Buscar

TGP_2015.1_M._8_competencia

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Ricardo Kalil Lage
ricardo.kalil@ineap.com.br
FACESF, janeiro-junho 2015.1
*
EMENTA
Propedêutica processual. Formas de resolução dos conflitos. Direito material e processual. Processo e Direito Processual. Evolução da doutrina processual. Direito Processual: unidade e princípios. Norma processual. Jurisdição. Órgãos da Jurisdição. Organização Judiciária. Ministério Público. Advocacia Geral da União. Advocacia. Defensoria Pública. Competência. Problemática da ação. Problemática do processo. Classificação dos processos: conhecimento, execução e cautelar. Formas processuais - procedimento.
*
Módulo 8. Competência
	 8.1. Conceito
	- A jurisdição como expressão do poder estatal é uma só, não comportando divisões ou fragmentações: cada juiz, cada tribunal, é plenamente investido dela. 
	- Mas o exercício da jurisdição é distribuído, pela Constituição e pela lei ordinária, entre os muitos Órgãos jurisdicionais;
	
	- Chama-se competência essa quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de órgãos (Liebman);
*
Competência é um critério usado para distribuir 
	as funções relativas ao desempenho da jurisdição entre os vários órgãos do Poder Judiciário.
	Competência = competentia (competere): estar no gozo ou no uso de, ser capaz, pertencer ou ser próprio.
	A Competência é parcela da Jurisdição. É a quantidade ou medida de poder atribuída a um determinado órgão.
*
Competência é 
	Medida de jurisdição, cada órgão só exerce a jurisdição dentro da medida que lhe fixam as regras sobre competência. ou seja, a área geográfica e o setor do Direito dentro dos quais o juiz pode decidir.
	Divisão dos trabalhos perante os órgãos encarregados do exercício da função jurisdicional, cujo objetivo é a composição da lide e a pacificação social;
	Humberto Theodoro Jr. “Se todos os juízes têm jurisdição, nem todos, porém, se apresentam com competência para conhecer e julgar determinado litígio. Só o juiz competente tem legitimidade para fazê-lo”
*
8.2. Competência dos órgãos judiciários 
diferenciados
	
	a) Órgãos jurisdicionais isolados, no ápice da pirâmide judiciária (STF, STJ, TST, TSE); 
	b) Organismos jurisdicionais autônomos entre si (as diversas "Justiças");
	c) Existência, em cada "Justiça", de órgãos judiciários superiores e órgãos judiciários inferiores (duplo grau de jurisdição);
	d) Divisão judiciária, com distribuição de órgãos judiciários por todo o território nacional (comarcas, seções judiciárias);
*
8.3. Princípios básicos da Competência
	
	(i) Indisponibilidade da competência: o órgão não dispõe sobre sua competência e cabe ao legislador dar flexibilidade a estas regras (modificar, alterar, etc.);
	
	(ii) Tipicidade da competência: via de regra, a competência deve estar prevista em normas positivadas (típicas). 
	Contudo, existem competências implícitas, especialmente pelo fato de que não pode haver vácuo de competência (alguém tem que ser competente).
*
8.4. Dos limites da jurisdição nacional
	Artigos 21 e 22, competência internacional concorrente; 
	
	Artigo 23, competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira;
	Artigo 24, faz ressalva sobre tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil; 
	
	Artigo 25, prevê a cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional.
*
Competência internacional concorrente
	Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
	
	I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
	
	II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
	
	III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
*
Artigo 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária 
	 brasileira processar e julgar as ações:
	
	I – de alimentos, quando:
	a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
	b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
	
	II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
	III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
*
Competência internacional exclusiva
	Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
	
