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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL, PROBLEMA OU SOLUÇÃO? Tema volta a ser debatido após jovem de 19 anos ser assassinado na porta de sua casa por um menor de idade. estudante Victor Deppman de 19 anos foi assassinado em frente a sua casa ao voltar da faculdade, no interior de São Paulo. Após anunciado o assalto, o jovem entregou o aparelho celular, recebendo em troca um tiro na cabeça. Morreu na hora, perante seu pai, mãe e vizinhança. O atirador, um jovem de 17, anos na época, entregou-se um dia antes de completar 18 anos, sendo julgado assim como menor incapaz. O caso acima citado juntamente com outros crimes absurdos cometidos por menores ao longo dos anos e o aumento considerável da violência, têm causado revolta na sociedade, que quer segurança, paz e tranquilidade, e reclama da impunidade que acomete esses menores, já que passam no máximo 3 anos em unidades socioeducativas (de péssimas condições) onde os índices de reincidência são de aproximadamente 80% ao sair de lá, de acordo com dados da Prefeitura de São Paulo. Eis os fatores que trazem a tona novamente a questão da redução da maioridade penal, que foi estabelecida no Brasil em 1940, quando ainda era um país rural, com os índices de criminalidade envolvendo menores baixíssimos. Mas os tempos são outros, onde os crimes cometidos por menores aumentam cada vez mais deixando a população alarmada e pedindo atitudes dos governantes como a redução da idade penal. Mas seria esta a melhor solução? Esta não é uma resposta fácil uma vez que deve-se analisar os dois lados. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha em março deste ano, 93% dos paulistanos são a O favor da redução. Por outro lado, uma pequena parcela da população é contra, alegando que prender não é a solução, e que seria mais adequado investir em uma educação pública de qualidade, oferecendo maiores oportunidades a esses jovens para evitar sua entrada no mundo do crime. A citação acima pertence ao vereador de São Paulo, Ari Friedenbach, que é contra a redução da maioridade penal. Ele é pai de Liana Friedenbach, 16 anos, assassinada em 2003 em São Paulo, noutro crime que chocou o país e reacendeu o debate sobre a maioridade penal. Na época, ela e o namorado, Felipe, foram acampar em uma floresta na área e acabaram torturados e assassinados por um adolescente chamado Champinha, que teve a ajuda de outros homens. Depois do crime, o vereador disse que era a favor da redução da maioridade, mas mudou de ideia após estudar o assunto: "A criminalidade vai migrar para mais jovens ainda. Além disso, não podemos colocar esses jovens em sistemas penitenciários falidos, tornando impossível a recuperação deles. Defendo a responsabilização dos adolescentes que cometeram crimes hediondos. Eles devem passar por uma junta interdisciplinar", esclareceu. Compartilha da mesma opinião do vereador, o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Para o ministro, levar os jovens à prisão não vai ajudá-los a sair do crime: “Em hipótese alguma o governo apoia [a redução da maioridade penal]. Nós temos uma posição definitiva sobre essa questão. Eu acho uma ilusão que você reduzindo a idade penal vai resolver alguma coisa no país. Vai nos levar daqui a pouco a reduzir a idade penal para dez anos, porque os traficantes, os bandidos vão continuar usando o menor”, afirmou o ministro, que ainda pediu ajuda aos estados para a implantação de um programa a ser lançado pelo governo chamado Juventude Viva, “Que é exatamente um programa que previne, dá alternativa, sobretudo ao jovem negro da periferia, para que ele tenha alternativas que não seja o tráfico de drogas, que o tire do desemprego, que o tire da situação de marginalidade”, explicou o ministro. Todos sabem dos motivos que levam estes jovens a entrar no crime: vindo geralmente de classes baixas e convivendo com a pobreza, as drogas e a violência desde cedo, muitos se deixam levar, não vendo alternativa. Já outros, precisam ajudar a família, se sustentar, e sem encontrar