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Patologia Doenças de Leucócitos, Linfonodos, Baço e Timo – capítulo 13 ➢ Desenvolvimento e Manutenção dos Tecidos Hematopoiéticos: Progenitores das células sanguíneas aparecem pela primeira vez durante a terceira semana de desenvolvimento embrionário no saco vitelino. Células-tronco hematopoiéticas definitivas (CTHs) surgem algumas semanas depois, no mesoderma da região intraembrionária da aorta/gônada/mesonéfron. Durante o terceiro mês da embriogênese, as CTHs migram para o fígado, que se torna o principal local da formação de células sanguíneas, até pouco antes do nascimento. As CTHs também fixam residência na placenta fetal. No quarto mês do desenvolvimento, as CTHs começam a mudar de localização novamente, dessa vez para a medula óssea. No nascimento, a medula ao longo do esqueleto é hematopoieticamente ativa, enquanto a hematopoiese hepática se reduz ao mínimo, persistindo apenas em focos amplamente espalhados que se tornam inativos logo após o nascimento. Até a puberdade, a medula hematopoieticamente ativa é encontrada por todo o esqueleto, mas, logo em seguida, torna-se restrita ao esqueleto axial. Os elementos figurados do sangue — hemácias, granulócitos, monócitos, plaquetas e linfócitos — têm origem nas CTHs, células pluripotentes que se situam no topo da hierarquia dos progenitores da medula óssea. As CTHs dão origem a vários tipos de células progenitoras precoces com potencial de diferenciação restrita, de tal modo que, em última análise, produzam principalmente células mieloides ou linfoides. Essas células são chamadas de unidades formadoras de colônias (UFCs), pois dão origem às colônias compostas de tipos específicos de células maduras quando crescidas em cultura. Dos vários progenitores comprometidos com a diferenciação celular, derivam-se os precursores morfologicamente reconhecíveis, tais como mieloblastos, pró-eritroblastos e megacarioblastos, que, por sua vez, darão origem, respectivamente, a granulócitos maduros, hemácias e plaquetas. As CTHs apresentam duas propriedades essenciais que são necessárias à manutenção da hematopoiese: pluripotência e capacidade de autorrenovação. A pluripotência refere-se à capacidade de uma única CTH gerar todas as células hematopoiéticas maduras. Quando uma CTH se divide, ao menos uma célula-filha deve autorrenovar-se para evitar a depleção de células-tronco. Distúrbios de leucócitos Os distúrbios dos leucócitos podem ser classificados em duas grandes categorias: as patologias proliferativas, em que há expansão de leucócitos, e as leucopenias, que são definidas como uma deficiência de leucócitos. As proliferações de leucócitos podem ser reativas ou neoplásicas. ➢ Leucopenia: O número de leucócitos circulantes pode estar nitidamente diminuído em diversos distúrbios. Em geral, uma contagem de leucócitos abaixo do normal (leucopenia) resulta de números reduzidos de neutrófilos (neutropenia, granulocitopenia). A linfopenia é menos comum; além das imunodeficiências congênitas, é mais comumente observada na infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), após terapia com glicocorticoides ou medicamentos citotóxicos, distúrbios autoimunes, desnutrição e certas infecções virais agudas. No último caso, a linfopenia de fato provém da redistribuição dos linfócitos mais do que da diminuição no número de linfócitos no corpo. Infecções virais agudas induzem a produção de interferons tipo I, que, por sua vez, ativam linfócitos T e alteram a expressão de várias proteínas de superfície que regulam a migração das células T. Essas alterações resultam no sequestro de células T ativadas nos linfonodos e na aderência aumentada às células endoteliais, ambos contribuindo para a linfopenia. A granulocitopenia é mais comum e, com frequência, está associada à redução significativa da função dos granulócitos. A neutropenia (redução do número de neutrófilos no sangue) pode ser causada por (1) granulopoiese inadequada ou ineficaz ou (2) aumento da destruição ou do sequestro de neutrófilos na periferia. Granulopoiese inadequada ou ineficaz nas seguintes condições: • Supressão de células-tronco hematopoiéticas, como ocorre na anemia aplásica e em vários distúrbios infiltrativos medulares (tumores, doença granulomatosa etc.); nessas condições, a granulocitopenia é acompanhada por anemia e trombocitopenia. • Supressão de precursores comprometidos com a linhagem granulocítica por exposição a certos medicamentos. • Doenças associadas à hematopoiese ineficaz, como, p. ex., anemias megaloblásticas e síndromes mielodisplásicas, em