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excedentes, bem como atender aos problemas de crescimento populacional e de fornecimento de mão de obra numerosa e barata. Os conflitos gerados pelos interesses colonialistas em choque com os mercados associados levaram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Assim, no contexto da expansão capitalista pós- guerra, o Estado assume tarefas e funções essenciais para a nova fase de acumulação capitalista e institucionalização dos conflitos sociais da classe trabalhadora; a “questão social” passa a ser como que internalizada na ordem social. Agora sendo considerada não mais como um problema do indivíduo, mas como consequência do desenvolvimento social e econômico – do subdesenvolvimento. De caso de polícia, a questão social passa a ser vista como caso de política, política pública (MONTAÑO, 2012). No século XX surgem complexos industriais e empresas multinacionais, a indústria química e eletrônica se desenvolve, avanços da automação, da robótica e da engenharia genética são incorporados ao processo produtivo, que depende cada vez menos de mão de obra e cada vez mais de alta tecnologia. Os grandes complexos financeiros (bancos) passam a especular na bolsa de valores e financiar a dívida dos países emergentes, dando origem às privatizações e aberturas de mercados, enfraquecendo o poder do Estado e dando origem ao movimento neoliberal. Segundo Ianni (1999, p. 55), Desde que o capitalismo retomou sua expansão pelo mundo, em seguida à Segunda Guerra Mundial, muitos começaram a reconhecer que o mundo estava se tornando o cenário vasto de um vasto processo de internacionalização do capital. Algo jamais visto anteriormente em escala semelhante, por sua intensidade e generalidade. Procurando compreender a evolução do liberalismo, doutrina político- econômica surgida na Europa, especificou-se um novo termo chamado neoliberalismo, sendo uma adaptação da doutrina às novas condições do capitalismo a partir de 1938, onde a liberdade econômica das empresas e as leis UNI Podemos constatar que a concepção marxista se diferencia e muito da concepção liberal, sobre a concepção do capital, do sistema de produção e reprodução capitalista e da sociedade. TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO 33 de mercado se tornam indiscutíveis. A função do Estado foi manter o equilíbrio dos preços com políticas anti-inflacionárias e cambiais, bem como apaziguar os conflitos sociais por meio de políticas sociais de bem-estar social. FIGURA 10 – A QUEBRA DO ESTADO DEVIDO ÀS PRIVATIZAÇÕES FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=privatizações &biw>. Acesso em: 5 jan. 2015. Para os neoliberais, o Estado não deve desempenhar funções assistencialistas, o que resultaria numa sociedade completamente administrada e, portanto, antiliberal. Nesse sentido, é a afirmação da sociedade civil que deve buscar novas formas de resolver seus problemas, ao Estado cabe apenas a tarefa de garantir a lei comum, bem como a função de equilibrar e incentivar as iniciativas da sociedade civil. A posição neoliberal é reduzir ao máximo o poder ou intervenção do Estado, a ponto de ficar responsável apenas pela repressão de disfunções sociais ou ameaças à ordem pública. No contexto e no pensamento neoliberal, o Estado deve estimular o capital a investir, garantindo e preservando o lucro frente às flutuações do mercado, particularmente em contexto de crise investindo o mínimo necessário na área social, através das políticas sociais. De acordo com a visão de Montaño (2012), a estratégia neoliberal orienta-se numa tripla ação: UNI Enquanto isso, a ação social se torna mínima no âmbito estatal, transferindo a responsabilidade para o terceiro setor com ação voluntária e solidária de indivíduos e organizações da sociedade civil, bem como para as empresas no âmbito da responsabilidade social que procuram atingir a população consumidora. UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL 34 • políticas sociais do Estado para a população mais pobre (cidadão usuário) com ações precarizadas, regionalizadas e passíveis de clientelismo; • a ação mercantil, desenvolvida pela empresa capitalista, dirigida à população consumidora (cidadão cliente); e, • as ações do chamado “terceiro setor”, ou da chamada sociedade civil organizada para a população não atendida nos casos anteriores, desenvolvendo uma intervenção filantrópica. Podemos analisar que o neoliberalismo possui estratégias de desenvolvimento, orienta-se de maneira manipulatória e congruente com o capitalismo, a fim de que o sistema capitalista cresça em abundância, dando continuidade ao processo de exploração e dominação, assim compactua com os outros setores da sociedade, como o público estatal e a sociedade civil organizada. Assim, nesse sentido, para nos fundamentar temos alguns dicionários básicos, que precisamos ler e reler, até para adquirirmos um melhor conteúdo, vocabulário mais próprio da profissão e uma linguagem mais qualificada. DICIONÁRIO DAS CRISES E DAS ALTERNATIVAS. Centro de Estudos Sociais Laboratório Associado – CES. Universidade de Coimbra. Coimbra: Almedina, 2012. 218 p. DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX. Editado por William Outhwaite e Tom Bottomore. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 970 p. UNI Com os avanços do capitalismo mundial e com a globalização, temos novamente uma discussão: quais são as novas formas de pobreza? Percebendo que a burguesia e o proletariado não são mais caracterizados, quem são os dominados da contemporaneidade? Que grupos dominantes fazem parte dessa nova etapa do capitalismo, agora mundial? Digital? Que tipos de exclusão e exploração estão vigorando na atualidade? O que virá depois da globalização? TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO 35 LEITURA COMPLEMENTAR PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO E PROBLEMAS EMERGENTES: IMPLICAÇÕES PARA O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO Nélson Alves Ramalho SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS: SOCIEDADES DE RISCO? Como observámos, esta rede complexa de processos e interdependências ocorre da junção de vários fatores, níveis e dimensões (SCHOLTE, 2000; STEGER, 2006). É nesse conjunto de “globalizações” e de relações sociais diferentes que surgem conflitos e, com eles, vencedores e vencidos que podem, a longo prazo, ter impactos irreversíveis (SANTOS, 2005). Santos atribui à constelação desses conjuntos distintos de relações sociais, que originam diferentes fenômenos de globalização, a terminologia de “globalizações”, usada no plural. Segundo ele, “não existe uma entidade única chamada globalização” (2005, p. 62). Essa relação entre os processos de globalização e o surgimento e expansão de situações de risco social permite‑nos observar que a globalização pode contribuir para limitar os seus contributos para um desenvolvimento humano sustentável. A supressão da pobreza é um desses limites. Após anos de liberalização e desregulação do mercado mundial, não foi possível observar o seu fim. Pelo contrário, tais políticas têm promovido a “globalização da pobreza” (CHOSSUDOVSKY, 1997). Associado a ela está, também, a questão do emprego. Segundo Amaro (2005), as atuais relações instáveis e precárias de trabalho, a expansão do desemprego e os baixos salários constituem uma limitação à acessibilidade dos consumos tradicionais, sendo difíceis ou impossíveis para uma parcela importante da população. A junção da má qualidade de vida (em consequência da pobreza) e a falta de oportunidades conjugado com a difusão da “qualidade” nos países desenvolvidos, através da globalização dos meios de informação e comunicação, impulsionou o crescimento massivo do fenômeno das migrações. Segundo dados da International Organization for Migration (IOM) de 2010, o número de migrantes cresceu