	I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
	
	II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
	
*
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução
	
	de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
	Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
*
8.4.1. Cooperação Internacional
	Regida por tratado de que o Brasil faz parte (art. 26). Na ausência de tratado poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática (§ 1º).
	“Art. 26, § 3º. Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.”
	Preocupação com a soberania nacional e princípios constitucionais, vislumbrada também no artigo 39 (pedido passivo que ofenda a ordem pública).
*
Art. 27, Objeto da cooperação internacional:
	I – citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
	II – colheita de provas e obtenção de informações;
	III – homologação e cumprimento de decisão;
	IV – concessão de medida judicial de urgência;
	V – assistência jurídica internacional;
	VI – qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
	Art. 28, trata do auxílio direto, quando a medida não decorre diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira.
*
Carta rogatória, artigos 35 e 36.
	Cooperação entre órgão jurisdicional brasileiro e órgão jurisdicional estrangeiro para prática de ato de: 
	- citação, 
	- intimação, 
	- notificação judicial, 
	- colheita de provas, 
	- obtenção de informações, e 
	- cumprimento de decisão interlocutória. 
	Sempre que o ato estrangeiro constituir decisão a ser executada no Brasil, sendo vedada a revisão do mérito pela autoridade judiciária brasileira.
*
Avanços anotados pela doutrina
	As partes poderão afastar a Justiça brasileira por meio da eleição de foro estrangeiro em seus contratos (art. 25);
	O auxílio direto;
	Sobre homologação de decisões estrangeiras, a sentença estrangeira de divórcio consensual passará a produzir efeitos no Brasil independentemente de sua homologação.
*
8.5. Competência Nacional
	Fixada a competência da Justiça Nacional, tem que definir qual a justiça e/ou juízo interno competente.
	Trata-se de tarefa legislativa. 
	A CF/88 criou as cinco justiças: 
	(i) Justiça Federal Comum; 
	(ii) Justiça do Trabalho; 
	(iii) Justiça Eleitoral; 
	(iv) Justiça Militar e
	(v) Justiça Estadual. 	
*
8.5.1. Distribuição da competência interna
	(a) CF, especialmente a determinação da competência de cada uma das Justiças e dos Tribunais Superiores da União; 
	(b) Na lei federal (CPC, CPP etc.), principalmente as regras sobre o foro competente (comarcas); 
	(c) Constituições estaduais, a competência originária dos tribunais locais; 
	(d) Nas leis de organização judiciária, as regras sobre competência de juízo (varas especializadas etc.).
	
*
8.5.2. Princípio
da Perpetuatio jurisdicionis
	
	A competência para julgamento é determinada no momento de ajuizamento da demanda, nos termos do art. 87 do CPC, que estabelece a regra da jurisdição perpétua;
 erpetua
tio jurisdicionis. 
	Mesmo que ocorra alguma mudança posterior, como, por exemplo, o réu mudar seu domicílio, a competência já estará fixada;
	
	
*
Art. 87: leitura
	
	A segunda parte do artigo 87 CPC consagra a regra de estabilidade do processo, dizendo que, fixada a competência não importa os fatos supervenientes, pois não alteram a competência já fixada;
	Não deve ser confundido com a “prorrogação de competência”. Esta irá aparecer nas hipóteses em que determinado juízo não é originariamente competente para determinada causa, mas passa a ser. 
	Pode ocorrer nos casos de incompetência relativa (nunca se a incompetência for absoluta), quando surgir algumas das hipóteses de modificação de competência (conexão, continência, inércia ou vontade das partes).
	
*
8.5.3. Regra geral da prevenção 
do juízo competente
	Art. 263 CPC: Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.
	
	Art. 219 CPC: A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição: (...).
*
a) Súmulas STJ
	Súmula 58 STJ, DJ 06/10/1992: Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicílio do executado não desloca a competência já fixada. 
	
	Súmula 151 STJ, DJ 26/02/1996: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
	 Súmula 206 STJ, DJ 16/04/1998: A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo.
-
*
8.5.4. Determinação da competência
	- Verificar os elementos da ação, ou da demanda;
	
	a) as partes: quem pede e aquela com relação à qual essa medida é postulada; autor e réu - exequente e executado;
 	
	b) o pedido: no qual se traduz a pretensão do autor da demanda e que consiste na solicitação da medida judicial pretendida (condenação do acusado, decretação de um despejo etc.);
*
Causa de pedir
	 c) os fatos: dos quais, segundo a exposição do demandante, decorre o direito que afirma ter (p. ex., o fato criminoso imputado ao acusado, a despedida injusta nas reclamações trabalhistas);
	d) os fundamentos jurídicos, ou seja, as regras de direito pertinentes ao caso e das quais o de mandante extrai a sua conclusão (v. g., a norma penal incriminadora, as regras sobre locação e despejo etc.). 
	
