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A ONU e o Meio Ambiente Sustentabilidade Prof. Dr. Marcelo Flório Universidade Anhembi Morumbi2 A ONU e o Meio Ambiente A partir dos anos 70, a ONU (Organização das Nações Unidas) empreendeu e organizou conferências, relatórios e convenções sobre o meio ambiente, com o objetivo de discutir os problemas ambientais no planeta e, principalmente, para evitar a devastação dos ecossiste- mas. As principais conferências, relatórios e convenções realizadas pela ONU foram: • Conferência sobre Meio Ambiente Humano, Estocolmo, Suécia, 1972 Uma das primeiras conferências sobre o Meio Ambiente foi realizada pela ONU em Estocolmo, na Suécia em 1972 e contou com 113 países e 250 ONGs, além de organismos ligados à ONU. Como a conferência teve início no dia 5 de junho, a ONU considerou esse dia: o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Nos anos 70, o mundo viva o auge da guerra fria e os países socialistas não compareceram ao evento, boicotando-o em total solidariedade a Alemanha Oriental que teve sua participação vetada pela ONU. Seu objetivo foi chamar a atenção do mundo para os riscos de degradação do meio am- biente e para a sobrevivência da humanidade. Nesta Conferência predominou uma visão antropocêntrica e não holística. A visão antropocêntrica considera o homem, o ser mais importante da Terra, e tudo gira em torno do ser humano; além do que as divergências entre os países pobres e ricos emergiram sem diálogo frutífero. Ao final do encontro foi divulgada uma carta de princípios de comportamentos e responsabilidades, mas não queriam que mecanismos de proteção ambiental atrapalhassem os planos de expansão econômica do capitalismo industrial. Essa primeira conferência, portanto, defendeu o crescimento econômico a qualquer custo, não considerando naquele momento que os recursos naturais seriam esgotáveis e, muito menos, propunham-se repensar o consumo já marcante no ocidente. A ONU e o Meio Ambiente Universidade Anhembi Morumbi3 A ONU e o Meio Ambiente • Relatório Bruntland, 1987 Após a crise do petróleo de 1973, o mundo percebeu concretamente que os recursos naturais são finitos e, diante dessa situação, a ex-primeira ministra norueguesa Gro Harlem Bruntland foi indicada pela ONU para montar uma equipe para estudar a questão ambiental. Após a crise do petróleo de 1973, o mundo percebeu concretamente que os recursos naturais são finitos e, diante dessa situação, a norueguesa Gro Harlem Bruntland foi indicada pela ONU para montar uma equipe para estudar a questão ambiental. É, então, que em 1987 elabora o “Relatório Bruntland” e afirma que sem uma divisão de riquezas como forma de desenvolvimento global entre países ricos e pobres o problema ambiental iria prosperar. A norueguesa foi pioneira importante no termo desenvolvimento susten- tável. O Relatório foi publicado com o título “Nosso Futuro Comum”. Nesse Relatório abordou- se que várias medidas deveriam ser adotadas para a promoção do desenvolvimento sustentável. São elas: 1) limitação do crescimento populacional; 2) garantia de recursos básicos, como água e alimentos; 3) preservação da biodiversidade e ecossistemas; 4) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes de energias renováveis; 5) aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; 6) controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; 7) atendimento das necessidades básicas (moradia, escola e saúde). Dra. Bruntland foi perguntada recentemente – ela ainda está em atividade pela ONU em prol do meio ambiente - se ela estaria satisfeita com as ações em torno da questão climática na atualidade e que ela acalenta há tantos anos uma resolução e ela não disse nada, mas ficou nítida sua grande frustração. Universidade Anhembi Morumbi4 A ONU e o Meio Ambiente • Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), ECO/1992, Rio de Janeiro, Brasil. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, promovida pela ONU, foi realizada no Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 1992 e ficou conhecida como ECO-92, contou com a participação de 172 países, 161 chefes de Estado e ainda com um grande número de ONGs. A ECO-92 foi completamente diferente da Conferência de Estocolmo, pois teve a par- ticipação gigantesca de chefes de Estado, o que demonstra que no início dos anos 90 a questão ambiental já era considerada de vital importância. Até o então presidente Fernando Collor de Melo transferiu sua presidência para o Rio de Janeiro e as forças armadas foram convocadas para a segurança da cidade. Paralelamente ao evento, o fórum global aprovou a Carta da Terra, que indiciou que os países ricos têm maior responsabilidade quanto à preservação ambiental. Desse modo, nessa Conferência, foi consagrado o termo desenvolvimento sustentável e foi reconhecido que os países em desenvolvimento precisam de apoio financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos. Durante a ECO-92 foram aprovadas duas grandes convenções: a convenção do clima e a convenção da biodiversidade. Além dessas medidas, foi também assinado um plano de ações que visa melhorias para o planeta no decorrer do século XXI, chamado de Agenda 21. Universidade Anhembi Morumbi5 A ONU e o Meio Ambiente • ECO/92: Convenção do Clima A Convenção do Clima atribuiu aos países desenvolvidos a responsabilidade pelaemissão dos poluentes e, consequentemente, os encargos no combate às mudanças climáticas. Aos países em desenvolvimento coube a tarefa de controlar suas emissões globais à medida que desenvolvessem seu processo produtivo e industrialização. O compromisso assumido entre os países foram os seguintes: 1) adotar políticas que promovam a eficiência energética; 2) reduzir as emissões do setor agrícola; 3) desenvolver programas que protejam os cidadãos e a economia contra os impactos das mudanças climáticas; 4) apoiar pesquisas sobre o sistema climático; 5) prestar assistência aos países com mais necessidade; 6) promover a conscientização pública. Uma das grandes dificuldades na implementação do acordo foi o G-7 (grupo dos países ricos formados por Japão, Alemanha e Estados Unidos entre outros) que exigiu que os países em desenvolvimento tivessem as mesmas sanções que eles. O Grupo 77 (Brasil, Índia, entre outros) não concordou e o conflito se estabeleceu e a proposta não se concretizou totalmente. • ECO-92: Convenção da biodiversidade Esse acordo também se realizou até o momento, pois prevê que os lucros obtidos com os recursos naturais a serem explorados devem ser revertidos para o local de origem dos próprios recursos e que o dinheiro deveria ser aplicado em programas de preservação ambiental. Os índios brasileiros, por exemplo, estão perdendo o controle sobre os seus recursos por- que não há fiscalização suficiente. Universidade Anhembi Morumbi6 A ONU e o Meio Ambiente • ECO-92: Agenda 21 A Agenda 21 é um documento em que os países presentes durante a ECO-92 se compro- meteram a modificar os padrões do desenvolvimento no século XXI e, nessa perspectiva, assumiram compromissos. O documento da Agenda 21 apresenta quatro seções e está subdividido em 40 capítulos. A Agenda é uma proposta de desenvolvimento sustentável e busca romper com o modelo ocidental vigente de progresso. Nesse sentido propõe: 1) criação de cidades sustentáveis; 2) mudanças urgentes nos padrões de consumo; 3) novos modelos de gestão; 4) mobilização da sociedade para a adoção das medidas. • ECO/92: dificuldades e mídia As grandes dificuldades encontradas para viabilizar os acordos foram: 1) as campanhas de educação ambiental não tiveram fomento financeiro suficientes; 2) os países desenvolvidos sofreram pressões empresariais e não cumpriram os acordos;3) os programas de reciclagem precisaram de verba para pesquisa científica. Apesar da ECO-92 ter sido muito ofuscada no Brasil pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, as mídias passaram a enfocar temáticas sobre o meio