunca uma folha é inteiramente igual à outra, é certo que o conceito de folha é formado por arbitrário abandono dessas diferenças individuais.” (1999, p.56).
Logo, para se formar um conceito é necessário que “esqueçamos” as diferenças entre as partes tratadas e quanto mais forem deixadas de lado estas diferenças, mais abrangente se torna o conceito, o conceito de família, para abranger todas as considerações de família existentes no Brasil tem de ir além do que o considerado pelo Senador, visto que ele não considera família a união homo afetiva, por exemplo. O projeto de lei “Escola sem Partido”, que prega a neutralidade ideológica já vem contaminado pela ideologia cristã do Senador (também pastor evangélico), membro da “bancada evangélica” do Senado Federal. Nas palavras do próprio Senador/Pastor em entrevista á A GAZETA: “Se o projeto de lei 122, que excita a criação de um terceiro sexo, for aprovado, com dignidade de cristão, renuncio do mandato de Senador”. O projeto de lei 122 combate à discriminação por orientação sexual. Mas o que vem ao caso neste texto é que, o autor de um projeto de lei que busca a neutralidade ideológica, e que o faça pelos valores familiares, tenha uma concepção cristã de família, ou seja, desde a composição do projeto “Escola sem Partido” já há partido, e de alguma maneira, pessoas se beneficiarão deste enquanto outras não. 
Dito isso, tratemos de analisar o projeto “Programa escola sem partido” no que tange seus artigos e descrições, assim como sua proposta. 
O artigo 2º do projeto de lei “Programa escola sem partido” demonstra uma certa inclinação ao desenvolvimento do discente sem quaisquer interferências políticas e religiosas do estado, porém, ao analisarmos as propostas do projeto em relação a LDB (Lei de diretrizes e bases da educação) vemos que a intenção do projeto é de limitar o pensamento sócio cultural, pensamento político e a liberdade de expressão do aluno. Iniciamos com a percepção e análise de um conflito entre o inciso I (neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado) e o inciso VII (direito dos pais a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções.), partindo da ideia de que as convicções religiosas e morais dos pais estão diretamente ligadas ao seu meio social e que tais convicções são posturas adotadas ideologicamente, defender uma neutralidade política, ideológica e religiosa do estado é anular as próprias convicções que os próprios pais carregam consigo e que portanto não poderiam usufruir de quaisquer direto para que seus filhos recebam tais ensinamentos. O estado e consequentemente a sociedade são fundadas em princípios políticos para se manter como estado, assegurando assim direitos e deveres iguais a todos seus concidadãos. Imaginando um cenário no qual exista alguma (pelo menos uma) divergência entre os princípios morais ou religiosos dos pais, sobretudo levando em consideração a vasta diversidade cultural e religiosa presente em nosso país, seria difícil imaginar ou supor que haveria consenso acerca de qual ensino deveria ser adotado numa escola, fundamentando esse pensamento com o livro Leviathan do filosofo inglês Thomas Hobbes no qual ele dirá que sem mútua aceitação não há pacto possível.
Hobbes no mesmo livro citado acima defende a ideia de que “Os homens que tem em alta conta sua sabedoria em questões de governo tem tendência para a ambição” e que “A falta de ciência, isto é, a ignorância das causas, predispõe, ou melhor, obriga os homens a confiar na opinião e autoridade alheia”. A vista disso, temos então um cenário no qual possivelmente cada um dos pais tentará fazer uso do poder dado por esse projeto de lei para satisfazer e manter seus interesses pessoais e não coletivos, e também a falta de conhecimento da maioria dos participantes nas deliberações acerca do conteúdo programático escolar, tenderia facilmente a vontade de uma minoria que se valeria da inexperiência dos demais para usufruir de interesses pessoais empregando assim uma ideologia direcionada dentro do quadro educacional, o que segundo o próprio projeto de lei seria ilegal. 
Neste mesmo artigo, no inciso IV (liberdade de consciência e de crença;), faz menção de que o aluno é livre para ter a crença que lhe for conveniente e num cenário no qual um ensino religioso seja aprovado pelo conselho formado por pais e comunidade, a crença do aluno poderia ser anulada ou mesmo não respeitada, pois nas justificativas do projeto “Escola sem partido” no parágrafo 8 diz que “Em certos ambientes, um aluno que assuma publicamente uma militância ou postura que não seja a da corrente dominante corre sério risco de ser isolado, hostilizado e até agredido fisicamente pelos colegas.” Isso faz crer que, numa escola que seja incluída uma postura moral ou religiosa de acordo com a vontade e deliberação dos pais, a liberdade de consciência e de crença só seria validade se fosse a postura adotada pela maioria dos alunos ali presentes. Para reforçar ainda mais esse pensamento que vai contra a proposta do projeto “Escola sem partido”, no artigo 15 do ECA (Estatuto da criança e do adolescente) diz que “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”. E no inciso sexto do artigo 16 do ECA que diz “participar da vida política, na forma da lei”.
