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Institucionalismo (Artigo)

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1
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
 
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E 
CONTABILIDADE 
 
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO 
 
SSÉÉRRIIEE DDEE WWOORRKKIINNGG PPAAPPEERRSS 
WWOORRKKIINNGG PPAAPPEERR NNºº 0011//000099 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOTAS PARA UMA CRÍTICA INSTITUCIONALISTA DA “NOVA 
ECONOMIA INSTITUCIONAL” 
 
 
CARLOS DE BRITO PEREIRA 
Doutorando e Mestre em Administração pela FEA/USP 
Economista pelo IE/Unicamp 
 
 
 
 
Este artigo pode ser obtido no site: 
 
www.ead.fea.usp.br/wpapers/ 
 
Os comentários, críticas e sugestões devem ser enviados ao e-mail: 
carlosbp@usp.br 
 
 
2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. 
Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham 
que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que 
julgue. Acho que quem ofende os outros e os leitores é o jornalismo em 
cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é 
sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, 
ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado. 
 
Paulo Francis, 1/10/1983 
 
 
1
Sumário 
 
 
1. Introdução ................................ ................................ ................................ ................................ 1 
2. A “nova” e a “velha” Economia Institucional ................................ ................................ ....... 2 
2.1. O que é “instituição”? ................................ ................................ ................................ ..... 2 
2.2. “Regra” ou “norma”? ................................ ................................ ................................ ..... 6 
2.3. O “homem econômico”................................ ................................ ................................ 11 
3. Alguns exemplos de como funciona a “Nova Economia Institucional” ........................... 20 
3.1. A natureza da firma revisitada ................................ ................................ ..................... 20 
3.2. A eficiência acima de tudo: a economia de Oliver Williamson ................................ 23 
3.3. A metodologia da Nova Economia Institucional: um exemplo ................................ .30 
3.4. O trabalhador é avesso ao risco? ................................ ................................ .................. 34 
4. Conclusão ................................ ................................ ................................ .............................. 36 
5. Apêndice: uma possível explicação para a gênese das modernas teorias econômicas ..... 40 
5.1. A metodologia científica tradicional ................................ ................................ ........... 40 
5.2. Uma abordagem geroinstitucionalista da filosofia da ciência ................................ ...43 
5.3. Uma explicação weberiana para a ascensão da “Nova Economia Institucional” ..... 45 
5.3.1. O homem científico ................................ ................................ .............................. 45 
5.3.2. O homem ortodoxo................................ ................................ ............................... 46 
5.3.3. Os tipos ideais de economistas e a ascensão da “Nova Economia Institucional”
 49 
6. Referências Bibliográficas ................................ ................................ ................................ ..... 52 
 
 
1
1. Introdução1 
 
Se a miséria de nossos pobres não é causada por leis da natureza, mas 
por nossas instituições, grande é a nossa culpa. (Charles Darwin) 2 
 
As instituições há muito são um problema para os economistas. Quanto mais aumenta a 
complexidade das economias do mundo ocidental, mais os economistas se deparam com a 
influência das instituições sociais (econômicas ou não) no funcionamento dos mercados. E, 
obviamente, as limitações das teorias econômicas tradicionais são cada vez mais percebidas. 
 
Em uma tentativa de preencher esta lacuna teórica, vários economistas têm estudado e 
apresentado formas de incluir os fenômenos institucionais na teoria econômica. Notadamente 
aqueles economistas associados à teoria ortodoxa (mainstream), que utilizam em seus estudos o 
aparato teórico do valor-utilidade e das curvas de utilidade, das análises de concorrência perfeita 
e imperfeita etc. Ao perceberem as insuficiências dessa teoria tradicional, esses economistas 
“ortodoxos” realizam um esforço de aperfeiçoar a teoria que utilizam, acrescentando as 
instituições em seus modelos econômicos. Daí surge a “Nova Economia Institucional”, embora 
este termo ainda não seja o ideal para caracterizar o trabalho de tais economistas. Alguns, como 
James Buchanan, até mesmo rejeitam o rótulo e dizem que estudam outro tipo de economia — no 
caso de Buchanan,3 trata-se de entender a economia em dois momentos: o “pré-constitucional” e 
o “pós-constitucional”, ou seja, antes e depois do surgimentos de instituições sociais. — Outros, 
como Oliver Williamson, dedicam-se ao estudo da “economia dos custos de transação”4, ainda 
que alegue pertencer a essa nova “escola de pensamento”, a “Nova Economia Institucional”. Paul 
Joskow assim tentou definir a “Nova Economia Institucional”: 
“I view the New Institucional Economics as taking the analysis that flows from the 
Modern Industrial Organization paradigm and expanding it with a richer and more 
complete specification of the institucional environment and of the transactional 
variables that characterize the organization of the firms and the markets. Furthermore, 
the New Institucional Economics is sensitive to feedbacks and interactions between the 
institucional environment and the structure, behavior and performance of firms and 
markets.”5 
 
Em outras palavras, os neoinstitucionalistas estão tentando incorporar as instituições no 
 
1 Sou grato à profª Drª. Basília Maria Baptista Aguirre e ao prof. Dr. Décio Zylbersztajn, por me instigarem a 
estudar o tema, bem como por me apresentarem a vários dos artigos usados neste trabalho; ao prof. Dr. José Carlos 
de Medeiros Pereira, por suas críticas e comentários, especialmente nas passagens sobre Durkheim e Weber; ao prof. 
Dr. Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, pelo contínuo incentivo e por me lembrar que para expormos uma boa idéia 
não é preciso usar adjetivos; e, finalmente mas não menos importante, aos colegas de mestrado Eugênio Carlos 
Arima e Marcelo Miele, por discutirem comigo várias das idéias apresentadas neste trabalho. Em especial, sou muito 
grato a Marcelo Miele por haver insistido em me fazer ler o interessante artigo da sra. Véronique Dutraive: “La firme 
entre transaction et contrat: Williamson épigone ou dissident de la pensée institutionnaliste?” e discuti-lo comigo. 
Como de praxe, devo também dizer que quaisquer erros ou imprecisões cometidas ao longo deste trabalho são de 
única responsabilidade deste autor. 
2 Citado em GOULD (1981), frontiscípio. 
3 Ver BUCHANAN (1991). 
4 Um bom comentário sobre essa “economia dos custos de transação” está em KREPS (1990). 
5 JOSKOW (1995), pg. 254. 
 
 
2
tradicional modelo econômico da teoria neoclássica. De todo modo, o afixo “nova” serve para 
diferenciar esses autores da “velha” escola institucional, de Veblen, Myrdal e Commons, entre 
outros6, bem como o termo “institucional” os diferencia dos neoclássicos. Como veremos 
todavia, há muito mais diferenças entre essas duas correntes teóricas do institucionalismo do que 
os simples epítetos “nova” e “velha” — ou como quer a sra. Dutraive, o autodenominado “novo 
institucionalismo” está mais próximo da teoria neoclássica, renovando-a, do que do 
institucionalismo “histórico” (ou “velho institucionalismo”).7Ao longo deste texto pretendemos discutir algumas hipóteses centrais dos trabalhos de 
autores filiados à “Nova Economia Institucional”, verificando se de fato há essa proximidade 
com a teoria neoclássica e se existem diferenças relevantes com a “velha” escola 
institucionalista.8 Para tanto, no capítulo 2 discutiremos os postulados centrais da teoria 
neoclássica e verificaremos se os mesmos se aplicam à “Nova Economia Institucional”. No 
capítulo 3 discutiremos alguns trabalhos realizados por autores identificados como fazendo parte 
dessa nova corrente teórica. Finalmente, no último capítulo, tentaremos mostrar até que ponto é 
válido a um autor filiar-se exclusivamente a uma corrente teórica, em uma espécie de “fanatismo 
metodológico”. 
 
 
2. A “nova” e a “velha” Economia Institucional 
 
 
2.1. O que é “instituição”? 
 
Acima de qualquer outro conceito, o ponto-chave na análise de teorias econômicas voltadas 
ao estudo das instituições é, obviamente, o próprio conceito de “instituição”. Este não é um 
debate marginal : há muita discórdia entre os neoinstitucionalistas9 sobre o que é, de fato, uma 
“instituição”. 
 
Uma economista da nova cepa, Elinor Ostrom,10 tentou enfrentar a tarefa de conceituar 
 
6 Ver HODGSON (1994). É importante ressaltarmos que alguns autores discutem até que ponto é possível 
associar Commons à mesma escola de Veblen: ver RUTHERFORD (1983), PARSONS (1985) e ZINGLER (1974). 
7 Ver DUTRAIVE (1993). 
8 Neste sentido, podemos afirmar que estamos testando as afirmações da sra. Dutraive (ainda que esta refira-se 
basicamente à obra de um único economista ligado à “Nova Economia Institucional”, Oliver Williamson). Ver 
DUTRAIVE (1993). 
9 Neste artigo, a expressão “neoinstitucionalista” significa um economista que professa a “Nova Economia 
Institucional”. Em contrapartida, os institucionalistas que seguem a linha de Veblen e Myrdal serão chamados de 
“geroinstitucionalistas”. A expressão “novos instuticionalistas”, a nosso ver, é um barbarismo, uma tradução literal 
de new institutionalists. Melhor usar os prefixos “neo” e “gero” para realizar a distinção, como preconiza a norma 
culta. 
Já DUGGER (1988, pp. 552-553), propõe a seguinte distinção: new institutionalism para os trabalhos feitos por 
autores como Oliver Williamson e radical institutionalism para os trabalhos realizados na linha de Thorstein Veblen. 
Para Dugger, o “institucionalismo radical” seria primo em primeiro grau (first cousin) do marxismo, ao passo que os 
neoinstitucionalistas pertenceriam à tradição neoclássica. 
10 OSTROM (1986), pg. 5. 
 
