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ANAMNESE - ROTEIRO

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ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
 
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I. Anamnese: 
 
1. Identificação: 
o Nome Completo; 
o Idade; 
o Sexo; 
o Estado Civil; 
o Cor / Etnia; 
o Profissão Atual; 
o Profissão Anterior; 
o Naturalidade; 
o Residência Atual; 
o Residência Anterior; 
o Religião; 
o Nome da mãe / responsável / cuidador / 
acompanhante (caso o paciente esteja 
acompanhado). 
 
2. Queixa Principal: 
 
Trata-se de uma afirmação breve e espontânea, 
geralmente um sinal ou sintoma, transcrito com as 
próprias palavras do paciente, que descreve o motivo 
da consulta. Utilizam-se aspas para a citação. Deve-se 
evitar “rótulos diagnósticos”. 
Quando o paciente chega ao médico 
encaminhado por outro colega ou instituição médica, 
registra-se o motivo da consulta. 
 
Sugestão de Perguntas: 
o O que o(a) senhor(a) está sentindo? 
o Qual o motivo da sua consulta? 
o O que o(a) está incomodando? 
 
3. História da Doença Atual (HDA): 
 
A HDA é um registro cronológico e detalhado do 
motivo que levou o paciente a procurar assistência 
médica, desde o seu início até a data atual. 
 
Sintoma-guia: É o sintoma ou sinal que permite 
recompor a HDA com facilidade e precisão. Não é 
necessariamente o sintoma mais antigo, tampouco o 
mais realçado, mas estes fatos contam para a escolha. 
Em geral, utiliza-se a queixa de mais longa duração, o 
sintoma mais comum ou a queixa principal. 
 
Recomendações: 
o Permita ao paciente falar de sua doença; 
o Determine o sintoma-guia, descreva-o 
minuciosamente e use-o como fio condutor da 
história, estabelecendo as relações das outras 
queixas com ele, em ordem cronológica; 
o Não induza respostas; 
o Apure evolução, exames e tratamentos 
realizados em relação à doença atual; 
o Verifique se a história obtida tem começo, meio 
e fim; 
o Confirme a história com o paciente ao final do 
relato, usando vocabulário compatível com a 
realidade do paciente. 
 
IMPORTANTE: Evite ao máximo indicar diagnósticos 
durante a HDA. Expressões como “dor típica de 
infarto” não devem ser utilizadas por induzirem um 
diagnóstico antes do momento certo. 
 
Análise de um sintoma: 
o Início; 
- Fator(es) Desencadeante(s); 
o Duração; 
o Características (variam de acordo com o 
sintoma): Localização; Qualidade ou Tipo; 
Quantidade ou Intensidade; Relação com 
Funções Orgânicas; 
o Evolução: Modificações; Freqüência; 
Tratamento; Fatores de Alívio; Fatores de 
Agravo; 
o Manifestações Associadas: Buscar manifestações 
relacionadas anatomofuncionalmente com o 
sintoma; 
o Situação atual do sintoma. 
Obs.: A investigação pode ser feita para qualquer 
sintoma, mas, primeiramente, começa-se pelo 
sintoma-guia, buscando relacionar os demais sintomas 
com ele. 
 
IMPORTANTE: Não se esquecer que o sintoma deve 
ter início, meio e fim. 
 
Cada sintoma apresenta suas particularidades 
semiológicas que devem ser colhidas. Dois dos mais 
freqüentes sintomas são a febre e a dor, que devem 
ser analisados quanto: 
 
Febre: 
o Início (Súbito ou Gradual); 
o Intensidade (Grau); 
o Duração; 
o Modo de Evolução (Padrão; Freqüência); 
o Término (Em crise ou em lise). 
 
Dor: 
o Localização; 
o Irradiação; 
o Qualidade ou tipo; 
o Intensidade; 
o Início e Duração; 
o Evolução; 
o Relação com funções orgânicas; 
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o Fatores desencadeantes ou agravantes; 
o Fatores atenuantes; 
o Sinais e sintomas associados. 
 
Também devem ser incluídos na HDA: 
o Tratamento (Medicamento, via de 
administração, dose e freqüência de uso; 
o Exames Complementares (Tipo e data); 
o Sintomas ausentes (que sejam relevantes para 
um diagnóstico diferencial); 
o Doenças Crônicas relevantes para o quadro atual 
(diabetes, hipertensão). 
 
4. História Patológica Pregressa (HPP): 
 
É a investigação de patologias antecedentes, 
buscando organizá-las em ordem cronológica, se 
possível. 
 
o Doenças da infância com ou sem complicações 
(sarampo, caxumba, varicela*, rubéola, 
coqueluche); 
* Não usar a palavra “catapora” 
o Doenças em geral (Diabetes, hipertensão, AVC, 
cardiopatias, anemia, hipercolesterolemia, 
câncer, artrite, asma, bronquite, pneumonia, 
doença mental, epilepsia, hérnias, doenças 
renais, hemorróida, febre reumática, 
tuberculose, hepatite B, doença de chagas, 
difteria, poliomielite, escarlatina, tétano, 
meningite, malária, verminoses e doenças 
venéreas); 
o Internações e cirurgias (tipo, data, anestesia, 
transfusões, complicações, resultado); 
o Traumatismos (tipo, localização, data, 
complicações, seqüelas); 
o Alergias (Medicamentosa, alimentar, ambiental, 
química, animais); 
o Imunizações (Tétano, difteria, coqueluche, 
poliomielite, sarampo, rubéola, caxumba, gripe, 
hepatite B, Haemophilus influenzae do tipo B, 
vacina pneumocócica); 
o Exames laboratoriais realizados (Papanicolaou, 
mamografia, dosagens de colesterol - junto com 
resultado e data). 
 
5. História Fisiológica: 
o Gestação e Nascimento (Tipo de parto; 
classificação quanto idade gestacional; 
interferência de fórceps ou eutócito; 
complicações; aleitamento); 
o Desenvolvimento Psicomotor e crescimento 
(anotar a idade – dentição; engatinhar e andar; 
falar; desenvolvimento físico (peso e tamanho 
ao nascer – comparar com irmãos); APGAR; 
controle dos esfíncteres; aproveitamento 
escolar); 
o Desenvolvimento Sexual: 
- Menarca: Idade da 1ª menstruação; 
- Telarca: Idade do aparecimento das mamas; 
- Pubarca: Idade do aparecimento dos pêlos 
pubianos; 
- Adrenarca: Idade do aparecimento dos pêlos 
axilares; 
o Vida Sexual: 
- Sexarca: Idade da 1ª relação sexual; 
- Ativa / Inativa; 
- Freqüência; 
- Quantidade de parceiros; 
- Uso de preservativos e anticoncepcionais; 
- Orientação Sexual; 
o Ciclos Menstruais: 
- Menstruação mais recente; 
- Regularidade (Amenorréia, oligomenorréia, 
polimenorréia); 
- Volume (Menorragia, hipomenorréia). 
 
IMPORTANTE: 
o Amenorréia: Ausência de menstruação por 
mais de três meses. 
o Oligomenorréia: Ciclos menstruais mais longos. 
o Polimenorréia: Ciclos menstruais mais curtos. 
o Menorragia: Aumento da quantidade e duração 
do fluxo menstrual. 
o Hipomenorréia: Diminuição da quantidade e 
duração do fluxo menstrual. 
o Metrorragia: Sangramento entre os períodos 
menstruais. 
 
o História Gestacional (gestações, partos e 
abortos): 
- Utilizar a expressão: Gesta x para y, abortos z; 
onde x, y e z são os respectivos valores; 
- Aborto: Espontâneo ou Provocado? 
- Condições da gestação (idade, dieta, doenças, 
hemorragia, infecções, acidentes, drogas, 
tabagismo, alcoolismo); 
o Padrão das fezes e urina. 
 
6. História Familiar: 
 
Sugestão de Pergunta Inicial: “Seus pais são vivos e 
saudáveis?” 
 
o Mencionar estado de saúde de: pai, mãe, 
irmãos, filhos e cônjuge; 
o Mencionar óbitos na família, suas respectivas 
causas e data de ocorrência; 
o Presença ou ausência de: diabetes, hipertensão, 
cardiopatia, hipercolesterolemia, AVC, doença 
renal, doença tireoidiana, câncer (tipo 
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específico), artrite, tuberculose, asma ou 
pneumopatia, enxaqueca, distúrbios 
convulsivos, doença mental, suicídio, 
dependência química, alergias, sintomas 
semelhantes aos apresentados pelo paciente. 
 
IMPORTANTE: Em casos de suspeita de doença 
hereditária (hemofilia, anemia falciforme, rins 
policísticos, doenças metabólicas) deve-se realizar um 
levantamento genealógico mais rigoroso, incluindo 
avós e parentes próximos, e sempre indagar quanto a 
ocorrência de cruzamentos consangüíneos na família. 
 
7. História Social: 
 
Refere-se aos hábitos de vida do paciente, 
englobando alimentação, habitação, lazer, atividades 
físicas e outros hábitos. 
 
oEscolaridade; 
o Trabalho (Condições de trabalho; nível de 
satisfação; ocorrência de acidentes; riscos; 
insalubridade; uso de EPIs); 
o Condições de Moradia (Estrutura da habitação; 
água tratada; coleta de lixo; rede de esgoto; 
energia elétrica; nº de habitantes; nº de 
cômodos); 
o Alimentação* (Avaliação qualitativa e 
quantitativa); 
o Higiene (Quantidade de banhos e escovação dos 
dentes); 
o Atividades Físicas; 
o Padrões de Sono (Qualidade do sono, quantas 
horas dorme); 
o Relacionamento familiar e social; 
o Religião (se ainda não perguntado); 
o Uso de drogas (alcoolismo, tabagismo e drogas 
ilícitas); 
o Animais domésticos (vacinação); 
o Lazer; 
o Viagens; 
o Banhos de rio. 
 
Expressões de síntese alimentar: 
o “alimentação quantitativa e qualitativamente 
adequada”; 
o “déficit calórico global”; 
o “alimentação à base de carboidratos com 
déficit protéico”; 
o “consumo de calorias acima das necessidades”; 
o “alimentação com alto teor de gorduras”; 
o “reduzida ingestão de verduras e frutas”; 
o “alimentação puramente vegetariana”; 
o “alimentação láctea exclusiva”. 
 