que os precursores defeituosos morrem na medula. • Condições congênitas raras (como síndrome de Kostmann) em que os defeitos hereditários em genes específicos prejudicam a diferenciação granulocítica. A destruição acelerada ou o sequestro de neutrófilos ocorrem nas seguintes situações: • Lesão imunomediada dos neutrófilos, que pode ser idiopática, associada a um distúrbio imunológico bem definido (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico) ou causada pela exposição a medicamentos. • Esplenomegalia, que leva a sequestro de neutrófilos e neutropenia discreta, por vezes associada a anemia e, frequentemente, trombocitopenia. • Utilização periférica aumentada, que pode ocorrer nas infecções causadas por bactérias, fungos ou riquétsias. A causa mais comum de agranulocitose é a toxicidade por medicamentos. ➢ Proliferações Reativas de Leucócitos e Linfonodos: • Leucocitose: Leucocitose refere-se ao aumento do número de leucócitos no sangue. Trata-se de uma reação comum a uma variedade de condições inflamatórias. A contagem de leucócitos no sangue periférico é influenciada por vários fatores: • Tamanho dos precursores mieloides e linfoides e quantidade dessas células armazenadas na medula óssea, timo, circulação e tecidos periféricos. • Taxa de liberação de células armazenadas para a circulação. • Proporção de células que são aderentes às paredes dos vasos sanguíneos em qualquer tempo (o pool marginal). • Taxa de extravasamento das células do sangue para os tecidos. A homeostasia dos leucócitos é mantida por citocinas, fatores de crescimento e moléculas de adesão através dos efeitos no comprometimento em direção a determinada linhagem celular, proliferação, diferenciação e extravasamento de leucócitos e seus progenitores. Na infecção aguda, há aumento rápido na saída de granulócitos maduros a partir de células progenitoras comprometidas armazenadas da medula óssea (pool medular), uma alteração que pode ser mediada através dos efeitos do fator de necrose tumoral (TNF) e da interleucina-1 (IL-1). Se a infecção ou o processo inflamatório forem prolongados, a IL-1, o TNF e os outros mediadores inflamatórios estimulam macrófagos, células do estroma da medula óssea e células T para produzir maiores quantidades de fatores de crescimento hematopoiético. Esses fatores aumentam a proliferação e a diferenciação de células progenitoras granulocíticas comprometidas e causam, ao longo de vários dias, aumento constante da produção de neutrófilos. • Linfadenite: Em sequência ao seu desenvolvimento inicial a partir de precursores dos órgãos linfoides centrais (também chamados de primários) – a medula óssea para as células B e o timo para células T –, os linfócitos circulam pelo sangue e, sob a influência de citocinas e quimiocinas específicas, alojam-se nos linfonodos, baço, amígdalas, adenoides e placas de Peyer, que constituem os tecidos linfóides periféricos (secundários). A ativação de células imunológicas residentes conduz a mudanças morfológicas nos linfonodos. Em vários dias, a partir da estimulação antigênica, os folículos primários aumentam e são transformados em centros germinativos de coloração clara, estruturas altamente dinâmicas nas quais as células B adquirem a capacidade de produzir anticorposde alta afinidade contra antígenos específicos. As zonas de células T paracorticais também podem sofrer hiperplasia. O grau e o padrão das alterações morfológicas dependem do estímulo indutor e da intensidade da resposta. Lesões e infecções leves induzem mudanças sutis, enquanto infecções mais significativas inevitavelmente produzem aumento do linfonodo e, algumas vezes, deixam cicatrização residual. Infecções e estímulos inflamatórios frequentemente induzem reações imunes regionais ou sistêmicas dentro dos linfonodos. o Linfadenite Inespecífica Aguda: a linfadenite aguda na região cervical ocorre com maior frequência devido à drenagem microbiana a partir de infecções dos dentes ou tonsilas, enquanto, nas regiões axilares ou inguinais, em geral é causada por infecções nas extremidades do corpo. A linfadenite aguda também ocorre nos linfonodos mesentéricos que drenam a apendicite aguda. o Linfadenite Inespecífica Crônica: os estímulos imunológicos crônicos produzem vários padrões distintos de reação nos linfonodos. Os nódulos linfáticos em reações crônicas são indolores, pois, ao longo do tempo, o alargamento nodal ocorre lentamente e a inflamação aguda com dano tecidual associado fica ausente. A linfadenite crônica é particularmente comum nos gânglios inguinais e axilares, que drenam áreas relativamente