	- Nos itens c e d reside o que tecnicamente se chama causa de pedir.
*
8.5.5. Critérios do legislador para 
regras de competência
	(i) Das pessoas em litígio = das partes. 
	Considera a lei ao traçar as regras de competência: 
	
	a) a sua qualidade (v.g., competência originária do Supremo para processar o Presidente da República nos crimes comuns; competência da Justiça Federal para os processos em que for parte a União); 
	
	b) a sua sede (esp., domicilio do réu para fins de competência civil).
*
8.5.5.1. Objetivo
	Diz respeito às partes, pedido e causa de pedir.
	(i) Competência em razão da pessoa (parte): Ex: art. 109, I, CF/88. Competência da Justiça Federal para julgar as causas de interesse da União ou de pessoa jurídica da administração indireta federal;
	
	(ii) Competência em razão do valor da causa (pedido): Ex: juizados especiais cíveis e federais.
	OBS.: Juizado Especial Federal, apesar de ser competência em razão do valor da causa (em regra relativa), esta competência é absoluta (§ 3, do artigo 3, da Lei 10.259/01).
*
	(iii) Competência em razão da matéria (causa de pedir): pela natureza jurídica da relação de direito material travada no processo: 
	- Família, vara de família; 
	- Trabalho, vara do trabalho.
	OBS: 
	- A competência em razão da matéria e da pessoa é absoluta. 
	- Via de regra, a competência em razão do valor da causa é relativa.
*
8.5.5.2. Funcional
	- Conecta com as funções exercidas pelo órgão jurisdicional durante o processo, por exemplo: função de julgar, executar, julgar recurso, receber a reconvenção e ação cautelar.
	- Possui duas dimensões:
	1) Vertical: entre instâncias, também denominada de hierárquica. Ex: TJRJ julga os recursos contra as decisões do juiz de primeira instância vinculado a ele.
	2) Horizontal: ocorre na mesma instância. Ex: Tribunal do Júri, com as figuras do juiz pronunciante e do júri. No Processo Civil, o mesmo juiz competente para o processo cautelar será competente para o principal.
*
8.5.5.3. Territorial
	Permite identificar o lugar em que a causa deve ser processada, isto é, qual o foro competente. Em regra é relativa.
	
	- Desprezando os casos excepcionais (foros especiais), seguem as regras básicas, ou seja, aquelas que constituem o chamado foro comum:
	1) Art. 94 do CPC: “A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu”.
	
	- Ler § 1º ao § 4º do art. 94;
	
*
	
	2) Art. 95 CPC. “Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.”
	3) Relações de consumo, foro do domicílio do consumidor (art. 6 CDC);
	4) Processo penal, o foro da consumação do delito (CPP, art. 70);
	5) Processo trabalhista, o foro da prestação dos serviços ao empregador (CLT, art. 651).
*
8.5.4. Algumas regras especiais no CPC
	Art. 96: Domicílio do autor da herança, ou da situação dos bens se tiver domicílio incerto; 
	Se tiver bens em diversos lugares e domicílio incerto, será o local do óbito.
	
	Art. 98: Incapaz: domicílio do seu representante.
	Art. 100: I (foro da mulher, para ação de separação, divórcio ou anulação de casamento); II (do domicílio do alimentando para a ação de alimentos); IV, a) (domicílio da pessoa jurídica. súmula 363, STF); V, par.único (lugar do ato ou do fato para ação que envolva reparação de ato ilícito);
	
*
Regra especial ECA
	
	ECA, art. 147: A competência será determinada: 
	I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
	
	
	Súmula 383 STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
*
Em síntese, deve ser observado
	(i) Das pessoas em litígio = das partes. 
	Considera a lei ao traçar as regras de competência: 
	
	a) a sua qualidade (v.g., competência originária do Supremo para processar o Presidente da República nos crimes comuns; competência da Justiça Federal para os processos em que for parte a União); 
	
	b) a sua sede (esp., domicilio do réu para fins de competência civil).
*
(ii) Dos Fatos e fundamentos jurídicos 
	A natureza da relação jurídica controvertida, ou seja, o setor do direito material em que tem fundamento a pretensão do autor da demanda;
	