8. Revisão dos Sistemas: 
 
A) Sintomas Gerais: Febre; astenia; alterações do 
peso; sudorese (hiperidrose, anidrose); calafrios; 
cãibras; claudicação intermitente; insônia. 
B) Pele e Fâneros: Alterações de coloração, 
textura, umidade, temperatura e sensibilidade; 
prurido; urticária; lesões; erupções; nódulos; 
feridas; máculas (manchas). 
C) Cabeça: Cefaléia; traumatismo; tonteira; 
vertigem; desmaio; convulsões; alopécia; 
tumorações. 
D) Olhos: Acuidade visual; miopia; hipermetropia; 
presbiopia; astigmatismo; uso de lentes de 
contato ou óculos; último exame; dor ocular; dor 
retroorbitária; vermelhidão; queimação ou 
ardência; lacrimejamento excessivo; 
ressecamento ocular; secreção ocular; 
escotomas; flashes de luz; glaucoma; catarata; 
fotofobia; exoftalmia; ptose palpebral; diplopia; 
estrabismo convergente; estrabismo divergente; 
nistagmo. 
E) Ouvido: Acuidade auditiva; hipocusia; acusia; 
uso de aparelhos auditivos; zumbido; otalgia; 
otite; otorréia; otorragia; 
F) Nariz e Seios Paranasais: Gripes freqüentes; 
prurido; espirros; rinorréia; congestão nasal; 
rinite alérgica; epistaxe; anosmia; hiposmia; 
cacosmia; parosmia; dor nos seios da face; 
G) Boca e Faringe: Polifagia; inapetência; perversão 
do apetite; sialose; halitose; aftas; gengivorragia; 
dor de dente; dor de garganta; disfagia; 
odinofagia; pigarro; roncos; rouquidão. 
H) Pescoço: Dor; nódulos; tumorações; bócio; 
adenomegalia; limitação de movimentos; 
turgência jugular. 
I) Mamas: Nódulos; Dor ou desconforto; secreção 
mamilar; auto-exame mamário; cirurgia. 
J) Sistema Respiratório: Dor; tosse (produtiva ou 
improdutiva); expectoração (volume, cor, odor, 
consistência); hemoptise; vômica; dispnéia; 
ortopnéia; chieira; cornagem; soluço; última 
radiografia de tórax (data e resultado). 
K) Sistema Cardiovascular: Hipertensão arterial; 
precordialgias (dor); desconforto torácico; 
palpitações; cianose; edema; varizes; fenômeno 
de Raynaud; ECG prévios (data e resultado). 
L) Sistema Gastrointestinal: disfagia; odinofagia; 
pirose; regurgitação; eructação; náuseas; 
vômitos; meteorismo; dispepsia; dor abdominal; 
plenitude pós-prandial; hematêmese; 
melenêmese; melena; enterorragia; 
hematoquezia; diarréia; esteatorréia; lioenteria; 
tenesmo; constipação; tipo das fezes e 
freqüência de evacuações; icterícia; prurido 
anal. 
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M) Sistema Urinário: Dor lombar; Poliúria; oligúria; 
anúria; polaciúria; nictúria; hematúria; disúria; 
redução da força ou do calibre do jato urinário; 
incontinência urinária; retenção urinária; 
gotejamento ao final da micção; cálculos renais. 
N) Sistema Genital Masculino: Lesões penianas; 
hérnia; secreção; úlceras; vesículas; nódulos; dor 
ou massas testiculares; hemospermia; 
priapismo; disfunção erétil; ejaculação precoce 
ou ausente; diminuição da libido; último PSA. 
O) Sistema Genital Feminino: Corrimento; prurido; 
feridas; nódulos; polimenorréia; oligomenorréia; 
amenorréia; menorragia (hipermenorréia); 
hipomenorréia; metrorragia; dismenorréia; 
fogachos; dispareunia; sinusiorragia; diminuição 
da libido; frigidez; anorgasmia. 
P) Sistema Musculoesquelético: Dor óssea; 
Mialgias; artralgias; artrite; artrose; limitação de 
movimentos; espasmos musculares; atrofia 
muscular; fraturas; lombalgia. 
Q) Sistema Nervoso: Desmaios; convulsões; 
paralisia; parestesias; perda de sensibilidade; 
tremores; automatismos; amnésia; disfonia; 
disartria; dislalia; disritmolalia; dislexia; disgrafia; 
afasia. 
R) Sistema Hemolinfopoiético: Anemia; 
hemorragias; petéquias; equimoses; 
hematomas; eritemas; transfusões. 
S) Sistema Endócrino: Nanismo; gigantismo; 
acromegalia; puberdade precoce; puberdade 
atrasada; ginecomastia; problemas tireoidianos; 
polifagia; polidipsia; poliúria. 
T) Exame Psíquico: Nervosismo; tensão; 
depressão; manias; alucinações; angústia; 
labilidade emocional; relacionamento; memória; 
inteligência; vontade. 
 
 
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II. Febre: 
 
Normalmente, o centro termorregulador do 
hipotálamo detecta alterações na temperatura do 
sangue regional, ativando ou inibindo mecanismos de 
conservação ou liberação de calor, de maneira a 
manter a temperatura corporal determinada pelo 
ponto de ajuste (“SET POINT”) do termostato 
hipotalâmico. 
 
Temperatura Normal: 
o Axilar – 35,5 a 37o C, com média de 36-36,5o C; 
o Oral – 36 a 37,4o C; 
o Retal – 36 a 37,8o C (mais próxima da 
temperatura central); 
o Variações comuns de temperatura: 
- A temperatura aumenta após a alimentação; 
- Pela tarde, a temperatura é 0,5o C superior; 
- Depois da ovulação, a temperatura é maior em 
cerca de 0,6o C. 
 
A febre é um sinal clínico que pode ser causado 
por distúrbios no próprio cérebro ou por substâncias 
tóxicas (pirogênios), que influenciam os centros 
termorreguladores do hipotálamo. 
O mecanismo da febre é desencadeado pela 
liberação no sangue de substâncias pirogênicas, 
capazes de elevar o SET POINT. Elevado o SET POINT, o 
hipotálamo inibe funções relacionadas à perda de calor 
e ativa funções relacionadas à conservação de calor, 
aumentando a temperatura corporal e mantendo-a no 
novo SET POINT. 
Ao que tudo indica, essas substâncias 
pirogênicas são citocinas produzidas por leucócitos, 
que, quando sensibilizados por substâncias bacterianas 
(pirogênios exógenos), vírus ou reações inflamatórias, 
as produzem e liberam na circulação. 
Nas células do endotélio hipotalâmico, as 
citocinas induzem a produção de prostaglandina E2, a 
partir do ácido araquidônico, que, por sua vez, atua no 
hipotálamo desencadeando a reação febril. 
 
Pirogênio Exógeno  Leucócitos  Citocinas 
Pirogênicas  Células do Endotélio Hipotalâmico  
PGE2   SET POINT  Hipotálamo  Vasoconstrição 
Periférica com desvio central de sangue / Contrações 
Musculares e  Metabolismo Hepático   
Temperatura Corporal 
 
Pirogênios: Substâncias de origem endógena ou 
exógena capazes de elevar o ponto de ajuste (“SET 
POINT”) do termostato hipotalâmico. 
o Pirogênios Endógenos: Interleucina-1 (IL-1); 
fator de necrose tumoral (TNF); α1-interferon; 
interleucina-6 (IL-6); interleucina-2 (IL-2); 
o Pirogênios Exógenos: Substâncias secretadas por 
bactérias (ex.: LPS). 
 
Febre X Hipertermia: 
Ao contrário do que ocorre na febre, não há 
alteração do SET POINT hipotalâmico na hipertermia. 
Assim, a temperatura corporal encontra-se acima da 
determinada pelo SET POINT, devido a uma produção 
excessiva de calor e/ou transferência de calor 
excessivo para o corpo. Mesmo com todos os 
mecanismos de perda de calor ativados,o organismo 
não consegue eliminar esse excesso. 
Como exemplos de hipertermia temos: 
o Intermação: Aumento da temperatura corporal 
por exposição exagerada a altas temperaturas; 
o Insolação: Aumento da temperatura corporal 
por exposição exagerada ao sol. 
Outras causas de hipertermia: choque térmico; 
indução por fármacos; hipertermia maligna (genética); 
síndrome neuroléptica maligna; síndrome 
serotoninérgica; endocrinopatias (hipertireoidismo, 
feocromocitoma); lesões do SNC. 
 
Síndrome Febril: A febre não é apenas um sinal, 
constituindo, na verdade, parte de uma síndrome 
(síndrome febril), caracterizada por: elevação da 
temperatura; astenia; inapetência; cefaléia; 
taquicardia; taquipnéia; taquisfigmia; oligúria; dor no 
corpo; calafrios; sudorese; náuseas; vômitos; delírio; 
confusão mental e até convulsões, principalmente em 
neonatos e crianças. 
 
Principais causas de febre: Infecções bacterianas, 
virais e outros parasitos; neoplasias malignas 
(linfomas, leucemia, carcinoma broncogênico); 
anemias hemolítica e púrpura; doenças hemorrágicas 
(púrpura trombocitopênica, hemofilia, escorbuto); 
reações inflamatórias; doenças autoimunes; 
medicamentos (ansiolíticos, diuréticos e 
anticonvulsivos). 
 
Sinal de Lenander: Quando a temperatura retal excede 
a axilar em 1o C ou mais. É um forte indicador de 
pelviperitonites. 
 
1. Características Semiológicas da Febre: 
 
Anamnese: 
o Início (Súbito ou Gradual); 
o Intensidade (Grau); 
o Duração; 
o Modo de Evolução (Padrão; Freqüência); 
o Término (Em crise ou em lise). 
 
Início: Súbito (Ex.: Malária); Gradual (Ex.: Gripe). 
 
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Intensidade (Grau): 
o Febre Leve ou Febrícula: até 37,5o C; 
o Febre Moderada: de 37,5 a 38,5o C; 
o Febre Alta ou Elevada: de 38,5 a 41,5o C; 
o Hiperpirexia: acima de 41,5o C – causa comum 
de convulsões em crianças. 
 
IMPORTANTE: Pacientes idosos, pacientes em mau 
estado geral e pacientes chocados podem não 
apresentar febre mesmo em quadros infecciosos. 
 
Duração: 
o Febre prolongada de origem obscura: Quando a 
febre perdura por 14 dias ou mais sem definição 
diagnóstica. Doenças que causam este tipo de 
febre: tuberculose, septicemia, malária, 
endocardite infecciosa, febre tifóide, 
colagenoses, linfomas e pielonefrite. 
 
Modo de Evolução: 
o Febre Contínua: Permanece sempre acima do 
normal (sem apirexia) com variações de até 1o C. 
Ex.: Febre tifóide, tuberculose, pneumonia, 
gripe. 
o Febre Irregular ou Séptica: Registram-se picos 
muito altos intercalados por temperaturas 
baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer 
caráter cíclico nestas variações. Ex.: Septicemia, 
abscessos pulmonares, empiema vesicular, 
tuberculose, e fase inicial da malária. 
o Febre Remitente: Permanece sempre acima do 
normal (sem apirexia) com variações maiores 
que 1o C. Ex.: Septicemia, tuberculose, 
pneumonia. 
o Febre Intermitente: Febre cíclica caracterizada 
por períodos de apirexia. Pode ser: diária, 
biquotidiana, terçã, quartã. 
o Febre Recorrente ou Ondulante: Caracteriza-se 
por período de temperatura elevada que dura 
dias ou semanas seguido de período de apirexia 
que também dura dias ou semanas. Ex.: 
Brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas. 
 
Término: 
o Em crise: com desaparecimento súbito. Ex.: 
Malária; 
o Em lise: com normalização gradual da 
temperatura. 
 
