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Aula 10 41

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DIREITO	PENAL	para	o	XXIII	EXAME	DA	OAB	
Teoria	e	exercícios	comentados	
Prof.	Renan	Araujo	–	Aula	10	
	
	 	 	
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3. RESUMO .................................................................................................... 53
4. EXERCêCIOS DA AULA ............................................................................... 61
5. GABARITO................................................................................................. 64
Ol‡, meus amigos!
Na aula de hoje vamos iniciar o estudo dos crimes contra a
administra‹o pœblica, analisando os crimes praticados por
funcion‡rio pœblico contra a administra‹o em geral. Muita aten‹o
aos crimes de peculato, concuss‹o, corrup‹o passiva e
prevarica‹o. S‹o os mais importantes!
Veremos, ainda, os crimes praticados por particular contra a
administra‹o em geral. Com rela‹o a estes, foco total nos crimes de
desacato, desobedincia, corrup‹o ativa, descaminho e
contrabando.
Bons estudos!
Prof. Renan Araujo
DIREITO	PENAL	para	o	XXIII	EXAME	DA	OAB	
Teoria	e	exercícios	comentados	
Prof.	Renan	Araujo	–	Aula	10	
	
	 	 	
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1. CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONçRIO
PòBLICO CONTRA A ADMINISTRA‚ÌO EM GERAL
Os crimes praticados por funcion‡rio pœblico contra a administra‹o
em geral s‹o espŽcies do gnero ÒCrimes contra a administra‹o pœblicaÓ,
e encontram-se regulamentados no Cap’tulo I do T’tulo XI (Crimes contra
a administra‹o pœblica) do CP.
Trata-se de crimes funcionais, ou seja, devem ser praticados por
funcion‡rio pœblico1. Os crimes funcionais dividem-se em crimes
funcionais pr—prios (puros) ou impr—prios (impuros) (GRAVEM
ISSO POIS SERç IMPORTANTE MAIS Ë FRENTE!).
Nos crimes funcionais pr—prios (puros), ausente a condi‹o de
Òfuncion‡rio pœblicoÓ ao agente, a conduta passa a ser
considerada a um indiferente penal2 (atipicidade absoluta). Exemplo:
No crime de prevarica‹o (art. 319 do CP), se o agente n‹o for
funcion‡rio pœblico, n‹o h‡ pr‡tica de qualquer infra‹o penal.
No entanto, nos crimes funcionais impr—prios (impuros), faltando
a condi‹o de Òfuncion‡rio pœblicoÓ ao agente, a conduta n‹o ser‡ um
indiferente penal, deixar‡ apenas de ser considerada crime
funcional, sendo desclassificada para outro delito (atipicidade
relativa). Imaginem o crime de peculato-furto (art. 312, ¤ 1¡ do CP).
Nesse crime, o agente deve ser funcion‡rio pœblico. No entanto, se lhe
faltar esta condi‹o, sua conduta n‹o ser‡ at’pica, deixar‡ apenas de ser
considerada peculato-furto, passando a ser classificada como furto (art.
155 do CP).
O conceito de funcion‡rio pœblico para fins penais est‡ no art. 327 do
CP:
Art. 327 - Considera-se funcion‡rio pœblico, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remunera‹o, exerce cargo, emprego ou
fun‹o pœblica.
¤ 1¼ - Equipara-se a funcion‡rio pœblico quem exerce cargo, emprego ou
fun‹o em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora
de servio contratada ou conveniada para a execu‹o de atividade t’pica da
Administra‹o Pœblica. (Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
¤ 2¼ - A pena ser‡ aumentada da tera parte quando os autores dos crimes
previstos neste Cap’tulo forem ocupantes de cargos em comiss‹o ou de
fun‹o de dire‹o ou assessoramento de —rg‹o da administra‹o direta,
sociedade de economia mista, empresa pœblica ou funda‹o institu’da pelo
poder pœblico. (Inclu’do pela Lei n¼ 6.799, de 1980)
																																																													
1 DOTTI, RenŽ Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. S‹o Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2012, p. 470
2 CUNHA, RogŽrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edi‹o. Ed. Juspodivm.
Salvador, 2015, p. 708
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Assim, podemos perceber que o conceito de funcion‡rio pœblico
utilizado pelo CP Ž bem diferente do conceito que se tem no Direito
Administrativo. L‡, funcion‡rios pœblicos s‹o apenas aqueles detentores
de cargo pœblico efetivo. Aqui, o conceito abrange, ainda, os empregados
pœblicos, estagi‡rios, mes‡rios da Justia Eleitoral, Jurados, etc.
Entretanto, n‹o confundam Òfun‹o pœblicaÓ com mœnus pœblico. A
Doutrina entende que aqueles que exercem um mœnus pœblico n‹o s‹o
considerados funcion‡rios pœblicos. Assim, os tutores, os curadores
dativos, os inventariantes judiciais NÌO SÌO CONSIDERADOS
FUNCIONçRIOS PòBLICOS pela maioria esmagadora da Doutrina.3
O ¤ 1¡ estabelece que se considera funcion‡rio pœblico por
equipara‹o que exerce cargo, emprego ou fun‹o em entidade
paraestatal4 ou empresa contratada para execu‹o de atividade t’pica da
administra‹o pœblica.5
Tal equipara‹o n‹o abrange os funcion‡rios de empresas
contratadas para exercer atividades at’picas da administra‹o pœblica
(empresa contratada eventualmente para realiza‹o de um coquetel para
recep‹o de uma autoridade estrangeira, por exemplo6).
O ¤ 2¡ prev uma majorante (causa de aumento de pena), caso o
funcion‡rio pœblico seja ocupante de cargo em comiss‹o ou Fun‹o de
Dire‹o e Assessoramento na administra‹o pœbica. Contudo, o
legislador n‹o incluiu as autarquias no ¤2¼ do art. 327, de forma
que tal majorante n‹o se aplica aos funcion‡rios destas
entidades.7
A maioria da Doutrina, bem como o STF8, entende que esta
majorante tambŽm se aplica aos agentes pol’ticos, detentores de cargo
eletivo (prefeitos, governadores, etc.), por entender que se trata de uma
interpreta‹o l—gica do artigo. Uma minoria, no entanto, defende n‹o ser
extens’vel a majorante aos detentores de cargos pol’ticos.9
																																																													
3 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte especial. Volume 5. Ed. Saraiva,
9¼ edi‹o. S‹o Paulo, 2015, p. 189
4 O conceito de "paraestatal" para fins penais Ž tortuoso. Alguns doutrinadores se limitam a utilizar
a express‹o como sin™nimo de administra‹o indireta, como RogŽrio Greco e JosŽ Paulo Baltazar
Jœnior, por exemplo. Outros, como CŽzar Roberto Bitencourt, s‹o mais espec’ficos (e corretos),
entendendo que esta express‹o corresponde ˆs entidades que n‹o fazem parte da administra‹o
pœblica (da’ porque s‹o PARAestatais), mas que desempenham servios de utilidade pœblica, como
o Òsistema SÓ (SESI, SESC, SENAI, etc.).
O STJ, ao que parece, vem se filiando ˆ segunda corrente. H‡ decis›es entendendo que atŽ
mesmo as OSCIPs s‹o entidades paraestatais para fins penais (Ver, por todos, REsp
1519662/DF).
5 EXEMPLO: Os mŽdicos de Hospital particular conveniado ao SUS, quando est‹o atendendo
pacientes pelo SUS. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 189/190
6 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 711
7 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 191
8 Inq. 1769-PA
9 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 711
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1.1. Peculato
O peculato pode ser praticado de diversas maneiras: a)
peculato-apropria‹o e peculato-desvio (art. 312 do CP); b)
peculato-furto (art. 312, ¤ 1¡ do CP); c) peculato culposo (art. 312, ¤
2¡ do CP); d) peculato mediante erro de outrem (art. 313 do CP);
O peculato-apropria‹o e o peculato-desvio s‹o faces do
crime de peculato comum, estabelecido no art. 312 do CP:
Art. 312 - Apropriar-se o funcion‡rio pœblico de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem m—vel, pœblico ou particular, de que tem a posseem raz‹o do
cargo, ou desvi‡-lo, em proveito pr—prio ou alheio:
Pena - reclus‹o, de dois a doze anos, e multa.
Como vimos, Ž necess‡rio que o agente seja funcion‡rio pœblico, mas
nada impede que haja concurso de pessoas com um particular,
desde que este saiba da condi‹o de funcion‡rio pœblico do agente. Trata-
se, portanto, de crime pr—prio.
N‹o Ž necess‡rio que o dinheiro ou outro bem m—vel
apropriado ou desviado seja pœblico, podendo ser particular10,
desde que lhe tenha sido entregue em raz‹o da fun‹o. ƒ o caso, por
exemplo, do funcion‡rio que tem a guarda de um ve’culo que se encontra
em um dep—sito pœblico.
O sujeito passivo ser‡ sempre o Estado, embora possa ser tambŽm o
particular, caso se trate de bem particular o objeto material do crime.
ATEN‚ÌO! O conceito de ÒdesvioÓ Ž polmico na Doutrina. H‡ quem
entenda que Ž necess‡rio que o bem, valor ou coisa seja desviado para o
PATRIMïNIO de alguŽm (do agente ou de terceiros). Seria o chamado
animus rem sibi habendi. Outra parcela doutrin‡ria entende que o termo
ÒdesviarÓ est‡ sendo utilizado no sentido de Òdar destina‹o diversa da
que deveriaÓ e, neste caso, o mero USO INDEVIDO do bem, valor ou
coisa, j‡ caracterizaria o delito.
Ex.: JosŽ utiliza um ve’culo pertencente ao —rg‹o pœblico em que
trabalha para levar sua esposa ao cinema.
Esta mesma situa‹o pode gerar consequncias distintas no campo
penal, a depender da corrente doutrin‡ria adotada.
1¼ corrente Ð N‹o h‡ peculato, pois o bem n‹o foi desviado para o
patrim™nio de JosŽ (Para esta corrente, JosŽ deveria pretender tomar
																																																													
