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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO LÍVIA TENÓRIO CERQUEIRA CRESPO HALOFLUORAÇÃO DE COMPOSTOS INSATURADOS UTILIZANDO ÁCIDOS TRI-HALOISOCIANÚRICOS 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Lívia Tenório Cerqueira Crespo HALOFLUORAÇÃO DE COMPOSTOS INSATURADOS UTILIZANDO ÁCIDOS TRI-HALOISOCIANÚRICOS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química, Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Química). Orientadores: Pierre Mothé Esteves Márcio Contrucci S. de Mattos Rio de Janeiro Março de 2009 iii CRESPO, Lívia Tenório Cerqueira Halofluoração de compostos insaturados utilizando ácidos tri- haloisocianúricos / Lívia Tenório Cerqueira Crespo. Rio de Janeiro: UFRJ/ IQ, 2009. xvii, 134 f: il.; 31cm Orientadores: Pierre Mothé Esteves e Márcio Contrucci Saraiva de Mattos Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ IQ/ Programa de Pós-Graduação em Química, Rio de Janeiro, 2009. Referencias Bibliográficas: f. 75-81 1. Halofluoração, 2. Ácido tricloroisocianúrico, 3. Ácido tribromoisocianúrico 4. Ácido tri-iodoisocianúrico 5. Complexo HF.Py – Dissertação de Mestrado I. Esteves, P.M.(orient.) II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, CT, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Química III. Título iv À minha mãe. À Bela, Maria e João. Ao Gui. v AGRADECIMENTOS - Aos meus orientadores Pierre Mothé Esteves e Márcio Contrucci S. de Mattos pela confiança, atenção e amizade; - Aos professores do IQ-UFRJ pelas disciplinas ministradas, em especial prof. David Nicoden e prof. Kover; - Ao prof. Kover pelo exemplo de cientista e professor; - Ao LABRMN do IQ pelos espectros de RMN, em especial a professora Rosane San Gil pelos RMN 19F; - À todos os funcionários do IQ; - À Família INTERLAB pelos momentos de descontração, conversas, ajudas e amizade. Em especial a Fernanda, Rodrigo e Eduardo que com suas sugestões e experiência contribuíram na elaboração deste trabalho; - Aos “irmãos científicos” Gabriela, Haryadilla e Leornardo pelas discussões e amizade; - Aos colegas do Laboratório do prof. Otavio, em especial ao Paulo, José e Giselda pelas ajudas e “empréstimos” de equipamentos, quando necessário; - Ao CEFETEQ e seus funcionários, onde despertou meu interesse pela ciência, em especial ao prof. Marcelo Pedrosa que ministrou de forma fascinante as disciplinas de química orgânica nesta instituição; - À professora Vera Lucia P. Patrocínio e seus alunos pelos ensinamentos, paciência e carinho durante os anos de iniciação científica; - Aos hoje professores Rodrigo Souza e Leandro Soter que sempre estiveram disponíveis a me ajudar desde os tempos de IC; - Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos queridos pela confiança, amor e carinho; - Ao meu pai (in memorian) por todo carinho, cuidado e amor; - À minha MÃE, minha inspiração, meu exemplo de luta, determinação, superação e amor. Agradeço seu carinho, amizade, preocupação e força; - À toda minha família em especial aos avós Agenor e Maria; - Ao meu noivo Guilherme pela paciência, carinho, “orientação acadêmica”, cumplicidade e companheirismo; - Aos meus amigos que contribuíram indiretamente neste trabalho; - Ao CNPq e FAPERJ pelas bolsas concedidas - À Deus. vi RESUMO CRESPO, Lívia Tenório Cerqueira. Halofluoração de compostos insaturados utilizando ácidos tri-haloisocianúricos. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Neste trabalho desenvolveu-se uma metodologia eficiente para síntese de compostos halofluorados a partir de alquenos, utilizando-se os ácidos tri- haloisocianúricos (TXCA), que são agentes eletrofílicos economicamente viáveis. Dentre as várias metodologias testadas procedeu-se as reações de halofluoração utilizando-se 2 mmol de alqueno, 4 mmol do complexo HF.Py e 0,34 mmol de TXCA em 10 mL de diclorometano seco, sob atmosfera de argônio. Os alquenos utilizados foram ciclo-hexeno, metil-ciclo-hexeno, estireno e α-metil-estireno, obtendo-se os produtos desejados, regiosseletivos, em bons rendimentos (61-88%). Os ácidos tri- haloisocianúricos mostraram que são agentes eficientes de transferência eletrofílica dos halogênios cloro, bromo e iodo (TCCA, TBCA e TICA) nas reações de halofluoração de alquenos estudadas. Nas reações com ciclo-hexeno obteve-se somente o produto de halofluoração trans, indicando a formação do íon halônio como intermediário da reação. Constatou-se que estes reagentes possuem reatividades diferentes. O ácido tricloroisocianúrico mostrou-se o mais reativo obtendo-se os produtos de clorofluoração em minutos enquanto que as reações com TBCA e TICA, avaliadas num mesmo período de tempo, ainda continham substrato. As reações com TCCA também foram as menos seletivas, obtendo-se quantidades expressivas dos produtos de cloração dos alquenos, possivelmente devido a ação do fluoreto como uma base. Palavras-chave: halofluoração, ácido tri-haloisocianúrico, complexo HF.Py. vii ABSTRACT CRESPO, Lívia Tenório Cerqueira. Halofluoração de compostos insaturados utilizando ácidos tri-haloisocianúricos. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. This work has developed an effective methodology for synthesis of halofluorine compounds from alkenes, using the trihaloisocyanuric acids (TXCA), which are economically viable eletrophilic agents. Among the various methods tested was made of the reactions halofluorination using 2 mmol of alkene, 4 mmol of the complex HF.Py and 0.34 mmol of TXCA in 10 mL of dry dichloromethane under argon atmosphere. The alkenes used were cyclohexene, methylcyclohexene, styrene and α-methyl-styrene, showing regioselectively products of halofluorination in good yields (61-88%). The trihaloisocyanuric acids showed that are efficient agents for transferring electrophilic chlorine, bromine and iodine (TCCA, TBCA and TICA) in the reactions of halofluorination studied. In reactions with cyclohexene obtained only the product of halofluorination trans, indicating the formation of halonium ion as an intermediate of the reaction. It was found that these reagents have different reactivity. The trichloroisocyanuric acid was the most reactive resulting products of clorofluorination in minutes while the reaction with TBCA and TICA, evaluated at the same time and also contained substrate. The reactions with TCCA were also less selective, yielding significant quantities of products of chlorination of alkenes, possibly due to action of fluoride as a base. Keywords: halofluorination, trihaloisocyanuric acid, complex HF.Py. viii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Propriedades atômicas de alguns átomos 2 Tabela 2: Tensão superficial 4 Tabela 3: Diminuição da lipofilicidade em alcanos por fluoração 4 Tabela 4: Aumento da lipofilicidade em arenos por fluoração4 Tabela 5: Os pKa de ácidos carboxílicos não fluorados versus seus análogos fluorados 5 Tabela 6: Valores de pKa de moléculas orgânicas análogas não-fluoradas versus fluoradas 5 Tabela 7: Força de Ligação de algumas ligações orgânicas 7 Tabela 8: Organofluorados e suas aplicações 18 Tabela 9: Emulsões comercias de PFCs e seus aplicações medicinais 19 Tabela 10: Aplicações de Fluoropolimeros 20 Tabela 11: Relação entre solvente utilizado e produto de halofluoração 42 Tabela 12: Proporção de reagentes versus tempo reacional e conversão 43 Tabela 13: Bromofluoração de alquenos com TBCA 45 Tabela 14: Clorofluoração de alquenos com TCCA 52 Tabela 15: Iodofluoração de alquenos com TICA 57 Tabela 16: Reagentes e solventes 64 Tabela 17: Otimização da reação de bromofluoração do estireno com TBCA e HF.Py 68 ix ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Ponto de ebulição de hidrocarbonetos versus moléculas perfluoradas 3 Figura 2: Influência do átomo de flúor na geometria de carbânions 6 Figura 3: Produtos naturais fluorados e onde são encontrados entre parênteses 9 Figura 4: N-halosuccinimida 16 Figura 5: Radiofármacos 18F-marcados e suas aplicações 21 Figura 6: Defensivos Agrícolas Organofluorados 23 Figura 7: Fármacos fluorados que agem no SNC 24 Figura 8: Fármacos fluorados 25 Figura 9: Surfactantes Fluorados 26 Figura 10: Ácidos tri-haloisocianúricos 26 Figura 11: Estrutura do TCCA 27 Figura 12: Estrutura do TBCA 31 Figura 13: Estrutura do TICA 33 Figura 14: Líquido iônico BMIMBF4 39 x ÍNDICE DE ESQUEMAS Esquema 1: Efeito estéreo-eletrônico do flúor (repulsão coulômbica) 8 Esquema 2: Compostos orgânicos e seus respectivos mimetizadores 8 Esquema 3: Reação de substituição nucleofílica com KF e polietilenoglicol como solvente 11 Esquema 4: (a) Reação de substituição nucleofílica em líquido iônico; (b) Reação de substituição nucleofílica em terc-butanol 11 Esquema 5: Exemplo de reação de fluoração com AgF 12 Esquema 6: Síntese de β-flúor-amina utilizando TBAF 12 Esquema 7: (a) Hidrofluoração de alqueno e (b) Fluoração de álcool com HF.Py 13 Esquema 8: Reação de iodo-fluoração de alqueno 14 Esquema 9: Reação de formação de fluoro-vinílicos 15 Esquema 10: Reação de formação de difluorados 15 Esquema 11: Reação de fluorobromação com BrF e HF.Py / NBS 16 Esquema 12: Esquema de intermediários proposto para reação de halofluoração de alqueno com NBS e HF-Et3N 17 Esquema 13: Síntese de 18F-2-fluoro deoxiglicose 22 Esquema 14: Síntese do TCCA a partir do ácido cianúrico 27 Esquema 15: Reação de oxidação de éteres com TCCA 28 Esquema 16: Reação de oxidação de pirazolinas 1,3,5-trissubstituídas com TCCA 28 Esquema 17: Reação de co-cloração de alquenos com TCCA e nucleófilos oxigenados 29 Esquema 18: Reação de cloração de anéis aromáticos com TCCA 29 Esquema 19: Reação de anéis aromáticos deficientes em elétrons com TCCA em H2SO4 30 Esquema 20: Reação de α,α-dicloração com TCCA 30 Esquema 21: Síntese do TBCA a partir do isocianurato de prata 31 Esquema 22: Síntese do TBCA a partir do ácido cianúrico 32 Esquema 23: Reação de bromação de anéis aromáticos com TBCA 32 Esquema 24: Reação de co-bromação de alquenos com TBCA e nucleófilos oxigenados 32 xi Esquema 25: Reação de dibromação vicinal de alqueno 33 Esquema 26: Reação de α-monobromação de compostos β-dicarbonilados 33 Esquema 27: Síntese de TICA a partir do ácido dicloroisocianúrico 34 Esquema 28: Síntese de TICA a partir do TCCA 34 Esquema 29: Reação de co-iodação de alquenos com TICA e nucleófilos oxigenados 35 Esquema 30: Reação de iodação de anéis aromáticos com TICA 35 Esquema 31: Esquema geral para a reação de halofluoração de alquenos com TXCA e HF.Py 36 Esquema 32: Esquema de intermediários na síntese do TBCA 37 Esquema 33: Esquema geral da reação de bromofluoração do estireno 40 Esquema 34: Reação de Oxidação do THF em presença de TCCA 40 Esquema 35: Esquema de Intermediários da reação de halofluoração com TXCA 44 Esquema 36: Esquema de intermediários para reação de clorofluoração com TCCA e HF.Py 51 Esquema 37: Esquema proposto de intermediários para a reação com α-Me- estireno, TCCA e HF.Py 62 xii ÍNDICE DE ESPECTROS Espectro 1: Infravermelho do ácido tribromoisocianúrico 85 Espectro 2: Infravermelho do ácido triiodoisocianúrico 86 Espectro 3: RMN1H do líquido iônico BMIMBF4 87 Espectro 4: RMN13C do líquido iônico BMIMBF4 88 Espectro 5: Massas de 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano 89 Espectro 6: RMN1H de 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano 90 Espectro 7: RMN13C de 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano 91 Espectro 8: RMN19F de 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano 92 Espectro 9: Massas de 3-bromo-2-fenil-2-fluoro-propano 93 Espectro 10: RMN1H de 3-bromo-2-fenil-2-fluoro-propano 94 Espectro 11: RMN13C de 3-bromo-2-fenil-2-fluoro-propano 95 Espectro 12: RMN19F de 3-bromo-2-fenil-2-fluoro-propano 96 Espectro 13: Massas de trans-1-bromo-2-fluorociclo-hexano 97 Espectro 14: RMN1H de trans-1-bromo-2-fluorociclo-hexano 98 Espectro 15: RMN13C de trans-1-bromo-2-fluorociclo-hexano 99 Espectro 16: RMN19F de trans-1-bromo-2-fluorociclo-hexano 100 Espectro 17: Massas de Fref-trans-2-bromo-1-fluoro-1-metilciclo-hexano 101 Espectro 18: RMN1H de Fref-trans-2-bromo-1-fluoro-1-metilciclo-hexano 102 Espectro 19: RMN13C de Fref-trans-2-bromo-1-fluoro-1-metilciclo-hexano 103 Espectro 20: RMN19F de Fref-trans-2-bromo-1-fluoro-1-metilciclo-hexano 104 Espectro 21: Massas de 2-cloro-1-fenil-1-fluoro-etano 105 Espectro 22: RMN1H de 2-cloro-1-fenil-1-fluoro-etano 106 Espectro 23: RMN13C de 2-cloro-1-fenil-1-fluoro-etano 107 Espectro 24: RMN19F de 2-cloro-1-fenil-1-fluoro-etano 108 Espectro 25: Massas de 3-cloro-2-fenil-2-fluoro-propano 109 Espectro 26: RMN1H de 3-cloro-2-fenil-2-fluoro-propano e subproduto 110 Espectro 27: RMN13C de 3-cloro-2-fenil-2-fluoro-propano e subproduto 111 Espectro 28: RMN19F de 3-cloro-2-fenil-2-fluoro-propano 112 Espectro 29: Massas de β-cloro-α-metil-estireno 113 Espectro 30: RMN1H de β-cloro-α-metil-estireno 114 Espectro 31: RMN13C de β-cloro-α-metil-estireno 115 xiii Espectro 32: Massas de trans-1-cloro-2-fluorociclo-hexano116 Espectro 33: RMN19F de trans-1-cloro-2-fluorociclo-hexano 117 Espectro 34: Massas de trans-2-cloro-1- fluoro -1-metilciclo-hexano 118 Espectro 35: Massas de 1-fenil-1-fluoro-2-iodo-etano 119 Espectro 36: RMN1H de 1-fenil-1-fluoro-2-iodo-etano 120 Espectro 37: RMN13C de 1-fenil-1-fluoro-2-iodo-etano 121 Espectro 38: RMN19F de 1-fenil-1-fluoro-2-iodo-etano 122 Espectro 39: Massas de 2-fenil-2-fluoro-3-iodo-propano 123 Espectro 40: RMN1H de 2-fenil-2-fluoro-3-iodo-propano 124 Espectro 41: RMN13C de 2-fenil-2-fluoro-3-iodo-propano 125 Espectro 42: RMN19F de 2-fenil-2-fluoro-3-iodo-propano 126 Espectro 42: RMN19F de 2-fenil-2-fluoro-3-iodo-propano 127 Espectro 44: RMN1H de trans-1- fluoro -2-iodociclo-hexano 128 Espectro 45: RMN13C de trans-1- fluoro -2-iodociclo-hexano 129 Espectro 46: RMN19F de trans-1-fluoro-2-iodociclo-hexano 130 Espectro 47: Massas de Fref-trans-1-fluoro-2-iodo-1-metilciclo-hexano 131 Espectro 48: RMN1H de Fref-trans-1-fluoro-2-iodo-1-metilciclo-hexano 132 Espectro 49: RMN13C de Fref-trans-1-fluoro-2-iodo-1-metilciclo-hexano 133 Espectro 50: RMN19F de Fref-trans-1-fluoro-2-iodo-1-metilciclo-hexano 134 xiv LISTA DE ABREVIAÇÕES BMIMBF4 – tetrafluoroborato de butil-metil-imidazol CFCs – clorofluorocarbonos CG-EM – cromatógrafo a gás acoplado ao espectrômetro de massas d – dupleto dd – duplo-dupleto ddd – duplo-duplo-dupleto ddt – duplo-triplo-dupleto DFT – teoria do funcional de densidade dm – duplo-multipleto dt – duplo-tripleto dtd – duplo-triplo-dupleto HF.Py – ácido fluorídrico-piridina HFCs – hidrofluorocarbonos IV – infravermelho J – constante de acoplamento LCD – monitor de cristal líquido (liquid crystal display) m – multipleto m/z – razão massa/carga NBS – N-bromossuccinimida NIS – N-iodossuccinimida NXS – N-halossuccinimida PCTFE – policlorotrifluoroetileno PE – ponto de ebulição xv PEG – polietilenoglicol PET – tomografia por emissão de pósitrons PFC – polifluorocarbonos PTFE – politetrafluoroeteno PVDF – Py – piridina quintd – quinto-dupleto RMN – Ressonância Magnética Nuclear RMN 1H – Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio RMN 13C – Ressonância Magnética Nuclear de Carbono-13 RMN 19F – Ressonância Magnética Nuclear de Flúor s – simpleto sext - sextupleto SNC – sistema nervoso central t – tripleto t.a. – temperatura ambiente TBAF – fluoreto de tetrabutilamônio TBCA – ácido tribromoisocianúrico TCCA – ácido tricloroisocianúrico td – triplo-dupleto td – triplo-dupleto THF – tetrahidrofurano TICA – ácido tri-iodoisocianúrico TMS – tetrametilsilano TXCA – ácido tri-haloisocianúrico xvi [18F]FDG – 18F-2-fluorodeoxiglicose xvii SUMÁRIO Pág. RESUMO vi ABSTRACT vii ÍNDICE DE TABELAS viii ÍNDICE DE FIGURAS ix ÍNDICE DE ESQUEMA x ÍNDICE DE ESPECTROS xii LISTA DE ABREVIATURAS xiv 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 1 1.1.1. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS 2 1.1.1.1. PROPRIEDADES ATÔMICAS DO FLÚOR 2 1.1.1.2. PONTO DE EBULIÇÃO E TENSÃO SUPERFICIAL DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 2 1.1.1.3. LIPOFILICIDADE DE COMPOSTOS RGANOFLUORADOS 4 1.1.1.4. ACIDEZ E BASICIDADE DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 5 1.1.1.5. LIGAÇÃO HIDROGÊNIO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 6 1.1.1.6. FORÇA DA LIGAÇÃO C-F 7 1.1.1.7. EFEITO ESTÉRICO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 7 1.1.1.8. EFEITO MIMÉTICO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 8 1.1.2. SÍNTESE DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 9 1.1.2.1. FLUORAÇÃO NUCLEOFÍLICA 10 1.1.2.2. HALOFLUORAÇÃO 14 1.1.3 APLICAÇÕES DOS COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 17 xviii 1.1.3.1 FLUIDOS INERTES 17 1.1.3.2. POLÍMEROS 20 1.1.3.3. TÉCNICAS DE GERAÇÃO DE IMAGEM 21 1.1.3.4. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS 22 1.1.3.5. FÁRMACOS 23 1.1.3.6. SURFACTANTES 25 1.2. ÁCIDO TRI-HALOISOCIANÚRICO 26 1.2.1. ÁCIDO TRICLOROISOCIANÚRICO 27 1.2.2. ÁCIDO TRIBROMOISOCIANÚRICO 31 1.2.3. ÁCIDO TRI-IODOISOCIANÚRICO 33 2. OBJETIVO 36 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 37 3.1. SÍNTESE DO ÁCIDO TRIBROMOISOCIANÚRICO 37 3.2. SÍNTESE DO ÁCIDO TRI-IODOISOCIANÚRICO 38 3.3. REAÇÃO DE HALOFLUORAÇÃO COM ALQUENOS 39 3.3.1. SOLVENTE 39 3.3.2. TEMPERATURA 42 3.3.3. PROPORÇÃO ALQUENO:REAGENTE DE OLAH 42 3.3.4. SÍNTESE DE HALOFLUORADOS 43 3.3.4.1. REAÇÕES COM TBCA 44 3.3.4.2. REAÇÕES COM TCCA 49 3.3.4.3. REAÇÕES COM TICA 56 3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 61 4. CONCLUSÕES 63 5. EXPERIMENTAL 64 xix 5.1.GERAL 64 5.2. SÍNTESE DO TBCA 66 5.3. SÍNTESE DO TICA 67 5.4 OTIMIZAÇÃO DA REAÇÃO DE BROMOFLUORAÇÃO DO ESTIRENO COM TBCA e HF.Py 67 5.5. HALO-FLUORAÇÃO DE ALQUENOS COM TXCA E HF.Py 68 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 76 7. ESPECTROS 84 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS A introdução de flúor em moléculas orgânicas tem despertado grande interesse nas diversas áreas da indústria devido às alterações das propriedades físicas e químicas que o átomo de flúor proporciona as moléculas. Entre elas destacam-se o aumento da estabilidade térmica e oxidativa, alteração dos efeitos eletrônicos e da lipofilicidade e possível atuação como mimético de hidrogênio e hidroxila (CHAMBERS, 2004; DOLBIER, 2005; MIKAMI, ITOH & YAMANAKA, 2003; WILKINSON, 1992). A aplicação industrial de compostos organofluorados iniciou-se na década de 1930 com a introdução dos clorofluorocarbonetos (CFCs) como agentes refrigerantes. Contudo, foi no início do Projeto Manhattan, para o desenvolvimento de armas nucleares em 1941, que ocorreu expressiva expansão industrial da química de organofluorados. Este projeto trouxe a necessidade de produzir materiais altamente resistentes, lubrificantes e do desenvolvimento de tecnologia para manipulação de compostos fluoroinorgânicos extremamente corrosivos. Após a constatação que os CFCs eram capazes de destruir a camada de ozônio, em 1974, e eliminação gradual da maior parte dos CFCs, determinada peloProtocolo de Montreal, em 1987, centralizou-se as aplicações dos compostos organofluorados nos outros campos de aplicação como fluoropolímeros, fluorosurfactantes e intermediários fluorados farmacêuticos e agroquímicos. Atualmente, o principal e maior segmento do mercado dos compostos contendo flúor é a química fina para uso como produtos farmacêuticos, agroquímicos e na indústria de eletrônicos. O último tendo recebido destaque nos 2 últimos anos devido aos compostos relevantes que incluem cristais líquidos para aplicação em LCD e fluoropolímeros especializados (BASTOS, 2007; CHAMBERS, 2004; DOLBIER, 2005; KIRSCH, 2004; RIESS & KRAFFT, 1998; WILKINSON,1992). 1.1.1. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS 1.1.1.1. PROPRIEDADES ATÔMICAS DO FLÚOR O flúor encontra-se no segundo período da tabela periódica e pertence à família dos halogênios. Conforme ilustrado abaixo (Tabela 1) é o elemento mais eletronegativo, possui um pequeno raio de van der Waals e baixa polarizabilidade. Como pertence ao mesmo período do carbono, há uma boa sobreposição orbitalar entre estes átomos (SMART, 2001; O’HAGAN, 2008). Tabela 1: Propriedades atômicas de alguns átomos Elemento químico H C O F Cl Br I Eletronegatividade Raio de van der Waals (rv) Polarizabilidade (A3) 2,1 1,20 0,7 2,5 1,85 - 3,5 1,40 0,8 4,0 1,35 0,5 3,0 1,81 2,2 2,8 1,95 3,1 2,5 2,15 4,7 1.1.1.2. PONTO DE EBULIÇÃO E TENSÃO SUPERFICIAL DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS O pronunciado contraste das propriedades físicas (ponto de ebulição e tensão superficial) de compostos perfluorados versus hidrocarbonetos está ilustrado na Figura 1 e Tabela 2. 3 Figura 1: Ponto de ebulição (PE) de hidrocarbonetos versus moléculas perfluoradas O ponto de ebulição das moléculas perfluoradas é em geral menor do que dos hidrocarbonetos não-ramificados análogos, coerente com suas fracas interações intermoleculares. Se os compostos perfluorados tivessem interações intermoleculares positivas da mesma intensidade dos hidrocarbonetos apresentariam valores maiores de ponto de ebulição, pois o flúor é mais pesado que o hidrogênio (massa atômica: F = 18,998 u; H = 1,0079 u). Entretanto, devido a forte repulsão eletrônica entre os átomos de flúor dos perfluorados suas interações intermoleculares são muito fracas ou inexistentes (KIRSCH, 2004; SMART, 2001). Por razões semelhantes, a menor tensão superficial dos compostos perfluorados, comparado com os hidrocarbonetos, deve-se também às fracas interações intermoleculares destes compostos (Tabela 2; SMART, 2001). Por esta razão o PTFE, por exemplo, tem propriedade de baixa fricção e é usado como revestimento de frigideiras antiaderentes (KIRSCH, 2004). 4 Tabela 2: Tensão superficial Molécula Tensão superficial (dyn/cm) n-C8F18 n-C8H18 -(-CF2CF2-)- -(-CH2CH2-)- 13,6 21,8 18,5 31 1.1.1.3. LIPOFILICIDADE DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS Em termos gerais a mono, di ou trifluorometilação de alcanos diminui a lipofilicidade das moléculas devido à formação de um dipolo na ligação C–F, C–CHF2 e C–CF3 (Tabela 3; SMART, 2001). Tabela 3: Diminuição da lipofilicidade em alcanos por fluoração Entretanto, conforme ilustrado abaixo, a fluoração de compostos aromáticos (Tabela 4) e polifluorações aumentam a lipofilicidade (SMART, 2001). Tabela 4: Aumento da lipofilicidade em arenos por fluoração Alcano Log P (octanol/ água) CH3-CH3 CH3-CHF2 CH3(CH2)3CH3 CH3(CH2)3CH2F 1,81 0,75 3,11 2,33 Aromático (C6H5X) Log P (octanol/ água) CH3 CF3 OCH3 OCF3 SCH3 SCF3 0,56 0,88 -0,02 1,04 0,61 1,44 5 A fluoração de átomos adjacentes a ligações duplas também aumenta a lipofilicidade, exceto no caso de compostos carbonílicos α-fluorados. Neste caso, a lipofilicidade relativa depende do solvente usado para medir o coeficiente de partição. Utilizando-se a mistura octanol-água observa-se a preferência da molécula fluorada pela fase orgânica, enquanto que no sistema benzeno-água ocorre o contrário (SMART, 2001). 1.1.1.4. ACIDEZ E BASICIDADE DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS Observa-se aumento da acidez dos ácidos carboxílicos fluorados devido a maior estabilidade da sua base conjugada, já que o átomo de flúor é um átomo elétroatrator por efeito indutivo, Tabela 5 (CHAMBERS, 2004; KIRSCH, 2004). Tabela 5: Os pKa de ácidos carboxílicos não fluorados versus seus análogos fluorados Ácido carboxílico pKa CH3CO2H CF3CO2H C6H5CO2H C6F5CO2H 4,76 0,52 4,21 1,75 Já o efeito da fluoração na ligação ácida C–H depende de vários fatores, incluindo o local da fluoração e a geometria do carbânion conjugado, Tabela 6 (SMART, 2001). Tabela 6: Valores de pKa de moléculas orgânicas análogas não-fluoradas versus fluoradas Molécula pKa CH3CO2CH3 CH2FCO2CH3 C6H5COCH2COC6H5 C6H5COCHFCOC6H5 CH2(NO2)2 CHF(NO2)2 28,2 21 10,7 8,5 3,63 7,70 6 As β-fluorações aumentam a acidez da ligação ácida C–H devido ao efeito indutivo proporcionado pelo flúor. Já α-fluorações podem tanto aumentar quanto diminuir a acidez. Em carbânions planos, como ilustrado na Figura 2 (onde os grupos nitro favorecem a geometria sp2 para melhor deslocalização da carga gerada por ressonância) a fluoração diminui a acidez devido à repulsão dos pares de elétrons desemparelhados do flúor e o par de elétrons do carbânion. No caso de carbânions tetraédricos, a fluoração aumenta a acidez devido a estabilização da base conjugada por efeito indutivo do flúor. (SMART, 2001). carbânion tetraédrico (sp3) H NO2 NO2 F NO2 NO2 carbânion trigonal plano (sp2) Figura 2: Influência do átomo de flúor na geometria de carbânions 1.1.1.5. LIGAÇÃO HIDROGÊNIO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS Embora o flúor seja o átomo mais eletronegativo da tabela periódica, a força da ligação de hidrogênio F...H entre um flúor-alcano e água (2,38 Kcal/mol) é mais fraca do que a ligação de hidrogênio O...H entre um álcool e a água (5 Kcal/mol) (O`HAGAN & RZEPA, 1997; PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001). Alterando- se o heteroátomo ligado ao hidrogênio ácido e a hibridização do carbono ligado ao flúor altera-se a força da ligação hidrogênio conforme esquematizado abaixo (SMART,2001). C–F...HO > C–F....HN C(sp3)–F...HO > C(sp2)–F...HO 7 1.1.1.6. FORÇA DA LIGAÇÃO C-F O flúor forma uma forte ligação com o carbono , o que aumenta a estabilidade térmica e oxidativa, comparado com a ligação carbono-hidrogênio. A ligação C-F é a ligação mais forte dentre as ligações C-Halogênio e demais ligações comuns em moléculas orgânicas (Tabela 7; MARCH, 1992; MIKAMI, ITOH & YAMANAKA, 2004; O`HAGAN, 2008; PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001). Tabela 7: Força de Ligação de algumas ligações orgânicas Ligação Química Força da Ligação (Kcal/mol) C–F C–H C-Cl C-Br C-I C-O C-N C-S 116 99 79 66 52 91 75 61 1.1.1.7. EFEITO ESTÉRICO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS Embora flúor e hidrogênio possuam raios de van der Waals similares, o efeito estereo-eletrônico proporcionado por cada um dos átomos é inteiramente dependente da natureza do estado de transição envolvido no processo em análise. A maneira com que estes átomos irão influenciar o meio relaciona-se com o grau de interações coulômbicas entre estes átomos e os demais átomosou grupos em questão (SMART, 1973; 2001). Conforme observado por Smart em 1973, biciclos