 
3
“instituição”. Todavia, após uma série de considerações sobre os vários conceitos utilizados por 
vários economistas neoinstitucionalistas, concluiu que ainda não há um consenso sobre o que é 
“instituição” entre os economistas — ou melhor: entre os “neoinstitucionalistas”, deixemos claro. 
— Assim, Ostrom preferiu mudar o foco de sua discussão, passando a comentar o conceito de 
regra (rule). 
 
Para Ostrom, o fato de haver várias definições de “instituição” impede a boa comunicação 
entre os pesquisadores da área. E isto detém o avanço da ciência, pois tal avanço depende da boa 
comunicação entre os cientistas, para que estes partilhem suas descobertas e suas dúvidas. Como 
os autores pesquisados por Ostrom sempre se referem a “regras” (rules), a autora contorna o 
debate sobre o conceito de “instituição” e passa a discorrer sobre regras, em uma forma canhestra 
de evitar o debate. 
 
Dessa forma, Elinor Ostrom conseguiu a proeza de estar certa e errada ao mesmo tempo. 
Sem dúvida, a precisão vocabular é importante. Como salienta Arjo Klamer, sem um mínimo de 
consenso sobre o significado dos conceitos utilizados, é impossível haver debate.11 Mas esta 
busca do mote correto não deve remeter o pesquisador à síndrome do marceneiro: o sujeito passa 
a vida a afiar suas ferramentas e jamais constrói o móvel encomendado. Como nos diz o filósofo 
austríaco Karl Popper, 
“[a] idéia de que a precisão da ciência e a da linguagem científica dependem da 
precisão dos termos empregados é certamente muito plausível, mas não passa, creio eu, 
de mero preconceito. A precisão de uma linguagem depende antes e tão-somente do fato 
de ela acautelar-se para não sobrecarregar os termos de que se vale com o ônus de 
serem precisos. Uma expressão como “duna-de-areia”, ou “vento” é, por certo, muito 
vaga. (...) Sem embargo, para muitos dos propósitos com que os geólogos possam ter em 
vista, esses termos são suficientemente precisos. (...) a precisão não consiste em tentar 
reduzir essa amplitude a nada ou em pretender que não exista essa margem de erro, 
mas antes em reconhecê-la explicitamente.”12 
 
Assim, discutir a precisão conceitual, nas palavras de Magee, 
“longe de se fazer necessária para esclarecer o pensamento e tornar preciso o 
conhecimento, obscurece um e outro e tende a conduzir a controvérsias intermináveis a 
propósito de palavras, em vez de fazer com que as controvérsias girem em torno de 
questões de substância.”13 
 
O problema de Ostrom, pois, está no fato de ela e os outros neoinstitucionalistas desejarem 
o impossível: um conceito definitivo e incontroverso. Seria mais sensato aceitar a recomendação 
de Popper e evitar esse debate estéril: 
“Nunca se incline a considerar seriamente problemas relativos a palavras e seus 
significados. O que deve ser encarado com seriedade são questões de fato e asserções a 
propósito de fatos: teorias e hipóteses, bem como os problemas que elas resolvem e 
suscitam. 
“(...) Aí está, segundo ainda hoje me parece, a via mais segura para a perdição 
intelectual: abandonar problemas reais em favor de problemas verbais.”14 [Os itálicos 
 
11 Ver KLAMER (1983), cap. TREZE. 
12 POPPER, K., The Open Society and Its Enemies, vol. ii, pp.19-20, apud MAGEE (1973), pg. 52. 
13 MAGEE (1973), pg. 52. 
14 POPPER (1974), pg. 25. 
 
 
4
estão no original.] 
 
Logo, parece-nos que Ostrom caiu na “perdição de Popper”, ao preocupar-se sobremaneira 
com a definição de rule. Ademais, há pelo menos um século os sociólogos chegaram a um 
consenso razoável sobre o que é uma “instituição”. E como o objeto de estudo último de 
sociólogos e economistas é o mesmo (a sociedade), não há nada de mais em os economistas 
utilizarem uma definição pensada por sociólogos. Assim, podemos dizer que “instituição” é: 
“uma estrutura parcial da sociedade, diferente do grupo, e desempenhando uma função 
específica na vida social. Possui certas normas que tendem a ser obrigatórias e que lhe 
são reconhecidas ou impostas pela sociedade global. Realiza ao longo de várias 
gerações objectivos explícitos que a tornam conhecida e aceite por toda a sociedade; as 
normas, os objectivos que se pretendem, os valores escolhidos, constituem um sistema 
que pode evoluir, mas que mantém unidade e coerência.”15 
 
O ponto fundamental, neste caso, é que uma instituição tem uma função social. Sem função 
social, uma instituição fenece.16 Não há “instituição” em abstrato, e sim em um mundo real, em 
um dado momento histórico. É, pois, inútil discorrer sobre “instituições” sem especificarmos a 
qual sociedade e a qual momento histórico nos referimos.17 Também é mister compreender que 
uma instituição pode ter sua função modificada ao longo do tempo. Em outras palavras, uma 
instituição social que dure por muito tempo pode ter sua função social alterada ao longo do 
tempo, sendo que sua última função pode eventualmente ser bastante distinta da original. 
 
Este conceito, o de função social, é aparentemente ignorado pelos neoinstitucionalistas. 
James Buchanan, por exemplo, diz que uma economia não tem função18 e que se trata de 
rematada tolice atribuir uma “função”a um fenômeno social (pois a economia e o mercado 
econômico são fenômenos sociais). Para Buchanan, a economia não tem função, por não se tratar 
de um ser vivo, dotado de vontade própria. Ora, Buchanan confunde vontade com função. Por 
exemplo, no jogo de futebol a bola tem uma função: sem ela não há jogo. Entretanto, nenhuma 
pessoa em pleno gozo de suas faculdades mentais atribuirá qualquer tipo de vontade ou desejo à 
bola. 
 
Podemos apresentar ainda dois exemplos ligados à economia, ambos ligados às funções da 
moeda (e a moeda pode ser considerada uma instituição social).19 O primeiro é simples: a 
literatura especializada há muito demonstrou que nos processos hiperinflacionários a moeda 
nacional sofre uma progressiva perda de funções. Em um primeiro momento, deixa de ser reserva 
de valor. Ou seja, as pessoas fazem suas poupanças em moeda estrangeira ou em algum bem 
tangível, como o ouro. Depois, em um segundo momento do processo inflacionário, os agentes 
econômicos passam a realizar suas contas em uma moeda estrangeira, pois a moeda nacional 
deixa de exercer a função de unidade de conta. Finalmente, no ápice da hiperinflação, a moeda 
nacional deixa de realizar a função de meio de troca. Em outras palavras, as pessoas recusam-se a 
 
15 BIROU (1966), pg. 209. 
16 Este ponto é especialmente enfatizado por MITCHELL (1979), no verbete “Institution; social institution” . 
17 Para uma discussão mais aprofundada sobre função social, ver PEREIRA (1983), especialmente capítulo 
terceiro: “A interpretação funcionalista”. 
18 BUCHANAN (1991), pp.20-21. 
19 Um interessante estudo, utilizando a moeda como instituição social é AGLIETTA & ORLÉAN (1982). 
 
 
5
receber pagamentos na moeda do país. Neste momento, para todos os efeitos a moeda deixa de 
existir, pois já não guarda nenhuma função. 
 
O outro exemplo está ligado à teoria econômica tradicional. Diz a “Lei de Gresham” que a 
má moeda expulsa a boa. Em outras palavras, quando há duas moedas circulando em uma mesma 
economia, aquela que tem valor é entesourada, ao passo que a “sem valor” tem sua velocidade de 
circulação levada ao infinito, pois todos desejam se desfazer dessa moeda desvalorizada. Assim, 
enquanto a moeda “boa” assume a função de reserva de valor, a moeda “má” tem a função 
exclusiva de meio de troca. Via de regra, isto ocorre em algum momento de uma crise 
hiperinflacionária, quando uma moeda estrangeira passa a circular formal ou informalmente na 
economia.20 
 
Vejamos ainda a questão de como uma instituição pode ter sua função transformada ao 
longo do tempo. O melhor exemplo neste caso, sem dúvida é o famoso trabalho de Max Weber: A 
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Nesse trabalho, o sociólogo alemão mostra como a 
ética do trabalho duro tem função religiosa, mas passa a exercer uma função fundamental na 
ascensão do capitalismo. É interessante cotejar o livro de Weber com o de Thorstein Veblen: A 
Teoria da Classe Ociosa, que mostra a nós como também o ócio tem sua função mudada com o 
avanço do capitalismo. O ócio, conquanto seja prova de status, deve ser revestido de uma aura de 
seriedade. As atividades economicamente improdutivas não podem ser mera vagabundagem, é 
preciso justificá-las socialmente. Assim, o trabalho e seu oposto, o ócio, têm suas funções 
mudadas ao longo do tempo.21 
 
Enfim, abundam exemplos em economia da existência de instituições com função social. 
Pena que Buchanan os ignore solenemente. Para realizar tal proeza, como autor a ser criticado 
por defender a existência de funções para a economia, Buchanan não cita nenhum renomado 
sociólogo da escola funcionalista (da qual, obviamente, Émile Durkheim é o principal 
expoente)22. Prefere citar um autor de menor proeminência no campo da sociologia, Frank 
Knight, um economista que foi chefe do departamento de economia da escola de Chicago.23 Essa 
é uma característica recorrente em autores neoinstitucionalistas: raramente citam outro autor que 
não um outro neoinstitucionalista... Enfim, tornemos ao conceito de “instituição”. 
 
Alguns economistas preferem uma definição mais simples: 
“[institution is] the regular, patterned behaviour of people in a society and for the ideas 
and values associated with these regularities.”24 
 
Notemos contudo que a definição simplificada dos economistas em momento nenhum 
 
20 Sobre teorias sobre inflação e estudos de casos de hiperinflação ver duas coletâneas de artigos: REGO (1986) e 
BELLUZZO & BATISTA Jr. (1992). 
21 DAVIS (1944) fez esse cotejamento, ainda que de forma exploratória. Já HANSEN (1964), cotejou a obra de 
Veblen com a de Weber no sentido de mostrar caminhos para uma possível teoria do crescimento econômico. 
22 Ver GIDDENS (1978). 
23 Sobre a trajetória de Frank Knight, de economista a “filósofo social” e sobre seu comportamento como colega 
de departamento, ver STIGLER (1988), especialmente pp. 23-30 e o cap. 12. 
24 NEALE (1994), pg.402. 
 