10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 44
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para si o bem, ou seja, ficar com ele).
2¼ corrente Ð H‡ peculato, pois JosŽ DESVIOU o bem pœblico de sua
finalidade (a finalidade seria a utiliza‹o em prol do servio, e n‹o para
levar sua esposa ao cinema, finalidade meramente particular).
JURISPRUDæNCIA Ð O STJ, atŽ o momento, adota a primeira corrente.
Vejamos o julgamento do HC 94.168/MG:
(...)2. Analogamente ao furto de uso, o peculato de uso tambŽm n‹o
configura il’cito penal, t‹o-somente administrativo. Todavia, o
peculato desvio Ž modalidade t’pica, submetendo o autor do fato ˆ
pena do artigo 312 do C—digo Penal. Cabe ˆ instru‹o probat—ria
delimitar qual conduta praticou o paciente.
(...)
(HC 94.168/MG, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA
DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 01/04/2008, DJe 22/04/2008)
O STF j‡ decidiu adotando a primeira corrente (que Ž majorit‡ria11), ao
argumento de que esta conduta configuraria mero Òpeculato de usoÓ (HC
108.433). Entretanto, mais recentemente, o STF adotou entendimento
contr‡rio, ou seja, aderiu ˆ segunda corrente. Vejamos:
(...) O peculato desvio caracteriza-se na hip—tese em que terceiro recebe
armas emprestadas pelo juiz, deposit‡rio fiel dos instrumentos do crime,
acautelados ao magistrado para fins penais, enquadrando-se no conceito de
funcion‡rio pœblico. 2. In casu, Juiz Federal detinha em seu poder duas
pistolas apreendidas no curso de processo-crime em tramita‹o perante a
Vara da qual era titular. Ao entregar os armamentos a policial federal
desviou bem de que tinha posse em raz‹o da fun‹o em proveito deste,
emprestando-lhe finalidade diversa da pretendida ao assumir a fun‹o de
deposit‡rio fiel. 3. O artigo 312 do C—digo Penal disp›e: ÒArt. 312 -
Apropriar-se o funcion‡rio pœblico de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
m—vel, pœblico ou particular, de que tem a posse em raz‹o do cargo, ou
desvi‡-lo, em proveito pr—prio ou alheio: Pena - reclus‹o, de dois a doze
anos, e multaÓ. 4. ƒ cedio que Òo verbo nœcleo desviar tem o
significado, nesse dispositivo legal, de alterar o destino natural do
objeto material ou dar-lhe outro encaminhamento, ou, em outros
termos no peculato-desvio o funcion‡rio pœblico d‡ ao objeto
material aplica‹o diversa da que lhe foi determinada, em benef’cio
pr—prio ou de outrem. Nessa figura n‹o h‡ o prop—sito de apropriar-
se, que Ž identificado como animus rem sibi habendi, podendo ser
caracterizado o desvio proibido pelo tipo, com simples uso irregular
da coisa pœblica, objeto material do peculato.Ó (BITTENCOURT,
Cezar. Tratado de direito penal. v. 5. Saraiva, S‹o Paulo: 2013, 7» Ed.
p. 47). 3. ƒ poss’vel a atribui‹o do conceito de funcion‡rio pœblico contida
no artigo 327 do C—digo Penal a Juiz Federal. ƒ que a fun‹o jurisdicional Ž
fun‹o pœblica, pois consiste atividade privativa do Estado-Juiz,
sistematizada pela Constitui‹o e normas processuais respectivas.
Consequentemente, aquele que atua na presta‹o jurisdicional ou a pretexto
de exerc-la Ž funcion‡rio pœblico para fins penais. Precedente: (RHC
110.432, Relator Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 18/12/2012). 4.
A via estreita do Habeas Corpus n‹o se preza ˆ discuss‹o acerca da
valora‹o da prova produzida em a‹o penal. ƒ que, nos termos da
Constitui‹o esta a‹o se destina a afastar restri‹o ˆ liberdade de
																																																													
11 Ver, por todos, BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 49
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locomo‹o por ilegalidade ou por abuso de poder. 5. Recurso desprovido.
(RHC 103559, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
19/08/2014, ACîRDÌO ELETRïNICO DJe-190 DIVULG 29-09-2014 PUBLIC
30-09-2014)
O que fazer? ƒ dif’cil dar um ÒnorteÓ infal’vel, pois o Direito n‹o Ž uma
cincia exata, mas acredito que apesar do precedente recente, a
jurisprudncia e a doutrina majorit‡rias ainda adotam o primeiro
entendimento. Vamos aguardar cenas dos pr—ximos cap’tulos...
Importante lembrar que para que possamos falar em peculato de uso Ž
necess‡rio que estejamos diante de bem INFUNGêVEL (que n‹o pode
ser substitu’do por outro da mesma espŽcie, qualidade e quantidade) e
NÌO CONSUMêVEL (cujo uso importa em destrui‹o IMEDIATA da sua
pr—pria subst‰ncia).
Assim, n‹o existe Òpeculato de usoÓ de dinheiro, por exemplo, por ser
bem fung’vel.
CUIDADO! Se o agente pœblico em quest‹o for um PREFEITO (ou quem
esteja atuando em substitui‹o a ele), n‹o haver‡ qualquer dœvida, a
conduta ser‡ crime! Isto porque h‡ previs‹o espec’fica no DL 201/67
(art. 1¼, II e ¤1¼).
O peculato-furto (tambŽm chamado de peculato impr—prio)
caracteriza-se n‹o pela apropria‹o ou desvio de um bem que fora
confiado ao agente em raz‹o do cargo, mas da subtra‹o de um bem que
estava sob guarda da administra‹o. Nos termos do art. 312, ¤ 1¡ do CP:
¤ 1¼ - Aplica-se a mesma pena, se o funcion‡rio pœblico, embora n‹o tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtra’do, em proveito pr—prio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcion‡rio.
Nesse crime o agente n‹o possui a guarda do bem, praticando
verdadeiro furto, que, em raz‹o das circunst‰ncias (ser o agente
funcion‡rio pœblico e valer-se desta condi‹o para subtrair o bem),
caracteriza-se como o crime de peculato-furto.
BEM JURêDICO TUTELADO O patrim™nio da administra‹o pœblica
ou do particular lesado pela subtra‹o do
bem.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
No entanto, Ž plenamente poss’vel o
concurso de pessoas, respondendo
tambŽm o particular pelo crime, desde
que este particular tenha conhecimento
da condi‹o de funcion‡rio pœblico do
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agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica, e eventual
particular propriet‡rio do bem subtra’do,
se for bem particular.
TIPO OBJETIVO A conduta prevista Ž a de subtrair o
bem ou valor, ou concorrer para sua
subtra‹o. Exige-se que o funcion‡rio
pœblico se valha de alguma facilidade
proporcionada pela sua condi‹o de
funcion‡rio pœblico.
TIPO SUBJETIVO Dolo. A forma culposa est‡ prevista no ¤
2¡ do art. 312.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se no momento em que o
agente adquire a posse do bem
mediante a subtra‹o. Admite-se
tentativa, pois n‹o se trata de crime que
se perfaz num œnico ato (pode-se
desdobrar seu iter criminis Ð caminho
percorrido na execu‹o). ƒ plenamente
poss’vel, portanto, que o agente inicie a
execu‹o, adentrando ˆ reparti‹o
pœblica, por exemplo, e seja
surpreendido pelos seguranas. Nesse
caso, o crime ser‡ tentado.
O peculato culposo, por sua vez, est‡ previsto no art. 312, ¤ 2¡ do
CP:
¤ 2¼ - Se o funcion‡rio concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano.
Essa modalidade culposa se aplica tanto ao crime de peculato
pr—prio (apropria‹o ou desvio), quanto ao crime de peculato
impr—prio (peculato-furto). Ou seja, se o funcion‡rio pœblico concorrer
de maneira culposa para a realiza‹o de qualquer destes crimes,
responde a t’tulo culposo, nos termos do ¤ 2¡ do art. 31212. A pena, no
entanto, Ž bem menor, considerando-se o menor desvalor de sua
conduta.
O CP estabelece, ainda, que no caso do crime culposo (somente
neste!), se o agente reparar o dano antes de proferida a sentena
irrecorr’vel (ou seja, antes do tr‰nsito em julgado), estar‡ extinta
a punibilidade. Caso o agente repare o dano ap—s o tr‰nsito em
																																																													