	- A competência pela natureza da relação jurídica é conhecida como competência material.
	- Por isso varia a competência conforme se trate de causa penal ou não e, se de causa penal, de infração penal de menor potencial ofensivo ou não; 
	- Conforme se trate ou não de pretensão referente a relação empregatícia, Justiça do Trabalho; 
	- Conforme se trate ou não de pretensão fundada em direito de família, Vara da Família e/ou Sucessões etc.
*
(iii) Do lugar
	Importância do lugar em que se deu o fato do qual resulta
a pretensão apresentada:
	
	- Lugar da consumação do crime (art. 70 CPP), ou da prática da infração penal de menor potencial ofensivo (art. 63 Lei 9099/95);
	- Local da prestação de serviços ao empregador (art. 651 CLT);
	- Lugar em que deveria ter sido cumprida voluntariamente a obrigação reclamada pelo autor (CPC, art. 100, inc. IV, d).
*
(iv) Do pedido
	Quanto ao objeto da ação, para fixação da competência, leva em conta o legislador os seguintes dados:
	a) natureza do bem (móvel ou imóvel, CPC, art. 94/95); 
	
	b) o valor da causa ou do pedido (Ex.: a competência dos JEC’s para conflitos civis de valor patrimonial não excedente a quarenta salários mínimos);
	c) sua situação (o foro da situação do imóvel, CPC, arts. 89, inc. I, e 95).
*
(v) Características do processo
	As vezes é em certas características do modo de ser do processo (judicium), e não da causa (res in judicium deducta), que o legislador vai buscar elementos para resolver os problemas da distribuição da competência. 
	- Isso se dá principalmente quando a competência de determinado órgão ou juízo é ditada:
	a) pela natureza do processo: o mandado de segurança, às vezes, é da competência originária dos Tribunais. Ação rescisória, em regra, dos Tribunais; 
	b) pela natureza do procedimento: em alguns Estados há varas especializadas para as causas de procedimento sumário;
*
	c) pela relação com outro processo e/ou com processo anterior:
	
	- Execução civil por título judicial, competência do mesmo órgão judiciário de primeiro grau que julgou a causa; 
	- Casos de conexão (art. 104 CPC); 
	- Casos de continência (art. 105 CPC).
*
8.6. Competência originária e derivada
	8.6.1. Originária é a competência para conhecer e julgar as causas em primeiro lugar.
	
	- A regra é que os juízos singulares tenham competência originária: órgãos judiciários de primeiro grau de jurisdição, ou de "primeira instância";
	
	- Só excepcionalmente ela pertence ao Supremo Tribunal Federal (Const., art. 102, inc. II), ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105, inc. II); ao Senado (art. 52, i e II);
*
	Demais casos de competência originária dos Tribunais de cada Justiça são estabelecidos em lei federal:
	(i) Tribunais trabalhistas, eleitorais, militares: Cont. Fed., arts. 113/114, 121 e 124, par. ún.; 
	(ii) Ou nas Constituições dos Estados (Const. Fed., art. 125, § 1º).
	8.6.2. Competência derivada é a competência para julgar os recursos: recebe a causa em um segundo momento; 
	- A regra é que a competência derivada seja dos Tribunais.
	
*
8.7. Classificação da competência
	 Relativa:
	- Regras criadas para atender o interesse particular e não pode ser conhecida de ofício pelo juiz;
	- Determina a remessa dos autos, não sendo anulados os atos decisórios;
	- Derrogável pelas partes. 	
	Absoluta:
	- São regras criadas para atender o interesse público;
	- Determina a remessa dos autos para outro juízo e a anulação dos atos decisórios;
	- Inderrogável pelas partes.
		
*
8.7.1. Relativa
	 - A competência relativa é caracterizada por regras dispositivas, de menor interesse público e maior sujeição ao interesse das partes, sendo suscetível de sofrer modificações.
	