grandes do corpo e, com frequência, são estimulados por reações imunes a lesões triviais e infecções das extremidades. o Linfoistiocitose Hemofagocítica: (LHH) é uma condição reativa caracterizada por citopenias e sinais e sintomas de inflamação sistêmica relacionada à ativação de macrófagos. Por essa razão, às vezes também é chamada de síndrome de ativação dos macrófagos. Algumas formas são familiares e podem surgir no início da vida, mesmo em crianças, enquanto outras formas são esporádicas e podem afetar pessoas de qualquer idade. A característica comum a todas as formas de LHH é a ativação sistêmica de macrófagos e células T citotóxicas CD8+. ➢ Proliferações Neoplásicas de Leucócitos: As neoplasias malignas constituem os distúrbios mais importantes dos leucócitos. Essas doenças podem ser divididas em várias categorias: • As neoplasias linfoides incluem um grupo diversificado de tumores originados de células B, células T e células NK. • As neoplasias mieloides originam-se a partir de progenitores hematopoiéticos. Três categorias de neoplasias mieloides são reconhecidas: leucemias mieloides agudas, em que as células progenitoras imaturas se acumulam na medula óssea; síndromes mielodisplásicas, que são associadas à hematopoiese ineficaz e resultam em citopenias no sangue periférico; e os distúrbios mieloproliferativos crônicos, em que a produção aumentada de um ou mais elementos mieloides em etapa terminal de diferenciação (p. ex., granulócitos) geralmente resulta em contagens elevadas no sangue periférico. • As histiocitoses são lesões proliferativas incomuns de macrófagos e células dendríticas. • Neoplasias Linfoides: Leucemia é usada no caso de neoplasias que apresentam amplo acometimento da medula óssea e (em geral, mas não sempre) do sangue periférico. O termo linfoma, por sua vez, é usado no caso de proliferações que surgem como massas teciduais distintas. No grande grupo de linfomas, o linfoma de Hodgkin é segregado de todas as outras formas, que constituem os linfomas não Hodgkin (LNHs). O linfoma de Hodgkin apresenta aspectos patológicos característicos e é tratado de modo único. Outro grupo especial de tumores de células B, que difere da maioria dos linfomas, são as neoplasias de plasmócitos. Essas neoplasias surgem com maior frequência na medula óssea e raramente comprometem os linfonodos ou o sangue periférico. A maior parte das neoplasias linfoides se assemelha a alguma etapa reconhecível de diferenciação de células B ou T. o Neoplasias de Células B e T Precursoras: ✓ Linfoma/Leucemia Linfoblástica Aguda: são neoplasias compostas de células B (pré-B) ou T (pré-T) imaturas, as quais são chamadas de linfoblastos. Cerca de 85% são LLAs-B, que, tipicamente, se manifestam como “leucemias” agudas da infância. Muitas das aberrações cromossômicas vistas na LLA desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição que são necessários ao desenvolvimento normal das células B e T. o Neoplasias de Células B Periféricas: ✓ Leucemia Linfocítica Crônica/Linfoma linfocítico de Pequenas Células: a leucemia linfocítica crônica (LLC) e o linfoma linfocítico de pequenas células (LLP) diferem apenas no grau de linfocitose do sangue periférico. No Ocidente, a LLC é a leucemia mais comum em adultos. Os achados mais comuns são deleções do 13q14.3, 11q e 17p e trissomia do 12q. ✓ Linfoma Folicular: o tumor, de modo previsível, tem origem nas células B do centro germinativo e é fortemente associado às translocações cromossômicas que envolvem o BCL2. O linfoma folicular tende a se manifestar com linfadenopatia generalizada e indolor. ✓ Linfoma Difuso de Grandes Células B: o linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) é a forma mais comum de LNH. O LDGCB costuma manifestar-se como uma massa que cresce rapidamente em um sítio nodal ou extranodal. Pode surgir em qualquer parte do corpo. O anel de Waldeyer, o tecido linfoide orofaríngeo que inclui as tonsilas e adenoides, é acometido com frequência. O acometimento primário ou secundário do fígado e do baço pode levar à formação de grandes massas destrutivas. Os locais extranodais incluem trato gastrointestinal, pele, osso, cérebro e outros tecidos. Subtipos de LDGCB: • O linfoma de grandes células B associado à imunodeficiência ocorre na condição de imunodeficiência grave de células T (p. ex., infecção avançada com HIV e transplante alogênico de medula óssea). • O linfoma primário de efusões apresenta-se como uma efusão ascítica ou pleural maligna, principalmente em pacientes com infecção avançada por HIV ou idosos. Muitas vezes, as células tumorais