outra forma acabam furtando para sobreviver, sendo iscas fáceis para serem usados pelos bandidos já que não podem ser presos. São estes “NÃO PODEMOS COLOCAR ESSES JOVENS EM SISTEMAS PENITENCIÁRIOS FALIDOS, TORNANDO IMPOSSÍVEL A RECUPERAÇÃO DELES.” (Ari Friedenbach – Pai de vítima) “A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL É UMA ILUSÃO.” (Gilberto Carvalho – Ministro) argumentos que usam os defensores dos direitos humanos que protegem estes jovens, alegando que a melhor saída não é a punição, e sim, o incentivo ao estudo, ao trabalho. Contudo, levando esse contexto em consideração, fica claro que não bastaria investir apenas no menor se não houvesse programas sociais que trabalhassem também com o restante da família. ÍNDICES DE CRIMES COMETIDOS POR MENORES HOJE INTERNADOS NA FUNDAÇÃO CASA DE SÃO PAULO A questão da criminalidade infanto- juvenil sempre foi um assunto muito delicado, e cada país tem sua própria forma de lidar com ele. A justiça dos EUA, por exemplo, chocou o mundo ao prender um garoto de apenas dois anos por levar um canivete suíço à escola (ele ganhou-o do pai e ia usar a colher para lanchar); na Índia, se uma criança furta algo, tem suas mãos cortadas, lá ainda é usada a Lei de Talião, o antigo princípio do “olho por olho, dente por dente”. Já no Brasil, os menores que mataram o menino João Hélio de apenas seis anos na cidade do Rio de Janeiro após roubar o carro em que ele estava com sua mãe, e arrastá-lo pelo asfalto por sete quilômetros, preso ao cinto de segurança, teoricamente cumpriram medidas socioeducativas e foram liberados pouco tempo depois. Em média, a idade penal nos países ao redor do mundo oscila entre os 14 e os 21 anos quando se trata de penas leves como furtos, e são julgados como adultos quando se trata de penas mais graves como roubo. Alguns países ainda como Alemanha, Portugal e Escócia também adotam uma faixa intermediária pós- maioridade, geralmente entre os 18 e 21 anos, em que pode haver atenuação das penas e possibilidade de julgamento pela justiça juvenil ou comum, dependendo do caso. Para o Comitê dos Direitos das Crianças da ONU, a maioridade deveria ocorrer apenas após os 18 anos alegando que anteriormente a isso o menor não tem discernimento. BASEANDO-SE NISSO, SERIA INTERESSANTE IMPLANTAR NO BRASIL UM SISTEMA QUE LEVASSE PARA AS INSTITUIÇÕES DE RECUPERAÇÃO OS JOVENS COM PENAS LEVES, COMO FURTO, E PARA O TRIBUNAL (PODENDO SER PRESOS CASO NECESSÁRIO) OS JOVENS COM PENAS MAIS GRAVES COMO HOMICÍDIO E LATROCÍNIO. ÍNDICES DE CRIMES COMETIDOS POR MENORES HOJE INTERNADOS NA FUNDAÇÃO CASA DE SÃO PAULO “AOS 16 ANOS, O JOVEM JÁ É CAPAZ DE ENTENDER O CARÁTER ILÍCITO DE UM ATO E ESCOLHER ENTRE PRATICÁ-LO OU NÃO.” (Kátia Mecler – Psiquiatra) Contrariando a tese do Comitê da ONU, a psiquiatra forense Kátia Mecler, afirma que a idade penal pode diminuir para 16 anos, uma vez que o jovem nesta idade já possui discernimento entre o certo e o errado: “Quando esse limite foi definido, há 70 anos, vivíamos uma época muito diferente. Hoje, o mundo é absolutamente permeadopela comunicação, por tecnologias avançadas, por estímulos intensos desde cedo e a gente percebe claramente que o desenvolvimento acelera também, ainda que a maturidade seja um processo longo, que pode durar uma vida inteira”, e acrescentou: “No próprio Brasil, em códigos penais anteriores, eram imputáveis jovens a partir de 14 anos. Já tivemos uma maioridade menor, elevamos o patamar e, talvez, seja a hora de reduzir um pouco”. Dispondo de opinião contrária, Ariel de Castro Alves, advogado especialista em Políticas de Segurança Pública afirmou em entrevista ao jornal Diário de São Paulo: “Com a redução, teremos criminosos profissionais, formados dentro de um sistema prisional arcaico e falido. Aumentaria a violência, já que a reincidência no sistema prisional brasileiro, conforme dados do Ministério da Justiça, é de 60%. Nas prisões brasileiras, temos 550 mil presos para 300 mil vagas. Em São Paulo, 100 mil vagas para 200 mil presos. Além da superlotação, há presença de facções criminosas, falta de atendimento de saúde, ausência de escolarização, trabalho, assistência jurídica e tantas outras mazelas. Tudo isso só aumentaria a violência, principalmente a juvenil.” Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a redução da maioridade penal não é possível, porque é inconstitucional. Ele demonstrou também ser favorável a discussões que levem à atualização do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele, entretanto, afirmou ser contrário à redução da maioridade penal. "O ECA representou um grande avanço, com medidas muito significativas. Mas claro, temos que abrir discussões permanentemente para refletir sobre ele, sobre o que deve avançar e o que não deve", defendeu o ministro. Debates a parte, verifica-se que as infrações cometidas por adolescentes aumentaram aproximadamente 80% em 12 anos, ao subir de 8 mil, em 2000, para 14,4 mil, em 2012 - diferentemente do que ocorre em relação aos crimes praticados por maiores de 18 anos, que vêm diminuindo na última década na cidade de São Paulo. Para o promotor de Justiça Thales de Oliveira, que atua na Vara da Infância e Juventude de São Paulo, essa situação evidencia a necessidade do endurecimento das punições a adolescentes. Segundo ele, sua experiência, somada a dados estatísticos, evidencia que, a partir de 16 anos, há um ingresso mais forte na criminalidade violenta, associada a práticas como latrocínio e “REDUZIR A MAIORIDADE PENAL SERIA DECRETAR A FALÊNCIA DO ESTADO.” (Ariel de Castro Alves – Advogado) homicídio: “Nas idades entre 13 e 15 anos os casos (de crimes mais violentos) ainda são exceção", acrescentou. Ele ressaltou que: “Eles são audaciosos, em parte por causa da idade, mas também porque são conscientes da imputabilidade e acabam sendo mais violentos do que os maiores de 18 anos", disse, citando dois casos de violência cometida por adolescentes que atendeu recentemente. "Há um mês atendi uma menina de 16 anos matou o próprio filho, de seis meses, de tanto que bateu na cabeça do bebê. Na semana passada, peguei um caso de um adolescente que matou o pai a facadas. Estamos vendo, no dia a dia, a repetição desses crimes graves cometidos por adolescentes", destacou. Em sua avaliação, o modelo atual, previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que determina a aplicação de medidas socioeducativas a jovens que praticam atos infracionais, leva a uma situação de "verdadeira impunidade". "Em grande parte dos crimes, quem o comete vai responder em meio aberto ou com liberdade assistida, sendo acompanhado por um assistente social, e ainda ter direito de participar de cursos profissionalizantes, configurando até uma espécie de favor que o Estado lhe presta", disse. Ele acrescentou que, mesmo quando é determinada a medida de internação, em que os adolescentes são privados de liberdade, o tempo máximo é três anos, com revisão obrigatória a cada seis meses. "Com isso, tem adolescente que fica na Fundação Casa por seis meses e já ganha sua liberdade. Trata-se de uma punição tão pequena e inócua que não posso chamá-la de uma verdadeira punição", enfatizou. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pretende apresentar ao Congresso um projeto para tornar mais rígido o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Uma das propostas é ampliar de três para oito anos o período de internação do menor infrator. Outra medida seria transferir os adolescentes infratores para prisões quando eles completassem 18 anos. Mas seria esta a melhor opção? Após expostas as mais diversas opiniões, de políticos a vítimas, e o Supremo Tribunal Federal declarar que reduzir a maioridade penal é inconstitucional uma vez que é uma cláusula pétrea de nossa constituição, é importante ressaltar que a redução da maioridade penal para dezesseis anos é algo inviável em nosso país, e mesmo que fosse possível, não resolveria o problema da violência urbana, onde embora crescente, o número de infrações cometidas por menores de dezoito anos só corresponde a 10% do total de crimes cometidos no Brasil segundo a “DIFERENTEMENTE