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III. Dor: 
 
Dor: Dor é uma desagradável experiência sensorial e 
emocional associada a uma lesão tecidual já existente 
ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse. 
 
A dor é o nosso mecanismo básico de defesa, 
pois: surge antes que ocorra uma lesão grave, como 
por ex.: quando se percebe um calor excessivo ou a 
pressão de um objeto cortante, a sensação dolorosa 
provoca o afastamento imediato do objeto fonte do 
estímulo. A dor serve como base para aprender a 
evitar objetos ou situações, impõe limites para a 
realização de atividades e induz o repouso, essenciais 
para a recuperação. 
 
1. Nocicepção: 
 
 Dor X Nocicepção: 
 
A dor é um sintoma subjetivo, que depende de 
três componentes: sensitivo-discriminativo; afetivo-
motivacional; cognitivo-avaliativo. 
A nocicepção, quando presente, é o 
componente objetivo da dor, ou seja, é o processo 
sensorial que provê sinais que desencadeiam a 
experiência da dor. 
Enquanto os nociceptores podem disparar de 
forma contínua e desenfreada, a dor, como 
experiência, pode surgir e desaparecer. O oposto 
também pode ocorrer, e a dor pode surgir sem 
nenhum estímulo nociceptivo. 
 
 Nociceptores: 
 
Os nociceptores são terminações nervosas de 
fibras C e Aδ. São ativados por estímulos que têm o 
potencial de causar lesão tecidual. Os estímulos 
capazes de causar lesão tecidual são: 
o Estimulação mecânica intensa: causa o 
estiramento da membrana do nociceptor, o que 
ativa canais mecanossensíveis, despolariza e 
gera potenciais de ação; 
o Lesão tecidual mecânica: libera proteases, ATP e 
K+ das células lesadas. As proteases quebram 
cininogênio em bradicinina, que ativa canais 
iônicos nos nociceptores. O ATP ativa 
diretamente canais iônicos. O [K+] despolariza 
diretamente as membranas dos nociceptores; 
o Deprivação de oxigênio:  Metabolismo 
anaeróbico, havendo acúmulo de H+ e abertura 
de canais iônicos nos nociceptores; 
o Exposição a produtos químicos: Provocam a 
degranulação de mastócitos com a liberação de 
histamina, que promove a despolarização da 
membrana do nociceptor. 
 
2. Componentes da Dor: 
 
 Componente Sensitivo-discriminativo: 
 
Corresponde ao mecanismo sensorial que 
desencadeia o processo da dor, caracterizado por um 
circuito elétrico com três mecanismos básicos: 
transdução, transmissão e modulação. 
 
Transdução: É o mecanismo de ativação dos 
nociceptores, fenômeno que se dá pela transformação 
de um estímulo nóxico (mecânico, térmico ou químico) 
em potencial de ação. 
o Ativação direta: K+, H+, cininas, serotonina, 
histamina; 
o Sensibilização: cininas, prostaglandinas, 
substância P; 
o Produção de extravasamento de plasma: 
substância P e cininas. 
 
Transmissão: É o conjunto de vias e mecanismos que 
permite que o impulso nervoso, gerado ao nível de 
nociceptores, seja conduzido para estruturas do SNC 
comprometidas com o reconhecimento da dor. 
 
Via Neoespinotalâmica: Responsável pela condução da 
dor aguda e bem localizada. 
o Neurônio I: Corpo celular no gânglio da raiz 
dorsal. Apresenta um prolongamento periférico, 
que termina como uma terminação nervosa livre 
(nociceptor), e um prolongamento central, que 
faz sinapse com o neurônio II (fibra de projeção) 
na coluna posterior do H medular. 
o Neurônio II: Corpo celular no corno posterior do 
H medular (lâmina I de Rexed). Seus axônios 
cruzam o plano mediano pela comissura branca 
e ascendem pelo funículo lateral do lado oposto 
com tracto espino-talâmico lateral. Une-se com 
o tracto espino-talâmico anterior ao nível da 
ponte, formando o lemnisco espinhal, que 
termina no tálamo (VPL) fazendo sinapse com o 
neurônio III. 
o Neurônio III: Corpo celular no núcleo ventral 
póstero-lateral do tálamo (VPL). Seus axônios 
formam radiações talâmicas, que se projetam 
para o giro pós-central (área somestésica I). 
 
Via Paleoespinotalâmica: Responsável pela condução 
do componente visceral da dor. Não é organizada 
somatotopicamente, e conduz um estímulo de dor 
pouco localizada, profunda e crônica. 
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o Neurônio I: Corpo celular no gânglio da raiz 
dorsal. Penetra na medula e faz sinapse com o 
neurônio II no corno posterior do H medular. 
o Neurônio II: Corpo celular na coluna posterior 
(lâminaV de Rexed). Seus axônios seguem do 
mesmo lado e do lado oposto e ascendem no 
funículo lateral, constituindo o tracto espino-
reticular (que acompanha o tracto espino-
talâmico lateral), e termina em sinapses com 
neurônios III da formação reticular. 
o Neurônio III: Corpo celular na formação 
reticular. Da formação reticular, partem fibras 
retículo-talâmicas que terminam nos núcleos 
intralaminares do tálamo. Pode haver mais de 
uma sinapse na formação reticular. 
o Neurônio IV (ou +): Corpo celular nos núcleos 
mediais e intralaminares do tálamo. Axônios 
projetam-se para diversas áreas do córtex 
cerebral, e não apenas para a área somestésica 
no giro pós-central. 
 
Obs.: Para abolir dores profundas de origem visceral, 
são necessárias cordotomias bilaterais, visto que parte 
das fibras não cruzam. 
 
Modulação: Capacidade de o SNC suprimir a sensação 
de dor quando conveniente. 
 
Teoria do Portão Espinhal: Segundo essa teoria, há um 
mecanismo espinhal de inibição da dor a partir de uma 
estimulação tátil local. Segundo essa teoria, a ativação 
de uma fibra Aβ estimula um interneurônio inibitório 
na substância gelatinosa da medula (lâmina II de 
Rexed), que, por sua vez, inibe o aferente secundário 
(neurônio de projeção) da via da dor, suprimindo os 
sinais provenientes das C e Aδ. 
 
Portão Alto da Dor: O encéfalo pode suprimir as 
aferências de sinais dolorosos para o sistema nervoso 
através da ativação do sistema de analgesia. Os 
núcleos periventriculares do hipotálamo ativam a 
substância cinzenta periaquedutal, que envia axônios 
para os núcleos magno da rafe e reticular 
paragigantocelular no bulbo, que, por sua vez, 
projetam axônios descendentes que vão aos cornos 
dorsais da medula e ativam interneurônios inibitórios, 
que deprimem a atividade dos aferentes secundários 
da via da dor. Nessa situação, detecta-se aumento da 
concentração de opióides endógenos no líquor. A 
analgesia pode ser revertida pela administração de 
naloxone (antagonista opióide). 
 
Obs.: A dor pode ser provocada tanto pela ativação das 
vias nociceptivas como pela lesão das vias 
modulatórias (supressoras), o que torna a dor 
semelhante a outras funções envolvidas na 
manutenção da homeostase, como a pressão arterial e 
a temperatura. 
 
Opióides naturais: β-endorfina (derivada da POMC); 
metencefalina; leuencefalina; dinorfina. 
 
Supressão Artificial da Dor: Pode ser feita pela 
administração de opióides artificiais (morfina) em 
regiões de modulação da dor (substância cinzenta 
periaquedutal, núcleos da rafe ou corno dorsal da 
medula). 
 
 Componente Afetivo-motivacional: 
 
É o responsável pelas manifestações 
neurovegetativas que acompanham a dor (vômitos, 
sudorese, náuseas e palidez), especialmente a dor 
visceral. 
 
 Componente Cognitivo-avaliativo: 
 
É o componente da dor que depende de 
experiências passadas e sofre influências sociais, 
culturais e religiosas. É o componente que confere 
individualidade às manifestações dolorosas. A 
intensidade da dor depende de uma série de fatores: 
intensidade do estímulo álgico; grau de atenção (a 
atenção acentua a dor); estado emocional (o medo, a 
apreensão e a ansiedade intensificam a dor); e 
aspectos culturais e religiosos. Assim, o mesmo 
estímulo doloroso pode ser considerado intenso por 
um indivíduo e leve por outro ou mesmo pelo mesmo 
indivíduo, quando submetido ao mesmo estímulo em 
circunstâncias distintas. 
 
3. Classificação Fisiopatológica da Dor: 
 
Dor nociceptiva: Deve-se à ativação dos nociceptores e 
à transmissão dos impulsos pelas vias nociceptivas até 
as regiões do SNC onde tais impulsos são 
interpretados. 
o Características: 
- Começa simultaneamente ao início da 
estimulação, a qual pode ser usualmente 
identificada; 
- A remoção do fator causal provoca alívio da 
dor; 
- Nenhum déficit sensitivo é identificado; 
- A distribuição corresponde a das fibras 
nociceptivas estimuladas; 
- Pode ser espontânea ou evocada (quando 
desencadeada por determinada atividade); 
- Pode ser localizada (dor somática superficial) 
ou difusa (dor somática profunda e dor visceral). 
 
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Dor neuropática: Decorre de lesão, de qualquer tipo, 
infligida ao SNP ou SNC. Também denominada: dor por 
injúria neural, dor por desaferentação (privação de um 
neurônio de suas aferências), dor central (quando 
secundária às lesões do SNC). 
o Características: 
- Pode começar simultaneamente à ação do 
fator causal, mas, mais freqüentemente, ocorre 
após dias, semanas, meses ou mesmo anos; 
- A remoção do fator causal usualmente não é 
possível, por não estar mais atuante ou por ser 
impossível interromper sua atuação; 
- A maioria apresenta déficit sensitivo no local 
exato da dor; 
- Pode ser espontânea (constante ou 
intermitente) ou evocada. 
 
Obs.: O componente constante da dor neuropática, ao 
contrário da dor nociceptiva, tende a ser agravado pela 
interrupção cirúrgica das vias da dor, pois tais 
procedimentos acentuam a desaferentação. 
 
Dor mista: Decorre dos dois mecanismos anteriores. 
Ocorre, por exemplo, em certos casos de dor por 
neoplasias malignas, quando a dor se deve tanto ao 
excessivo estímulo dos nociceptores quanto à 
destruição das fibras nociceptivas. 
 
Dor psicogênica: É uma dor de origem puramente 
psíquica, sem nenhum substrato orgânico. 
o Características: 
- Tende a ser difusa, generalizada e imprecisa. 
Quando localizada, a topografia tende a 
corresponder à da imagem corporal que o 
paciente tem da estrutura que julga doente, por 
exemplo, uma dor torácica paraesternal 
esquerda caso o paciente ache que o órgão 
acometido é o coração; 
- Muda de localização sem qualquer razão 
aparente; 
- Quando irradiada não segue o trajeto de 
qualquer nervo; 
- Intensidade variável e dependente das 
condições emocionais do paciente, embora ele 
negue; 
- É comumente descrita de forma dramática pelo 
paciente; 
- Relação do início da dor com um 
acontecimento negativo na vida do paciente; 
- Apresenta sinais e sintomas de depressão e 
ansiedade crônicas associados; 
Pacientes são neuroticamente fixados em sua 
dor, e utilizam-se de dezenas de medicamentos. 
 