O projeto “Escola sem partido” tem uma intenção de ensino unilateral que não leva em conta os saberes do corpo discente como consta no inciso V do artigo 2º (reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado), tal noção faz com que o discente seja apenas um instrumento recebedor de informação da qual não pode questionar e tão pouco criticar, essa medida desconsidera toda e qualquer possibilidade de que o aluno possa ser parte pensante dentro da sala de aula, interagindo de forma dialética com os demais alunos e com o docente.
Ainda no artigo 2º, parágrafo único do projeto de lei “Escola sem partido” (O Poder Público não se imiscuirá na opção sexual dos alunos nem permitirá qualquer prática capaz de comprometer, precipitar ou direcionar o natural amadurecimento e desenvolvimento de sua personalidade, em harmonia com a respectiva 2 identidade biológica de sexo, sendo vedada, especialmente, a aplicação dos postulados da teoria ou ideologia de gênero.) tenta demonstrar que o aluno é livre para escolher sua opção sexual e que a escola em âmbito geral não pode interferir em tal ação, entretanto a dita escola do aluno só poderá ser baseada no sexo oposto ao seu, ou seja, que meninos só podem optar por meninas, e meninas por meninos. Não existe aqui, uma liberdade ou mesmo reconhecimento de uma condição sexual que não seja a heterossexualidade. E até mesmo a palavra “opção” usada está restringe ou faz uma delimitação no que diz respeito a sexualidade do aluno, levando a entender que as pessoas escolhem por quem querem ter atração sexual. 
A leitura deste artigo vai contra o que consta na Constituição Federal e na ConvençãoInteramericana de Direitos Humanos, das quais dizem:
 Constituição Federal:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
Convenção Interamericana de Direitos Humanos:
Artigo 1º. Obrigação de respeitar os direitos 
1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. 
Artigo 12º. Liberdade de consciência e de religião 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.  Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.
 
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.
Logo, não se pode vedar o ensino da diversidade de gênero e nem mesmo limitar as diversidades sexuais dos alunos em por uma questão religiosa, tal como o inverso também não se pode dar. Tal ação seria claramente a adoção de um meio legal para sobrepor uma ideologia sobre outra, o que novamente iria contra a nossa própria constituição federal, o que deve ser notado é que o pluralismo ideológico e identitário devem ser respeitados de acordo com os valores éticos, morais e políticos de nossa sociedade, admitindo que somos diferentes por natureza e que tais diferenças devem ser respeitas, pois somos todos iguais perante a lei.
Hobbes no capítulo XIII do livro Leviathan dirá:
“A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele.” (2006, p.45)
Além disto, outra questão que nos chama atenção é na JUSTIFICAÇÃO, parágrafo onde diz: “E não é só. O uso da máquina do Estado – que compreende o sistema de ensino – para a difusão das concepções políticas ou ideológicas de seus agentes é incompatível com o princípio da neutralidade política e ideológica do Estado, com o princípio republicano, com o princípio da isonomia (igualdade de todos perante a lei) e com o princípio do pluralismo político e de ideias, todos previstos, explícita ou implicitamente, na Constituição Federal;”. Novamente aqui ressalto a impossibilidade da neutralidade político-ideológica no Estado, justamente pelo fato de o Estado ser governado por partidos políticos que são guiados por ideologias. Há uma contradição em usar a palavra “neutralidade” em um meio totalmente ideológico, pois o que o PSDB e seus eleitores consideram positivo para nação não é o que o PCO e seus eleitores consideram, tampouco o que o PR e seus eleitores consideram, e assim com os outros partidos e suas ideologias e estatutos. Sendo assim, o termo neutralidade não se encaixa no ambiente político, pois fazer política pressupõe ideologia, o que seria diferente e mais alcançável na filosofia com um olhar crítico, mas de qualquer maneira, qualquer análise que fizermos terá as limitações de percepção da realidade que carregamos.
No artigo 2° Inciso VII diz – “respeitará o direito dos pais dos alunos a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções”. Dá-se novamente a impossibilidade da efetivação do proposto no projeto de lei. Considerando o pluralismo religioso de nosso país, os discentes receberem de forma distinta uma educação religiosa e moral de acordo com a de seus pais é inviável, para não dizer impossível, sabendo que a população brasileira é composta de diversas religiões, que segundo dados do senso realizado pelo IBGE em 2010, foi constatado que a população brasileira é majoritariamente cristã (87%), formada por católico-romanos (64,4%) e protestantes (22,2%), declaram-se irreligiosos: ateus, agnósticos, ou deístas 8,0% da população, 2,0% declaram-se espíritas, 0,7% declaram-se as testemunhas de Jeová, 0,3% declaram-se seguidores do animismo afro-brasileiro como o Candomblé, e a Umbanda; 1,6% declaram-se seguidores de outras religiões, tais como: os budistas, os judeus, os messiânicos, os esotéricos, os espiritualistas e os islâmicos, por exemplo. De que maneira o aluno terá uma educação moral e religiosa de acordo com a de seus pais, não está descrito no projeto de lei, daí chamamos a atenção novamente para o discurso utilizado na elaboração do mesmo como sendo um discurso de má-fé e populista, devido ao fato de apresentar uma proposta generalista, que assim agrada a maioria da população, mas como já observamos, que não condiz com a realidade de nossas escolas. 