 
6
sugere uma instituição a-histórica — se enfatizamos este ponto é porque se trata de uma das 
questões-chave para compreendermos as diferenças entre o “velho” e o “novo” institucionalismo. 
 
2.2. “Regra” ou “norma”? 
 
Outro ponto sobre o qual não deve pairar dúvida é o conceito de norma (regra). Este é outro 
debate que talvez cause estranheza ao leitor versado em ciências sociais outras como a sociologia 
ou o direito, ciências estas que usam indistintamente os termos regra e norma.25 Todavia, para os 
neoinstitucionalistas, aparentemente há diferenças. 
 
Elinor Ostrom, ao fugir do debate sobre o termo “instituição”, diz que o melhor é utilizar o 
conceito de regras (rules). Estas são 
“potentially linguistic entities that refer to prescriptions commonly known and used by a 
set of participants to order repetitive, interdependent relationships.”26 
 
Aqui o problema é de outra ordem: enquanto os economistas neoinstitucionalistas usam o 
termo “regra”, os outros cientistas sociais utilizam o termo “norma”. A distância entre um e outro 
pode ser substantiva e denota uma diferença fundamental entre os neoinstitucionalistas e os 
geroinstitucionalistas e outros cientistas sociais. Para Mitchell, norma (norm, em inglês) é: 
“Social norms are thus general precepts which, being internalized or accepted by 
individuals, induce conformity in simple actions or in complex ethical judgements, thus 
increasing group unity.”27 
 
Notem que uma norma social induz a um comportamento uniforme. Isto é logicamente 
possível apenas em sociedades nas quais o comportamento dos indivíduos não é uniforme, a 
princípio. Em outras palavras, não há porque imaginar a princípio que todos se comportem da 
mesma maneira, a não ser quando há alguma norma social que induza a tanto. Outrossim, 
comportar-se de acordo com as normas de forma nenhuma implica em aceitá-las como corretas 
ou como verdades indiscutíveis: este ponto será importante ao discutirmos a principal diferença 
entre neo e gero institucionalistas, a saber, a hipótese de racionalidade econômica no 
comportamento dos indivíduos.28 Se todos os indivíduos são “racionais-econômicos”, então nossa 
definição de norma social deixa de fazer sentido, pois inexiste a necessidade de uma norma que 
induza a comportamentos semelhantes por parte dos indivíduos. Em uma sociedade na qual todos 
se comportam uniformemente, qual a função de uma norma social? E, como vimos, se não tem 
função, uma norma social simplesmente deixa de existir. 
 
É significativo aqui reafirmar aquela que parece ser uma característica recorrente dos 
neoinstitucionalistas: embora estejam enfrentando um problema sobre o qual já há bastante 
literatura, eles raramente citam outros cientistas sociais que não sejam também 
neoinstitucionalistas.Assim, Ostrom confunde-se em uma longa explicação na utilização do 
 
25 Sou grato aos profs. Drs. Celso C.H. Grisi (advogado) e José Carlos M. Pereira (sociólogo) por me atentarem 
para este fato. 
26 OSTROM (1986), pg. 5. 
27 MITCHELL (1979), pg. 132. 
28 Ver seção 2.3 O “homem econômico”. 
 
 
7
conceito de “regra”, quando bastaria aceitar o consagrado termo “norma”. Em outras palavras: os 
neoinstitucionalistas gastam muita tinta tentando reinventar a roda, pois desprezam tudo o que 
não seja neoinstitucionalista. Mas isto, obviamente, não é um engano ingênuo ou apenas fruto da 
ignorância em ciência social. Há uma outra questão de fundo: a utilização do conceito de regra 
(ou norma, que é um termo preferível a “regra”). 
 
Os neoinstitucionalistas pretendem que as regras sejam utilizáveis em modelos, 
especialmente se puderem ser empregadas em modelos baseados na teoria dos jogos. Daí 
Ostrom29 apresentar sua idéia de que há três tipos de regras: 
“(1) A rule states that some particular actions or outcomes are forbidden.(...) 
(2) A rule enumerates specific actions or outcomes or states the upper and lower bound 
of permitted actions or outcomes and forbids those that are not specifically included.(...) 
(3) A rule requires a particular action or outcome.”30 
 
As definições de regra elaboradas por Elinor Ostrom claramente facilitam a modelagem 
matemática. Agora, retornemos ao conceito sociológico de instituição e a partir deste vejamos 
alguns padrões de comportamento (normas). Uma instituição tem algumas caracterísiticas 
básicas, sendo a principal a de se constituir em torno de interesses socialmente reconhecidos: daí 
uma instituição determinar padrões de comportamento para seus membros, através de normas não 
necessariamente escritas ou formalmente estabelecidas. Alguns interesses são básicos em uma 
sociedade, tais como família, propriedade, religião, transmissão e criação de conhecimento, 
governo. Essas instituições regulam o funcionamento da sociedade e são chamadas de 
regulativas.31 Já as instituições operativas são aquelas com funções mais restritas (uma agência 
governamental, como uma biblioteca pública, ou um fundo de pensão estatal, por exemplo). Estas 
instituições operativas são as que mais interessam aos grupos que dominam a sociedade — pois 
obviamente permitem ganhos mais imediatos, sejam estes monetários, de “status” ou prestígio 
etc. — Desnecessário dizer que, se utilizarmos os conceitos sociológicos de “instituição”, a 
modelagem matemática de Ostrom e suas rules (regras) é extremamente prejudicada. 
 
Eis, pois, porque os geroinstitucionalistas discordam da forma neoinstitucional de 
conceituar “instituição”. Afinal, para os geroinstitucionalistas a modelagem matemática é apenas 
uma ferramenta, não o objetivo em si. Fazer ciência não é construir equações matemáticas (ou 
aplicar indiscriminadamente o “dilema do prisioneiro”). Para mostrar como a matematização 
tornou-se um hábito recorrente entre os economistas, é interessante apresentar um levantamento 
estatístico feito por Wassily Leontief a partir de artigos publicados ao longo de dez anos na 
American Economic Review e citado no já clássico trabalho de Mark Blaug:32 
 
 
29 OSTROM (1986), pp. 6 e seguintes. 
30 Idem, pg. 7. 
31 Ver WILLEMS (1961). 
32 Ver BLAUG (1993). 
 
 
8
Artigos Publicados na American Economic Review 
Período e % 
 Tipos de artigo 
1972-1976 
(%) 
1977-
1981 
(%) 
1. Modelos matemáticos sem quaisquer dados 50,1 54,0 
2. Modelos teóricos sem formulação matemática e sem dados 21,2 11,6 
3. Metodologia estatística 0,6 0,5 
4. Análise empírica baseada em dados desenvolvidos pelo 
autor 
0,8 1,4 
5. Análise empírica usando inferência estatística em dados 
publicados 
21,4 22,7 
6. Outros tipos de análise empírica 5,4 7,9 
7. Análise empírica baseada em simulação e experimento 
artificiais. 
0,5 1,9 
Fonte: Wassily Leontief: “American Economics”. In Science, 217, 1982.33 
 
A partir dessa tabela, Mark Blaug cita outros estudos que, à época (1988), confirmaram as 
estatísticas de Leontief e conclui que a economia está a se tornar uma espécie de “matemática 
social” ou uma “filosofia matemática”. Nas palavras de Blaug: 
“O que temos aqui é um tipo de formalismo: refestelar-se na técnica por amor à 
técnica.”34 
 
Ademais, nos estudos citados por Blaug, há indicações que é justamente na microeconomia 
a área da economia onde há mais estudos matemáticos. Não por acaso, a microeconomia moderna 
é a área na qual reina soberana a teoria ortodoxa (mainstream), da qual descende diretamente a 
“Nova Economia Institucional”. É como se esses economistas jamais se recordassem do 
ensinamento de Kalecki, um economista com sólidos conhecimentos de matemática: 
“Enquanto a Economia não esgotar as possibilidades do ábaco, não há motivo para 
recorrer à Matemática superior.” 35 
 
Voltando ao nosso ponto principal, vemos assim que a confusão entre “regra” e “norma” 
deriva do conceito básico que é “instituição”. Novamente, a questão não é a definição de “ regra” 
em si, mas como esta é utilizada. Poderíamos simplesmente dizer que uma regra é um padrão de 
comportamento utilizado por um conjunto de pessoas dentro de uma determinada sociedade. 
Assim, uma instituição seria um conjunto de regras. Por exemplo, uma religião é uma instituição 
e as pessoas que professarem tal religião devem seguir um dado conjunto de regras. Um ponto 
importante é que em uma sociedade pode haver um sem número de regras conflitantes entre si e 
um mesmo indivíduo pode tentar seguir regras contraditórias.36 Em última instância, serão os 
 
33 Citado em BLAUG (1993), pg. 32. 
34 Idem, ibidem. 
35 MIGLIOLI (1980), pg. 10. 
36 Em sociologia, diríamos que cada indivíduo cumpre vários “papéis sociais”. Para uma breve explanação sobre 
isto, ver DAHRENDORF (1968a), pp. 109-110; nessa passagem, Ralf Dahrendorf apresenta uma “regra” da 
sociologia: 
“o homem se comporta de acordo com seus papéis.” [Dahrendorf, 1968a, pg. 110. Os itálicos constam 
do original.] 
 
 
9
objetivos pessoais que valorarão as regras a serem seguidas por um determinado indivíduo.37 Este 
seria o ponto de vista geroinstitucionalista. 
 
