Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4024 CASO CLÍNICO Tien Li an* Mauricio Almeida CaRdoSo** Liliana Ávila MALTAGLIATI*** Leopoldino Capelozza Filho** $OUTOREM/DONTOLOGIA�5.%30�0ROFESSOR!DJUNTO�DISCIPLINADE/RTODONTIA�5NI VERSIDADEDE"RASÆLIA� 0ROFESSORES$OUTORESDO0ROGRAMADE'RADUAÁOE0ËS GRADUAÁOEMNÆVELDE%SPE CIALIZAÁOE-ESTRADOEM/RTODONTIA�5NIVERSIDADEDO3AGRADO#ORAÁO�53# "AURU � 0ROFESSORA$OUTORADO#URSODE%SPECIALIZAÁOEM/RTODONTIADA5NIVERSIDADEDO 3AGRADO#ORAÁO�53# "AURU � Limited compensatory treatment in adult with asymmetry and Pattern III malocclusion Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Resumo Abstract Palavras-chave: Ortodontia corretiva. Assimetria facial. Estética dentária. Keywords: Corrective orthodontics. Facial asymmetry. Dental esthetics. This clinical case report illus- trates the compensatory treat- ment of an adult patient, with mild laterognathism, borderline Pattern III due to relative max- illary de!ciency. The patient sought for treatment with the main complaint related to ante- rior teeth wear, besides the an- terior teeth spacing and spaces associated with sequels of teeth extractions performed in pre- vious orthodontic treatment. The occlusal problems involved all three dimensions of space: O presente relato de caso clí- nico ilustra o tratamento com- pensatório de uma paciente adulta, portadora de laterogna- tismo suave, limítrofe para Pa- drão III por de!ciência maxilar relativa. A paciente procurou tratamento com a queixa prin- cipal relacionada a desgastes, além de diastemas nos dentes anteriores, e espaços associados a sequelas de exodontias efetua- das em tratamento ortodôntico prévio. Os problemas oclusais envolviam os três planos de Posterior crossbite, lack of overjet and overbite with little incisor exposure with the upper lip at rest or during smile. The proposed minimalist asymmetric mechanics recovered the dental arches form by compensatory tooth movement and, associ- ated with a cosmetic dentistry and rehabilitation procedures, allowed to reach a satisfac- tory occlusal relationship, in a context of an evidently limited prognosis. espaço: mordida cruzada poste- rior, ausência de trespasses ho- rizontal e vertical, com pouca exposição de incisivos, tanto com o lábio em repouso como no sorriso. A mecânica assimé- trica minimalista proposta res- gatou, de modo compensatório, a forma das arcadas dentárias e, associada à reanatomização dentária e ao procedimento reabilitador, permitiu alcançar relações oclusais satisfatórias, em um contexto consciente do prognóstico limitado. Como citar este artigo: An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L. Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III. Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40. w�/S�AUTORES�DECLARAM�NÎO�TER�INTERESSES�ASSOCIATIVOS��COMERCIAIS��DE�PROPRIEDADE�OU�lNANCEI- ROS�QUE�REPRESENTEM�CONmITO�DE�INTERESSE�NOS�PRODUTOS�E�COMPANHIAS�DESCRITOS�NESSE�ARTIGO� » Os pacientes que aparecem no presente artigo autorizaram previamente a publicação DE�SUAS�FOTOGRAlAS�FACIAIS�E�INTRABUCAIS� An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 25 INTRODUÇÃO A palavra "assimetria" denota uma ausência de corres- pondência — em grandeza, forma e posição relativa — de partes situadas em lados opostos de uma linha, ou distri- buídas em volta de um centro ou eixo1. Assimetrias são frequentes na região craniofacial humana, podendo estar presentes nos três planos de espaço, variando desde uma magnitude clinicamente insigni!cante até uma gravidade que demanda tratamento ortocirúrgico. De fato, uma sime- tria bilateralmente perfeita é mais teórica do que real, pois diferenças entre os lados direito e esquerdo estão presen- tes em todas as partes, e o homem frequentemente convive com assimetrias funcionais e morfológicas2,3. As assimetrias nas regiões craniofaciais podem ser re- conhecidas como diferenças no tamanho ou na relação dos dois lados da face, as quais podem ser resultantes tanto das discrepâncias na forma de ossos individuais quanto da má posição de um ou mais ossos do complexo craniofacial. Essa assimetria também pode estar restrita ao tecido mole sobrejacente4. Um estudo sobre a assimetria facial demons- trou que, à medida que se aproxima do crânio, menos assi- metria e maior estabilidade dimensional são encontradas5. No plano sagital, as subdivisões de Angle ou a pre- sença de diferentes relações dos primeiros molares no mesmo indivíduo; no plano transversal, a unilateralidade das mordidas cruzadas; no plano frontal, a ausência de paralelismo do plano oclusal em relação à linha bipupilar; todas denotam a presença da condição assimétrica clini- camente significativa. A prevalência das assimetrias dentofaciais não está muito bem definida na literatura. Em termos de assime- tria oclusal, numa amostra de 5817 crianças, 30% mostra- ram assimetria de relação dos molares6. Numa avaliação com 861 crianças quanto ao desvio da linha média e assi- metria facial, observou-se uma predominância do desvio da linha média dentária inferior em relação à linha média da face (62%), seguido pela não coincidência das linhas médias dentárias (46%), desvio da linha média dentária superior em relação à linha média facial (39%), assimetria oclusal superior (22%), assimetria oclusal inferior (18%), assimetria facial (6%), desvio do mento (4%) e desvio do nariz (3%)6. De acordo com um estudo retrospectivo, numa amostra de 1460 indivíduos que procuraram trata- mento ortocirúrgico, cerca de 34% desses apresentaram assimetria facial clinicamente significativa; ainda nesse grupo com assimetria, 74% apresentaram relação molar de Classe III associada ao desvio transversal mandibular, na sua maioria7. Muitos métodos têm sido utilizados para identi!car e quanti!car a magnitude da assimetria, incluindo avaliação das proporções vertical e horizontal da face por meio de fotogra!as, radiogra!as, observações clínicas diretas3,8,9 e, mais recentemente, tomogra!as computadorizadas10. Cli- nicamente, as assimetrias podem estar mascaradas pelas compensações dentárias que, se não forem diagnostica- das no início do planejamento terapêutico, podem tornar- -se aparentes à medida que o tratamento progride. O diagnóstico apropriado das assimetrias dentofaciais torna consciente a decisão entre compensar ou corrigir o pro- blema, enquanto a falta desse pode levar a um prolonga- mento no tempo de tratamento, ou pode até comprome- ter o resultado terapêutico. Quanto à classi!cação das assimetrias dentofaciais, pode-se encontrar as assimetrias dentárias, esqueléticas, musculares e funcionais, as quais podem envolver somente a maxila, somente a mandíbula ou ambas, como também outros ossos craniofaciais3,11. Algumas assimetrias esqueléticas graves são observadas em indivíduos com síndromes e anomalias frequentemen- te congênitas, onde a quantidade e a migração das células da crista neural foram afetadas durante o desenvolvimen- to embriológico11. A fusão prematura das suturas também pode resultar em assimetria facial, embora sua causa ainda não esteja muito clara. Mutações gênicas do gene Msx e do gene receptor do fator de crescimento de !broblastos podem levar não apenas ao aparecimento de !ssuras e cra- niossinostoses, como também à agenesia congênita11. Outras assimetrias esqueléticas não sindrômicas po- dem estar relacionadas ao desenvolvimento esquelético assimétrico de uma determinada estrutura craniofacial, sem causa aparente ou por condições traumáticas11,12. Um desenvolvimento assimétricona base do crânio pode cau- sar assimetria de posição da fossa glenoide, que, em últi- ma instância, gera uma rotação da mandíbula em relação à maxila e uma oclusão assimétrica, mesmo que a maxila e a mandíbula não apresentem uma morfologia assimétrica. Isso pode levar a uma relação de Classe III no lado onde a fossa está mais anteriormente posicionada, e Classe I ou II no lado oposto, gerando um desvio da linha média se uma compensação dentoalveolar adequada não estiver presente12. De modo contrário, também pode-se observar rotação de maxila em relação à base do crânio, produzin- do uma relação oclusal assimétrica, mesmo com a posição da fossa glenoide bilateralmente simétrica12. Com relação às assimetrias dentárias, essas podem ser intra-arcada ou interarcadas, resultantes de impacção dentária, erupção dentária ectópica, agenesias dentárias, CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4026 perda de espaços durante a dentição mista, presença de supranumerários, entre outros fatores que afetam de for- ma direta ou indireta a erupção dentária normal, poden- do ser influenciadas tanto por fatores genéticos como ambientais3,11,12. Quanto ao tratamento das assimetrias dentofaciais, de- pendendo da gravidade, bem como de sua origem (dentá- ria, funcional ou esquelética), esse pode ser conduzido com abordagens terapêuticas extremamente variadas, as quais podem ser categorizadas em três modalidades, a saber: mecânica assimétrica, extrações assimétricas e intervenção orto-cirúrgica13,14,15. O tratamento da assimetria mandibular muitas vezes re- quer uma combinação de abordagens — Ortodontia e Ci- rurgia —, sendo poucos os relatos clínicos sobre tratamen- to não cirúrgico e não ortopédico dos pacientes com essa característica dentofacial. O presente relato de caso clínico visa apresentar o curso terapêutico compensatório de uma paciente adulta diagnosticada como portadora de laterog- natismo suave associado à característica facial limítrofe para Padrão III, com de!ciência maxilar relativa, mordida cruzada posterior e mutilação dentária16,17. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 47 anos de idade, procurou tratamento ortodôntico com queixa relacionada aos desgas- tes dentários progressivos e com intenção de melhorar suas relações oclusais. Relatou que, quando jovem, foi submetida a uma tentativa de tratamento com aparelho removível, onde foi indicada exodontia de dois dentes — a saber, primeiro pré-molar superior direito (dente 14) e primeiro pré-molar inferior esquerdo (dente 34). Embora com assimetria facial aparente, isso não compunha sua queixa principal. A paciente foi diagnosticada como portadora de la- terognatismo suave, associado à característica facial li- mítrofe para Padrão III, com de!ciência maxilar relativa (Fig. 1A a 1C). Em termos oclusais, as relações foram ob- servadas com manipulação para pretensa relação cêntrica e máxima intercuspidação habitual (Fig. 1D a 1H). No sentido sagital, observou-se uma relação molar de Classe III suave