ambiente e o jornalismo, então, passou a dar cobertura às notícias ambientais: “Assim, mesmo sem a megaestrutura criada durante a Rio-92, as mídias impressa e eletrônica aumentaram consideravelmente os espaços consagrados aos assuntos do meio ambiente. Desde então, uma nova geração de jornalistas encontrou um mercado mais arejado e menos preconceituoso em relação aos assuntos ambientais, mas os que buscam os caminhos da especialização ainda deparam com uma séria de dificuldades”. (Trigueiro, 2005, p. 293) Dica Sugestão de livro Título: Meio ambiente e Sociedade Autor: Marcelo Leite Editora: Ática Ano: 2005 Nota: O autor discute que os estudos devem interrelacionar meio ambiente e sociedade e não segmentá-los, como foi durante muito tempo. Aborda que a pre- servação do meio ambiente depende do ser humano, como também o futuro de todas as outras espécies. É uma proposta para pensar na saúde do planeta. Universidade Anhembi Morumbi7 A ONU e o Meio Ambiente Mesmo com o interesse midiático intensificado sobre o meio ambiente, no Brasil, após a ECO-92, muitas mídias ainda não investem no profissionalismo: “(...) A primeira delas é o desinteresse de muitas empresas jornalísticas em in- vestir na capacitação dos funcionários que justificariam o investimento produ- zindo pautas e textos diferenciados. O culto à reengenharia empresarial, que produz o milagre da multiplicação dos lucros reduzindo gastos com supérflu- os, solapou os investimentos em recursos humanos” (idem, 293). • Protocolo de Kyoto, Japão, 1997 Essa reunião, combinada na ECO-92, teve como intenção a redução de gases que são responsáveis pelo aquecimento global. 160 nações se comprometeram a cortar 5,2% dos gases causadores do efeito estufa, entre 2008 e 2012. Após inúmeras negociações, em julho de 2001, o protocolo foi assinado na Alemanha. O protocolo de Kyoto permite que países que tenham floresta não cumpram a meta de redução e, desse modo, possam comercializar suas metas com outros países. Isso signifi- ca que podem negociar suas cotas de poluição. Segundo o protocolo, os países em desenvolvimento, como a Índia e o Brasil, não precisam ter metas específicas, pois não contribuíram com as mudanças climáticas e serão uns dos mais afetados. Vale destacar que o presidente Bush não quis assinar o protocolo, porque disse que as metas atrapalhariam a economia de seu país, já que o protocolo prevê que os Estados Unidos cortem 7% de suas emissões de carbono. O Protocolo de Kyoto prevê três grandes mecanismos para que os países cumpram suas metas ambientais: 1) parcerias entre países na criação de projetos ambientais; 2) os países desenvolvidos podem comprar créditos das nações que poluem pouco; 3) um crédito de carbono equivale a uma tonelada de gás carbônico e pode render 1 crédito à companhia. Os créditos podem ser vendidos às empresas de países que estabeleceram suas metas de redução. Universidade Anhembi Morumbi8 A ONU e o Meio Ambiente O Protocolo de Kyoto entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005. Segundo Trigueiro: “O Protocolo de Kyoto emprestou dentes a essa convenção (sobre o Clima da ECO-92), estabelecendo metas e prazos para que os países industrializados, aqueles que historicamente mais contribuíram para o acúmulo de gases estufa na atmosfera, reduzissem as suas emissões” (2005, p.236). O jornalista Trigueiro enfatiza que o Protocolo de Kyoto deve ser visto como o primeiro passo rumo a um repensar sobre o rumo da saúde ambiental do planeta e, desse modo, não salvará a humanidade do aquecimento global, caso outras alternativas não forem identificadas: “Estima-se que o esforço necessário para impedir o avanço do aquecimen- to global seria uma redução imediata de aproximadamente 60% nas emis- sões de gases estufa” (idem, p. 236). A crítica, portanto, feita ao protocolo de Kyoto é que suas metas causam um impacto pequeno na luta contra o aquecimento global, já que todos os países deveriam rever suas posições, vantagens