Já os neoinstitucionalistas pretendem que as regras de alguma forma são criadas para 
aumentar a eficiência alocativa (dos fatores econômicos) do sistema e que tais regras são fonte de 
coesão social.38 Ora, pretender que qualquer norma social, para existir, deve ter como função 
última facilitar a eficiência alocativa é ir longe demais no economicismo. Mesmo porque, há 
normas conflitantes em uma mesma sociedade. Talvez os neoinstitucionalistas não se apercebam 
que 
“o consenso moral abrangente representa, de fato, uma condição necessária de 
solidariedade social, assentia Durkheim: mas só nas sociedades mais simples, onde o 
desenvolvimento da divisão social do trabalho ainda é rudimentar.”39 [Sem os grifos no 
original.] 
 
A esse consenso moral Durkheim chamou “solidariedade mecânica”. No caso de 
sociedades capitalistas modernas, há outro tipo de coesão, a chamada “solidariedade orgânica”: 
“[a solidariedade orgânica] — isto é, a interdependência de indivíduos ou grupos em 
relações sistemáticas de troca uns com os outros — só começa a emergir num sentido 
importante com o desenvolvimento da especialização da produção. Pois a solidariedade 
orgânica não pressupõe a similaridade dos indivíduos, mas o crescimento das 
diferenças entre eles. Há duas precondições históricas correlatas: a separação das 
tarefas econômicas das obrigações familiais, e a concentração da autoridade legítima 
nas mãos de um organismocentral (casa monárquica ou Estado).”40[Sem os grifos no 
original.] 
 
Como a principal hipótese dos neoinstitucionalistas é a crença de que o homem sempre age 
de forma “racional econômica”, esses economistas não poderiam utilizar os conceitos de 
Durkheim para analisar uma economia capitalista: para os neoinstitucionalistas, um homem é 
igual a outro homem: não há diferenças. Mas é justamente a emergência dessas diferenças uma 
das principais características de uma economia capitalista! Ademais, o problema dos 
neoinstitucionalistas é de modelagem: é preciso construir um modelo “elegante” formalmente 
(em outras palavras, passível de algum tipo de matematização). Assim, não lhes resta outro 
caminho a não ser estender sua forma de análise (economicista) ao estudo das instituições e 
ignorar tudo o que não coadune com essa visão de mundo. Não é outro o motivo de Russell 
Hardin gastar páginas e mais páginas discorrendo sobre as “estruturas da interação social” e não 
citar um único sociólogo, exceto Talcott Parsons — um autor ultrapassado em sociologia.41, 42 
 
37 Neste sentido, qualquer indivíduo é racional, pois esta expressão significa apenas e tão somente escolher os 
melhores meios para atingir um determinado fim. Os meios são racionais, nunca os fins. Confundir meios e fins é 
algo comum entre economistas. Sobre isto, ver PEREIRA (1993) e DAHRENDORF (1968b), que afirma 
textualmente: 
“ De fato, parece que a racionalidade é simplesmente uma maneira de resolver problemas, não uma 
maneira de descobrir o que são ou se suas soluções são moralmente aceitáveis. [...] O que é racional, então, 
são sempre os meios, nunca os fins.” [Dahrendorf, 1968b, pg. 245, sem os grifos no original] 
38 Ver KHALIL (1994) e WILLIAMSON (1985). 
39 GIDDENS (1978), pg.14. 
40 Idem, pg. 17. 
41 HARDIN (1994), pg. 26 e seguintes. 
 
 
10
 
Embora involuntariamente, é exatamente isto que nos mostra Trháinn Eggertsson,43 ao 
afirmar que os economistas neoinstitucionalistas pretendem generalizar o uso das “ferramentas 
teóricas” neoclássicas aplicando-as no estudo das instituições. De certo modo, seguem o conselho 
de Karl Brunner, de que os modelos econômicos são bons demais para serem aplicados somente a 
problemas estritamente econômicos. Por que não usá-los em outros campos, tais como a 
sociologia ou a política?44 O curioso é que, quando o inverso ocorre, ou seja, quando um 
economista se vale do aparato teórico desenvolvido por outros cientistas sociais, é logo taxado de 
“sociólogo”(e isto está longe de ser considerado elogio). Se esse economista for um estilista e 
escrever em linguagem escorreita, simples e direta, será então taxado de “jornalista”.45 Não é à-
toa que a economia, por vezes, é chamada de “a ciência imperialista”. 
 
De certo modo, o problema da “Nova Economia Institucional” talvez esteja na confusão 
entre modelo e teoria. C. Wright Mills assim diferenciou os dois conceitos: 
“Um modêlo é um inventário mais ou menos sistemático dos elementos aos quais 
devemos prestar atenção para compreender alguma coisa. Não é verdadeiro nem falso: 
tem graus variados de utilidade e adequação. Uma teoria, em contraste, é uma 
afirmação que pode ser verdadeira ou falsa, sôbre o pêso causal e as relações dos 
elementos de um modêlo.”46 
 
Em síntese, ao utilizar conceitos mal-definidos e hipóteses aparentemente pouco realistas, 
os neoinstitucionalistas conseguem apenas construir um modelo de, aparentemente, pouca 
aplicação. Daí a ter a pretensão de desenvolver uma “teoria das instituições” saindo praticamente 
do nada, sem recorrer a tantos sociólogos e economistas não neoclássicos que já se debruçaram 
sobre o tema, há uma grande diferença. Nesse sentido, correta está Elinor Ostrom, ao aplicar seu 
modelo a situações muito específicas,47 sem ter a pretensão de James M. Buchanan de explicar a 
origem de todas as sociedades capitalistas48 (ao menos, esperamos que ela não tente estender suas 
conclusões sobre uma comunidade de pescadores ao funcionamento do mercado financeiro norte-
americano, ou algo do gênero). 
 
 
42 Sobre críticas a Talcott Parsons, ver WRIGHT MILLS (1959). Nessa interessante passagem, Wright Mills 
“traduz” todo o linguajar oco de Parsons em algumas poucas frases. Todavia, dado que não é nosso objetivo discutir 
Talcott Parsons, remetemos o leitor ao trabalho de Wright Mills. Para nós, interessa apenas frisar que, quando um 
neoinstitucionalista cita um sociólogo, cita um autor ultrapassado. 
43 Ver EGGERTSSON (1990), cap. 1. 
44 KLAMER (1983), pg. 192. 
45 MYRDAL (1973), pg.30. 
46 WRIGHT MILLS (1963a), pg. 41. 
47 Ver OSTROM (1990). 
48 Aliás, a separação entre economia pré-constitucional e pós-constitucional de Buchanan é mero absurdo: é 
possível haver sociedades com instituições complexas e desenvolvidas sem que haja o desenvolvimento de uma 
economia (ou de algo semelhante a um mercado capitalista). Ao leitor interessado em trabalhos sobre uma sociedade 
complexa sem economia, remetemo-lo à dissertação de mestrado e à tese de doutorado do professor Florestan 
Fernandes, respectivamente: A Organização Social dos Tupinambá e A Função Social da Guerra na Sociedade 
Tupinambá (o autor agradece ao professor José Carlos de Medeiros Pereira por este comentário, eximindo-o, como 
de praxe, por quaisquer equívocos ou erros). Buchanan aparentemente ignora quaisquer autores que não 
compartilhem de seus pressupostos teóricos e/ou ideológicos. 
 
 
11
2.3. O “homem econômico” 
 
Já abordamos nos itens anteriores duas fontes de diferença entre a “nova” e a “velha” 
Economia Institucional: os conceitos de “instituição” e o de “norma social”. Resta-nos, porém, 
tratar de uma discordância fundamental entre as duas escolas de pensamento: a hipótese de 
racionalidade dos agentes econômicos. Tanto um adepto da “Nova Economia Institucional” como 
Trháinn Eggertson49 quanto um crítico moderado como Geoffrey Hogdson50 concordam que essa 
hipótese é o pilar dos modelos (e não teorias) apresentadas por neoinstitucionalistas. Essa 
hipótese de racionalidade é rejeitada completamente por geroinstitucionalistas como Thorstein 
Veblen51. 
 
Segundo Eggertsson, preferências estáveis, escolha racional e tendência ao equilíbrio são o 
ponto central da economia neoclássica52 (e também da “Nova Economia Institucional”). Sem isto, 
o “paradigma” não sobrevive. Eggertsson, seguindo a tendência dos neoinstitucionalistas, mostra 
vários refinamentos da hipótese original (racionalidade limitada, inclusão dos custos de 
transação53 etc.), mas isto não escamoteia o fato de que, sem a idéia de racionalidade, o 
neoinstitucionalismo não sobrevive sequer como modelo, quanto mais como “paradigma”.54 
 
A hipótese fundamental comum à maioria, senão todos os trabalhos da “Nova Economia 
Institucional” é a de que o homem sempre tem um comportamento racional-econômico.55 E o que 
vêm a ser tal “racionalidade-econômica”? 
 
Segundo Barry Hindes: 
“one of the most influential contemporary usages is to identify rationality with 
 
49 Ver EGGERTSSON (1990). 
50 Ver HOGDSON (1994). 
51 Ver, por exemplo, o excelente A Teoria da Classe Ociosa. 
52 EGGERTSSON (1990), pg. 5. 
53 Ao contrário do que dá a entender STIGLER (1988, pp. 80 e seguintes), Ronald Coase não é o “descobridor” 
dos custos de transação em economia. Quem primeiro abordou esse problema foi John R. Commons — ver 
RUTHERFORD (1994) ou WILLIAMSON (1985), pg. 15. 
54 Preferimos “modelo” a “paradigma” neoinstitucional porque paradigmas, ensina-nos Kuhn, 1962 (pg. 13): 
“[São]as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem 
problemas e soluções modelares para uma comunidade praticante de uma ciência.” 
Ora, a economia neoinstitucional não é “universalmente reconhecida”. 
55 HARDIN (1994) praticamente afirma que não há comportamento altruísta que seja racional. Todo 
comportamento racional, para esse autor, é egoísta (self-interest) (pp. 46-47). Há biólogos que discordam dessa 
forma de ver o ser humano: ver, por exemplo, GOULD (1981). Aliás, é interessante contrastar a defesa do egoísmo 
feita por Hardin às palavras de Péricles (apud TUCIDIDES, 1986, pg. 99): 
“olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida de seus próprios 
interesses, mas como um inútil”. 
Essa insistência dos neoinstitucionalistas em atribuir à humanidade um comportamento monodirecionado, 
voltado apenas aos fins econômicos pessoais, também pode ser explicada utilizando-se Péricles (apud TUCIDIDES, 
1986, pg. 97): 
“elogios a outras pessoas são toleráveis somente até onde cada um se julga capaz de realizar qualquer 
dos atos cuja menção está ouvindo; quando vão além disso, provocam a inveja, e com ela a incredulidade.” 
Assim, os neoinstitucionalistas são incapazes de conceber um comportamento altruísta, pois tomam-se como 
medida única e definitiva da humanidade. 
 