12 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 49/50
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julgado, a pena ser‡ reduzida pela metade (Ž metade, e n‹o ÒatŽÓ a
metade!). Nos termos do art. 312, ¤ 3¡:
¤ 3¼ - No caso do par‡grafo anterior, a repara‹o do dano, se precede ˆ
sentena irrecorr’vel, extingue a punibilidade; se lhe Ž posterior, reduz de
metade a pena imposta.
MUITO CUIDADO! A repara‹o do dano s— gera estes efeitos no
peculato culposo, n‹o nas suas demais modalidades!
O peculato por erro de outrem Ž uma modalidade muito
assemelhada ao peculato-apropria‹o. No entanto, nessa modalidade, o
agente recebe o bem ou valor n‹o em raz‹o do cargo, mas por erro de
outra pessoa. ƒ o que disp›e o art. 313 do CP:
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exerc’cio do
cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclus‹o, de um a quatro anos, e multa.
ATEN‚ÌO! Este delito tambŽm Ž conhecido como Òpeculato-
estelionatoÓ, pois o agente mantŽm em erro o particular. PorŽm, se
tivŽssemos que traar um paralelo com os crimes comuns, este delito se
parece mais com o do art. 169, caput, do CP (apropria‹o de coisa havida
por erro).
BEM JURêDICO TUTELADO O patrim™nio e a moralidade da
administra‹o pœblica. Se houver
particular lesado pela conduta, ser‡
sujeito passivo secund‡rio.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
No entanto, Ž plenamente poss’vel o
concurso de pessoas, respondendo
tambŽm o particular pelo crime, desde
que este particular tenha conhecimento
da condi‹o de funcion‡rio pœblico do
agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica, e eventual
particular propriet‡rio do bem
apropriado, se for bem particular.
TIPO OBJETIVO A conduta prevista Ž a de se apropriar
de bem recebido por erro de outrem.
Exige-se que o funcion‡rio pœblico se
valha de alguma facilidade
proporcionada pela sua condi‹o de
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funcion‡rio pœblico. Essa facilidade pode
ser o simples exerc’cio de sua atividade
funcional.
CUIDADO! A Doutrina entende que se o
erro foi provocado dolosamente pelo
funcion‡rio pœblico, com o intuito de
enganar o particular, ele dever‡
responder pelo delito de estelionato.13
TIPO SUBJETIVO Dolo. O dolo n‹o precisa existir no
momento em que o agente recebe a
coisa, mas deve existir quando, depois
de recebida a coisa, o agente resolve se
apropriar desta, sabendo que ela foi
parar em suas m‹os em raz‹o do erro
daquele que a entregou.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se no momento em que o
agente altera seu ÒanimusÓ,
passando a comportar-se como dono
da coisa apropriada, sem inten‹o
de devolu‹o. A Doutrina admite a
tentativa, embora seja de dif’cil
caracteriza‹o.
(FGV Ð 2013 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM)
Lucas, funcion‡rio pœblico do Tribunal de Justia, e Laura, sua
noiva, estudante de direito, resolveram subtrair notebooks de
œltima gera‹o adquiridos pela serventia onde Lucas exerce suas
fun›es. Assim, para conseguir seu intento, combinaram dividir a
execu‹o do delito. Lucas, em determinado feriado municipal,
valendo-se da facilidade que seu cargo lhe proporcionava,
identificou-se na recep‹o e disse ao segurana que precisava ir
atŽ a serventia para buscar alguns pertences que havia esquecido.
O segurana, que j‡ conhecia Lucas de vista, n‹o desconfiou de
nada e permitiu o acesso. Ressalte-se que, alŽm de ser
serventu‡rio, Lucas conhecia detalhadamente o prŽdio pœblico,
raz‹o pela qual se dirigiu rapidamente ao local desejado,
subtraindo todos os notebooks. Ap—s, foi a uma janela e, dali, os
entregou a Laura, que os colocou no carro e saiu. Ao final, Lucas
conseguiu deixar o edif’cio sem que ninguŽm suspeitasse de nada.
Todavia, cerca de uma semana ap—s, Laura e Lucas tm uma
																																																													
13 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 63
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discuss‹o e terminam o noivado. Muito enraivecida, Laura procura
a pol’cia e noticia os fatos, ocasi‹o em que devolve todos os
notebooks subtra’dos.
Com base nas informa›es do caso narrado, assinale a afirmativa
correta.
a) Laura e Lucas devem responder pelo delito de peculato- furto
praticado em concurso de agentes.
b) Laura deve responder por furto qualificado e Lucas deve
responder por peculato-furto, dada ˆ incomunicabilidade das
circunst‰ncias.
c) Laura e Lucas ser‹o beneficiados pela causa extintiva de
punibilidade, uma vez que houve repara‹o do dano ao er‡rio
anteriormente ˆ denœncia.
d) Laura ser‡ beneficiada pelo instituto do arrependimento eficaz,
mas Lucas n‹o poder‡ valer-se de tal benef’cio, pois a restitui‹o
dos bens, por parte dele, n‹o foi volunt‡ria.
COMENTçRIOS: Ambos dever‹o responder pelo delito de peculato (na
modalidade Òpeculato-furto), praticado em concurso de agentes, nos
termos do art. 312, ¤1¼ do CP:
Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcion‡rio pœblico de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem m—vel, pœblico ou particular, de que tem a posse em raz‹o do
cargo, ou desvi‡-lo, em proveito pr—prio ou alheio:
Pena - reclus‹o, de dois a doze anos, e multa.
¤ 1¼ - Aplica-se a mesma pena, se o funcion‡rio pœblico, embora n‹o tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtra’do, em proveito pr—prio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidadede funcion‡rio.
N‹o h‡ que se falar em arrependimento eficaz, pois o crime se consumou,
TambŽm n‹o h‡ que se falar em extin‹o da punibilidade pela repara‹o
do dano, eis que s— cab’vel em rela‹o ao peculato CULPOSO, nos termos
do art. 312, ¤3¼ do CP.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.
(FGV Ð 2011 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM)
Configura modalidade de peculato prevista no C—digo Penal
a) o peculato por erro de outrem, consistente na apropria‹o de
bem ou valores que o funcion‡rio tenha recebido pela facilidade
que seu cargo lhe proporciona.
b) o peculato eletr™nico, modalidade an™mala de peculato,
consistente em inserir dados falsos, alterar ou modificar dados no
sistema de informa›es da administra‹o pœblica.
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c) o peculato-culposo, consistente na apropria‹o de bens ou
valores que o funcion‡rio tenha recebido por erro de outrem em
raz‹o do cargo pœblico que exerce.
d) o peculato-desvio, consistente no desvio de bens ou valores,
pelo funcion‡rio pœblico, em benef’cio de terceiro.
COMENTçRIOS: A quest‹o foi bem anulada, pois a alternativa B, dada
como correta, Ž question‡vel, j‡ que o nome Òpeculato eletr™nicoÓ Ž mera
constru‹o doutrin‡ria, n‹o tendo previs‹o no art. 313-A do CP. AlŽm
disso, tal delito n‹o resta configurado apenas com o dolo genŽrico, Ž
necess‡rio o dolo espec’fico, consistente em praticar a conduta Òcom o
fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar
danoÓ.
A alternativa D, por sua vez, dada como errada, tambŽm Ž question‡vel,
pois o peculato-desvio, de fato, pode ser praticado desta forma (ainda
que o desvio tambŽm possa ser realizado em benef’cio pr—prio).
Assim, diante de tamanha confus‹o, fez bem a Banca em anular a
quest‹o.
Portanto, a quest‹o foi ANULADA.
1.2. Inser‹o de dados falsos em sistema de informa›es e
modifica‹o ou altera‹o n‹o autorizada de sistema de
informa›es
Parte da Doutrina chama o delito do art. 313-A de Òpeculato
eletr™nicoÓ14, embora esta nomenclatura n‹o seja un‰nime.
Foram acrescentados ao CP pela Lei 9.983/00, que acrescentou os
arts. 313-A e 313-B ao CP:
Inser‹o de dados falsos em sistema de informa›es (Inclu’do pela
Lei n¼ 9.983, de 2000)
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcion‡rio autorizado, a inser‹o de dados
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administra‹o Pœblica com o fim de
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
(Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
Pena - reclus‹o, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Inclu’do pela Lei n¼
9.983, de 2000)
Modifica‹o ou altera‹o n‹o autorizada de sistema de informa›es
(Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcion‡rio, sistema de informa›es ou
programa de inform‡tica sem autoriza‹o ou solicita‹o de autoridade
competente: (Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
Pena - deten‹o, de 3 (trs) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Inclu’do pela
Lei n¼ 9.983, de 2000)
																																																													
