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FACULDADE EDUCACIONAL DE PONTA GROSSA ARQUITETURA E URBANISMO ANE CAROLINE ZELENSKI CENTRO DE ACOLHIMENTO INTEGRADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA PONTA GROSSA PR 2018 ANE CAROLINE ZELENSKI CENTRO DE ACOLHIMENTO INTEGRADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA Plano de Trabalho apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Educacional de Ponta Grossa - Unopar, a ser utilizado como diretrizes para a manufatura do Trabalho Final de Graduação (TFG). Coordenador da Disciplina do TFG: Prof. Me. Renata Maria Correia Degraf PONTA GROSSA PR 2018 Dedico o presente trabalho aos meus pais, que com seus exemplos, me incentivaram e, com seus cuidados, me dirigiram até aqui. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao maior arquiteto do mundo, Deus, que me sustentou e me guiou por todos os caminhos da minha vida e, que por meio de Suas palavras (Mateus 25:35-40) me inspirou no presente trabalho. À minha família por todo cuidado e apoio. Em especial, aos meus pais, por toda dedicação, amor e, por me incentivarem a ser sempre melhor; à minha prima por me dar suporte nos momentos precisos. Aos meus amigos e colegas de curso, por toda paciência, compreensão, e por estarem ao meu lado durante esses anos. Agradeço a todos que colaboram de alguma forma para a realização deste trabalho. A minha gratidão também aos docentes desse curso, que por meio dos seus conhecimentos, me capacitaram para a vida profissional. Em especial, agradeço à minha orientadora Andrea Biagi Bertocco, por ter aceitado o convite para esse desafio, pela paciência e por todos os conselhos. Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira CENTRO DE ACOLHIMENTO INTEGRADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA ZELENSKI, Ane Caroline1 BERTOCCO, Andrea Biagi2 RESUMO O presente trabalho final de graduação de curso, tem por finalidade apresentar um projeto arquitetônico, direcionado a idealização de um Centro de Acolhimento Integrado para pessoas em situação de rua, na região central do município de Ponta Grossa - PR. Este projeto busca não só uma infraestrutura necessária para retirar pessoas em estado de vulnerabilidade das ruas, mas oferece um cuidado integral a esses indivíduos, além de elaborar técnicas para reinseri-los na sociedade e, desse modo proporcionar perspectiva e qualidade de vida. O projeto será interdisciplinar, pois visa tanto a área de formação em arquitetura, como a sociedade no sentido contributivo. Para realizar este trabalho e nortear o programa de necessidades, fizeram-se necessárias visitas de campo em espaços já implantados para descobrir os principais desafios enfrentados nesse meio, também sendo indispensável uma observação minuciosa quanto a espacialização dos ambientes. Algumas entrevistas foram realizadas para ouvir a opinião e as necessidades das pessoas que utilizam programas existentes desse gênero, para tanto, realizou-se pesquisas quantitativas e qualitativas, bem como, leituras sobre a problemática abordada. Palavras chave: 1 Vulnerabilidade Social. 2 Acolhimento. 3 Situação de rua. 4 Projeto Arquitetônico. 5 Cuidado Integral 1 Ane Caroline Zelenski, Faculdade Educacional de Ponta Grossa, matriculada no curso de Arquitetura e Urbanismo. 2 Andrea Biagi Bertocco, Faculdade Educacional de Ponta Grossa, professora orientadora do curso de Arquitetura e Urbanismo. ABSTRACT The current final paper has as an objective to present an architectural project, designed to be placed in the center of the city of Ponta Grossa- PR, which has been idealized as an Integrated Hosting Center for homeless people. This project aims at offering global care for these individuals and not only the necessary infrastructure for placing them in a safer location than the streets, besides elaborating techniques to reintegrate them in society in a way to provide life quality a good perspective. This project presents an interdipliscinary characteristic since it encompasses the knowledge provided by a major in architecture and the sense of society on how to contribute with it. For this project, field search has been done to orientate the program of necessities and finding out the greatest challenges that would be faced, it has also been imperative a thorough observation regarding environment spacialization. Some interviews have been done since it was necessary to listen to the opinions and necessities of the people which use such shelters, thus, quantitative and qualitative searches have been carried out as well as reading concerning the theme. Keywords: 1 Social Vulnerability. 2 Hosting. 3 Homeless. 4 Architectural Project. 5 Global Care. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fachada ................................................................................................... 28 Figura 2 - Sagão de Entrada ..................................................................................... 29 Figura 3 - Unidade Habitacional ................................................................................ 30 Figura 4 - Planta Baixa .............................................................................................. 30 Figura 5 – Fachada ................................................................................................... 31 Figura 6 - Implantação Fonte ................................................................................... 32 Figura 7 - Planta Baixa Térreo ................................................................................. 33 Figura 8 - Planta Baixa 1º Pavimento ........................................................................ 33 Figura 9 - Planta Baixa 2º Pavimento ....................................................................... 33 Figura 10 - Área de lazer ........................................................................................... 34 Figura 11 – Fachada ................................................................................................. 35 Figura 12 – Perspectivas ........................................................................................... 35 Figura 13 - Planta Baixa 1º Pavimento ...................................................................... 36 Figura 14 - Planta Baixa 2º e 3º Pavimento .............................................................. 36 Figura 15 - Planta Baixa 4º Pavimento ...................................................................... 37 Figura 16 - Entrada dos Alojamentos ........................................................................ 37 Figura 17 - Refeitório ................................................................................................ 38 Figura 18 - Entorno .................................................................................................. 38 Figura 19 – Fachada ................................................................................................. 39 Figura 20 - Arquitetura Interna.................................................................................. 40 Figura 21 - Jardim externo ........................................................................................ 41 Figura 22 - Fachada ................................................................................................. 42 Figura 23 - Alojamentos ............................................................................................ 42 Figura 24 – Quartos .................................................................................................. 43 Figura 25 – Cozinha .................................................................................................. 44 Figura 26 – Refeitório ................................................................................................ 44 Figura 27 - Área externa de lazer .............................................................................. 44 Figura 28 - Sala de Televisão ................................................................................... 45 Figura 29 - Localização ............................................................................................ 50 Figura 30 - Terreno com testada para Rua Comendador Miró .................................. 51 Figura 31 - Terreno Rua Comendador Miró x Rua Comendador Airton Plaisant ..... 51 Figura 32 - Terreno com testada para rua Visconde de Nacar................................. 52 Figura 33 - Gabarito de Altura ................................................................................... 53 Figura 34 - Gabarito de Uso do Solo ......................................................................... 54 Figura 35 - Hierarquia de via e sentido de fluxo ........................................................ 55 Figura 36 - Transporte Coletivo ................................................................................. 56 Figura 37 - Organograma ......................................................................................... 58 Figura 38 - Fluxograma ............................................................................................ 