 
12
behaviour that maximizes the satisfaction of preferences. Models of maximizing 
behaviour are widely used in economic theory, and rational choice analysis can be 
understood as proposing to extend that ‘economic approach’ to others areas as social 
life. It is in this spirit, for example, that Gary Becker insists that the economic approach 
‘is applicable to all human behaviour, be it behaviour involving money prices or 
imputed shadow prices... rich or poor persons, men or women, adults or children, 
brilliant or stupid persons, businessmen or politicians, teacher or students’56. Becker 
and other advocates of the economic approach insist that it is rigorous, capable of great 
technical sophistication and able to generate powerful explanations across a wide range 
of situations.”57 
 
Como nossa longa citação mostra, há economistas que crêem na utilização de modelos 
econômicos em praticamente qualquer circunstância da vida cotidiana. A forma como isso se 
processa é circular: Becker nos diz que se pudermos imputar preços (monetários ou não), então 
poderemos aplicar o método da economia ortodoxa. Ora, nós continuamente valoramos 
(“precificamos”58) nossas ações. As escolhas pessoais de um indivíduo qualquer refletem, em 
alguma medida, sua escala de valores. Ao escolher uma esposa, ao procurar um emprego, ao 
professar uma dada religião, ao esposar uma determinada teoria econômica etc. o indivíduo está 
atuando de acordo com sua a “curva de utilidade”. Mas poucos seriam ingênuos a ponto de 
estender a aplicação do método econômico a todas as atividades de um ser humano. Nem todas as 
escolhas na vida de um indivíduo são “racionais-econômicas”. Mesmo Gary Becker ou James 
Buchanan provavelmente têm algumas manias “irracionais” (das quais a mais óbvia é crer na 
onipotência da teoria econômica ortodoxa). Ocorre que Becker chegou à sua formulação valendo-
se da célebre definição de economia feita por Lionel Robbins: “a ciência que estuda o 
comportamento humano como uma relação entre fins e meios raros que têm usos alternados.” 59 
Deixemos a Godelier o encargo de mostrar o absurdo dessa tese: 
“A economia política não é mais um domínio particular da vida social, mas se 
apresenta atualmente como um aspecto de tôda atividade humana com a condição de 
que esta procure ‘economizar’ seus meios. Tôda atividade dirigida se torna de direito 
‘econômica’ ou, pelo menos, já o é em essência (...) e a Economia Política se dissolve 
numa teoria geral da ação na qual nada a distingue das teorias do político, do religioso, 
etc...”60 
 
E qual o fundamento para essa generalização do uso da teoria econômica ortodoxa na 
explicação de todos os fenômenos sociais? A hipótese fundamental é a de que o homem está 
continuamente agindo no intuito de maximizar sua utilidade, de ser “racional-econômico”. Um 
ponto importante na aceitação desta hipótese, e ressaltado por Barry Hindess61, é que aceitar esse 
tipo de racionalidade implica em aceitar o chamado “individualismo metodológico”: o homem 
 
56 Gary Becker (1976), The Economic Approach to Human Behaviour, Chicago: University of Chicago Press, 
citado por HINDESS (1994), pg. 215. 
57 HINDESS (1994), pg. 215. 
58 “Precificar” é um verbo inexistente na língua portuguesa, daí utilizarmos o verbo “valorar”. 
59 GODELIER (s.d.), pg. 22. Sobre isto, ver também RAMOS (1993, pg. 102) que, citando Lionel Robbins, 
apresenta a seguinte definição de economia: 
“Economia é a ciência que estuda o comportamento humano como um relacionamento entre fins e 
meios escassos que têm usos alternativos.” 
60 Idem, ibidem. 
61HINDESS (1994), pg. 215. 
 
 
13
não é influenciado pelo meio em que vive. Todas as suas decisões (econômicas ou não) são 
tomadas levando em conta a maximização de sua satisfação. Também, aparentemente, a 
consequência a outrem de seus atos pouco importa. Em síntese, é um homem a-social. Esta é uma 
posição em tudo contrária à de Karl Marx, que em seu Para a Crítica de Economia Política, 
afirma: 
“Todavia, a época em que produz esse ponto de vista [a época do capitalismo], o do 
indivíduo isolado, é precisamente aquela na qual as relações sociais (e, desse ponto de 
vista, gerais) alcançaram o mais alto grau de desenvolvimento. O homem é no sentido 
mais literal, um zoon politikon62 , não só animal social, mas animal que só pode isolar-
se em sociedade. A produção do indivíduo fora da sociedade (...) é uma coisa tão 
absurda como o desenvolvimento da linguagem sem indivíduos que vivam juntos e falem 
entre si. É inútil deter-se mais tempo sobre isso. Nem sequer seria necessário tocar 
nesse ponto se essa banalidade (...) não fosse seriamente reintroduzida na mais 
moderna Economia. (...) Nada é mais aborrecedor e árido do que o locus communis 
(lugar-comum) disfarçado.”63 
 
Portanto, no mínimo desde Marx há esse debate sobre a utilização da hipótese do “homem-
racional” (porque este é a-social e a-histórico). Ao longo do tempo, e provavelmente por causa 
das críticas, os defensores dessa hipótese passaram a refiná-la, afirmando que é óbvio que o 
homem não é sempre racional. Mas ainda assim, a hipótese deve ser o ponto de partida para 
qualquer análise econômica “séria”.64 Chegam até mesmo a afirmar, como Milton Friedman, que 
a veracidade das hipóteses não importa em um modelo. O fundamental é a capacidade preditiva 
deste.65 Em síntese, para Friedman e seus seguidores, ainda estaríamos utilizando a astronomia 
Ptolomaica, posto que esta é capaz de prever quando ocorrerão os eclipses.66 
 
Como ressalta Maurice Godelier (e enfatizando as palavras de Karl Marx), esse 
incensamento da racionalidade econômica é um fenômeno histórico e coincide com a ascensão do 
capitalismo. Godelier exagera em suas críticas e chega mesmo a batizar os economistas 
partidários do valor-utilidade de “turiferários do capitalismo”.67 Não chegamos a tanto, porque 
não se trata de ofender nossos colegas ortodoxos. A questão, mais complexa e interessante, é 
convencê-los de que não podem generalizar um fenômeno histórico, a racionalidade econômica 
característica da ação capitalista, a todos os acontecimentos históricos e pré-históricos da 
humanidade. 
 
 
62 Marx está citando Aristóteles: De Republica. Livro Primeiro, cap. 2. 
63 MARX (1857), pg. 4. 
64 Ver HINDESS, (1994). 
65 Idem, ibidem. 
66 Essa discussão sobre a veracidade das hipóteses não é recente entre oseconomista. Em carta a David Ricardo, 
em 26 de janeiro de 1817, Thomas Malthus já dizia que: 
“A writer may, to be sure, make any hypothesis he pleases; but if he supposes what is not at all true 
practically, he precludes himself from drawing any practical inferences from his hypothesis.” 
Este trecho está citado em KEYNES (1933a) à pg. 98. Mais adiante, comentando essa carta de Malthus, Keynes 
concluiria que 
“One cannot rise from a perusal of this correspondence without a feeling that the almost total 
obliteration of Malthus’s line of approach and the complete domination of Ricardo’s for a period of a hundred 
years has been a disaster to the progress of economics.” (pg. 98) 
67 GODELIER (s.d.), pg. 29. 
 
 
14
O fundamental para nós, portanto, é enfatizar que a hipótese do “homem-racional” garante 
a aplicação indiscriminada desse modelo a uma série de economias dos mais diferentes países, 
nos mais diferentes momentos históricos. Afinal, o uso de tal hipótese assevera a 
homogeneização do comportamento humano. Caso contrário não seria possível a modelagem. Se 
houver uma sociedade na qual os homens não prefiram mais riqueza a menos riqueza, mais bens 
a menos bens etc., não poderemos utilizar os modelos desenvolvidos pelos neoinstitucionalistas 
(e pelos neoclássicos, porque os neoinstitucionalistas nada mais são do que uma vertente do 
pensamento neoclássico). Pois para estes, a base da troca é a percepção humana de que é sempre 
melhor cooperar com os outros. Somente assim aconteceria a troca econômica. Já dissemos, mas 
voltamos a frisar que esta assunção da “neutralidade” da troca não é aceita por muitos autores; 
nesse sentido ver, por exemplo, a brilhante análise de Michel Aglietta e André Orléan: A 
Violência da Moeda.68 
 
Ora, pressupor racionalidade econômica em todo e qualquer comportamento humano e 
afirmar que a irracionalidade econômica é apenas uma exceção que confirma a regra é ignorar a 
natureza de nossa espécie. Somos condicionados por um sem número de regras e valores que não 
são econômicos, sejam esses valores éticos, morais, religiosos ou de qualquer outra espécie. A 
História da Humanidade retrata uma vasta gama de momentos do mais puro comportamento 
“irracional”. Recomendamos, por exemplo, uma consulta ao trabalho de Barbara Tuchman, A 
Marcha da Insensatez, no qual a autora retrata uma série de momentos na história no qual o 
comportamento de determinadas sociedades pode ter sido tudo, menos “racional-econômico”69. 
Ou ainda, veja-se Uma Breve História da Especulação Financeira, de John Kenneth Galbraith70: 
nesse trabalho, o economista norte-americano retrata vários booms especulativos, no qual o valor 
de uso do ativo ou o retorno obtido pouco importava. 
 