insaturados reagem com Br2 para formar o produto cis quando fluorados nas posições endo. Já nos compostos fluorados nas posições exo, observa-se uma mistura dos produtos bromados cis e trans. Este fato pode ser explicado pela repulsão carga-carga entre 8 os átomos de flúor do biciclo fluorado nas posições endo e o bromo radical (espécie reativa), Esquema 1 (SMART,1973; 2001). F F H F H Br F F H F Br Br BrF FF Br2 / hv CCl4 F F F F F F H Br BrH Br2 / hv CCl4 52,5% 47,5% endo cis exo transcis Esquema 1: Efeito estéreo-eletrônico do flúor (repulsão carga-carga) 1.1.1.8. EFEITO MIMÉTICO EM COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS O átomo de flúor tem estrutura isoeletrônica (2s 2p) à do oxigênio. Consequentemente, fluoro-alcanos, fluoro-alquenos e difluorometilenos são referidos como isostéricos de álcoois, amidas e ésteres, respectivamente, por substituírem isostericamente esses aceptores de ligação hidrogênio, Esquema 2, mesmo apresentando interações intermoleculares de menor intensidade. Como resultado, compostos organofluorados obtidos por substituição de átomos de hidrogênio ou grupos hidroxila de compostos fisiologicamente ativos podem ser tidos como similares em sistemas biológicos (MIKAMI, ITOH & YAMANAKA, 2004). F OH F F O H F N O H (a) (b) (c) Esquema 2: Compostos orgânicos e seus respectivos mimetizadores 9 1.1.2. SÍNTESE DE COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS O flúor é o 13° elemento mais abundante da crosta terrestre, encontrando-se predominantemente sob a forma inorgânica CaF2 (NATARAJAN et al, 2005). Sua ocorrência natural em moléculas orgânicas é bastante limitada, sendo conhecido um pequeno universo de produtos naturais contendo flúor, Figura 3 (CHAMBERS, 2004; DOLBIER, 2005; O`HAGAN, 1999). Devido este fato, a maioria da química do flúor está baseada em rotas sintéticas. Figura 3: Produtos naturais fluorados e onde são encontrados entre parênteses Contudo, devido às características peculiares do átomo de flúor, a síntese de compostos organofluorados permanece como uma área de difícil atuação. O pequeno raio de van der Waals e a baixa polarizabilidade do fluoreto faz com que o mesmo comporte-se melhor como uma base do que como nucleófilo (WILKINSON, 1992). 10 Os principais métodos sintéticos para a obtenção da ligação C–F podem ser divididos em transferência nucleofílica, transferência eletrofílica e fluoração eletrolítica. Este último sendo preferido na perfluoração de compostos orgânicos devido à dificuldade de técnicas para seu uso na fluoração seletiva. Para a indústria de química fina os mais importantes métodos de introdução do flúor são a partir da fluoração nucleofílica (KIRSCH, 2004). 1.1.2.1. FLUORAÇÃO NUCLEOFÍLICA A reação de substituição nucleofílica de halogênios com fluoreto foi iniciada em 1863 por Borodine, e desde então muitos reagentes tem sido desenvolvidos para superar problemas como baixa solubilidade, toxicidade, preço e estabilidade (WILKINSON,1992). Fluoretos de metais alcalinos têm sido usados para substituir outros halogênios (ou moléculas com bons grupos de saída) por flúor em haletos (ou tosilatos) de alquila, aromáticos e outros halo compostos. A principal vantagem reacional é a formação, termodinamicamente favorável da ligação C–F. As fluorações são frequentemente realizadas em solventes anidros e apróticos para evitar a formação da forte ligação de hidrogênio entre o íon fluoreto e a água ou o solvente. A nucleofilicidade destes fluoretos diminui na ordem CsF>RbF>KF>NaF>LiF pois se aumenta a energia da rede cristalina com a diminuição do raio do cátion (KIRSCH, 2004). Para evitar este problema éteres de coroa também têm sido utilizados para solvatar fluoretos inorgânicos por complexação, e dessa forma os deixam solúveis em solventes apolares, como o benzeno. Outra alternativa é a utilização de polietilenoglicol (PEG) como solvente para melhor solvatação dos cátions inorgânicos, Esquema 3 (WILKINSON, 1992). 11 Esquema 3: Reação de substituição nucleofílica com KF e polietilenoglicol como solvente Recentemente Kim e colaboradores demonstraram que a utilização de fluoreto de potássio em líquidos iônicos como solventes, com adição de 5 equivalentes de água (Esquema 4a, KIM, SONG & CHI, 2002), e, fluoreto de césio em terc-butanol (Esquema 4b, KIM et al, 2006; KIM et al, 2008), são excelentes meios para substituição nucleofílica. Esquema 4: (a) Reação de substituição nucleofílica em líquido iônico; (b) Reação de substituição nucleofílica em terc-butanol Fluoreto de prata é um reagente de fluoração bastante conhecido, pois possui alta seletividade para reações de substituição de halogênios por flúor. Além disso, sua baixa basicidade (comparado com fluoretos de metais alcalinos) minimiza a ocorrência de reação de eliminação frente à substituição nucleofílica. Sua desvantagem é o alto custo, sendo necessários 2 equivalentes do reagente para cada equivalente do substrato, Esquema 5 (CHAMBERS, 2004; WILKINSON, 1992). 12 Esquema 5: Exemplo de reação de fluoração com AgF Os fluoretos de tetra-alquilamônio foram desenvolvidos para solucionar os problemas de solubilidade dos fluoretos metálicos ao trocar-se um cátion inorgânico por um orgânico e, através disso, reduzir a afinidade do F- pelo cátion, aumentando a nucleofilicidade (Esquema 6). O fluoreto de tetrabutilamônio (TBAF) é o mais conhecido desta classe. Sua desvantagem é a alta hidroscopicidade, que frequentemente produz distintos resultados devido as diferentes quantidades de água no reagente (CHAMBERS, 2004; FAN et al, 2004; WILKINSON, 1992). Esquema 6: Síntese de β-flúor-amina utilizando TBAF Ácido fluorídrico anidro é o reagente de fluoração nucleofílica mais comum e barato (YOSHINO et al, 2006). Entretanto é o mais perigoso reagente de fluoração devido a seu baixo ponto de ebulição (19,6°C) e a sua toxicidade tópica e sistêmica em combinação com seu efeito anestésico local (KIRSCH, 2004). Com isso torna-se muito difícil o manuseio deste reagente em laboratório, embora ele seja extensivamente usado na indústria (CHAMBERS, 2004). Para superar a necessidade de trabalhar com HF em altas pressões várias metodologias foram desenvolvidas a fim de diminuir sua volatilidade, complexando-o 13 com bases Lewis (KIRSCH, 2004). Na década de 50, Hirschmann usou pela primeira vez o sistema tetra-hidrofurano - ácido fluorídrico como reagente de fluoração (HIRSCHMANN et al, 1956). Posteriormente, soluções estáveis de HF com aminas, amidas, ésteres, trialquilfosfinas e álcoois foram descritos. Dentre as soluções estáveis de HF com aminas destaca-se o poli (ácido fluorídrico)-piridina (30% piridina – 70% ácido fluorídrico), também conhecido como reagente de Olah. Primeiramente usado por Bergstrom e colaboradores (1963) na fluoração de alguns grupos funcionais em esteróides e, posteriormente, por Olah e colaboradores na hidrofluoração, halofluoração e nitrofluoração de alquenos, hidrofluoração de isocianatos, fluoração e halogenação de álcoois e fluoração e halofluoração de diazoalquenos e diazocetonas (Esquema 7a-b), este reagente mostrou-se extremamente útil como um agente de fluoração de fácil manipulação (BERGSTROM, NISHOLSOM & DODSOM, 1963; OLAH et al, 1979; YONEDA, 1991). Esquema 7: (a) Hidrofluoração de alqueno e (b) Fluoração de álcool com HF.Py O reagente de Olah é um líquido, altamenteácido, estável até 55°C. Assim como HF anidro, este reagente deve ser armazenado em frascos de polietileno de alta densidade e é altamente tóxico, mas, devido a sua baixa pressão de vapor, seu manuseio no laboratório torna-se mais fácil (KIRSCH, 2004). 14 O estudo por RMN da solução 30% piridina – 70% ácido fluorídrico mostra tratar-se de um equilíbrio entre fluoreto de polipiridínio e ácido fluorídrico, em menor proporção. No espectro de RMN 19F a – 60°C observa-se um quinteto (JHF=120Hz) em δ 188,1, consideravelmente mais desblindado que ácido fluorídrico puro, δ 76,1 (OLAH, NOJIMA & KEREKES, 1973; OLAH et al, 1979). Embora seja comercial, o reagente de Olah pode ser facilmente preparado pela adição de HF anidro em um recipiente de polietileno contendo piridina a – 78°C. Após a adição do ácido fluorídrico a mistura deve alcançar gradualmente a temperatura ambiente (OLAH, NOJIMA & KEREKES, 1973; OLAH et al, 1979). 