DO QUE SE COSTUMA IMAGINAR, OS ADOLESCENTES INFRATORES NÃO SÃO APENAS USADOS POR QUADRILHAS CRIMINOSAS EM RAZÃO DE SUA INIMPUTABILIDADE, MAS JÁ ASSUMEM AS ORGANIZAÇÕES, LIDERANDO MUITAS DELAS.” (Thales de Oliveira – Promotor) Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Portanto a melhor alternativa seria investir nestes jovens e consequentemente em suas famílias, tirando-os assim do meio propício à violência e às drogas em que vivem. Concorda com esta tese a coordenadora do Instituto Undió Arte e Educação, Thereza Portes, que desenvolve ações ligadas à arte voltando-se para a ressocialização de jovens em bairros carentes de Belo Horizonte, que segundo ela, refletem uma realidade de exclusão, desigualdade e omissão do Estado e da família: “A gente percebe que quando eles têm uma oportunidade real, com possibilidade de dar novo significado à sua vida, agarram-se a ela. Não apenas os adolescentes infratores, mas também aqueles que, mesmo não estando em conflito com a lei, não têm sonhos, perspectivas de ir além", ressaltou. Posição semelhante defende Joci Aguiar, coordenadora-geral da Rede Acreana de Homens e Mulheres, que desenvolve ações de promoção de trabalho, renda e direitos com foco em adolescentes. Ela admite que observa diariamente que a proteção garantida pela legislação para menores de 18 anos, com o sistema de punição diferenciado do voltado a adultos, acaba sendo utilizada por facções criminosas que "contratam" esses jovens para praticarem os delitos, alertou. Ela acredita também que resgatar a cidadania de adolescentes, principalmente dos que vivem em comunidades de baixa renda com presença mais forte da criminalidade, é o caminho para resultados mais efetivos: "Muitos desses jovens entram para o crime motivados pela emoção, atraídos pela renda, já que são pagos para isso, ou então porque já são usuários de drogas, dependentes químicos, e convivem com a violência diariamente. Por isso, é preciso haver um investimento forte em ações anteriores a esse processo, que lhes permita visualizar um futuro diferente, com capacitação, geração de renda e oportunidades reais de inserção no mercado de trabalho", defendeu. Portanto, combase nas opiniões já expostas, é importante ressaltar a necessidade da atualização do ECA, bem como aumentar a qualidade das unidades socioeducativas, fazendo com que cumpram a finalidade as quais foram criadas, atendendo principalmente ao quesito da ressocialização dos jovens, evitando que voltem para a mesma realidade que saíram, mostrando que existe um mundo além daquela realidade aos quais estão acostumados, a do crime e das drogas. Baseando-se nos modelos estrangeiros, seria interessante ao Brasil que internasse nas instituições socioeducativas jovens mais novos e/ou com penas leves e nos casos mais graves, os jovens seriam julgados como adultos, "REDUZIR A MAIORIDADE PENAL, NO ENTANTO, NÃO RESOLVE O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA ASSOCIADA AOS MENORES DE 18 ANOS, PELO CONTRÁRIO, PODE ATÉ AUMENTAR PORQUE AS FACÇÕES VÃO UTILIZAR CADA VEZ MAIS CRIANÇAS DE MENOS IDADE E CONTRATAR MENINOS DE 11, 10, 9 ANOS." (Joci Aguiar) assumindo plenamente a responsabilidade do crime cometido. Desta forma, como diria o antigo ditado popular é melhor prevenir do que remediar. E a melhor forma de se obter resultados em relação aos jovens de baixa renda seria o investimento familiar, com ações desde acompanhamento materno e campanhas de planejamento familiar e contra o uso de drogas; capacitação e profissionalização para os pais destes jovens; auxílio moradia para as famílias com muitos membros e pouco espaço; programas de incentivo ao esporte, lazer e cultura entre outros; e principalmente escolas municipais e estaduais de qualidade; fazendo desta forma com que sejam efetivamente cumpridas as leis que constam no Estatuto da Criança e do Adolescente e da Constituição Federal. Por: Amanda Nazareth C. de Carvalho Estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Maranhão Publicado em: 09/08/2013
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