Certo, um economista neoinstitucional ainda poderia tentar salvar a face, restringindo a 
hipótese do comportamento racional-econômico aos especialistas, a pessoas treinadas para avaliar 
investimentos. Neste caso, seria interessante consultar um livro assaz interessante: a narrativa 
feita por John Kenneth Galbraith do colapso da bolsa de valores de Nova York ocorrido em 1929. 
O leitor que consultar esse interessante trabalho verá como profissionais atuando em mercados 
essencialmente formados por gente com bons conhecimentos de economia também podem 
apresentar as reações mais estapafúrdias.71 Nesse livro, aliás, Galbraith mostra como mesmo 
Irving Fisher, um economista cuja reputação de excelência profissional transcendeu sua própria 
vida,72 poderia errar (mesmo sendo um sujeito treinado para ser “racional-econômico”): 
 
68 AGLIETTA & ORLÉAN (1982) discordam frontalmente da hipótese da neutralidade da troca, pois não vêem a 
troca como uma transação entre iguais. Para esses autores, há sempre uma questão de poder envolvida na troca 
econômica. Daí falarem na “violência” da moeda. 
69 Ver TUCHMAN (1984). 
70 Ver GALBRAITH (1990). 
71 Ver GALBRAITH (1988) 
72 Uma amostra do prestígio de Fisher é dada por ALLEN (1977): Fisher foi conselheiro econômico de cinco 
presidentes norte-americanos (Theodore Roosevelt, William Howard Taft, Thomas Woodrow Wilson, Warren 
Harding e Herbert Clark Hoover). Ademais, trocou correspondência sobre assuntos econômicos com Franklin 
Delano Roosevelt. Mas, como assinala BLAUG (1992a), sua insistência em afirmar que o colapso da Bolsa de 
Valores em 1929 era passageiro diminuiu consideravelmente seu prestígio entre seus contemporâneos. Isto, todavia, 
 
 
15
“No outono de 1929, o Professor Irving Fisher, da Universidade de Yale, externou sua 
imortal apreciação: ‘As cotações das ações chegaram àquilo que parece constituir um 
nível permanentemente alto.’”[Sem o grifo no original.]73 
 
Finalmente, um autor neoinstitucional poderia argumentar que não se trata de procurar 
racionalidade econômica em mercados intrinsecamente instáveis, como os mercados de títulos 
mobiliários, ou esperar encontrar alguma racionalidade em políticas públicas. Mas, ainda assim, 
restaria o consumidor racional: aquele que têm seus gostos e preferências definidos ao longo de 
uma curva de preferência. Este consumidor sim, seria capaz de tomar decisões “racional-
econômicas”. Mesmo esse consumidor não é tão racional, caso contrário inexisitiram pesquisas 
de marketing. Pois se todos temos comportamento homogêneo, por que um gerente de marketing 
precisa pesquisar os gostos ou o como as pessoas decidem qual produto comprar? Philip Kotler e 
Gary Armstrong proveêm-nos com um interessante exemplo da “irracionalidade-econômica” dos 
consumidores: o consumo de automóveis de luxo. Segundo aqueles autores, um Porsche é 
“um carro que possuímos para nos proporcionar prazer, não apenas utilizarmos. Os 
compradores de Porsche não são impelidos por fatos, mas por sentimentos.”74 
 
Assim, quando a empresa alemã lançou produtos mais baratos, houve uma queda na venda 
dos produtos mais caros. Por quê? Afinal de contas, os Porsches mais caros continuavam a ser os 
mesmos veículos, dirigidos ao mesmo público de antes. Portanto, se os consumidores fossem 
“racionais-econômicos” não haveria motivo para deixarem de comprar os Porsches mais caros. E 
no entanto, eles assim procederam. Porque não se tratavam de consumidores racionais, no sentido 
dado pelos economistas ortodoxos à esta expressão. Segundo Kotler e Armstrong, o fato é que os 
compradores de Porsches caros compravam também uma imagem de exclusividade. Daí esses 
autores concluírem que: 
“compreender os compradores de Porsches é uma tarefa fundamental, mas difícil.(...) 
[Esses compradores] são impelidos por motivações complexas e sutis. Seu 
comportamento tem como base valores e atitudes profundamente arraigados, uma visão 
do mundo e do lugar que ocupam no mesmo, o que pensam a respeito de si próprios e o 
que desejam que outros pensem deles, racionalidade e bom senso e caprichos e 
impulsos.”75 
 
Ou seja, os consumidores de automóveis Porsche seguem um conjunto de normas sociais, 
que dificilmente poderiam ser chamadas de “racionais-econômicas”. 
 
Se os consumidores agissem de forma “racional-econômica”, não haveria sentido de as 
empresas realizarem estudos de segmentação de mercado. Pois o que através da segmentação se 
procura é um conjunto de consumidores que reajam de forma o mais semelhante possível aos 
esforços de marketing da empresa. O que os teóricos neoinstitucionalistas ignoram é que 
“a figura do consumidor, único e absoluto, tal como é concebida no centro das 
atividades de marketing, revela-se uma abstração, um ente ideal, uma construção 
conceitual que pode apenas expressar de forma simplificadora o conjunto de infinitosnão invalida seu lugar na História do Pensamento Econômico, que é certo e indiscutível; não por outro motivo a 
equação quantitativa da moeda é também conhecida como “equação de Fisher”. 
73 GALBRAITH (1988), pg. 63. 
74 KOTLER & ARMSTRONG (1991), pg. 79. 
75 Idem, pg. 80. 
 
 
16
elementos diversos, existentes no mundo real. No mercado, onde a especificidade 
adquire muitas formas, o que se pode encontrar são consumidores. Diferentes entre si 
em maior ou menor grau, com preferências, motivos, gostos, razões e outras 
acidentalidades, mais, em alguns casos, ou menos em outros, assemelhadas e/ou 
dessemelhadas, cada uma de cada outra.”76 [Sem os grifos, no original.] 
 
Reparemos no fato de que o professor Celso Grisi têm uma posição contrária à de Gary 
Becker, pois reconhece que os consumidores agem de forma diferente entre si e não podem ser 
considerados um ente abstrato único, o “consumidor” de comportamento sempre racional-
econômico. Se esse modelo de imaginar o comportamento do consumidor fosse correto, as 
empresas não investiriam em pesquisas e técnicas de segmentação, que reconhecem em seus 
modelos a existência de múltiplos consumidores, dotados de comportamentos e motivações 
distintos. 
 
O fato é que a hipótese do homem racional-econômico é tão disparatada que não pode ser 
levada a sério por qualquer cientista social medianamente bem informado sobre o mundo real. 
Certo, quando um economista neoclássico ou monetarista ou neoinstitucionalista se depara com 
esse argumento, saca logo a famosa observação feita por Milton Friedman: o realismo das 
hipóteses não é importante.77 Ora, imaginemos o seguinte modelo de funcionamento da economia 
brasileira, construído a partir das seguintes hipóteses: 1) todos os brasileiros recebem o mesmo 
salário por hora de trabalho e 2) todos os brasileiros consomem as mesmas quantidades de bens, 
sendo que estes bens são da mesma marca e tem o mesmo tamanho de embalagem. Daí 
poderemos concluir que a disparidade de renda entre as famílias brasileiras se dá porque alguns 
trabalham mais do que outros e porque alguns têm mais filhos (que não trabalham e portanto, não 
geram renda, mas consomem) do que outros. Logo, a nossa recomendação de política econômica 
visando combater a concentração de renda seria: 1) o governo proibiria os mais pobres de ter 
filhos e 2) o governo fixaria um limite máximo para o número de horas trabalhadas/mês por 
trabalhador, impedindo os mais ricos de continuarem a perceber uma renda maior. Convenhamos, 
é possível imaginar disparate maior do que este? Sim, é. James M. Buchanan pretende explicar a 
formação de uma sociedade abstraindo a história. Para Buchanan, podemos começar nosso 
modelo com dois indivíduos, “A” e “B”. Depois, bastaria acrescentar “n” indivíduos ao 
modelo...78 
 
Melhor ficarmos com Patrício Meller, que critica esse excesso de abstração da seguinte 
forma: 
“Hoje em dia [1987], os modelos abstratos abundam na economia. Assim sendo, ante a 
objeção de que um determinado modelo teórico utilizado (...) não reflete o que se 
observa na realidade, a resposta tradicional é que é uma sobre-simplificação que só se 
faz com o propósito de facilitar e permitir o uso e aplicação do instrumental básico. 
Assim, uma vez pronto o modelo, ir-se-á relaxando alguns dos pressupostos iniciais e 
introduzindo-se complexidades maiores do mundo real. Mas a verdade é que se os 
sucessivos modelos passam a ser mais elaborados, eles retêm a estrutura e implicações 
do modelo básico inicial. Em seguida, a evolução que se observa é uma espécie de 
 
76 GRISI (1986), pg. 11. 
77 Ver a afirmação de Karl Brunner, citando Friedman: “o realismo das suposições não oferece resposta alguma a 
questões relativas ao status cognitivo de uma dada hipótese.” (KLAMER, 1983, pg. 206). 
78 Ver BUCHANAN (1975), pg. 27 e seguintes. 
 