têm um aspecto anaplásico e, tipicamente, não mostram expressão de marcadores de superfície de células B ou T, embora apresentem rearranjos clonais do gene da IGH. ✓ Linfoma de Burkitt: na categoria do linfoma de Burkitt, estão (1) o linfoma de Burkitt africano (endêmico), (2) o linfoma de Burkitt esporádico (não endêmico) e (3) um subgrupo de linfomas agressivos que acometem os indivíduos infectados pelo HIV. Todas as formas de linfoma de Burkitt são altamente associadas às translocações do gene MYC no cromossoma 8, conduzindo ao aumento dos níveis de proteína MYC. O tumor exibe alto índice mitótico e contém numerosas células apoptóticas, cujos restos nucleares são fagocitados por macrófagos benignos que se situam junto aos outros componentes. Esses fagócitos têm citoplasma claro e abundante, criando um padrão do tipo “céu estrelado”. ✓ Neoplasias de Plasmócitos e Alterações Relacionadas: essas proliferações de células B são constituídas por plasmócitos neoplásicos que secretam uma Ig monoclonal ou um fragmento de Ig, que serve como marcador tumoral e que costuma evidenciar consequências patológicas. Em conjunto, as neoplasias dos plasmócitos (frequentemente chamadas de discrasias) representam 15% das mortes causadas por neoplasias linfoides. Uma Ig monoclonal identificada no sangue é referida como componente M, em referência ao mieloma. Visto que os componentes M completos possuem pesos moleculares altos, são restritos ao plasma e fluido extracelular e excluídos da urina na ausência de lesão glomerular. No entanto, plasmócitos neoplásicos frequentemente sintetizam cadeias leves em excesso, em conjunto com Igs completas. Ocasionalmente, apenas cadeias leves são produzidas, e raros tumores secretam apenas cadeias pesadas. As cadeias leves livres são pequenas o suficiente para que sejam excretadas na urina, onde recebem o nome de proteínas deBence-Jones. Os termos usados para descrever as Igs anormais associadas às neoplasias de plasmócitos incluem gamopatia monoclonal, disproteinemia e paraproteinemia. Essas proteínas anormais são associadas às seguintes entidades clinicopatológicas: • Mieloma múltiplo, a mais importante gamopatia monoclonal, em geral manifesta-se como massas tumorais espalhadas pelo sistema esquelético. O mieloma solitário (plasmocitoma) é uma variante rara que forma uma massa única nos ossos ou nos tecidos moles. O mieloma indolente refere-se a outra variante incomum definida pela ausência de sintomas e altos níveis plasmáticos do componente M. • Macroglobulinemia de Waldenström é uma síndrome em que os altos níveis de IgM resultam em sintomas relacionados à hiperviscosidade do sangue. Ocorre em adultos mais velhos, frequentemente associada ao linfoma linfoplasmocítico. • Doença da cadeia pesada é uma gamopatia monoclonal rara, observada em associação com um grupo formado por diferentes condições, incluindo o linfoma linfoplasmocítico e um linfoma raro da zona marginal no intestino delgado, que ocorre em populações desnutridas (linfoma do Mediterrâneo). Os aspectos em comum são síntese e secreção de fragmentos livres de cadeia pesada. • Amiloidose primária, ou amiloidose associada a células imunológicas, resulta da proliferação monoclonal de plasmócitos secretores de cadeias leves (em geral, do isótipo λ) que são depositados como amiloide. Alguns pacientes têm manifestação evidente de mieloma múltiplo, enquanto outros apresentam apenas uma pequena população clonal de plasmócitos na medula óssea. • Gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI) é a denominação dada a pacientes sem sinais ou sintomas que apresentam níveis baixos a moderados de grandes componentes M no sangue. A GMSI é muito comum em idosos e apresenta um índice baixo, mas constante, de transformação para gamopatias monoclonais sintomáticas, com mais frequência para o mieloma múltiplo. Mieloma Múltiplo: é uma neoplasia de plasmócitos comumente associada a lesões líticas ósseas, hipercalcemia, insuficiência renal e alterações imunológicas adquiridas. O mieloma múltiplo está associado a rearranjos frequentes que envolvem o locus do IgH e vários protooncogenes. Fatores produzidos por plasmócitos neoplásicos medeiam a destruição óssea, o principal aspecto patológico do mieloma múltiplo. Em geral, o mieloma múltiplo se manifesta como tumores destrutivos de plasmócitos (plasmocitomas) comprometendo o esqueleto axial. Os ossos comumente afetados (em ordem decrescente de frequência) são: coluna vertebral, costelas, crânio, pelve, fêmur, clavícula e escápula. Os aspectos clínicos do mieloma múltiplo provêm (1) dos