59 Figura 39 - Setorização Subsolo ............................................................................... 60 Figura 40 - Setorização Térreo .................................................................................. 60 Figura 41 - Setorização 1º Pavimento ....................................................................... 61 Figura 42 - Setorização 2º Pavimento ....................................................................... 61 Figura 43 – Zoneamento ........................................................................................... 62 Figura 44 - Edificação com Concreto Aparente ......................................................... 63 Figura 45 - Cimento Queimado ................................................................................. 64 Figura 46 - Edificação em Madeira de Demolição .................................................... 65 Figura 47 - Edificação com uso de vidros ................................................................. 65 Figura 48 - Abetura Zenital ........................................................................................ 66 Figura 49 - Painel Solar ............................................................................................. 67 Figura 50 – Cisterna .................................................................................................. 67 Figura 51 - Tubulação Aparente ................................................................................ 68 Figura 52 - Rampa aparente ..................................................................................... 69 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Programa de Necessidades .................................................................... 49 Tabela 2 - Média de temperaturas mensais em Ponta Grossa ................................. 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIA Instituto Americano de Arquitetos BBC NEWS British Broadcasting Corporation BBC Bud Clark Commons CNUDH Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos CONIC Conselho Nacional das Igrejas Cristãs IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LEED Liderança em Energia e Design Ambiental NBR Norma Brasileira ONU Organizações das Nações Unidas PMPG Prefeitura Municipal de Ponta Grossa PNAS Política Nacional de Assistência Social SMARH Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos SMPPS Secretaria Municipal de Políticas Públicas Sociais SUAS Sistema Único de Assistência Social ZC Zona Comercial SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 16 3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 16 4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 17 5 CENTRO DE ACOLHIMENTO INTEGRADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA ........................................................................................................................... 18 5.1 Fundamentação Teórica .............................................................................................................. 18 5.1.1 Vulnerabilidade Social, “Morador de Rua” .......................................................................... 18 5.2 Análise de Correlatos .................................................................................................................. 27 5.2.1 La Casa .................................................................................................................................. 28 5.2.2 The Bridge Homelees Assistance Center .............................................................................. 31 5.2.3 Bud Clark Commons (BBC) ................................................................................................... 34 5.2.4 Redbridge Welcome Centre ................................................................................................. 39 5.3 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................ 41 5.4 MEMORIAL EXPLICATIVO ............................................................................................................ 45 5.4.1 Conceito e Partido ................................................................................................................ 45 5.4.2 Usuário e Programa de Necessidades .................................................................................. 46 5.4.2.1 Usuário .......................................................................................................................... 46 5.4.2.1 Programa de Necessidades ........................................................................................... 47 5.4.3 Análise do entorno ............................................................................................................... 49 5.4.3.1 O terreno ....................................................................................................................... 49 5.4.3.2 Gabarito de Altura .........................................................................................................52 5.4.3.3 Gabarito de Uso do Solo................................................................................................ 53 5.4.3.4 Hierarquia Viária e Direção de Fluxos da Via ................................................................ 54 5.4.3.5 Transporte Coletivo ....................................................................................................... 55 5.4.3.6 Infraestrutura ................................................................................................................ 56 5.4.3.7 Espaços Abertos e de Vegetação .................................................................................. 57 5.4.4.1 Organograma ................................................................................................................ 58 5.4.4.2 Fluxograma .................................................................................................................... 58 5.4.4.3 Setorização .................................................................................................................... 60 5.4.5 Contexto ............................................................................................................................... 61 5.4.6 Zoneamento ......................................................................................................................... 62 5.4.7 Estrutura e Tecnologias ........................................................................................................ 63 5.4.7.1 Concreto Aparente ........................................................................................................ 63 5.4.7.2 Cimento Queimado ....................................................................................................... 64 5.4.7.3 Madeira de Demolição .................................................................................................. 64 5.4.7.4 Vidro .............................................................................................................................. 65 5.4.7.5 Abertura Zenital ............................................................................................................ 66 5.4.7.6 Painel Solar .................................................................................................................... 66 5.4.7.7 Cisterna ......................................................................................................................... 67 5.4.7.8 Instalação Elétrica Aparente ......................................................................................... 68 5.4.7.9 Estrutura em Aço para Rampa ...................................................................................... 68 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 70 7 CRONOGRAMA ..................................................................................................... 71 REFERENCIAS ......................................................................................................... 72 ANEXOS ................................................................................................................... 82 Anexo I ............................................................................................................................................... 82 Anexo II .............................................................................................................................................. 83 Anexo III ............................................................................................................................................. 