 
17
sofisticação cada vez maior do modelo inicial de seus derivados, até que se chega a uma 
espécie de fascinação com o instrumental matemático formal; a estas alturas, já nada 
faz recordar quais eram as perguntas econômicas básicas que originaram a análise. E, 
assim, a teoria se move na direção de resolver puzzles que surgem da aplicação do 
instrumental matemático formal; tais puzzles têm um interesse puramente lógico-
abstrato.”79 
 
Parece-nos que é exatamente essa a atitude dos neoinstitucionalistas: escondem-se na 
resolução de puzzles lógicos, ao invés de tentarem resolver problemas do mundo real. Ou alguém 
realmente acredita, como Buchanan parece fazer, que é possível explicar uma sociedade 
complexa como a brasileira através de um modelo com “dois indivíduos, A e B, que consomem 
dois bens, X e Y”?80 
 
Não que sejamos ingênuos metodologicamente: é óbvio que um modelo não é a realidade; é 
apenas a realidade reduzida a seus pontos fundamentais na opinião do pesquisador. A explicação 
científica reside justamente na diferença entre o modelo e a realidade. Porém, quanto maior a 
diferença entre o modelo e a realidade, maior a gama de possíveis explicações da realidade. Ou 
seja, menor o conteúdo explicativo do modelo. Um modelo que parte da idéia de equilíbrio,81 de 
racionalidade etc. é tão distinto da realidade que torna muito difícil sua utilização prática. 
 
Restaria então uma última defesa do homem econômico: este seria um “tipo ideal” 
weberiano. Esta é certamente uma defesa segura. Porém, peca em um ponto: o tipo ideal 
weberiano não é um ente isolado. Em uma pesquisa devemos utilizar vários tipos ideais: a 
realidade estará em algum ponto entre os vários tipos. Ao basear seu modelo em um único tipo 
ideal — o homem racional — , os neoinstitucionalistas fazem apenas sociologia de terceira 
categoria.82 
 
O próprio Max Weber já nos mostrou que podemos encontrar tipos ideais na teoria 
 
79 MELLER (1987), pg. 85. 
80 Aliás, para Buchanan, também a psicologia é algo simples: segundo o economista norte-americano, todo 
sujeito tem um “equilíbrio interior”: 
“Each man would attain a personal behavior equilibrium, as determined by the interaction among his 
utility function, his basic or inherent capacities to convert input into output, and the natural environmental 
setting that confronts.” (BUCHANAN, 1975, pg. 55). 
Assim, para Buchanan, qualquer sujeito “desequilibrado” é aquele cuja vida não está no ponto de tangência entre 
sua curva de utilidade pessoal e sua função de produção. 
81 Pensar em “equilíbrio” ou em “tendência ao equilíbrio” quando do estudo de uma economia também é 
absurdamente irreal. Como não é nosso objetivo discutir os equívocos no uso do conceito de equilíbrio, remetemos o 
leitor ao capítulo “Uma introdução aos conceitos de dinâmica econômica”, em POSSAS (1987). Nesse capítulo, o 
professor Mario Possas afirma que devemos rejeitar a própria noção de equilíbrio em economia (ver pp. 22 e 
seguintes). 
82 Em verdade, haveria ainda uma “ultíssima” defesa do uso da racionalidade econômica como ponto de partida 
para a teorização em economia. Para tanto, os neoinstitucionalistas deveriam usar a separação feita por Vilfredo 
Pareto (apud Bhatty, 1954): o comportamento racional seria o campo de estudo da economia, o irracional, da 
sociologia. Porém tal defesa somente poderia ser proposta por um neoclássico, posto que Pareto é um dos fundadores 
da ortodoxia econômica. Outrossim, tal linha de argumentação iria no sentido oposto do institucionalismo, pois este 
“movimento” teórico tenta se desfazer dos pressupostos neoclássicos e agregar conhecimentos de outras ciências 
sociais nos modelos teóricos econômicos. 
 
 
18
econômica: 
“Semejantes construcciones típico-ideales se dan, por ejemplo, en los conceptos y leyes 
de la teoría económica pura. Exponen cómo se desarrollaría una formaespecial de 
conducta humana, si lo hiciera con todo rigor con arreglo al fin, sin perturbación 
alguna de errores y afectos, y de estar orientada de un modo unívoco por un sólo fin (el 
económico). Pero la acción real sólo en casos raros (Bolsa), y eso de manera 
aproximada, transcurre tal como se fue construida en el tipo ideal (respecto a la 
finalidad de tales construcciones).”83 [Sem os grifos, no original.] 
 
E como se dá a construção desse tipo ideal? Segundo Pereira (1983) (e obviamente 
seguindo Max Weber), 
“como investigadores, realizamos duas seleções, ambas culturalmente condicionadas. 
Em primeiro lugar, a partir de certos ‘pontos de vista’, consideramos uns fenômenos 
mais significativos do que outros. Em segundo, usando outras princípios, também 
valorativos, selecionamos as características desses fenômenos que integraremos num 
tipo ideal.” 84 [Sem os grifos, no original.] 
 
Finalmente, o uso do tipo ideal parte do princípio de que 
“pelo menos dois tipos [ideais] teriam que ser construídos para que o estudo do 
fenômeno em questão fosse cientificamente significativo.” 85 
 
Outro ponto na construção e utilização do tipo ideal, é bom enfatizar, é que este não precisa 
ser necessariamente racional econômico (nos moldes neoclássicos)86. Pode muito bem ser 
“irracional-econômico”. Daí podermos dizer, acompanhando Weber, que 
“a ação social real, normalmente, se desenvolve com escassa ou nenhuma consciência 
do sentido por parte dos agentes participantes. Eles antes ‘sentem’ do que ‘sabem’.” 87 
 
Disto podemos concluir que, ainda que o tipo ideal “homem racional-econômico” fosse um 
bom tipo a ser utilizado, ainda assim teríamos um modelo capenga, posto que nenhum modelo 
poderia ser baseado em um único tipo ideal.88 Note-se, ademais, que Weber utilzou em suas 
análises o tipo ideal “racional-econômico” em suas análises. Todavia, o fez com ressalvas, 
situando-o historicamente, utilizando para analisar problemas específicos e qualificando de que 
 
83 WEBER (1922), pg. 9. 
84 PEREIRA (1983) , pp. 146-147. 
85 Idem, pg. 147. 
86 Racional, para Weber, é apenas e tão somente a utilização do melhor meio, dados os conhecimentos do sujeito, 
na consecução de um determinado fim (WEBER, 1922, pp. 64-68 e PEREIRA, 1993). Logo, podemos falar em 
racionalidade religiosa, política, econômica etc. Os neoclássicos costumam atribuir racionalidade aos fins (no que 
parecem ser seguidos pelos neoinstitucionalistas): desta forma, qualquer ação humana que não persiga um fim 
econômico é “irracional”. Porém, analisar se uma política econômica é “racional-econômica” ou não seria um erro 
primário em ciência social, pois neste caso, embora os meios utilizados sejam econômicos, os fins são políticos. 
Qualquer política econômica deve obedecer, primariamente, a racionalidade política, ainda que a maioria dos 
economistas tenha dificuldade em reconhecer isto, como nos mostra GALBRAITH (1979b, pg. 19 e seguintes). 
87 PEREIRA (1983), pg. 149. 
88 Como diz Donald MacRae em seu As Idéias de Weber: 
“Weber sustenta que qualquer explicação basicamente unicausal de todos os acontecimentos na 
sociedade deve ser falsa.” [MaCRAE, 1974, pg. 63] 
Basear toda a explicação em único tipo ideal, como fazem neoclássicos e seus primos neoinstitucionalistas, é um 
erro metodológico, portanto. 
 
 
19
tipo de racionalidade estava tratando (formal e/ou substantiva, sendo que podemos identificar a 
racionalidade formal weberiana com a tradicional racionalidade usada pelos economistas 
neoclássicos).89 
 
Porém, evitemos ainda a ingenuidade: tais construções teóricas prestam-se a determinados 
fins: o principal é provar que o livre mercado capitalista sempre oferece a melhor alocação para 
os fatores. Certo, mas a melhor alocação pode não ser o interesse da sociedade (ou da maioria dos 
cidadãos ou ainda dos grupos que efetivamente detém o poder90). E neste ponto faz-se 
fundamental a hipótese do homem racional-econômico: todos desejamos a melhor alocação. 
Assim, quem se interpuser no destino da economia capitalista de atingir o mercado de 
concorrência perfeita estará impedindo o desejo da sociedade. 
 
Essa forma de transformar os ganhos de um grupo específico em uma suposta vantagem 
social é um fenômeno comum na história da humanidade. Como diz John Kenneth Galbraith: 
“Há, contudo, algumas lições em um âmbito maior que perduram. Dessas, a mais 
completamente invariante é o fato de pessoas e comunidades favorecidas em suas 
condições econômicas, sociais e políticas atribuírem virtude social e durabilidade 
àquilo que elas próprias usufruem. Essa atitude prevalece mesmo diante de evidências 
irrefutáveis em contrário. As crenças dos privilegiados passam a servir então à causa de 
prolongar o contentamento, e as idéias econômicas e políticas são similarmente 
adaptadas. Existe um sôfrego mercado político para tudo aquilo que agrada e 
tranqüiliza. Não são poucos os interessados em servir a este mercado e em colher as 
recompensas resultantes em dinheiro e aplauso.”91 
 
Os modelos neoclássicos e os de seus primos neoinstitucionalistas são, pois, modelos 
teleológicos: suas premissas já incorporam o resultado final da análise. Essa forma de analisar a 
vida econômica não é honesta cientificamente, pois como nos ensina Knut Wicksell: 
“Apenas uma coisa é indigna para o cientista: deturpar ou dissimular a verdade (...) ou 
apoiar-se em crenças infundadas e otimistas de que o desenvolvimento econômico tende 
por si só à maior satisfação possível para todos.”92, 93 
 
89 Ver HANSEN (1964). 
90 Embora não seja nosso objetivo tratar dessa questão, é importante ressaltar que para a economia tradicional 
(ortodoxa) a questão do poder inexiste: a troca é feita por iguais. Para uma posição absolutamente contrária, ver 
AGLIETTA & ORLÉAN (1982). Em última instância, a alocação ótima seria um maná obtido no livre mercado, 
jamais imposto por algum poder monopolista ou não-econômico. 
91 GALBRAITH (1992), pg. 1. 
92 WICKSELL (1911), pg. 15. 
93 Ao longo desta seção concentramo-nos nas implicações metodológicas da hipótese de “racionalidade 
econômica” no estudo do comportamento do consumidor, basicamente. Todavia, é possível mostrar o absurdo dessa 
hipótese no estudo de outros campos da economia. Para mostrar que as verdadeiras motivações dos trabalhadores 
podem passar ao largo de simples ganhos pecuniários, ver o clássico estudo de Elton Mayo sobre as operárias em 
Hawthorne: Problemas humanos de una civilización industrial — trataremos deste ponto na seção 3.4 O trabalhador 
é avesso ao risco? — Para mostrar como muitas vezes o lucro não é a motivação primeira em uma empresa, ver 
COLLINS & PORRAS (1995). Ainda neste ponto, mas mostrando um aspecto completamente diferente da questão 
(como uma burocracia empresarial pode tornar-se disfuncional), ver CARROLL (1993). Não nos estenderemos mais 
sobre as várias implicações da hipótese de “racionalidade econômica” apenas por uma questão de espaço. 
 