efeitos do crescimento dos plasmócitos nos tecidos, particularmente nos ossos; (2) da produção excessiva de Igs, que, com frequência, têm propriedades físico-químicas anormais; e (3) da supressão da imunidade humoral normal. Mieloma Solitário (Plasmocitoma): cerca de 3% a 5% das neoplasias de plasmócitos se manifestam como uma lesão solitária do osso ou de partes moles. As lesões ósseas tendem a ocorrer nos mesmos locais como no mieloma múltiplo. As lesões extraósseas são frequentemente localizadas nos pulmões, oronasofaringe ou seios nasais. Pequenas elevações das proteínas M no sangue ou na urina podem ser encontradas em alguns pacientes. O plasmocitoma ósseo solitário quase inevitavelmente progride para mieloma múltiplo, fato que pode levar de 10 a 20 anos ou mais para ocorrer. Mieloma Indolente: define um terreno intermediário entre o mieloma múltiplo e a gamopatia monoclonal de significado indeterminado. Os plasmócitos são responsáveis por 10% a 30% da celularidade da medula, e o nível de proteína M sérica é maior que 3 g/dL, porém os pacientes são assintomáticos. Cerca de 75% dos pacientes progridem para o mieloma múltiplo ao longo de um período de 15 anos. Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado (GMSI): é a discrasia de plasmócitos mais comum, acometendo cerca de 3% das pessoas acima de 50 anos. Por definição, os pacientes mostram-se assintomáticos e o nível de proteína M sérica é inferior a 3 g/dL. Cerca de 1% dos pacientes com GMSI desenvolve neoplasia de plasmócitos sintomática, geralmente o mieloma múltiplo, por ano. Com frequência os plasmócitos clonais na GMSI contêm as mesmas translocações cromossômicas e deleções encontradas no mieloma múltiplo plenamente desenvolvido, indicando que a GMSI é um estágio precoce de desenvolvimento do mieloma. Linfoma Linfoplasmocítico: é uma neoplasia de células B de adultos mais velhos que, em geral, se manifesta na sexta ou sétima década de vida. Na maioria dos casos, o plasmócito secreta a IgM monoclonal, muitas vezes em quantidade suficiente para causar a síndrome de hiperviscosidade conhecida como macroglobulinemia de Waldenström. Ao contrário do mieloma múltiplo, as complicações decorrentes da secreção de cadeias leves livres (p. ex., insuficiência renal e amiloidose) são relativamente raras, não ocorrendo destruição óssea. Todos os casos de linfoma linfoplasmocítico estão associados a mutações adquiridas no MYD88. O gene MYD88 codifica uma proteína adaptadora que participa dos eventos de sinalização que ativam o NF-kB e que também aumentam os sinais para o complexo do receptor de células B (Ig), ambos podendo promover crescimento e sobrevivência das células tumorais. As principais queixas à apresentação clínica são inespecíficas e incluem fraqueza, fadiga e perda de peso. Cerca de metade dos pacientes apresenta linfadenopatia, hepatomegalia e esplenomegalia. Anemia causada por infiltração da medula é comum. ✓ Linfoma de Células do Manto: todos os linfomas de células do manto têm a translocação (11;14) envolvendo o locus IgH no cromossomo 14 e o locus de ciclina D1 no cromossomo 11 que leva à superexpressão da ciclina D1. Os locais mais comuns de acometimento extranodal incluem medula óssea, baço, fígado e intestino. Ocasionalmente, o acometimento da mucosa do intestino delgado ou do cólon produz lesões do tipo pólipo (polipose linfomatoide). A manifestação mais comum à apresentação é a linfadenopatia indolor. ✓ Linfomas da Zona Marginal: compreende um grupo heterogêneo de tumores de células B que têm origem nos linfonodos, baço ou nos tecidos extranodais. Inicialmente, os tumores extranodais foram reconhecidos nos sítios mucosos e, com frequência, são referidos como tumores linfoides associados às mucosas (ou “MALTomas”). Na maioria dos casos, as células tumorais apresentam evidências de hipermutação somática e são consideradas provenientes de células B de memória. Embora todos os linfomas da zona marginal compartilhem certos aspectos, aqueles detectados em locais extranodais merecem especial atenção, por causa de sua patogênese incomum e de três características excepcionais: • Frequentemente, têm origem nos tecidos acometidos por distúrbios inflamatórios crônicos de etiologia autoimune ou infecciosa • Permanecem localizados por períodos prolongados, com disseminação sistêmica apenas na fase tardia de seu curso. • Podem regredir se o agente indutor (p. ex., Helicobacter pylori) for erradicado. Essas características sugerem que os linfomas da zona marginal extranodal originados em tecidos cronicamente inflamados se situam num continuum