84 14 1 INTRODUÇÃO A arquitetura é conhecida como a arte de construir sob a perspectiva do belo e, em sua maioria é caracterizada por sinônimos somente referente a beleza e estética. Esse trabalho além de apresenta-la baseado nessa afirmação, exibe a arquitetura como parte integrante e fundamental na reconstrução da dignidade humana de uma parcela da população. O projeto Centro de Acolhimento integrado visa estabelecer-se como ferramenta estratégica para atender pessoas que se encontram em estado de vulnerabilidade social por falta de moradia, oferecendo a elas meios para a reinserção social. O atual cenário mundial mostra dados3 alarmantes sobre o número de pessoas em situação de rua, contudo essa problemática não é de hoje e nem dessa década. O processo que levou pessoas à situação de rua iniciou-se com a chegada da Revolução Industrial, quando então a população perde a sua moradia e começa a vender seu trabalho. Muitas dessas pessoas não conseguiam se adaptar à nova forma de governo, ou até mesmo não tinham capacidade física para trabalho braçal e acabavam sendo obrigadas a morar nas ruas, ficando dependentes do Poder Público. A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (CNUDH), diz que atualmente 1,5% da população mundial encontra-se em situação de rua e esse percentual só tende a aumentar. No Brasil, a estimativa (IBGE, 2017) é de 2 milhões de pessoas em situação de rua, esse dado revela um déficit habitacional de grande escala, representando um desafio, o qual consiste na necessidade de se evidenciarem esforços para suprir a primordialidade dos direitos constitucionais: a vida. A maioria das cidades brasileiras enfrentam essa problemática de forma inadequada, pois não existem abrigos suficientes para suprir os números dessa calamidade. Na cidade de Ponta Grossa, localizada no Estado do Paraná, mais de 200 pessoas já atingiram as ruas do município, segundo o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e a mesma enfrenta inúmeros transtornos pela falta de 3 COSTA, Ana Paula Motta . População em situação de rua . 2005. 1 f. Trabalho Científico (Assistencia Social)- Universidad Autónoma del Estado do Méximo, [S.l.], 2005. Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/3215/321527157003/>. Acesso em: 09 abr. 2018. 15 atendimento qualificado. Um dos transtornos mais visíveis é em relação aos ambientes que antes tinham por objetivo proporcionar lazer, como praças e equipamentos urbanos, estes perdem seus significados e transformam-se em moradias noturnas para desabrigados, com isso, os mesmos não se encontram nas condições para as quais foram designadas, apresentando certa insegurança para a população. A socióloga, Luciana Bolognini (on-line, 2014), estudou o atual cenário das cidades brasileiras e diz que os fatores que levam esses indivíduos a estarem vivendo nessas condições são a “inexistência de um trabalho e de uma renda, dependência química, transtornos mentais, rompimento dos vínculos familiares, perda de todos os bens, entre outras situações”. Há também a parcela da população que veio a cidade em busca de melhores condições de vida, porém, não encontraram emprego e local para morar, estas tiveram que encontrar nas ruas a sua casa. Pessoas hipossuficientes que muitas vezes são traumatizadas pelas suas vivências, acabam não conseguindo alavancar suas próprias vidas, encontram-se em um processo de exclusão e não pertencimento a sociedade. Por consequência dos dados alarmantes e de todos esses fatores abordados, pensa-se através desse trabalho um projeto de interesse social, que atenda uma parcela da população em estado de vulnerabilidade da cidade de Ponta Grossa, um Centro de Acolhimento integrado para pessoas que se encontram nas rua, ofertando a oportunidade do indivíduo se reestabelecer e impulsionar na sua inclusão na sociedade. O projeto, baseado em diversas pesquisas, entende que não basta dar moradia, alimentação e higiene, é preciso dar condições para essas pessoas construíremum futuro e novamente se colocarem diante do mercado de trabalho. Para tal, é necessário que o centro de acolhimento funcione de forma integrada, verificando cada caso de forma pontual, e analisando as melhores possibilidades de auxílio para cada indivíduo. Para amenização dessa problemática abordada é preciso que o poder público externe um olhar real em relação a essa camada da população em estado de vulnerabilidade, mas também se faz necessário que a sociedade entenda que esse problema não é apenas do poder público, é uma tarefa interdisciplinar. E é justamente buscando essa interdisciplinaridade que o projeto, centro de acolhimento integrado 16 surge, pensando na dignidade humana e utilizando a arquitetura como um meio fundamental para esse resgaste. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Propor através de um estudo teórico e projetual, um centro de acolhimento integrado para pessoas em situação de rua, que visará atender as necessidades básicas, e um cuidado integral do ser humano; através da identificação das características do público alvo, como meio, e ferramenta para reinserção desses indivíduos na sociedade. Para, assim, estar contribuindo com o Poder Público e com a sociedade em geral, com a promoção de garantias à moradia para determinadas parcelas da população, em estado de vulnerabilidade. 2.2 Objetivos Específicos a) Definir o problema de vulnerabilidade social “morador de rua”; b) Qualificar elementos arquitetônicos que busquem através do projeto a dignidade humana; c) Aplicar um modelo de gestão integrada, visando cuidado integral; d) Desenvolver um projeto de atendimento as necessidades básicas para pessoas em situação de rua. 3 JUSTIFICATIVA Com o passar dos anos, Ponta Grossa tem assistido sua população de rua crescer. Segundo dados da Casa da Acolhida da região, em 2007 a população de rua não chegava a 50 moradores, já em 2009, o número cresceu significativamente, passando para mais de 100 moradores. Um novo levantamento foi feito em 2017 e este estipulou mais de 200 pessoas em situação de rua. Na cidade existem dois abrigos regulamentados para moradores de rua, sendo eles a Casa da Acolhida, inaugurada em 2001 para 32 pessoas e, o Ministério Melhor Viver, inaugurado em 2004 para 40 pessoas. Existe também o abrigo Casa Deus Pai, 17 não regulamentado, que atende cerca de 18 pessoas. O número de vagas está ligado ao melhor atendimento desses indivíduos, uma vez que, quando números em grande escala de pessoas ocupando o mesmo local, se tornam precárias e insatisfatórias as condições de prestação de serviços por falta de acomodações. As vagas destes locais não suprem a quantidade de moradores vivendo em condições de rua do município, por esse motivo, há necessidade de criação de um espaço desenhado especialmente para abrigar essa parcela da população, um centro de acolhimento se torna proposta para a problemática. O então projeto a tem como função amenizar os números gritantes desse fato, proporcionando vaga para 70 pessoas em situação de rua. Visto também, que a carência desses indivíduos não é somente pela oferta de moradia, o projeto deve ser entendido como meio de reinserção à sociedade, oferecendo acesso à educação, saúde e assistência social. O local será identificado como proteção e atendimento a pessoas que se encontram nas condições de vulnerabilidade da rua. Dará acesso as políticas públicas básicas e agirá como instrumento de socialização coletiva, incentivando a convivência e o relacionamento interpessoal, assim humanizando as relações entre os usuários do programa. Em meio ao caos, é importante dar perspectiva e brilho nos olhos daqueles que tem suas vidas frustradas. Pensando nisso, o centro de acolhimento propõe formas de o indivíduo ter autonomia para reconstruir a sua vida fora das ruas, viabilizando a colocação no mercado de trabalho e garantindo estratégias de sobrevivência. É necessário criar um espaço bem localizado, próximo a locais de grande concentração de moradores de rua, para melhor atender as necessidades de locomoção. O projeto a ser desenvolvido neste trabalho final de graduação irá implantar um centro de acolhimento onde a forma transmita o intuito de integração e venha resgatar a autoestima do morador de rua, reinserindo-o na sociedade e dando perspectiva de vida. 4 METODOLOGIA Para concepção do projeto, se faz necessário o uso de métodos. O trabalho será dividido em três etapas. 18 A primeira envolverá uma análise sobre o município, os atuais centros de acolhimento e as pessoas que vivem nas condições tratadas no presente trabalho, realizando pesquisas quantitativas e qualitativas. Nessa etapa, serão definidas as diretrizes e programa de necessidades do projeto. A segunda etapa compreenderá a definição do terreno, e fará análise com seu entorno, levando em conta a população local e usuária, tal qual, as limitações do local. A última etapa proporá a definição do partido arquitetônico. Nessa etapa, será pensando em soluções arquitetônicas para a problemática, observando zoneamento, questões de espaço, orientação solar, implantação e volumetria. 5 CENTRO DE ACOLHIMENTO INTEGRADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA O desenvolvimento desse projeto de elaboração de um centro de acolhimento integrado para pessoas em situação de rua, abordará a problemática da vulnerabilidade social e apresentará a arquitetura como um meio para o reencontro com a dignidade humana, através da prática de uma gestão integrada, a qual visa o cuidado integral do ser humano. 