no lado esquerdo e de Classe II no lado direito; todavia, os primeiros pré-molares encontravam-se em Classe III, a relação do canino no lado esquerdo era Classe II, enquanto a do lado direito era Classe III (Fig. 1N a 1R). Na avaliação da radiogra!a panorâmica (Fig. 1I), a pacien- te apresentava condições de inserção óssea satisfatórias, com atenção especial para uma lesão no ápice do dente 45, tratado endodonticamente. As radiogra!as periapicais de incisivos superiores e inferiores também apresentavam características de normalidade (Fig. 1K a 1M). A relação de trespasse horizontal era "de topo", com incisivos superiores vestibularizados e inferiores verticali- zados (Fig. 1J). No plano transversal, a paciente apresen- tava mordida cruzada posterior bilateral, sendo mais grave no lado esquerdo, com a arcada inferior expandida. Essa mordida cruzada posterior assimétrica proporcionava um desvio mandibular na máxima intercuspidação habitual. No plano vertical, não foi observado trespasse vertical nem exposição dos incisivos superiores com o lábio supe- rior em repouso. Ao sorrir, pouca exposição dos incisivos, repercutindo esse conjunto de discrepâncias. Observou- -se, também, que havia desgastes generalizados na região anterior superior e inferior, provavelmente resultantes da oclusão de "topo". Com base nesses problemas (Quadro 1), prognosticou-se o caso como sendo limitado, necessi- tando tratamento compensatório com protocolo de con- tenção em longo prazo, reanatomização estética nos in- cisivos e reabilitação com implante para repor o primeiro pré-molar inferior esquerdo. O plano de tratamento proposto considerou o prin- cípio minimalista, com base especialmente na ausência de queixa para estética facial, atitude consciente de uma paciente adulta, com inserção social e autoestima. Nesse contexto, os objetivos terapêuticos foram de!nidos para alcançar uma relação oclusal de melhor qualidade, corri- gindo a mordida anterior “de topo” e a mordida cruzada posterior — com resgate de forma —, buscando arcadas dentárias com morfologia de!nida com base em compen- sação (Fig. 2)17,18, mas com respeito aos limites biológicos da paciente. Em outras palavras, de!nir relações oclusais que provavelmente teriam sido construídas de modo natu- ral se a compensação efetiva tivesse sido possível. O plano de tratamento está elencado no Quadro 2. Na sequência mecânica, procedeu-se à colagem dos aces- sórios na arcada superior utilizando os braquetes prescrição Capelozza I, exceto os caninos superiores (dentes 13 e 23), que foram colados com braquetes prescrição Capelozza III. No conjunto, braquetes indicados para tratamento com- pensatório da arcada superior em pacientes leucodermas19. O alinhamento e nivelamento foi iniciado com o uso de !o de NiTi 0,016”, seguido pelos !os de aço 0,016” (expandido posteriormente) e 0,018” com ômegas justos — procedimen- to condizente com a mecânica expansionista, permitindo ves- tibularização dos incisivos e aceitando expansão transversal. An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 27 Ao chegar à fase do arco superior 0,018” aço, proce- deu-se à montagem do aparelho fixo inferior, com bra- quetes prescrição Capelozza III. O alinhamento e nivela- mento inferior iniciou-se com o uso do fio de NiTi 0,016”, seguido pelo uso de fio de aço 0,016”, também com a abertura posterior do fio mais contraída. Durante o ali- nhamento e nivelamento inferior com fio de aço 0,016”, associou-se como ancoragem o uso diuturno de elásti- cos intermaxilares (5/16” leve) com vetor de Classe III, bilateralmente, para controlar a angulação dos caninos inferiores (dentes 33 e 43), protocolo para o tratamento compensatório das más oclusões do Padrão III17. Prosse- guiu-se o alinhamento e nivelamento da arcada inferior até o fio de aço 0,018”, onde foram soldados dois gan- chos na região anterior, para ancoragem dos elásticos de Classe III. O tempo decorrido até essa fase foi de 6 meses, tempo ideal para indicar uma reavaliação radio- gráfica da situação radicular dos incisivos e, também, das metas terapêuticas propostas (Fig. 3). Após a reavaliação, sem sinais de prejuízos biológicos clinicamente significativos, manteve-se a mecânica ex- pansionista superior e de constrição inferior. Efetuou-se, no arco de nivelamento superior de aço 0,018”, uma do- bra de linha média (dobra ou degrau para fora), mesial ao dente incisivo central direito, que terminava passiva na mesial do primeiro molar superior direito. No arco de ni- velamento inferior de aço 0,018”, efetuou-se uma dobra de linha média (dobra ou degrau para dentro) na mesialdo incisivo central direito, que terminava passiva na me- sial do primeiro molar inferior direito. Simultaneamente a essa mecânica, iniciou-se também a fase de redistribuição de espaço na arcada inferior. Os dentes inferiores do lado direito foram conjugados desde o primeiro molar (dente 46) até o canino (dente 43), para reforçar a ancoragem. Colocou-se o elástico corrente en- tre os dentes 42 e 43, a !m de distalizar o dente 42. Esse procedimento foi progressivamente efetuado para outros incisivos inferiores, dente a dente (dentes 41, 31 e 32), até a correção da linha média. Ao mesmo tempo, colocou-se uma mola de secção aberta para abrir o espaço