e posicionamentos sociais e lutar pela causa ambiental. Logotipo da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas Universidade Anhembi Morumbi9 A ONU e o Meio Ambiente • Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas ou COP-15, Copenhage, Dinamarca, 2009 A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas ou COP-15 é o décimo quinto encontro concretizado pelos países que participam da Convenção do Clima, num acordo já firmado desde a ECO-92. O Evento foi realizado entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009, em Copenhage, na Dinamarca. Seu objetivo foi redigir, aprimorar os termos da segunda parte do Protocolo de Kyoto, que estabelece metas para os anos de 2013/2014 quanto à redução da emissão de gases de efeito estufa. Porém, a conferência não atingiu suas metas, ficando aquém do que o planeta esperava e ansiava. O grande problema é que é necessário financiar o chamado “Fundo do Clima”, em que os países ricos devem ajudar os países mais pobres, pois são os principais responsáveis pelo aquecimento global, porém ate agora ninguém disse com quanto contribuir e são estimadas cifras entre 150 a 300 bilhões de dólares ao ano. A Conferência chegou ao fim sem que fosse firmado um acordo mínimo. Segundo Kumi Naidoo, diretor internacional do Greenpeace: “A cidade de Copenhague foi palco de um crime climático, com os homens e mulheres culpados fugindo para o aeroporto com vergonha” (Ecodebate, 2009). A Conferência foi finalizada sem metas obrigatórias de redução de emissões de gás car- bônico e ainda ameaça a existência do Protocolo de Kyoto. A Conferência prevê: “(...) redução de 50% das emissões de gás carbônico em 2050, porém não fixa meta para 2020 – o objetivo mínimo cogitado por todos antes do inicio da Cúpula. Ao mesmo tempo não detalha os mecanismos financeiros, não prevê acordo sobre a verificação das ações ambientais em países em desen- volvimento e não tem força de lei vinculante” (idem, 2009). Universidade Anhembi Morumbi10 A ONU e o Meio Ambiente Segundo a Revista Ecodebate, é preciso entender também que os políticos funcionam como peças do capitalismo: “A verdade precisa ser dita: os chefes de estado não possuem poder de decisão. Participam duma reunião desse quilate apenas como fantoches. O verdadeiro poder mundial está nas mãos do capital anônimo, invisível, internacional. Esse poder não está satisfeito com os 98% do mundo em suas mãos. Ainda faltam os 2% representados por Cuba, Irã, Iraque, Afeganistão e Coréia do Norte” (idem). E, conclui, dizendo que para a Guerra há dinheiro e não para rever o aquecimento global: Essa palavra, “complexo”, abrange todo o sistema industrial americano porquanto os gastos militares daquele país são tão vultosos e sistêmicos que encobrem os demais interesses econômicos em geral. Para se ter uma idéia, o orçamento para 2010, recentemente aprovado, consigna 672 bilhões de dólares para os gastos militares, enquanto que as verbas para a saúde e educação são inferiores. Essa dotação é maior que todos os gastos militares do resto do globo. Não foi imprópria a expressão empregada por Chaves, presidente da Venezuela, na COP 15, quando designou Barack Obama de ganhador do prêmio Nobel da Guerra. (ibidem). Universidade Anhembi Morumbi11 A ONU e o Meio Ambiente Bibliografia ECODEBATE. Cidadania e Meio Ambiente. São Paulo: Ecodebate, 2009. DEMAJOROVIC, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade ambiental. São Paulo: Senac, 2003 LEITE, Marcelo. Meio Ambiente e Sociedade. São Paulo: Ática, 2005 TRIGUEIRO,André. Mundo Sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005. Universidade Anhembi Morumbi12 A ONU e o Meio Ambiente Este documento é de uso exclusivo da Universidade Anhembi Morumbi, está protegido pelas leis de Direito Autoral e não deve ser copiado, divulgado ou utilizado para outros fins que não os pretendidos pelo autor ou por ele expressamente autorizados.
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