5.1 Fundamentação Teórica 5.1.1 Vulnerabilidade Social, “Morador de Rua” Compreende-se como vulnerabilidade social a exclusão do indivíduo humano da sociedade, causada pela falta de estrutura familiar, negação do acesso as oportunidades junto ao mercado de trabalho, desapropriação dos direitos básicos baseados em ações e descaso do Poder Público e, principalmente por fatores socioeconômicos. Todas essas causas precisam ser entendidas a partir de uma cosmovisão ampla e humanitária, de modo que possibilite um real entendimento sobre a gravidade dessa problemática. Katzman (1999, apud MONTEIRO, p. 33), diz que a vulnerabilidade é entendida: Como o desajuste entre ativos e a estrutura de oportunidades, provenientes da capacidade dos atores sociais de aproveitar oportunidades em outros âmbitos socioeconômicos e melhor sua situação, impedindo a deterioração em três principais campos: os 19 recursos pessoais, os recursos de direitos e os recursos em relações sociais. Constata-se que a vulnerabilidade social é uma expressão agravante estampada no mundo, manifestando-se nos mais diversos países. No Brasil, os principais fatores que expressam essa problemática, são a fome, a falta de saúde, educação, emprego e moradia. Todos esses aspectos são efeito do nível econômico, social e cultural. A vulnerabilidade social abrangida, portanto, se diz respeito, ao conjunto de fatores e soluções materiais que vem a ser insuficientes e impróprios para a garantia de dignidade de vida humana, classificando a mesma, em diversos graus. Abramovay et al. (on-line, 2002), define vulnerabilidade social como: Situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são tidos como insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade. Estas oportunidades constituem uma forma de ascender a maiores níveis de bem-estar ou diminuir probabilidades de deterioração de vida de determinados atores sociais. Para diminuição da vulnerabilidade social, os três clássicos poderes(Executivo, Legislativo e Judiciário), precisam estar atentos e preocupados com as causas que geram a mesma. Sobretudo, é imprescindível e necessário que estejam comprometidos com a chamada política de assistência social, pois somente através dessas especificas políticas pode-se atender os grupos em estado de vulnerabilidade e assim fortalecer e capacitar os indivíduos nesse estado. A diminuição dos níveis de vulnerabilidade social pode se dar a partir do fortalecimento dos sujeitos para que possam acessar bens e serviços, ampliando seu universo material e simbólico, além de suas condições de mobilidade social. Para isso, as políticas públicas constituem-se de fundamental importância. (MONTEIRO, 2011, p. 35). A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), ou Política de Seguridade Social garante ao indivíduo proteção social, ou seja, assegura por meio do Poder Público direitos básicos, esses estão pautados no principal alicerce da Constituição Federal, de 1988, no capítulo II, Art. 6º que: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados”. Na atual realidade, esses direitos previstos na constituição federal não estão sendo respeitados pelos líderes de Estados, percebemos claramente essa afirmação 20 através das alarmantes pesquisas4 que mostram números gritantes em relação a miséria institucionalizada, a fome, a falta de moradia, falta de segurança, saúde e educação. Ao invés do Estado se preocupar com políticas de seguridade social, as quais combatem indiretamente e diretamente a vulnerabilidade social, ele criminaliza essa parcela da população que se encontra em condições extremamente insalubres, excluindo-os de exercer seus direitos sociais enquanto cidadãos. Contudo, essa criminalização e desapropriação de direitos estão baseados em ações do Poder Público e não do ressalvo da lei, contendo uma ausência de isonomia5. Visto que o bem mais precioso para o ordenamento jurídico brasileiro é a vida, essa merece todo amparo. Dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável. (SARLET, 2001, p. 60). A falta de aplicabilidade dos Direitos Sociais por meio do Poder Público, gera nesses indivíduos a busca incessante por alternativas que supram suas necessidades básicas. A falta de moradia tem apresentado um cenário assustador nas capitais e metrópoles, nos centros e nos bairros espalhados pela nação brasileira. Esse grupo de indivíduos que não obtiveram recursos necessários para manter dignidade de vida, são obrigados a fazer das ruas as suas moradias. Com está problemática acentuada, surge o termo “pessoas em situação de rua”, para denominar moradores de rua, cuja essa parcela da população encontra-se espalhada pelos logradouros públicos, fazendo deles a sua “casa”, vivendo em condições insalubres e subumanas. Esse grupo humano, passa a fazer parte do cenário urbano, se tornando estereotipados e invisíveis aos olhos da sociedade. O artigo primeiro da Constituição Federal Brasileira, em seu parágrafo único, diz que “o Poder emana do povo (...)”, então, pode-se comparar uma grande parcela 4 IPEA. Atlas da Vulnerabilidade Social. Disponível em: http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt/. Acesso em:26 fev. 2018. 5 Isonomia significa igualdade de todos perante a lei. Refere-se ao princípio da igualdade previsto no art. 5º, "caput", da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. (JURÍDICO, 2009) 21 da sociedade a simbologia de poder, pois ambos os “poderes” constituídos ou o poder das massas apresentam características semelhantes em relação ao olhar sobre esses indivíduos. Essa grande parcela da sociedade, olha para esse grupo em estado de vulnerabilidade com olhar de desprezo, com pré-conceitos e muitas vezes com sentimento de medo e ameaça. (...) nós as olhamos amedrontados, de soslaio, com uma expressão de constrangimento. Alguns as vêem como perigosas, apressam o passo. Outros logo as consideram vagabundas e que ali estão por não quererem trabalhar, olhando-as com hostilidade. Muitos atravessam a rua com receio de serem abordados por pedido de esmola, ou mesmo por pré-conceberem que são pessoas sujas e malcheirosas. Há também aqueles que delas sentem pena e olham-nas com comoção ou piedade. Enfim, é comum negligenciarmos involuntariamente o contato com elas. Habituados com suas presenças, parece que estamos dessensibilizados em relação à sua condição (sub) humana. (MATTOS; FERREIRA, 2004, p. 47) O termo “morador de rua” é popularmente conhecido e disseminado na sociedade, entretanto, a sociedade entende pouquíssimo sobre a real problemática, também, pouco sabe sobre quem são os indivíduos que pertencem a esse grupo e qual o real motivo para nessa situação de calamidade. O que se pode afirmar é que a falta de moradia assola a vida de mais de 2 milhões de pessoas no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2014), e que um dos principais fatores contribuintes para estatística é a falta de emprego junto ao mercado de trabalho. O morador das ruas do Rio de Janeiro, Jorge Luiz de Souza, conta a British Broadcasting Corporation (BBC News), emissora pública de rádio e televisão, que nunca imaginou passar por esse estado de vulnerabilidade por falta de emprego. "O terrível é que hoje não tem nada. Todas as portas estão fechadas. Eu sei fazer, é só ter oportunidade. Mas ninguém está contratando, independentemente da minha experiência.", diz Souza. Os direitos humanos do trabalho, afirmam em sua Declaração Universal dos Diretos Humanos, promulgado pela Organizações das Nações Unidas (ONU), em 1948, em seu artigo 23, que “Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego”. Infelizmente, esse artigo não tem sido respeitado pelos órgãos competentes, gerando cada vez mais um aumento significativo quanto ao número de pessoas em situação de rua, consequentemente em condições de extrema vulnerabilidade social. 22 As causas, que levam todos os dias indivíduos humanos a viverem em um estado de vulnerabilidade social, precisam de um olhar imediato da sociedade e do poder público. É preciso reestabelecer a justiça social e a prática da cidadania, pensando no próximo. A urgência do resgate humano, depende de um entendimento sobre a cultura da sociedade, ou seja, de uma cosmovisão que possibilite a recomposição da dimensão dessa problemática. Esse alarmante problema clama para que o poder público e a sociedade assumam identidades culturais como pressuposto básico para uma atuação imediata. Ao situar essa tamanha problemática, “Percebe-se de imediato a necessidade de estabelecer práticas que tentem resgatar a identidade, a autoimagem, a utopia e autonomia, elementos imprescindíveis para o efetivo exercício da cidadania”. (DOMINGUES, 2002, p. 11). 