4. Classificação Anatômica da Dor: 
 
Dor somática superficial: É a forma da dor nociceptiva 
decorrente da estimulação de nociceptores do 
tegumento. É bem localizada e de qualidade bem 
distinta (picada, pontada, rasgando, queimor), na 
dependência do estímulo aplicado. Sua intensidade é 
variável e, de certa forma, proporcional à intensidade 
do estímulo. 
 
Dor somática profunda: É a forma de dor nociceptiva 
conseqüente da estimulação de nociceptores dos 
músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulação. É 
uma dor difusa, de localização imprecisa, profunda, 
descrita como dolorimento. Sua intensidade é 
proporcional ao estímulo causal, mas, geralmente, 
mais leve que a dor somática superficial. 
 
Dor visceral: É a dor nociceptiva decorrente da 
estimulação dos nociceptores viscerais. É uma dor 
difusa, de difícil localização, profunda, descrita como 
dolorimento. Tende a acentuar-se com a solicitação 
funcional do órgão acometido. 
 
Dor referida: Sensação dolorosa superficial localizada a 
distância da estrutura profunda cuja estimulação 
nóxica é responsável pela dor. Obedece a distribuição 
dermatomérica. A explicação mais aceita para esse 
fenômeno é a convergência de impulsos dolorosos 
viscerais e somáticos para neurônios nociceptivos 
comuns no corno dorsal da medula (lâmina V de 
Rexed). Como os estímulos álgicos somáticos 
superficiais são muito mais comuns e apresentam 
maior representação cortical, o córtex está 
condicionado a interpretar estes estímulos como 
superficiais. 
o Dor na face medial do braço (T1) em pacientes 
com IAM; 
o Dor epigástrica ou periumbilical(T6-T10) na 
apendicite; 
o Dor no ombro (C4) em doença diafragmática ou 
irritação do nervo frênico. 
 
Dor irradiada: É a dor sentida a distância de sua 
origem, porém obrigatoriamente em estruturas 
inervadas pela raiz nervosa ou nervo cuja estimulação 
nóxica é responsável pela dor. 
 
5. Semiologia da Dor: 
 
Decálogo da Dor: 
o Localização; 
o Irradiação; 
o Qualidade ou tipo; 
o Intensidade; 
o Início e Duração; 
o Evolução; 
o Relação com funções orgânicas; 
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o Fatores desencadeantes ou agravantes; 
o Fatores atenuantes; 
o Sinais e sintomas associados. 
 
Localização: 
o Deve ser discriminada utilizando-se a 
nomenclatura das regiões da superfície corporal; 
o Registrar todas as localizações de dor, e estudá-
las semiologicamente em separado, mas não 
esquecer que dores distantes espacialmente e 
aparentemente sem relação entre si podem 
indicar uma única doença; 
o Avaliar a sensibilidade na área de distribuição da 
dor e adjacências. A presença de hipoestesia é 
indicativa de dor neuropática. Também são 
comuns hiperestesia e hiperalgesia. 
 
Irradiação: 
o Prestar muita atenção na distribuição 
dermatomérica; 
o É interessante mencionar que processos 
patológicos anteriores ou concomitantes, 
afetando estruturas inervadas por segmentos 
medulares adjacentes, aumentam a tendência 
para que a dor seja sentida em uma área servida 
por ambos os segmentos medulares, resultando 
em localização atípica da dor. Assim, uma dor 
anginosa pode irradiar-se para o epigástrio, em 
pacientes portadores de úlcera duodenal. 
 
Qualidade ou Tipo (Exemplos): 
o Dor latejante ou pulsátil – enxaqueca, abscessos 
e odontalgia; 
o Dor em choque – neuralgia do trigêmeo, 
lombociatalgia, cervicobraquialgia; 
o Dor em cólica – cólica nefrética, biliar, intestinal, 
menstrual; 
o Dor em queimação – úlcera péptica, esofagite de 
refluxo; 
o Dor em aperto (constrictiva) – angina de peito, 
IAM; 
o Dor em pontada – dor pleurítica; 
o Dor surda – doenças das vísceras maciças; 
o Dolor – dores musculares; 
o Dor em cãibra – afecções medulares, musculares 
e metabólicas. 
 
Intensidade: Utiliza-se uma escala virtual de 0 a 10 em 
que o paciente determina uma nota para a dor que 
sente. 
 
Duração: Além de caracterizar (aguda, subaguda, 
crônica) é fundamental quantificar. 
o Aguda: dor de início súbito que pode vir 
acompanhada de hiperatividade simpática; 
o Subaguda: dor que se desenvolve ao longo de 
horas, dias ou semanas; 
o Crônica: dor de duração superior a três meses. 
 
Evolução: Variações em localização, qualidade, 
intensidade, duração, freqüência. 
o Dor espontânea: 
- Constante; 
- Intermitente; 
o Dor evocada. 
 
Relação com funções orgânicas: 
o Dor cervical, dorsal ou lombar: pesquisar relação 
com os movimentos da coluna; 
o Dor torácica: pesquisar relação com respiração, 
movimentos do tórax, tosse, espirro e esforço 
físico; 
o Dor retroesternal: pesquisar relação com a 
deglutição, posição e esforço físico; 
o Dor periumbilical ou epigástrica: pesquisar 
relação com a alimentação; 
o Dor no hipocôndrio direito: pesquisar relação 
com a ingestão de alimentos gordurosos; 
o Dor no baixo ventre: pesquisar relação com a 
micção, evacuação, menstruação e relações 
sexuais. 
 
Sinais e sintomas associados: A dor é muitas vezes 
acompanhada de manifestações neurovegetativas, que 
se devem à estimulação do SNA pelos impulsos 
dolorosos, incluindo sudorese, palidez, taquicardia, 
hipertensão arterial, mal-estar, náuseas e vômitos. 
Além dessas manifestações, que por serem 
inespecíficas têm pouco valor diagnóstico, outras 
manifestações associadas à dor e relacionadas com a 
enfermidade são importantes para o diagnóstico, por 
exemplo: uma simples cefaléia, quando se acentua em 
decúbito e acompanha-se de vômitos em jato, náuseas 
e diplopia é característica de hipertensão 
intracraniana. 
 
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IV. Sinais Vitais: 
 
1. Pressão Arterial: 
 
Pressão arterial é a força exercida pelo sangue 
sobre as paredes dos vasos. É um parâmetro fisiológico 
indispensável na investigação diagnóstica, e o registro 
dos níveis pressóricos faz parte obrigatória do exame 
clínico. Analisaremos aqui a pressão arterial do ponto 
de vista semiológico, sendo indispensável o 
entendimento prévio das variáveis que a determinam 
e dos mecanismos envolvidos em sua regulação. A 
equação simplificada de cálculo da pressão arterial é: 
 
𝑃𝐴𝑚 = 𝐷𝐶 × 𝑅𝑉𝑃 
 
Onde DC é o débito cardíaco, 𝑃𝐴𝑚 é a pressão arterial 
média, e 𝑅𝑉𝑃 é a resistência vascular periférica. 
 
Note que a pressão arterial utilizada no cálculo é 
a pressão arterial média. 
A pressão arterial média é a média das pressões 
arteriais medidas a cada milissegundo durante certo 
intervalo de tempo. Ela não é igual à média aritmética 
entre as pressões sistólica e diastólica, porque a 
pressão arterial permanece mais próxima à diastólica 
que à sistólica durante a maior parte do ciclo cardíaco. 
Para cálculo aproximado, usa-se uma média 
ponderada das pressões sistólica e diastólica, 
admitindo-se peso 2 para a pressão diastólica. A 
pressão de pulso é justamente a diferença entre as 
pressões sistólica e diastólica. 
 
𝑃𝐴𝑚 =
2 ∙ 𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 + 𝑃𝑠𝑖𝑠𝑡
3
 
ou 
𝑃𝐴𝑚 = 𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 + 
𝑃𝑝𝑢𝑙𝑠𝑜
3
 
 
Agora que revisamos os conceitos de pressão 
arterial, vamos entender a semiotécnica de aferição da 
pressão arterial. 
 
SEMIOTÉCNICA: 
1º) Método Palpatório: Com o braço do paciente 
estendido ao nível do coração, palpa-se o pulso radial e 
infla-se o manguito gradualmente até que o pulso 
radial desapareça, sendo este nível de pressão a 
pressão sistólica. É sempre aconselhável a realização 
do método palpatório antes do método auscultatório, 
pois evita o desconforto decorrente de excessos 
desnecessários de pressão no manguito, e elimina os 
ocasionais erros gerados pelo hiato auscultatório. 
2º) Método Auscultatório: Utilizando-se a campânula 
(ou diafragma) do estetoscópio sobre a arterial 
braquial, infla-se o manguito até 30 mmHg acima da 
pressão sistólica determinada pelo método palpatório. 
Desinfla-se o manguito lentamente de maneira a 
registrar o nível de pressão em que os ruídos de 
Korotkoff começam a ser auscultados e o nível de 
pressão em que os mesmos desaparecem, sendo, 
respectivamente, a pressão sistólica e a pressão 
diastólica. 
 
Hiato auscultatório: É um intervalo durante o qual os 
sons de Korotkoff não são audíveis, pode aparecer 
entre as pressões sistólica e diastólica, durante a fase II 
dos ruídos de Korotkoff. Pode levar a uma 
subestimação da pressão sistólica e superestimação da 
diastólica. 
 
Diferença pressórica entre os membros superiores: A 
pressão arterial deve ser medida nos dois braços. Uma 
diferença de pressão acima de 10 a 15 mmHg sugere 
compressão ou obstrução arterial do lado de menor 
pressão. Possíveis causas: coarctação da aorta; 
síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar; doença 
vascular periférica. 
 
Diferença pressórica devido à posição corporal: Em 
pacientes que usam medicação anti-hipertensiva, 
apresentam histórico de desmaio, ou suspeita de 
hipovolemia ou hipotensão postural, mede-se a 
pressão arterial com o paciente em três posições 
(decúbito dorsal, sentado e de pé). Normalmente, a PA 
tende a cair quando o paciente passa de uma posição 
de decúbito para a uma posição mais verticalizada, 
mas essa queda é de poucos mmHg. Uma queda 
sistólica de 20 mmHg ou mais, principalmente quando 
acompanhada por sintomas, indica hipotensão 
ortostática (postural). 
 
Diferença pressórica entre os membros superiores e 
inferiores: Devido à ação da gravidade, normalmente,a pressão nos membros inferiores é cerca de 20 mmHg 
acima da pressão nos membros superiores. Quando a 
pressão nos membros superiores excede a pressão nos 
membros inferiores, a provável causa do fenômeno é 
uma obstrução ou compressão ao enchimento das 
artérias ilíacas a partir da aorta. Causas prováveis: 
coarctação da aorta; aneurisma dissecante de aorta; 
síndrome de Leriche (obstrução aterosclerótica na 
bifurcação aorto-ilíaca). 
 