14 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 721
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Par‡grafo œnico. As penas s‹o aumentadas de um tero atŽ a metade se da
modifica‹o ou altera‹o resulta dano para a Administra‹o Pœblica ou para o
administrado.(Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
BEM JURêDICO TUTELADO O patrim™nio da administra‹o pœblica.
Se houver particular lesado pela
conduta, ser‡ sujeito passivo secund‡rio.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
No primeiro caso, a lei exige, ainda, que
seja o funcion‡rio pœblico autorizado a
promover altera›es no sistema. No
segundo caso, a lei prev que qualquer
funcion‡rio possa praticar o crime, desde
que n‹o seja quem est‡ autorizado a
promover altera›es no sistema. No
entanto, Ž plenamente poss’vel o
concurso de pessoas, respondendo
tambŽm o particular pelo crime, desde
que este particular tenha conhecimento
da condi‹o de funcion‡rio pœblico do
agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica, e eventual
particular lesado.
TIPO OBJETIVO No primeiro caso a conduta Ž a de
inserir ou facilitar a inser‹o de
informa›es falsas, alterar ou
excluir, indevidamente, dados
corretos, com o fim de obter
vantagem ou causar dano. Percebam
que no caso de o funcion‡rio promover,
ele pr—prio, a altera‹o indevida, o crime
Ž monossubjetivo, ou seja, n‹o depende
de duas ou mais pessoas para sua
caracteriza‹o. No entanto, se a conduta
for a de facilitar a altera‹o por outra
pessoa (particular ou n‹o), o crime ser‡
necessariamente plurissubjetivo, pois
necessariamente haver‡ de ter mais de
um sujeito ativo. H‡, ainda, elemento
normativo do tipo no caso de se tratar
de exclus‹o de dados corretos, pois
esta exclus‹o deve ser INDEVIDA.
Assim, se o funcion‡rio autorizado exclui
dados corretos porque era esta sua
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obriga‹o (estes dados n‹o eram
considerados mais necess‡rios), n‹o h‡
fato t’pico. No segundo crime, a conduta
Ž a de modificar ou alterar o sistema
de informa›es, sem autoriza‹o.
H‡, portanto, elemento normativo do
tipo, pois se o agente estiver autorizado
a isto, o fato Ž at’pico.
TIPO SUBJETIVO Dolo. No caso do art. 313-A, exige-se a
finalidade especial de agir, consistente
na inten‹o de obter vantagem ou
causar dano a outrem. No caso do art.
313-B, n‹o ser exige nenhum dolo
espec’fico, bastando que o funcion‡rio
n‹o autorizado promova as altera›es ou
modifica›es no sistema.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se no momento em que o
agente efetivamente promove as
altera›es ou modifica›es narradas
pelo tipo penal. A Doutrina admite a
tentativa, pois Ž plenamente poss’vel o
fracionamento da conduta do agente.15
(FGV Ð 2010 ÐOAB ÐEXAME DE ORDEM)
Funda‹o Pœblica Federal contrata o tŽcnico de inform‡tica
Abelardo Fonseca para que opere o sistema informatizado
destinado ˆ elabora‹o da folha de pagamento de seus
funcion‡rios. Abelardo, ao elaborar a referida folha de pagamento,
altera as informa›es sobre a remunera‹o dos funcion‡rios da
Funda‹o no sistema, descontando a quantia de cinco reais de
cada um deles. A seguir, insere o seu pr—prio nome e sua pr—pria
conta banc‡ria no sistema, atribuindo-se a condi‹o de
funcion‡rio da Funda‹o e destina ˆ sua conta o total dos valores
desviados dos demais. Terminada a elabora‹o da folha, Abelardo
remete as informa›es ˆ se‹o de pagamentos, a qual efetua os
pagamentos de acordo com as informa›es lanadas no sistema
por ele. Considerando tal narrativa, Ž correto afirmar que
Abelardo praticou crime de:
(A) estelionato.
																																																													
15 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 72
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(B) peculato.
(C) concuss‹o.
(D) inser‹o de dados falsos em sistema de informa›es.
COMENTçRIOS: A conduta de Abelardo se amolda perfeitamente ao tipo
penal previsto no art. 313-A do CP (inser‹o de dados falsos em sistema
de informa›es). Vejamos:
Inser‹ode dados falsos em sistema de informa›es (Inclu’do pela Lei n¼
9.983, de 2000)
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcion‡rio autorizado, a inser‹o de dados
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administra‹o Pœblica com o fim de
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
(Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000))
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA D.
1.3. Extravio, sonega‹o ou inutiliza‹o de livro ou documento
Este crime est‡ previsto no art. 314 do CP:
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda
em raz‹o do cargo; soneg‡-lo ou inutiliz‡-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclus‹o, de um a quatro anos, se o fato n‹o constitui crime mais
grave.
BEM JURêDICO TUTELADO O patrim™nio da administra‹o pœblica.
Se houver particular lesado pela
conduta, ser‡ sujeito passivo secund‡rio.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
No entanto, Ž plenamente poss’vel o
concurso de pessoas, respondendo
tambŽm o particular pelo crime, desde
que este particular tenha
conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica, e eventual
particular lesado.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž a de extraviar, sonegar ou
inutilizar livro ou documento oficial, de
que tenha a guarda em raz‹o do cargo.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige qualquer dolo
espec’fico, nem se admite o crime na
forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E Consuma-se no momento em que o
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TENTATIVA agente efetivamente pratica as
condutas descritas no tipo penal. A
Doutrina admite a tentativa, pois Ž
plenamente poss’vel o fracionamento da
conduta do agente.
(FGV - 2016 - OAB - XX EXAME DE ORDEM)
Guilherme, funcion‡rio pœblico de determinada reparti‹o pœblica
do Estado do Paran‡, enquanto organizava os arquivos de sua
reparti‹o, acabou, por desaten‹o, jogando ao lixo, juntamente
com materiais inœteis, um importante livro oficial, que veio a se
perder.
Considerando apenas as informa›es narradas, Ž correto afirmar
que a conduta de Guilherme
A) configura crime de prevarica‹o.
B) configura situa‹o at’pica.
C) configura crime de condescendncia criminosa.
D) configura crime de extravio, sonega‹o ou inutiliza‹o de livro
ou documento.
COMENTçRIOS: Temos, aqui, uma conduta at’pica, eis que o crime de
ÒExtravio, sonega‹o ou inutiliza‹o de livro ou documentoÓ, previsto no
art. 314 do CP, s— Ž pun’vel na forma dolosa, nunca na forma culposa.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.
1.4. Emprego irregular de verbas ou rendas pœblicas
Trata-se de crime previsto no art. 315 do CP:
Art. 315 - Dar ˆs verbas ou rendas pœblicas aplica‹o diversa da estabelecida
em lei:
Pena - deten‹o, de um a trs meses, ou multa.
BEM JURêDICO TUTELADO O patrim™nio da administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico
que possua a fun‹o de decidir a
destina‹o das verbas ou rendas
pœblicas. Entretanto, em se tratando de
prefeito municipal n‹o se aplica este
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artigo, aplicando-se o Decreto-Lei
201/6716, por ser norma de car‡ter
especial. No entanto, Ž plenamente
poss’vel o concurso de pessoas,
respondendo tambŽm o particular pelo
crime, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica
TIPO OBJETIVO A conduta Ž a de dar ˆs rendas ou
verbas pœblicas uma destina‹o que n‹o
Ž a correta.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige qualquer dolo
espec’fico (finalidade espec’fica da
conduta), podendo ser atŽ uma
finalidade nobre (destina‹o a outra ‡rea
importante), desde que seja destina‹o
n‹o prevista para aquela verba. N‹o se
admite o crime na forma culposa. Aqui o
agente n‹o desvia a verba em proveito
pr—prio ou alheio, mas apenas d‡ ˆ
verba destina‹o diversa da prevista em
lei, mas sempre no interesse da
administra‹o.17
OBJETO MATERIAL A verba ou renda irregularmente
empregada.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se no momento em que o
agente efetivamente pratica a
conduta de aplicar irregularmente a
renda ou verba. A Doutrina admite a
tentativa, pois Ž plenamente poss’vel o
fracionamento da conduta do agente.
Assim, se o agente altera a destina‹o
da renda ou verba pœblica, mas n‹o
chega a aplic‡-la irregularmente, o crime
ser‡ tentado.
1.5. Concuss‹o
																																																													
16 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 90
17 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 91
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O crime de concuss‹o est‡ previsto no art. 316 do CP, que assim
disp›e:
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da fun‹o ou antes de assumi-la, mas em raz‹o dela, vantagem
indevida:
Pena - reclus‹o, de dois a oito anos, e multa.
BEM JURêDICO TUTELADO A moralidade na administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico,
ainda que apenas nomeado (mas n‹o
empossado). Entretanto, em se tratando
de Fiscal de Rendas, aplica-se o art. 3¡,
II da Lei 8.137/90, por ser norma penal
especial em rela‹o ao CP. No entanto, Ž
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, respondendo tambŽm o
particular pelo crime, desde que este
particular tenha conhecimento da
condi‹o de funcion‡rio pœblico do
agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica
TIPO OBJETIVO A conduta Ž a de exigir vantagem
indevida. Vejam que o agente n‹o pode,
simplesmente, pedir ou solicitar
vantagem indevida. A Lei determina
que deve haver uma ÒexignciaÓ de
vantagem indevida.18 Assim, deve o
agente possuir o poder de fazer cumprir
o mal que ameaa realizar em caso de
n‹o recebimento da vantagem exigida.
CUIDADO! Entende-se que a Ògrave
ameaaÓ n‹o Ž elemento deste delito.
Assim, se o agente exige R$ 10.000,00
da v’tima, sob a ameaa de matar seu
filho, estar‡ praticando, na verdade, o
delito de extors‹o. A concuss‹o s— resta
caracterizada quando o agente intimada
a v’tima amparado nos poderes
inerentes ao seu cargo19. Ex.: Policial
																																																													