entre a hiperplasia linfoide reativa e o linfoma plenamente desenvolvido. o Linfoma de Hodgkin: o linfoma de Hodgkin (LH) compreende um grupo de neoplasias linfoides que diferem do LNH em vários aspectos: A classificação da OMS reconhece cinco subtipos de LH: 1. Esclerose nodular 2. Celularidade mista 3. Rico em linfócitos 4. Depleção linfocitária 5. Predominância linfocitária Nos primeiros quatro subtipos — esclerose nodular, celularidade mista, ricoem linfócitos e depleção linfocitária—, as células de Reed-Sternberg apresentam um imunofenótipo similar. Esses subtipos são frequentemente agrupados como formas clássicas de LH. No subtipo restante, de predominância linfocitária, as células de Reed Sternberg têm um imunofenótipo característico de células B, que difere daquele observado nos tipos “clássicos”. O LH se manifesta como uma linfadenopatia indolor. Os pacientes com os tipos esclerose nodular ou predominância linfocítica tendem a se apresentar no estádio I–II da doença e, em geral, estão livres de manifestações sistêmicas. Pacientes com a doença disseminada (estágios III–IV) ou com os subtipos celularidade mista ou depleção linfocitária têm maiores chances de apresentar sintomas constitucionais, como febre, suores noturnos e perda de peso. Na maioria dos casos, observa-se anergia cutânea resultante da depressão da imunidade mediada por células. A mistura de fatores liberados pelas células de Reed-Sternberg suprime as respostas imunes TH1 e pode contribuir para a desregulação da imunidade. • Neoplasias Mieloides: O aspecto comum desse grupo heterogêneo de neoplasias é sua origem a partir das células progenitoras hematopoiéticas. Essas doenças comprometem primariamente a medula e, em menor grau, os órgãos hematopoiéticos secundários (baço, fígado e linfonodos). o Leucemia Mieloide Aguda: (LMA) é uma neoplasia de progenitores hematopoiéticos causada por mutações oncogênicas adquiridas que impedem a diferenciação, resultando na acumulação de blastos mieloides imaturos na medula. A substituição da medula hematopoiética por blastos conduz à falência da medula e a complicações relacionadas a anemia, trombocitopenia e neutropenia. A atual classificação da OMS subdivide a LMA em quatro categorias. A primeira inclui as formas de LMA que estão associadas a determinadas alterações genéticas. Também são incluídas categorias da LMA que surgem após um distúrbio mielodisplásico (SMD, Síndrome Mielodisplásica) ou com aspectos semelhantes à SMD e à LMA relacionada com a terapia. Uma quarta categoria “cesta de papel” inclui as LMAs que perdem qualquer um desses aspectos. Estas são classificadas de acordo com o grau de diferenciação e linhagem dos blastos leucêmicos. Muitas aberrações genéticas recorrentes detectadas na LMA alteram os genes que codificam os fatores de transcrição necessários à diferenciação mieloide normal. O diagnóstico de LMA se baseia na presença de pelo menos 20% de blastos mieloides na medula óssea. Os bastões de Auer, grânulos azurofílicos característicos em forma de agulhas, estão presentes em muitos casos; são particularmente numerosos na LMA com a t(15;17) (leucemia promielocítica aguda). Algumas semanas ou poucos meses depois do aparecimento dos sintomas, a maioria dos pacientes apresenta-se com queixas relacionadas a anemia, neutropenia e trombocitopenia, mais notavelmente fadiga, febre e hemorragia espontânea da mucosa e cutânea. • Síndromes Mielodisplásicas: O termo “síndrome mielodisplásica” (SMD) refere-se a um grupo de alterações clonais das célulastronco, caracterizadas por defeitos na maturação associados à hematopoiese ineficaz e ao alto risco de transformação para LMA. Na SMD, a medula óssea é parcial ou totalmente substituída pela progênie clonal de uma célula-tronco multipotente neoplásica que retém a capacidade de se diferenciar, fazendo-o, contudo, de modo ineficaz e desordenado. Essas células anormais ficam dentro da medula óssea e, desse modo, os pacientes apresentam citopenias no sangue periférico. A SMD pode ser tanto primária (idiopática) quanto secundária à prévia exposição a um agente genotóxico ou à radioterapia (SMD-t). O aspecto mais característico é a diferenciação desordenada (displásica) que afeta as linhagens eritroide, granulocítica, monocítica e megacariocítica em vários graus. Dentro da série eritroide, anormalidades comuns incluem sideroblastos em anel, eritroblastos com mitocôndrias contendo ferro, visíveis como grânulos perinucleares em aspirados ou biópsias coradas com azul da Prússia; a maturação megaloblastoide, semelhante àquela observada na deficiência