5.1.2 Arquitetura: Um projeto em busca da dignidade humana A arquitetura é a criação de espaços voltados para o ser humano, ela busca estrutura, conforto e beleza. Para Vitruvius, grande arquiteto romano, a arquiteturase baseia em três pilares, a firmitas, lado construtivo, a utilitas, que se refere a utilidade e conforto e, a venustas, ligada diretamente com a beleza. Para ele, esses elementos são fundamentais na execução de qualquer projeto arquitetônico, se detectada a falta de um dos componentes, não se trata de arquitetura. Moreira, (1955, on-line), define arquitetura como: Idealizar a obra visando a resolver, com intenção plástica, o problema proposto, de acordo com a época, os materiais e as possibilidades técnicas: analisando e considerando os fatores externos que nela influem; respeitando imposições e hábitos do meio: detalhando e articulando todos os elementos componentes e buscando sempre a verdade, quanto à finalidade e função, tanto na forma como no uso dos materiais. O arquiteto desempenha um papel primordial e de grande valor para a sociedade, por meio da elaboração de seus projetos é possível identificar ambientes com características adequadas para as mais diversas atividades do ser humano. Um exemplo que retrata essa prática de arquitetura relevante, é a projeção de ambientes coletivos, os quais são de grande impacto na vida da sociedade beneficiada. Esse tipo de arquitetura deve ser frequentemente praticada, de forma que atenda todas as camadas da população, mas infelizmente a realidade não é essa. 23 Assuntos envolvendo relevância a sociedade e a temática dignidade humana, estão deixadas de lado, gerando sérios problemas, os quais afetam muitas pessoas e sociedades ao redor do mundo. Profissionais de arquitetura, são capacitados para solucionar muitos problemas apenas utilizando o conhecimento de formação e ferramentas disponíveis para o arquiteto. Contudo, mesmo diante dessa realidade e entendimento sobre como resolver algumas problemáticas, são poucos os profissionais que se movem para ajudar na construção de uma sociedade mais justa e humana. Shelter (2011, p. 287), afirma que mesmo os arquitetos sendo capazes de amenizar os atuais cenários, não o fazem. É chocante que os arquitetos não trabalhem para atender as necessidades urgentes dos povos tocados por crises naturais e humanitárias. Temos de encontrar formas para abrigar pessoas que são adaptadas à realidade econômica, aos terrenos, aos desastres e perigos locais e aos materiais disponíveis. Nós temos as habilidades e competências para fazer isso. Não devemos esquecer que a base da nossa profissão é fornecer a todas as pessoas um lugar decente para viver. A falta de moradia é exemplo dessa problemática a ser citada por se tratar de uma crise humanitária, a qual gera impacto negativo na vida do indivíduo. O papel do arquiteto é inegável na construção de um projeto que visa cuidado e um olhar especial para pessoas em estado de vulnerabilidade. É preciso idealizar espaços que beneficiem a vida das mais diversas camadas da população. Hoje existe alguns espaços destinados para pessoas em estado de vulnerabilidade social, mais especificamente em situação de rua, nesses espaços é possível identificar a carência de um projeto arquitetônico, suas falhas em estruturas são agravantes, além de não possuir qualidade estética alguma. Ambientes mal projetados geram a diminuição da qualidade de serviço prestado, ambientes pouco agradáveis também fazem os colaboradores não encontrarem estimulo para desenvolver suas funções, gerando um atendimento desrespeitoso aos usuários em estado de vulnerabilidade. É possível encontrar diversos relatos6 que identificam essa problemática. 6 COSTA, Flávio. Só no frio: moradores de rua explicam por que vão ou não aos abrigos . São Paulo: UOL, 2016. 1 p. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2016/06/17/so-no-frio-moradores-de-rua-explicam-por-que-vao-ou-nao-aos-abrigos-de- sp.htm>. Acesso em: 10 abr. 2018. 24 Ante essa temática, é verossímil que os problemas são gritantes e geram efeitos decepcionantes. É indispensável projetar espaços que atendam às necessidades do público alvo e promovam mudanças significativas nessa realidade. Em busca desse objetivo, se faz eficaz a aplicabilidade de métodos eficientes que solucionem áreas que até o presente momento apresentam déficit, trazendo qualidade para o espaço projetado. Alguns modelos arquitetônicos podem ser utilizados como amenizadores de muitos problemas, bem como a problemática dos moradores de rua. A arquitetura sinestésica, é um desses modelos, o qual é definida como as diferentes sensações que o cérebro pode produzir baseado em um dado objeto. É possível por exemplo recordar um momento especifico, apenas através do cheiro (olfato). Não é diferente com os outros quatro sentidos, há situações que ao olhar (visão) um objeto, o indivíduo é dominado por uma recordação, sendo assim, mesmo ao ver o novo, o cérebro submeterá a lembranças antigas. Na arquitetura não é diferente, a sinestesia pode ajudar na criação das mais diversas sensações do ser humano, induzindo sempre ao lado positivo. O espaço esteticamente bonito passa de prioridade, para apenas mais um dos conceitos de arquitetura. Com esse método, as cores, texturas, objetos e, revestimentos, causam estímulos que desencadeiam as mais diversas sensações. A madeira é um grande exemplo, pois traz à lembrança de abrigo, aconchego e, casa. Já materiais como o concreto, criam sensações de segurança e proteção. O pesquisador Roger Ulrich é autor da teoria conhecida como recuperação psicofisiológia ao estresse, teoria a qual define a percepção visual e estética de ambiente como resolução a problemas de vulnerabilidade. Gressler; Gunter (2013, p. 03 apud Ulrich, 1984), afirma que: As experiências de ambientes físicos, visualmente prazerosos, podem auxiliar na redução do estresse, uma vez que desencadeiam emoções positivas, mantêm o estado de atenção não vigilante, diminuem os pensamentos negativos e possibilitam o retorno à excitação fisiológica para níveis mais moderados. O pesquisador enfatiza que para ajudar na recuperação de um dado indivíduo, é preciso trabalhar o local onde está inserido, mesma técnica usada na arquitetura sinestésica. Exemplifica a temática com elementos da natureza, esses quando 25 colocados em ambientes que possui excesso de monotonicidade, produzem efeitos extraordinários. Gressler; Gunter (2013, p. 04 apud Ulrich, 1984), retrata essa temática com: Pacientes que haviam sido submetidos a cirurgia e que apresentavam o mesmo quadro clínico, quando colocados em leitos hospitalares que possibilitavam a visão da natureza através da janela do hospital, tiveram em geral menor tempo de internação pós-operatório, receberam menos comentários negativos na avaliação das enfermeiras e necessitaram de menor quantidade de analgésicos. A arquitetura mexe com o comportamento e sentimento do ser humano, por esse motivo, se faz necessária a aplicabilidade de projetos arquitetônicos que modelem e reorganizem as atuais condições dos abrigos. Projetos que deixem o monótono de lado e com criatividade, proporcionem interesse e motivação para os usuários de um determinado centro de acolhimento. Para que essa reorganização seja viável, é preciso compreender as dificuldades e limitações que antecedem um projeto. Em arquitetura sempre existem limitações: terrenos complicados, orçamentos apertados, leis, indisponibilidade de materiais, a cultura na qual o edifício está inserido. Mas é exatamente o conhecimento sobre as necessidades das pessoas que irão utilizar o edifício que possibilita ao designer ser criativo. Pensar em arquitetura como pessoa humana,requer conhecimento sobre as experiências de seus clientes, tendo feito isso atende as necessidades juntamente com a estética do novo local. (ZEISEL, 2007, apud SAYEGH, 2007, on-line). Usar a arquitetura para dar motivação tanto aos usuários, quanto aos servidores de um abrigo é essencial, é necessário também adequar os elementos arquitetônicos de forma que exerçam o seu papel criando espaços atrativos, promovendo até mesmo um apoio psicológico indireto. O arquiteto, antes de qualquer coisa, precisa analisar alguns fatores e métodos construtivos que atendam as reais necessidades do indivíduo. É também importante criar espaços atrativos e convidativos que promovam interação e apoio social, assim como criar espaços para a recuperação e as conversas particulares. Para motivar as pessoas a mudar o seu estilo de vida é necessário oferecer a elas atividades que fortaleçam a sua autoestima e eficácia. Isso pode ser parcialmente conquistado participando de diferentes atividades culturais (KARMAN, 2015 apud DILANI, 2015, on-line). A técnica de humanizar o ambiente também se faz eficaz e exerce sobre o local aplicado uma ligação expressiva com o usuário, tornando o homem foco principal do projeto. De acordo com o dicionário (AURÉLIO, 2007), humanizar é tornar humano, 26 dar condição humana, agir com bondade natural, humanar. Tornar benévolo, afável, fazer adquirir hábitos sociais polidos, civilizar. Para tornar a humanização real, é preciso que os espaços provoquem reações no corpo humano. “A integração interior/exterior apresenta-se como peça fundamental para a humanização do espaço arquitetônico por agrupar uma imensa variedade de estímulos provenientes do ambiente externo que provocam reações no corpo humano.” (VASCONCELOS, 2004, p. 10) Essas são técnicas que produzem sensações motivacionais no ser humano, principalmente em indivíduos em estado de vulnerabilidade social, o qual precisa de constantes estímulos para uma ressocialização e integração em um programa como o Centro de acolhimento integrado. As aplicabilidades desses métodos são totalmente eficazes, e se fazem necessários quando tratamos de um projeto a qual visa o bem- estar de um ser humano que se encontra abalado em decorrência de circunstancias não favoráveis. 