18 A exigncia pode ser direta, quando o agente atua diretamente em rela‹o ˆ v’tima, de forma
expressa, ou indireta, quando se vale de interposta pessoa ou, ainda, realiza a exigncia de forma
velada, impl’cita. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 98
19 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 97/98
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Rodovi‡rio exige R$ 1.000,00 da v’tima,
alegando que se n‹o receber o dinheiro
ir‡ lavrar uma multa contra ela.
Assim:
CONCUSSÌO Ð Ameaa de mal
amparado nos poderes do cargo.
EXTORSÌO Ð Ameaa de mal (violncia
ou grave ameaa) estranho aos poderes
do cargo.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige qualquer dolo
espec’fico (finalidade espec’fica da
conduta). N‹o se admite o crime na
forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-seno momento em que o
agente efetivamente pratica a
conduta de exigir a vantagem
indevida, pouco importando se
chega a receb-la.20 Assim, trata-se
de crime formal, n‹o se exigindo o
resultado natural’stico, que Ž
considerado mero exaurimento. A
Doutrina admite a tentativa, pois Ž
plenamente poss’vel o fracionamento da
conduta do agente. Assim, por exemplo,
se o agente envia um e-mail ou carta
exigindo vantagem indevida, mas essa
carta ou e-mail n‹o chega ao
conhecimento do destinat‡rio, h‡
tentativa.
Este crime Ž muito confundido com o de corrup‹o passiva,
mas ISSO NÌO PODE ACONTECER COM VOCæS! Se o agente EXIGE,
teremos concuss‹o! Se o agente apenas solicita, recebe ou apenas
aceita promessa de vantagem, teremos corrup‹o passiva.
1.6. Excesso de exa‹o
O crime de excesso de exa‹o, previsto no art. 316, ¤ 1¡ do
CP, prev uma espŽcie de concuss‹o, s— que espec’fica em rela‹o ˆ
exigncia de tributo ou contribui‹o social indevida:
																																																													
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 105. CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 732
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¤ 1¼ - Se o funcion‡rio exige tributo ou contribui‹o social que sabe ou
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrana meio
vexat—rio ou gravoso, que a lei n‹o autoriza: (Reda‹o dada pela Lei n¼
8.137, de 27.12.1990)
Pena - reclus‹o, de trs a oito anos, e multa. (Reda‹o dada pela Lei n¼
8.137, de 27.12.1990)
O CP exige que o agente saiba que est‡ cobrando tributo ou
contribui‹o social indevida, ou, ainda, que este ao menos deva saber que
Ž indevida.
O dispositivo estabelece como conduta pun’vel, tambŽm, a conduta
de exigir tributo ou contribui‹o social devida, mas mediante utiliza‹o de
meio de cobrana vexat—rio ou gravoso, n‹o autorizado por lei. Portanto,
s‹o dois nœcleos diferentes previstos neste tipo penal.
Parte da Doutrina entende que esta express‹o Òdeveria saberÓ
indica que, nessa conduta, admite-se a forma culposa. No entanto, a
maioria da Doutrina entende que esta express‹o tambŽm indica forma
dolosa, s— que na modalidade de dolo eventual21 (art. 18, I, segunda
parte, do CP).
Admite-se a tentativa sempre que puder ser fracionada a conduta do
agente em mais de um ato, como na exigncia indevida por escrito, por
exemplo.
O ¤ 2¡, por fim, estabelece uma qualificadora, no caso do agente
que, alŽm de exigir indevidamente o tributo ou contribui‹o social,
desvi‡-lo dos cofres da administra‹o pœblica, em proveito pr—prio
ou de terceiros:
¤ 2¼ - Se o funcion‡rio desvia, em proveito pr—prio ou de outrem, o que
recebeu indevidamente para recolher aos cofres pœblicos:
Pena - reclus‹o, de dois a doze anos, e multa.
1.7. Corrup‹o passiva
A corrup‹o passiva est‡ tipificada no art. 317 do CP:
Corrup‹o passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da fun‹o ou antes de assumi-la, mas em
raz‹o dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena - reclus‹o, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Reda‹o dada pela
Lei n¼ 10.763, de 12.11.2003)
¤ 1¼ - A pena Ž aumentada de um tero, se, em conseqŸncia da vantagem
ou promessa, o funcion‡rio retarda ou deixa de praticar qualquer ato de of’cio
ou o pratica infringindo dever funcional.
BEM JURêDICO TUTELADO A moralidade na administra‹o pœblica.
																																																													
21 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 734
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SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico,
ainda que apenas nomeado (mas n‹o
empossado). No entanto, Ž plenamente
poss’vel o concurso de pessoas,
respondendo tambŽm o particular pelo
crime, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica
TIPO OBJETIVO A conduta Ž a de solicitar, receber
vantagem ou aceitar promessa do
recebimento de vantagem futura.
Parte da Doutrina entende o mero
recebimento de vantagens ou d‡divas
por quest›es de gratid‹o ou amizade
n‹o configuram corrup‹o, por n‹o
lesarem a moralidade administrativa.
Assim, por exemplo, o atendente do
INSS que no final do ano recebe uma
cesta de natal de um dos aposentados,
como gratid‹o pelo excelente
atendimento, n‹o estaria cometendo
crime para esta corrente22. Outra parte
da Doutrina entende que a Lei n‹o
distinguiu as condutas, sendo ambas
(com finalidade espœria ou sem ela)
consideradas corrup‹o passiva. A
corrup‹o passiva pode ser impr—pria,
quando o ato a ser praticado pelo
funcion‡rio pœblico em troca da
vantagem for leg’timo (o funcion‡rio
recebe a vantagem, por exemplo, para
agilizar o andamento de uma certid‹o).
Por outro lado, considera-se como
corrup‹o pr—pria aquela na qual o
agente recebe a vantagem ou aceita a
promessa de vantagem para praticar ato
il’cito (o agente, por exemplo, recebe
vantagem para deixar de aplicar uma
multa, por exemplo).
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige qualquer dolo
espec’fico (finalidade espec’fica da
																																																													
22 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 116
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conduta). N‹o se admite o crime na
forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Na modalidade de aceitar e solicitar
promessa de vantagem, trata-se de
crime formal, n‹o se exigindo o efetivo
recebimento da vantagem. Na
modalidade de receber vantagem il’cita,
o crime Ž material, exigindo-se o efetivo
recebimento da vantagem.23 Em todos
esses casos n‹o se exige que o
funcion‡rio pœblico efetivamente
pratique ou deixe de praticar o ato em
raz‹o da vantagem ou promessa de
vantagem recebida. PorŽm, se tal
ocorrer, incidir‡ a causa de aumento de
pena prevista no ¤ 1¡ do art. 317,
aumentando-se a pena em 1/3.
O ¤ 2¡, por fim, estabelece uma forma ÒprivilegiadaÓ do crime. ƒ
a hip—tese do ÒfavorÓ, aquela conduta do funcion‡rio que cede a pedidos
de amigos, conhecidos ou mesmo de estranhos, para que faa ou deixe
de fazer algo ao qual estava obrigado, sem que vise ao recebimento de
qualquer vantagem ou ˆ satisfa‹o de interesse pr—prio:
¤ 2¼ - Se o funcion‡rio pratica, deixa de praticar ou retarda ato de of’cio, com
infra‹o de dever funcional, cedendo a pedido ou influncia de outrem:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, ou multa.
Percebam que a pena prevista para esta modalidade do delito Ž
bem menor que a prevista para as outras hip—teses de corrup‹o. Aqui
temos um crime material.24
(FGV Ð 2016 Ð XXI EXAME DA OAB Ð PRIMEIRA FASE)
Alberto, policial civil, passando por dificuldades financeiras,
resolve se valer de sua func ̧‹o para ampliar seus vencimentos.
Para tanto, durante o registro de uma ocorrência na Delegacia
onde est‡ lotado, solicita ˆ noticiante R$2.000,00 para realizar as
investigaç›es necess‡rias ˆ elucidaç‹o do fato.
																																																													