de vitamina B12 e de folato; e as anormalidades do brotamento nuclear, reconhecidas como núcleos disformes, com contornos frequentemente polipoides. • Distúrbios Mieloproliferativos: A característica patogênica comum dos distúrbios mieloproliferativos é a presença de mutação de tirosina-quinases constitutivamente ativadas ou outras alterações adquiridas nas vias de sinalização que conduzem à independência do fator de crescimento. o Leucemia Mieloide Crônica: a leucemia mieloide crônica (LMC) é diferente de outros distúrbios mieloproliferativos pela presença de um gene quimérico BCR-ABL derivado de porções do gene BCR no cromossomo 22 e do gene ABL no cromossomo 9. A medula óssea é marcantemente hipercelular, por causa do grande número de precursores granulocíticos em maturação, que, em geral, incluem uma proporção elevada de eosinófilos e basófilos. A hematopoiese extramedular também pode produzir hepatomegalia e linfadenopatia discretas. A melhor forma de distinguir a LMC das outras neoplasias mieloproliferativas é pela detecção do gene de fusão BCR- ABL, através da análise cromossômica ou da técnica de PCR. Baço O baço é um filtro engenhosamente planejado para o sangue e um sítio de respostas imunes aos antígenos provenientes do sangue. Sua superfície de corte revela extensa polpa vermelha marcada por pontos cinzentos, que são os folículos da polpa branca. Esses folículos são constituídos por uma artéria com um colar excêntrico de linfócitos T, denominado bainha linfática periarteriolar. Em determinados intervalos de tempo, essa bainha se expande para formar nódulos linfoides compostos principalmente por linfócitos B, que são capazes de se desenvolver em centros germinativos. A polpa vermelha do baço é atravessada por numerosos sinusoides vasculares de paredes delgadas, separados pelos cordões esplênicos ou “cordões de Billroth”. O revestimento endotelial do sinusoide é descontínuo, fornecendo uma passagem para as células sanguíneas entre os sinusoides e os cordões. Os cordões contêm um labirinto de macrófagos frouxamente conectados através de longos processos dendríticos que criam um filtro físico e funcional. Quando atravessa a polpa vermelha, o sangue percorre duas rotas para alcançar as veias esplênicas. Uma parte do sangue flui através dos capilares para os cordões para alcançar os sinusoides; esse é o circuito aberto ou compartimento lento. No outro, chamado de “circuito fechado”, o sangue passa rápida e diretamente dos capilares para as veias esplênicas. O baço exerce quatro funções com grande impacto sobre as doenças: 1. Fagocitose das células sanguíneas e de material particulado: 2. Produção de anticorpo. 3. Hematopoiese. 4. Sequestro de elementos figurados do sangue. ➢ Esplenomegalia: Quando suficientemente aumentado, o baço provoca sensação de desconforto no quadrante superior esquerdo e, através de pressão no estômago, causa desconforto após a alimentação. Além disso, o aumento do órgão pode levar a uma síndrome conhecida como hiperesplenismo, que se caracteriza por anemia, leucopenia e trombocitopenia, manifestadas individualmente ou em combinação. A causa provável das citopenias é o sequestro aumentado dos elementos figurados e o consequente aumento da fagocitose por macrófagos esplênicos. o Esplenite Aguda Inespecífica: O aumento do baço ocorre em qualquer infecção proveniente do sangue. Nessas infecções, a reação esplênica inespecífica é causada tanto pelos próprios agentes microbiológicos quanto pelas citocinas que são liberadas como parte da resposta imune. o Esplenomegalia Congestiva: A obstrução crônica do fluxo de saída venosa causa um tipo de aumento do baço,referido como esplenomegalia congestiva. A obstrução venosa pode ser causada por alterações intra-hepáticas que retardam a drenagem da veia porta ou pode ter origem em doenças extra-hepáticas que prejudicam diretamente as veias porta e esplênica. Todas essas alterações resultam em hipertensão da veia porta ou esplênica. A congestão venosa sistêmica ou central é encontrada na descompensação cardíaca que compromete o lado direito do coração, como pode ocorrer na doença valvular tricúspide ou pulmonar, cor pulmonale crônico ou após insuficiência do lado esquerdo do coração. A cirrose hepática é a principal causa da maciça esplenomegalia congestiva. o Infartos Esplênicos: Os infartos esplênicos são lesões comuns causadas pela oclusão da artéria esplênica principal ou por qualquer uma de suas ramificações. A falta de ampla oferta de sangue colateral predispõe ao infarto após a oclusão vascular. O baço, juntamente com os rins e o