entre os dentes 33 e 35, para prover espaço para colocação de um implante no espaço do dente 34. Essa mecânica objetivou corrigir a mordida cruzada posterior, corrigir a linha mé- dia dentária inferior e restabelecer a relação de canino de Classe I no lado esquerdo (Fig. 4). Treze meses após o início do tratamento, molas de secção aberta foram instaladas à mesial e distal dos dentes 12 e 22, com objetivo de distribuição de espaços na arcada superior para aumento dos incisivos centrais e laterais (Fig. 5A a 5K). Na arcada inferior, dobra em “Z” para angulação distal da raiz do dente 35, recurso que melhora o espaçamento inter- -radicular, criando condições para a instalação de implante osseointegrável. Nessa fase, foram solicitadas radiogra!as panorâmica (Fig. 5L) e periapical (Fig. 5M) para instalação de implante osseointegrável na região do dente 34. O tratamento ortodôntico instituído, com duração de 16 meses, proporcionou melhora na estética facial, re- duzindo a assimetria observada no exame frontal inicial (Fig. 6A a 6D). Nessa fase, aguardava-se o período ne- cessário de osseointegração para permitir a instalação de provisório no dente 34 (Fig. 6E a 6I). Considerando- -se que as metas terapêuticas haviam sido alcançadas, com correção de forma e provável habilitação para fun- ção, a paciente foi referida para avaliação fonoaudio- lógica. Nessa fase, foram solicitadas radiografias finais (Fig. 6J a 6N) para que a finalização do tratamento pu- desse ser encaminhada. Vale ressaltar as perdas perio- dontais advindas da demanda de movimentação para o dente 35, além da lesão no ápice do dente 45 tratado endodonticamente, que aparentemente evoluiu, se com- parado à radiografia panorâmica inicial (Fig. 1I). Um ano e seis meses após o início do tratamento, o apa- relho superior foi removido (Fig. 7A a 7F) para permitir, ime- diatamente após a remoção, aumento com resina dos incisi- vos superiores (Fig. 7G a 7L). Os aumentos foram realizados à distal e incisal dos dentes 11 e 21, além da mesial, distal e incisal dos dentes 12 e 22. Depois de realizados os aumentos, procedeu-se moldagem superior de trabalho para confecção de placa de Hawley para uso contínuo, especialmente consi- derando-se o potencial de recidiva da mecânica expansionis- ta instituída para a arcada superior. Dois meses mais tarde, procedeu-se à remoção do aparelho inferior, encaminhando novamente a pacien- te para reanatomização dos incisivos e caninos inferiores, além da instalação do provisório sobre o implante do 34 (Fig. 8A a 8I). Em seguida, foi instalada a barra estabilizado- ra 3x3 associada ao uso do aparelho removível Osamu para auxiliar na contenção inferior (Fig. 8J a 8M). Novamente, requisitos do protocolo de tratamento compensatório das más oclusões do padrão III foram adotados17. O tratamento ortodôntico compensatório instituído pro- moveu impacto positivo para as relações oclusais e faciais, com alterações sutis — considerando-se as limitações do caso — mas esteticamente signi!cativas (Fig. 9). Os resultados per- maneceram estáveis em controle realizado dois anos e dois meses após a remoção total dos aparelhos (Fig. 10A a 10N). CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4028 D G I E H J A B C F An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 29 Figura 1 Diagnóstico baseado na análise morfológica da face (A-C), oclusão (D-H), radiogra!as pa- norâmica (I), lateral de face (J), periapicais de incisivos superiores e inferiores (K-M) e modelos de estudo (N-R). Paciente adulta, com laterognatismo suave, borderline para Padrão III por de!ciên- cia maxilar relativa. Apresentava mordida cruzada posterior bilateral, mais grave no lado esquerdo, e consequente desvio mandibular em MIH. Oclusão de topo anterior e relação oclusal de caninos de Classe III no lado direito e Classe II no lado esquerdo. Incisivos superiores vestibularizados e inferiores verticalizados, com desgastes generalizados na região anterossuperior e anteroinferior. K L M N O P Q R CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4030 t ,ATEROGNATISMOSUAVE�LIMÆTROFEPARA0ADRÁO))) PORDEÚCIÃNCIAMAXILARRELATIVA� t )NCISIVOSSUPERIORESPOUCOEVIDENTESCOMOL¼BIO SUPERIOREMREPOUSOENOSORRISO� t 2ELAÁOMOLARDE#LASSE))NOLADODIREITOE#LAS SE)))NOLADOESQUERDO� t 2ELAÁODEPR MOLARESDE#LASSE)))BILATERAL� t 2ELAÁODECANINODE#LASSE)))NOLADODIREITOE #LASSE))NOLADOESQUERDO� t 4RESPASSESHORIZONTALEVERTICALAUSENTES� t -ORDIDACRUZADAPOSTERIORBILATERALCAUSADAPOR EXPANSÁODAARCADAINFERIOR� t $IASTEMASEDESGASTESGENERALIZADOSNAREGIÁO DEINCISIVOSSUPERIORESEINFERIORES� t !USÃNCIADOSDENTES��E��� t #OLAGEMDIRETASUPERIORCOMBRAQUETESPRESCRI ÁO#APELOZZA)�EXCETOOS��E���COLADOSCOM PRESCRIÁO#APELOZZA))) � t !LINHAMENTOENIVELAMENTODAARCADASUPERIOR� ACEITANDOVESTIBULARIZAÁOANTERIOREEXPANSÁO POSTERIOR�SEGUINDOATÂAO�����s�COMÌMEGAS ¿MESIALDOS��E��� t #OLAGEMDIRETAINFERIORCOMBRAQUETESPRESCRI ÁO#APELOZZA)))�DENTE��CONTRA ANGULADOPARA MOVIMENTODISTALDERAIZ � t !LINHAMENTOENIVELAMENTOINFERIOREVITANDOPRO TRUSÁO�CONSTRITONAREGIÁOPOSTERIOR�ASSOCIADO ¿MEC½NICADEEL¼STICO#LASSE)))DODENTE��AO �������sLIGHT ELACEBACKDO��AO���SEGUINDO ATÂAO�����s�NESSEÚO�SOLDARGANCHOS¿MESIAL DOS��E�� � t .OÚODEAO�����sINFERIOR�INICIARMEC½NICADE CORREÁODALINHAMÂDIAINFERIOR�COMMOVIMENTO