5.1.3 Gestão Integrada, um cuidado integral O projeto Centro de acolhimento integrado para pessoas em situação de rua, tem irá proporcionar um cuidado integral aos usuários do programa. Segundo alguns estudiosos da área de ciências humanas, bem como psicologia e teologia, afirmam que o ser humano é formado por uma junção de três esferas, as quais compõe o ser. A chamada tricotomia, ou seja, corpo, alma e espirito. Com base neste entendimento, o projeto busca oferecer além do acolhimento e moradia, o qual atende o corpo, o cuidado da saúde mental, o reestabelecimento da alma, e a paz de espirito. Esse objetivo só é viável a partir de um entendimento claro sobre integração de áreas, ou seja, compreender uma gestão integrada. A gestão integrada é o pensamento integral e amplo de uma determinada administração, seja ela pública ou privada. A classe empresarial apropriou-se desse método administrativo para integrar sistemas, facilitar processos, gerenciar a empresa e seus colaboradores em geral, e os resultados tem garantido maior eficiência na gestão empresarial. Ferro; Neto (1999), afirmam a eficiência da gestão empresarial integrada como: Um instrumento muito eficaz e eficiente para integrar várias áreas de uma organização empresarial, aumentando a confiabilidade, a lucratividade e a produtividade. Setores como compras, estoques, produção, contabilidade, escrita fiscal, recursos humanos, logística e 27 marketing, entre outros, podem trabalhar e desenvolver-se de forma integrada. No sistema público, algumas lideranças já entenderam a eficácia desse método e a mesma tem ganhado espaço junto a administração de Países, Estados e Cidades. Com uma articulação baseada na gestão integrada políticos do poder executivo tem se destacado junto a aprovação da população. Esse formato adquirido por parcela do poder público, caracteriza-se pelo olhar integral da cultura e das necessidades da sociedade. Para melhor entendimento sobre gestão integrada, podemos utilizar como exemplo prático o cuidado com a saúde pública, se o executivo de um município cuidar da saúde, o índice de mortalidade causado por doenças certamente diminuirá, mas por outro lado se atender apenas a saúde e ignorar a segurança pública os índices de mortalidade causado pela violência será significativo. É exatamente isso que a gestão integrada combate, redimensionando as administrações para um olhar integral baseado em uma cosmovisão ampla em relação aos problemas que precisam de um urgente cuidado. Segundo Marinho (2008; apud Almeida; Martins, 2017, p. 08): O momento chama a atenção para uma mudança de paradigma pela integração dos problemas exigindo da Administração Pública uma gestão integrada com fins de alcançar eficiência e a sustentabilidade perante a opinião pública implicando na harmonização dos setores com iniciativa e estratégias alinhadas ao planejamento de longo prazo, trazendo para o ambiente interno da organização o resultado do seu desempenho mediante aos padrões estabelecidos pelo ambiente externo A aplicabilidade da gestão integrada se torna indispensável na elaboração do Centro de Acolhimento, pois trará um olhar amplo em relação as necessidades do ser. Integrar áreas como educação, saúde, psicologia, assistência social, entre outras, se faz primordial para o cuidado integral do ser humano. Essa integração desencadeará um acolhimento personalizado, proporcionando aos usuários do projeto uma maior qualidade no atendimento. Esse método também contribuirá com o processo de reinserção dos indivíduos em estado de vulnerabilidade a sociedade. 5.2 Análise de Correlatos As obras apresentadas nesse capitulo serviram de referência para o projeto desenvolvido neste trabalho final de graduação de curso. 28 5.2.1 La Casa Ano do desenvolvimento: 2011- 2014; Localização: Washington, DC; Arquitetura: LEO A DALY e Studio Twenty Seven Architecture; Área Construída: 2,728 m². A obra recebeu o prémio Housing 2015, na categoria de Habitação Especializada, foi o primeiro projeto para abrigo aos sem tetos na cidade de Washington. O projeto atende as indigências dos moradores de rua. A fachada do edifício (figura 1) é composta por quantidades iguais de vidro do chão ao teto em cada quarto, os outros elementos componentes da fachada transmitem vibrações por meio das cores. O sólido-vazio repercutido faz com que o edifício alcance uma grande escala contextual. Figura 1 – Fachada Fonte: (DAILY, 2015) 29 É possível notar a escolha da verticalidade na obra, visto que, isso não é muito comum nos centros de acolhimento existentes. O edifício tem sete andares e possui quarente alojamentos, espaços de uso coletivo e espaços de apoio. A unidade funciona como fonte de ressocialização com a sociedade, uma vez que os outros abrigos oferecem abrigo temporário, ou seja, somente para passar a noite, esse oferece estadia permanente e/ou até morador de rua se estabilizar. Os úsuarios do programa participam de cursos profissionalizantes, habilitando-os para o mercado de trabalho. “Fornece serviços de apoio que reduzem o risco de os participantes retornarem à condição de sem-abrigo. Tanto seu modelo de serviço quanto o projeto de instalação abrangem o indivíduo e atendem suas necessidades de reabilitação e crescimento“ (LEO A DALY, 2015, on-line). Oprojeto La Casa sai do padrão de abrigo, e se adapta a muita iluminação natural, com quartos ventilados e seu arquitetônico bem definido, esteticamente agradável. O térreo da edificação é composta por um saguão impressionante (figura 2) e, escritório de apoio, tal como, assistencia social. O segundo andar possui uma sala e entrada para um terraço ao ar livre, sendo esse usado para reestruturação do convivio social. O andar dos alojamentos, possuem sete unidades habitacionais, incluindo nessa lista um quarto acessivel para portadores de necessidades especiais. O projeto é composto também por um telhado verde, o que dá a ele o certificado Liderança em Energia e Design Ambiental (LEED), ou seja, uma certificação para construções sustentáveis. Figura 2 - Sagão de Entrada Fonte: (DAILY, 2015) 30 O interior da edificação é projetado para ser durável. As janelas do chão ao teto traz iluminação natual e boa ventilação, cada unidade habitacinal (figura 3) é composta por sala de estar, cozinha, e nicho de dormir. O piso é de bambu, altamente durável, o contraste do mesmo com as paredes brancas complementa o projeto. A bancada da cozinha é feita por latas de alumínio recicladas, inteiramente sustentável. Figura 3 - Unidade Habitacional Fonte: (DAILY, 2015) Figura 4 - Planta Baixa Fonte: (DALY, 2014) 31 La Casa também tem importantes responsabilidades de planejamento urbano. As linhas de visão se estendem de La Casa até a estação de metrô, e a vibração do prédio e de seus moradores reflete-se nas idas e vindas dos passageiros do metrô (STUDIO TWENTY SEVEN ARCHITECTURE, 2015, on-line). Se localiza em uma região movimentada, de fácil acesso, próxima a mercado, escola, comercio e hotel. O uso desse projeto como referência, se dá pela funcionalidade e a semelhança do conceito, como também pelo objetivo dele concedido. Tem embasamento na organização do programa, que prioriza o bem-estar e conforto dos usuários. 5.2.2 The Bridge Homelees Assistance Center Finalização: 2010 Localização: Dallas, Texas, EUA Arquitetura: Overland Partners Área Construída: 75.000 m² O Centro de assistência aos sem tetos “The Bridge” é considerado um dos mais importantes. Ganhador do prêmio da África do Sul “Best Architecture Entry”, se tornou modelo mundial de design dos centros de acolhimento. Figura 5 – Fachada Fonte: (DAILY, 2011) 32 A obra atende 1200 moradores de rua, e tem como objetivo ajudar as pessoas a se reinserir na sociedade, proporcionando abrigo, serviço de apoio e ajuda para entrar no mercado de trabalho. O projeto consiste em seis edifícios organizados em torno de uma série de pátios internos: a entrada do prédio; a área de serviços, o refeitório e a cozinha; os banheiros ao ar livre e chuveiros; o pavilhão do sono; o edifício de armazenamento (BROOKS, 2010, on-line). The Bridge possui diversas instalações, além de dormitórios, é possível encontrar áreas para saúde física e mental, áreas de educação e treinamentos, espaço para aconselhamento, estes são escritórios legais. A edificação também é composta por lavanderia, centro de recreação, biblioteca, armários, serviços postais e, refeitório coletivo. Figura 6 - Implantação Fonte: (GIANONI, 2017) 33 Figura 7 - Planta Baixa Térreo Fonte: (GIANONI, 2017) Figura 8 - Planta Baixa 1º Pavimento Fonte: (GIANONI, 2017) Figura 9 - Planta Baixa 2º Pavimento Fonte: (GIANONI, 2017) 34 O projeto é altamente sustentável, por conta disso, recebeu o premio em Liderança em Energia e Design Ambiental (LEED), possui então, telhado verde, reutilização de água da chuva e iluminação natural. “Tounou-se o maior abrigo para os sem-teto nos Estados Unidos a ser certificado pela LEED” (ARCHDAILY, 2011, on- line). Figura 10 - Área de lazer Fonte: (PARTNERS, 2010) The Bridge é uma referência a esse trabalho, pois seu programa de necessidades de assemelha ao objetivo do mesmo. O centro de acolhimento proposto, promoverá, assim como The Brigde, áreas de lazer para dar qualidade de vida aos usuários. 