	- Seus critérios de identificação são predominantemente o critério territorial e o critério objetivo quantitativo em razão do valor da causa;
*
Prorrogração da competência relativa
	 OJ 149, SDI-II/TST. 
	CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. HIPÓTESE DO ART. 651, § 3º, DA CLT. IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO DE OFÍCIO DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA. 
	Não cabe declaração de ofício de incompetência territorial no caso do uso, pelo trabalhador, da faculdade prevista no art. 651, § 3º, da CLT. Nessa hipótese, resolve-se o conflito pelo reconhecimento da competência do juízo do local onde a ação foi proposta.
*
8.7.2. Absoluta
	- A competência absoluta é regida por normas cogentes, e determinada segundo o interesse público, portanto, insuscetível de sofrer modificações por vontade das partes. 
	- Os seus critérios de identificação são objetivos em razão da matéria e o critério funcional.
*
Exceções
	
	- Excepcionalmente pode atingir o critério objetivo quantitativo, em razão do valor da causa, exclusivamente com relação aos Juizados Especiais Federais (Lei 10.259/01, art. 3°);
	- Nas ações reais imobiliárias, segundo o critério territorial, o foro da situação da coisa determina o juízo competente (CPC, art. 95), constituindo mais uma exceção à regra anteriormente exposta.
*
8.7.3. Híbrida
	Contrato de adesão. 
	STJ, REsp 1.089.993/SP, DJ 08.03.2010: 
	“IV – Tem-se, assim, que os artigos 112, parágrafo único, e 114 do CPC, na verdade, encerram critério de competência de natureza híbrida (ora absoluta, quando detectada a abusividade da cláusula de eleição de foro, ora relativa, quando ausente a abusividade e, portanto, derrogável pela vontade das partes);
*
8.7.4. Relações de Consumo
	STJ, REsp 1.089.993/SP, DJ 08.03.2010: 
	“V – O fato isoladamente considerado de que a relação entabulada entre as partes é de consumo não conduz à imediata conclusão de que a cláusula de eleição de foro inserida em contrato de adesão é abusiva, sendo necessário para tanto, nos termos propostos, perscrutar, no caso concreto, se o foro eleito pelas partes inviabiliza ou mesmo dificulta, de alguma forma, o acesso ao Poder Judiciário”;
	 “A competência absoluta não pode ser modificada por conexão ou continência” (STJ, CC 128.277/RS);
*
8.7.5. Sistema de nulidades
	 - Em regra, a incompetência absoluta e a relativa não geram a extinção do processo, mas apenas a remessa dos autos para o juízo competente.
	Exceções: Nos Juizados e em casos de incompetência internacional, poderão gerar a extinção.
	- Na absoluta, apenas os atos decisórios serão considerados nulos, devendo os autos ser remetidos ao juiz competente (CPC, art. 113, § 2º). Os atos de decisão são a sentença e a decisão interlocutória (CPC, art. 162, §§ 1º e 2º);
*
8.8. Conflito de Competência
	- O incidente de conflito de competência é de competência originária de Tribunal, mediante provocação das partes, do MP ou dos órgãos que estão em conflito;
	- Ele poderá ser positivo (art. 115, I do CPC) ou negativo (art. 115, II do CPC).
	Art. 115. Há conflito de competência:
	I - quando dois ou mais juízes se declaram competentes;
	II - quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes;
	III - quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos.
*
8.10. Competência Penal
	Em matéria penal, a Justiça do Trabalho nunca será competente. Até mesmo os crimes contra a organização do trabalho são submetidos a julgamento pela Justiça Federal, de acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal.
	A justiça eleitoral, por sua vez, é competente para julgar todos os crimes eleitorais e crimes conexos.
	A Justiça Militar julga os crimes militares, mas não julga os crimes conexos. Também não é competente para julgar crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, que será submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri.
*
	- A competência penal da Justiça Federal segue a regra geral de competência em razão da pessoa, e abrange os crimes praticados contra servidor público federal, no exercício da função, crimes políticos e à distância, praticados a bordo de navio ou avião, contra o sistema financeiro e contra a organização do trabalho.
	