DISTALPROGRESSIVODOS��E��� t !VALIAÁOCOMIMPLANTODONTISTAPARAINSTALAÁO DEIMPLANTEOSSEOINTEGR¼VELAPËSQUANTIDADEDE ESPAOSUÚCIENTEENTREO��E��� t 2EAVALIAÁOPARAÚNALIZAÁO� 2EDISTRIBUIÁODOSESPAOSPARAAUMENTO COMRESINANAREGIÁOANTEROSSUPERIOREANTE ROINFERIOR� 2EAVALIAÁOFUNCIONAL�ENCAMINHAMENTOPARA FONOAUDIËLOGO � %NCAMINHARPARAINSTALAÁODOPROVISËRIO SOBREOIMPLANTEDO��� t 2EMOÁODOAPARELHOSUPERIOREENCAMINHA MENTOPARAREANATOMIZAÁODOSDENTESANTE RIORES�INSTALAÁODEPLACADE(AWLEYSUPERIOR IMEDIATAMENTEAPËS � t !PËSINSTALAÁODEPROVISËRIONO���REMOÁODO APARELHOINFERIOREREANATOMIZAÁODOSDENTES ANTEROINFERIORES�INSTALAÁODECONTENÁO�X� E�IMEDIATAMENTEAPËS�CONTENÁODE/SAMU INFERIOR � Quadro 1 Lista dos problemas oclusais observados. Quadro 2 Plano de tratamento, com a sequência da mecânica. Figura 2 Forma escolhida do arco (C4-A2)18 com objetivo de manter os incisivos inferiores próximos da posição inicial, visualizada na escolha da curvatura anterior (C4) e abertura posterior diminuída (A2). Diagrama individual anatômico objetivo C4-A2 An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4031 Figura 3 Radiogra!as periapicais dos incisivos superiores e inferiores obtidas após 6 meses de tratamento, com intenção de avaliar a condição periodontal e radicular. Figura 4 Fotogra!as intrabucais (A-E) nove meses após o início do tratamento, com mecânica de resgate de forma, sempre realizada com !os de nivelamento (superior e inferior) aço 0,018”. No !o superior, ômegas foram confeccionados à mesial dos dentes 16 e 26, ativos para protrusão dos incisivos superiores, e a região posterior mais aberta para permitir expansão. Fio inferior confeccionado com a região posterior constrita, associado à mecânica para correção de linha média e abertura de espaço para instalação de implante na região do 34. Nessa fase, radiogra!a periapical (F) da região do dente 34 foi solicitada para avaliação de espaço, com necessidade de angulação distal da raiz do 35. A B C D E F CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4032 Figura 5 Fotogra!as de face (A-C) e oclusão (D-F) realizadas treze meses após o início do tratamento. Na arcada superior, molas de sec- ção aberta foram instaladas à mesial e distal dos dentes 12 e 22, com objetivo de distribui- ção de espaços para aumento dos incisivos centrais e laterais. Na arcada inferior, dobra em “Z” para angulação distal da raiz do dente 35. Note a melhora da linha média inferior, o mantenedor de espaço entre os dentes 33 e 35 (confeccionado com !o aço 0,018”) e a me- cânica de elástico de Classe III (G-K) apoiado nos ganchos soldados à mesial dos dentes 33 e 43, com objetivo de sobrecorrigir o trespas- se horizontal. Nessa fase, foram solicitadas radiogra!as panorâmica (L) e periapical (M) para instalação de implante osseointegrável na região do dente 34. A B C D E F G H I J L K M An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 33 Figura 6 Fotogra!as de face (A-D) e oclusão (E-I), complementadas pelas radiogra!as !nais panorâmica (J), lateral de face (K) e periapicais de incisi- vos superiores e inferiores (L-N), realizadas 16 meses após o início do tratamento. A terapia ortodôntica instituída proporcionou melhora na estética facial, reduzindo a assimetria observada no exame frontal inicial. Nessa fase, aguardava-se período necessário para osseointegração para permitir a instalação de provisório no dente 34. Vale ressaltar as perdas periodontais advindas da demanda de movimentação para o dente 35, além da lesão no ápice do dente 45, tratado endodonticamente, que aparentemente evoluiu quando comparado à radiogra!a panorâmica inicial (Fig. 1I). E F G H I J K A L B M C N D CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4034 Figura 7 Um ano e seis meses após o início do tratamento, o aparelho superior foi removido (A-F) para permitir, imediatamente após, aumento com resina dos incisivos superiores (G-L). Os aumentos foram realizados à distal e incisal dos dentes 11 e 21, além da mesial, distal e incisal dos dentes 12 e 22. Após realizados os aumentos, procedeu-se à moldagem superior de trabalho para confecção de placa de Hawley para uso contí- nuo, especialmente considerando-se o potencial de recidiva da mecânica expansionista instituída para a arcada superior. A B C D E F G H I J K L An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 35 Figura 8 Fotogra!as de controle de face (A-D) e oclusão (E-I) após instalação do provisório do 34 e remoção do aparelho inferior, um ano e oito meses após o início do tratamento. Note que os dentes anteroinferiores foram aumentados com resina (distal dos 31 e 41, mesial do 43). Após a instalação da barra de contenção !xa 3x3 inferior, procedeu-se à moldagem para confecção de contenção de Osamu (J-M), imprescindível em casos tratados com movimento de resgate de forma, com lingualização dos dentes posteriores inferiores. E F G H M I J K L A B C D CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4036 Figura 9 Demonstração da evolução do tratamento compensatório limitado, com impacto positivo para as relações oclusais e faciais. Alterações sutis — considerando-se as limitações do caso —, mas esteticamente signi!cativas. CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4036 An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 37 