5.2.3 Bud Clark Commons (BBC) Finalização: 2011 Localização: Portland, OR, USA Arquitetura: Holst Architecture 35 Área Construída: 9850 m² O projeto Bud Clark Commons (figura 11) faz parte de um plano de dez anos de retirada da população de rua em Portland. A obra busca como objetivo principal, retirar todos os moradores de rua garantindo estabilidade, reinserindo-os na sociedade e dando condições de uma vida digna. Para isso dispõe de abrigos temporários para 90 pessoas e abrigos permanentes para 130 pessoas. Figura 11 – Fachada Fonte: (DAILY, 2011) Figura 12 – Perspectivas Fonte: (ARCHITECTURE, 2011) 36 O primeiro pavimento é destinado ao hall do abrigo e as atividades que nele serão acolhidas (figura 13). O segundo e terceiro pavimento é de uso diário, neste local estão direcionadas as atividades comunitárias (figura 14). Do quarto ao oitavo pavimento estão localizados as áreas de habitação (figura 15). Figura 13 - Planta Baixa 1º Pavimento Fonte: (ARCHITECTURE, 2011) Figura 14 - Planta Baixa 1º e Segundo Pavimento Fonte: (ARCHITECTURE, 2011) 37 Figura 15 - Planta Baixa 4º Pavimento Fonte: (ARCHITECTURE, 2011) A arquitetura interna da obra é inovadora e convidativa, isto é, atrai o público alvo para o local (figura 16). Pode-se notar a composição do piso de cimento queimado com a madeira que reveste a parede e dá um charme e aconchego para a obra. Figura 16 - Entrada dos Alojamentos Fonte: (DAILY, 2011) 38 Acessibilidade, luz natural através de janelas do chão ao teto (figura 17), ar limpo e abundante e materiais duráveis foram essenciais para o sucesso do edifício, tanto de uma perspectiva sustentável quanto funcional. (ARCHDAILY, 2011). O edifício é considerado sustentável pelo fato de apresentar elementos movidos a energia solar, telhado verde, cisternas e materiais de instalação de baixo custo. Figura 17 - Refeitório Fonte: (DAILY, 2011) Localizado em um antigo terreno abandonado na entrada do centro da cidade, em um bairro de uso misto de alta renda. O projeto apresenta equilíbrio com o entorno (figura 18). Figura 18 - Entorno Fonte: (ARCHITECTURE, 2011) 39 O BBC é referencial do centro de acolhimento, pois não só oferece um programa de necessidades completo, como também mostra como funciona a espacialização de todas as atividades. O programa mostra que é possível criar espaços com características esteticamente agradáveis, contradizendo a atual situação dos abrigos mundiais. 5.2.4 Redbridge Welcome Centre Ano do desenvolvimento: 2012 Localização: Green Ln, Ilford, Reino Unido Arquitetura: Peter Barber Architects O Redbridge Welcome Center é um projeto comunitário para dependentes químicos e sem-teto localizado em um edifício espetacular de última geração (BARBER, 2012). Assume formas irregulares, empilhadas uma sobre a outra (figura 19). Figura 19 – Fachada Fonte: (STERNBERG, 2012) O edifício possui quatro andares, bem divididos e funcionalmente corretos. A fachada é composta por vidros do chão ao teto que contracenam com uma camada 40 de concreto. A entrada de luz natural se faz presente em todos os ambientes, trazendo beleza e sofisticação ao projeto. “O programa de necessidades é composto por unidades de assistência a dependentes químicos e álcoolicos,salas de treinamento e instalações de apoio em espaços de pé duplo, tudo isso localizado no térreo e no 1º andar” (WELCH, 2018, on-line). “Acomodações residenciais bem iluminadas e arejadas são oferecidas em 10 quartos com banheiro privativo no 2º e 3º andar” (WELCH, 2018, on-line). Figura 20 - Arquitetura Interna Fonte: (STERNBERG, 2012) A obra produz uma arquitetura voltada para convivencia social, possuindo um jardim na parte traseira e proporcionando uma vista paranoramica do mesmo para quem está nos quartos. (Figura 21). “O edifício é composto por uma série de planos dobrados formando uma faixa contínua de estrutura, desde a entrada do pavimento até o teto” (WELCH, 2018, on-line). O formato em L do edifício proporciona melhor visão de todos os ambientes para o jardim. 41 Figura 21 - Jardim externo Fonte: (STERNBERG, 2012) A obra é localizada em uma rua movimentada, em frente à escola primaria Winston Way. Em seu entorno, é possível encontrar academias de polícia, mercado, lojas, restaurantes e lanchonetes, igrejas, hoteis e academia. A referência adotada desse projeto advém da sua integração com o jardim. É possível identificar a harmonia entre o ambiente interno com o ambiente externo, forma essa, que proporciona ao indivíduo prazer em frequentar o local. 5.3 ESTUDO DE CASO Nome da edificação: Casa da Acolhida Ano do desenvolvimento: 2001 Localização: Rua Dolarício Correia, 316 Localizada no bairro Cara-Cará, a casa da acolhida foi criada pela iniciativa do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs da Região de Ponta Grossa (CONIC), através da Campanha da Fraternidade Ecumênica do ano 2000 – “Um Novo Milênio Sem Exclusões”. A entidade é filantrópica, ou seja, presta serviços à comunidade. É mantida por doações e por apoio da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG). 42 Figura 22 - Fachada Fonte: (Própria Autoria, 2018) O local oferece serviços de alimentação, higiene, pernoite, encaminhamento assistencial e terapia ocupacional. Tudo isso dividido em nove espaços, esses abrigam qualquer pessoa maior de idade que esteja em vulnerabilidade social, seja ela, morador de rua, andarilho, migrante, sem-teto, desempregados, pessoas sem família, enfermos em tratamento não hospitalar, pessoas que sofrem violência no lar, etc. A entidade tem limite máximo de 32 pessoas por pernoite, podendo ser homem ou mulher. Figura 23 - Alojamentos Fonte: (Própria Autoria, 2018) 43 Os quartos são divididos entre quatro a oito pessoas (figura 24), possuindo uma instalação sanitária a cada três quartos. Possui acessibilidade na entrada de cada bloco, porém a mesma deixa de se fazer presente nos dormitórios e banheiros. Figura 24 – Quartos Fonte: (Própria Autoria, 2018) A cozinha (figura 25) é ampla e equipada. São preparadas 128 refeições por dia para moradores, dividido em 4 etapas, sendo, café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. Os indivíduos são direcionados ao refeitório (figura 26) para a alimentação, o mesmo é adequado para a quantidade de moradores de rua e funcionários. A instituição também possui espaços arborizados para lazer (figura 27), onde os usuários do programa passam a maior parte do tempo. Esses espaços produzem integração entre os indivíduos, contribuindo para um bom relacionamento entre eles. Conta também com uma sala de televisão para entretenimento (figura 28). 44 Figura 25 – Cozinha Fonte: (Própria Autoria, 2018) Figura 26 – Refeitório Fonte: (Própria Autoria, 2018) Figura 27 - Área externa de lazer Fonte: (Própria Autoria, 2018) 45 Figura 28 - Sala de Televisão Fonte: (Própria Autoria, 2018) A Instituição entra no espírito do ecumenismo, da solidariedade e no respeito à dignidade do ser humano, superando a exclusão social a que são submetidas tantas pessoas em nossa sociedade. (DOTE, 2009, on-line). O estudo de caso aprensentado é referencia por se encontrar na cidade de Ponta Grossa, onde o projeto proposto no presente trabalho será localizado. Por ele é possível identificar as reais necessidades do público alvo da região e se basear na estruturação do novo projeto. 5.4 MEMORIAL EXPLICATIVO 5.4.1 Conceito e Partido O Centro de acolhimento tem como conceito guia a criação de um espaço que resgate a identidade, proporcione abrigo, reinserção na sociedade e integração social para pessoas que se encontram em situação de rua. O espaço foi pensado de forma 46 que trouxesse a sensação de amparo e conforto, podendo ser explicada por uma relação afetiva desenvolvida pela estrutura física e sensorial do ambiente. O objetivo é que os usuários do programa tenham como referência um local que proporcione juntamente com o lazer, a segurança e o apoio assistencial. Oferecendo um atendimento de inclusão social e incentivando o desenvolvimento de atividades coletivas. O programa de necessidades é norteado pela atual precisão e realidade do morador. O espaço busca integrar interior/exterior de forma a desencadear reações positivas e sociabilizar o público alvo com as áreas projetadas. Portanto, as áreas de lazer e abrigo, tem vista para a praça lateral, localizada na maior testada do edifício. A orientação solar também se faz favorável nessas áreas. O centro de acolhimento é composto apenas por um bloco, esse possui três pavimentos para suprir o programa proposto. Sendo eles: 1) Subsolo - Destinado aos estacionamentos e bicicletário; 2) Térreo – Destinado a ambientes de atendimento, lavanderia para uso coletivo, área de lazer e espaços destinados aos servidores; 3) Primeiro Pavimento – Destinado a áreas de uso coletivo, como salas de aula, oficinas profissionalizantes e refeitório, isolando desse fato a cozinha, esta com acesso restrito a servidores; 4) Segundo Pavimento - Destinado aos alojamentos, estes que dão ao usuário uma visão privilegiada da redondeza e proporcionam um espaço mais acolhedor, isolado das demais atividades do edifício. Os ambientes serão projetados de forma a mexer com os sentidos do corpo humano, utilizando a arquitetura sinestésica, seja por meio de iluminação, dos sons, das texturas, do toque ou do cheiro. 