1.1.2.2. HALOFLUORAÇÃO A halofluoração de hidrocarbonetos insaturados é um método bastante usado para incorporação de flúor em moléculas orgânicas (Esquema 8, OLAH et al, 1979; YOSHINO et al, 2005). Esquema 8: Reação de iodo-fluoração de alqueno Este método possui a vantagem de reagir em condições mais brandas do que a hidrofluoração direta e de formar intermediários interessantes para a síntese de uma larga variedade de compostos organofluorados (ALVERNHE, LAURENT & HAUFE, 1987). Como exemplo, compostos halofluorados reagem facilmente com DBU para formar fluoro-vinílicos (Esquema 9, KUROBOSHI & HIYAMA, 1995) e com 15 fluoreto de prata formando compostos difluorados in situ (Esquema 10, KIRSCH, 2004). Esquema 9: Reação de formação de fluoro-vinílicos Esquema 10: Reação de formação de difluorados O procedimento mais atrativo para formação de compostos halofluorados tem sido a combinação de N-halossuccinimidas (NXS, Figura 4), como fonte do íon halênio, e trietilamina tris-ácido fluorídrico (Et3N-HF) ou reagente de Olah (HF.Py) como fonte do íon fluoreto, como ilustrado anteriormente no Esquema 8 (OLAH, NOJIMA & KEREKES, 1973; OLAH et al, 1979; HAUFE, ALVERNHE & LAURENT,1986; ALVERNHE, LAURENT & HAUFE, 1987; HEDHLI & BAKLOUTI, 1994; HAUFE et al, 1995; KREMLEV & HAUFE, 1998; LÜBKE, SKUPIN & HAUFE, 2000; DOLENSKY & KIRK, 2002; HAUFE et al, 2004; O`HAGAN et al, 2006; CHAMBERS, 2004; KIRSCH, 2004). 16 Figura 4: N-halossuccinimida Embora alguns autores relatem a possibilidade de formação de XF no meio reacional, que seria então o agente de halofluoração, Rozen e Brand demonstraram em 1986 que BrF é mais reativo que NBS com HF.Py na halofluoração de alquinos com baixa densidade eletrônica (Esquema 11, ROZEN & BRAND, 1986). Esquema 11: Reação de fluorobromação com BrF e HF.Py / NBS A estereoquímica trans do produto da halofluoração indica a formação do anel de três membros (halônio) como intermediário, seguido de sua abertura pelo ataque do fluoreto (Esquema 12, CHAMBERS, 2004; KIRSCH, 2004; LÜBKE, SKUPIN & HAUFE, 2000). 17 Esquema 12: Esquema de intermediários proposto para reação de halofluoração de alqueno com NBS e HF-Et3N 1.1.3 APLICAÇÕES DOS COMPOSTOS ORGANOFLUORADOS 1.1.3.1 FLUIDOS INERTES A primeira e economicamente mais significativa classe de compostos organofluorados produzidos em escala industrial foram os vários CFCs (KIRSCH, 2004). Inicialmente eles foram introduzidos no mercado como agentes refrigerantes em substituição ao uso de amônia e dióxido de enxofre e, posteriormente, amplamente usados como propelentes para aerossóis e agentes espumantes em moldagem de plásticos (BOECHAT, 1996; CHAMBERS, 2004, KIRSCH, 2004). Em 1974, no auge de sua produção industrial, foram produzidos 900.000 toneladas de CFCs, principalmente CF2Cl2, CFCl3 e CHF2Cl. Entretanto seu uso passou a ser restringido pelo Protocolo de Montreal (1987), devido à comprovação que os CFCs, quando na estratosfera, sujeitos a radiação solar ultravioleta, dissociam-se liberando átomos de cloro que, em seguida, catalisam a decomposição de ozônio (O3) em oxigênio (O2) (CHAMBERS, 2004). Devido às propriedades únicas destes compostos (alta volatilidade, baixa reatividade química, atóxicos e não inflamáveis) muitos esforços foram dedicados na 18 descoberta de novos agentes com suas características que não destruam a camada de ozônio. Atualmente os hidrofluorocarbonetos (HFCs) e éteres fluorados têm sido considerados seus substitutos ideais. Gases fluorados como CF4, CClF3, CHF3 e C2F6 têm um importante campo de atuação na indústria de eletrônicos sendo usados no processo de plasma de gravuras durante a fabricação de microchips (KIRSCH, 2004). Os bromofluorocarbonetos, também chamados de Halons, eram amplamente usados, até recentemente, em extintores de incêndios onde o uso de água é um potencial danificador como, por exemplo, em galerias de arte e livrarias. Os mesmos entraram em desuso em 1994 de acordo com o Protocolo de Montreal pois, assim como os CFCs, eles destroem a camada de ozônio. Estes agentes também estão sendo substituídos por HFCs, principalmente CHF3 e CF3CFHCF3. Alguns organofluorados e suas aplicações estão resumidos na Tabela 8 (CHAMBERS, 2004, KIRSCH, 2004). Tabela 8: Organofluorados e suas aplicações Composto Aplicações CHF3 congeladores biomédicos CClF3 congeladores biomédicos CHClF2 Congeladores de supermercados, aparelhos de ar condicionado, gases para expansão de espuma (“foam blowing”) CBrClF2 Extintor de incêndio CBrF2CBrF2 Extintor de incêndio CF3CH2F Refrigeradores domésticos, ar condicionado de automóveis, solvente, isolante, gases para expansão de espuma (“foam blowing”) Éteres cíclicos perfluorados Ensaios de choque de microchips perfluorofenantreno Solda em fase vapor de placas de circuito impresso 19 Emulsões de perfluorocarbonetos (PFC) também são utilizadas como fluídos de respiração e substituintes artificiais do sangue devido a sua capacidade de dissolver oxigênio molecular. Muitos perfluorocarbonetos e aminas perfluoradas são capazes de dissolver até 40-50% v/v de oxigênio a pressão de 1 atmosfera e 37°C, além de serem atóxicos e fisiologicamente inertes, sendo posteriormente exalados intactos, o que favorece o uso medicinal (KIRSCH, 2004). Estas emulsões foram propostas em meados de 1960 e a primeira emulsão comercial a ser utilizada terapeuticamente em humanos foi o Fluosol (Green Cross Corporation – Japão), que recebeu aprovação regulamentar em 1989-1990, nos Estados Unidos e na Europa para uso na oxigenação do coração durante Angioplastia Coronariana Transluminal Percutânea. Atualmente existem várias emulsões de perfluorocarbonetos no mercado (Tabela 9) sendo usados em cirurgias, por exemplo, onde o sangue do paciente é trocado por perfluorocarbonetos e, após o término da operação, a troca é refeita. Estes substituintes do sangue podem ser ainda mais úteis no futuro a fim de evitar a exposição de pacientes doadores de sangue e reduzir o risco de contrair doenças transmissíveis pelo sangue (LOWE, 2001, 2003, 2006; KIRSCH, 2004; RIESS, 1998, 2001, 2002). Tabela 9: Emulsões comercias de PFCs e seus aplicações medicinais PFC Aplicações FLUOSOL Perfluorodecalina Angioplastia coronariana PERFTORAN Perfluorodecalina Cirurgia com evasão sanguínea, isquemia, preservação de órgãos OXYGENT Bromo-perfluoro-octano Cirurgia com evasão sanguínea 20 1.1.3.2. POLÍMEROS Desde a descoberta do politetrafluoroeteno (PTFE)no final dos anos 1930, até os dias de hoje, a produção global de fluoropolímeros tem crescido mais de 60.000 toneladas por ano (CHAMBERS, 2004). Estes compostos possuem uma combinação única de propriedades que asseguram seu uso para diversos fins. O PTFE, o mais amplamente utilizado da classe, é extremamente estável quimicamente para uma variedade de reagentes extremamente agressivos, como por exemplo, flúor elementar (F2), hexafluoreto de urânio, hidróxidos fundidos de metais alcalinos e ácidos minerais sob aquecimento. Desde -273 até 260°C sua estrutura é mantida, conservando assim suas funções (KIRSCH, 2004). E devido a sua baixa tensão superficial, o PTFE é amplamente empregado como antiaderente em revestimento de utensílios culinários. Outros exemplos de fluoropolímeros e suas aplicações industriais estão listados na Tabela 10 (CHAMBERS, 2004). Tabela 10: Aplicações de Fluoropolimeros Polímero Monômeros Aplicações PTFE F2C=CF2 Roupas a prova de água; revestimento de utensílios culinários; isolante elétrico; utilizações médicas, tais como vasos sanguíneos artificiais Teflon AF® (DuPont) Opticamente claro, utilizado em ambientes corrosivos onde vidro é inadequado, por exemplo, na fabricação de chips de computador PCTFE F2C=CFCl Óleos, revestimentos, PVDF F2C=CH2 Revestimentos resistentes à atmosfera, cabo de isolamento VitonA® (DuPont) F2C=CH2 + CF3CF=CF2 Elastômeros utilizados como impermeabilizantes, o-rings, tampas resistentes a combustíveis para automóveis e aeronaves 21 1.1.3.3. TÉCNICAS DE GERAÇÃO DE IMAGEM A medicina nuclear utiliza substâncias radioativas para diagnosticar e tratar doenças. Essa especialidade médica, capaz de fornecer informações fisiológicas e metabólicas sobre o corpo humano, tornou-se uma ferramenta fundamental para a detecção precoce de muitas desordens, inclusive vários tipos de câncer e doenças do cérebro, como Parkinson e Alzheimer. A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é um método de imagem usado para mapear a distribuição de um radiofármaco, emissor de pósitrons, no corpo para fins diagnósticos e terapêuticos (ROBILOTTA, 2006). O flúor é capaz de mimetizar o hidrogênio e oxigênio e, seu isótopo flúor-18 possui tempo de meia vida de 109,7 minutos e decai por emissão de pósitrons, sendo assim útil na medicina diagnóstica. A Figura 5 ilustra alguns exemplos de radiofármacos 18F-marcados e suas aplicações (CHAMBERS, 2004; KIRSCH, 2004). Figura 5: Radiofármacos 18F-marcados e suas aplicações Devido ao pequeno tempo de meia vida do flúor-18, as reações para síntese das moléculas radioativas devem ser rápidas e fáceis. Várias metodologias têm sido 22 desenvolvidas com esta finalidade. Como exemplo, o Esquema 13 ilustra a síntese da 18F-2-fluorodeoxiglicose ([18F]FDG), utilizada no PET para avaliação do metabolismo da glicose (ASHIQUE et al, 2006; DOLLÉ, 2005; FLAVELL et al, 2008; KARRAMKAM, 2002; KIM et al, 2006; KIRSCH, 2004; RISS & RÖSCH, 2008; SIRION et al, 2007). Esquema 13: Síntese de 18F-2-fluoro deoxiglicose 1.1.3.4. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Em um recente estudo de mercado observou-se que a proporção de compostos organofluorados utilizados como defensivos agrícolas aumentou de 9%, em 1988, para 17%, em 1999 (KIRSCH, 2004). O maior preço dos pesticidas contendo flúor é, por vezes, compensado com sua maior eficácia, segurança e seletividade (BOECHAT, 1996; KIRSCH, 2004). Os herbicidas fluorados agem por diferentes mecanismos de ação. Como exemplo, Norflurazona, Fluridona e Diflufenicam (Figura 6) são inibidores da biossíntese de carotenóide, bloqueando assim a formação de antioxidantes que protegem o aparelho fotossintético das plantas. Os vegetais tratados com essa classe de substância são branqueados e tornam-se incapazes de realizar a fotossíntese. Dentre os fungicidas, muitos agem inibindo a síntese do esterol, como o Flutriafol, Triflumizol e Flurprimidol, Figura 6. Nestes casos, o flúor é o responsável pelo alto nível de eficácia fungicida (CHAMBERS, 2004; KIRSCH, 23 2004). Os inseticidas comumente agem inibindo a biossíntese de quitina. Dentre eles, destacam-se os análogos fluorados dos piretróides extraídos da Chrysanthemum cinerariafolium, em especial os que possuem um grupo trifluorometil vinílico, por possuírem maior atividade inseticida, Figura 6 (KIRSCH, 2004). Figura 6: Defensivos Agrícolas Organofluorados 1.1.3.5. FÁRMACOS A incorporação de flúor num fármaco permite simultânea modulação eletrônica, lipofílica, além de efeitos estéricos que, juntos, podem influenciar criticamente suas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas (ISMAIL, 2002; PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001). 24 A inclusão do átomo de flúor traz benefícios quanto à distribuição do fármaco no organismo. Devido ao aumento da lipofilicidade das moléculas com grupos funcionais contendo flúor, há uma maior facilidade do fármaco à difusão passiva através das membranas celulares (PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001). A substituição do hidrogênio por flúor é uma estratégia para aumentar a interação fármaco-receptor. A forte ligação carbono-flúor dificulta a destoxificação metabólica do fármaco, aumentando o tempo de residência in vivo (ISMAIL, 2002; NATARAJAN et al, 2005). Vários fármacos que agem no Sistema Nervoso Central (SNC) contêm o grupo –CF3 ou o grupo flúorfenila (Figura 7) que contribuem para a ação farmacológica por aumentarem a penetração no SNC e retardarem a degradação metabólica, (KIRK, 2006, 2008; PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001). Figura 7: Fármacos fluorados que agem no SNC Devido a estas modificações das propriedades químicas, físicas e biológicas das moléculas com flúor, fármacos fluorados já constituem de 20-25% do número total de fármacos lançados mundialmente durante os últimos 50 anos, com um notável aumento nos últimos 5 anos. Em julho de 2007 havia 44 candidatos a fármacos fluorados em testes clínicos de fase III e 115 em estudos de fase II (CHAMBERS, 2004; HAGMANN, 2008; PURSER et al, 2008). Sintetizado em 1957, um dos primeiros fármacos fluorados foi o agente antineoplásico 5-fluoracil (Figura 8), que altera o matabolismo celular, inibindo a 25 atividade da enzima timidilato sintase, impedindo assim a síntese de timidina, (PURSER et al, 2008). Atualmente, dentre os fármacos fluorados disponíveis comercialmente estão os agentes antibacterianos, agentes antimaláricos, anestésicos locais, agentes antineoplásicos e antifúngicos, Figura 8 (BÉGUÉ & BONNET-DELPON, 2006; KIRK, 2006, 2008; PARK, KITTERINGHAM & O’NEILL, 2001; PRAKASH & HU, 2007, PURSER et al, 2008). HN N H O O F Fluoracil O F Cl FF F F Enflurano (anestésico geral) (antineoplásico) N O CO2H N F OMeHN Me Gatifloxacin (antibiótico) F F OH NN N N N N Fluconazol (antifungico) N CF3 CF3 H NHO H Mefloquina (antimalárico) Figura 8: Fármacos fluorados 1.1.3.6. SURFACTANTES A baixa tensão superficial de compostos altamente fluorados tem possibilitado o desenvolvimento de surfactantes fluorados, que são especialmente efetivos em pequenas concentrações. Esses surfactantes constituem uma importante classe de compostos fluorados que são utilizados em extintores de incêndio, em formulações de herbicidas, inseticidas, cosméticos, lubrificantes, graxas, tintas e adesivos. 26 Já existe no mercado surfactantes fluorados não-iônicos, catiônicos e aniônicos, conforme ilustrado na Figura 9(BOECHAT, 1996; CHAMBERS, 2004; LEWANDOWSK, 2006). Figura 9: Surfactantes Fluorados 1.2. ÁCIDOS TRI-HALOISOCIANÚRICOS Recentemente tem sido descrito pelo nosso grupo a utilização de ácidos tri- haloisocianúricos (TXCA, Figura 10) como eficientes agentes eletrofílicos de halogenação (MENDONÇA et al, 2003; DE ALMEIDA et al, 2006; RIBEIRO et al, 2007). Esses reagentes, comparados com NXS, possuem a vantagem de serem mais baratos e muito interessantes do ponto de vista da síntese orgânica limpa. Para cada equivalente de TXCA utilizam-se três equivalentes do substrato. O sub-produto recuperado na reação é o ácido cianúrico, sendo reutilizado como substrato na síntese dos TXCA. Figura 10: Ácidos tri-haloisocianúricos 27 1.2.1. ÁCIDO TRICLOROISOCIANÚRICO O ácido tricloroisocianúrico (TCCA, Figura 11), 1,3,5-tricloro-1,3,5-triazina- 2,4,6(1H,3H,5H)-triona, também conhecido pelos nomes comerciais Symclosene, ACL-85 e Chloreal, é um sólido branco, estável, de baixo custo e fácil manipulação; podendo ser encontrado em supermercados com pureza superior a 99% (KOLVARI et al, 2007; MENDONÇA & DE MATTOS, 2008; TILSTAM & WEINMANN, 2002). Figura 11: Estrutura do TCCA O TCCA foi sintetizado pela primeira vez em 1902 por Chattaway e Wadmore, a partir da reação do ácido cianúrico com hidróxido de sódio e cloro molecular (Esquema 14, TILSTAM & WEINMANN, 2002; KOLVARI et al, 2007). Esquema 14: Síntese do TCCA a partir do ácido cianúrico A produção mundial de TCCA é por volta de 100.000 toneladas por ano. Ele é usado principalmente como desinfetante de piscinas, esterilizante de banheiros e no clareamento de roupas. Seu uso também é recomendado para lavar louças em 28 N NR2 R1 Ph N NR2 R1 Ph TCCA / H2O CCl4 / t.a. ou fase sólida / t.a. hotéis, restaurantes, hospitais e em fábricas de alimentos (TILSTAM & WEINMANN, 2002). Recentemente, o TCCA tem sido usado na síntese orgânica como agente oxidante e de cloração (KOLVARI et al, 2007). Suas aplicações nas transformações orgânicas foram revisadas por Tilsam e Wienmann em 2002, e mais recentemente por Kolvari e colaboradores (2007). Oxidações por TCCA são principalmente categorizadas em transferência de oxigênio, como é o caso da oxidação de éteres (Esquema 15, TILSTAM & WEINMANN, 2002) e desidrogenação, como a aromatização de compostos cíclicos (KOLVARI et al, 2007). Esquema 15: Reação de oxidação de éteres com TCCA Zolfigol e colaboradores demonstraram o uso do TCCA na oxidação de pirazolinas 1,3,5-trissubstituídas para seus pirazois correspondentes com bons rendimentos em meio heterogêneo ou em fase sólida a temperatura ambiente (Esquema 16, ZOLFIGOL, AZARIFAR & MALEKI, 2004). Esquema 16: Reação de oxidação de pirazolinas 1,3,5-trissubstituídas com TCCA CCl4 Fase sólida R1 R2 T (h) (%) T (h) (%) 2- nafitil 2-CH3C6H4 0,8 90 1,3 80 2-nafitil fenil 0,75 92 1,5 80 fenil fenil 0,75 85 1,3 80 29 Nas reações de cloração, o ácido tricloroisocianúrico é usado como fonte eletrofílica de cloro em reações de substituição eletrofíilica aromática e em co- clorações, que são reações com compostos insaturados nas quais tem-se a incorporação de cloro, eletrofílico, e um nucleófilo de escolha na ligação dupla ou tripla do composto. Mendonça e colaboradores demonstraram a eficiente co- cloração de alquenos em cloroidrinas, β-cloroéteres e β-cloroacetatos utilizando-se TCCA em água, álcoois e ácido acético, respectivamente, como solventes (Esquema 17, MENDONÇA, SANSAVERINO & DE MATTOS, 2002). Esquema 17: Reação de co-cloração de alquenos com TCCA e nucleófilos oxigenados Recentemente foi relatada a utilização de TCCA na cloração de isatinas e outros compostos aromáticos (MENDONÇA & DE MATTOS, 2008). Compostos aromáticos ricos em elétrons são facilmente clorados a temperatura ambiente em acetonitrila, com rendimentos entre 60-95% (Esquema 18). Esquema 18: Reação de cloração de anéis aromáticos com TCCA 30 Isatinas e compostos aromáticos com baixa densidade eletrônica foram clorados com bons rendimentos somente em presença de TCCA e ácido sulfúrico, Esquema 19. De acordo com os cálculos de DFT em nível B3LYP/6-31++G** as espécies poliprotonadas são responsáveis pelo aumento da reatividade do TCCA, justificando assim os resultados obtidos, com o aumento da velocidade da reação e do rendimento reacional (MENDONÇA et al, 2005). Esquema 19: Reação de anéis aromáticos deficientes em elétrons com TCCA em H2SO4 Mendonça e colaboradores também demonstraram a utilização de TCCA na cloração regiosseletiva de compostos β-dicarbonilados (Esquema 20, MENDONÇA et al, 2009). Esquema 20: Reação de α,α-dicloração com TCCA 31 1.2.2. ÁCIDO TRIBROMOISOCIANÚRICO O ácido tribromoisocianúrico, TBCA (Figura 12), foi sintetizado pela primeira vez por Gottardi em 1967 através da reação do ácido isocianúrico com hidróxido de sódio e nitrato de prata seguido da reação do produto desta reação com bromo molecular (Esquema 21, GOTTARDI, 1967). Este método tem como inconveniente o alto custo do nitrato de prata e a dificuldade na purificação do produto, uma vez que tanto o TBCA quanto os subprodutos são insolúveis no meio reacional. Figura 12: Estrutura do TBCA Esquema 21: Síntese do TBCA a partir do isocianurato de prata Recentemente, De Almeida e colaboradores demonstraram um método mais fácil para a síntese do TBCA utilizando-se ácido cianúrico, hidróxido de sódio, carbonato de sódio, brometo de potássio e oxone® em meio aquoso (Esquema 22, DE ALMEIDA, ESTEVES & DE MATTOS, 2006a). 