23 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 317. BITENCOURT sustenta que o crime Ž formal apenas
na modalidade de solicitar, sendo crime material nas modalidades de ÒaceitarÓ e ÒreceberÓ.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 125
24 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 739
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Indignada com a proposta, a noticiante resolve gravar a conversa.
Dizendo que iria pensar se aceitaria pagar o valor solicitado, a
noticiante deixa o local e procura a Corregedoria de Pol’cia Civil,
narrando a conduta do policial e apresentando a gravaç‹o para
comprovaç‹o.
Acerca da conduta de Alberto, Ž correto afirmar que configura
crime de
A) corrupç‹o ativa, em sua modalidade tentada.
B) corrupc ̧‹o passiva, em sua modalidade tentada.
C) corrupc ̧‹o ativa consumada.
D) corrupc ̧‹o passiva consumada.
COMENTçRIOS: Nesse caso o agente, Alberto, praticou o crime de
corrup‹o passiva, em sua modalidade CONSUMADA, nos termos do art.
317 do CP.
O crime de corrup‹o passiva Ž considerado FORMAL, e se consuma com
a mera pr‡tica da conduta pelo agente (no caso, solicitar a vantagem
indevida), sendo irrelevante se a vantagem chega a ser efetivamente
obtida.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA D.
1.8. Facilita‹o de contrabando ou descaminho
Est‡ previsto no art. 318 do CP:
Art. 318 - Facilitar, com infra‹o de dever funcional, a pr‡tica de contrabando
ou descaminho (art. 334):
Pena - reclus‹o, de 3 (trs) a 8 (oito) anos, e multa. (Reda‹o dada pela Lei
n¼ 8.137, de 27.12.1990)
Aqui se pune a conduta do agente que deveria evitar a pr‡tica
do contrabando ou descaminho, mas n‹o o faz, facilitando-a.
BEM JURêDICO TUTELADO A moralidade e o patrim™nio da
administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico,
exigindo-se, ainda, que seja o
funcion‡rio pœblico que tinha o
dever funcional de evitar a pr‡tica
do contrabando ou descaminho. Aqui
h‡ uma exce‹o ˆ teoria monista do
concurso de pessoas, prevista no art. 29
do CP, pois o funcion‡rio pœblico
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responde por este crime, enquanto o
particular responde pelo crime de
contrabando ou pelo descaminho (a
depender da conduta). Se, porŽm, o
funcion‡rio pœblico que facilitar a
pr‡tica do contrabando ou
descaminho n‹o tiver a obriga‹o de
evit‡-la, responder‡ como part’cipe
do crime praticado pelo particular, e
n‹o pelo crime do art. 318 do CP25.
MUITO CUIDADO COM ISSO! ƒ
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, respondendo tambŽm o
particular (ou funcion‡rio pœblico que
n‹o tenha o dever de evitar o crime)
pelo crime do art. 318, desde que este
particular tenha conhecimento da
condi‹o de funcion‡rio pœblico do
agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž a de facilitar a pr‡tica de
qualquer dos dois crimes (contrabando
ou descaminho), seja por a‹o ou
omiss‹o.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige qualquer dolo
espec’fico (finalidade espec’fica da
conduta). N‹o se admite o crime na
forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva facilita‹o
para o crime, ainda que este œltimo
(contrabando ou descaminho) n‹o
venha a se consumar.26 Admite-se a
tentativa quando a conduta do agente na
facilita‹o for ativa (a‹o), pois se pode
fracionar a execu‹o do crime em v‡rios
atos.
CUIDADO! A reda‹o do tipo penal fala em Òart. 334Ó porque
anteriormente os delitos de contrabando e descaminho faziam parte do
mesmo tipo penal (art. 334). Atualmente o contrabando foi
deslocado para o art. 334-A. Contudo, n‹o me parece que o
																																																													
25 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 129
26 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 131
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funcion‡rio que facilite a pr‡tica do contrabando v‡ ficar impune, ele ir‡
continuar respondendo pelo crime do art. 318, eis que o tipo penal fala
claramente em Òcontrabando ou descaminhoÓ. Apenas a referncia ao
art. 334 Ž que passou a estar incompleta.
1.9. Prevarica‹o, prevarica‹o impr—pria e condescendncia
criminosa
O crime de prevarica‹o Ž tipificado no art. 319 do CP, que diz:
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de of’cio, ou
pratic‡-lo contra disposi‹o expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, e multa.
BEM JURêDICO TUTELADO A moralidade na administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico. ƒ
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica
TIPO OBJETIVO A conduta Ž retardar ou deixar de
praticar ato de of’cio, ou, ainda, pratic‡-
lo contra disposi‹o expressa da lei.
TIPO SUBJETIVO Dolo. Exige-se que o agente pratique o
crime para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal (dolo
espec’fico). N‹o se admite o crime na
forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta. Admite-se a tentativa quando a
conduta do agente puder ser fracionada,
como na hip—tese de pratic‡-lo contra
disposi‹o expressa da lei. Na
hip—tese, por exemplo, de deixar de
praticar, por n‹o poder se fracionar a
conduta, n‹o cabe a tentativa.27
																																																													
27 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 743. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 140
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Este crime n‹o deve ser confundido com a corrup‹o passiva
privilegiada, na qual o agente deixa de praticar ato de of’cio ou pratica
ato indevido atendendo a pedido de terceiros. Aqui, o agente faz por
conta pr—prio, para satisfazer interesse pr—prio.
LEMBREM-SE:
FAVORZINHO GRATUITO = CORRUP‚ÌO PASSIVA
PRIVILEGIADA
SATISFA‚ÌO DE INTERESSE PRîPRIO = PREVARICA‚ÌO
Existe, ainda, uma modalidade espec’fica de prevarica‹o, que Ž a
prevista no art. 319-A, inserido recentemente pela Lei 11.466/07:
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenci‡ria e/ou agente pœblico, de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telef™nico, de r‡dio ou
similar, que permita a comunica‹o com outros presos ou com o ambiente
externo: (Inclu’do pela Lei n¼ 11.466, de 2007).
Pena: deten‹o, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano.
Assim, nessa hip—tese, o crime n‹o Ž o de prevarica‹o comum, mas
sim a espŽcie pr—pria de prevarica‹o prevista no art. 319-A do CP,
chamada pela Doutrina de prevarica‹o impr—pria.
Nessa hip—tese, diferentemente da prevarica‹o comum (ou
pr—pria), n‹o se exige dolo espec’fico (finalidade especial de
agir).28 Cuidado com isso! A Doutrina n‹o admite, ainda, a tentativa
nesta hip—tese, pois a lei prev apenas uma conduta omissiva pr—pria,
n‹o havendo possibilidade de fracionamento da conduta.
TambŽm n‹o se deve confundir o crime de prevarica‹o com o crime
de condescendncia criminosa. Nesse crime, o agente tambŽm deixa
de fazer algo a que estava obrigado em raz‹o da fun‹o, mas o faz por
indulgncia (sentimento de pena, de comisera‹o). Nos termos do art.
320 do CP:
Art. 320 - Deixar o funcion‡rio, por indulgncia, de responsabilizar
subordinado que cometeu infra‹o no exerc’cio do cargo ou, quando lhe falte
competncia, n‹o levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - deten‹o, de quinzedias a um ms, ou multa.
Se o chefe deixa de responsabilizar o subordinado por outro motivo
que n‹o seja a indulgncia (medo, frouxid‹o, negligncia, pouco caso,
etc.), o crime pode ser o de prevarica‹o ou o de corrup‹o passiva
privilegiada, a depender do caso. Cuidado com isso, povo!
CUIDADO! O tipo penal exige que o agente seja hierarquicamente
superior ao outro funcion‡rio29, aquele que cometeu a falta funcional.
Existe certa divergncia doutrin‡ria quanto a isso, mas a posi‹o
																																																													
28 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 146
29 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 148. CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 746
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predominante Ž de que, de fato, o agente deve ser hierarquicamente
superior. Assim, se um funcion‡rio pœblico toma conhecimento de que
seu colega praticou uma infra‹o funcional e nada faz a respeito, NÌO
PRATICA ESTE CRIME.
ƒ imposs’vel a tentativa no crime de condescendncia criminosa, pois
se trata de crime omissivo puro.
(FGV Ð X EXAME UNIFICADO DA OAB)
Coriolano, objetivando proteger seu amigo Romualdo, n‹o
obedeceu ˆ requisi‹o do Promotor de Justia no sentido de
determinar a instaura‹o de inquŽrito policial para apurar
eventual pr‡tica de conduta criminosa por parte de Romualdo.
Nesse caso, Ž correto afirmar que Coriolano praticou crime de
A) desobedincia (Art. 330, do CP).
B) prevarica‹o (Art. 319, do CP).
C) corrup‹o passiva (Art. 317, do CP).
D) crime de advocacia administrativa (Art. 321, do CP).
COMENTçRIOS: No caso em tela, Coriolano deixou de praticar ato que
deveria praticar, em raz‹o de normativo legal expresso, para satisfazer
sentimento pessoal. Assim, praticou o delito do art. 319 do CP, ou seja, o
crime de prevarica‹o. Vejamos:
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de of’cio, ou
pratic‡-lo contra disposi‹o expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, e multa.
N‹o h‡ que se falar em desobedincia, pois o crime de desobedincia
deve ser praticado por um particular em rela‹o ˆ ORDEM de funcion‡rio
pœblico.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.
1.10. Advocacia administrativa
Est‡ previsto no art. 321 do CP:
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a
administra‹o pœblica, valendo-se da qualidade de funcion‡rio:
Pena - deten‹o, de um a trs meses, ou multa.
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BEM JURêDICO TUTELADO A moralidade na administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico. ƒ
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica
TIPO OBJETIVO A conduta Ž patrocinar interesse
privado perante a administra‹o
pœblica. O agente deva se valer das
facilidades que a sua condi‹o de
funcion‡rio pœblico lhe proporciona30.
Entende-se, ainda, que o agente deve
praticar a conduta em prol de um
terceiro.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige especial fim de agir.
N‹o se admite o crime na forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta. Admite-se a tentativa
quando a conduta do agente puder
ser fracionada, como na hip—tese
pr‡tica da conduta mediante
correspondncia ou outro ato escrito que
n‹o tenha chegado ao conhecimento do
destinat‡rio. No entanto, alguns
entendem que nesse caso o crime foi
consumado.
A lei prev, ainda, uma espŽcie de qualificadora, ao estabelecer
que, se o interesse patrocinado n‹o Ž leg’timo, a pena ser‡ mais
grave. Nos termos do ¤ œnico do CP:
Par‡grafo œnico - Se o interesse Ž ileg’timo:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, alŽm da multa.
Assim:
Interesse leg’timo Ð Crime de advocacia administrativa na forma
simples
Interesse ileg’timo Ð Crime de advocacia administrativa na forma
																																																													