5.4.2 Usuário e Programa de Necessidades 5.4.2.1 Usuário O centro de acolhimento irá atender, exclusivamente, a população que se encontra nas ruas da cidade de Ponta Grossa. A construção é arquitetada para atender 60 adultos, entre homens e mulheres, que se encontram nesse estado de vulnerabilidade, o número vem de encontro com o melhor atendimento dos usuários 47 e, também, sendo proporcional ao número de moradores de rua do município de Ponta Grossa. Em todos os períodos fornecerá abrigo, alimentação, higiene pessoal, aulas e/ou oficinas profissionalizantes, sendo assim, ficará aberto 24 horas por dia. 5.4.2.1 Programa de Necessidades O programa de necessidades deste projeto foi produzido de acordo com estudos realizados com moradores de rua, visitas a casas de acolhimento do município e, referencias internacionais de edifícios com o mesmo propósito, este será elaborado para integrar todas as atividades em um único edifício. Os equipamentos estão divididos de modo a suprir as principais necessidades dos usuários, estes sendo constituindo por cinco setores, sendo eles: a) Atendimento e administração – Espaços assistencial e para atendimento do público alvo; b) Funcionários – Espaço para uso exclusivo de funcionários; c) Apoio – Espaços destinados a infraestrutura do local; d) Atividadescoletivas – Espaços diversos de convício para uso coletivo de moradores; e) Acolhimento - Espaços destinado a atendimento das necessidades básicas dos usuários, bem como, descanso e higiene pessoal. Tendo como base isso, segue abaixo o programa de necessidades: GRUPO AMBIENTE ATIVIDADE ÁREA TOTAL COZINHA FUNCIONÁRIOS ambiente destinado a preparo de alimentos para funcionários do programa 25,35 m² SALA DE SERVIDORES sala de descanso e guarda de materiais de servidores 37,15 m² SANITÁRIO SERVIDORES sanitário para uso de servidores 11,00 m² DORMITÓRIO FEMININO dormitório para ala feminina 187,90 m² DORMITÓRIO MASCULINO dormitório para ala masculina 242,30 m² SALA DE ESTAR espaço para descanso e lazer dos usuários do programa 18,60 m² CONTROLE DE QUARTOS atendimento para controle de quartos 18,60 m² A C O L H I M E N T O F U N C I O N Á R I O S 48 GRUPO AMBIENTE ATIVIDADE ÁREA TOTAL RECEPÇÃO E ESPERA atendimento inicial, passagem e espera 71,55 m² SALA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL acompanhamento assistencial 17,40 m² SALA DE ACOMPANHAMENTO JÚRIDICO acompanhamento jurídico 16,0 m² SALA DE ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO acompanhamento psicológico 16,0 m² TRIAGEM atendimento inicial do estado atual do indivíduo 17,30 m² ENFERMARIA atendimento rápido a enfermos 17,30 m² SALA DE ADMINISTRAÇÃO atividades administrativas e produção de dados 17,3 m² SALA DE COORDENAÇÃO gerenciamento da unidade 25,00 m² SALA DE REUNIÕES sala destinada a reuniões de servidores 39,15 m² SEGURANÇA E CONTROLE sala de monitoramento 17,0 m² ARQUIVO sala destinada a guarda de arquivos 13,70 m² GUARDA VOLUME guarda de pertences 14,15 m² PRAÇA local destinado a lazer 60,00 m² SALA MULTIUSO palestras, reuniões 35,20 m² ESPAÇO DE ESTAR espaço para descanso e lazer dos usuários do programa 81,45 m² OFICINAS sala para cursos profissionalizantes 89,00 m² SALA DE AULA salas de aula 63,85 m² INFORMÁTICA sala de informática para uso público 42,85 m² BIBLIOTECA acervo de livros e espaço para leitura 60,00 m² REFEITÓRIO refeitório de uso coletivo 156,20 m² SANITÁRIOS sanitários destinados a uso coletivo 153,90 m² CHUVEIRO E VESTIÁRIOS chuveiros e vestiários destinados a usuários do programa 57,00 m² ESTACIONAMENTO ambiente destinado a estacionamento de veículos 1042,75 m² BICICLETÁRIO ambiente destinado a guarda de bicicletas 40,00 m² A T E N D I M E N T O e A D M I N I S T R A Ç Ã O U S O C O L E T I V O 49 GRUPO AMBIENTE ATIVIDADE ÁREA TOTAL DOAÇÕES ambiente destinado a guarda de materiais de doação 40,00 m² LIXO ambiente destinado a lixos 2,70 m² CENTRAL DE GÁS ambiente delimitado para recipietes e acessórios destinados a armazenamento de GLP 2,70 m² LAVANDERIA espaço público destinado a lavagem de roupas 35,20 m² ROUPARIA espaço público destinado a guarda de roupas 39,70 m² DML guarda de materiais de limpeza 28,80 m² HALL ELEVADOR DE MERCADORIA dutos para carregamento de alimentos 6,80 m² HALL DUTO dutos para carregamento de lixos 8,70 m² COZINHA ambiente destinado a preparo de alimentos para usuários do programa 60,00 m² DESPENSA ambiente destinado a guarda de alimentos 10,00 m² CAMARA FRIA ambiente destinado a refrigeração de alimentos 10,00 m² LAVA LOUÇA ambiente destinado para lavar louças 8,70 m² LOUÇA LIMPA ambiente destinado a guarda de louças limpas 8,10 m² HIGIENIZAÇÃO ambiente destinado a higienização de alimentos 7,80 m² A P O I O Tabela 1 - Programa de Necessidades Fonte: (Própria Autoria, 2018) 5.4.3 Análise do entorno 5.4.3.1 O terreno A escolha da área foi feita através de pesquisas com os moradores de rua, estes apontaram as dificuldades de locomoção para os atuais abrigos. Pensando nisso, o terreno escolhido se localiza na região central da cidade (figura 29). O terreno escolhido para o determinado projeto atende a resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009 do Conselhor Nacional de Assistencia Social (CNAS), sobre Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, que determina ser "distribuídas no espaço urbano de forma democrática, respeitando o direito de permanência e 50 usufruto da cidade com segurança, igualdade de condições e acesso aos serviços públicos" (BRASIL, 2012, p. 03 apud SILVA, 2015, p. 42) O terreno faz parte do quarteirão demarcado pelas ruas Visconde de Nacar, Comendador Miró, Comendador Airton Plaisant e, rua do Rosario, intencionalmente próximo à Praça Barão de Guaraúna e a Capela Mortuária Municipal São José, locais onde há grande concentração de moradores de rua. A área de intervenção possui 2262 m², com 29 metros frontal e 78 metros na lateral. O terreno tem testada para as ruas Visconde de Nacar, Comendador Miró e Comendador Airton Paisant, onde há grande fluxo de veículos, sendo determinanda como uma área movimentada. O terreno é plano, porém se encontra 1 metro abaixo do nível da rua Comendador Miró, e atualmente é utilizada como estacionamento particular. Figura 29 - Localização Fonte: (Própria Autoria, 2018) 51 Figura 30 - Terreno com testada para Rua Comendador Miró Fonte: (Própria Autoria, 2018) Figura 31 - Terreno Rua Comendador Miró x Rua Comendador Airton Plaisant Fonte: (Própria Autoria, 2018) 52 Figura 32 - Terreno com testada para rua Visconde de Nacar Fonte: (Própria Autoria, 2018) 5.4.3.2 Gabarito de Altura Analisando o entorno e o mapa de uso do solo (figura 33), é possível identificar um gabarito inconstante, desde residências de um e dois pavimentos, até edificações mistas de quinze pavimentos, sendo uso predominante comercial e de serviços. São poucas as áreas desocupadas na região, não sendo encontrada nenhuma área abandonada. Embora faça parte do centro da cidade e com quantidade excessiva de espaço construido, nessa área há poucas edificações de grande número de pavimentos, os mais encontrados são edificações até dois pavimentos. 53 Figura 33 - Gabarito de Altura Fonte: (Própria Autoria, 2018) 5.4.3.3 Gabarito de Uso do Solo De acordo o gabarito de uso do solo (figura 34), é possível identificar nas edificações grande quantidade de residências e edificações mistas, sendo o térreo como gerador de renda (comércio) e os demais pavimentos residenciais. Esse aspecto foi fundamental na escolha do terreno, como o projeto se trata de um centro de acolhimento, ou seja, de estadia/moradia, esse precisa contemplar uma área residencial, sem ser longe do centro, dando um aspecto de acolhimento. O terreno é bem previlegiado e de grande valorização. As áreas de comércio são na sua maioria lojas de roupas e calçados, porém, também é constituído por floriculturas; farmácias; loja de móveis; lanchonete e restaurantes; salão de beleza. 54 No seu entorno é possível identificar equipamentos educacionais de nível infantil, fundamental, médio e superior; escritórios de advocacia, arquitetura e contabilidade; bancos; praças; estacionamentos. Figura 34 - Gabarito de Uso do Solo Fonte: (Própria Autoria, 2018) 5.4.3.4 Hierarquia Viária e Direção de Fluxos da Via O mapa de Hierarquia Viária e Direção
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