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ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar como fatores determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º) (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 39). Entendendo a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como a ausência de doença, a Organização Mundial da Saúde atualizou o princípio de promoção da saúde, incorporando a questão do desenvolvimento econômico, assim a saúde passou a ser descrita como um estado de bem-estar físico, psíquico e social, em consonância com as discussões sobre o TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 129 meio e o contexto socioambiental na qual vivem e sobrevivem populações menos favorecidas, ou seja, a ênfase diz respeito à saúde como prioridade social enquanto política de proteção social. A partir da reflexão de Gerber (2010), a Constituição Brasileira de 1988, escrita e promulgada no período pós-ditatorial, expressou os anseios da intensa mobilização social que ocorreu no país, visando ampliar a concepção de cidadania e resgatar a dívida social de desigualdades acumuladas durante a ditadura militar. A saúde, a partir de então, foi definida como política de relevância pública, direito de todos os brasileiros, cabendo ao Estado a obrigação de garantir condições necessárias para seu atendimento. Assim, somente a partir da Carta Magna de 1988 é que a saúde foi definida como um direito de cidadania. “A implementação do SUS – Sistema Único de Saúde, além de se direcionar para uma reorganização e redefinição dos serviços de saúde, objetivou, principalmente, oferecer serviços de saúde que atendessem todas as necessidades dos usuários” (GERBER, 2010, p. 27). Para que a Constituição, no que diz respeito à saúde, consiga desenvolver todas as suas atribuições enquanto política de direito de todos os cidadãos, é necessário se efetivar ações participativas e integradas entre o Primeiro, Segundo e Terceiro Setor, promovendo a partir desta integração a efetivação de uma equipe profissional multidisciplinar capaz de desenvolver ações audaciosas que visem suprir as demandas e entraves relacionadas à saúde coletiva que se difundem e se manifestam nas comunidades e periferias, efetivar ações integradas que promovam o bem-estar e a conquista de direitos de todos os envolvidos e afetados. Considerando a complexidade e a dimensão da realidade da saúde no Brasil vivida pela população, principalmente aquela de baixa renda residente nas periferias urbanas, maioria das vezes privada de seus direitos sociais, se faz necessário unir conhecimentos e esforços para que se possa garantir, pelo menos, o mínimo necessário no que diz respeito à vida e dignidade humana. Salienta-se que tendo em vista que a saúde é uma política pública de direito constitucional, portanto, deve ser garantida não somente com a democratização do acesso do sujeito às políticas públicas de saúde, mas, sobretudo à melhoria da qualidade de vida das pessoas em todos os sentidos. Nesse contexto, cabe ao profissional de Serviço Social, por meio de sua prática, ampliar e contribuir para esta garantia. Assim, o Serviço Social enquanto profissão atua no campo das políticas sociais com o compromisso de defender e garantir os direitos sociais da população, usando o fortalecimento da democracia. O exercício profissional está fundamentado em legislação federal que protege e assegura os direitos sociais do cidadão. Entre elas podemos citar: a legislação previdenciária; a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS; o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; a Lei Orgânica de Saúde – LOS; a Política Nacional do Idoso – PNI; a política e os serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligências e 130 UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL maus tratos, exploração e abuso, crueldade e opressão; a política nacional para a integração da Pessoa Portadora de Doenças Especiais; a política sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; a legislação que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde – SUS, dentre outros (SCHAEDLER, 2005). Sarreta (2008, p. 33) descreve que: As proposições enunciadas no projeto ético-político do Serviço Social, materializadas no Código de Ética de 1993, convergem e refletem o movimento da Reforma Sanitária brasileira visando efetivar a universalidade do acesso à saúde, por meio de políticas públicas efetivas. Sua implementação destina-se a amenizar as diferenças e injustiças instaladas na sociedade e considerar mecanismos que permitam ampliar as possibilidades de acesso aos bens e serviços produzidos. A atuação do assistente social na área da saúde nos remete a uma profunda reflexão de diversas teorias políticas, sociológicas, psicológicas, antropológicas e filosóficas, pois sua intervenção dependerá da corrente na qual o profissional embasará o seu rigor e agir profissional, bem como de sua habilidade em promover parcerias tanto institucionais como profissionais. Seguindo a linha de pensamento de Shapiro (1999), a sociedade civil, as instituições de ensino, as empresas privadas, a população em geral estão representadas por ciências e saberes diversos, por culturas e manifestações variadas, responsabilidades multifuncionais que se manifestam na sociedade e se encontram num mesmo desafio de organização e participação social, e, portanto, interagem com os mesmos problemas sociais, com anseios e dificuldades dos mais variados, por isso possuem a corresponsabilidade de efetivar projetos audaciosos que estreitem o elo entre a teoria e a prática, bem como dos problemas proporcionarem soluções, de processos de exclusão, inclusão social. A intervenção do profissional de Serviço Social nas políticas de saúde deve estar voltada para os aspectos sociais que envolvem as populações usuárias do sistema de saúde pública nas singularidades de seus processos de adoecimento, sendo que a atuação deve ocorrer na perspectiva do conceito ampliado de saúde de prevenção e promoção social (GERBER, 2010). O assistente social é um profissional que está em contato direto e cotidiano com as questões da saúde pública e coletiva, da criança e adolescente, terceira idade, violência, habitação, educação etc., acompanhando como essas questões são vivenciadas pelos sujeitos e construindo um acervo privilegiado de dados e informações sobre as formas de manifestação das problemáticas cotidianas, tanto em nível individual como coletivo – sendo, portanto, um ator importante na produção do Cuidado em Saúde (IAMAMOTO, 2001, apud GERBER, 2010, p. 61). Nesta direção existem iniciativas que buscam um olhar diferenciado de forma participativa, responsável e comprometido com o desenvolvimento integral dos envolvidos no cuidado à saúde e em espaços da política pública da saúde. TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 131 Nesse sentido, Gerber (2010, p. 61) também descreve: O cuidado em saúde compreende o atendimento humanizado, baseado no acolhimento, vínculo, escuta, na realidade social, garantindo o usuário como coprodutor do seu processo saúde-doença, estando