 Sons de Korotkoff: 
 
SONS DE KOROTKOFF 
Fase Qualidade dos sons Base teórica 
I ou 
K1 
Som súbito, forte, 
bem definido, que 
aumenta em 
A pressão do manguito 
iguala-se a pressão 
sistólica, ocorrendo 
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intensidade passagem parcial da 
onda de pulso arterial. 
II ou 
K2 
Sucessão de sons 
soprosos, mais suaves 
e prolongados 
(qualidade de sopro 
intermitente) 
Decorre de mudança no 
calibre arterial (de 
estreito para mais largo) 
com criação de fluxo 
turbilhonado - o qual 
produz vibração do 
sangue (reverberação) e 
da parede arterial, 
produzindo sopros. 
III ou 
K3 
Desaparecimento dos 
sons soprosos e 
surgimento de sons 
mais nítidos e 
intensos (parecidos 
ao da fase I), que 
aumentam em 
intensidade. 
À medida que a pressão 
no manguito decresce, a 
artéria permanece 
aberta na sístole, mas 
permanece parcialmente 
fechada na telediástole 
(diástole tardia). 
IV ou 
K4 
Os sons tornam-se 
abruptamente mais 
suaves e abafados, 
são menos claros. 
A pressão do manguito 
aproxima-se da pressão 
diastólica, até igualar. 
V ou 
K5 
Desaparecimento 
completo dos sons 
A artéria permanece 
aberta durante todo o 
ciclo cardíaco. Pressão 
no manguito está abaixo 
da pressão diastólica. 
Tabela 1 – Sons de Korotkoff 
 
 
Figura 1 – Sons de Korotkoff 
 
 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): 
 
A hipertensão arterial é definida como uma 
condição fisiológica em que os níveis pressóricos são 
maiores ou iguais a 140 mmHg de pressão sistólica 
e/ou 90 mmHg de pressão diastólica. A HAS deve ser 
tratada como uma síndrome, e não somente como 
níveis pressóricos elevados. A avaliação da gravidade 
da hipertensão também deve incluir seus efeitos nos 
órgãos-alvo (olhos, coração, cérebro, rins e sistema 
vascular periférico). 
 
Classificação da PA Sistólica Diastólica 
Normal (ideal) <120 <80 
Pré-hipertensão 120-139 80-89 
Hipertensão I (Leve) 140-159 90-99 
Hipertensão II (Moderada) 160-179 100-109 
Hipertensão III (Grave) ≥ 180 ≥ 110 
Hipertensão Sistólica Isolada ≥ 140 < 80 
Tabela 2 – Classificação da PA 
 
ETIOLOGIA: 
Hipertensão primária (essencial): Genética, estresse, 
obesidade, dieta, hábitos, sedentarismo. 
Hipertensão secundaria: Medicação (contraceptivos, 
descongestionantes nasais, glicocorticóides); renais 
(doença renal parenquimatosa, estenose de artéria 
renal); aterosclerose; coarctação de Aorta; endócrinas 
(síndrome de Cushing, hiperaldosteronismo, 
feocromocitoma). 
Hipertensão Sistólica Isolada: Esclerose, calcificação e 
endurecimento da artéria braquial podem levar ao 
aparecimento de “pseudo-hipertensão”, condição em 
que os valores reais da pressão arterial (especialmente 
a sistólica) são menores que os obtidos pelo 
esfigmomanômetro. Essa condição está presente nos 
idosos. 
 
 Outras alterações pressóricas: 
 
Pressão diastólica esperada: Sabendo-se a pressão 
sistólica, podemos calcular o valor esperado de uma 
pressão diastólica normal. Uma pressão diastólica 
maior que a esperada indica pressão convergente, e 
menor indica pressão divergente. 
 
𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 = 
𝑃𝑠𝑖𝑠𝑡
3 + (𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 10 − 20 𝑚𝑚𝐻𝑔) 
 
Pressão Convergente: Pressão diastólica maior que a 
esperada para o valor de pressão sistólica. 
o Causas: Hipovolemia; estenose aórtica; derrame 
pericárdico; pericardite constrictiva; 
insuficiência cardíaca grave. 
 
Pressão Divergente: Pressão diastólica menor que a 
esperada para o valor de pressão sistólica. 
o Causas: Síndromes hipercinéticas (febre, 
hipertireoidismo, insuficiência aórtica, fístula 
arteriovenosa); fibrose senil de grandes vasos 
(pseudo-hipertensão). 
 
Pulso Alternante: Embora seja uma característica do 
pulso, pode ser pesquisado durante a medida de 
pressão arterial. Ao desinflar o manguito, durante a 
fase 1 de Korotkoff, deve-se atentar pela presença de 
alternância de um ruído forte e um fraco. O fenômeno 
também é perceptível na palpação do pulso radial com 
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o manguito insuflado ao nível da pressão sistólica. 
Trata-se de um sinal de insuficiência ventricular 
esquerda (IVE). 
 
Pulso Paradoxal: Assim como o pulso alternante, 
também pode ser pesquisado medindo-se a pressão 
arterial pelo método auscultatório. Nota-se uma 
diminuição na amplitude dos ruídos durante a 
inspiração forçada. Trata-se de um sinal de 
tamponamento cardíaco, podendo ser causado por 
pericardite constrictiva, derrame pericárdico volumoso 
e enfisema pulmonar (pela hiperinsuflação pulmonar). 
 
2. Pulso Arterial: 
 
O exame dos pulsos arteriais permite contar a 
frequência cardíaca e determinar seu ritmo, avaliar a 
amplitude e o contorno da onda de pulso e, às vezes, 
detectar obstruções ao fluxo sanguíneo. Devemos, 
portanto, ao palpar os pulsos analisar: 
o Frequência; 
o Ritmo; 
o Amplitude; 
o Tensão; 
o Estado da Parede Arterial; 
o Tipos de Onda de Pulso. 
Deve-se também comparar as artérias 
homólogas quanto à frequência e à amplitude dos 
pulsos: isocronicidade e simetria, respectivamente. 
 
SEMIOTÉCNICA: 
Para avaliação do pulso periférico usa-se, 
normalmente, a artéria radial, situada entre o processo 
estilóide do rádio e o tendão dos flexores. Para palpá-
la empregam-se as polpas digitais dos dedos indicador 
e médio, variando a força de compressão até obter-se 
impulso máximo. O polegar se fixa delicadamente no 
dorso do punho do paciente. O examinador usa a mão 
direita para examinar o pulso esquerdo do paciente, e 
vice-versa. 
 
Frequência: A frequência de pulso é normalmente 
igual à frequência cardíaca. 
o Taquisfigmia (Taquicardia) – Pulso rápido, acima 
de 100 bpm; 
o Bradisfigmia (Bradicardia) – Pulso lento, abaixo 
de 60 bpm. 
Obs.: Nem sempre a frequência do pulso periférico 
acompanha a frequência cardíaca. A condição em que 
a frequência cardíaca é maior que a frequência de 
pulso é chamada déficit de pulso. Decorre do fato de 
algumas contrações ventriculares serem ineficazes, 
isto é, não impulsionarem sangue para a aorta, ipso 
facto, não determinando onda de pulso. Causas 
comuns de déficit de pulso são: extra-sistolia 
ventricular e fibrilação atrial. 
 
Ritmo: Trata-se da regularidade dos intervalos entre as 
ondas de pulso. 
o Regular (Rítmico) – Cuja frequência é constante; 
o Irregular (Arrítmico) – Cuja frequência é variável. 
Causas: Arritmia sinusal; extra-sistolia 
ventricular; fibrilação atrial; bloqueio átrio-
ventricular de 2º grau. 
 
Amplitude: Relacionada com o grau de enchimento da 
artéria durante a sístole e seu esvaziamento durante a 
diástole. 
o Amplo (Magnus) – Causa: Síndromes 
hipercinéticas (febre, hipertireoidismo, 
insuficiência aórtica, fístula arteriovenosa); 
o Normal; 
o Pequeno (Parvus) – Causa: Estenose aórtica; 
hipovolemia; insuficiência cardíaca grave. 
 
Tensão: Avalia-se a tensão como a resistência da 
artéria à compressão externa com interrupção de 
fluxo. 
o Duro – compressão exige maior pressão externa. 
Causas: hipertensão arterial; 
o Normal; 
o Mole – de fácil compressão. Causas: 
hipovolemia; choque; insuficiência cardíaca 
grave. 
 
Estado da Parede Arterial: avaliação da presença de 
anormalidades na parede arterial, como: 
endurecimento, tortuosidade,irregularidade da 
superfície. 
o Artéria em “traquéia de passarinho” – artéria 
com parede endurecida, irregular e tortuosa. É 
sinal de uma vasculopatia (mediosclerose de 
Mönckeberg). 
 
Manobra de Osler: Palpação da artéria radial (sem 
pulsação) mesmo após a insuflação do manguito acima 
da pressão sistólica, por rigidez aterosclerótica da 
parede arterial. É sinal de pseudo-hipertensão arterial 
(fibrose senil de grandes vasos). 
 
Simetria e Isocronicidade: Diferenças quanto à 
amplitude e à frequência dos pulsos em artérias 
homólogas traduzem uma possível obstrução ou 
compressão da artéria de menor amplitude e 
frequência, sendo possíveis causas: coarctação da 
aorta; síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar; doença 
vascular periférica. 
 
Além do pulso radial, comumente usado para 
avaliar a frequência cardíaca, devemos analisar a 
presença de outros pulsos periféricos, como forma de 
avaliar a perfusão dos segmentos corporais: 
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o Pulso Temporal Superficial; 
o Pulso Facial; 
o Pulso Angular; 
o Pulso Carotídeo; 
o Pulso Axilar; 
o Pulso Braquial; 
o Pulso Femoral – entre os terços medial e 
intermédio do ligamento inguinal; 
o Pulso Poplíteo – figura 2; 
o Pulso Pedioso – figura 3; 
o Pulso Tibial Posterior – em posição 
retromaleolar medial, figura 4. 
 
 
Figura 2 – Pulso Poplíteo 
 
 
Figura 3 - Pulso Pedioso 
 
 
Figura 4 – Pulso Tibial Posterior 
 
 Tipos de Onda de Pulso Arterial: 
 
Ondas de Pulso Normais: Apresentam pressão de 
pulso entre 30 e 40 mmHg. Contorno regular e 
arredondado, com entalhe impalpável. 
 
 
Pulso Parvus e Tardus: Pulso de pequena amplitude e 
prolongado. 
o Causas: Estenose aórtica; hipovolemia; 
insuficiência cardíaca grave; exposição ao frio. 
 
 
Pulso Célere ou Martelo d’água: Aparece e some com 
rapidez. Pressão de pulso bastante aumentada. 
o Causas: Síndromes hipercinéticas (febre, 
hipertireoidismo, insuficiência aórtica, fístula 
arteriovenosa, anemias graves, canal arterial 
patente). 
 