Figura 10 Note a estabilidade das relações faciais (A-D) e oclusais (E-I) dois anos e dois meses após a remoção total dos aparelhos. Nessa fase, já com a prótese de!nitiva instalada, a estabili- dade oclusal deve ser creditada à colaboração da paciente para o uso das contenções — placa de Hawley superior e Osamu inferior (J-N) —, além da terapia realizada com fonoaudiologia. E F G J K L H M I N A B C D CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4038 DISCUSSÃO Além da assimetria dentofacial, o presente caso apresen- tava duas peculiaridades associadas que mereceram desta- que, a saber, a idade da paciente e a característica do Pa- drão III, que foram consideradas no delineamento do plano de tratamento proposto. Quanto à idade, o tratamento ortodôntico em adulto deve visar metas mínimas, buscadas com efetividade, para que os resultados sejam alcançados num menor intervalo de tempo20. Essa premissa tem suporte no fator reconhe- cido pelos adultos como maior entrave para a decisão de tratar, que é o tempo de tratamento20,21. Além desse as- pecto motivacional, há base biológica para respeitar essa premissa, considerando-se o maior custo que o paciente adulto apresenta frente à movimentação ortodôntica. Nes- se grupo de pacientes, a vitalidade do ligamento perio- dontal é menor, decorrente de uma redução na velocidade das mitoses e remodelação de !bras colágenas e do osso alveolar21. Além disso, o osso alveolar do paciente adulto é mais fenestrado que o do adolescente, pois a reabsorção óssea é a mesma em qualquer idade, enquanto a aposição óssea se reduz com o evolver da idade22. Para pactuar com a intenção de reduzir o tempo de tra- tamento, adotou-se, nesse caso, um planejamento inter- disciplinar com implante, prótese e dentística para manejar os espaços presentes ou a serem criados. Além de tornar o tratamento mais efetivo, com minimização dos movimentos dentários, a intenção reabilitadora também objetivou que o perímetro da arcada dentária inferior não fosse diminuído além do mínimo necessário. Essa foi uma tese sustentada pela hipótese de participação da língua na deformidade des- sa arcada (que estava expandida)23,24. A necessidade de ava- liação e de tratamento fonoaudiológico ao !nal da correção compensatória da forma dessa arcada também foi uma atitu- de de!nida no plano de tratamento, no escopo dessa pers- pectiva (considerando-se a língua como fator etiológico)23,24. Em termos faciais, apesar da assimetria, a paciente apresentava uma boa autoimagem e considerava sua face esteticamente aceitável, mesmo com os traços suaves de Padrão III. A presença de uma de!ciência maxilar relativa provocava uma diminuição no degrau sagital maxiloman- dibular e repercutia no ângulo nasolabial — levemente aberto — e na pouca expressão zigomática16, dé!cits que acresciam o suave laterognatismomandibular. Com relação às metas terapêuticas do Padrão III, é protocolo nos trata- mentos compensatórios promover vestibularização dos in- cisivos superiores, o que resultaria em um ângulo nasolabial mais fechado, esteticamente favorável para essa paciente17. Apesar do impacto limitado desse procedimento sobre a face, não deve ser desprezado o efeito do suporte dentário sobre o lábio superior. Pela mesma razão, extrações dentá- rias e retração anterior devem ser contraindicadas ou evita- das, pois acentuariam a aparência da maxila de!ciente. Em termos dentários, a paciente apresentava relação molar de Classe III suave no lado esquerdo e de Classe II moderada no lado direito, mordida cruzada posterior bilateral, trespasses horizontal e vertical justos. A relação de Classe II provavelmen- te estava relacionada à exodontia realizada no passado, con- sequente à perda de ancoragem. Diante disso, as referências de pré-molares, caninos e linha média devem ser obrigatoria- mente veri!cadas durante o planejamento. Essa paciente não apresentava desvio da linha média superior e, além disso, as relações sagitais dos dentes posteriores encontravam-se ra- zoáveis e sem necessidade de grandes reposicionamentos. Associada à necessidade de correção transversal e de tres- passe horizontal, a abordagem para a arcada superior foi feita com protrusão anterior e expansão transversal, corroborando o protocolo compensatório do Padrão III18. Metas terapêuticas individualizadas, braquetes especí!cos, forma de arcos diagra- mados ou de!nidos com base nos objetivos do tratamento e recursos mecânicos como elásticos instalados em tempo e modo estratégicos compõem um protocolo e!ciente para tra- tamento compensatório das más oclusões do padrão III17,18,19. Para a mecânica de protrusão, um arco com alças ômega ou molas verticais bilateralmente pode ser utilizado para pro- mover a ação de vestibularização dos incisivos. Como efeitos de reação, os incisivos ofereceriam resistência na região ante- rior, causando inclinação distal dos primeiros molares, onde as alças ômegas ou as molas encontram-se apoiadas. Além disso, como o arco está amarrado anteriormente e não há possibili- dade de deslizar distalmente ao molar, devido às alças, geraria simultaneamente uma expansão transversal. Seguindo essa perspectiva, deve-se associar o uso de elásticos com vetor Classe III para anular a reação de angulação distal dos mola- res. Devido