 
20
3. Alguns exemplos de como funciona a “Nova Economia 
Institucional” 
 
Como dissemos no início, definir a escola da “Nova Economia Instituciona” é tarefa difícil 
(com o que concordamos com Elinor Ostrom94). Assim, muitos dos que se julgam 
neoinstitucionalistas não aceitariam nossas críticas feitas acima. Argüiriam que estamos ultra-
simplificando os argumentos de vários expoentes dessa escola.95 Como exemplo, os 
neoinstitucionalistas poderiam citar Ronald Coase e Oliver Williamson, dois dos mais respeitados 
neoinstitucionalistas. Ambos não seriam ardorosos defensores dos métodos neoclássicos e jamais 
assinariam embaixo da hipótese de absoluta racionalidade econômica. Portanto, não seriam 
atingidos pelas nossas críticas. É, pois,mister tratá-los em separado, apontando as eventuais 
falhas de seus trabalhos e, mais importante, ressaltando a ligação direta de seus trabalhos com a 
teoria econômica ortodoxa (neoclássica) e seu distanciamento da escola geroinstitucionalista. 
 
Após nossos comentários sobre os trabalhos de Coase e Williamson, abordaremos um 
exemplo da “metodologia” utilizada pelos neoinstitucionalistas, bem como alguns trabalhos sobre 
a “teoria da agência” (agency theory), uma espécie de teoria neoclássica aplicada nas relações de 
trabalho, notadamente entre propretário e empregados e entre acionistas e executivos de empresas 
de sociedade anônima. 
 
3.1. A natureza da firma revisitada 
 
O trabalho que deu fama e prestígio a Ronald Coase é um artigo escrito em 1937, intitulado 
“The Nature of the Firm”.96, 97 Nesse trabalho, Coase se propõe uma questão interessante: por que 
as firmas existem? 
 
A resposta é simples e geraria toda uma gama de trabalhos em economia98 e, 
eventualmente, em ciência política:99 as firmas existem para otimizar os custos de transação 
existentes em uma economia. Em outras palavras, quando é mais barato realizar determinadas 
operações no mercado, a firma compra esses bens e serviços no mercado. Quando é mais barato 
produzir (ou contratar) esses bens e serviços internamente, a firma assim procede. Tudo se 
resumiria, pois, a uma questão de custos. As “instituições” entrariam na análise de Coase apenas 
através da questão dos contratos ¾ estes teriam suas formas e seus limites definidos pelas 
instituições existentes na sociedade. 
 
Podemos ver no trabalho de Ronald Coase um problema interessante: o que é novo, assim o 
é apenas para os teóricos neoclássicos. E o que é importante, já era conhecido de economistas não 
seguidores da ortodoxia. Senão, vejamos. 
 
94 Ver OSTROM (1986). 
95 Por exemplo, ver AULT & EKELUND (1988). 
96 Ver COASE (1937 e 1987). 
97 Sobre a importância desse trabalho, ver WILLIAMSON (1985, “Prólogo” e cap. 1) e WILLIAMSON (1993). 
98 Segundo WILLIAMSON (1993). 
99 Idem, ibidem. 
 
 
21
 
À luz da teoria neoclássica, discutir a natureza da firma e seus limites é, sem dúvida, um 
avanço digno de nota. Com este seu trabalho, Coase certamente torna as firmas neoclássicas mais 
realistas, pois em sua análise não precisamos supor que cada firma produz um único produto ou 
que atua em um mercado de concorrência perfeita (ou em condições de “concorrência 
monopolista”, para usar o jargão neoclássico). A firma deixaria de ser apenas uma função de 
produção, com sua delimitação bem definida. 
 
Porém, vejamos a questão de outra forma: o capital, muito mais do que otimizar custos, 
busca reproduzir-se de forma ampliada.100 Em outros termos, o que define a forma do capital (se 
físico ou financeiro) é a possibilidade de obtenção de uma maior mais-valia. Portanto, à luz da 
teoria econômica marxista, a questão do tamanho da firma simplesmente não se coloca em 
moldes semelhantes aos da teoria neoclássica. Isto têm origem na teoria do valor: como os 
neoclássicos amarraram-se ao valor-utilidade (ou valor de uso) e não fazem distinção entre valor 
de uso e valor de troca, estão presos a uma simples análise de custos. Mas, se tornarmos nossa 
análise mais complexa e adotarmos a distinção entre valor de uso e valor de troca, o tamanho da 
firma ou mesmo sua existência deixará de ser uma questão relevante.101 Isto porque é na teoria do 
valor que está a raiz das diferenças entre os neoclássicos e as outras escolas de pensamento 
econômico. Se assumimos a diferença entre valor de uso e valor de troca, estamos reconhecendo 
que o principal papel do capital é reproduzir de forma ampliada o seu valor de troca; disto 
decorre que o sistema não tende, a princípio, à máxima eficiência como um todo. Se utilizamos 
apenas a noção de valor de uso (como idêntico ao valor de troca), então assumimos que o sistema 
econômico como um todo tende à eficência: as trocas são baseadas exclusivamente na melhoria 
da satisfação dos agentes envolvidos, e estes agentes são racionais. Logo, o sistema econômico 
tende a ser eficiente como um todo. ¾ Ronald Coase não poderia realizar esta distinção, pois está 
preso aos moldes neoclássicos ¾ aliás, porque sua formação como cientista social é precária, ele 
mesmo nos diz em um de seus trabalhos.102 
 
Outro ponto digno de nota é essa preocupação em entender por que as firmas existem. 
Coase alega que as firmas existem para otimizar os custos de transação. É uma questão que 
implica em uma hipótese subjacente: a de que, no capitalismo, tudo se encaminha para a 
otimização da alocação dos fatores de produção. Sem essa hipótese subjacente, a explicação de 
Coase torna-se desprovida de sentido. Agora, suponhamos que a firma é uma instituição social: 
como vimos, uma instituição social deve ter uma função, sem a qual deixaria de existir. Portanto, 
uma firma pode existir por outros motivos que não os meramente econômicos: estatais 
deficitárias existem e certamente têm uma função em economia, mesmo que não seja a 
otimização do uso dos fatores ou a redução dos custos de transação. Ademais, as firmas 
capitalistas não surgiram por geração espontânea: são fruto da História. Que tenham 
características em comum, isto se deve apenas ao fato de serem firmas capitalistas. Daí podermos 
 
100 Obviamente, embora estejamos tornando “o capital” e “a firma” sujeitos em nossas orações, isto não significa 
que estejamos atribuindo vontade própria a categorias científicas. Estamos apenas simplificando as construções 
verbais, em prol de um melhor entendimento do problema por parte dos leitores. 
101 Ver MARX (1867). 
102 Ver COASE (1987). 
 
 
22
dizer que Ronald Coase segue o manual neoclássico de explicações a-históricas para fenômenos 
notadamente históricos. Se estudamos as firmas de um determinado país, constataremos que, 
muitas vezes seu tamanho e sua forma são determinados por fatores extra-econômicos 
(lembremo-nos dos “monopólios reais” existentes à época do mercantilismo).103 
 
Finalmente, uma última nota: quando Coase discorre sobre os tamanhos das firmas, afirma 
que : 
“First, as a firm gets larger, there may be decreasing returns to the entrepreneur 
function, that is, the costs of organizing additional transactions within the firm may rise. 
Naturally, a point must be reached where the costs of organizing an extra transaction 
within the firm are equal to the costs of organizing by another entrepreneur. Secondly, 
it may be that as the transactions wich are organized increase, the entrepreneur fails to 
make the best use of the factors of production.”104 
 
Aqui, Coase aparentemente ignora a existência de um conceito antigo, a chamada 
“deseconomia de escala” marshalliana. Não é novidade, pois, a forma como é explicado o 
tamanho da firma em um mercado capitalista. Ademais, como Coase afirma que os custos de 
transação internos à firma “podem aumentar” (may rise), esse uso do condicional abre uma 
brecha para a inclusão da tecnologia. Se as tecnologias modernas, notadamente a de informação, 
diminuírem esses custos, pode não haver a tal deseconomia de escala e uma firma pode crescer 
muito mais do que em uma situação de tecnologia constante. Aqui, uma vez mais, é preciso 
lembrar que segundo a teoria marxista do valor, pouco importa o tamanho da firma; a questão é a 
reprodução ampliada do capital. 
 
Finalmente, na última parte do seu artigo, Ronald Coase105 descreve as relações de trabalho, 
citando um trabalho do sr. Batt. Talvez seja novidade para os neoclássicos, mas há muito os 
marxistas (e provavelmente os geroinstitucionalistas) sabem que ao trabalhador resta apenas 
vender sua força de trabalho ao capitalista. O uso que será feito dessa

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