32 Esquema 22: Síntese do TBCA a partir do ácido cianúrico O ácido tribromoisocianúrico tem sido usado como agente de bromação eletrofílica altamente regiosseletiva de compostos aromáticos via substituição eletrofílica aromática (Esquema 23, DE ALMEIDA, 2005; DE ALMEIDA, ESTEVES & DE MATTOS, 2006b; KOLVARI et al, 2007), na transformação de alquenos em bromoidrinas, β-bromoéteres e β-bromoacetatos (Esquema 24, DE ALMEIDA, 2005; DE ALMEIDA, ESTEVES & DE MATTOS, 2006a) e na síntese de di-bromoalcanos vicinais (Esquema 25, TOZETTI, et al). Esquema 23: Reação de bromação de anéis aromáticos com TBCA Esquema 24: Reação de co-bromação de alquenos com TBCA e nucleófilos oxigenados 33 Esquema 25: Reação de dibromação vicinal de alqueno O TBCA também tem sido usado na síntese de compostos α-mono e α,α- dibro β-dicarbonilados (Esquema 26, MENDONÇA et al, 2009). Esquema 26: Reação de α-monobromação de compostos β-dicarbonilados 1.2.3. ÁCIDO TRI-IODOISOCIANÚRICO Gottardi demostrou, em 1970, a síntese do ácido triiodoisocianúrico, TICA (Figura 13), análogo do TCCA e TBCA, reagindo por três dias a 180-270°C ácido dicloroisocianúrico com iodo molecular conforme demonstrado no Esquema 27 (GOTTARDI, 1970). Figura 13: Estrutura do TICA 34 Esquema 27: Síntese de TICA a partir do ácido dicloroisocianúrico Recentemente, Ribeiro e colaboradores demonstraram a síntese de TICA utilizando-se ácido tricloroisocianúrico, economicamente mais viável, como reagente, em substituição ao ácido dicloroisocianúrico, obtendo o mesmo com 90% de rendimento (Esquema 28, RIBEIRO, ESTEVES & DE MATTOS, 2007). Esquema 28: Síntese de TICA a partir do TCCA Em outro estudo, utilizou-se o TICA na co-iodação de alquenos com nucleófilos oxigenados (Esquema 29, RIBEIRO, ESTEVES & DE MATTOS, 2007)e na síntese de compostos aromáticos iodados (Esquema 30, RIBEIRO, ESTEVES, DE MATTOS, 2008). 35 Esquema 29: Reação de co-iodação de alquenos com TICA e nucleófilos oxigenados Esquema 30: Reação de iodação de anéis aromáticos com TICA 36 2. OBJETIVO Desenvolver uma metodologia eficiente para síntese de compostos halofluorados a partir de alquenos, utilizando-se os ácidos tri-haloisocianúricos, que são agentes eletrofílicos economicamente viáveis (Esquema 31). Esquema 31: Esquema geral para a reação de halofluoração de alquenos com TXCA e HF.Py 37 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. SÍNTESE DO ÁCIDO TRIBROMOISOCIANÚRICO Seguindo a metodologia de De Almeida (Esquema 22, página 32), sintetizou- se o ácido tribromoisocianúrico, com 84% de rendimento, a partir da reação de ácido cianúrico (50 mmol) com NaOH (150 mmol), KBr (150 mmol), Na2CO3 (75 mmol) e oxone® (150 mmol) em meio aquoso (DE ALMEIDA, ESTEVES & DE MATTOS, 2006a). Durante a adição de oxone®, à mistura reacional observa-se a formação de Br2 in situ, por sua coloração amarelada característica. De acordo com o esquema de intermediários proposto por De Almeida, o oxone® oxida o brometo, formando Br2 que então reage com o cianurato de sódio formado pela reação entre o ácido cianúrico e o hidróxido de sódio (Esquema 32; DE ALMEIDA, 2005). N N N O--O O- Na+ Na+ Na+ Br Br N N N Br O- -O O Na+ Na+ N N N O O Br Br -ONa+ Br- N N N Br O Br O Br O N N N Br O- -O O Na+ Na+Br Br Br- N N N O O Br Br -ONa+ Br Br KBr + Oxone oxone oxone + + ácido isocianúrico + NaOH Esquema 32: Esquema de intermediários na síntese do TBCA 38 O produto, um sólido branco, insolúvel em água e em vários solventes orgânicos, foi caracterizado por espectroscopia na região do infravermelho (IV). Comparando-se o espectro de IV do produto obtido com o descrito na literatura observa-se total semelhança. As bandas mais relevantes são as relativas à freqüência de vibração da deformação axial das carbonilas (ν= 1742 e 1725 cm-1), das ligações C-N do anel (ν =1405, 1397, 1333 cm-1) e as bandas relativas a freqüência de vibração da deformação axial simétrica (ν = 1051 cm-1) e assimétrica (ν = 736 e 717 cm-1) da ligação N-Br (Espectro 1). 3.2. SÍNTESE DO ÁCIDO TRI-IODOISOCIANÚRICO De acordo com a metodologia descrita por Ribeiro e colaboradores sintetizou- se o ácido tri-iodoisocianúrico, com 76% de rendimento reagindo-se, num tubo selado, a 180-220°C, 50 mmol de TCCA com 190mmol de I2 (Esquema 28, página 34; RIBEIRO, ESTEVES & DE MATTOS, 2007). O produto obtido, um sólido marrom, termossensível e fotossensível, também insolúvel em água e solventes orgânicos, foi analisado por IV observando-se bandas semelhantes com o TBCA. Em 1700 e 1665 cm-1 observam-se as bandas relacionadas à freqüência de vibração da deformação axial das carbonilas, em 1405, 1397 e 1333 cm-1 observam-se as bandas das ligações C-N do anel e as bandas relativas a freqüência de vibração da deformação axial simétrica e assimétrica da ligação N-I são observadas em 1051 cm-1 e 732, 663 e 533 cm-1 , respectivamente (Espectro 2). 39 3.3. REAÇÃO DE HALOFLUORAÇÃO COM ALQUENOS Visando estudar a reatividade dos ácidos tri-haloisocianúricos como fonte eletrofílica de cloro, bromo e iodo na reação de halofluoração, várias condições reacionais foram estudadas. Para tal utilizou-se o estireno como substrato, o complexo ácido fluorídrico-piridina (HF.Py) como agente de fluoração e o TBCA como reagente, visto ser o bromo o halogênio de tamanho intermediário entre cloro e iodo. A reação foi realizada variando-se o solvente, a temperatura e a proporção estireno:complexo HF.Py. 3.3.1. SOLVENTE Em analogia aos solventes que já são usados na literatura para reação de halofluoração, (ALVERNHE, LAURENT & HAUFE, 1987; HAUFE et al, 2004; YOSHINO et al, 2006) testou-se a reação em diclorometano, tetra-hidrofurano (THF), acetonitrila e no líquido iônico BMIMBF4 (Figura 14). Figura 14: Líquido iônico BMIMBF4 Para todos os solventes fez-se a reação a temperatura ambiente utilizando-se 1 equivalente de estireno, 10 equivalentes de reagente de Olah e 0,34 equivalentes de TBCA (Esquema 33). As reações foram acompanhadas por CG-EM. 40 Esquema 33: Esquema geral da reação de bromofluoração do estireno Na reação com diclorometano, após 20 minutos, observou-se, através da análise no CG-EM, que todo o substrato já havia sido consumido e só havia o produto de bromofluoração, de acordo com o padrão de fragmentação do mesmo no espectro de Massas (Espectro 5). Neste espectro observa-se o íon molecular e o pico (M+2)+ com a mesma intensidade, condizente com a presença de bromo na molécula (PAVIA, LAMPMAN & KRIZ, 2001). O pico base (m/z 109) é relativo à perda do radical H2C=Br٠ e indica a incorporação do bromo no metileno e do flúor no metino da molécula, formando o 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano, 5a. Embora seja conhecido que o THF é oxidado em presença de ácido tricloroisocianúrico (Esquema 34, TILSTAM & WEINMANN, 2002), testou-se a reação de bromofluoração em THF como solvente. Esquema 34: Reação de Oxidação do THF em presença de TCCA Após 20 minutos de reação, retirou-se uma alíquota da mistura reacional e observou-se, por CG-EM, que todo substrato já havia sido consumido, porém a conversão do mesmo no produto de bromofluoração, 5a, foi de apenas 41%. 