	Súmula 122 STJ, DJ 01.12.1994: Compete a justiça federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, ii, "a", do Código de Processo Penal.
	Súmula 151 STJ, DJ 14.02.1996: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
	
*
8.11. Modificação da competência
	 Art.
102, CPC: Leitura;
	- Competência relativa. Admitindo a modificação da competência com relação ao valor e ao território o legislador reúne estas competências sob o regime da competência relativa; 
	- Lembrando que a competência em razão do valor no âmbito dos juizados especiais federais é, por determinação de lei especial (L. 10.259/2001, art. 3°), competência absoluta. 
	- De igual forma a competência territorial com relação às ações que verse sobre direito real de bens imóveis (CPC, art. 95) também é absoluta. Nestes casos excetua-se a regra acima, impossibilitando sua modificação.
*
8.11.1. Conexão. Art. 103 CPC
	I. Elementos da conexão: A conexão de duas ou mais ações é determinada pela semelhança de um de seus elementos. A definição legal refere-se apenas ao objeto e a causa de pedir, portanto a identificação das partes não é relevante para que haja o reconhecimento da conexão. Todavia, é possível que haja identificação das partes agregada a um dos elementos elencados no referido artigo;
	II. Distribuição por dependência: Sabendo o autor a respeito da identificação do objeto ou da causa de pedir da ação que pretende ajuizar, com outra já em trâmite deverá, desde logo, requer ao Juízo que processa esta última para que se proceda à distribuição por dependência (CPC, art. 253, I).
*
Jurisprudência
	STJ, CC 55.584-SC, J. 12.08.2009:
	1. A conexão afigura-se entre duas ou mais ações quando há entre elas identidade do objeto, ou da causa de pedir, impondo a reunião das ações para julgamento em unum et idem judex, evitando, assim, a prolação de decisões inconciliáveis. (...);
	2. In casu, a conexão entre a ação consignatória e a execução de hipoteca resta evidenciada, eis que, em ambas, discute-se os critérios de reajuste de prestação subjacente a contrato de mútuo hipotecário para aquisição de residência própria, balizado pelas regras do Sistema Financeiro da Habitação - SFH. Portanto, a prolação de decisões parcialmente contraditórias é o suficiente para impor o julgamento simultâneo. 
*
8.11.2. Continência. Art. 104 CPC
	I. Elementos da continência: Na continência, necessário se faz a cumulação de identidade de dois elementos: parte e causa de pedir. Porém, o objeto deve ser distinto sob pena de caracterizar a litispendência.
	II. Distribuição por dependência: Tão qual ocorre com a conexão, detendo o autor o conhecimento a respeito da identificação do objeto ou da causa de pedir da ação que pretende ajuizar, com outra já em trâmite deverá, desde logo, requer ao Juízo que processa esta última para que se proceda à distribuição por dependência (CPC, art. 253, I).
*
Jurisprudência
	STJ, AgRg no AGRAVO EM REsp 301.377–ES, J. 14.4.2013:
	1. Nos termos da jurisprudência do STJ, quando há identidade apenas parcial dos pedidos, porquanto um deles é mais abrangente que o outro, configura-se a continência, e não a litispendência. Esta, como na conexão, importa a reunião dos processos, e não a sua extinção, que visa evitar o risco de decisões inconciliáveis. Precedentes.
	2. Havendo continência e prejudicialidade entre as ações, e não reunidos os feitos oportunamente para julgamento conjunto, cabível é a suspensão de um deles, conforme os termos do art. 265, IV, "a", do CPC. 
*
Continência x Litispendência
	STJ, AgRg no AGRAVO EM REsp 301.377–ES, J. 14.4.2013, Trecho do voto, p. 5:
	“Conforme demonstrado na decisão agravada, a litispendência ocorre quando forem propostas ações pelas mesmas partes litigantes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedir. O instituto da litispendência visa a que a parte não promova duas demandas objetivando o mesmo resultado. 
	Contudo, quando há identidade apenas parcial dos pedidos, porquanto um deles é mais abrangente que o outro, configura-se a continência, que é espécie de litispendência parcial.”
*
8.11.3. Reunião dos processos. Art. 105 CPC
	- A regra acima aponta para um juízo discricionário do juiz com relação à reunião dos feitos. O objetivo da norma é a facilitação do julgamento, visando a economia processual e evitando julgamentos conflitantes. 
	- Todavia, a reunião somente é possível quando o juiz que ordenar a reunião não seja absolutamente incompetente para conhecer da ação que pretende ver reunida. 
	- É necessário também observar os critérios de imparcialidade do juiz para o julgamento de ambas as ações. Por fim, é necessário que ambas as ações obedeçam, ou possam obedecer, ao mesmo procedimento, e estejam no mesmo grau de jurisdição e em fases processuais próximas.
*
Prevenção
	Juízo competente: 
	Pergunta: Em qual dos juízos as causas serão reunidas? 
	Resposta: No juízo prevento. 
	Qual será o juiz prevento?
	1) se as causa conexas estiverem na mesma competência territorial (comarca): prevento é o juízo do 1º despacho (art. 106, CPC);
	OBS: Necessidade de existir um despacho positivo.
	