 
Pulso Bisferiens: Pulso arterial de amplitude 
aumentada com duplo pico sistólico. 
o Causas: cardiomiopatia hipertrófica; dupla lesão 
aórtica (estenose + insuficiência); insuficiência 
aórtica. 
 
 
Pulso Bigeminado: Pulso que apresenta alternância 
entre uma onda normal e uma extra-sístole (de menor 
amplitude que a onda precedente), que se soma a 
onda precedente. 
o Causas: Extra-sístoles supraventriculares. 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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Pulso Alternante: Pulso caracterizado por alternância 
entre uma onda ampla e uma onda de menor 
amplitude. Detectada ao medir-se a pressão arterial. 
o Causas: Insuficiência Ventricular Esquerda (IVE) 
 
 
Pulso Paradoxal: Pulso caracterizado por uma redução 
palpável na amplitude do pulso durante a inspiração 
tranqüila. 
o Causas: Tamponamento cardíaco; pericardite 
constrictiva; doença pulmonar obstrutiva. 
 
3. Respiração: 
 
No exame dos sinais vitais, deve-se observar a 
respiração do paciente e determinar: 
o Frequência Respiratória; 
o Ritmo Respiratório; 
o Amplitude (Profundidade). 
 
Frequência Respiratória: Medida em incursões 
respiratórias por minuto (irpm). Os valores normais são 
de 14 a 21 irpm. 
o Taquipnéia – frequência respiratória maior que 
21 irpm; 
o Bradipnéia – frequência respiratória menor que 
14 irpm. 
 
Ritmo: Trata-se da regularidade dos intervalos 
respiratórios. 
o Regular (Rítmico) – Cuja frequência é constante; 
o Irregular (Arrítmico) – Cuja frequência é variável. 
 
Amplitude: Trata-se da profundidade dos movimentos 
respiratórios, relacionados com a capacidade da 
parede torácica em variar volume. 
 
Tipos Respiratórios: 
o Normal (Eupneia): Inspiração dura quase o 
mesmo tempo que a expiração, sucedendo-se os 
dois movimentos com a mesma amplitude, e 
intercalados por uma breve pausa. 
o Respiração Rápida e Superficial (Taquipnéia): 
Respiração rápida de amplitude normal ou 
menor. 
Causas: doença pulmonar restritiva; dor torácica 
pleurítica; elevação do diafragma 
(hepatomegalia; abscesso subfrênico). 
o Respiração Rápida e Profunda (Hiperpnéia ou 
Ritmo de Cantani): Respiração rápida de 
amplitude aumentada. 
Causas: Exercício físico; ansiedade; acidose 
metabólica; infarto agudo do miocárdio; hipóxia 
ou hipoglicemia (que estimulam o centro 
respiratório). 
 
 
o Respiração de Kussmaul: Movimentos 
inspiratórios e expiratórios de grande amplitude, 
com períodos de apnéia ao fim de cada 
movimento. Simbolicamente conhecido com a 
“fome de ar”. 
Causas: Acidose metabólica (cetoacidose 
diabética); síndrome metabólica. 
 
 
o Respiração Lenta (Bradipnéia): Incursões 
respiratórias de duração normal, amplitude 
normal ou aumentada e intervalos mais longos 
entre as incursões. 
Causas: Coma diabético; depressão respiratória 
induzida por fármacos; aumento da pressão 
intracraniana. 
o Respiração de Cheyne-Stokes: Observam-se 
pausas de apnéia seguidas de movimentos 
respiratórios, que, a princípio, superficiais e 
quase imperceptíveis, vão gradativamente 
tornando-se mais profundos, mais amplos, mais 
longos, agitados e ruidosos, para depois 
diminuírem, também progressivamente, 
tornando-se pouco a pouco, menos amplos, 
menos longos, mais calmos, até nova pausa de 
apnéia, depois da qual se repetem os mesmos 
fenômenos. 
Causas: Insuficiência cardíaca grave; uremia; 
depressão respiratória induzida por fármacos; 
hipertensão intracraniana; AVE; traumatismo 
cranioencefálico (TCE); tumor cerebral. 
 
 
o Respiração de Biot (Atáxica): A respiração 
apresenta-se em duas fases: uma fase de apnéia, 
seguida de uma fase de frequência e amplitude 
de incursões anárquicas. Fisiopatologia 
semelhante à Respiração de Cheyne-Stokes. 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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Causas: Meningite; depressão respiratória 
induzida por fármacos; AVE; TCE. 
 
 
o Respiração Suspirosa: Movimentos respiratórios 
predominantemente normais interrompidos por 
suspiros isolados ou agrupados. 
Causas: ansiedade; tensão emocional. 
o Respiração Obstrutiva: Padrão de respiração em 
que a expiração está prolongada em decorrência 
do estreitamento das vias respiratórias. 
Causa: Asma; bronquite crônica. 
 
FISIOPATOLOGIA DA RESPIRAÇÃO DE CANTANI E 
KUSSMAUL: 
Caracterizam-se pela presença de inspirações e 
expirações profundas e ruidosas, sem fases de apnéia 
(Cantani) ou seguidas de pausas de apnéia entre elas 
(Kussmaul). A queda no pH sanguíneo, devido a 
acidose metabólica estimula o centro respiratório a 
aumentar a frequência e profundidade da respiração. 
 
Figura 5 - Respiração de Kussmaul – Paciente em coma 
diabético 
 
FISIOPATOLOGIA DA RESPIRAÇÃO DE CHEYNE-STOKES 
E BIOT: 
Caracterizam-se por períodos de respiração seguidos 
de períodos de apnéia. Sendo os períodos respiratórios 
de profundidade crescente e, em seguida, decrescente 
(Cheyne-Stokes), ou de respiração anárquica (Biot). 
Esses ritmos são provocados por uma depressão do 
Centro Respiratório no SNC, sobre o qual atuam a 
hipoxemia e a hipercapnia. A queda no fluxo sanguíneo 
para o centro respiratório diminui a excitabilidade do 
mesmo provocando apnéia com hipoxemia e 
hipercapnia. A hipercapnia e a hipoxemia, induzida no 
período de apnéia, excitam o centro respiratório que 
aumentam a frequência e profundidade respiratórias, 
normalizando os níveis sanguíneos dos gases, o que 
diminui a excitabilidade do centro respiratório e causa 
novo período de apnéia. Esses ritmos são causados por 
qualquer condição que diminua a perfusão cerebral 
cronicamente. 
 
 
Figura 6 – Respiração de Cheyne-Stokes 
 
 
Figura 7 – Respiração de Biot 
 
4. Temperatura: 
 
Temperatura Normal:o Axilar – 35,5 a 37o C, com média de 36-36,5o C; 
o Oral – 36 a 37,4o C; 
o Retal – 36 a 37,8o C (mais próxima da 
temperatura central); 
o Variações comuns de temperatura: 
- A temperatura aumenta após a alimentação; 
- Pela tarde, a temperatura é 0,5o C superior; 
- Depois da ovulação, a temperatura é maior em 
cerca de 0,6o C. 
 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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V. EXAME FÍSICO GERAL (ECTOSCOPIA): 
 
O exame físico geral é realizado por inspeção e 
palpação. Há diversas ordens pré-estabelecidas de 
avaliação dos parâmetros ectoscópicos, sendo 
aconselhável que o examinador desenvolva sua própria 
ordem de exame, desde que ele não dispense nenhum 
parâmetro. 
 
Avaliação Geral: 
o Estado Geral (Bom, Regular ou Mau); 
o Nível de consciência (Lúcido ou Coma); 
o Orientação no tempo e no espaço; 
o Cooperação com o exame; 
o Fala e Linguagem. 
Avaliação Física: 
o Fácies; 
o Biotipo; 
o Posição e Atitude no leito; 
o Postura (Cifose, Escoliose, Lordose, 
Cifoescoliose); 
o Movimentos Involuntários; 
o Marcha. 
Avaliação Cutânea: 
o Pele; 
o Mucosas; 
o Fâneros (Cabelos e Unhas); 
o Enchimento Capilar; 
o Circulação Colateral; 
o Edema. 
 
Deve-se atentar também para a avaliação do 
estado de nutrição e hidratação do paciente, sendo 
aconselhável registrar qualquer indício de desnutrição 
e desidratação. 
 
1. Avaliação Geral: 
 
 Fala e Linguagem: 
 
Disfonia ou afonia: É uma alteração do timbre da voz 
(rouquidão, bitonalidade, voz fanhosa). Indica um 
problema no órgão fonador. 
 
Dislalia: Pequenas alterações da fala, como trocas de 
letras. 
 
Disritmolalia: Distúrbios no ritmo da fala (gagueira, 
taquilalia). 
 
Disartria: Problemas na articulação da fala pelos 
músculos da fonação. Pode indicar incoordenação 
cerebral (voz arrastada, escandida), hipertonia no 
parkinsoniano (voz baixa, monótona e lenta), ou perda 
do controle piramidal (paralisia pseudobulbar). 
 
Disfasia ou Afasia: Alterações corticais na 
interpretação e/ou expressão da fala. Não envolve o 
órgão fonador e os músculos da fonação. 
 
Disgrafia: Perda da capacidade de escrever. 
 
Dislexia: Perda da capacidade de ler. 
 
2. Avaliação Física: 
 
 Fácies: 
 
Fácies Hipocrática: Olhos fundos (enoftalmia), parados 
e inexpressivos; nariz e lábios finos; presença de 
batimento de asas do nariz; sudorese facial; palidez 
cutânea; discreta cianose labial; ausência de gordura 
facial; pele de coloração escurecida. 
Causas: Doenças crônicas terminais (AIDS, câncer). 
 
Fácies Renal: Edema facial predominantemente 
periorbital, mais intenso ao acordar; palidez cutânea; 
lábios inchados. 
Causas: Síndrome Nefrótica. 
 
Fácies Leonina: Pele espessa com grande número de 
lepromas; supercílios deprimidos; nariz espesso e 
alargado; lábios grossos e proeminentes; nódulos em 
bochechas e mento; desaparecimento ou escassez de 
pêlos. 
Causas: Hanseníase. 
 
Fácies Parkinsoniana: Cabeça inclinada para frente e 
imóvel nesta posição; olhar fixo; supercílios elevados e 
fronte enrugada (expressão de espanto). 
Causas: Doença de Parkinson. 
 
Fácies Basedowiana: Olhos salientes (exoftalmia) e 
brilhantes; rosto magro; presença de bócio. 
Causas: Hipertireoidismo. 
 
Fácies Mixedematosa: Rosto arredondado; nariz e 
lábios grossos; pele seca, espessada e com acentuação 
dos sulcos; pálpebras infiltradas e enrugadas; 
supercílios escassos (madarose) e cabelos secos e sem 
brilho; fisionomia de desânimo. 
Causas: Hipotireoidismo, mixedema. 
 
Fácies Acromegálica: Saliência dos arcos supraorbitais; 
proeminência mandibular; aumento do tamanho do 
nariz, lábios e orelhas; olhos aparentemente menores. 
Causas: Acromegalia. 
 