30 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 155
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qualificada.
1.11. Violncia arbitr‡ria
ƒ o delito tipificado no art. 322 do CP:
Art. 322 - Praticar violncia, no exerc’cio de fun‹o ou a pretexto de exerc-
la:
Pena - deten‹o, de seis meses a trs anos, alŽm da pena correspondente ˆ
violncia.
Parte da Doutrina e da Jurisprudncia entendem ter sido este artigo
revogado pela Lei 4.898/65.31 No entanto, existem decis›es no ‰mbito
do STJ e do STF reconhecendo a plena vigncia deste artigo.32
BEM JURêDICO TUTELADO O regular desenvolvimento das
atividades da administra‹o pœblica e a
integridade f’sica de eventual particular
lesado pela conduta.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico. ƒ
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica, e,
secundariamente, o particular.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž praticar violncia no
exerc’cio da fun‹o, ou em raz‹o dela.
Logo, n‹o se exige que o agente esteja
em hor‡rio de trabalho, ou dentro da
reparti‹o, desde que a violncia ocorra
em raz‹o da fun‹o do agente.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige especial fim de agir.
Parte da Doutrina, no entanto, entende
que deve haver a finalidade especial de
pretender abusar de sua autoridade
(entendimento minorit‡rio). N‹o se
																																																													
31 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 160
32 (...) 1. O crime de violncia arbitr‡ria n‹o foi revogado pelo disposto no artigo 3¼, al’nea "i", da
Lei de Abuso de Autoridade. Precedentes da Suprema Corte.
2. Ordem denegada.
(HC 48.083/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/11/2007, DJe
07/04/2008)
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admite o crime na forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta. A tentativa Ž plenamente
poss’vel.
Atente-se para o fato de que, alŽm da pena aplicada em raz‹o deste
crime, o agente responde tambŽm pelas penas decorrentes das les›es
corporais que causar, ou atŽ mesmo pela morte da v’tima.
1.12. Abandono de fun‹o
Assim disp›e o art. 323 do CP:
Art. 323 - Abandonar cargo pœblico, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - deten‹o, de quinze dias a um ms, ou multa.
¤ 1¼ - Se do fato resulta preju’zo pœblico:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, e multa.
¤ 2¼ - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - deten‹o, de um a trs anos, e multa.
BEM JURêDICO TUTELADO O regular desenvolvimento das
atividades da administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
Aqui a Doutrina entende que o conceito
de funcion‡rio pœblico Ž restrito33, s—
podendo ser praticado este crime
pelo ocupante de cargo pœblico. ƒ
plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, desde que este particular
tenha conhecimentoda condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž abandonar o cargo. A
defini‹o do que seria abandono do
cargo (por quantos dias, em que
situa›es, etc.), dever‡ ser extra’da do
estatuto ao qual o servidor esteja
vinculado. No entanto, a Doutrina
entende que o exerc’cio do direito de
																																																													
33 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 168/169. CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 754
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Greve n‹o pode ensejar este crime.
Parte da Doutrina entende, ainda, que
pode ocorrer o abandono se o
servidor, ainda que comparea ˆ
reparti‹o, se recuse a trabalhar.34
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige especial fim de agir.
N‹o se admite o crime na forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta. A Doutrina n‹o admite a
tentativa.
O CP estabeleceu, ainda, duas qualificadoras, previstas nos ¤¤ 1¡ e
2¡, quando do fato resultar algum preju’zo ˆ administra‹o
pœblica e quando o fato ocorrer em faixa de fronteira:
¤ 1¼ - Se do fato resulta preju’zo pœblico:
Pena - deten‹o, de trs meses a um ano, e multa.
¤ 2¼ - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - deten‹o, de um a trs anos, e multa.
Entende-se por faixa de fronteira a extens‹o de 150 km de largura
ao longo das fronteiras terrestres, nos termos do art. 20, ¤ 2¡ da
Constitui‹o).
1.13. Exerc’cio funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
Aqui, trata-se de hip—tese na qual o agente est‡ para se tornar
servidor pœblico, ou j‡ deixou de s-lo, e mesmo assim exerce as
fun›es ˆs quais est‡ impedido de exercer, seja porque ainda n‹o tomou
posse, seja porque j‡ foi desligado do servio pœblico. Nos termos do art.
324 do CP:
Art. 324 - Entrar no exerc’cio de fun‹o pœblica antes de satisfeitas as
exigncias legais, ou continuar a exerc-la, sem autoriza‹o, depois de saber
oficialmente que foi exonerado, removido, substitu’do ou suspenso:
Pena - deten‹o, de quinze dias a um ms, ou multa.
BEM JURêDICO TUTELADO O regular desenvolvimento das
atividades da administra‹o pœblica.
																																																													
34 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 169. Bitencourt sustenta a tese de que o cargo dever‡
ficar acŽfalo, ou seja, desocupado. Se h‡ algum substituto para ocupar o cargo, o delito n‹o
estaria caracterizado (posi‹o do prof. BITENCOURT). A doutrina majorit‡ria n‹o defende esta
tese.
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SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico.
Contudo, Ž bom frisar que na
modalidade de exerc’cio ilegalmente
antecipado antes da posse (mas depois
da nomea‹o) e na modalidade de
exerc’cio prolongado ap—s exonera‹o
(ou demiss‹o), o sujeito n‹o Ž mais
funcion‡rio pœblico, embora esteja direta
ou indiretamente ligado ˆ
administra‹o.35 Se o agente n‹o
possui qualquer v’nculo, comete o
crime de usurpa‹o de fun‹o
pœblica, previsto no art. 328 do CP36.
ƒ plenamente poss’vel o concurso de
pessoas, desde que este particular
tenha conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž exercer a fun‹o pœblica,
sem autoriza‹o (elemento normativo do
tipo), antes de satisfeitas as exigncias
ou ap—s ter sido desligado da fun‹o
(por remo‹o, substitui‹o, exonera‹o,
etc.). Exige-se, ainda, que o agente
saiba que est‡ agindo nesta condi‹o.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige especial fim de agir.
N‹o se admite o crime na forma culposa.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta de exercer a atividade
indevidamente. A tentativa Ž
admiss’vel.37
1.14. Viola‹o de sigilo profissional
Est‡ previsto no art. 325 do CP:
Art. 325 - Revelar fato de que tem cincia em raz‹o do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revela‹o:
																																																													
35 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 175
36 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 756
37 Como exemplo, imagine-se o caso do agente que se apresente para trabalhar, mas seja
impedido pelo chefe da reparti‹o. CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 757
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Pena - deten‹o, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato n‹o constitui
crime mais grave.
BEM JURêDICO TUTELADO O sigilo das informa›es relativas ˆ
administra‹o pœblica.
SUJEITO ATIVO Trata-se de crime pr—prio, s— podendo
ser praticado pelo funcion‡rio pœblico
que possua o dever de manter a
informa‹o em sigilo. ƒ plenamente
poss’vel o concurso de pessoas, desde
que este particular tenha
conhecimento da condi‹o de
funcion‡rio pœblico do agente.
SUJEITO PASSIVO A administra‹o pœbica.
TIPO OBJETIVO A conduta Ž revelar ou facilitar a
revela‹o de fato sigiloso que o agente
tenha tomado conhecimento em raz‹o
do cargo. ƒ indiferente se o fato Ž
revelado a um particular ou a outro
servidor pœblico. ƒ imprescind’vel,
porŽm, que o fato tenha sido levado ao
conhecimento do agente em raz‹o da
sua fun‹o pœblica. Se a revela‹o do
segredo se der em rela‹o ˆ opera‹o ou
servio prestado por institui‹o
financeira, estaremos diante de crime
contra o sistema financeiro nacional,
previsto no art. 18 da Lei 7.492/8638.
TIPO SUBJETIVO Dolo. N‹o se exige especial fim de agir.
N‹o se admite o crime na forma culposa,
pois se exige que o agente tenha cincia
de que o fato Ž sigiloso.
CONSUMA‚ÌO E
TENTATIVA
Consuma-se com a efetiva realiza‹o da
conduta de revelar o segredo ou facilitar
sua revela‹o. A Doutrina admite a
tentativa, nas hip—teses em que se
puder fracionar a conduta do agente,
como na hip—tese de o agente enviar
carta a um terceiro revelando-lhe o
segredo39, e ser a carta interceptada por
outra pessoa, n‹o chegando ao
																																																													