41 Observou-se no cromatograma a presença de mais dois picos, indicando a formação de outros produtos na reação em THF. A análise dos picos referentes aos espectros de massas destes produtos indica a incorporação de bromo em um deles, porém não foi possível determinar a estrutura dos mesmos. O resultado mostrou que o THF não é indicado para a reação de halofluoração visto que o TBCA parece oxidá-lo. O líquido iônico BMIMBF4 mostrou-se bastante eficiente como solvente na reação em questão. Utilizou-se 5,5 equivalentes mol do líquido iônico e após 1h de reação observou-se, por CG-EM, 100% de conversão no produto desejado 5a. O líquido iônico foi recuperado após a reação e a análise do mesmo por RMN 1H e RMN 13C mostrou que ele permaneceu inalterado (Espectros 3 e 4). Na reação com acetonitrila, após 30 minutos todo o estireno já havia sido consumido. Porém o cromatograma revela a presença de dois picos. O primeiro pico refere-se ao produto 5a com área relativa de 31%. O segundo pico e majoritário sugere, pela análise do seu espectro de massas, a incorporação da acetonitrila no substrato devido à presença do pico com razão m/z 161 (íon molecular). Estendeu-se a utilização de acetonitrila como solvente utilizando-se o TCCA e TICA em presença de estireno. A reação com o ácido tricloroisocianúrico resultou na formação do produto de clorofluoração 5b esperado, análogo ao produto de bromofluoração 5a, porém, predominantemente, do mesmo produto anteriormente mencionado de incorporação de acetonitrila. Já a reação de estireno com o TICA resultou apenas no produto de iodofluoração 5c. Em testes posteriores concluiu-se que o produto de incorporação de acetonitrila é formado em meio ácido, porém o estudo com CH3CN foi ignorado devido ao resultado insatisfatóriopara a reação em análise. 42 Por fim concluiu-se que os melhores solventes para reação de halofluoração, dentre os testados, são o diclorometano e o líquido iônico BMIMBF4 (Tabela 11). O primeiro foi o solvente de escolha para as demais reações devido à facilidade em secá-lo e obtê-lo no mercado. Tabela 11: Relação entre solvente utilizado e produto de bromofluoração Solvente Conversão (%) CH2Cl2 THF BMIMBF4 CH3CN 100 41 100 31 3.3.2. TEMPERATURA A reação de bromofluoração foi avaliada a -10°C e a temperatura ambiente (20-35°C). A segunda condição foi testada com a adição de TBCA na mesma temperatura e também em banho de gelo. Não se observou diferenças significativas na reatividade das reações, obtendo-se em ambos os casos somente o produto desejado com 100% de conversão. 3.3.3. PROPORÇÃO ALQUENO:REAGENTE DE OLAH Nas reações de halofluoração com o complexo HF.Py descritas na literatura utiliza-se pelo menos 10 equivalentes do mesmo para cada equivalente de alqueno (HAUFE, ALVERNHE & LAURENT, 1986). Entretanto, de acordo com a estequiometria da reação seria necessário apenas 1 equivalente de HF. A fim de otimizar as condições reacionais com menor gasto dos reagentes fez-se a reação, utilizando-se 2 e 10 equivalentes de reagente de Olah para 1 equivalente de estireno, conforme Tabela 12. 43 Tabela 12: Proporção de reagentes versus tempo reacional e conversão Proporção Estireno: HF.Py: TBCA Tempo Conversão (%) 1:10:0,34 1:2:0,34 20 min 3h 100 100 Na reação utilizando 10 equivalentes de reagente de Olah, após 20 minutos todo substrato já havia sido consumido com 100% de conversão no produto desejado. Contudo, o excelente resultado também foi obtido com 2 equivalentes do reagente de Olah, mudando apenas o tempo reacional conforme ilustrado na Tabela 12. Embora o tempo reacional tenha aumentado 9 vezes as reações posteriores foram realizadas com 2 equivalentes do complexo HF.Py, pois julgou-se ser mais interessante a economia do reagente. 3.3.4. SÍNTESE DE HALOFLUORADOS Após estudo das condições reacionais ideais procedeu-se da reação de halofluoração de alquenos utilizando-se como substratos estireno, α-metil-estireno, ciclo-hexeno e metil-ciclo-hexeno. As reações foram realizadas a temperatura ambiente com 2 mmol de substrato, 4 mmol de reagente de Olah, 0,68 mmol de TXCA em 10 mL de diclorometano seco. Os términos das reações foram determinados por CG-EM e em todos os casos foram obtidos os produtos de halofluoração esperados. Os mesmos foram caracterizados pelos espectros de massas, RMN 1H, RMN 13C e RMN 19F. A análise do espectro de RMN 1H do produto de halofluoração do ciclo-hexeno confirma a obtenção do produto trans devido aos valores de constante de acoplamento típicos entre os hidrogênios vicinais (J3axial- 44 axial=8-14Hz, J 3 axial-equatorial=1-7Hz; SILVERSTEIN, BASSLER & MORRILL, 1994). Este resultado sugere a formação do intermediário halônio na reação (Esquema 35). Esquema 35: Esquema de Intermediários da reação de halofluoração com TXCA 3.3.4.1. REAÇÕES COM TBCA As reações com TBCA mostraram-se eficientes obtendo-se predominantemente o produto de bromofuoração. Na reação com o estireno obteve- se apenas o produto 5a, conforme mencionado anteriormente. Nas reações com os demais substratos, os produtos de bromofluoração foram obtidos, porém observaram-se alguns subprodutos em pequena quantidade. A reação com α-metil- estireno gerou 6a com 90% de pureza, admitindo-se que os produtos obtidos possuem o mesmo fator de resposta no CG-EM. Utilizando-se o ciclo-hexeno como substrato obteve-se 7a com 95% de pureza, de acordo com a CG-EM, e na reação com metil-ciclo-hexeno observou-se que 89% do mesmo foi convertido em 8a. As reações estão resumidas na Tabela 13. 45 Tabela 13: Bromofluoração de alquenos com TBCA Substrato Produto Tempo (h) Rendimento (%)* Pureza# (%) 3 79 100 3 85 90 19 88 95 7 67 89 * Rendimento bruto / #Determinado por CG-EM Os espectros de RMN1H, 13C e 19F de 5a e 7a foram obtidos a partir do produto bruto isolado da reação, mostrando que a pureza julgada pelo CG-EM é satisfatória. Os espectros de RMN1H, 13C e 19F obtidos a partir dos produtos brutos 6a e 8a mostraram alguns sinais referentes aos subprodutos. Para melhor caracterizar estes produtos purificou-os por placa preparativa, devido a proximidade do fator de retenção (Rf) entre o produto desejado e outros subprodutos. 2-bromo-1-fenil-1-fluoro-etano (5a): o espectro de massas (Espectro 5) indica sua obtenção pela presença de picos com m/z 182 e 184, devido a perda de HF; m/z 122, condizente com a perda do radical bromo e m/z 109 (pico base), referente à perda do radical H2C=Br٠, a partir do íon molecular (m/z 202 e 204). A presença de um átomo de bromo é confirmada pelo padrão dos picos referentes ao íon molecular 46 (M+ e (M+2)+) que possuem, praticamente, a mesma intensidade (PAVIA, LAMPMAN & KRIZ, 2001). A presença de um anel benzênico é confirmada pela presença dos picos m/z 77 e 51. No espectro de RMN 1H (Espectro 6) observa-se um multipleto (m) em 3,6 ppm referente aos hidrogênios diastereotópicos do metileno ligado ao bromo. O deslocamento químico destes hidrogênios é justificado pela proximidade dos substituintes eletronegativos. Em 5,6 ppm observa-se um duplo-duplo-dupleto (ddd) relativo ao metino ligado ao flúor com constantes de acoplamento J2HF=46,9 Hz, J3CHFCH2Br=7,0Hz e 4,6Hz. Os diferentes valores das constantes de acoplamento entre o hidrogênio do metino (CHF) e os hidrogênios do metileno (CH2Br) são explicados por se tratarem de hidrogênios diastereotópicos. O deslocamento químico do metino é justificado pela presença do flúor ligado no mesmo carbono, desblindando o hidrogênio. Por fim observa-se um multipleto em 7,4 ppm relativo aos hidrogênios do anel aromático. No espectro de RMN 13C (Espectro 7) observam-se dupletos em 34,4 ppm com J2CF=28,4Hz, referente ao carbono ligado ao bromo; em 92,8 ppm com J1CF=178,0Hz, referente ao carbono ligado no flúor; em 125,8 ppm com J 3 CF=6,8Hz, referente ao carbono aromático orto ao substituinte e em 137,2 ppm com J2CF=20,3Hz, referente ao carbono substituído do anel aromático. Em 128,8 e 129,3 ppm observa-se os outros sinais referentes aos carbonos em posição para e meta ao substituinte, respectivamente. O espectro de RMN 19F (Espectro 8) confirma a presença de flúor na molécula com um duplo-duplo-dupleto (ddd) em -174,7 ppm com J2FH=47,3Hz, J 3 FH=25,6Hz e J3FH=15,6Hz. 47 3-bromo-2-fenil-2-fluoro-propano (6a): o espectro de massas (Espectro 9) indica sua obtenção pela presença de picos referentes à razão m/z 216 e 218 (íon molecular), que indicam a presença de bromo na molécula. E pela presença de picos com as relações m/z 196 e 198, relativos à perda de HF e m/z 123 (pico base), relativo à perda do radical H2C=Br٠ pelo íon molecular. A presença dos picos relativos à razão m/z 77 e 51 indicam a presença de um anel benzênico. No espectro de RMN 1H (Espectro 10) observa-se em 1,8 ppm um dupleto (d) com constante de acoplamento J3HF=22,0Hz, relativo a metila ligada no mesmo carbono que está o flúor. Em 3,6 ppm observa-se um multipleto relativo ao metileno ligado ao bromo e em 7,4 ppm um sinal (multipleto) relativo aos hidrogênios aromáticos. No espectro de RMN 13C (Espectro 11) observam-se os sinais relativos aos metinos aromáticos entre 124,6
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