Fácies Cushingóide (de lua-cheia): rosto arredondado 
com atenuação dos traços faciais; bochechas 
vermelhas; presença de acne; hirsutismo. 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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Causas: Síndrome de Cushing; hiperfunção do córtex 
adrenal; corticoterapia. 
 
Fácies da Paralisia Facial Periférica: Assimetria facial; 
impossibilidade de fechar as pálpebras; desvio da 
comissura labial; apagamento do sulco nasolabial. 
Causas: Paralisia facial periférica. 
 
Fácies Miastênica (de Hutchinson): Ptose palpebral 
bilateral, o que obriga o paciente a franzir a testa e 
levantar a cabeça. 
Causas: Miastenia grave e outras miopatias que 
comprometam os músculos da pálpebra superior. 
 
Fácies Etílica: Olhos avermelhados e certa ruborização 
da face, associada a hálito etílico, voz pastosa e sorriso 
meio indefinido. 
 
 Biotipo: 
 
Longilíneo ou Hipoestênico ou Leptossômico: 
o Estrutura muscular delgada, com tendência à 
magreza; 
o Envergadura proporcionalmente maior que o 
tronco. Os apêndices predominam sobre o 
tronco; 
o Tórax chato, com ângulo de Charpy fechado 
(inferior a 90º). 
 
Brevilíneo ou Hiperestênico ou Pícnico: 
o Indivíduo mais atarracado, com tendência à 
obesidade; 
o Musculatura mais robusta, com predomínio do 
tronco em relação à envergadura; 
o Ângulo de Charpy mais alargado, normalmente 
superior a 90º. 
 
Normolíneo ou Estênico ou Atlético: 
o Maior proporcionalidade entre a envergadura e 
o tronco; 
o Ângulo de Charpy = 90º; 
 
 Posição e Atitude no leito: 
 
Atitude: Posição adotada pelo paciente no leito ou 
fora dele, por comodidade, hábito ou com o objetivo 
de conseguir alívio para algum sintoma. Algumas 
posições são voluntárias e outras são involuntárias. 
o Atípica: Sem valor diagnóstico; 
o Típica: Atitude voluntária ou involuntária 
indicativa de determinada patologia ou grupo de 
patologias. 
 
Atitudes Voluntárias: 
o Ortopnéica: Paciente permanece sentado à 
beira do leito com os pés no chão ou numa 
banqueta, e as mãos apoiadas no colchão para 
melhorar um pouco a respiração (Sinal da 
Ancoragem). Também pode considerar-se 
ortopnéica a utilização de dois ou mais 
travesseiros para recostar-se na cama, na 
tentativa de colocar o tórax mais ereto (Sinal do 
Travesseiro). Essas atitudes diminuem o retorno 
venoso. 
Causas: Insuficiência cardíaca, asma brônquica e 
ascites volumosas. 
o Genupeitoral (de “prece maometana”): 
Paciente de joelhos com o tronco fletido sobre 
as coxas, enquanto a face anterior do tórax 
repousa sobre o chão ou colchão. O rosto 
descansa sobre as mãos, também repousadas. A 
atitude aumenta o retorno venoso. 
Causas: Derrame pericárdico (tamponamento 
cardíaco). 
o De Cócoras: Paciente agachado com os joelhos 
flexionados, tronco curvado para frente e 
apoiado nas coxas, com membros superiores 
estendidos sobre o joelho. Apenas os pés tocam 
o apoio. A atitude alivia parcialmente a hipóxia 
generalizada. 
Causas: Cardiopatia congênita cianótica (em 
crianças). 
o De Decúbitos: 
Decúbito Lateral: É comum na dor de origem 
pleurítica. Paciente prefere deitar-se em 
decúbito lateral sobre o lado acometido, pois a 
posição diminui a movimentação dos folhetos 
pleurais e, consequentemente, diminui o atrito, 
diminuindo a dor. 
Decúbito Dorsal: Com pernas fletidas sobre as 
coxas e estas sobre a bacia. É atitude típica de 
processos inflamatórios pelviperitoneais. 
Decúbito Ventral: Acompanhado do 
posicionamento de um travesseiro sob o ventre. 
É atitude típica da cólica intestinal. 
Obs.: decúbitos preferenciais com variados 
graus de flexão da coluna podem indicar 
lombalgias. 
 
Atitudes Involuntárias: 
o Atitude Passiva: Paciente permanece na posição 
em que é colocado no leito, sem que haja 
contratura muscular. 
o Ortótono: Paciente com tronco e membros 
rígidos, sem se curvarem. 
o Opistótono: Paciente com contratura da 
musculatura lombar. O corpo se apóia na cabeça 
e nos calcanhares, como um arco. 
Causas: Tétano e meningite. 
o Emprostótono: Paciente com o corpo formando 
uma concavidade para frente(contrária ao 
opistótono). 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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Causas: Tétano, meningite e raiva. 
o Pleurostótono: Paciente curva lateralmente o 
corpo. 
Causas: Tétano, meningite e raiva. 
o Posição em gatilho: Paciente com hiperextensão 
da cabeça, flexão das pernas sobre as coxas e 
encurvamento do tronco com concavidade para 
diante. 
Causas: Irritação meníngea (meningite). 
 
 Movimentos Involuntários: 
 
Os movimentos involuntários devem ser 
analisados pelo examinador durante a realização do 
exame físico. Os principais movimentos involuntários 
são: 
 
Tremores: Movimentos alternantes regulares de 
pequena ou média amplitude, que afetam 
principalmente o segmento distal dos membros. 
o Tremor de Repouso: Surge durante o repouso e 
desaparece com os movimentos e o sono; é um 
tremor oscilatório, em regra mais evidente nas 
mãos, simulando o gesto de “enrolar cigarro”. 
Ocorre no parkinsonismo. 
o Tremor de Atitude: Surge quando o membro é 
colocado em determinada posição, não sendo 
muito evidente no repouso ou no movimento. 
Ocorre no pré-coma hepático (flapping ou 
asterix), na doença de Wilson, e no tremor 
familiar. 
o Tremor de Ação: Surge ou se agrava com a 
execução de um movimento. Aparece nas 
doenças cerebelares. 
o Tremor Vibratório: Tremor fino e rápido, como 
uma vibração. Pode surgir no hipertireoidismo, 
no alcoolismo, na neurossífilis, ou, mais 
comumente, de origem emocional. 
 
Movimentos Coréicos (Coréia): Movimentos 
involuntários amplos, desordenados, inesperados, 
arrítmicos, multiformes e sem finalidade. Localizam-se 
na face, nos membros superiores e inferiores. São as 
manifestações principais da síndrome coréica, 
cumprindo lembrar seus dois tipos clínicos mais 
encontrados: coréia de Sydenham (coréia infantil), que 
é de etiologia infecciosa, relacionada à febre 
reumática; e coréia de Huntington, que apresenta 
caráter hereditário. 
 
Movimentos Atetósicos (Atetose): Movimentos 
involuntários lentos e estereotipados, lembrando um 
movimento reptiforme ou o movimento dos tentáculos 
de um polvo. Podem ser uni- ou bilaterais. Indicam 
lesão dos núcleos da base. Podem ser causados por 
impregnação cerebral por hiperbilirrubinemia do 
neonato (kernicterus). 
 
Hemibalismo: Movimentos abruptos, violentos, de 
grande amplitude, rápidos e geralmente limitados a 
uma metade do corpo. São muito raros e decorrentes 
de lesões extrapiramidais. 
 
Asterix (Flapping): Movimentos rápidos, de amplitude 
variável, que ocorrem nos segmentos distais e têm 
certa semelhança com o bater de asas das aves. É um 
movimento frequente na insuficiência hepática, e no 
coma urêmico. 
 
SEMIOTÉCNICA: 
Para melhor notar o flapping, com o braço do paciente 
estendido e sua mão hiperestendida, force com a mão 
ainda mais a hiperextensão da mão do paciente e, a 
seguir, largue-a, observando a acentuação dos 
movimentos de flapping. 
 
Convulsões: São movimentos musculares súbitos e 
incoordenados, involuntários e paroxísticos, que 
ocorrem de maneira generalizada ou apenas em 
segmentos do corpo. As convulsões são causadas por 
epilepsia, tétano, meningites, hipoglicemia, tumores 
cerebrais, febres altas em crianças e intoxicações 
exógenas (álcool, inseticidas). 
o Convulsões tônicas: Caracterizam-se por serem 
mantidas permanentes e imobilizarem as 
articulações. 
o Convulsões clônicas: São rítmicas, alternando-se 
contrações e relaxamentos musculares em ritmo 
mais ou menos rápido. 
o Convulsões tônico-clônicas: Caracterizada por 
apresentar uma fase tônica e uma fase clônica. 
 
Tetania: É uma forma particular de movimentos 
involuntários caracterizada por crises exclusivamente 
tônicas quase sempre localizadas nas mãos e pés 
(espasmos carpopodais). Pode ocorrer 
independentemente de qualquer manobra, porém às 
vezes pode ser desencadeada por uma. Ocorre na 
hipocalcemia (hipoparatireoidismo por exemplo) e na 
alcalose respiratória por hiperventilação. 
 
SEMIOTÉCNICA: 
Sinal de Trousseau: Infla-se o manguito, no braço do 
paciente, em um nível intermediário entre a máxima e 
a mínima pressão arterial (ex.: 140/90 mmHg, infla-se 
o manguito a 110 mmHg). Ao fim de 10 minutos, 
observa-se um movimento involuntário dos dedos 
(espasmo carpal), caracterizado como “mão de 
parteiro”. O fenômeno em sua totalidade recebe a 
designação de Sinal de Trousseau. 
ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL 
 
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 Marcha: 
 
Marcha Hemiplégica (helicópode ou ceifante): 
Paciente mantém membro superior homolateral 
fletido em 90º com o cotovelo e em adução, colocado 
transversalmente como apoio, e mão fechada em leve 
pronação. Membro inferior apresenta trajeto de 
semicírculo sem flexão do joelho. Indica lesão do 
neurônio motor superior (síndrome piramidal). 
 
Marcha Espástica (em tesoura): Dois membros 
inferiores enrijecidos e espásticos, permanecendo 
semifletidos, os pés se arrastam e as pernas se cruzam, 
uma na frente da outra a cada passo. Presente nas 
formas espásticas de paralisia cerebral (lesão bilateral 
do neurônio motor superior). 
 
Marcha Escarvante: Paciente levanta acentuadamente 
o membro inferior, com excessiva flexão da coxa sobre 
o quadril, evitando que o pé paralisado toque o solo e 
ele tropece. Indica paralisia do movimento de flexão 
dorsal do pé (músculo tibial anterior), pode ocorrer por 
lesão do nervo isquiático, fibular comum ou raiz de L5, 
e também presente como sequela de poliomielite. 
 
Marcha Anserina (de pato ou miopática): Paciente 
acentua a lordose lombar e inclina o tronco ora para a 
direita, ora para a esquerda, lembrando o andar de um 
pato. É encontrada em doenças musculares e traduz 
uma diminuição da força dos músculos pélvicos e das 
coxas. O paciente utiliza-se dos quadrados lombares 
para movimentar o quadril. 
 