cérebro, é considerado um dos sítios mais frequentes onde os êmbolos se alojam. ➢ Neoplasias: O envolvimento neoplásico do baço é raro, exceto nos tumores mieloides e linfoides, que, com frequência, causam esplenomegalia. Fibromas benignos, osteomas, condromas, linfangiomas e hemangiomas podem surgir no baço. Destes, os linfangiomas e hemangiomas são os mais comuns e frequentemente do tipo cavernoso. ➢ Anomalias Congênitas: A ausência completa do baço é rara e, em geral, está associada a outras anormalidades congênitas, como situs inversus e malformações cardíacas. A hipoplasia é o achado mais comum. Os baços acessórios são comuns, únicos ou múltiplos, em 20% a 35% dos exames post-mortem. São estruturas pequenas e esféricas histológica e funcionalmente idênticas ao baço normal. Podem ser encontrados em qualquer lugar dentro da cavidade abdominal. Os baços acessórios são de grande importância clínica em algumas alterações hematológicas, como esferocitose hereditária e púrpura trombocitopênica imune, em que a esplenectomia é empregada como tratamento. ➢ Rotura: Em geral, a rotura esplênica é precipitada por um trauma direto. Essas “roturas espontâneas” nunca pressupõem baços verdadeiramente normais, mas, possivelmente, provêm de algum insulto físico menor a um baço fragilizado por uma condição subjacente. As condições predisponentes mais comuns são mononucleose infecciosa, malária, febre tifoide e neoplasias linfoides, o que pode fazer com que o baço se distenda rapidamente, com adelgaçamento e tensão da superfície capsular, além de suscetibilidade à rotura. Timo O timo completamente desenvolvido é composto de dois lobos fusionados e encapsulados. As extensões fibrosas da cápsula dividem cada lobo em numerosos lóbulos, cada qual com uma camada cortical externa ao redor da medula central. Diversos tipos de células compõem o timo, mas as células epiteliais tímicas e os linfócitos T imaturos predominam. Macrófagos, células dendríticas, uma população pequena de linfócitos B, raros neutrófilos e eosinófilos e células mioides dispersas (similares às musculares) também são encontrados no timo. ➢ Distúrbios do Desenvolvimento: A hipoplasia tímica, ou aplasia, é observada na síndrome de DiGeorge, que é caracterizada por defeitos graves na imunidade celular e por anormalidades variáveis no desenvolvimento da paratireoide associadas ao hipoparatireoidismo. Os cistos tímicos isolados consistem em lesões incomuns que, em geral, são incidentalemnte descobertas no exame post-mortem ou durante uma cirurgia. Embora os cistos isolados não sejam clinicamente significativos, as massas tímicas neoplásicas comprimem e alteram a arquitetura normal do timo adjacente e, algumas vezes, provocam a formação de cistos. ➢ Hiperplasia Tímica: O termo hiperplasia tímica se aplica ao aparecimento de centros germinativos de células B no timo, um achado denominado hiperplasia folicular tímica. Tais folículos de células B estão presentes apenas em pequenos números no timo normal. Embora a hiperplasia folicular possa ocorrer em várias condições imunológicas e inflamatórias crônicas, é observada com frequência na miastenia grave. O principal significado dessa forma de “hiperplasia” tímica é que pode ser radiologicamente confundida com um timoma, resultando em procedimentos cirúrgicos desnecessários. ➢ Timomas: Várias neoplasias podem ter origem no timo — tumores de células germinativas, linfomas, carcinoides e outros —, mas a designação “timoma” é restrita aos tumores de células tímicas. Tipicamente, tais tumores também contêm células T imaturas benignas (timócitos). Há somente três subtipos histológicos: • Tumores citologicamente benignos e não invasivos. • Tumores citologicamente benignos, mas invasivos ou metastáticos. • Tumores citologicamente malignos (carcinoma tímico). A maioria se origina no mediastino anterossuperior, mas, algumas vezes, pode ocorrer no pescoço, na tireoide, no hilo pulmonar ou em qualquer outro tecido. o Timomas não invasivos são com maior frequência compostos por células epiteliais do tipo medular ou de uma mistura de células epiteliais dos tipos medular e cortical. As células epiteliais do tipo medular são alongadas ou fusiformes. o Timoma invasivo refere-se a um tumor citologicamente benigno, mas localmente invasivo. Há maior probabilidade de esses tumores darem origem a metastástases. A maioria das células epiteliais pertence a uma variedade cortical, com citoplasma abundante e núcleos redondos e vesiculares, e, em geral, está misturada a numerosos timócitos.
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