38 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 759
39 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 185
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conhecimento do destinat‡rio.
O CP prev, ainda, uma forma equiparada do delito e outra forma,
qualificada. Nos termos dos ¤¤ 1¡ e 2¡ do art. 325 do CP:
¤ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Inclu’do pela Lei n¼
9.983, de 2000)
I - permite ou facilita, mediante atribui‹o, fornecimento e emprŽstimo de
senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas n‹o autorizadas a
sistemas de informa›es ou banco de dados da Administra‹o Pœblica;
(Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Inclu’do pela Lei n¼ 9.983,
de 2000)
¤ 2o Se da a‹o ou omiss‹o resulta dano ˆ Administra‹o Pœblica ou a
outrem: (Inclu’do pela Lei n¼ 9.983, de 2000)
Pena - reclus‹o, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Inclu’do pela Lei n¼
9.983, de 2000)
O art. 326 estabelece um crime aut™nomo, uma modalidade
especial de viola‹o de segredo funcional. ƒ a viola‹o de sigilo de
proposta licitat—ria. Nos termos do art. 326:
Art. 326 - Devassaro sigilo de proposta de concorrncia pœblica, ou
proporcionar a terceiro o ensejo de devass‡-lo:
Pena - Deten‹o, de trs meses a um ano, e multa.
Entretanto, este artigo fora revogado tacitamente pelo art. 94
da Lei 8.666/93, que tipifica a mesma conduta, entretanto,
estabelece pena mais grave (dois a trs anos de deten‹o, e
multa).40
	
2. CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A
ADMINISTRA‚ÌO EM GERAL
Estes crimes, assim como os crimes do cap’tulo anterior do CP, s‹o
crimes que possuem a administra‹o pœblica como sujeito passivo,
sempre, podendo haver, ainda, casos em que, eventualmente, algum
particular tambŽm seja sujeito passivo do crime.
Naqueles crimes, no entanto, exige-se que o sujeito ativo seja
funcion‡rio pœblico, e tenha se valido do cargo para praticar o delito.
Diz-se, portanto, que s‹o crimes pr—prios, embora seja admitido o
concurso de pessoas, respondendo o particular pelo delito, desde que
conhea a qualidade de funcion‡rio pœblico do agente.
																																																													
40 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 187
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Aqui, os crimes s‹o comuns, ou seja, podem ser praticados por
qualquer pessoa.
2.1. Usurpa‹o de fun‹o pœblica
Este crime est‡ previsto no art. 328 do CP:
Art. 328 - Usurpar o exerc’cio de fun‹o pœblica:
Pena - deten‹o, de trs meses a dois anos, e multa.
Aqui, diferentemente do que ocorre no crime de exerc’cio funcional
ilegal, o agente n‹o possui qualquer v’nculo com a administra‹o
pœblica ou, caso possua, suas fun›es s‹o absolutamente
estranhas ˆ fun‹o usurpada.41
CUIDADO! O funcion‡rio pœblico que exerce fun‹o na qual n‹o fora
investido comete este crime, pois nesse caso Ž considerado particular, j‡
que a conduta n‹o guarda qualquer rela‹o com sua fun‹o pœblica.
ƒ necess‡rio que o agente pratique atos inerentes ˆ fun‹o. N‹o
basta que apenas se apresente a terceiros como funcion‡rio
pœblico.42
A consuma‹o se d‡ quando o agente pratica qualquer ato inerente ˆ
fun‹o, e a tentativa Ž plenamente poss’vel, uma vez que se pode
fracionar o iter criminis do delito.
O ¤ œnico estabelece, ainda, uma forma qualificada do delito:
Par‡grafo œnico - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclus‹o, de dois a cinco anos, e multa.
A Doutrina entende que esta ÒvantagemÓ pode ser de qualquer
natureza, n‹o necessariamente uma vantagem financeira, podendo
ser, inclusive, um favor sexual, etc.43
2.2. Resistncia
Art. 329 - Opor-se ˆ execu‹o de ato legal, mediante violncia ou ameaa a
funcion‡rio competente para execut‡-lo ou a quem lhe esteja prestando
aux’lio:
Pena - deten‹o, de dois meses a dois anos.
																																																													
41 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 193
42 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 194
43 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 767
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A conduta punida Ž a resistncia comissiva (a‹o), ou seja, aquela
na qual o agente pratica uma conduta, qual seja, o emprego de violncia
ou ameaa ao funcion‡rio que ir‡ executar o ato legal.
Entende-se, ainda, que essa violncia deve ser contra o funcion‡rio
pœblico, n‹o contra coisas (chutar a viatura da pol’cia, por exemplo).44
Aquele que resiste ˆ pris‹o em raz‹o de estar sendo preso em
flagrante por crime que exige a violncia ou grave ameaa para sua
caracteriza‹o, n‹o responde por este crime, considerando-se a violncia
aqui empregada como mero desdobramento do crime principal (posi‹o
Doutrin‡ria).45
O ato deve ser legal, ou seja, deve estar fundamentado na Lei ou em
decis‹o judicial. Assim, a decis‹o judicial injusta pode ser ato legal. N‹o
pode o particular se rebelar contra ela desta maneira, pois o meio pr—prio
para isso Ž a via recursal. Entretanto, se a pris‹o, por exemplo, decorre
de uma sentena que n‹o a determinou, ou a determinou em face de
outra pessoa, o ato de pris‹o Ž ilegal, e a resistncia est‡ amparada por
uma causa de exclus‹o da ilicitude (ou da tipicidade, para alguns).46
E se o particular resistir ˆ pris‹o em flagrante executada por
um particular (atitude permitida pelo art. 301 do CPP)? Nesse caso,
n‹o pratica o crime em quest‹o, pois o particular n‹o Ž considerado
funcion‡rio pœblico47, n‹o podendo ser realizada analogia in malam
partem.
A tentativa sempre ser‡ poss’vel quando a resistncia puder se dar
mediante fracionamento da conduta. ƒ o caso da resistncia mediante
ameaa via carta.
Se o ato n‹o Ž executado, h‡ a figura do crime qualificado, nos
termos do ¤ 1¡:
¤ 1¼ - Se o ato, em raz‹o da resistncia, n‹o se executa:
Pena - reclus‹o, de um a trs anos.
AlŽm disso, o agente responde n‹o s— pelo crime de resistncia, mas
responde de maneira aut™noma pela violncia ou ameaa:
¤ 2¼ - As penas deste artigo s‹o aplic‡veis sem preju’zo das correspondentes
ˆ violncia.
2.3. Desobedincia
Est‡ tipificado no art. 330 do CP:
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcion‡rio pœblico:
																																																													
44 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 200
45 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 200
46 ƒ irrelevante se o ato Ž ou n‹o manifestamente ilegal. Basta que seja ilegal para que esteja
legitimada a resistncia. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 202/203
47 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 769
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Pena - deten‹o, de quinze dias a seis meses, e multa.
Aqui o agente deixa de fazer algo que lhe fora determinado ou faz
algo cuja absten‹o lhe fora imposta mediante ordem de funcion‡rio
pœblico competente. Trata-se, portanto, de crime omissivo ou comissivo,
a depender da conduta do agente.
Esse crime n‹o se configura quando o rŽu desobedece a
ordem que possa lhe incriminar, pois n‹o est‡ obrigado a
contribuir para sua incrimina‹o.48
A tentativa s— ser‡ admitida nas hip—teses de desobedincia
mediante atitude comissiva (a‹o).
Diversas Leis Especiais preveem tipos penais que
criminalizam condutas espec’ficas de desobedincia. Nesses
casos, aplica-se a legisla‹o especial, aplicando-se este artigo do CP
apenas quando n‹o houver lei espec’fica tipificando a conduta.
2.4. Desacato
Nos termos do art. 331 do CP:
Art. 331 - Desacatar funcion‡rio pœblico no exerc’cio da fun‹o ou em raz‹o
dela:
Pena - deten‹o, de seis meses a dois anos, ou multa.
ƒ ineg‡vel que haver‡ o crime quando o desacato partir de um
particular. Mas e se quem cometer o desacato for funcion‡rio
pœblico? Trs correntes existem:
¥ N‹o Ž poss’vel Ð A lei determina que somente o extraneus
(particular) pode cometer este delito, pois ele se encontra no
cap’tulo dos crimes praticados por particular;
¥ ƒ poss’vel, desde que o funcion‡rio desacate seu
superior hier‡rquico Ð Para esta corrente, se entre os
funcion‡rios n‹o h‡ rela‹o hier‡rquica, n‹o h‡ o crime em
quest‹o;
¥ ƒ poss’vel, em qualquer caso49 Ð Essa Ž a predominante50,
e entende que o funcion‡rio pœblico que desacata outro
funcion‡rio pœblico, Ž, neste momento, apenas mais um
																																																													
48 CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 774
49 (...) ƒ poss’vel a pr‡tica do crime de desacato por funcion‡rio pœblico contra pessoa no
exerc’cio de fun‹o pœblica, pois se trata de crime

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