Marcha de Trendelemburg: Inclinação contralateral do 
tronco para abduzir o quadril do lado afetado. Indica 
lesão do músculo glúteo médio. 
 
Marcha Parkinsoniana: Paciente anda como um bloco 
enrijecido, sem o movimento automático dos braços. A 
cabeça permanece inclinada para frente e os passos 
são curtos e rápidos, dando a impressão de que o 
paciente “corre atrás de seu centro de gravidade” e 
que vai cair para frente. Ocorre nos portadores de 
doença de Parkinson. 
 
Marcha de Pequenos Passos: Caracterizada pelo fato 
de o paciente dar passos muito curtos e, ao caminhar, 
arrastar os pés como se estivesse dançando 
“marchinha”. É típica da atrofia cerebral (paralisia 
pseudobulbar). 
 
Marcha Claudicante: Paciente manca para um dos 
lados. Ocorre na insuficiência arterial periférica e em 
lesões do aparelho locomotor. 
 
Marcha Cerebelar (ébria): Paciente caminha com os 
pés bem separados e ziguezagueia como um bêbado. 
Traduz incoordenação de movimentos em decorrência 
de lesões cerebelares (ataxia cerebelar). 
 
Marcha Vestibular: Paciente não consegue andar em 
linha reta, lateralizando a trajetória. Ao solicitar que o 
paciente ande para frente em linha reta e volte, 
também em linha reta, de costas, ele descreve uma 
trajetória semelhante a uma estrela. Traduz lesão 
vestibular (ataxia vestibular). 
 
Marcha Tabética (talonante): Paciente mantém os 
olhos fixos no chão. Os membros inferiores são 
levantados abruptamente e explosivamente e, ao 
serem recolocados no chão, os calcanhares tocam o 
solo pesadamente. A marcha piora ainda mais com os 
olhos fechados. Traduz perda da propriocepção por 
lesão do cordão posterior da medula. Presente na 
tabes dorsalis (ataxia sensorial). 
 
 
Figura 8 – Alguns tipos de marcha patológica 
 
3. Avaliação Cutânea: 
 
 Pele: 
 
Ao avaliarmos a pele do paciente, temos que ter 
em mente os seguintes elementos a serem 
pesquisados: 
o Coloração; 
o Umidade (seca; úmida; sudorenta); 
oTextura (lisa; normal; áspera; enrugada); 
o Espessura (atrófica ou fina; normal; hipertrófica 
ou espessa); 
o Mobilidade; 
o Elasticidade; 
o Turgor; 
o Temperatura; 
o Sensibilidade (dolorosa; tátil; térmica); 
o Fotossensibilidade e fotodermatoses; 
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o Continuidade ou integridade; 
o Lesões elementares. 
 
Coloração: 
o Palidez generalizada: Traduz diminuição das 
hemácias circulantes nas microcirculações 
cutânea e subcutânea, podendo ser decorrente 
de mecanismos neurohormonais de 
vasoconstrição generalizada, de anemias, 
hipovolemia, ou por insuficiência cardíaca grave. 
o Palidez localizada ou segmentar: causada 
principalmente pela isquemia por obstrução ou 
estenose de um vaso responsável por irrigar 
determinada área. Sempre comparar regiões 
homólogas. 
o Vermelhidão (eritrose) generalizada: Indica 
aumento da quantidade de sangue na rede 
vascular cutânea, podendo ser decorrente de 
uma vasodilatação ou do aumento no número 
de hemácias. Ocorre em pacientes febris, 
insolação, estados policitêmicos e em infecções 
generalizadas de pele. 
o Vermelhidão localizada ou segmentar: Causada 
por vasodilatação local, geralmente associada a 
processos inflamatórios. 
o Cianose: Coloração azulada da pele, que se 
manifesta quando a hemoglobina reduzida 
alcança valores superiores a 5 g/100 mL de 
sangue. Deve ser procurada ao redor dos lábios, 
na ponta do nariz, nos lobos das orelhas e 
extremidades de pés e mãos. Em caso de 
cianose muito intensa, todo o tegumento 
cutâneo assume coloração azulada. Avalia-se 
quantitativamente em: leve, moderada e 
intensa. 
- Cianose generalizada: distribuída por todo o 
corpo. Uma cianose detectada em todas as 
regiões mais sensíveis já é considerada uma 
cianose generalizada. 
- Cianose localizada: detectada apenas em 
determinado segmento corporal. Causada por 
obstrução venosa local. 
 
FISIOPATOLOGIA DA CIANOSE: 
o Cianose central: Ocorre por insaturação arterial 
excessiva, mantido um consumo normal de 
oxigênio. 
Causas: diminuição no teor de oxigênio 
inspirado (ar rarefeito); hipoventilação 
pulmonar; fístula arteriovenosa. 
o Cianose periférica: Perda exagerada de 
oxigênio ao nível da rede capilar. 
Causas: estase venosa ou vasoconstrição da 
microcirculação. 
o Cianose mista: Associação de mecanismos 
centrais e periféricos da cianose. Observada na 
insuficiência cardíaca congestiva grave, em que 
se encontra congestão pulmonar, diminuindo a 
oxigenação do sangue, e estase venosa 
periférica com perda exagerada de oxigênio. 
Causas: insuficiência cardíaca congestiva grave. 
 
Obs.: A cianose ainda pode ser devida a uma alteração 
bioquímica da hemoglobina, que pode impedir ou 
dificultar a fixação de oxigênio pelo pigmento (anemia 
falciforme). 
 
IMPORTANTE: A oxigenoterapia é eficaz em casos de 
cianose central, melhora casos de cianose mista, mas 
é ineficaz no tratamento da cianose periférica. 
 
o Icterícia: Pigmentação amarelada ou amarelo-
esverdeada da pele, decorrente da deposição de 
bilirrubina causada por seu acúmulo sanguíneo. 
Para um quadro ser caracterizado como ictérico, 
deve-se constatar icterícia também em mucosas, 
pois certas drogas e o consumo excessivo de 
carotenos podem amarelar a pele sem, no 
entanto, amarelar as mucosas. 
Causas: hepatites; obstrução de vias biliares 
(tumor de cabeça de pâncreas); doenças 
hemolíticas (eritroblastose fetal). 
o Albinismo: Coloração branco-leitosa decorrente 
de deficiência na produção de melanina. 
o Bronzeamento: Na maioria das vezes é artificial, 
por exposição aos raios solares, mas pode ser 
natural como na doença de Addison e na 
hemocromatose, por distúrbios endócrinos que 
alteram o metabolismo da melanina. 
o Fenômeno de Raynaud: Mudanças na coloração 
cutânea que evolui de uma palidez local para 
uma cianose e termina com uma hiperemia 
reativa. 
Causas: colagenoses (lúpus eritematoso, 
esclerodermia); tromboangeíte obliterante; 
síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar (costela 
cervical). 
 
Mobilidade: Capacidade da pele mover-se sobre os 
tecidos subjacentes. Para a avaliação, pousa-se 
firmemente a palma sobre a superfície que se quer 
examinar e movimenta-se a mão para todos os lados, 
observando a capacidade da pele deslizar sobre as 
estruturas subjacentes. 
o Diminuída: Pode ser causada por processos 
cicatriciais; elefantíase; infiltrações neoplásicas 
próximas a pele (ex.: câncer de mama); 
esclerodermia. 
o Aumentada: Síndrome de Ehlers-Danlos; idosos. 
 
Elasticidade: Capacidade da pele distender-se quando 
tracionada. Para a avaliação, pinça-se uma prega 
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cutânea com o polegar e o indicador, fazendo a seguir 
certa tração, ao fim da qual se solta a pele. Avalia-se a 
elasticidade da pele à tração. 
o Hipoelasticidade: Pode ser causada por uma 
desnutrição e/ou desidratação. 
o Hiperelasticidade: Síndrome de Ehlers-Danlos. 
 
Turgor: Capacidade da pele de reassumir sua forma e 
posição após ser tracionada em prega. Para a 
avaliação, pinça-se uma prega da pele com o tecido 
subcutâneo e, a seguir, larga-se a prega. Normalmente, 
a prega se desfaz rapidamente. Uma prega que se 
desfaz lentamente traduz turgor diminuído, indicando 
desidratação. 
 
Lesões elementares: Denominam-se lesões 
elementares modificações do tegumento cutâneo 
determinadas por processos inflamatórios, 
degenerativos, circulatórios, neoplásicos, por 
distúrbios do metabolismo ou por defeito de 
formação. Segue abaixo uma lista das principais lesões 
elementares da pele. 
 
a. Lesões elementares caracterizadas por 
modificações da pele, sem relevo ou espessamento 
(vide fig. 9): 
 
 
Figura 9 – Lesões elementares sem relevo ou espessamento 
 
o Mácula: Área de coloração distinta da região 
que a circunda, de diâmetro menor que 1 cm. 
o Mancha: Área de coloração distinta da região 
que a circunda, de diâmetro maior que 1 cm. 
 
b. Lesões elementares sólidas (vide fig. 10): 
o Pápula: Elevação sólida da pele, de pequeno 
tamanho (até 1,0 cm de diâmetro), superficial, 
bem delimitada, com bordas bem definidas. 
Causas: picada de inseto; leishmaniose; 
blastomicose; verruga; acne; hanseníase. 
o Nódulo: Elevação sólida de localização mais 
profunda que a pápula, limites imprecisos e 
consistência variável. Apresenta diâmetro maior 
que 0,5 cm. 
Causas: furúnculo; eritema nodoso; hanseníase; 
cistos; neoplasias; sífilis; cisticercose. 
o Tubérculo: Elevação sólida circunscrita de 
diâmetro maior que 0,5 cm. Localizado na 
derme. Pode apresentar consistência mole ou 
dura. A pele circunjacente pode ter coloração 
normal ou pode estar eritematosa, acastanhada 
ou amarelada. 
Causas: sífilis; tuberculose; hanseníase; 
esporotricose; sarcoidose; neoplasias. 
o Placa: Lesão superficial elevada com 1 cm ou 
mais, frequentemente formada pela 
coalescência de pápulas. 
o Vergão: Área superficial, ligeiramente irregular e 
relativamente transitória de edema cutâneo 
localizado. 
Causas: picada de mosquito; urticária. 
 
 
Figura 10 – Lesões elementares sólidas 
 
c. Lesões elementares de conteúdo líquido (vide fig. 
11): 
 
 
Figura 11 – Lesões elementares de conteúdo líquido 
 
Vesícula: Elevação circunscrita da pele que contém 
líquido seroso em seu interior. Não ultrapassa 1,0 cm 
de diâmetro. 
Causas: varicela; herpes simples; herpes zoster; 
queimaduras. 
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Bolha: Elevação da pele contendo líquido seroso em 
seu interior. Diferencia-se da vesícula pelo tamanho, 
sendo maior que 1,0 cm de diâmetro. 
Causas: queimaduras; pênfigos; piodermites; alergias 
medicamentosas. 
 
Pústula: Elevação da pele que contém

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