à função de ancoragem, esses elásticos devem ser utilizados quase diuturnamente, removendo-os apenas para os momentos de refeição e higienização bucal17. Quanto ao efeito da expansão transversal, se essa não for desejável, apenas os dentes anteriores devem ser incluídos na mecânica, deixando-se de amarrar os dentes posteriores. No presente caso, especi!camente, a paciente apresentava mordida cruzada posterior bilateral, associada ao trespasse anterior justo; assim, tanto a ação de protrusão como a rea- ção de expansão transversal foram positivas e aproveitadas, limitando-se apenas o efeito de distalização do molar. Ainda com relação aos efeitos da mecânica na arcada supe- rior, por se tratarem de expansão e protrusão, o alinhamento An TL, Cardoso MA, Maltagliati LA, Capelozza Filho L Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-40 39 seria facilitado se algum apinhamento estivesse simultanea- mente presente. Nessa paciente, devido à extração previa- mente realizada, não havia apinhamento — em vez disso, es- paçamento. Assim, ao aceitar essa abordagem, é mandatório um planejamento de reanatomização dos dentes anteriores a !m de manter o aumento do perímetro da arcada. Situações similares de ausência de apinhamento podem ser encontradas quando a compensação natural encontra-se plena, porém in- su!ciente para camu#ar a discrepância sagital. Nesses casos, após um planejamento estético cuidadoso, a reanatomização dentária por aumento deve ser considerada, pois qualquer ten- tativa visando fechar ortodonticamente esses espaços anularia o efeito da mecânica de protrusão. Se para a arcada superior os objetivos eram a protrusão e expansão, para a arcada inferior, restrição ou até retração foram indicadas no protocolo terapêutico para essa pacien- te, como é norma nas más oclusões do Padrão III17, mas com a ressalva de que a retração poderia diminuir o espaço re- servado para a língua, como mencionado anteriormente23,24. No presente caso, os incisivos inferiores já se encontravam relativamente verticalizados em relação à sín!se, um fator adicional que contraindicou a retração anterior. Em vez disso, efetuou-se um remanejamento dos espaços, evitando ao má- ximo a protrusão anterior, reposicionando o canino inferior esquerdo em uma relação de Classe I. Com isso, surgiu espa- ço su!ciente para instalação de um implante osseointegrável correspondente ao dente 34, previamente extraído. Vale lembrar que o espaço obtido para a coroa dentá- ria nem sempre corresponde ao espaço reservado para a raiz, portanto, é necessária uma tomada radiográ!ca para a sua determinação. No presente caso, o uso da mola de sec- ção aberta promoveu uma distalização coronária do dente 35, mas também uma mesialização da raiz, limitando ainda mais o espaço para o implante. Para a obtenção de espaço radicular, foi confeccionada uma dobra em “Z” no !o aço 0,018” associada a um stop, a !m de distalizar a raiz sem que a coroa voltasse a mesializar-se25,26. Essa correção radi- cular demanda mais tempo do que uma movimentação em nível coronário, devido à resistência do osso alveolar. Durante a mecânica para correção transversal, para evitar que a arcada superior fosse expandida de forma excessiva, promoveu-se, também, a contração da arcada inferior. Essa mecânica recíproca, expansão superior e constrição inferior, foi extremamente coerente na tentativa de minimizar o custo biológico periodontal de ambas as arcadas. Contudo, deve- -se ressaltar que a mecânica de contração posterior acarreta- ria, simultaneamente, uma protrusão anterior. Portanto, o uso do elástico com vetor de Classe III como ancoragem é im- prescindível desde o primeiro arco de nivelamento inferior17. No presente caso, ao eliminar a mordida cruzada pos- terior, a aparência de assimetria mandibular foi amenizada em função do grau suave de laterognatismo que a pacien- te apresentava. Essa possibilidade terapêutica pode ser con!rmada desde o momento do diagnóstico, ao manipu- lar a mandíbula para uma postura de relação cêntrica. Nes- sa postura provável, o diagnóstico diferencial entre uma assimetria mandibular predominantemente esquelética ou funcional pode ser estabelecido. Em um tratamento ortodôntico, tanto os efeitos de ação como os efeitos de reação estão obrigatoriamente presen- tes25. Quando a ação é realizada, a reação a acompanha. Muitas vezes, um tratamento prolongado é ocasionado por simples de!ciência no controle desses efeitos de reação, por parte do pro!ssional. Uma leitura consciente desses efeitos capacita o pro!ssional a controlar, anular ou até aproveitar os efeitos da reação, que, nesse último caso, podem tornar o tratamento mais curto. No presente caso, o planejamento proposto seguiu essa perspectiva. A mecânica de protrusão e expansão na arcada superior, juntamente com a mecânica de constrição na arcada inferior, aproveitaram, simultanea- mente, os efeitos da ação e reação; enquanto o uso de elás- tico com vetor de Classe III como ancoragem visou efetivar a ação para a arcada superior e controlar, ou até anular, o efeito de reação na arcada inferior. Quanto à contenção pós-tratamento para portadores de más oclusões do Padrão III, é essencial que o protocolo seja o uso do aparelho de Hawley superior e barra lingual 3x3 