Com a PEC 55 tramitando no Senado, que prevê o congelamento do teto dos gastos públicos por vinte anos (o qual o Senador Magno Malta também participa da autoria), e levando em consideração que para as escolas públicas brasileiras ensinarem todas as religiões aos discentes, mas claro, segregando cada turma de acordo com o interesse dos pais, dá-se uma contradição! Seriam necessários mais professores especializados, mais turmas, mais tempo de aulas e consequentemente um aumento nos investimentos com a educação. Por isso, apesar de concordar com partes do projeto “Escola sem Partido” como o artigo 2º - Inciso II: “pluralismo de ideias no ambiente acadêmico”, Inciso III - liberdade de aprender e de ensinar, inciso IV - liberdade de consciência e de crença. No artigo 5º. No exercício de suas funções, o professor: inciso I - não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias, inciso II - não favorecerá nem prejudicará ou constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas, inciso III - não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas, inciso IV - ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito. Percebo que em partes ele não é fiel a realidade e mais parece uma estratégia para os políticos que o desenvolveram ganhem apreciação do povo através do uso articulado do discurso, que como vimos acima é um dos maiores meios de dominação, apesar de algumas belas propostas que flutuam no projeto de lei, a maneira que isso se dará não é sequer mencionada, além de conter tendências ao cristianismo e as ideologias de gênero do Senador.
O reflexo da aplicação do projeto de lei “Escola Sem Partido” nos três níveis básicos de aprendizagem: ensino fundamental, ensino médio e ensino universitário pode ser visto como uma preparação cada vez maior para o mercado de trabalho, pensando na educação tecnicista (que já é presente nos dias atuais). Levando em consideração que o aluno entra no ensino fundamental com 6 e sai aos 15 anosde idade, período esse no qual submetido a uma educação que o prive de um pensamento crítico, de uma pluralidade nas questões religiosas, ideológicas e culturais temos um cenário em que esse aluno não construirá um pensamento próprio no que diz respeito a sua identidade como ser social, após isso ao ingressar no ensino médio (dos 15 aos 18 anos) esse mesmo aluno já estará moldado no que o estado espera de um aluno vindo de um ensino tecnicista, ou seja, um trabalhador em potencial, uma nova mão de obra. E para fechar esse ciclo, dentro do ensino superior que visa uma formação profissional, podemos imaginar um decréscimo no ingresso de alunos nas áreas humanas mais críticas como filosofia e sociologia por exemplo, e um acréscimo nas áreas mais “produtivas para o estado” que diz respeito a construção (engenharias, arquiteturas), administração (administração, comercio exterior, contábeis) etc. 
La Boétie dirá no seu livro Discurso da servidão voluntária que:
“Incrível coisa é ver o povo, uma vez subjugado, cair em tão profundo esquecimento da liberdade que não desperta nem a recupera; antes começa a servir com tanta prontidão e boa vontade que parece ter perdido não a liberdade mas a servidão. É verdade que, a princípio, serve com constrangimento e pela força; mas os que vêm depois, como não conheceram a liberdade nem sabem o que ela seja, servem sem esforço e fazem de boa mente o que seus antepassados tinham feito por obrigação. Assim é: os homens nascem sob o jugo, são criados na servidão, sem olharem para lá dela, limitam-se a viver tal como nasceram, nunca pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao nascer, aceitam como natural o estado que acharam à nascença” (1982, p.12)
Privando os discentes deste pensamento crítico, ao longo do tempo essa privação se dará como algo natural não sendo mais algo a se buscar.
Referência bibliográfica:
AMERICANOS, Organização dos Estados. PACTO DE SAN JOSÉ DE COSTA RICA. San José: Organização dos Estados Americanos, 1969. Disponível em < http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm> Acesso em 25/10/2016
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm Acesso em 25/10/2016
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Promulgada em 13 de julho de 1990. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm> Acesso em 25/10/2016
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
BRASIL. Projeto de Lei do Senado Nacional. Programa Escola Sem Partido. Disponível em <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/125666> Acesso em 25/10/2016
FIORIN, L. F. Linguagem e ideologia. Ed. Ática. São Paulo, 2011.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed. Martin Claret, São Paulo, 2006.
LA BOÉTIE, E. Discurso da servidão voluntária. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1982
NIETZSCHE, F. Os Pensadores. Obras incompletas. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Entrevista Senador Magno Malta. Disponível em: 
<http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/06/noticias/a_gazeta/politica/877641-magno-diz-que-deixa-senado-se-lei-for-aprovada.html>. Acesso em 4/11/2016.

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