	2) se as causas conexas estiverem tramitando em comarcas diversas: o critério de prevenção é a citação válida (art. 219, CPC).
	
*
Jurisprudência artigo 106 CPC
	PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA. CONEXÃO. PREVENÇÃO. ART. 106, CPC. POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL. PRECEDENTE DA TURMA. RECURSO PROVIDO.
	I - Se as ações conexas tramitam na mesma comarca, competente é o juiz que despacha em primeiro lugar, a teor do art. 106 do Código de Processo Civil.
	II - A expressão „despachar em primeiro lugar“, inserida no art. 106, CPC, salvo exceções (v.g., art. 296, CPC), deve ser entendida como o pronunciamento judicial positivo que ordena a citação. 
	
	(REsp 217860/PR, DJ 20/09/1999, p. 67).
*
8.12. Súmulas STJ Competência
	Súmula 3 STJ, DJ 08.05.1990: Compete ao TRF dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal.
	Súmula 10 STJ, DJ 26.09.1990: Instalada a junta de conciliação e julgamento, cessa a competência do juiz de direito em matéria trabalhista, inclusive para a execução das sentenças por ele proferidas.
	Súmula 41 STJ, DJ 14.05.1992: O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos.
*
	Súmula 59 STJ, DJ 14/10/1992: Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes. 
	Súmula 180 STJ, DJ 05.02.1997: Na lide trabalhista, compete ao Tribunal Regional do Trabalho dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre juiz estadual e junta de conciliação e julgamento.
	Súmula 236 STJ, DJ 22.03.2000: Não compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflitos de competência entre juízes trabalhistas vinculados a Tribunais Regionais do Trabalho diversos.
*
	Súmula 367 STJ, DJ 26.11.2006: A competência estabelecida pela EC n. 45/2004 não alcança os processos já sentenciados.
	Súmula 428 STJ, DJ 17.03.2010: Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.
	Súmula 505 STJ, DJ 10.02.2014: A competência para processar e julgar as demandas que têm por objeto obrigações decorrentes dos contratos de planos de previdência privada firmados com a Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social - REFER é da Justiça estadual.
	
*
Súmulas STJ
	Súmula 235 STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. 
	OBS.: Se não pode reunir uma das causas será suspensa até o julgamento final da outra.
	Súmula 383 STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
	
	 Súmula 489 STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual. 	
*
8.14. Questões
	
	Pergunta:
	O juiz sem competência constitucional produz decisões nulas
ou inexistentes? 
	Resposta:
	
	Ada Pelegrini entende que é inexistente porque desrespeita as regras de competência constitucional. 
	
	A doutrina majoritária entende que existe, mas é nula (faz coisa julgada e cabe ação rescisória).
*
Caso prático
	Em um acidente de trânsito ocorrido na cidade de Recife, um carro da empresa Paraíba LTDA, que transitava em alta velocidade, bateu no carro do Sr. Adriano. 
	A empresa possuía sede em João Pessoa (PB) e Adriano tem domicílio em Olinda (PE). 
	Onde poderá ser proposta a ação de reparação de danos de Adriano em face da empresa Paraíba LTDA?
	Resposta: No CPC

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais

Perguntas Recentes