inferior, associados ao uso noturno de aparelho remo- vível do tipo Osamu17. CONCLUSÕES O presenteartigo abordou o tratamento compensató- rio de uma paciente adulta, com laterognatismo suave e limítrofe para Padrão III, com relações dentárias prejudi- cadas nas três dimensões. Um exame minucioso a !m de quali!car e quanti!car os problemas dentofaciais, associa- do à queixa da paciente — isenta de comprometimento facial —, tornou possível a decisão de compensar por meio do resgate de forma das arcadas. As peculiaridades do tratamento ortodôntico em adul- to foram mandatórias para que o tempo fosse curto. Para isso, a abordagem interdisciplinar foi uma necessidade que ofereceu resultados satisfatórios dentro dessa premis- sa. Além disso, a compreensão dos efeitos de ação e de reação, bem como a iniciativa de seu controle relativo, tor- naram a mecânica mais efetiva. CASO CLÍNICO Tratamento compensatório limitado de adulto com assimetria e má oclusão do Padrão III Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 abr-maio;12(2):24-4040 REFERÊNCIAS 1. Aurélio BHF. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3a ed. Curitiba: Positivo; 2004. p. 212. 2. Lundstrom A. Some asymmetries of the dental arches, jaws and skull, and their etiological signi!cance. Am J Orthod. 1961;47(2):81-106. 3. Bishara SE, Burkey PS, Kharouf JG. Dental and facial asymmetries: a review. Angle Orthod. 1994;64(2):89-98. 4. Sutton PR. Lateral facial asymmetry: methods of assessment. Angle Orthod. 1968;38(1):82-92. 5. Peck S, Peck L. Skeletal asymmetry in esthetically pleasing faces. Angle Orthod. 1991;61(1):43-8. 6. Sheats RD, McGorray SP, Musmar Q, Wheeler TT, King GJ. Prevalence of orthodontic asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(3):138-45. 7. Severt TR, Prof!t WR. The prevalence of facial asymmetry in the dentofacial deformities population at the University of North Carolina. Int J Adult Orthod Orthog Surg. 1997;12(3):171-6. 8. Haraguchi S, Takada K, Yasuda Y. Facial asymmetry in subjects with skeletal Class III deformity. Angle Orthod. 2002;72(1):28-35. 9. Hayashi K, Muguruma T, Hamaya M, Mizoguchi I. Morphologic characteristics of the dentition and palate in cases of skeletal asymmetry. Angle Orthod. 2004;74(1):26-30. 10. Hwang HS, Hwang CH, Lee KH, Kang BC. Maxillofacial 3-dimensional image analysis for the diagnosis of facial asymmetry. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006;130(6):779-85. 11. Kronmiller JE. Development of asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(3):134-7. 12. Burstone CJ. Diagnosis and treatment planning of patients with asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(3):153-64. 13. Shroff B, Siegel SM. Treatment of patients with asymmetries using asymmetric mechanics. Semin Orthod. 1998;4(3):165-79. 14. Rebellato J. Asymmetric extractions used in the treatment of patients with asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(3):180-8. Mauricio Almeida Cardoso Rua Padre João, 14-71 – CEP: 17.012-020 – Bauru/SP E-mail: maucardoso@uol.com.br ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA 15. Legan HL. Surgical correction of patients with asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(3):189-98. 16. Capelozza Filho L. Diagnóstico em Ortodontia. Maringá: Dental Press; 2004. 17. Capelozza L. Metas terapêuticas individualizadas. Maringá: Dental Press; 2011. 983 p. 18. Capelozza Filho L, Capelozza JAZ. DIAO. Diagrama individual anatômico objetivo. Uma proposta para escolha da forma dos arcos na técnica de Straight-Wire, baseada na individualidade anatômica e nos objetivos do tratamento. Rev Clín Ortodon Dental Press. 2004;3(5):84-92. 19. Capelozza Filho L, Silva Filho OG, Ozawa TO, Cavassan AO. Individualização de Braquetes na técnica de Straight-Wire: revisão de conceitos e sugestão de indicações para uso. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 1999;4(4):87-106. 20. Capelloza Filho L, Reis SAB, Cavassan AO, Ozawa TO. Tratamento ortodôntico em adultos: uma abordagem direcionada. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 2001;6(5):63-80. 21. Buttke TM, Prof!t WR. Indicando pacientes adultos para o tratamento ortodôntico. J Am Dent Assoc. 1999;2(4):48-54. 22. Williams S, Melsen B, Agerbaek N, Asboe V. The orthodontic treatment of malocclusion in patients with previous periodontal disease. Br J Orthod. 1982;9(4):178-84. 23. Kondo E, Aoba TJ. Nonsurgical and nonextraction treatment of skeletal Class III open bite: its long-term stability. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2000;117(3):267-87. 24. Kawakami S, Yokozeki M, Takahashi T, Horiuchi S, Moriyama K. Siblings with spaced arches treated with and without partial glossectomy. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2005;127(3):364-73. 25. Smith RJ, Burstone CJ. Mechanics of tooth movement. Am J Orthod. 1984; 85(4):294-307. 26. Burstone CJ, Koenig HA. Creative wire bending: the force system from step and V bends. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1988;93(1):59-67. Copyright of Revista Clínica de Ortodontia Dental Press is the property of Dental Press International and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print, download, or email articles for individual use.
Compartilhar